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Aula 00 Direito Penal p/ CLDF (Agente de Polícia Legislativa) - Com videoaulas - Pós-Edital Professor: Renan Araujo 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo AULA DEMO DO CRIME - CONCEITO. SUJEITOS DO DELITO. ELEMENTOS (PARTE I): FATO TêPICO; CLASSIFICAÌO DOS CRIMES (DOLOSO, CULPOSO, CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSêVEL). ILICITUDE. SUMçRIO 1 DO CRIME ............................................................................................................. 6 1.1 Conceito de crime .......................................................................................... 6 1.2 Sujeitos da infrao penal .............................................................................. 8 1.2.1 Sujeito ativo .................................................................................................. 8 1.2.2 Imunidades Diplomticas .............................................................................. 10 1.2.3 Imunidades Parlamentares ............................................................................ 10 (a) Imunidade material ............................................................................................ 11 (b) Imunidade formal ............................................................................................... 12 1.2.4 Sujeito Passivo ............................................................................................ 13 1.3 Fato tpico e seus elementos ........................................................................ 14 1.3.1 Conduta ..................................................................................................... 14 1.3.2 Resultado naturalstico .................................................................................. 17 1.3.3 Nexo de Causalidade .................................................................................... 18 1.3.4 Tipicidade ................................................................................................... 23 1.4 Crime doloso e crime culposo ....................................................................... 25 1.4.1 Crime doloso ............................................................................................... 25 1.4.2 Crime culposo ............................................................................................. 27 1.4.3 Crime preterdoloso ....................................................................................... 29 1.5 Crime consumado, tentado e impossvel ...................................................... 30 1.5.1 Iter criminis ................................................................................................ 30 1.5.1.1 Cogitao (cogitatio) .............................................................................. 30 1.5.1.2 Atos preparatrios (conatus remotus) ...................................................... 30 1.5.1.3 Atos executrios .................................................................................... 31 1.5.1.4 Consumao ......................................................................................... 32 1.5.1.5 Exaurimento ......................................................................................... 32 1.5.2 Tentativa .................................................................................................... 32 1.5.3 Crime impossvel ......................................................................................... 36 1.5.4 Desistncia voluntria e arrependimento eficaz ................................................ 37 1.5.5 Arrependimento posterior .............................................................................. 38 1.5.6 Causas de excluso do fato tpico ................................................................... 41 1.5.6.1 Coao fsica irresistvel ......................................................................... 41 1.5.6.2 Erro de tipo inevitvel ............................................................................ 41 1.5.6.3 Sonambulismo e atos reflexos ................................................................. 41 1.5.6.4 Insignificncia e adequao social da conduta ........................................... 41 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo 1.6 Ilicitude ....................................................................................................... 42 1.6.1 Estado de necessidade .................................................................................. 42 1.6.2 Legtima defesa ........................................................................................... 45 1.6.3 Estrito cumprimento do dever legal ................................................................ 48 1.6.4 Exerccio regular de direito ............................................................................ 48 1.6.5 Consentimento do ofendido ........................................................................... 49 1.6.6 Excesso punvel ........................................................................................... 50 2 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ............................................................... 50 3 SòMULAS PERTINENTES ..................................................................................... 52 3.1 Smulas do STJ ............................................................................................ 52 4 RESUMO .............................................................................................................. 52 5 EXERCêCIOS DA AULA ......................................................................................... 59 6 EXERCêCIOS COMENTADOS ................................................................................. 68 7 GABARITO .......................................................................................................... 85 Ol, meus amigos! com imenso prazer que estou aqui, mais uma vez, pelo ESTRATGIA CONCURSOS, tendo a oportunidade de poder contribuir para a aprovao de vocs no concurso da CLDF. Ns vamos estudar teoria e comentar exerccios sobre DIREITO PENAL, para o cargo de TCNICO LEGISLATIVO Ð AGENTE DE POLêCIA LEGISLATIVA. E a, povo, preparados para a maratona? O edital acabou de ser publicado, e a Banca ser a FCC. As provas esto agendadas para o dia 17.12.2017. Bom, est na hora de me apresentar a vocs, no ? Meu nome Renan Araujo, tenho 30 anos, sou Defensor Pblico Federal desde 2010, atuando na Defensoria Pblica da Unio no Rio de Janeiro, e mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da UERJ. Antes, porm, fui servidor da Justia Eleitoral (TRE-RJ), onde exerci o cargo de Tcnico Judicirio, por dois anos. Sou Bacharel em Direito pela UNESA e ps- graduado em Direito Pblico pela Universidade Gama Filho. Minha trajetria de vida est intimamente ligada aos Concursos Pblicos. Desde o comeo da Faculdade eu sabia que era isso que eu queria para a minha vida! E querem saber? Isso faz toda a diferena! Algumas pessoas me perguntam como consegui sucesso nos concursos em to pouco tempo. Simples: Foco + Fora de vontade + Disciplina. No h frmula mgica, no h ingrediente secreto! Basta querer e correr atrs do seu sonho! Acreditem em mim, isso funciona! muito gratificante, depois de ter vivido minha jornada de concurseiro,poder colaborar para a aprovao de outros tantos concurseiros, como um dia eu fui! E quando eu falo em Òcolaborar para a aprovaoÓ, no estou falando apenas 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo por falar. O Estratgia Concursos possui ndices altssimos de aprovao em todos os concursos! Neste curso vocs recebero todas as informaes necessrias para que possam ter sucesso no concurso da CLDF. Acreditem, vocs no vo se arrepender! O Estratgia Concursos est comprometido com sua aprovao, com sua vaga, ou seja, com voc! Mas possvel que, mesmo diante de tudo isso que eu disse, voc ainda no esteja plenamente convencido de que o Estratgia Concursos a melhor escolha. Eu entendo voc, j estive deste lado do computador. Ës vezes difcil escolher o melhor material para sua preparao. Contudo, alguns colegas de caminhada podem te ajudar a resolver este impasse: Esse print screen acima foi retirado da pgina de avaliao do curso. De um curso elaborado para um concurso bastante concorrido (Delegado da PC-PE). Vejam que, dos 62 alunos que avaliaram o curso, 61 o aprovaram. Um percentual de 98,39%. Ainda no est convencido? Continuo te entendendo. Voc acha que pode estar dentro daqueles 1,61%. Em razo disso, disponibilizamos gratuitamente esta aula DEMONSTRATIVA, a fim de que voc possa analisar o material, ver se a abordagem te agrada, etc. Acha que a aula demonstrativa pouco para testar o material? Pois bem, o Estratgia concursos d a voc o prazo de 30 DIAS para testar o material. Isso mesmo, voc pode baixar as aulas, estudar, analisar detidamente o material e, se no gostar, devolvemos seu dinheiro. Sabem porque o Estratgia Concursos d ao aluno 30 dias para pedir o dinheiro de volta? Porque sabemos que isso no vai acontecer! No temos medo de dar a voc essa liberdade. Neste curso estudaremos todo o contedo de Direito Penal previsto no Edital. Estudaremos teoria e vamos trabalhar tambm com exerccios comentados. Abaixo segue o plano de aulas do curso todo: ! ! AULA CONTEòDO DATA 00000000000 - DEMO ==0== Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Aula 00 Fato tpico; infraes penais: crime e contraveno; crime doloso; crime culposo; antijuridicidade; excluso de antijuridicidade; imunidades diplomticas e parlamentares; prerrogativa de funo; 05/09 Aula 01 Crimes contra a pessoa: Crime contra a vida e integridade fsica. 12/09 Aula 02 Crimes contra a f pblica. Crimes contra a organizao do trabalho. 19/09 Aula 03 Crimes praticados por funcionrio pblico contra a administrao em geral 26/09 Aula 04 Crimes praticados por particular contra a administrao em geral 03.10 Aula 05 Crimes contra a administrao pblica estrangeira. Crimes contra a administrao da Justia. Crimes contra as finanas pblicas. 10/10 Aula 06 Lei de Drogas (Lei 11.343/06) 17/10 Aula 07 Crimes previstos no ECA. Crimes no Cdigo de Defesa do Consumidor. Crimes Eleitorais. 31/10 As aulas sero disponibilizadas no site conforme o cronograma apresentado. Em cada aula eu trarei algumas questes que foram cobradas em concursos pblicos, para fixarmos o entendimento sobre a matria. Sempre que possvel, utilizaremos questes da FCC, que a Banca escolhida para elaborar o certame. Alm da teoria e das questes, vocs tero acesso a duas ferramentas muito importantes: ¥! RESUMOS Ð Cada aula ter um resumo daquilo que foi estudado, variando de 03 a 10 pginas (a depender do tema), indo direto ao ponto daquilo que mais relevante! Ideal para quem est sem muito tempo. ¥! FîRUM DE DòVIDAS Ð No entendeu alguma coisa? Simples: basta perguntar ao professor Vinicius Silva, que o responsvel pelo Frum de Dvidas, exclusivo para os alunos do curso. 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Outro diferencial importante que nosso curso em PDF ser complementado por videoaulas. Nas videoaulas sero apresentados alguns pontos considerados mais relevantes da matria, seja atravs da apresentao da teoria seja atravs da resoluo de exerccios anteriores, como forma de ajudar na assimilao da matria. No mais, desejo a todos uma boa maratona de estudos! Prof. Renan Araujo E-mail: profrenanaraujo@gmail.com Periscope: @profrenanaraujo Facebook: www.facebook.com/profrenanaraujoestrategia Instagram: www.instagram.com/profrenanaraujo/?hl=pt-br Youtube: www.youtube.com/channel/UClIFS2cyREWT35OELN8wcFQ Observao importante: este curso protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislao sobre direitos autorais e d outras providncias. Grupos de rateio e pirataria so clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente atravs do site Estratgia Concursos. ;-) 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo 1! DO CRIME 1.1!Conceito de crime O Crime um fenmeno social, disso nenhum de vocs duvida. Entretanto, como conceituar o crime juridicamente? Muito se buscou na Doutrina acerca disso, tendo surgido inmeras posies a respeito. Vamos tratar das principais. O Crime pode ser entendido sob trs aspectos: Material, legal e analtico. Sob o aspecto material, crime toda ao humana que lesa ou expe a perigo um bem jurdico de terceiro, que, por sua relevncia, merece a proteo penal. Esse aspecto valoriza o crime enquanto contedo, ou seja, busca identificar se a conduta ou no apta a produzir uma leso a um bem jurdico penalmente tutelado. Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que proibido chorar em pblico, essa lei no estar criando uma hiptese de crime em seu sentido material, pois essa conduta NUNCA SERç crime em sentido material, pois no produz qualquer leso ou exposio de leso a bem jurdico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que crime, materialmente no o ser. Sob o aspecto legal, ou formal, crime toda infrao penal a que a lei comina pena de recluso ou deteno, nos termos do art. 1¡ da Lei de Introduo ao CP.1 Percebam que o conceito aqui meramente legal. Se a lei cominar a uma conduta a pena de deteno ou recluso, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime. Por outro lado, se a lei cominar a apenas priso simples ou multa, alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contraveno penal. Esse aspecto consagra o SISTEMA DICOTïMICO adotado no Brasil, no qual existe um gnero, que a infrao penal, e duas espcies, que so o crime e a contraveno penal. Assim: 1 Art 1¼ Considera-se crime a infrao penal que a lei comina pena de recluso ou de deteno, quer isoladamente,quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contraveno, a infrao penal a que a lei comina, isoladamente, pena de priso simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Vejam que quando se diz Òinfrao penalÓ, est se usando um termo genrico, que pode tanto se referir a um ÒcrimeÓ ou a uma Òcontraveno penalÓ. O termo ÒdelitoÓ, no Brasil, sinnimo de crime. O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analtico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu conceito. Primeiramente surgiu a teoria quadripartida do crime, que entendia que crime era todo fato tpico, ilcito, culpvel e punvel. Hoje praticamente inexistente. Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que entendiam que crime era o fato tpico, ilcito e culpvel. Essa a teoria que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira teoria. A terceira e ltima teoria acerca do conceito analtico de crime entende que este o fato tpico e ilcito, sendo a culpabilidade mero pressuposto de aplicao da pena. Ou seja, para esta corrente, o conceito de crime bipartido, bastando para sua caracterizao que o fato seja tpico e ilcito. As duas ltimas correntes possuem defensores e argumentos de peso. Entretanto, a que predomina ainda a corrente tripartida. Portanto, na prova objetiva, recomendo que adotem esta, a menos que a banca seja muito explcita e vocs entenderem que eles claramente so adeptos da teoria bipartida, o que acho pouco provvel. Todos os trs aspectos (material, legal e analtico) esto presentes no nosso sistema jurdico-penal. De fato, uma conduta pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas no o ser se no houver previso legal (no ser legalmente crime). Poder, ainda, ser formalmente crime (no caso da lei que citei, que criminalizava a conduta de chorar em pblico), mas no o ser materialmente se no trouxer leso ou ameaa a leso de algum bem jurdico de terceiro. Desta forma: INFRAÇÕES PENAIS CRIMES CONTRAVENÇÕES PENAIS 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Esse ltimo conceito de crime (sob o aspecto analtico), o que vai nos fornecer os subsdios para que possamos estudar os elementos do crime (Fato tpico, ilicitude e culpabilidade). O fato tpico o primeiro dos elementos do crime, sendo a tipicidade um de seus pressupostos. Vamos estud-lo, ento! 1.2!Sujeitos da infrao penal Os sujeitos do crime so aqueles que, de alguma forma, se relacionam com a conduta criminosa. So basicamente de duas ordens: Sujeito ativo e passivo. 1.2.1!Sujeito ativo Sujeito ativo a pessoa que pratica a conduta descrita no tipo penal. Entretanto, atravs do concurso de pessoas, ou concurso de agentes, possvel que algum seja sujeito ativo de uma infrao penal sem que realize a conduta descrita no tipo penal. EXEMPLO: Pedro atira contra Paulo, vindo a causar-lhe a morte. Pedro sujeito ativo do crime de homicdio, previsto no art. 121 do Cdigo Penal, isso no se discute. Mas tambm ser sujeito ativo do crime de homicdio, Joo, que lhe emprestou a arma e lhe encorajou a atirar. Embora Joo no tenha realizado a conduta prevista no tipo penal, pois no praticou a conduta de Òmatar algumÓ, auxiliou material e moralmente Pedro a faz-lo. Somente o ser humano, em regra, pode ser sujeito ativo de uma infrao penal. Os animais, por exemplo, no podem ser sujeitos ativos da infrao penal, embora possam ser instrumentos para a prtica de crimes. CONCEITO DE CRIME MATERIAL FORMAL ANALÍTICO TEORIA BIPARTIDA TEORIA TRIPARTIDA ADOTADA PELO CP TEORIA QUADRIPARTIDA 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Modernamente, tem se admitido a RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURêDICA, ou seja, tem se admitido que a pessoa jurdica seja considerada SUJEITO ATIVO DE INFRAÍES PENAIS. Embora boa parte da DOUTRINA discorde desta corrente, por inmeras razes, temos que estud-la. A Constituio de 1988 trouxe, em seu art. 225, ¤ 3¡, estabelece que: ¤ 3¼ - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados. Esse dispositivo considerado o marco mais significativo para a responsabilizao penal da pessoa jurdica, para os que defendem essa tese. Os opositores justificam sua tese sob o argumento, basicamente, de que a pessoa jurdica no possui vontade, assim, a vontade seria sempre do seu dirigente, devendo este responder pelo crime, no a pessoa jurdica. Ademais, o dirigente s pode agir em conformidade com o estatuto social, o que sair disso excesso de poder, e como a Pessoa Jurdica no pode ter em seu estatuto a prtica de crimes como objeto, todo crime cometido pela pessoa jurdica seria um ato praticado com violao a seu estatuto, devendo o agente responder pessoalmente, no a Pessoa Jurdica. Muitos outros argumentos existem, para ambos os lados. Entretanto, isto no um livro de doutrina, mas um curso para concurso, ento o que vocs precisam saber que o STF e o STJ admitem a responsabilidade penal da pessoa jurdica em todos os crimes ambientais (regulamentados pela lei 9.605/98)! Com relao aos demais crimes, em tese, atribuveis pessoa jurdica (crimes contra o sistema financeiro, economia popular, etc.), como no houve regulamentao da responsabilidade penal da pessoa jurdica, esta fica afastada, conforme entendimento do STF e do STJ. A Jurisprudncia CLçSSICA do STJ e do STF no sentido de ADMITIR a responsabilidade penal da pessoa jurdica. Todavia, o STF e o STJ exigiam a punio simultnea da pessoa fsica causadora do dano, no que se convencionou chamar de TEORIA DA DUPLA IMPUTAÌO. Apesar de esta ser a jurisprudncia clssica, mais recentemente o STF e o STJ DISPENSARAM o requisito da dupla imputao. Ou seja, atualmente no mais se exige a chamada Òdupla imputaoÓ. Em regra, a Lei Penal aplicvel a todas as pessoas indistintamente. Entretanto, em relao a algumas pessoas, existem disposies especiais do Cdigo Penal. So as chamadas imunidades diplomticas (diplomticas e de chefes de governos estrangeiros) e parlamentares (referentes aos membros do Poder Legislativo). 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo 1.2.2!Imunidades Diplomticas Estas imunidades se baseiam no princpio da reciprocidade, ou seja, o Brasil concede imunidade a estas pessoas, enquanto os Pases que representam conferem imunidades aos nossos representantes. No h violao ao princpio constitucional da isonomia! Cuidado! Pois a imunidade no conferida em razo da pessoa imunizada, mas em razo do cargo que ocupa. Ou seja, ela de carter funcional. Entenderam? Estas imunidades diplomticasesto previstas na Conveno de Viena, incorporada ao nosso ordenamento jurdico atravs do Decreto 56.435/65, que prev imunidade total (em relao a qualquer crime) aos Diplomatas, que esto sujeitos Jurisdio de seu pas apenas. Esta imunidade se estende aos funcionrios dos rgos internacionais (quando em servio!) e aos seus familiares, bem como aos Chefes de Governo e Ministros das Relaes Exteriores de outros pases. Essa imunidade IRRENUNCIçVEL, exatamente por no pertencer pessoa, mas ao cargo que ocupa! Essa a posio do STF! Cuidado com isso! Com relao aos cnsules (diferentes dos Diplomatas) a imunidade s conferida aos atos praticados em razo do ofcio, no a qualquer crime. EXEMPLO: Se Yamazaki, cnsul do Japo no Rio de Janeiro, no domingo, curtindo uma praia, agride um vendedor de picols por ter lhe dado o troco errado (carioca malandro...), responder pelo crime, pois no se trata de ato praticado no exerccio da funo. Resumidamente: ¥! IMUNIDADE TOTAL DE JURISDIÌO PENAL Ð Agentes diplomticos e seus familiares, bem como os membros do pessoal administrativo e tcnico da misso, assim como os membros de suas famlias que com eles vivam, desde que no sejam nacionais do estado acreditado (no caso, o Brasil) nem nele tenham residncia permanente. ¥! IMUNIDADE DE JURISDIÌO PENAL em relao aos ATOS PRATICADOS NO EXERCêCIO DAS FUNÍES Ð Cnsules2 e membros do pessoal de servio da misso diplomtica que no sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residncia permanente. 1.2.3!Imunidades Parlamentares Esto previstas na Constituio Federal, motivo pelo qual geralmente so mais bem estudadas naquela disciplina. Entretanto, como costumam ser cobradas tambm na matria de Direito Penal, vamos estud-la ponto a ponto. Trata-se de prerrogativas dos parlamentares, com vistas a se preservar a Instituio (Poder Legislativo) de ingerncias externas. So duas as hipteses 2 Art. 43.1 do Decreto 61.078/67 Ð Promulgao da Conveno de Viena sobre Relaes Consulares. 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo de imunidades parlamentares: a) material (conhecida como real, ou ainda, inviolabilidade); b) formal (ou processual ou ainda, adjetiva). (a)! Imunidade material Trata-se de prerrogativa prevista no art. 53 da Constituio: Art. 53. Os Deputados e Senadores so inviolveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opinies, palavras e votos. Assim, o parlamentar no comete crime quando pratica estas condutas em razo do cargo (exerccio da funo). Entretanto, no necessrio que o parlamentar tenha proferido as palavras dentro do recinto (Congresso, Assembleia Legislativa, etc.), bastando que tenha relao com sua funo (Pode ser numa entrevista a um jornal local, etc.). ESSA A POSIÌO DO STF A RESPEITO DO TEMA. Quanto natureza jurdica dessa imunidade (o que ela representa perante o Direito), h muita controvrsia na Doutrina, mas a posio que predomina a de que se trata de fato atpico, ou seja, a conduta do parlamentar no chega sequer a ter enquadramento na lei penal (Essa a posio que vem sendo adotada pelo Supremo Tribunal Federal Ð STF). Temos, ainda, a imunidade material dos vereadores, prevista no art. 29, VIII da Constituio: Art. 29. O Municpio reger-se- por lei orgnica, votada em dois turnos, com o interstcio mnimo de dez dias, e aprovada por dois teros dos membros da Cmara Municipal, que a promulgar, atendidos os princpios estabelecidos nesta Constituio, na Constituio do respectivo Estado e os seguintes preceitos: (...) VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opinies, palavras e votos no exerccio do mandato e na circunscrio do Municpio; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda Constitucional n¼ 1, de 1992) Vejam que necessrio que o ato (no caso dos vereadores) tenha sido praticado na circunscrio do municpio. Caso contrrio, no haver a incidncia da proteo constitucional. Informativo 775 do STF Ð ÒNos limites da circunscrio do Municpio e havendo pertinncia com o exerccio do mandato, garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores (...) O Colegiado reputou que, embora as manifestaes fossem ofensivas, teriam sido proferidas durante a sesso da Cmara dos Vereadores Ñ portanto na circunscrio do Municpio Ñ e teriam como motivao questo de cunho poltico, tendo em conta a existncia de representao contra o prefeito formulada junto ao Ministrio Pblico Ñ portanto no exerccio do mandato.Ó Ð (RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Roberto Barroso, 25.2.2015. (RE-600063) 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo (b)! Imunidade formal Esta imunidade no est relacionada caracterizao ou no de uma conduta como crime. Est relacionada a questes processuais, como possibilidade de priso e seguimento de processo penal. Est prevista no art. 53, ¤¤ 1¡ a 5¡ da Constituio da Repblica. A primeira das hipteses a imunidade formal para a priso. Assim dispe o art. 53, ¤ 2¡ da Constituio: ¤ 2¼ Desde a expedio do diploma, os membros do Congresso Nacional no podero ser presos, salvo em flagrante de crime inafianvel. Nesse caso, os autos sero remetidos dentro de vinte e quatro horas Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a priso. O STF entende que essa impossibilidade de priso se refere a qualquer tipo de priso, inclusive as de carter provisrio, decretadas pelo Juiz. A nica ressalva a priso em flagrante pela prtica de crime inafianvel. Entretanto, recentemente, o STF decidiu que os parlamentares podem ser presos, alm desta hiptese, no caso de sentena penal condenatria transitada em julgado, ou seja, na qual no cabe mais recurso algum. Continuando no caso da priso em flagrante, os autos da priso sero remetidos casa a qual pertencer o parlamentar, em at 24h, e esta decidir, em votao aberta, por maioria absoluta de seus membros, se a priso mantida ou no. A imunidade se inicia com a diplomao do parlamentar e se encerra com o fim do mandato. J a imunidade formal para o processo, est prevista no ¤3¡ do art. 53 da Constituio: ¤ 3¼ Recebida a denncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido aps a diplomao, o Supremo Tribunal Federal dar cincia Casa respectiva, que, por iniciativa de partido poltico nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poder, at a deciso final, sustar o andamento da ao. Assim, se um parlamentar cometer um crime aps a diplomao e for denunciado por isso, o STF, se receber a denncia, dever dar cincia Casa a qual pertence o parlamentar (Cmara ou Senado), e esta poder, por iniciativa de algum partido poltico que l tenha representante, sustar o andamento da ao at o trmino do mandato. CUIDADO! S quem pode tomar a iniciativa de pedir a sustao da ao penal partido poltico que possua algum representante NAQUELA CASA. EXEMPLO: Se um Senador est sendo processado, sendo o Senado comunicado pelo STF, somente um partido com representao no SENADO 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 86DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo FEDERAL poder tomar a iniciativa de pedir a sustao da ao penal, que ser decidida pela Casa. A sustao deve ser decidida no prazo de 45 dias a contar do recebimento do pedido pela Mesa Diretora da Casa. Caso o processo seja suspenso, suspende- se tambm a prescrio, para evitar que o Parlamentar deixe de ser julgado ao trmino do mandato. Havendo a sustao da ao penal em relao ao parlamentar, e tendo o processo outros rus que no sejam parlamentares, o processo deve ser desmembrado, e os demais rus sero processados normalmente. Cuidado, meu povo! No caso de crime cometido ANTES da diplomao, no h essa regra. O STF no tem que comunicar a Casa e no h possibilidade de sustao do andamento do processo! Cuidado! Essas regras (referentes a ambas as espcies de imunidades) so aplicveis aos parlamentares estaduais (Deputados estaduais), por fora do art. 27, ¤ 1¡ da Constituio. Entretanto, aos parlamentares municipais (vereadores) s se aplicam as imunidades materiais! Muito, mas muito cuidado com isso! Ah, e em qualquer caso, no abrangem os suplentes! Os parlamentares no podem renunciar a estas imunidades, pois, como disse antes, trata-se de prerrogativa inerente ao cargo, no pessoa. Entretanto, a Doutrina e a Jurisprudncia entendem que o parlamentar afastado para exercer cargo de Ministro ou Secretrio de Estado NÌO mantm as imunidades, ou seja, ele perde a imunidade parlamentar (A smula n¼ 04 do STF fora revogada!). INQ 725-RJ, rel. Ministra Ellen Gracie, 8.5.2002.(INQ-725) Ð Informativo 267 do STF. Fiquem atentos! As imunidades parlamentares permanecem ainda que o pas se encontre em estado de stio. Entretanto, por deciso de 2/3 dos membros da Casa, estas imunidades podero ser suspensas, durante o estado de stio, em razo de ato praticado pelo parlamentar FORA DO RECINTO. Assim, EM HIPîTESE NENHUMA (NEM NO ESTADO DE SêTIO), O PARLAMENTAR PODERç SER RESPONSABILIZADO POR ATO PRATICADO NO RECINTO (aqueles atos previstos na Constituio, claro). 1.2.4!Sujeito Passivo O sujeito passivo nada mais que aquele que sofre a ofensa causada pelo sujeito ativo. Pode ser de duas espcies: 1)!Sujeito passivo mediato ou formal Ð o Estado, pois a ele pertence o dever de manter a ordem pblica e punir aqueles que cometem crimes. 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Todo crime possui o Estado como sujeito passivo mediato, pois todo crime uma ofensa ao Estado, ordem estatuda; 2)!Sujeito passivo imediato ou material Ð o titular do bem jurdico efetivamente lesado. Por exemplo: A pessoa que sofre a leso no crime de leso corporal (art. 129 do CP), o dono do carro roubado no crime de roubo (art. 157 do CP), etc. CUIDADO! O Estado tambm pode ser sujeito passivo imediato ou material, nos crimes em que for o titular do bem jurdico especificamente violado, como nos crimes contra a administrao pblica, por exemplo. As pessoas jurdicas tambm podem ser sujeitos passivos de crimes. J os mortos e os animais no podem ser sujeitos passivos de crimes pois no so sujeitos de direito. Mas, e o crime de vilipndio a cadver e os crimes contra a fauna? Nesse caso, no so os mortos e os animais os sujeitos passivos e sim, no primeiro caso, a famlia do morto, e no segundo caso, toda a coletividade, pelo desequilbrio ambiental. NINGUM PODE COMETER CRIME CONTRA SI MESMO! Ou seja, ningum pode ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo imediato de um crime (Parte da Doutrina entende que isso possvel no crime de rixa, mas isso no posio unnime). 1.3! Fato tpico e seus elementos O fato tpico tambm se divide em elementos, so eles: ¥! Conduta humana (alguns entendem possvel a conduta de pessoa jurdica) ¥! Resultado naturalstico ¥! Nexo de causalidade ¥! Tipicidade 1.3.1!Conduta Trs so as principais teorias3 que buscam explicar a conduta: Teoria causal-naturalstica (ou clssica), finalista e social. 3 Temos, ainda, outras teorias de menor relevncia para fins de concurso, como a teoria funcionalista teleolgica de CLAUS ROXIN, segundo a qual a noo de ÒcondutaÓ deve estar vinculada funo do Direito Penal (que a de proteo de bens jurdicos). Logo, conduta seria a ao ou omisso, dolosa ou culposa, que provoque (ou seja destinada a provocar) uma ofensa relevante ao bem jurdico. H, ainda, o funcionalismo sistmico (tambm chamado de radical), cujo principal expoente JAKOBS. Para essa teoria a conduta deve ser analisada com base na funo que o Direito Penal cumpre no sistema social, mais precisamente, a funo de reafirmar a ordem violada pelo ato criminoso. Assim, para esta teoria, a conduta seria a ao ou omisso, dolosa ou culposa, que viola o sistema e frustra a expectativa normativa (expectativa de que todos cumpram a norma). Importa saber, portanto, se houve violao norma, no importando se h alguma ofensa a bens jurdicos. 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Para a teoria causal-naturalstica, conduta a ao humana. Assim, basta que haja movimento corporal para que exista conduta. Esta teoria est praticamente abandonada, pois entende que no h necessidade de se analisar o contedo da vontade do agente nesse momento, guardando esta anlise (dolo ou culpa) para quando do estudo da culpabilidade.4 Para a teoria finalista, de HANS WELZEL, a conduta humana a ao voluntria dirigida a uma determinada finalidade. Assim: Conduta = vontade + ao Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta no existir, o que acarreta a inexistncia de fato tpico. EXEMPLO: Joo olha para Roberto e o agride, por livre espontnea vontade. Estamos diante de uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa (quis o resultado). Agora, se Joo dirige seu carro, v Roberto e sem querer, o atinge, estamos diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa (no quis o resultado). Vejam que a ÒvontadeÓ a que me referi como elemento da conduta uma vontade de meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda que o resultado que se pretendesse no fosse ilcito. Quando a vontade (elemento da conduta) dirigida ao fim criminoso, o crime doloso. Quando a vontade dirigida a outro fim (que at pode ser criminoso, mas no aquele) o crime culposo. Porm, por enquanto vamos ficar apenas na ÒvontadeÓ (desculpem o trocadilho) e estudar somente os elementos do fato tpico. ESTA A TEORIA ADOTADA PELO NOSSO CîDIGO PENAL. Vejamos os termos do art. 20 do CP5: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punio por crime culposo, se previsto em lei. Ora, se a lei prev que o erro sobre um elemento do tipo exclui o dolo, porque entende que o dolo est no tipo (fato tpico), no na culpabilidade. Assim, a conduta , necessariamente, voluntria. A grande evoluo da teoria finalista, portanto, foi conceber a conduta como um Òacontecimento finalÓ6, ou seja, somente h conduta quando o agir de algum dirigido a alguma finalidade (seja ela lcita ou no). 4 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 287/288 5 DOTTI, Ren Ariel. Cursode Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2012, p. 397 6 DOTTI, Ren Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2012, p. 396 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Para terceira teoria, a teoria social, a conduta a ao humana, voluntria e que dotada de alguma relevncia social.7 H crticas a esta teoria, pois a relevncia social no seria um elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade que esta poderia ou no possuir. Assim, a conduta que no fosse socialmente relevante continuaria sendo conduta.8 A conduta humana pode ser uma ao ou uma omisso. A questo : Qual o resultado naturalstico que advm de uma omisso? Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Assim, aquele que se omite na prestao de socorro a algum, pode estar cometendo o crime de omisso de socorro, art. 135 do Cdigo Penal (que um crime formal, pois a morte daquele a quem no se prestou socorro irrelevante), no porque causou a morte de algum (at porque este resultado irrelevante e no fora diretamente provocado pelo agente), mas porque descumpriu um comando legal. Entretanto, o art. 13, ¤ 2¡ do CP diz o seguinte: ¤ 2¼ - A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado. Esse artigo estabelece o crime omissivo imprprio. Nesses crimes, quando o agente se omite na prestao do socorro ele no responde por omisso de socorro (art. 135 do CP), mas responde pelo resultado ocorrido (por exemplo, a morte da pessoa a quem ele deveria proteger). EXEMPLO: O pai, querendo matar o filho de 06 meses, sai de casa e vai viajar, permanecendo fora por 03 semanas. Quando retorna, o filho est morto (por inanio). Mas como se pode dizer que a conduta do pai matou o filho? Tecnicamente falando, a conduta do pai no gerou a morte do filho. O que gerou a morte do filho foi a ausncia de alimento e gua. Entretanto, pela teoria naturalstico- normativa, a ele imputado o resultado, em razo do seu descumprimento do dever de vigilncia e cuidado. 7 DOTTI, Ren Ariel. Op. cit. p. 397 8 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 246/247 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo Assim, lembrem-se: nos crimes omissivos imprprios (crimes comissivos cujo resultado imputado a algum em razo de sua indevida omisso) a relao de causalidade que liga a conduta do agente (uma omisso) ao resultado NÌO FêSICA (pois a omisso no d causa ao resultado), mas NORMATIVA, ou seja, o resultado a ele imputado em razo do descumprimento da norma (omitir-se, quando deveria agir), num raciocnio de presuno: se o agente tivesse agido, possivelmente teria evitado o resultado; como no o fez, vai responder por ele. 1.3.2!Resultado naturalstico O resultado naturalstico a modificao do mundo real provocada pela conduta do agente.9 Entretanto, apenas nos crimes chamados materiais se exige um resultado naturalstico. Nos crimes formais e de mera conduta no h essa exigncia. Os crimes formais so aqueles nos quais o resultado naturalstico pode ocorrer, mas a sua ocorrncia irrelevante para o Direito Penal. J os crimes de mera conduta so crimes em que no h um resultado naturalstico possvel. Vou dar um exemplo de cada um dos trs: ¥! Crime material Ð Homicdio. Para que o homicdio seja consumado, necessrio que a vtima venha a bito. Caso isso no ocorra, estaremos diante de um homicdio tentado (ou leses corporais culposas); ¥! Crime formal Ð Extorso (art. 158 do CP). Para que o crime de extorso se consume no necessrio que o agente obtenha a vantagem ilcita, bastando o constrangimento vtima; ¥! Crime de mera conduta Ð Invaso de domiclio. Nesse caso, a mera presena do agente, indevidamente, no domiclio da vtima caracteriza o 9 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354 CRIMES COMISSIVOS RELAÇÃO DE CAUSALIDADE FÍSICA OU NATURAL RESULTADO NATURALÍSTICO CRIMES COMISSIVOS POR OMISSÃO (OMISSIVOS IMPRÓPRIOS) RELAÇÃO DE CAUSALIDADE NORMATIVA RESULTADO NATURALÍSTICO 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo crime. No h um resultado previsto para esse crime. Qualquer outra conduta praticada a partir da configura crime autnomo (furto, roubo, homicdio, etc.). Alm do resultado naturalstico (que nem sempre estar presente), h tambm o resultado jurdico (ou normativo), que a leso ao bem jurdico tutelado pela norma penal. Esse resultado sempre estar presente! Cuidado com isso! Assim, se a banca perguntar: ÒH crime sem resultado jurdico?Ó A resposta NÌO!10 1.3.3!Nexo de Causalidade Nos termos do art. 13 do CP: Art. 13 - O resultado, de que depende a existncia do crime, somente imputvel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido. Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o vnculo que une a conduta do agente ao resultado naturalstico ocorrido no mundo exterior. Portanto, s se aplica aos crimes materiais! Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade: ¥!TEORIA DA EQUIVALæNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA CONDITIO SINE QUA NON) Ð Para esta teoria, considerada causa do crime toda conduta sem a qual o resultado no teria ocorrido. Assim, para se saber se uma conduta ou no causa do crime, devemos retir-la do curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria (Processo hipottico de eliminao de Thyrn). EXEMPLO: Marcelo acorda de manh, toma caf, compra uma arma e encontra Jlio, seu desafeto, disparando trs tiros contra ele, causando-lhe a morte. Retirando-se do curso o caf tomado por Marcelo, conclumos que o resultado teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto, se retirarmos a compra da arma do curso do processo, o crime no teria ocorrido. O inconveniente claro desta teoria que ela permite que se coloquem como causa situaes absurdas, como a venda da arma ou at mesmo o nascimento do agente, j que se os pais no tivessem colocado a criana no mundo, o crime no teria acontecido. Isso um absurdo! Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que o dolo. Logo, s ser considerada causa a conduta que indispensvel ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no exemplo anterior, o 10 Pelo princpio da ofensividade, no possvel haver crime sem resultado jurdico. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questesAula DEMO Ð Prof. Renan Araujo vendedor da arma no seria responsabilizado, pois nada mais fez que vender seu produto, no tendo a inteno (nem sequer imaginou) de ver a morte de Jlio. Nesse sentido: CAUSA = conduta indispensvel ao resultado + que tenha sido prevista e querida por quem a praticou Podemos dizer, ento, que a causalidade aqui no meramente fsica, mas tambm, psicolgica. Essa foi a teoria adotada pelo Cdigo Penal, como regra. ¥!TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA Ð Trata-se de teoria tambm adotada pelo Cdigo Penal, porm, somente em uma hiptese muito especfica. Trata-se da hiptese de concausa superveniente relativamente independente que, por si s, produz o resultado11. Como assim? Vamos explicar desde o comeo! As concausas so circunstncias que atuam paralelamente conduta do agente em relao ao resultado. As concausas podem ser: absolutamente independentes e relativamente independentes. As concausas absolutamente independentes so aquelas que no se juntam conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser preexistentes (existiam antes da conduta), concomitantes (surgiram durante a conduta) e supervenientes (surgiram aps a conduta). Exemplos: EXEMPLO (1) Pedro resolve matar Joo, e coloca veneno em seu drink. Porm, Pedro no sabe que Marcelo tambm queria matar Joo e minutos antes tambm havia colocado veneno no drink de Joo, que vem a morrer em razo do veneno colocado por Marcelo. Nesse caso, a concausa preexistente (conduta de Marcelo) produziu por si s o resultado (morte). Nesse caso, Pedro responder somente por tentativa de homicdio. __________________________________________________ EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Joo, e comea a disparar contra ele projteis de arma de fogo. Entretanto, durante a execuo, o teto da casa de Joo desaba sobre ele, vindo a causar-lhe a morte. Aqui, a causa concomitante (queda do teto) produziu isoladamente o resultado (morte). Portanto, Pedro responde somente por homicdio tentado. __________________________________________________ EXEMPLO (3) Pedro resolve matar Joo, desta vez, ministrando em sua bebida certa dose de veneno. Entretanto, antes que o veneno faa efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de pistola contra Joo, o mantando. Nesse caso, Pedro responder somente por homicdio tentado. 11 CUNHA, Rogrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edio. Ed. Juspodivm. Salvador, 2015, p. 232/233 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo __________________________________________________ Em todos estes casos o agente NÌO responde pelo resultado ocorrido. Por qual motivo? Sua conduta NÌO FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de cada um destes agentes (nos trs exemplos), o resultado morte ainda assim teria ocorrido da mesma forma. Logo, a conduta dos agentes NÌO considerada causa. Entretanto, pode ocorrer de a concausa no produzir por si s o resultado (absolutamente independente), afastando o nexo entre a conduta do agente e o resultado, mas unir-se conduta do agente e, juntas, produzirem o resultado. Essas so as chamadas concausas relativamente independentes, que tambm podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes. Mais uma vez, vou dar um exemplo de cada uma das trs e explicar quais os efeitos jurdico-penais em relao ao agente. Primeiro comearei pelas preexistentes e concomitantes. Aps, falarei especificamente sobre as supervenientes. EXEMPLO (1) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de faco, causando-lhe a morte. Entretanto, Maria era hemoflica (condio conhecida por Caio), tendo a doena contribudo em grande parte para seu bito. Nesse caso, embora a doena (concausa preexistente) tenha contribudo para o bito, Caio responde por homicdio consumado. Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido? No. Caio teve a inteno de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicdio consumado). ___________________________________________________ EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Joo, e coloca em seu drink determinada dose de veneno. Ao mesmo tempo, Ricardo faz a mesma coisa. Pedro e Ricardo querem a mesa coisa, mas no se conhecem nem sabem da conduta um do outro. Joo ingere a bebida e acaba falecendo. A percia comprova que qualquer das doses de veneno, isoladamente, no seria capaz de produzir o resultado. Porm, a soma de esforos de ambas (a soma das quantidades de veneno) produziu o resultado. Assim, Pedro responde por homicdio consumado. Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? No. Pedro teve a inteno de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicdio consumado). At aqui ns conseguimos resolver todos os casos pela teoria da equivalncia dos antecedentes, da seguinte forma: 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo ¥! Nas concausas absolutamente independentes Ð Em todos os casos a conduta do agente no contribuiu para o resultado. Logo, pelo juzo hiptese de eliminao, a conduta do agente no foi causa. Portanto, no responde pelo resultado. ¥! Nas concausas relativamente independentes (Preexistentes e concomitantes) Ð Em todos os casos a conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo juzo hiptese de eliminao, a conduta do agente foi causa. Portanto, responde pelo resultado. Agora que a coisa complica um pouco. No caso das concausas supervenientes relativamente independentes, podem acontecer duas coisas: §! A causa superveniente produz por si s o resultado §! A causa superveniente se agrega ao desdobramento natural da conduta do agente e ajuda a produzir o resultado. EXEMPLO (1) - Pedro resolve matar Joo (insistente esse cara!), e dispara 25 tiros contra ele, usando seu Fuzil Automtico Ligeiro-Fal, CALIBRE 7.62 (agora vai!). Joo fica estirado no cho, socorrido por uma ambulncia e, no caminho para o Hospital, sofre um acidente de carro (a ambulncia bate de frente com uma carreta) e vem a morrer em razo do acidente, no dos ferimentos causados por Pedro. Nesse caso, Pedro responde apenas por tentativa de homicdio. Por qual motivo? Sua conduta no foi a causa da morte. Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? No. Pedro teve a inteno de produzir o resultado? Sim. Ento por que no responde pelo resultado?? Aqui o CP adotou a teoria da causalidade adequada. A causa superveniente (acidente de trnsito) produziu por si s o resultado, j que o acidente de ambulncia no o desdobramento natural de um disparo de arma de fogo (esse resultado no consequncia natural e previsvel da conduta do agente12). Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro), apesar de produzir sozinha o resultado, no absolutamente independente, pois se no fosse a conduta de Pedro, o acidente no teria ocorrido (j que a vtima no estaria na ambulncia). Por isso dizemos que, aqui, temos:§! Concausa superveniente relativamente independente Ð A conduta de Pedro relevante para o resultado. 12 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼ edio. So Paulo, 2015, p. 324/325 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo §! Que por si s produziu o resultado Ð Apesar disso, a conduta de Pedro foi relevante apenas por CRIAR A SITUAÌO, mas no foi a responsvel efetiva pela morte. EXEMPLO (2) - No mesmo exemplo anterior, Joo socorrido e chegando ao Hospital, submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o ferimento infecciona e Joo morre por infeco. Nesse caso, a causa superveniente (infeco hospitalar) no produziu por si s o resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a morte de Joo. Nesse caso, Pedro responde por homicdio consumado. Mas qual a diferena entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A diferena bsica reside no fato de que: §! No exemplo (1) Ð A conduta do agente relevante em apenas um momento: por criar a situao (necessidade de ser transportado pela ambulncia). §! No exemplo (2) - A conduta do agente relevante em dois momentos: (a) cria a situao, ao fazer com que a vtima tenha que ser operada; (b) contribui para o prprio resultado (j que a infeco do ferimento no um novo nexo causal). Segue abaixo um esquema para melhor compreenso: CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES AGENTE NÃO RESPONDE PELO RESULTADO, POIS SUA CONDUTA NÃO FOI CAUSA. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES RELATIVAMENTE INDEPENDENTES PREEXISTENTES OU CONCOMITANTES AGENTE RESPONDE PELO RESULTADO, POIS SUA CONDUTA FOI CAUSA. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES SUPERVENIENTES PRODUZIU SOZINHA O RESULTADO - NÃO RESPONDE PELO RESULTADO. É CAUSA, MAS NÃO É CAUSA ADEQUADA. TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA NÃO PRODUZIU SOZINHA O RESULTADO - RESPONDE PELO RESULTADO - FOI CAUSA TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo ¥! TEORIA DA IMPUTAÌO OBJETIVA Ð A teoria da imputao objetiva, que foi melhor desenvolvida por Roxin13, tem por finalidade ser uma teoria mais completa em relao ao nexo de causalidade, em contraposio s "vigentes" teoria da equivalncia das condies e teoria da causalidade adequada. Para a teoria da imputao objetiva, a imputao s poderia ocorrer quando o agente tivesse dado causa ao fato (causalidade fsica) mas, ao mesmo tempo, houvesse uma relao de causalidade NORMATIVA, assim compreendida como a criao de um risco no permitido para o bem jurdico que se pretende tutelar. Para esta teoria, a conduta deve: a)!Criar ou aumentar um risco Ð Assim, se a conduta do agente no aumentou nem criou um risco, no h crime14. Exemplo clssico: Jos conversa com Paulo na calada. Pedro, inimigo de Paulo, atira um vaso de planta do 10¼ andar, com a finalidade de matar Paulo. Jos v que o vaso ir cair sobre a cabea de Paulo e o empurra. Paulo cai no cho e fratura levemente o brao. Neste caso, Jos deu causa (causalidade fsica) s leses corporais sofridas por Paulo. Contudo, sua conduta no criou nem aumentou um risco. Ao contrrio, Jos diminuiu um risco, ao evitar a morte de Paulo. b)!Risco deve ser proibido pelo Direito Ð Aquele que cria um risco de leso para algum, em tese no comete crime, a menos que esse risco seja proibido pelo Direito. Assim, o filho que manda os pais em viagem para a Europa, na inteno de que o avio caia, os pais morram, e ele receba a herana, no comete crime, pois o risco por ele criado no proibido pelo Direito. c)! Risco deve ser criado no resultado Ð Assim, um crime no pode ser imputado quele que no criou o risco para aquela ocorrncia. Explico: Imaginem que Jos ateia fogo na casa de Maria. Jos causou um risco, no permitido pelo Direito. Deve responder pelo crime de incndio doloso, art. 250 do CP. Entretanto, Maria invade a casa em chamas para resgatar a nica foto que restou de seu filho falecido, sendo lambida pelo fogo, vindo a falecer. Nesse caso, Jos no responde pelo crime de homicdio, pois o risco por ele criado no se insere nesse resultado, que foi provocado pela conduta exclusiva de Maria. 1.3.4!Tipicidade A tipicidade pode ser de duas ordens: tipicidade formal e tipicidade material. A tipicidade formal nada mais que a adequao da conduta do agente a uma previso tpica (norma penal que prev o fato e lhe descreve como crime). Assim, o tipo do art. 121 : Òmatar algumÓ. Portanto, quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, est cometendo fato tpico (tipicidade formal), pois est praticando uma conduta que encontra previso como tipo penal. 13 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 362/411 14 ROXIN, Claus. Op. cit., p. 365 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo No h muito o que se falar acerca da tipicidade formal. Basta que o intrprete proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso concreto e a conduta prevista na Lei Penal (subsuno). Se a conduta praticada se amoldar quela prevista na Lei Penal, o fato ser tpico, ou seja, haver adequao tpica, por estar presente o elemento ÒtipicidadeÓ. CUIDADO! Nem sempre a conduta praticada pelo agente se amolda perfeitamente ao tipo penal (adequao imediata). Ës vezes necessrio que se proceda anlise de outro dispositivo da Lei Penal para se chegar concluso de que um fato tpico (adequao mediata). Por exemplo: Imaginem que Abreu (El Loco) dispara contra Adriano (El Imperador), que no morre. Nesse caso, como dizer que Abreu praticou fato tpico (homicdio tentado), se o art. 121 diz ÒmatarÓ algum, o que no ocorreu? Nessa hiptese, conjuga-se o art. 121 do CP com seu art. 14, II, que diz ser o crime punvel na modalidade tentada. Isso tambm se aplica aos crimes omissivos imprprios (art. 13, ¤ 2¡ do CP). Assim, a adequao tpica pode ser: ⇒! Imediata (direta) Ð Conduta do agente exatamente aquela descrita na norma penal incriminadora. Ex.: Jos atira em Maria, querendo sua morte, e Maria morre. H adequao tpica imediata ao tipo penal do art. 121 do CP. ⇒!Mediata (indireta) Ð A conduta do agente no corresponde exatamente ao que diz o tipo penal, sendo necessria uma norma de extenso. Ex.: Paulo empresta a arma para que Jos mate Maria, o que efetivamente ocorre. Paulo no praticou a conduta de Òmatar algumÓ, logo, a adequao tpica depende do art. 29 do CP (que determina que os partcipes respondam pelo crime). Assim: art. 121 + art. 29 do CP. Por fim, temos ainda a tipicidade material, que a ocorrncia de uma ofensa (leso ou exposio a risco) significativa ao bem jurdico. Assim, no haver tipicidade material quando a conduta, apesar de formalmente tpica (prevista na Lei como crime), no for capaz de afetar significativamente o bem jurdico protegido pela norma. Um exemplo disso ocorre nas hipteses em que h aplicao do princpio da insignificncia.EXEMPLO: Jos subtrai uma folha de papel em branco, pertencente escola em que o filho estuda. Neste caso, a conduta formalmente tpica (est prevista na Lei como crime de furto). Todavia, no h tipicidade material, j que no uma conduta capaz de ofender significativamente o bem jurdico protegido pela norma (o patrimnio da escola). 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo 1.4!Crime doloso e crime culposo O dolo e a culpa so o que se pode chamar de elementos subjetivos do tipo penal. Com o finalismo de HANS WELZEL, o dolo e a culpa (elementos subjetivos) foram transportados da culpabilidade para o fato tpico15 (conduta). Assim, a conduta (no finalismo) no mais apenas objetiva, sinnimo de ao humana, mas sim a ao humana dirigida a um fim (ilcito ou no). Vamos estudar cada um destes elementos separadamente. 1.4.1!Crime doloso O dolo o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre e consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assuno do risco produzido pela conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP: Art. 18 - Diz-se o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso(Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;(Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) O dolo direto, que o elemento subjetivo clssico do crime, composto pela conscincia de que a conduta pode lesar um bem jurdico mais a vontade de lesar este bem jurdico. Esses dois elementos (conscincia + vontade) formam o que se chama de dolo natural. Antigamente, quando o dolo pertencia culpabilidade, a esses dois elementos era acrescido mais um elemento, que era a conscincia da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo. Atualmente, com a transposio do dolo e da culpa para o fato tpico, os elementos normativos ficaram na culpabilidade e a conscincia da ilicitude tambm, passando, ainda a ser meramente potencial. Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo natural e no causalismo o dolo normativo. O dolo eventual, por sua vez, consiste na conscincia de que a conduta pode gerar um resultado criminoso, mais a assuno desse risco, mesmo diante da probabilidade de algo dar errado. Trata-se de hiptese na qual o agente no tem vontade de produzir o resultado criminoso (no o que aconteceu, embora possa ser outro), mas, analisando as circunstncias, sabe que este resultado pode ocorrer e no se importa, age da mesma maneira. 15 BITENCOURT, Op. cit., p. 290/291 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo EXEMPLO: Imagine que Renato, dono de um stio, e apreciador da prtica do tiro esportivo, decida levantar sbado pela manh e praticar tiro no seu terreno, mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance e que h casas na vizinhana. Renato at no quer que ningum seja atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e no se importa, pratica a conduta assim mesmo. Nesse caso, se Renato atingir algum, causando-lhe leses ou mesmo a morte, estar praticando homicdio doloso por dolo eventual. O dolo pode ser, ainda: ¥! Dolo genrico Ð Atualmente, com o finalismo, passou a ser chamado simplesmente de dolo, que , basicamente, a vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem nenhuma outra finalidade; ¥! Dolo especfico, ou especial fim de agir Ð Em contraposio ao dolo genrico, nesse caso o agente no quer somente praticar a conduta tpica, mas o faz por alguma razo especial, com alguma finalidade especfica. o caso do crime de injria, por exemplo, no qual o agente deve no s praticar a conduta, mas deve faz-lo com a inteno de ofender a honra subjetiva da vtima; ¥! Dolo direto de primeiro grau Ð Trata-se do dolo comum, aquele no qual o agente tem a vontade direcionada para a produo do resultado, como no caso do homicida que procura sua vtima e a mata com disparos de arma de fogo; ¥! Dolo direto de segundo grau Ð Tambm chamado de Òdolo de consequncias necessriasÓ, se assemelha ao dolo eventual, mas com ele no se confunde. Aqui o agente possui uma vontade, mas sabe que para atingir sua finalidade, existem efeitos colaterais que iro NECESSARIAMENTE lesar outros bens jurdicos. Diferentemente do dolo eventual, aqui a ocorrncia da leso ao bem jurdico no visado certa, e no apenas provvel. Imagine o caso de algum que, querendo matar certo executivo, coloca uma bomba no avio em que este se encontra. Ora, nesse caso, o agente age com dolo de primeiro grau em face da vtima pretendida, e dolo de segundo grau face aos demais ocupantes do avio, pois certo que tambm morrero, embora este no seja o objetivo do agente; ¥! Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae Ð Ocorre quando o agente, acreditando ter alcanado seu objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas depois se constata que esta ltima foi a que efetivamente causou o resultado. Trata-se de erro na relao de causalidade, pois embora o agente tenha conseguido alcanar a finalidade proposta, somente o alcanou atravs de outro meio, que no tinha direcionado para isso. Exemplo: Imagine a me que, querendo matar o prprio filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta, o joga num rio. Posteriormente a criana encontrada e se descobre que a 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo vtima morreu por afogamento. Nesse caso, embora a me no tenha querido matar o filho afogado, mas por estrangulamento, isso irrelevante penalmente, importando apenas o fato de que a me alcanou o fim pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio, devendo, pois, responder por homicdio consumado; ¥! Dolo alternativo Ð O agente pratica a conduta visando um resultado ou outro, tanto faz. Ex.: Jos atira uma pedra em Maria, querendo mat-la ou lesion-la, tanto faz. O dolo alternativo considerado espcie de dolo indireto, assim como o dolo eventual. ¥! Dolo antecedente, atual e subsequente Ð O dolo antecedente o que se d antes do incio da execuo da conduta. O dolo atual o que est presente enquanto o agente se mantm exercendo a conduta, e o dolo subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a conduta com uma finalidade lcita, altera seu nimo, passando a agir de forma ilcita. Esse ltimo caso o que ocorre no caso, por exemplo, do crime de apropriao indbita (art. 168 do CP), no qual o agente recebe o bem de boa-f, obrigando-se devolv-lo, mas, posteriormente, muda de idia e no devolve o bem nas condies ajustadas, passando a agir de maneira ilcita. 1.4.2!Crime culposo Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu objetivo, ou assumiu o risco de sua ocorrncia, embora no fosse originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a conduta do agente destinada a um determinado fim (que pode ser lcito ou no), tal qual no dolo eventual, mas pela violao a um dever de cuidado, o agente acaba por lesar um bem jurdico de terceiro, cometendo crime culposo. A violao ao dever objetivo de cuidado pode se dar de trs maneiras:¥! Negligncia Ð O agente deixa de tomar todas as cautelas necessrias para que sua conduta no venha a lesar o bem jurdico de terceiro. o famoso relapso. Aqui o agente deixa de fazer algo que deveria; ¥! Imprudncia Ð o caso do afoito, daquele que pratica atos temerrios, que no se coadunam com a prudncia que se deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que a prudncia no recomenda; ¥! Impercia Ð Decorre do desconhecimento de uma regra tcnica profissional. Assim, se o mdico, aps fazer todos os exames necessrios, d diagnstico errado, concedendo alto ao paciente e este vem a bito em decorrncia da alta concedida, no h negligncia, pois o profissional mdico adotou todos os cuidados necessrios, mas em decorrncia de sua falta de conhecimento tcnico, no conseguiu verificar qual o problema do paciente, o que acabou por ocasionar seu falecimento; 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado praticado pelo agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois no deriva de uma deliberada ao contrria ao direito. O CP prev o crime culposo em seu art. 18, II: Art. 18 - Diz-se o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Crime culposo(Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) O crime culposo composto de: ¥! Uma conduta voluntria Ð Dirigida a um fim lcito, ou quando ilcito, no destinada produo do resultado ocorrido. ¥! A violao a um dever objetivo de cuidado Ð Que pode se dar por negligncia, imprudncia ou impercia. ¥! Um resultado naturalstico involuntrio Ð O resultado produzido no foi querido pelo agente (salvo na culpa imprpria). ¥! Nexo causal Ð Relao de causa e efeito entre a conduta do agente e o resultado ocorrido no mundo ftico. ¥! Tipicidade Ð O fato deve estar previsto como crime. Em regra, os crimes s podem ser praticados na forma dolosa, s podendo ser punidos a ttulo de culpa quando a lei expressamente determinar. Essa a regra do ¤ nico do art. 18 do CP: Pargrafo nico - Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984). ¥! Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser previsvel mediante um esforo intelectual razovel. chamada previsibilidade do homem mdio. Assim, se uma pessoa comum, de inteligncia mediana, seria capaz de prever aquele resultado, est presente este requisito. Se o resultado no for previsvel objetivamente, o fato um indiferente penal. Por exemplo: Se Mrio, nas dunas de Natal, d um chute em Joo, a fim de causar-lhe leses leves, e Joo vem a cair e bater com a cabea sobre um motor de Bugre que estava enterrado sob a areia, vindo a falecer, Mrio no responde por homicdio culposo, pois seria inimaginvel a qualquer pessoa prever que naquele local a vtima poderia bater com a cabea em algo daquele tipo e vir a falecer. A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades: ¥! Culpa consciente e inconsciente Ð Na culpa consciente, o agente prev o resultado como possvel, mas acredita que este no ir ocorrer. Na culpa inconsciente (ex ignorantia), o agente no prev 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o agente prev o resultado e mesmo assim age. Entretanto, a diferena que, enquanto no dolo eventual o agente assume o risco de produzi-lo, no se importando com a sua ocorrncia, na culpa consciente o agente no assume o risco de produzir o resultado, pois acredita, sinceramente, que ele no ocorrer. ¥! Culpa prpria e culpa imprpria Ð A culpa prpria aquela na qual o agente NÌO QUER O RESULTADO criminoso. a culpa propriamente dita. Pode ser consciente, quando o agente prev o resultado como possvel, ou inconsciente, quando no h essa previso. Na culpa imprpria, o agente quer o resultado, mas, por erro inescusvel, acredita que o est fazendo amparado por uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se levanta e avista um vulto, determinando sua imediata parada. Como o vulto continua, o pai dispara trs tiros de arma de fogo contra a vtima, acreditando estar agindo em legtima defesa de sua famlia. No entanto, ao verificar a vtima, percebe que o vulto era seu filho de 16 anos que havia sado escondido para assistir a um show de Rock no qual havia sido proibido de ir. Nesse caso, embora o crime seja naturalmente doloso (pois o agente quis o resultado), por questes de poltica criminal o Cdigo determina que lhe seja aplicada a pena correspondente modalidade culposa. Nos termos do art. 20, ¤ 1¡ do CP: Art. 20 (...) ¤ 1¼ - isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstncias, supe situao de fato que, se existisse, tornaria a ao legtima. No h iseno de pena quando o erro deriva de culpa e o fato punvel como crime culposo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Cuidado! No existe a chamada Òcompensao de culpasÓ no Direito Penal brasileiro. EXEMPLO: Imaginem que Jlio, dirigindo seu veculo, avana o sinal vermelho e colide com o veculo de Carlos, que vinha na contramo. Ambos agiram com culpa e causaram-se leses corporais. Nesse caso, ambos respondem pelo crime de leses corporais, um em face do outro. 1.4.3!Crime preterdoloso H ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, no com dolo, mas por culpa. Um exemplo clssico o crime de leso corporal seguida de morte, previsto no art. 129, ¤ 3¡ do CP. Nesse crime o agente provoca leses corporais na vtima, mediante conduta dolosa. No entanto, em razo de sua imprudncia na execuo (excesso), acabou por provocar a morte da vtima, que era um resultado no pretendido (culpa). 00000000000 - DEMO Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 86 DIREITO PENAL P/ CLDF (2017) Ð TCNICO Ð AGENTE DE POLêCIA Teoria e questes Aula DEMO Ð Prof. Renan Araujo A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do crime qualificado pelo resultado16. Para a Doutrina, o crime qualificado pelo resultado um gnero, do qual o crime preterdoloso espcie. Um crime qualificado pelo resultado aquele no qual, ocorrendo determinado resultado, teremos a aplicao de uma circunstncia qualificadora. Aqui irrelevante se o resultado que qualifica o crime doloso ou culposo. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime , necessariamente, culposo. Ou seja, h dolo na conduta inicial e culpa em relao ao resultado que efetivamente ocorre. EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a inteno apenas de lesion-la (dolo de praticar o crime de leso corporal). Contudo, em razo da fora empregada por Mariana, Luciana cai e bate com a cabea no cho, vindo a falecer. Mariana fica chocada, pois de maneira alguma pretendia a morte
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