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Introdução ao estudo de Materiais de Construção Prof. David GrubbaNotas de Aula - Versão Preliminar. 1.0 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Introdução 1 A disciplina Materiais de Construção é im- portante para a formação de qualquer enge- nheiro civil. Não somente para aqueles que desejam trabalhar no ramo da edificação, mas também para os que seguirão em ou- tras áreas, como no projeto e construção de: rodovias, ferrovias, metrôs, pontes, bar- ragens, aeroportos, etc. Todas essas obras utilizam, basicamente, os mesmos materi- ais básicos, areia, brita, cimento e concreto. “Da qualidade dos materiais empre- gados irá depender a solidez, o cus- to, e o acabamento da obra” [1] Prof. Enio José Verçosa Notas de Aulas - Versão Preliminar. Prof. David Grubba 1 Concrete Forms [7] VE RS ÃO P RE LIM IN AR O conhecimento do comportamento dos di- versos materiais de construção disponíveis no mercado possibilita a escolha do melhor material para cada caso. A seguir alguns exemplos simples: A estrutura de um prédio pode ser feita com diferentes materiais, podendo ser cons- truída empregando blocos estruturais, con- creto armado ou uma estrutura metálica. Uma rodovia pode ser feita com revestimen- to flexível (asfalto) ou rígido (concreto). Os dormentes de uma ferrovia podem ser de madeira, concreto ou aço. Figura 1 - Ferrovia com dormentes de concreto Figura 2 - Ferrovia com dormentes de madeira Cada solução apresenta um custo e um be- nefício diferente. Caracterizar um material de forma tecnoló- gica é compreendê-lo quanto às suas pro- priedades intrínsecas, quanto ao seu com- portamento quando submetido a esforços e quanto a certos requisitos técnicos aos quais ele deve atender para cumprir deter- minadas funções estabelecidas previamen- te. É importante ter sempre em mente que da qualidade dos materiais empregados irá depender a solidez, a durabilidade, o custo e o acabamento de uma obra. [1] Para compreender este assunto quanto tem- po você deve estudar? Para que você assi- mile bem as características e as proprieda- des dos principais materiais de construção, é necessário que você dedique algumas ho- ras de estudo por semana, eu aconselho no mínimo 3 horas semanais. Além disso, é altamente recomendado que você realize pesquisas sobre os novos mate- riais que estão surgindo no mercado. Atual- mente, a tecnologia avança a passos largos e o profissional precisa estar atualizado para poder aproveitar as técnicas mais avançadas, utilizando materiais de melhor padrão e menor custo. Assim, o estudo des- sa matéria deve ser uma constante em toda vida profissional. 2 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Especificação e Normalização Uma ideia errônea que acomete algumas pessoas, é pensar que o projeto de um em- preendimento consiste apenas em cálculos e desenhos. Existe também uma parte escri- ta, na forma de memoriais e especificações. Esses documentos permitem saber, por exemplo, qual é o material e propriedades do piso, qual é o material da cobertura, qual é a resistência do concreto das lajes, vigas e pilares, entre outras inúmeras infor- mações importantes. Especificação Técnica A especificação técnica indica, de forma mi- nuciosa, as propriedades mínimas que os materiais devem apresentar. Esse documen- to é destinado, primordialmente, ao cons- trutor e tem como objetivo assegurar que a obra seja realizada de acordo com o deter- minado no projeto. [1] Além disso, com base no descrito nas espe- cificações técnicas, o fiscal pode avaliar se o que foi executado atende a especificações. Existem vários cuidados que devem ser to- mados no momento da especificação dos materiais, a seguir são citados alguns [1]: • usar da maior exatidão possível, definin- do todos os elementos que possam variar e procedência; • citar os dados técnicos do material deseja- do, mesmo que eles pareçam evidentes ao projetista, podem não ser evidentes para o construtor, assim, como alguns po- dem vir a aproveitar-se de uma omissão para agir de má fé; • descrever a classificação, o tipo, a dimen- são desejada, e eventualmente, a marca do material (procedência). Embora em li- citações públicas, deve-se evitar especifi- car marca. Quando imprescindível, deve- se acrescentar a expressão “ou similar” de modo a permitir a participação de outras empresas na licitação. • procurar não esquecer nenhum material; • rever os catálogos dos materiais que estão sendo especificados para estar atualizado quanto a pormenores de diferenciação. Normalização Além disso, os diversos materiais emprega- dos na engenharia precisam obedecer a nor- mas técnicas. A normalização não é uma atividade recen- te. A palavra talvez seja a mais antiga for- ma de normalização. Se cada palavra não 3 VE RS ÃO P RE LIM IN AR tivesse um significado padronizado, não conseguiríamos nos entender. [2] Imagine se cada um resolvesse inventar um nome diferente para expressar determinado obje- to, não seria possível a comunicação. As normas referentes às medidas foram as primeiras que se fizeram notar, para medir objetos eram empregadas unidades como a largura do dedo indicador, o palmo e o com- primento do pé. As pirâmides do Egito são exemplos mar- cantes de normalização e padronização na antiguidade. Para construção da pirâmide de Quéops, 2.500 AC, foram empregadas mais de 2 milhões de pedras de medidas iguais. [2] Figura 3 - Pirâmide de Quéops. Fonte [3] A revolução industrial introduziu a normali- zação de maneira mais forte. Com o surgi- mento da produção em massa, as opera- ções industriais passaram a ser feitas de ma- neira uniforme, realizadas em diversas eta- pas padronizadas com o auxílio de máqui- nas. Quando a eclosão da I Guerra Mundial, a normalização já era reconhecida como um instrumento capaz de garantir a intercam- bialidade não somente dentro de uma mes- ma fábrica, como também entre duas fábri- cas distintas. [2] Atualmente, existem diver- sos níveis de normas, tais como: internacio- nais, regionais, nacionais e empresariais. A presença da normalização internacional facilita o comércio entre osdiferentes paí- ses. Por exemplo, um padrão internacional de tomadas facilita a comercialização de produtos eletrônicos, sem a necessidade de adaptações, o que por consequência, reduz os custos. Um exemplo de falta de padronização pode ser ilustrado na figura a seguir: Figura 4 - Exemplo de carregadores de celular. A ISO (Internatinal Organization for Stadar- dization) é um exemplo de associação de 4 VE RS ÃO P RE LIM IN AR normalização internacional. A associação foi fundada em 1947, e desde então, já pu- blicou mais de 19.500 Normas Internacio- nais, abrangendo quase todos os aspectos da tecnologia e administração de negócios. De segurança alimentar aos computadores. Atualmente, a ISO congrega mais de 164 pa- íses. [5] A Associação Brasileira de Normas Técni- cas (ABNT) foi uma das fundadoras da ISO. Criação da ABNT A ABNT é o órgão responsável pela elabora- ção das Normas Técnicas no Brasil. Foi fun- dada em 1940 visando fornecer a base ne- cessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. É uma entidade privada, sem fins lucrativos. A ideia de criação da ABNT surgiu justa- mente da necessidade de elaborar normas técnicas brasileiras para a tecnologia de concreto. Na época, não existia uma padro- nização nacional na forma de realizar os en- saios laboratoriais o que acarretava gran- des diferenças nos resultados. [4] A história da ABNT começou a ser desenvol- vida em setembro de 1937 quando foi pro- movida a 1ª Reunião de Laboratório de En- saios de Materiais. A ideia de criação da as- sociação foi tomandocorpo, até que na 3ª Reunião do evento, em 1940, foi fundada a ABNT. [4] De lá para cá, a ABNT diversificou sua atua- ção, abrangendo outros ramos além da en- genharia civil, com a elaboração de milha- res de normas. Para exemplificar, a seguir são citados os números de normas em vigor para alguns setores, de acordo com consul- ta realizada em julho de 2013, existem: • 959 normas relativas ao setor de eletrici- dade (ABNT/CB -03); • 756 normas relativas ao setor de máqui- nas e equipamento mecânicos (ABNT/ CB-04); • 498 normas relativas ao setor automotivo (ABNT/CB-05); • 304 normas relativas ao setor de constru- ção civil (ABNT/CB-02); • 318 normas ligadas ao setor de cimento, concreto e agregados (ABNT/CB-18); As normas da ABNT são designadas pela si- gla NBR (Norma Brasileira) seguida de um número de ordem e de seu título. Exemplo ABNT NBR 7211 – Agregados para concre- to – Especificação. Como as normas estão em constante processo de atualização é im- portante citar o ano de sua publicação, exemplo: ABNT NBR 7211/2009. As nor- 5 VE RS ÃO P RE LIM IN AR mas podem ser consultadas por meio do si- te www.abntcatalogo.com.br. Neste site, é possível verificar se uma determinada nor- ma está em vigor ou não. O fato da ABNT ser a entidade de normali- zação oficial, não significa que outra entida- des ou órgãos não possam produzir normas específicas de seu campo de atuação. Por exemplo, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) publica diversas normas relativas à construção de rodovias. Objetivos da normalização Os objetivos principais da normalização são: economia; comunicação; segurança, eliminação de barreiras técnicas e comerci- ais; e proteção ao consumidor.[1] Normas técnicas e o código de defesa do consumidor Todos os produtos e serviços fornecidos dentro do território nacional devem aten- der às Normas Brasileiras publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A Lei 8.078 de 1990, conhecida como Códi- go de Defesa do Consumidor, afirma que: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produ- tos ou serviços, dentre outras práticas abu- sivas, colocar no mercado de consumo qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expeditas pelos órgãos ofi- ciais competentes ou, se normas específi- cas não existirem, pela Associação Brasilei- ra de Normas Técnicas (...) O Código de Defesa do Consumidor preco- niza que produtos em desacordo com as normas técnicas são considerados imprópri- os ao uso e ao consumo. Todas as partes da cadeia construtiva são responsáveis pelos danos ou vícios que os produtos possam apresentar. Porém, o res- ponsável direto por reparar o consumidor é o fornecedor final. Assim, o estabelecimen- to que vende ao consumidor um produto que não atende a norma ou o construtor que o utiliza na execução de uma obra pode- rão ser acionados pela justiça em caso de reclamação. [6] O Código de Defesa do Consumidor ainda estabelece que a ignorância dos fornecedo- res a respeito dos vícios de qualidade dos produtos ou serviços não os exime de sua responsabilidade. 6 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Anotações Referências Bibliográficas 1. FALCÃO BAUER, L. A. Materiais de Constru- ção, Volume 1, Rio de Janeiro: Editora LTC, 2005. 2. ABNT. Histórico da Normalização. Disponível em: < www.abntcb25.com.br>. Acesso em: 21 jul. 2013. 3. Imagem da pirâmide de Quéops. Disponível em: <pt.wikipedia.org/>. Acesso em: 21 jul. 2013. 4. ABNT. Histórico da Normalização Brasileira (70 anos). Rio de Janeiro: ABNT: 2011. Disponí- vel em: < http://www.abnt.org.br/>. Acesso em: 21 jul. 2013. 5. ISO. Disponível em: < www.iso.org.>. Acesso em: 26 jan. 2014. 6. IBRACON. As Normas Brasileiras e o Código de Defesa do Consumidor. Revista Concreto & Construções. Edição 46, p. 94. 2007. Disponível em: < http://www.ibracon.org.br/>. Acesso em 21 jul. 2013. 7. Imagem de capa do capítulo. Concrete Forms. Licença gratuita. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/concrete_form s/>. Acesso em 11 jul. 2014 7 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Agregados 2 Os agregados podem ser empregados para diversas finalidades, tais como: concreto, argamassa, lastro de ferrovia, bases granu- lares de pavimentos e revestimentos asfálti- cos. Neste capítulo, serão discutidos os tipos de agregados empregados em concretos e arga- massas e suas principais propriedades. Os agregados ocupam cerca de 75% do volume do concreto e correspon- dem a apenas 20 % do seu custo Notas de Aulas - Versão Preliminar. Prof. David Grubba 8 Autor VE RS ÃO P RE LIM IN AR Por definição, os agregados são materiais que se apresentam na forma de grãos, sem forma e volume definidos, com dimensões adequadas para o uso, isentos de impure- zas prejudiciais e, geralmente, inertes. São exemplos de agregados as pedras britadas, a areia, o seixo rolado e argila expandida. O agregado é considerado como esqueleto mineral do concreto, contribuindo de forma expressiva com sua resistência. Do ponto de vista econômico, é vantajoso confeccionar misturas com maior teor de agregados e menor quantidade possível de cimento, porém a relação custo/benefício deve ser balanceada com as propriedades desejadas do concreto [1]. Tendo em vista a importância dos agrega- dos, é necessário que o engenheiro domi- ne suas propriedades físicas e mecâ- nicas, pois dessa forma, poderá aplicá-los de forma correta. Classificação dos Agregados Os agregados podem ser classificados quan- to à origem, massa específica ou di- mensão. As seguir serão descritas essas formas de classificação. Quanto à origem: • Agregados Naturais: encontrados na natureza, podendo requerer algum proces- so simples de lavagem ou britagem, exem- plos: areia de rio e brita. • Agregados Artificiais: são aqueles obti- dos por processos industriais, exemplos: argila expandida e areia artificial. Quanto à massa específica: • Agregados Leves: aqueles que possuem massa específica menor que 2.000 kg/ m3. Ex. Argila expandida e vermiculita. • Agregados Médios: aqueles que possu- em massa específica variando entre 2.000 a 3.000 kg/m3. Ex. areia natural e e pe- dra britada. • Agregados Pesados: aqueles que possu- em massa específica maior que 3.000 kg/ m3. Ex. magnetita e hematita. Quanto ao tamanho: • Agregados Graúdos: grãos que passam na peneira de abertura de 152 mm e fi- cam retidos na peneira de 4,8 mm • Agregados Miúdos: grãos que passam na peneira de abertura de 4,8 mm e fi- cam retidos na peneira de 0,150 mm 9 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Pedra Britada A pedra brita é um agregado originado da britagem ou diminuição de tamanho de uma rocha maior. O processo de produção da brita é relati- vamente simples. A rocha da jazida é des- montada (fragmentada) por meio de explo- sivos. Caso os blocos de rocha fragmenta- dos sejam muito grandes para serem trans- portados, eles são fragmentados com o auxí- lio de rompedores hidráulicos. Os blocos de rocha são então transportados para os brita- dores. Após passar pelos britadores, os agre- gados são movidos por esteiras e separados por meio de peneiras em diferentes faixas de tamanhos. As figuras a seguir ilustram como é produzida a pedra britada. Figura 1 - Carregamento de um caminhão bascu- lante na pedreira. Fonte [16] Figura 2- Separação da pedra britada em diferen- tes tamanhos. As características dos agregados como resis- tência, abrasão e dureza são determinadas pela rocha de origem. Porém, o processo de produção nas pedreiras pode afetar signifi- cativamente a qualidade dos agregados, pela eliminação das camadas mais fracas da rochae pelo efeito da britagem na forma da partícula e na graduação do agregado [2;3] Areias naturais x artificiais A areia natural é um agregado miúdo que pode ser originário de fontes como leitos de rios, depósitos eólios. Não se deve empre- gar areia de praia por conta do sais que con- tem. A extração do material, na maioria dos casos, é feita por meio de dragas e proces- sos de escavação e bombeamento. Os areiais estão cada vez mais distantes dos centros urbanos, acarretando, muitas vezes 10 VE RS ÃO P RE LIM IN AR que o custo do frete da areia natural seja su- perior ao valor do agregado. Figura 3 - Areia Natural. Já a areia artificial, também chamada in- dustrial, é obtida a partir da britagem de ro- chas. Ao contrário das areia naturais, as areias artificiais, geralmente, são produzi- das em regiões próximas do local da obra. As argamassas e concretos produzidos com areia artificial, em geral, apresentam uma pior trabalhabilidade e exigem mais água e menos aglomerante. No entanto, as areias artificiais apresentam menos contaminan- tes do que as areias naturais. Atualmente, diversas concreteiras utilizam areia natural e areia artificial de forma conjunta na pro- dução de concretos. Argila Expandida A argila expandida é um agregado leve, apresenta um formato com de bolinha cerâ- mica. Sua parte interna é formada por mi- croporos e sua parte externa forma uma cas- ca rígida e resistente. Além de sua leveza, a argila expandida é um excelente isolante térmico e acústico. Figura 4 - Argila Expandida. Vermiculita A vermiculita existe em abundância no Bra- sil. Quando aquecida a uma alta temperatu- ra, ela aumenta muito de volume. Figura 5 - Detalhes da vermiculita expandida. 11 VE RS ÃO P RE LIM IN AR A vermiculita expandida tem, basicamente, os mesmos empregos da argila expandida. Agregados Reciclados de Re- síduos de Construção e De- molição (RCD) O setor de construção civil é de grande im- portância estratégica para qualquer país, principalmente para os em desenvolvimen- to, como o Brasil, onde esse se destaca no processo de crescimento econômico e na re- dução de desemprego, dada sua capacidade de gerar vagas diretas e indiretas no merca- do de trabalho. Entretanto, observa-se que esse setor provoca significativos impactos ambientais, sendo um grande consumidor de recursos naturais e gerador de resíduos. [4] Os resíduos da construção e demolição (RCD), comumente chamados de entulho, são aqueles provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da prepa- ração e da escavação de terrenos [5]. Geral- mente, esses resíduos são considerados como sendo inertes e pertencentes à classe de resíduos sólidos urbanos. Os entulhos constituem a maior porção, em massa, dos resíduos sólidos gerados no mundo [6]. Estima-se que sejam geradas a cada ano cerca de 180 milhões de toneladas desses resíduos na União Europeia [7], 136 milhões nos EUA [6]e 68,5 milhões no Bra- sil [9]. Figura 6 - Resíduos de construção e demolição. [Fontes 17 e 18] No Brasil, os impactos acarretados por es- ses resíduos ainda são agravados pelo alto índice de descarte irregular. Essa forma de descarte provoca a degradação das áreas de mananciais e de preservação permanente; o assoreamento de rios e córregos; a erosão de encostas; a proliferação de agentes trans- missores de doenças; e a ocupação de vias, 12 VE RS ÃO P RE LIM IN AR terrenos e praças por entulhos, com prejuí- zo à circulação de pessoas e veículos [10]. Além disso, os constantes alagamentos ob- servados durante os períodos chuvosos em cidades de grande porte, como São Paulo, são provocados, em grande parte, pela obs- trução dos sistemas de drenagem pelos resí- duos sólidos urbanos, dentre os quais os RCD correspondem a cerca da metade. Figura 7 - Deposição irregular de RCD. A reciclagem dos resíduos de construção e demolição, além de minimizar os impactos gerados por sua deposição sobre o meio am- biente, permite que uma quantidade signifi- cativa de materiais possa ser reutilizada de forma racional [7], transformando um pro- duto antes descartado, em uma matéria pri- ma de qualidade. A primeira utilização significativa de agre- gados reciclados provenientes de “entu- lhos” aconteceu após a Segunda Guerra Mundial. Durante o período de reconstru- ção da Europa, era necessário satisfazer a enorme demanda de materiais de constru- ção e também remover a grande quantida- de de escombros das cidades destruídas. Figura 8 - Destroços da segunda guerra na Euro- pa [17]. No Brasil, a reciclagem deste tipo de materi- al é mais recente. Um marco importante aconteceu em 2002 com a publicação da Re- solução do CONAMA 307 [5] que determi- na diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão deste tipo de resíduo. Segun- do a resolução, os geradores são responsá- veis por seus resíduos e devem ter como ob- jetivo prioritário a não geração e, secundari- amente, a redução, a reutilização, a recicla- gem e adequada destinação final. Os agregados reciclados de RCD podem ser empregados em diversas finalidades, tais como: bases de pavimentos, aterros e con- cretos não estruturais. 13 VE RS ÃO P RE LIM IN AR A composição dos resíduos de construção é dependente das características de cada regi- ão. No Brasil, a maior parte desses resíduos é composta por materiais inertes e reciclá- veis, tais como restos de argamassas, con- cretos, agregados pétreos e materiais cerâ- micos. Os agregados reciclados de RCD podem ser classificados basicamente em: agregados re- ciclados de concreto e agregados reciclados mistos. Os agregados reciclados de concreto (ARC), considerados mais nobres e homogêneos do que os mistos, apresentam em sua cons- tituição mais de 90% de resíduos de concre- to, argamassa e materiais pétreos. A figura a seguir ilustra o agregado reciclado de con- creto. Figura 9 - Agregados reciclados de concreto Caracterização dos Agregados A qualidade dos agregados pode ser avalia- da por meio de ensaios laboratoriais. Os re- sultados são comparados com os limites es- tabelecidos nas normas técnicas. Observa- se que as propriedades dos agregados influ- enciam de forma significativa no custo, na trabalhabilidade, resistência e durabilidade dos concretos. Assim, é extremamente im- portante que os engenheiros conheçam bem as propriedades desses materiais. Dimensão dos Grãos A dimensões dos grãos de agregados tem grande influência nas propriedades futuras das argamassas e concretos. Por exemplo, areias muito grossas produ- zem concretos não trabalháveis, e areias muito finas aumentam a demanda de água (e também a demanda por cimento para uma dada relação água/cimento), não sen- do econômicas. Uma vez que o preço do ci- mento pode ser de 10 a 15 vezes maior do que o preço do agregado, qualquer ação que acarrete redução do consumo de cimen- to, sem com isso diminuir a resistência e a trabalhabilidade do concreto, resulta em uma significativa economia. [11] 14 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Granulometria O processo de se dividir uma amostra de agregado em várias frações de tamanho é denominado granulometria. Para conhecer a granulometria dos agrega- dos são feitos ensaios de peneiramento. Esse ensaio visa separar os diferentes tama- nhos de grãos por meio de peneiras (Figura 10) de abertura definidas em norma. De- pois que o agregado é peneirado, pesa-se a fração retida em cada peneira. Análise granulométrica é o processo que visa determinar a porcentagem em massa que cada fração de tamanho possui em rela- ção à massa total em análise. Ou seja, se a massa totalda amostra foi de 1.000 g e na peneira de 19 mm ficou retida uma massa de 250 g, significa que o percentual retido nessa peneira foi de 25%. 15 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Figura 10 - Ilustração do ensaio de peneiramen- to. Fonte [16] A ABNT define duas séries de peneira nor- malizadas, uma chamada normal e outra com valores intermediários à normal. (Ta- bela 1) Analisando-se a Tabela 1 para a série nor- mal, observa-se que a abertura nominal da peneira posterior é a metade da anterior. Por exemplo, a maior peneira da série nor- mal tem abertura nominal de 75 mm, a pos- terior tem abertura de 37,5 mm, ou seja, metade de 75 mm e assim por diante. Tabela 1 – Conjunto de peneiras série normal e intermediária (abertura nominal) Série Normal Série Intermediária 75 mm - 63 mm - 50 mm 37,5 mm - 31,5 mm - 25 mm 19 mm - 12,5 mm 9,5 mm - 6,3 mm 4,75 mm 2,36 mm 1,18 mm 0,600 mm 0,300 mm 0,015 mm Uma forma simples de avaliar a distribui- ção dos diferentes tamanhos de grãos na amostra é por meio de uma curva granulo- métrica (Figura 11), na qual no eixo das abs- cissas representa o tamanho das partículas e o eixo das ordenadas, a porcentagem reti- da acumulada ou porcentagem passante. 16 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Figura 11 - Exemplos de curvas granulométricas Agregados bem graduados são aqueles que apresentam uma distribuição granulométri- ca contínua, ou seja, apresentam grãos de todos os tamanhos. A figura 12 apresenta três curvas granulo- métricas, uma curva bem graduada (contí- nua - azul) e duas que são mal graduadas (descontínua - vermelha e uniforme - ver- de). Figura 12 - Graduações do agregado Módulo de Finura (MF) Um parâmetro simples relacionado ao ta- manho dos agregados que pode ser obtido pelo ensaio de peneiramento é o Módulo de Finura. O módulo de finura é soma das porcenta- gens retidas acumuladas de um agregado, nas peneiras da série normal dividida por 100. Tabela 3. Exemplo de Cálculo do MF Peneira % Retida % Retida Acumulada 2,4 20 20 1,2 30 50 0,6 50 100% 0,3 0% 100% Somatório 470 M.F. 4,7 O módulo de finura serve para classificar os agregados e também como parâmetro em alguns métodos de dosagem do concreto. A Tabela 4 – Classificação das areias quanto ao módulo de finura [12] Tipos Módulo de Finura (MF) Utilização Areia grossa M.F > 3,3 Chapisco e Concreto Areia média 2,4 < MF < 3,3 Empoço e Concreto 17 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Dimensão Máxima Característica A dimensão característica máxima (Dmax) dos grãos é definida como a abertura da pe- neira em que fica retida uma porcentagem acumulada igual ou imediatamente inferior a 5%, em massa, ou seja, passando 95% ou um pouco mais. A seguir é mostrado um exemplo: Tabela 5. Exemplo de Cálculo da Dmax. Peneira (mm) Retido Acumulado (%) Passante (%) 19 2 98 9,5 3 97 4,8 6 95 2,4 70 30 1,2 97 3 0,6 98 2 No exemplo, o diâmetro máximo caracterís- tico do agregado é igual a 9,5 mm Forma dos grãos De acordo a forma dos grãos, os agregados podem ser classificados em: • Arredondados: ausência de vértices e arestas • Angulosos: possuem vértices e arestas bem definidas • Lamelares: uma das dimensões é signifi- cativamente inferior as outras duas. Figura 13. Brita lamelar x arredondada [15] Agregados formados por atrito tendem a ser mais arredondados em função da perda de vértices e arestas. Areia de rio e seixo ro- lado, geralmente, tem a forma bem arredon- dada. Já rochas britadas apresentam for- mas bem angulosas com vértices definidos. A forma e textura superficial das partículas de agregado influenciam mais fortemente as propriedades do concreto no estado fres- co do que as propriedades no estado endu- recido. As partículas arredondadas preci- sam de menos pasta de cimento para produ- zir misturas de concretos trabalháveis do que partículas angulosas e alongadas. [11] Pedras britadas lamelares prejudicam a tra- balhabilidade do concreto. Além disso, quando o concreto é bombeado, a brita la- melar força mais a bomba. Para solucionar este problema, é comum o aumento do teor de argamassa do concreto, o que implica em maior consumo de cimento, e conse- 18 VE RS ÃO P RE LIM IN AR quentemente, maior custo de produção. [15] Resistência à Compressão Ensaios de resistência à compressão para agregados são poucos empregados. Porém, o valor de 200 MPa poderia ser citado como um bom valor médio de amostras sub- metidas a ensaios de resistência à compres- são, embora existam agregados excelentes que apresentam valores inferiores a 80 MPa [1]. Resistência à Abrasão Los Angeles A dureza ou resistência ao desgaste é uma importante propriedade de concretos em- pregados, por exemplo, em rodovias ou em pisos sujeitos a tráfego pesado [1]. A resistência do agregado ao desgaste abra- sivo pode ser determinada por meio do en- saio de Abrasão Los Angeles. O ensaio consiste de colocar uma amostra de agregados, enquadrados em uma deter- minada faixa granulométrica, e uma carga abrasiva (esferas metálicas) dentro de um tambor cilíndrico (Figura 14). Esse tambor gira cerca centenas de vezes, provocando o impacto repetido dos agrega- dos sobre a parede do tambor, o choque en- tre os agregados e as esferas, a queda repeti- da dos agregados uns sobre os outros, cau- sando um desgaste no agregado. [13] Figura 14. Equipamento de Abrasão Los Angeles Depois da execução do ensaio, é possível no- tar que parte do material permanece inte- gro e parte do material se desintegra, fican- do na forma de pó. O desgaste é convencionalmente expresso pela porcentagem, em peso, do material que passa, após o ensaio, pela peneira de malha quadrada de 1,7 mm (ABNT nº 12), conforme mostrado na equação a seguir: Para o emprego do agregado na confecção de concretos, o desgaste à abrasão Los An- geles deve ser inferior a 50%. 19 Grubba VE RS ÃO P RE LIM IN AR Teor de Umidade Às vezes, os agregados miúdos são entre- gues na obra bem úmidos, outras vezes, mais secos. Assim, é fundamento que se co- nheça o teor de umidade do agregado para corrigir a quantidade de água que deverá ser utilizada na produção dos concretos e argamassas, de modo, a não alterar a dosa- gem estabelecida. Existem vários métodos para determinar o teor de umidade. Em laboratórios, o méto- do padrão é o da estufa. O material deve fi- car ser seco em estufa a 110º C, com perma- nência mínima de 6 horas. Este tempo pode variar dependendo da quantidade de material colocado. A umidade é dada pela relação entre o peso de água e o peso seco. Para achar a massa seca de uma amostra úmida, usa-se a seguinte expressão: Massa específica As relações entre quantidades de matéria (massa) e volume são denominadas massas específicas, e são expressas geralmente em t/m³, kg/dm³, g/cm³. a) Massa especifica absoluta Consiste na relação entre a massa dos grãos e o volume dos grãos, não considera os vazi- os entre os grãos. b) Massa Unitária: A massa especifica refere-se somente ao vo- lume de partículas individuais, porém não é possível compactar estas partículas de modo que não existam vazios entre elas. Assim, é importante conhecer a massa uni- tária do agregado [1] A massa unitária consiste na relação entre a massa dos grãos e o volume do recipiente, considerando assim, os vazios entre os grãos. De acordo com Metha e Monteiro, "o fenômeno da massa unitária surge porque não é possível empacotar as partículas de agregado juntas de modo a não deixar es- paços vazios entre elas" [11]. O ensaio de massa unitária é muito sim- ples. Por pesagem, determinam-se as mas- sas de um recipiente devolume conhecido vazio e cheio de agregado. A diferença de massa (massa do agregado) é dividida pelo 20 VE RS ÃO P RE LIM IN AR volume do recipiente, obtendo-se, assim, a massa unitária do agregado. Inchamento A areia empregada na obra sofre com as va- riações de umidade do ambiente, as vezes se apresenta mais úmida e outras vezes mais seca. Essa variação de umidade provo- ca uma variação no volume do material, e consequentemente, influência sobre sua massa unitária. Quando a areia seca é umedecida, seu volu- me aumenta de forma considerável. Isso ocorre devido ao afastamento entre os grãos provocado pela presença de água. A esse fenômeno é dado o nome de Inchamen- to. A determinação desse parâmetro é impor- tante, pois nos casos, em que a mistura de concreto é proporcionada em volume, o in- chamento resulta em menor massa de areia ocupando o volume fixo da caixa de medida ou padiola [1]. O coeficiente de inchamento é a relação en- tre o volume úmido do material e o seu vo- lume seco (I=Vh/Vo). Normalmente, o inchamento máximo ocor- re para teores de umidade de 4 a 6%. [14] Figura 13 - Inchamento da areia em função do teor de umidade [11] Observação Final Existem diversos outros ensaios que po- dem ser aplicados aos agregados dependen- do da finalidade requerida. Anotações 21 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Referências Bibliográficas 1. NEVILLE, A. M.; BROOKS, J.J. Tecnologia do Concreto. 2a. Edição. Tradução Ruy Alberto Cre- monini. Porto Alegre: Bookman, 2013. 2. HAGEMANN, S. E. Apostila de Materiais de Cons- trução Básicos. IFSUL. 2011 3. MARQUES, G. L. O. Notas de Aula de Pavimenta- ção. Disponível em <http://www.ufjf.br/pavimentacao/> . Acesso em: 24/01/2014. 4. GRUBBA, D.C.R.P. Estudo do comportamento mecânico de um agregado reciclado de concreto para utilização na construção rodoviária. Disserta- ção (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009. 5. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Brasília. 2002. Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/>. Acesso em: 04 de ago. 2008. 6. RAO, A.; JHA, K.; MISRA, S. Use of aggregates from recycled construction and demolition waste in concrete. Resources, Conservation and Recycling, no 50, p. 71–81, 2007. 7. EUROPEAN COMMISSION. 2000. Management of construction and demolition waste. Disponível em: <ec.europa.eu/enterprise/environment/index_h ome/waste_management/constr_ dem_waste_000404.pdf >. Acesso em: 04 de ago. 2008. 22 VE RS ÃO P RE LIM IN AR 8. EPA - ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY – MUNICIPAL AND INDUSTRIAL SO- LID WASTE DIVISION – OFFICE OF SOLID WASTE. United States. 1998. Report nº EPA530- R-98-010 – Characterization of buildingrelated construction and demolition debris in the United States. 9. ANGULO, S. C. Caracterização de agregados de resíduos de construção e demolição reciclados e a influência de suas características no comporta- mento mecânico de concretos. 205. 167 p. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. 10.SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, SINDUS- CON-SP. Gestão Ambiental de Resíduos da Cons- trução Civil: A experiência do SindusCon-SP/ Tar- císio de Paula Pinto. São Paulo: SINDUSCON-SP, 2005. 48 p. 11. METHA, P. K; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Mi- croestrutura, propriedades e materiais. 3a. Edi- ção. São Paulo: Ibracon, 2008. 12.RIBEIRO, C. C.; PINTO, J.D.; STARLING, T. Ma- teriais de Construção Civil. 3ª Edição. Belo Hori- zonte: Editora UFMG, 2011 13.DNER (DEPARTAMENTO NACIONAL DE ES- TRADAS DE RODAGEM). DNER 035: Agregados - Determinação da Abrasão Los Angeles. Rio de Janeiro: 1998. 14.PETRUCCI, E. G. R. Concreto de Cimento Portland. 13a. Edição. São Paulo: Globo, 1995. 15.MARCONDES, C. G. Brita lamelar prejudica a tra- balhabilidade do concreto e provoca maior segre- gação durante o transporte e lançamento. Cimen- to Itambé. Disponível em: < http://www.cimentoitambe.com.br/brita-lamelar -x-qualidade-do-concreto>. Acesso em 21 jun. 2014. 16.BERNUCCI, L. B. et al. Pavimentação Asfáltica. Rio de Janeiro: Petrobras: Abeda, 2006. 17. Image disponível em: <http://www.verdeghaia.com.br/blog/belo-horiz onte-um-exemplo-em-gestao-de-residuos-da-con strucao-civil/>. Acesso em 21 jun. 2014. 18. Imagem disponível em: <abrecon.com.br>. Aces- so em 21 jun. 2014. 19.Imagem disponível em: <http://www.ssplprints.com/image/93232/a-bo mbed-bus-holborn-london-second-world-war-c-1 940. Acesso em 21 jun. 2014. 23 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Aglomerantes 3 Neste capítulo, abordaremos, de forma bre- ve, os principais aglomerantes empregados em obras de engenharia, a saber, o asfalto, a cal e o gesso. O Cimento Portland será tra- tado no próximo capítulo. Um aglomerante pode ser definido como qualquer material com propriedades adesi- vas e coesivas, capaz de unir agregados en- tre si, de modo a formar um todo compac- to. “Disseram uns aos outros: façamos tijolos, e queimemo-los bem. Os tijo- los lhes serviram de pedras e o betu- me de argamassa˜ Gênesis 11:3 Notas de Aulas - Versão Preliminar. Prof. David Grubba 24 Autor VE RS ÃO P RE LIM IN AR No caso de concretos e argamassas, os aglo- merantes têm a função de formar uma pas- ta que promova a união entre os grãos dos agregados. Os aglomerantes podem ser classificados em dois grupos de acordo como endurecem [1]: • Quimicamente Inertes: não ocorre um processo químico. Exemplos: a argila endurece pela secagem e o asfalto endure- ce pelo seu resfriamento • Quimicamente Ativos: endurecem por reações químicas. Exemplos: o Cimento Portland, o Gesso e a Cal. Aglomerantes Quimicamente Inertes Argila A argila, chamada popularmente de barro, foi o primeiro aglomerante empregado pe- los homens, era usada para unir pedras e tijolos. A argila é um aglomerante quimica- mente inerte. Ela endurece apenas pelo pro- cesso de secagem, sem nenhuma reação quí- mica. As casas de Pau a Pique são exemplos de construções que empregam barro como aglomerante. Esse tipo de construção é bem antiga. Atualmente, ainda é utilizado- no meio rural. Suas paredes são constituí- das com varas entrelaçadas preenchidas com barro. Como as paredes são pouco re- sistentes, deve-se empregar materiais leves para o telhado. Figura 1 - Casa de Pau a Pique [Fonte 5] Asfalto O asfalto é um ligante betuminoso, de cor preta, presente em muitos petróleos crus no qual se encontra dissolvido [2]. O asfal- to também é um aglomerante inerte, seu en- durecimento se dá apenas pelo resfriamen- to. Pode se dizer que o asfalto, também chama- do de betume, é um dos mais antigos mate- riais de construção empregado pelo ho- mem. Seu emprego é citado diversas vezes na Bíblia Sagrada, como por exemplo, em Gênesis 11:3: “Disseram uns aos outros: fa- çamos tijolos, e queimemo-los bem. Os tijo- 25 VE RS ÃO P RE LIM IN AR los lhes serviram de pedras e o betume de argamassa”. Antigamente, o asfalto era obtido da explo- ração de depósitos naturais, denominados de “lagos de asfaltos”. Atualmente, quase todo asfalto em uso é obtido por meio do processamento do petróleo bruto em refina- rias (Figura 3). Figura 2 - Asfalto proveniente de um deposito na- tural. [Fonte 6] Figura 3 - Vista da Refinaria de Duque de Caxias [Fonte 7] Os materiais asfálticos além de serem em- pregados como aglomerantes podem ser empregados na impermeabilização de su- perfícies. Tipos de materiais asfálticos Existem diversos tipos de materiais asfálti- cos, tais como: cimento asfáltico de petró- leo (CAP), asfalto diluído, emulsão asfálti-ca, asfaltos modificados, entre outros. Cimento Asfático de Petróleo (CAP) O CAP é constituído basicamente de hidro- carbonetos. É um material semi-sólido a temperaturas baixas que se torna pratica- mente líquido em altas temperaturas. Des- sa forma, é considerado um material termo- plástico, visto que sua plasticidade, viscosi- dade e consistência se alteram com o au- mento de temperatura. O CAP é empregado para a confecção de Concretos Asfálticos Usinados à Quente (CBUQ) empregados para o revestimento de pavimentos flexíveis. De acordo com o livro Pavimentação Asfáti- ca, a pavimentação asfáltica é a principal forma de revestimento empregada na maio- ria dos países. No Brasil, aproximadamente 95% das estradas são pavimentadas com re- vestimento asfáltico [3]. 26 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Figura 4 - Pavimentação Asfática [Fonte 8] As principais vantagens do CAP são: durabi- lidade, flexibilidade e resistência. A princi- pal desvantagem é a necessidade de empre- go de altas temperaturas para sua utiliza- ção. Existem diversos ensaios que podem ser fei- tos para caracterizar o comportamento dos CAP, tais como: ensaio de penetração, duc- tibilidade, ponto de fulgor, viscosidade, en- tre outros. Asfalto Diluído Asfalto diluído é um material resultante da diluição do cimento asfáltico por um desti- lado de petróleo (solvente) com a função de tornar a mistura líquida. Após aplicação do asfalto diluído, o solven- te evapora, deixando como resíduo o CAP. Este processo é chamado de cura do asfalto diluído. É importante destacar que a cura do asfalto diluído não tem nenhuma semelhança com a cura do concreto de Cimento Portland, são fenômenos completamente diferentes. As vantagens do asfalto diluído são: menor viscosidade, maior facilidade de aplicação, podem ser aplicados em temperaturas bai- xas. A principal desvantagem é o fato de ser inflamável. Emulsão asfáltica Uma emulsão é uma mistura de dois ou mais líquidos imiscíveis. No caso da emul- são asfáltica, os materiais são o asfalto e a água. Para que esse componentes possam permanecer misturados, é necessário o acréscimo de um emulsificante. O agente emulsificante permite que as partí- culas de asfalto permaneçam em suspensão na água por um determinado tempo, que pode ser de semanas a meses, dependendo da formulação da emulsão. Este tipo de ma- terial asfáltico pode ser empregado em tem- peraturas baixas. O “endurecimento” da emulsão asfáltica se dá pela ruptura da mistura com a evapora- ção da água. Em função do tempo necessá- rio para evaporação da água, as emulsões asfálticas são classificadas em três grupos: RR – Ruptura rápida; RM – Ruptura mé- dia e RL – Ruptura Lenta 27 VE RS ÃO P RE LIM IN AR O emprego de emulsão substituiu o asfalto diluído em muitas aplicações, diminuindo, assim, o risco de incêndio e explosões. Asfaltos Modificados Para a maioria das aplicações em pavimen- tos rodoviários, os asfaltos convencionais têm bom comportamento. No entanto, para condições de tráfego pesado, aeroportos e regiões com grandes diferenças térmicas, tem sido cada vez mais necessário o uso de modificadores das propriedades dos asfal- tos. [3] Existem diversos asfaltos modifica- dos. Neste tópico, abordaremos de forma breve apenas o asfalto borracha. Anualmente, são geradas aproximadamen- te 35 milhões de carcaças de pneus e exis- tem mais de 100 milhões de pneus abando- nados no país. [9] Figura 5 - Pilhas de pneus descaratados [Fonte 10] Uma forma interessante de melhorar algu- mas propriedades do asfalto, e ao mesmo tempo reduzir os impactos ambientais, é empregar a borracha moída de pneus inser- víveis em misturas asfáticas. No caso da pavimentação, o emprego de as- falto borracha em relação ao asfalto conven- cional apresenta algumas vantagens técni- cas, tais como: aumento da vida útil do pavi- mento, maior resistência ao envelhecimen- to precoce, maior resistência às deforma- ções plásticas. [9] Aglomerantes Quimicamente Ativos Os aglomerantes quimicamente ativos en- durecem por um processo que altera a com- posição química do material. Eles podem ocorrer de duas formas: na presença de água ou no ar. Assim, estes aglomerantes podem ser classificados em aéreos e hidráu- licos. • Aéreos: endurecem pela ação química do CO2 no ar. Exemplos: cal virgem e cal hidratada • Hidraúlicos: endurecem pela ação da água. Exemplos: cal hidráulica e Cimento Portland. 28 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Cal A cal é um aglomerante ativo obtido pela calcinação de rochas calcárias a temperatu- ras elevadas. Existem, basicamente, três ti- pos de cal: (i) cal virgem, (ii) cal hidratada e (iii) cal hidráulica. As duas primeiras en- durecem na presença do ar, sendo portan- do aglomerantes aéreos, e a última endure- ce na presença de água, sendo assim classi- ficada como um aglomerante hidráulico. Cal Virgem O produto que se obtém com a calcinação de rochas calcárias (850 a 900 ºC) recebe o nome de cal virgem, ou cal viva. A cal vir- gem não é o aglomerante usado em constru- ção. O óxido deve ser hidratado para virar hidróxido de cálcio denominado de cal ex- tinta ou cal queimada. O processo de hidratação da virgem é execu- tado em canteiros de obras. As pedras são colocadas em tanques onde ocorre a sua ex- tinção ao se misturarem com a água. A técnica de extinção da cal virgem é muito antiga e também perigosa. O fenômeno de transformação de cal virgem em cal extinta é exotérmico, pode em alguns casos atingir a temperatura de 400o C. Atualmente, é pouco empregada, sendo substituída pela cal hidratada. A cal viva ou cal virgem é vendida em for- ma de pedras ou moída e ensacada. Figura 6 - Cal virgem em pedras [Fonte 11] Cal Hidratada Quando a cal virgem sofre o processo de hi- dratação (extinção) em uma usina, ela é chamada cal hidratada. É um produto ma- nufaturado que se apresenta comercializa- do na forma de um pó branco de elevada finura. É o tipo de cal mais empregado. O processo de obtenção é descrito a seguir [2]: a) a cal virgem é moída ou pulverizada; b) o material moído é completamente mis- turado com a água necessária 29 VE RS ÃO P RE LIM IN AR c) a cal assim hidratada é separada da não hidrata e das impurezas por peneiramento A cal hidratada oferece em relação a cal vir- gem diversas vantagens, tais como: maior facilidade de manuseio, transporte e arma- zenamento. É um produto pronto para ser utilizado, eliminando do canteiro, a opera- ção de extinção. Por ser um produto seco e pulverulento, oferece maior facilidade de mistura na confecção de argamassas. Além disso, não está sujeita aos riscos provoca- dos pela hidratação da cal virgem [2]. As cales hidratadas são classificadas em três classes de acordo com sua composição: CH-I, CH-II e CH-III. A cal hidratada, nor- malmente, é encontrada no mercado em sa- cos de 20 kg. Mais detalhes podem ser con- sultados, na norma NBR 7175 – Cal hidrata- da para argamassa requisitos. [4] Figura 7 - Cal hidratada Cal Hidráulica A designação cal hidráulica é aplicada a uma família de aglomerantes de composi- ção variável, obtidos pela calcinação de ro- cha calcarias que, naturalmente ou artifici- almente, contenham uma porção considerá- vel de material argiloso. Este tipo de cal é um aglomerante hidráulico, ou seja, endure- ce pela ação da água, e foi muito utilizado nas construções mais antigas. Apesar de seu nome, a cal hidráulica não é um produ- to apropriado para construções sob água, seu endurecimento é muito lento. [2] Atualmente, é pouco usada, sendo substituí- da pelo emprego de Cimento Portland, pois o cimento apresenta melhores proprieda- des. Aplicações da CalA cal pode ser utilizada como único aglome- rante em argamassas para assentamento de tijolos ou revestimento de alvenarias ou em misturas para a obtenção de blocos de so- lo/cal e cimentos alternativos. A cal melhora a qualidade das argamassas, confere maior plasticidade, permite que elas tenham maiores deformações do que teriam com Cimento Portland somente. As argamassas de cimento, contendo cal, re- têm mais água de amassamento e assim 30 VE RS ÃO P RE LIM IN AR permitem uma melhor aderência ao subs- trato. Além de ser empregada na confecção de ar- gamassas, a cal é muito empregada na exe- cução de pinturas devido ao seu baixo cus- to. Gesso Gesso é um termo genérico de aglomeran- tes resultantes da desidratação total ou par- cial da gipsita natural. Tem muitas aplica- ções, mas como aglomerante, ele é o menos utilizado no Brasil [1]. Entretanto, é empregado na fabricação do Cimento Portland, onde é adicionado ao clínquer na proporção de 3 a 5% em peso. Quanto às aplicações do gesso na constru- ção civil, destacam-se: • como aglomerante em pastas e argamas- sas (pouco uso); • forros de gesso; • painéis de gesso acartonado (Drywall) – muito utilizado atualmente Gesso é um bom isolante térmico e acústico e tem elevada resistência ao fogo. As pastas de gesso aderem bem a blocos, pedra e re- vestimentos argamasssados. Em superfí- cies de madeira, sua aderência é insatisfató- ria, e embora, tenha boa aderência ao aço e outros metais, estes acabam sendo corroí- dos pelo gesso, tanto mais facilmente quan- to maior for a quantidade de água da pasta. [1] Figura 8 - Instalação de drywall [Fonte 12] Anotações 31 VE RS ÃO P RE LIM IN AR Referências Bibliográficas 1. AMBROZEWICS, P. H. L. Materiais de Constru- ção. São Paulo: Pini. 2012. 2. FALCÃO BAUER, L. A. Materiais de Constru- ção, Volume 1, Rio de Janeiro: Editora LTC, 2005. 3. BERNUCCI, L. B., et al. Pavimentação Asfáltica. Rio de Janeiro: Petrobras, 2006. 504p. Disponí- vel em: < www.proasfalto.com.br>. Acesso em: 21 jun. 2014 4. Como escolher cal hidratada. Revista Equipe de Obra, São Paulo. Edição 57, mar. 2013. 5. Casa Sustentável. Imagem disponível em: <http://casasustentavel2f.blogspot.com.br>Ace sso em: 10 jul. 2014 6. Lago di Asfalto Liquido, Pitche Lake. Imagem disponível em: <www.link2universe.net/2010-04-18/vita-micr obica-scoperta-nel-lago-di-idrocarburi-pitch-la ke/>. Acesso em: 10 jul. 2014 7. Petrobras. Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Imagem disponível em: <http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-ativi dades/principais-operacoes/refinarias/refinari a-duque-de-caxias-reduc.htm>. Acesso em: 10 jul. 2014 8. DER/RO. Com a estiagem, governo retoma pro- jeto de asfaltamento urbano de 18 cidades. Dis- ponível em: <http://www.der.ro.gov.br/?p=7539> Acesso em: 10 jul. 2014 9. DI GIULIO, Gabriela. Vantagens ambientais e econômicas no uso de borracha em asfalto.Inovação Uniemp, Campinas, v. 3, n. 3, jun. 2007 . Disponível em: <http://inovacao.scielo.br/scielo.php?script=sc i_arttext&pid=S1808-23942007000300008&l ng=es&nrm=iso>. Acesso em: 10 jul. 2014 10. Imagem disponível em: <http://greenstyle.com.br/>. Acesso em: 10 jul. 2014 11. Cal Virgem. Imagem disponível em: em:<http://portuguese.alibaba.com/> Acesso em: 10 jul. 2014 12. Drywall. Imagem disponível em: em:<http://www.cliquearquitetura.com.br/por tal/dicas/view/gesso-acartonado-resistencia-m ecanica/140> Acesso em: 36 jul. 2014 32 VE RS ÃO P RE LIM IN AR
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