Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Auxiliadora de Carvalho e César Roberto Leite da Silva 4ª Edição |2007| Economia Internacional MARIAAUXILIADORA DE CARVALHO Professora da UniFMU e Faculdades Tibiriçá CÉSAR ROBERTO LEITE DA SILVA Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor do livro Economia e Mercados: Introdução à Economia, da Editora Saraiva. Atualmente, é pesquisador do Instituto de Economia Agrícola. Economia Internacional O interesse por economia internacional é crescente nos dias atuais, especialmente porque, com a abertura econômica e a liberalização dos movimentos de capitais, o Brasil expôs-se a decisões tomadas por agentes econômicos do exterior. de compreender os acontecimentos e suas conseqüências sobre a dinâmica da economia e sobre o desempenho das empresas explica a grande curiosidade que o estudo do tema tem despertado. Além de apresentar os novos desafios na área, o livro traz o balanço da economia brasileira e mundial no final do milênio. A Teoria Clássica, a Teoria da Dotação Relativa dos Fatores e outros assuntos são apresentados sem perder de vista a problemática atual. Em sua quarta edição, traz questões de revisão e inúmeras aplicações práticas. Economia Internacional Parte I COMÉRCIO INTERNACIONAL: TEORIA E POLÍTICA Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Em linhas gerais, a teoria de Heckscher-Ohlin afirma que cada país se especializa e exporta o bem que requer utilização mais intensiva de seu fator de produção abundante. Agora é necessário considerar que as funções de produção agora contam com dois fatores: trabalho (L) e capital (K). Mb = f(K,L) Xb = g(K,L) Mw = f(K,L) Xw = g(K,L) Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Agora os bens X e M são produzidos nos dois países por meio de dois fatores de produção: capital e trabalho. Essas expressões, todavia, não são muito conclusivas a respeito das proporções de capital e trabalho que entram na produção de cada bem. Para discutirmos melhor essa questão, vamos explicitar algumas hipóteses importantes da teoria de Heckscher-Ohlin; Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Hipótese 1: As tecnologias de produção são idênticas nos dois países. A função de produção de X em B é igual à função de produção de X em W. Tecnologias idênticas implicam que o mesmo conjunto de técnicas ou processos de produção esteja disponível para todos os produtores de um mesmo bem. Isoquantas (ou curvas de indiferença) são côncavas em relação à origem, o que indica que os fatores não são perfeitamente substituíveis entre si. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Hipótese 2: A função de produção de X é intensiva em trabalho e a função de produção de M é intensiva em capital Se as funções de produção de dois bens apresentam o mesmo conjunto de técnicas, temos duas funções iguais. A única maneira de diferenciá-las é determinar qual a intensidade com que os fatores de produção são utilizados. A intensidade no uso dos fatores de uma função de produção é determinada quando verificamos qual a combinação de capital e trabalho adotada em cada uma das funções diante da mesma razão entre as remunerações do trabalho e do capital. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Hipótese 3: no país B o trabalho é relativamente abundante; no país W, o capital é relativamente abundante Há duas maneiras de definir a abundância relativa de fatores. A primeira leva em conta sua disponibilidade física (a quantidade física de cada fator na economia). A outra maneira é comparando os preços relativos dos fatores de produção dos dois países. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.1 Hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin Hipótese 4: as preferências dos consumidores são iguais nos dois países Nos modelos de comércio internacional as preferências dos consumidores são representadas pelas curvas de indiferença nacionais. Curva de indiferença é o lugar geométrico de todas as combinações dos bens que proporcionam a mesma satisfação aos consumidores. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.2 Fronteira de Possibilidades de Produção A fronteira de possibilidades de produção foi construída a partir de hipóteses bem restritivas. As que nos interessam lembrar agora são: o trabalho era o único fator de produção relevante e os coeficientes técnicos de produção eram constantes. Com base nessas hipóteses, obtivemos fronteiras de possibilidades de produção com formato de reta. Agora, nossas funções de produção têm dois fatores que podem ser combinados em proporções diferentes, indicando que o trabalho pode ser substituído por capital e vice-versa, mas dentro de certos limites. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.2 Fronteira de Possibilidades de Produção A produção de X, em relação à de M, emprega proporcionalmente mais trabalho que capital. Os fatores de produção não são distribuídos eqüitativamente entre os países: o trabalho é relativamente abundante em B e relativamente escasso em W. Em contrapartida, o capital é abundante em W e escasso em B. Como a função de produção de X utiliza intensivamente trabalho, é de se esperar que o país B produza relativamente mais X que M. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores w w b b M X M X 2.2 Fronteira de Possibilidades de Produção Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.2 Fronteira de Possibilidades de Produção Note que essas fronteiras de possibilidades côncavas em relação à origem indicam que os preços relativos não são constantes. Isso acontece porque os coeficientes técnicos variam à medida que muda a escola de produção. Como esses fatores são substitutos imperfeitos, aumentos sucessivos na produção de X, por exemplo, levam ao abandono de quantidades crescentes de M, e vice-versa. Em resumo, os custos sociais, ou custos de oportunidade, são crescentes. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.3 Teorema de Heckscher-Ohlin Teorema de Heckscher-Ohlin – explica a diferença dos preços relativos das mercadorias entre as nações e o respectivo padrão de vantagens comparativas. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.3 Teorema de Heckscher-Ohlin O ponto representa o equilíbrio de autarquia no país B. A tangência da curva de indiferença U = 1 e de sua fronteira de possibilidades de produção nos indica que serão produzidas Oxb unidades de X e Omb unidades de M ao preço relativo indicado pela declividade da tangente Pb. O preço relativo de equilíbrio, portanto, como em qualquer mercado, é aquele que iguala as quantidades ofertadas e demandadas. Uma forma alternativa de visualizar o preço relativo Pb é dada pela razão OMb/OMb, que é a declividade da reta Mb/Xb. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores bE 2.3 Teorema de Heckscher-Ohlin A magnitude dos ganhos esperados com o comércio por esses países é determinada pela diferença dos preços relativos em autarquia: A relação acima mostra que o preço relativo de X em B é menor do que em W. Conseqüentemente, B tem vantagens comparativas na produção de X, e W, na de M. Portanto, existe uma razão para que haja comércio. Com o comércio, o país B aumenta a produção de X, enquanto o país W faz o mesmo com M. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores w w w b b b OX OM P OX OM P 2.3 Teorema de Heckscher-Ohlin Os termos de troca (linha RT) nosinformam tanto as proporções em que X e M serão trocados, quanto sinalizam para os produtores e consumidores dos dois países as quantidades que devem ser produzidas e consumidas, de forma que haja equilíbrio entre oferta e demanda totais. Exportação de B = X*Xb* = Xw*X* = Importação de W Importação de B = Mb*M* = M*Mw* = Exportação de W A relação entre as quantidades exportadas e importadas de um país é igual aos termos ou relações de troca. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores ** ** ** ** b b w w XX MM XX MM RT 2.3 Teorema de Heckscher-Ohlin Os ganhos de comércio ficam demonstrados pela mudança nos pontos de equilíbrio. Em autarquia, os consumidores do país B maximizavam a satisfação no ponto Eb, na curva de indiferença U = 1. Com o comércio, o equilíbrio passa para E, na curva de indiferença U = 2, mais afastada da origem que U = 1, o que indica, conseqüentemente, maior nível de bem-estar. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.4 Teorema da Equalização do Preço dos Fatores de Produção (ou Teorema de Heckscher-Ohlin- Samuelson) (efeitos do comércio no preço dos fatores de produção e na distribuição de renda. ) O principal fundamento dos trabalhos de Heckscher e Ohlin é que as nações trocam mercadorias porque não podem comerciar os fatores de produção. Uma nação na qual o trabalho é relativamente escasso importa bens cuja função de produção emprega esse fator intensivamente e exporta mercadorias que utilizam capital em maior proporção. O comércio é, portanto, uma forma indireta de comerciar fatores de produção contidos nas mercadorias. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.4 Teorema da Equalização do Preço dos Fatores de Produção (ou Teorema de Heckscher-Ohlin- Samuelson) Uma das conseqüências da diferença na dotação relativa de fatores entre os países é que as remunerações relativas também diferem. Os preços relativos dos fatores escassos são maiores do que os preços relativos dos fatores abundantes. O teorema da equalização dos preços dos fatores de produção demonstra que o comércio de mercadorias tem o mesmo efeito sobre as taxas de salário e de retorno sobre o capital físico que a mobilidade desses fatores. Formalmente, o teorema pode ser assim enunciado: mantidas as hipóteses do teorema de Heckscher-Ohlin, o comércio de bens equaliza a remuneração dos fatores de produção. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores 2.4 Teorema da Equalização do Preço dos Fatores de Produção (ou Teorema de Heckscher-Ohlin- Samuelson) Em suma, segundo o teorema de Heckscher-Ohlin- Samuelson, como resultado do comércio, obtemos a seguinte igualdade: Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores ' ' ' ' w w b b r w r w 2.5 Teorema de Stolper-Samuelson Teorema de Stolper-Samuelson o comércio beneficia o fator de produção abundante em detrimento ao fator escasso de cada país. O interesse agora é avaliar os efeitos do comércio na distribuição funcional da renda. Os resultados são imediatos e decorrem do teorema da equalização dos preços dos fatores. Com o comércio e a conseqüente especialização,, o preço do fator abundante aumenta enquanto o do escasso diminui, em ambos os países. Como as mesmas quantidades de trabalho e de capital continuam empregadas, a parcela dos salários na renda aumenta, e diminui a do juro, nos países onde o trabalho é abundante. O mesmo processo redistribui renda a favor do capital no país em que o trabalho é escasso. Capítulo 2 Teoria da Dotação Relativa dos Fatores
Compartilhar