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PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaI.pdf Psicopatologia II -Aula II Prof.ª Sandra de Araujo Hott Questões quanto ao uso do DSMIV-TR # Classificação baseada em conjunto de critérios com características definitórias # Não pressupõe que cada categoria de transtorno mental seja uma entidade completamente distinta com contornos absolutos separando-a dos demais transtornos # Indivíduos com o mesmo transtorno são diferentes portanto, freqüentemente inclui conjunto de critérios múltiplos # DSM-IV atende: clínica, educação e pesquisa # Julgamento clínico com o uso do DSM-IV deverá ser realizado por profissional treinado/adequado # Contexto Jurídico pode incluir interdição, responsabilização criminal, inimputabilidade, internamento compulsório, etc. Considerações étnicas e culturais (Apêndice I) • Discussão das variações culturais no quadro clínico dos transtornos que foram incluídos na classificação. A Cultura afeta o conteúdo e a forma da apresentação sintomática • Descrição de síndromes ligadas à cultura • Delineamento de um esquema para a formulação cultural para auxiliar a avaliação e descrição sistemática do impacto do contexto cultural do indivíduo Transtorno Mental ≠ Condição Médica Geral Organização # Instruções # Classificação (códigos e categorias) # Sistemas Multiaxial # Critérios de diagnósticos dos transtornos # 11 apêndices Utilização: Especificadores de gravidade e Curso PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaII.pdf Psicopatologia II Prof.ª Sandra de Araujo Hott Aula II: Avaliação Multiaxial Sinais: alterações observadas pelo examinador Sintomas: queixas referidas pelo paciente Cinco Eixos Eixo I: Transtornos clínicos Outras condições que podem ser foco de atenção clínica ( diagnóstico psiquiátrico) Eixo II: Transtornos de personalidade Retardo mental Eixo III: Condição médica geral (doenças orgânicas) Eixo IV: Problemas psicossociais e ambientais Eixo V: Avaliação global do funcionamento ( para realizar atividades da vida diária) PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaIII.pdf Psicopatologia II Prof.ª Sandra de Araujo Hott Aula III: Relação Médico/paciente Sintonia: 'sentimento espontâneo e consciente de resposta que promove o desenvolvimento de um relacionamento terapêutico construtivo’ # Características do Terapeuta: • Competência Técnica+ Fatores inter pessoais • Simpatia não é sentimentalismo • Preocupação genuína • Postura ética • Aceitar limites ( cura ou morte) # Modelo Biopsicossocial ( da doença) – 1977 George Engel Sistema Biológico- substratos anatômicos estruturais e moleculares da doença e seus efeitos sobre o funcionamento biológico dos pcs Sistema Psicológico- efeitos de fatores psicodinâmicos, da motivação e da personalidade na experiência e na reação à doença. Sistema Social- examina influências culturais, ambientais e familiares na expressão e na experiência da doença. Modelo Biopsicossocial é uma opção ao Modelo Biomédico. # Religião e Fé = esta última pode apoiar o tratamento ou impedir/boicotar # Comportamento de doença (reações do pc à experiência de estar doente) # Papel de doente • ser liberado de certas responsabilidades receber ajuda • é afetado por experiências anteriores com a doença • é afetado pelo modo como a cultura define a experiência de estar doente/ tipo de doença faz variar esta definição • é afetado por processos familiares, classe social, identidade étnica, personalidade pode ser perda devastadora ou mesmo desafio tabela 1.1 Avaliação individual do comportamento de doença ( Kaplan & Sadock, p. 16) # Modelos de Interação (transferência e contra-transferência) 1- Modelo Paternalista (autocrático): Md/Tp 'sabe' o que é melhor – situações de emergência 2- Modelo Informativo: Md/Tp informa e pc escolhe 3- Modelo Interpretativo: Md/Tp conhece pc há muito e suas condições peculiares. Md/Tp decide mas também é flexível. Ouve e pode aceitar críticas e sugestões . 4- Modelo Deliberativo: Md/Tp atua como 'amigo' ou 'orientador' e defende uma posição. Importante para tentar modificar comportamentos destrutivos ( perder peso, parar de fumar) PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaIV.pdf Psicopatologia II Prof.ª Sandra de Araujo Hott Aula IV: As Psicoses (Kaplan e Sadock- Compêndio de Psiquiatria ( Cap. 13 e 14, pp. 507-571) # Pesquisadores importantes • Benedict Morel (1809-1873) – 'démence précoce' • Karl Ludwig Kahlbaum (1828-1899) – Catatonia • Ewold Hacker (1843-1909) – Hebefrenia • Emil Kraepelin (1856-1926) – 'dementiae precox' : curso deteriorante. Diferencia de Paranóia e Psicose Maníaco-depressiva • Eugen Bleuler (1857-1939) – cunha o termo 'esquizofrenia' (1911). Presença de cisões ('schisms') entre pensamento, emoção e comportamento. Não precisa ter curso deteriorante. # Os quatro As: • Sintomas Fundamentais Associações Afetos Autismo Ambivalência • Sintomas Secundários Alucinações e Delírios • Karl Jaspers Tentar compreender o significado psicológico dos sinais e sintomas esquizofrênicos ( alucinações e delírios). Busca uma fenomenologia da doença, i.e., sentimentos subjetivos dos pacientes # Tabela: Critérios de Kurt Shneider 1- Sintomas de 1ª ordem: a- Pensamentos audíveis b- Vozes que conversam ou discutem, ou ambos c- Vozes que fazem comentários d- Experiência de passividade somática e- Roubo de pensamentos ou outras experiências de influência no pensamento f- Transmissão de pensamento g- Percepções delirantes h- Todas as experiências envolvendo volição, afetos e impulsos fabricados 2- Sintomas de 2ª ordem: a- Outros transtornos da percepção b- Idéias delirantes súbitas c- Perplexidade d- Alterações do Humor depressivas e eufóricas e- Sentimentos de empobrecimento emocional f- '... e diversos outros” Esquizofrenia Doença Mental caracterizada por sintomas psicóticos que envolvem uma série de disfunções tais como pensamento, percepção, linguagem e comunicação, monitoramento comportamental emoções e do afeto, capacidade hedônica, volição, impulso e cognitivas. O diagnóstico envolve o reconhecimento de uma constelação d sinais e sintomas associado com prejuízo no funcionamento ocupacional ou social por pelo menos seis meses. Sintomas Positivos (distorções ou exageros) - delírios - alucinações - discurso desorganizado - monitoramento comportamental Sintomas Negativos (Restrições na amplitude e intensidade) - embotamento afetivo - alogia (fluência e produtividade do pensamento) - avolição (iniciação de comportamentos dirigidos a um objeto/objetivo) - déficits cognitivos - sintomas depressivo-ansiosos • 1% da população mundial • antes dos 25 anos • persiste por toda a vida • em todas as classes sociais • grupo de transtornos com diferentes : etiologias, respostas ao tratamento e cursos Duas dimensões presentes na Esquizofrenia • Dimensão Psicótica( delírios e alucinações) • Dimensão Desorganizada ( discurso e comportamentos desorganizados ou bizarros) Delírios • Delírios Persecutórios • Delírios de Referência • Delírios Somáticos • Delírios Religiosos ou Místicos • Delírios de Grandeza Subtipos de Esquizofrenia • Caratônico ( comprometimento psicomotor, catatonia e/ou estupor) • Desorganizado ( discurso e comportamento desorganizados e afeto embotado ou inadequado) • Paranóide ( delírios e alucinações) • Indiferenciado • Residual Fatores que influenciam curso e prognóstico na Esquizofrenia - início precoce - início insidioso - comprometimento de personalidade já na fase pré-mórbida - período longo entre o surgimento dos sintomas e o tratamento - sexo masculino - falta de fatores precipitantes claros - Q. I. baixo - classe social baixa - isolamento social - histórico psiquiátrico anterior Curso ( período entre crises) Tratamento - controlar os sintomas da doença tentando minimizar os efeitos colaterais da medicação - prevenir recaídas - prevenir riscos de suicídio - evitar hospitalizações - melhorar a qualidade de vida - dar à família suporte emocional - evitar que o paciente abandone o tratamento PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaV#Psicopatologia-Bipo.pdf Transtornos do Humor • Bipolar I, II e III • Depressão Maior (Unipolar) • Distimia • Ciclotimia Perda da sensação de controle Humor: Normal, Elevado ou Deprimido • Sindromes: conjunto de sinais e sintomas persistentes por semanas ou meses que representam um desvio marcante do desempenho habitual do indivíduo e que tendem a recorrer, por vezes de forma periódica ou cíclica. • Mania, Hipomania e Depressão. Transtorno Depressivo Maior • Depressão unipolar • Não há episódios maníacos, mistos ou hipomaniacos. • Cada episódio: durar mínimo de 2 semanas • Perda de interesse e da capacidade hedônica • Dor emocional, agonia, ideação de suicídio • Perda do interesse sexual, queixas somáticas Subtipos Bipolar I • Mania e Depressão • 1 ou mais episódios maníacos • Possível episódio depressivo maior • Episódio misto(1 semana) • Possível sint. Psicóticos Bipolar II • Hipomania e Depressão Menos graves: Ciclotimia • Hipomania (2 anos) Distimia Depressão (2 anos) Mania • Auto-estima inflada ( Grandiosidade) • Redução da necessidade de sono • Mais loquaz, pressão para falar • Fuga de idéias • Distratibilidade • Aumento da atividade ( social, sexual, etc.) • Hedonismo exacerbado • Perda do senso crítico PSICOPATOLOGIA TOTAL/AulaVIII_PricopatoTranstPersonalidade.pdf Transtornos da Personalidade Psicopatologia II TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE • Personalidade: rótulo descritivo do comportamento observável do indivíduo e de sua experiência interior subjetiva relatada. Aspectos públicos e privados • Transtornos: quando os traços da personalidade são rígidos e mal-adaptativos epersonalidade são rígidos e mal-adaptativos e produzem comprometimento do desempenho ou sofrimento subjetivo • Tem início na adolescência e início da vida adulta 3 Classes: 1) Grupo A: paranóide, esquizóide e esquizotípica (estranhos e excêntricos) 2) Grupo B: anti-social, borderline, histriônica e narcisista (dramáticos, emocionais e erráticos)emocionais e erráticos) 3) Grupo C: esquiva, dependente, obsessivo-compulsiva e sem outra especificação(passivo-agressiva, depressiva (ansiosos e medrosos) TRANSTORNO DE PERSONALIDADE PARANÓIDE • Suspeita e desconfiança persistentes das pessoas em geral. • Recusam responsabilidade por seus próprios sentimentos atribuindo aos outros • Hostis, irritáveis e raivosos Comum em: Fanáticos, coletores de injustiças, • Comum em: Fanáticos, coletores de injustiças, cônjuges patologicamente ciumentos e maníacos litigantes (litígio). • Interpretam ações de terceiros como depreciativas e ameaçadoras • Questionam lealdade dos amigos e cônjuges TRANSTORNO DE PERSON ESQUIZÓIDE • Padrão de reclusão social durante toda a vida • Desconforto com interações humanas • Introversão e afeto embotado e restrito • Excêntricos, isolados e solitários • Parecem frios e distantes Não mostram envolvimento com o cotidiano• Não mostram envolvimento com o cotidiano • Quietos, distantes, reclusos • Falta de desejo por elos emocionais • Êxito em trabalhos solitários • Incapazes de intimidade TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOTÍPICA • Notavelmente esquisitos ou estranhos • Pensamento mágico e noções particulares • Idéias de referência, ilusões TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL • Incapacidade de se adaptar às normas sociais• Incapacidade de se adaptar às normas sociais • Atos anti-sociais e criminosos • Verniz: ‘máscara de santidade’ • Furtos, brigas, abuso de drogas, atividades ilegais, mentira, fuga de casa • Manipuladores, abuso de cônjuge e crianças TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE • Limite entre neurose e psicose • Afetos, humor, comportamento, relações objetais e auto-imagem extraordinariamente instáveis(‘personalidade como-se’, ‘‘transtorno psicótico do caráter’) • Oscilações do humor, imprevisível • Atos autodestrutivos, automutilações • Não toleram ficar sós • Sentimento crônico de vazio e tédio • Capacidade extraordinária de raciocínio TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA • Excitáveis e emocionais, modo colorido, dramático e extrovertido • Muitas vezes incapaz de manutenção de relacionamentos profundo e duradouros • Lapsos de fala, exibição afetiva, falta de perseverança • Chamar a atenção, exagerar pensamentos e sentimentos • Faniquitos, lágrimas e acusações quando não são centro das atenções • Sedutores, buscam elogios ou aprovação • Podem ter anorgasmia ou impotência TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA • Elevado sentimento de sua própria importância, grandiosos,únicos e especiais • Fantasias de onipotência, beleza e talento ( transmitido aos filhos na educação) • Lidam mal com crítica, enraivecidos • Ambiciosos, auto-estima frágil• Ambiciosos, auto-estima frágil • Relacionamentos frágeis não mostram empatia e fingem simpatia apenas para conseguir seus objetivos egoístas • Dificuldades interpessoais, problemas ocupacionais • Querem ser admirados TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE • Subordinam suas necessidades às dos outros • Conseguem que outros assumam as responsabilidades sobre sua vida • Falta de autoconfiança • Personalidade Passivo-dependente TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVA-TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVA- COMPULSIVA • Restrição emocional, busca ordem, perseverança, teimosia e indecisão • Perfeccionismo,inflexibilidade • Personalidade Anancástica • Limpeza, postura tensa e formal,sem espontaneidade PSICOPATOLOGIA TOTAL/consciencia.pdf Material elaborado a partir de MYERS, D. Psicologia. 7ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. O estudo dos estados de consciência existe desde a fundação da Psicologia Científica, mas a dificuldade de investigação desse objeto levou os psicólogos a se dedicarem mais ao estudo do comportamento. A partir dos avanços da neurociência, tornou- se possível relacionar a atividade cerebral com os estados mentais – o despertar, o dormir e o sonhar. Passou-se a estudar a consciência alterada pela hipnose e por drogas. E os processos mentais (cognição) voltaram a ganhar importância. O ‘estar ciente’ nos permite exercer controle voluntário e comunicar nosso grau de consciência aos outros. Pesquisas mostram que boa parte das informações que processamos estão fora de nosso “estar ciente”. Nós registramos e reagimos a estímulos que não percebemos conscientemente; desempenhamos tarefas previamente aprendidas de maneira automática; nós modificamos nossas atitudes e reconstruímos nossas memórias sem estarmos conscientes que o fazemos. Já as novas tarefas exigem nossa atenção consciente. A consciência é relativamente lenta e tem sua capacidade limitada, mas é especializada em resolver novas situações. Uma pesquisa realizada por Jerome Singer em 1975 revelou que boa parte das pessoas tem devaneios ou fantasias todos os dias. A maioria dos devaneios envolve detalhes familiares de nossa vida. E sonhar acordado pode ser adaptativo! Devaneios nos ajudam na preparação para eventos futuros e podem substituir a impulsividade. Já as fantasias aumentam a criatividade. DEVANEIO: Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens. FANTASIA: Tudo aquilo que foge da realidade; obra ou criação da imaginação. As seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas: 1) Quando as pessoas sonham que estão fazendo algum tipo de atividade, seus membros se movimentam de acordo com o sonho. 2) Adultos mais velhos dormem mais que adultos jovens. 3) Sonâmbulos estão agindo como nos seus sonhos. 4) Especialistas em sono recomendam tratar insônia com comprimidos para dormir. 5) Algumas pessoas sonham todas as noites, enquanto outras raramente sonham. RITMOS BIOLÓGICOS Nossos ritmos biológicos relativos à idade afetam nosso funcionamento diário, especialmente nosso sono e sonhos. O RITMO DO SONO Nosso esquema diário de despertar e dormir é controlado por um relógio corporal denominado “ritmo circadiano”. Cada noite de sono contém um ritmo próprio, evoluindo do estágio transitório 1 até o estágio de sono profundo 4, retornando até o estágio mais internamente ativo do sono REM. Esse ciclo se repete várias vezes durante a noite, com os períodos do estágio 4 se tornando progressivamente mais curtos, e o estágio de sono REM, dos sonhos, mais longos. O sono R.E.M., ou rapid eye movement (movimento rápido dos olhos), é a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos. Durante esta fase, os olhos movem-se rapidamente e a atividade cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado. As pessoas acordadas durante o sono REM, normalmente, sentem-se alertas, com maior índice de atenção e refrescadas, ou mais dispostas e prontas para a atividade normal. Durante o sono REM o tônus muscular da pessoa diminui consideravelmente. POR QUE DORMIMOS? A privação do sono de pessoas não relevou do modo conclusivo por que, fisiologicamente, precisamos dormir. Pesquisas recentes revelaram que o sono está ligado à liberação de hormônio do crescimento pela pituitária, e que ele pode ajudar a restabelecer tecidos cerebrais e a consolidar memórias. Sono pode também ter uma função protetora na evolução da humanidade. TRANSTORNOS DO SONO Os transtornos do sono incluem a insônia (recorrente falta de sono), a narcolepsia (ataques súbitos e incontroláveis de sono) e a apnéia do sono (parada da respiração durante o sono). SONHOS Embora os pensamentos conscientes possam ocorrer durante quaisquer estágios do sono, acordar as pessoas durante o sono REM leva a relatos previsíveis “de sonhos fantásticos”. Despertar durante outros estágios do sono conduz apenas a imagens fugidias ocasionais. Nossos sonhos são compostos principalmente por eventos corriqueiros e experiências cotidianas. Eles tendem a envolver algum grau de ansiedade ou insatisfação do que alguma conquista. A história da hipnose está muito associada ao charlatanismo. Apesar disso, ela recentemente tem se tornado objeto de pesquisas sérias. Psicólogos atualmente concordam que a hipnose é um estado de alta sugestionabilidade que as pessoas manifestam em graus variados, e embora procedimentos hipnóticos possam ajudar algumas pessoas a lembrar de eventos passados, as crenças do hipnotizado freqüentemente influenciam suas memórias. Pessoas hipnotizadas não podem agir contra sua vontade, tanto quanto uma pessoa não hipnotizada. Hipnose pode ser pelo menos temporariamente terapêutica, e hipnotizados podem se beneficiar de um alívio da dor. Apresento um trecho do exercício de relaxamento da Drª Marilda Lipp, especialista em controle do Estresse. A hipnose é, pelo menos parcialmente, um subproduto de processos normais e cognitivos sociais. Vários pesquisadores acreditam que ela é um estado alterado de consciência, talvez envolvendo dissociação entre níveis de consciência. Drogas psicoativas, que incluem depressores, estimulantes e alucinógenos, também alteram o nível de consciência. As drogas geralmente detonam sintomas de abstinência – efeitos negativos posteriores em oposição ao prazer temporário das drogas. Esses sintomas podem levar à dependência tanto física como psicológica. O uso medicinal das drogas, contudo, raramente cria dependência. Muitos usuários de droga superam o vício quando seu contexto se modifica. Álcool, barbitúricos e opiáceos operam através da depressão do funcionamento neural. Cada um produz um determinado tipo de prazer, mas ao custo de dificultar a memória, diminuir a propriocepção, além de outras conseqüências. Cafeína, nicotina, anfetaminas, cocaína e ecstasy agem pela estimulação do funcionamento neural. Assim como a maioria das drogas psicoativas, elas agem nas sinapses, influenciando os neurotransmissores cerebrais, e seus efeitos dependem da dose, das expectativas e da personalidade os usuários. LSD e maconha podem distorcer o julgamento das pessoas e, dependendo da dose, alterar sensações e percepções. Cerca de 1/3 daqueles que sobreviveram a um encontro com a morte, após uma parada cardíaca, por exemplo, lembram-se de visões. Enquanto ‘dualistas’ (acreditam que mente e corpo interagem, mas são entidades diferentes – a mente não-física e o corpo físico) interpretam essas experiências como evidência da imortalidade humana, ‘monistas’ (não acreditam na separação mente e corpo. Sustentam que mente e corpo são aspectos diferentes da mesma coisa) indicam que esses relatos têm paralelos em relatos de alucinações por drogas, e que essas experiências podem ser induzidas por um cérebro impactado de estresse. PSICOPATOLOGIA TOTAL/EmentaPsicopatoII.pdf PSICOPATOLOGIA TOTAL/Psicodiagnu00F3stico.pdf 1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ SEMINÁRIOS AVANÇADOS EM PSICOLOGIA – AULA 5 RELEMBRANDO O PSICODIAGNÓSTICO AS TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO Entrevista é um método de avaliação psicológica que se assemelha ao método científico, onde o entrevistador vai formulando uma série de hipóteses com o desenrolar da entrevista. Os objetivos da entrevista podem ser: 1) reconstituir a história do sujeito (anamnese); 2) sondar seus conhecimentos (argüição oral); 3) avaliar suas aptidões para uma aprendizagem (orientação) ou um emprego (seleção); 4) contribuir para o psicodiagnóstico e indicação do tratamento de pessoas com distúrbios psicológicos (entrevista inicial ou preliminar). A entrevista pode ser diretiva, onde o psicólogo faz perguntas pré- estabelecidas e procura obter informações; ou entrevista não diretiva, onde ele deixa que o sujeito fale o mais livremente possível, encorajando-o, reformulando suas respostas, observando suas reações e procurando entender os medos, hesitações, resistências e defesas do sujeito. As entrevistas semidiretivas são interações entre as duas anteriores. Durante a entrevista, deve-se evitar a indução de respostas do paciente bem como confrontar determinadas informações incongruentes ou mentirosas. Psicodiagnóstico = tempo limitado. A duração excessiva do processo é prejudicial. Cuidado com: insistência num tema, lacunas, silêncios em demasia, pois isto rompe o enquadramento do processo psicodiagnóstico. Os testes e entrevistas não devem ser interrompidos em função do enquadramento. Um dos principais objetivos do processo de psicodiagnóstico é o de descrever, avaliar e compreender o nível de funcionamento da personalidade. São examinadas as funções do ego, em especial o insight e as condições do 2 sistema de defesa, para facilitar a indicação de recursos terapêuticos, bem como estimar o progresso ou os resultados desse tratamento. Caracterização do processo psicodiagnóstico: A) configura uma situação com papéis bem definidos e com um contrato no qual fica estabelecido um compromisso com fins de psicodiagnóstico, isto é, uma compreensão da personalidade do paciente ou do grupo familiar; B) abrange aspectos passados, presentes (diagnóstico) e futuros (prognóstico); C) utilização de técnicas: entrevista semidirigida, técnicas projetivas, entrevista de devolução. Objetivos: A) descrição e compreensão da personalidade; B) formular recomendações terapêuticas adequadas. Momentos do processo psicodiagnóstico: 1) 1º contato e entrevista inicial; 2) aplicação de testes e técnicas projetivas; 3) encerramento do processo: devolução oral ao paciente (e/ou seus pais); 4) informe escrito para o remetente. Enquadramento: a) esclarecimento dos papéis respectivos (natureza e limite da função que cada parte integrante do contato desempenha); b) lugares onde se realizarão as entrevistas; c)horário e duração do processo (aproximadamente). Obs: falta de enquadramento ou um enquadramento muito rígido pode prejudicar o processo psicodiagnóstico. A entrevista de devolução: é o momento do psicodiagnóstico que deixa manifesta a experiência clínica do psicólogo. O psicólogo deve ir gradualmente aventando suas conclusões e observando as reações que estas produzem. O psicólogo não deve assumir a posição do que “sabe” diante do que “não sabe”. A dinâmica deve favorecer o aparecimento de novo material com propósito de validar ou não as conclusões diagnósticas. 3 OBJETIVOS DO PSICODIAGNÓSTICO (avaliação psicológica clínica) OBJETIVOS ESPECIFICAÇÕES Classificação simples Simples classificação do desempenho do examinando em relação a um detreminado padrão, como por exemplo, uma avaliação intelectual. Descrição Ultrapassa a classificação simples, interpretando diferenças de resultados, identificando forças e fraquezas, descrevendo o desempenho do paciente, como em uma avaliação de déficits neuropsicológicos. Classificação nosológica Hipóteses inciais são testadas, tomando como referência critérios dos diagnósticos DSM IV ou CID 10. Diagnóstico diferencial São investigadas irregularidades ou inconsistências de um quadro sintomático para diferenciar alternativas diagnósticas, níveis de funcionamento ou natureza da patologia. Avaliação compreensiva Tem como objetivo determinar o nível de funcionamento da personalidade. São examinadas as funções do ego, em especial a de insight, condições do sistema de defesa, para facilitar a indicação de recursos terapêuticos bem como estimar o progresso ou os resultados desse tratamento. Entendimento dinâmico Ultrapassa o objetivo da avaliação compreensiva por pressupor um nível mais elevado de inferência clínica com abordagens teóricas. Prevenção Procura investigar problemas precocemente, avaliar riscos, fazer uma estimativa de forças e fraquezas do ego, de sua capacidade de enfrentar situações novas, difíceis e estressantes. Prognóstico Busca determinar o provável curso do caso. Perícia Forense Fornece subsídios para questões relacionadas com “insanidade”, competência para o exercício das funções de cidadão, avaliação de incapacidades ou patologias que podem se associar com infrações de lei etc. 4 TECNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO: Os instrumentos psicológicos representam a expressão científica de um procedimento sistemático de avaliar as situações para tomar decisões que garantam a sobrevivência do organismo. Avaliação = conjunto de processos que as pessoas usam para formar impressões e imagens, tomar decisões e verificar hipóteses sobre as características de outras pessoas no confronto delas com seu meio ambiente. Binet (na França) foi o primeiro a organizar uma escala como medida de inteligência (idade mental). Os americanos transformaram a escala de Binet em medida de inteligência na qual a classificação dos testes por idades foi substituída por uma escala de pontos, ondeo QI (qüoeficiente de inteligência) é igual à idade mental (IM) dividido pela idade cronológica (IC) e multiplicado por 100. Assim temos: QI=IM/IC x 100. Testes de Inteligência: Os testes de inteligência são testes objetivos, que se caracterizam pela ausência de qualquer necessidade de julgamento subjetivo. São testes de múltipla escolha, onde para cada questão existe uma determinada resposta correta. O Raven e o TEI são exemplos desse tipo de teste. Testes Projetivos (de personalidade): Testes projetivos são utilizados para avaliação da personalidade. Esses testes requerem que a pessoa responda a determinados estímulos que, por não serem muito claros, aumentam a possibilidade da pessoa projetar seus sentimentos, pensamentos, crenças e conflitos da forma mais verdadeira possível nesses estímulos. Os testes projetivos caracterizam-se pela ambigüidade do material (geralmente imagens ou borrões de tinta) que é apresentado ao sujeito cuja personalidade está sendo avaliada. Pede-se ao sujeito que interprete essas imagens ambíguas. Esses testes assumem que conflitos de natureza inconsciente são projetados nas respostas que o sujeito dá frente a esse material ambíguo. O Rorschach e o Teste de Apercepção Temática (TAT) são considerados testes projetivos. No TAT, pede-se ao sujeito para criar uma história em relação a cenas onde seres humanos se encontram em situações ambíguas . O CAT (Children 5 Apperception Test) é uma versão do TAT para crianças, onde os seres humanos são substituídos por animais. O laudo psicológico fornece uma série de informações sobre o perfil psicológico, vivencial e emocional da pessoa avaliada, com base em testes, entrevistas e análises de acordo com uma determinada abordagem teórica. Embora a elaboração de um laudo diagnóstico envolve a avaliação da personalidade do paciente, o psicodiagnóstico escrito não tem finalidade de rotular ou classificar de forma simples e primária a personalidade da pessoa que está sendo diagnosticada. Inventário de Interesses ou Testes de aptidão: Testes de aptidão têm como objetivo avaliar a capacidade com que uma pessoa pode adquirir novo conhecimento relacionado com uma determinada habilidade ou competência específica. São exemplos desse tipo de teste: Angelini e Kuder. Outros Testes de Personalidade: Os testes de personalidade visam avaliar a personalidade do indivíduo, seja objetivamente, através de perguntas e respostas definidas ou subjetivamente, através de técnicas projetivas (desenhos, pranchas, etc). Alguns exemplos: O teste Psicodiagnóstico Miocinético é uma prova de expressão gráfica (teste expressivo) com objetivo de avaliar a personalidade de uma pessoa através da análise das tensões musculares involuntárias, que revelam as tendências fundamentais do caráter e da personalidade. Nesse teste, o indivíduo é chamado a executar traços de maneira contínua, sem ver determinados sinais no papel. Como o próprio nome indica, esse teste envolve uma tarefa psicomotora baseada na simbiose dos músculos (mio, de origem latina) com os movimentos (kinese, de origem grega), amplamente conhecido pela sigla PMK. CPS – Escala de Personalidade de Conrey – muito utilizado na avaliação psicológica na área de recursos humanos. É um inventário de personalidade baseado no método da auto-descrição para identificação dos principais fatores da constituição do indivíduo. O CPS avalia oito dimensões da personalidade: Confiança X Atitude Defensiva; Ordem X falta de Compulsão; Conformidade Social X Rebeldia; Atividade X Passividade; Estabilidade Emocional X Neuroticismo; Extroversão X Introversão; Masculinidade X Feminilidade (Sensibilidade); Empatia X Egocentrismo. PSICOPATOLOGIA TOTAL/psicopato- abuso de substancia.pdf Atualmente, a droga que mais ocasiona overdose em usuários e dependentes químicos, o crack apresenta o aspecto de uma pedra esbranquiçada ou de uma pasta, feita a partir da mistura de sobras de refino de cocaína com querosene e bicarbonato de sódio. Quando a pedra é queimada, é liberada fumaça, que, inalada, chega ao sistema nervoso central em 10 segundos, seu efeito dura cerca de 10 minutos e causa euforia mais forte que a da cocaína. Após, causa depressão, o que leva o usuário a consumir novamente para compensar o mal estar. O consumidor pode ter paranoia e ilusão de perseguição. Não são raros relatos de pessoas que já passaram mais de 2 dias sem dormir, enquanto sob o efeito do crack. - A cocaína tem o aspecto de um pó branco cristalizado e há várias formas de consumi-la. O modo mais comum é através da aspiração e inalação do pó, mas alguns consumidores chegam a injetar a droga diretamente na corrente sanguínea, o que eleva o risco de uma parada cardíaca causada por overdose. Exemplos de efeitos que a cocaína provoca são dilatação da pupila e batimentos cardíacos cada vez mais rápidos. Seu uso contínuo pode resultar em calafrios, alucinações, delírios e paranoia, e pode devastar sistema nervoso. A heroína é usada com o objetivo de aumentar a autoestima e diminuir o desânimo, reduzir dor e ansiedade. Pode ser inalada, injetada ou fumada. Uma injeção introvenosa provoca maior intensidade e início de euforia rápido, de 4 a 6 segundos. Os usuários da droga injetada correm risco de contrair HIV e Hepatites B e C, também por compartilhar seringas e seu uso crônico pode provocar colapso dos vasos sanguíneos. - Conhecida também como “pílula do amor” e bala, o ecstasy é uma droga moderna sintetizada feita em laboratórios, que geralmente causa sensações de bem estar e euforia. Vendido sob a forma de comprimidos e cápsulas, muitas vezes é misturado a cafeína, detergente e outras drogas. Ganhou notoriedade com o desenvolvimento da moda tecno e das festas rave. Durante o período de intensidade do ecstasy podem ocorrer náuseas, hipertensão e convulsões. Quando ingerido com bebidas alcoólicas, pode ocasionar um choque cardio-respiratório, e algumas pessoas que consumiram a droga já detectaram aparições de espinhas no rosto. Seu efeito dura em média 7 horas, e nos dias seguintes ao uso da droga, o usuário pode ficar deprimido, com dificuldade de concentração e ansiedade. PSICOPATOLOGIA TOTAL/psicopato-nosologia.pdf Psicopatologia II -Aula II Prof.ª Sandra de Araujo Hott Questões quanto ao uso do DSMIV-TR # Classificação baseada em conjunto de critérios com características definitórias # Não pressupõe que cada categoria de transtorno mental seja uma entidade completamente distinta com contornos absolutos separando-a dos demais transtornos # Indivíduos com o mesmo transtorno são diferentes portanto, freqüentemente inclui conjunto de critérios múltiplos # DSM-IV atende: clínica, educação e pesquisa # Julgamento clínico com o uso do DSM-IV deverá ser realizado por profissional treinado/adequado # Contexto Jurídico pode incluir interdição, responsabilização criminal, inimputabilidade, internamento compulsório, etc. Considerações étnicas e culturais (Apêndice I) • Discussão das variações culturais no quadro clínico dos transtornos que foram incluídos na classificação. A Cultura afeta o conteúdo e a forma da apresentação sintomática • Descrição de síndromes ligadas à cultura • Delineamento de um esquema para a formulação cultural para auxiliar a avaliação e descrição sistemática do impacto do contexto cultural do indivíduo Transtorno Mental ≠ Condição Médica Geral Organização # Instruções # Classificação (códigos e categorias) # Sistemas Multiaxial # Critérios de diagnósticos dos transtornos # 11 apêndices Utilização: Especificadores de gravidade e Curso PSICOPATOLOGIA TOTAL/Psicopato.pdf Psicopatologia na fenomenologia-existencial 31 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 Psicologia A psicopatologia e o diagnóstico numa abordagem fenomenológica–existencial Carlene Maria Dias Tenório1 1 Gestalt Terapeuta; Mestre e Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília-UnB; ex- professora da Universidade de Fortaleza-UNIFOR; professora do Centro Universitário de Brasília-UniCEUB; membro efetivo da diretoria e do corpo docente do Instituto de Gestalt Terapia de Brasília-IGTB. RESUMO - Partindo da exposição de alguns pressupostos da fenomenologia e do existencialismo, é feita uma reflexão acerca dos aspectos teóricos e metodológicos referentes à psicopatologia e ao diagnóstico dentro dessa abordagem. Uma psico- logia de base fenomenológico-existencial confirma a prioridade da relação com o outro na constituição do sujeito. Desse modo, o aspecto relacional assume um papel determinante no desenvolvimento saudável ou patológico e o aspecto essen- cial da existência humana, do qual se origina a problemática relacional que caracte- riza a patologia, consiste em modalidades específicas de internalizar a figura do outro por parte do indivíduo. Dentro dessa perspectiva, fazer diagnóstico é identi- ficar e explicitar o modo de existir do sujeito em seu relacionamento com o ambien- te em determinado momento e os significados que ele constrói de si e do mundo. Palavras-chave: fenomenologia, existencialismo, pscicopatologia, diagnóstico The psychopathology and the diagnosis according to the phenomenological-existentialist approach ABSTRACT - Starting from the explanation of some premises of phenomenology and existentialism, some thoughts are given to the theoretical and methodological aspects concerning the psychopathology and the diagnosis according to this approach. A Psychology based on the phenomenological existentialist approach confirms the priority of the relationship with the other person on the subject’s constitution. In this sense, the relational aspect takes a determining role on the healthy or pathological development. In addition, the essential aspect of the human existence from which the relational problems, the ones that characterizes the pathology, originate consists of specific ways of internalizing the other’s image by the person. From this point of view, making a diagnosis consists of identifying and showing the person’s way of being in his/her relationship with the environment at a specific moment and the meanings of himsel and the world. Key-words: phenomenology, existentialism, psychopathology and diagnosis Carlene Tenório 32 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 A fenomenologia e o existencialismo: alguns pressupostos básicos O existencialismo é uma corrente filosófica bem mais abrangente e com uma gravitação no pensamento contemporâneo bem maior que a fenomenologia. Nascido oficialmente em 1927, com a publicação de Ser e Tempo, de Martin Heidegger, o existencialismo coloca a questão do ser como a máxima tarefa da reflexão e da ação humana. Centrada sua preocupação na elucidação ontológica em geral, Heidegger focaliza sua atenção na questão do ser humano em particu- lar, tentando caracterizar, em sua obra fundamental, os traços distintivos da exis- tência humana. Para esse objetivo, ele entende que o único método que lhe per- mite alcançar este propósito é a fenomenologia. Depois de Heidegger, outros pensadores identificados com essa corrente filosófica aplicam este mesmo método. No entanto, o método fenomenológico não é o único empregado pelo enfoque existencial, sobretudo na área da psico- logia. Dois outros métodos gozam igualmente de considerável prestígio: o mé- todo compreensivo e o método dialético, que serão abordados posteriormente. Na cabeça de seu fundador, Edmund Husserl, a Fenomenologia nasceu com a pretensão de tornar a reflexão filosófica uma ciência rigorosa tão bem estabelecida que servisse de fundamento a todas as outras ciências empírico-fí- sicas e naturais. O grande intuito de Husserl era fundar um método que propor- cionasse um conhecimento indubitável e radical, com um ponto de partida evi- dente, sem nenhum pressuposto. Trata-se de apreender os fenômenos tais como emergem na consciência pura do sujeito, na experiência vivida (Romero, 1997). A aplicação do método fenomenológico, exige, em primeiro lugar, a von- tade de ater-se aos fenômenos mesmos, deixando de lado qualquer pressuposto e toda idéia preconcebida. Essa exigência metódica implica que precisamos deixar que os fenô- menos falem por si mesmos sem encaixá-los de imediato na bitola de nossa teoria prévia (Romero, 1997, p. 53). Embora não desconsidere o aspecto objetivo, a descrição fenomenológica se centraliza na experiência vivida pelo sujeito. Tenta captar o acontecer experiencial tal como o sujeito o manifesta por sua expressão verbal ou escrita, objetiva ou subjetiva. Pela fenomenologia tentamos indagar os modos de mani- festar-se de um determinado fenômeno, examinando em seguida o significado e sentido que esse fenômeno possa comportar, tal como ele é apreendido pela aná- lise reflexiva. A fenomenologia, no entanto, não aspira apenas fazer uma descrição dos Psicopatologia na fenomenologia-existencial 33 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 objetos intencionais que constituem a experiência originária da consciência; propõe-se também estabelecer a essência dos fenômenos. Nas múltiplas e varia- das manifestações de um fenômeno, sempre podemos detectar um núcleo comum e um significado que percorrem e unificam essa variedade fenomenológica; é o que denominamos a essência do fenômeno (Romero, 1997). Outro importante aspecto da fenomenologia é a noção de intencionalidade da consciência: a consciência é sempre consciência de alguma coisa, estando dirigida para um objeto, só existe objeto para uma consciência. Se um objeto é sempre objeto-para-uma-consciência, ele jamais será objeto-em-si, mas objeto percebido... Consciência e objeto não são entidades separadas na natureza, mas definem-se a partir desta correlação que lhes é co-original (Boris, 1994, p. 23). O campo da análise fenomenológica seria elucidar a essência desta corre- lação, na qual se estende o mundo inteiro (Angerami, 1984). Neste sentido, como diz Romero, (1997), temos que considerar o caráter intencional do fenômeno psíquico. O mental não é algo que acontece apenas dentro da cabeça, sem maior relação com o mundo fora. Pelo contrário, o mental está inteiramente direcionado para o mundo; é o mundo refletido, de certa ma- neira, numa determinada pessoa. Uma vivência não é uma experiência puramen- te objetiva; toda vivência é uma forma de relação que o sujeito estabelece com os diversos objetos que constituem seu mundo. Buscar a compreensão do signi- ficado que esse mundo particular tem para cada sujeito, por meio da descrição minuciosa de suas vivências, é, portanto, o principal objetivo do método fenomenológico. Finalmente, como diz Merleau-Ponty (1973), a mais importante aquisi- ção da fenomenologia é, sem dúvida, a de ter associado o extremo subjetivismo ao extremo objetivismo, propondo caminhos para a compreensão da experiên- cia humana visando respeitar a complexidade do real e encontrar o sentido den- tro do próprio fenômeno, que emerge espontaneamente na consciência. O existencialismo é uma filosofia da liberdade. Sustenta que o homem é ontologicamente livre. Por sermos livres, somos igualmente responsáveis. Sem liberdade de decisão e de escolha não seríamos responsáveis. Isso não significa negar a importância dos determinismos que, nas diversas esferas, afetam os ho- mens. Justamente perante esses determinismos é que tem sentido a liberdade. Quando afirmamos que somos livres, estamos afirmando que sempre temos algu- ma possibilidade de escolha, uma margem de opção. Podemos submeter-nos passivamente a estes determinismos; é o que faz muita gente, mas essa sujeição Carlene Tenório 34 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 é também uma forma de escolha (Romero, 1997). De acordo com o existencialismo de Sartre, “a existência precede a essên- cia”, isto quer dizer, então, que a existência é a essência do homem. Sua essência só é revelada e, de certo modo, construída por meio de sua existência, de sua relação com o mundo (Penha, 1982). É importante salientar, no entanto, que o existencialismo não nega as essências como determinações formais, estruturais ou naturais; elas constituem o dado ou recebido na constituição humana. Só que vale sempre a observação de Sartre: “Não importa o que me foi dado, o importante é o que eu faço com o que recebi”. O existencialismo também afirma que o homem é um ser de possibilida- des. Em psicologia costuma-se acentuar a importância da necessidade como um fator que compele o indivíduo na procura do objeto que satisfaça uma carência biológica ou motive sua realização psíquica e existencial. Mas o homem não é meramente movido por carência e desejos; é um ser aberto ao mundo, aberto a seu apelo e às suas possibilidades. Por estar aberto, não está inteiramente deter- minado e já feito de uma vez - como acontece ao animal, que não tem futuro nem passado, sem possibilidades e completamente inserido na natureza. Outra característica importante da existência humana é sua temporalidade e finitude. O homem é um ser temporal e temporalizante, isto é, finito e ciente de sua finitude; tudo o que faz e lhe acontece revela sua finitude. O Dasein, ensina Heidegger, é um ser-para-a-morte. (Romero, 1997, p. 34) Nas palavras de Augras (1986, p. 32): O ser para a frente de si mesmo nada mais é do que o ser para a morte. É essa certeza inaceitável que fundamenta a ambigüidade do horizonte exis- tencial. Todos os mitos de tempo são mitos de cataclismos, que buscam no fim do mundo uma promessa de ressurreição... o tempo é criação do homem, não apenas na forma de parâmetro que facilita a ordenação das ações humanas, mas sobretudo como tentativa de negar a morte. O homem como ser no mundo é uma das dimensões existenciais apontadas por Heidegger. Com relação a este aspecto Heidegger explica que homem e mundo invocam-se mutuamente, um não existe sem o outro. Isso significa que o mundo é uma realidade puramente humana. O indivíduo está inserido completamente nessa realidade. Sair dessa realidade é perder as características próprias do ser Psicopatologia na fenomenologia-existencial 35 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 humano. Tudo o que nos acontece subjetivamente se relaciona com algo que está ai, no mundo (Barbosa, 1998). Diante de todas essas condições existenciais que lhe são inerentes, o ser humano inevitavelmente sofre e se angustia. Segundo Petrelli (1999, p. 23), A essência do homem é dada pelas tarefas do seu existir que são: ser consciente; escolher; decidir; ser responsável; aceitar sua finitude; aceitar os seus limites; responder às possibilidades; resistir às derrotas; construir a sua singularidade sobre a sua solidão; vencer o Nada constituindo-se como ‘deus’. Essas tarefas, cujas realizações e possibilidades de fracasso definem o sen- tido de sua própria existência, são a razão de sua profunda angustia. O homem consciente de sua própria humanidade se angustia diante de sua liberdade e res- ponsabilidade; diante do nada (morte) e de sua inalienável singularidade e soli- dão, ao perceber que sua experiência de estar no mundo, além de finita, é vivida de um modo particularmente seu, nunca igual à experiência de qualquer outra pessoa. Os métodos compreensivo e dialético: uma breve exposição Enquanto modelo epistêmico ou forma de entender a existência humana em suas manifestações saudáveis ou patológicas, o enfoque fenomenológico- existencial segue basicamente os métodos compreensivo, dialético e fenomenológico. (Romero, 1997). A compreensão não é apenas a resultante do entendimento. Quando en- xergamos as relações que constituem um determinado fenômeno ou uma dada situação, dizemos que os compreendemos. A compreensão é um método diferen- te do método explicativo, embora os dois se complementem. A psicologia usa um ou outro, segundo o plano em que se movimenta. Explicamos os processos psíquicos quando decorrem de fatores causais ou de variáveis independentes. Explicamos alguns aspectos da conduta do bêbado sob o efeito do álcool (lentidão dos reflexos, falta de coordenação motora, incoerência associativa). Compreendemos a reação de esquiva e rejeição por parte da maioria das pessoas perante a presença de um bêbado, pois seu comportamento inconveniente torna indesejável sua proximidade. O explicar corresponde à determinação das cau- sas; o compreender implica o conhecimento dos motivos que levam uma pessoa a comportar-se de uma determinada maneira, ou a vivenciar a realidade de certo Carlene Tenório 36 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 modo. Compreender é relacionar um fenômeno psicológico com outro fenôme- no psíquico com o qual mantém uma relação motivacional. Certas condutas estranhas de uma pessoa idosa são explicáveis por deterioramento cerebral; perda de memória, emotividade pueril, diminuição de senso moral. Outras vivências são compreensíveis por motivos existenciais e psicológicos: suas fases de tristeza e certa melancolia relacionam-se com sua falta de possibilidades, seu isolamento de fato, a desconexão com certas atividades (aposentadoria) e o menosprezo notório de outros em relação ao velho. Dessa maneira, compreender é estabelecer as relações de sentido que um evento, uma vivência, uma conduta ou uma expressão possam implicar. O método dialético parte do princípio de que a relação com o diferente e o conflito entre os opostos são a força propulsora da evolução do ser humano. Esses opostos ou polaridades são as mais diversas possíveis, constitutivas da existên- cia humana: consciência/inconsciência; figura/fundo; organismo/meio; eu/tu; sujeito/objeto; dentro/fora; vida/morte, etc. Existe uma tensão natural entre di- versas polaridades vivenciadas pelo sujeito enquanto ser consciente e relacional. Este sujeito, na tentativa de integrar essas polaridades, sofre, entra em conflito e ansiedade, se desequilibra, se desorganiza, mas em seguida retoma um estado de equilibração, organização e harmonia provisório, no entanto, qualitativamente superior e mais complexo que o estado anterior. O desenvolvimento humano, portanto, acontece como uma espiral, onde o conflito entre as diferenças é fundamental. É um constante processo de equilibração e desequilibração, organização e desorganização, mediante a dinâmica entre os opostos: tese e antítese, gerando uma nova totalidade provisória que é a síntese. Como diz Augras (1986, p. 11) A saúde encontra-se nesse fogo de interações. Pois cada estado de equilíbrio alcançado destrói o estado anterior. A vida procede dialeticamente. Ordem e desordem são etapas constantes no desenvolver do homem e do mundo. Neste sentido, Augras define saúde e doença como etapas de um mesmo processo de equilibração na relação eu/mundo por meio do qual se dá a consti- tuição mútua do mundo e de si mesmo. A psicopatologia: algumas idéias fundamentais A abordagem fenomenológica existencial da Psicopatologia, de acordo com Romero (1997), iniciou-se com a publicação do livro de Karl Jaspers, Psicopatologia Psicopatologia na fenomenologia-existencial 37 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 Geral, em 1913. Nesse mesmo ano, o filósofo Edmundo Husserl publica seus escritos sobre Fenomenologia Pura, em que se estabelecem os traços gerais do método. Contudo, só em 1927, com a publicação de Ser e Tempo, de Martin Heidegger, é que se estabelece o consórcio da fenomenologia com o existencialismo. O enfoque fenomenológico-existencial da psicopatologia tem como base uma concepção elaborada de homem, que se encontra desenvolvida nas grandes figuras deste movimento, singularmente em Heidegger, Sartre, Merleau - Ponty, Ortega e Buber. De uma forma mais sucinta podemos definir o conceito de homem dentro deste enfoque como um ser pluridimensional, livre, inserido em um mundo do- tado de sentido particular, aberto às suas possibilidades, consciente de sua finitude e de sua responsabilidade perante suas escolhas, capaz de inventar e cuidar de sua própria existência mediante a práxis. Partindo desta visão de homem, podemos dizer que a psicopatologia vai se manifestar por meio de uma vivência de sofrimento onde a pessoa se sente vítima e presa a um destino sombrio e a uma existência destituída de realizações gratificantes e prazerosas. Sem liberdade de escolha, a pessoa vive a sensação de estar encurralada pelas circunstâncias da vida, sentindo-se impotente para modificá- las, submetendo-se a elas, num sacrifício alienante e inevitável. Nesse processo de sofrimento, a pessoa perde o contato com as possibili- dades existentes no campo organismo/meio, percebendo a si mesma e ao outro de forma distorcida. Com relação a este aspecto, Romero (1977, p. 34) comenta: Na depressão, o sentimento de falta de possibilidades é muito acentua- do. Na ansiedade o que emerge são possibilidades negativas ou conflitantes. O possível e o impossível perdem seus limites na psicose e quando ingressa- mos no plano do imaginário. Uma psicologia de base existencial-fenomenológica é relacional e intersubjetiva isto é, confirma a prioridade da relação com o outro na constitui- ção do sujeito. Isso significa que na etapa inicial do desenvolvimento, durante boa parte da infância, o indivíduo esteve subordinado às injunções, aos ditames, às manipulações e ao domínio dos agentes socializadores: pais, parentes, educa- dores e programadores coletivos (mídia, principalmente). Entretanto, para que haja um desenvolvimento saudável e uma constitui- ção da individualidade é preciso que aconteça uma progressiva superação dessa primazia do outro, tarefa esta que implica um longo processo de autoconsciência e questionamento de si mesmo e do mundo em que se encontra inserido (Romero, 1977). Carlene Tenório 38 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 Desse modo, o aspecto relacional da existência humana assume um papel determinante na constituição de um desenvolvimento saudável ou patológico. O conflito existente na relação indivíduo/meio gera uma tensão básica que é fundamental no desenvolvimento humano, no entanto, ...haverá doença se esse conflito subsistir em termos de desordem, per- manecendo o indivíduo num comportamento estereotipado, invariante, alheio às suas possibilidades e do ambiente, ou reagindo inadequadamente... a saú- de do indivíduo será avaliada em sua habilidade para recuperar o equilíbrio e superar a crise na relação com o ambiente, utilizando então sua capacida- de criadora para transformar esse meio inadequado em mundo satisfatório. (Augras, 1986, p. 12). A psicopatologia também pode manifestar-se como uma desorganização da cronologia existencial. Para o melancólico, o tempo afigura-se parado, imó- vel, sem nenhuma perspectiva. As idéias de ruína, de culpabilidade surgem como tentativas de justificar a modificação profunda da estrutura da vivência tempo- ral. Neste sentido, a perturbação dentro do tempo do melancólico deixa de ser sintoma, para ser causa. (Augras, 1986). Na psicose, a vivência do horizonte temporal desaparece. A esquizofrenia, em muitos aspectos, pode ser descrita como perturbação essencial do espaço - tempo. Uma doente declara: “Nada mais acontece, tudo parou nem eu mais vivo. Sinto que o meu coração não bate. Ele parou como meus braços que são de vidro. Não sei se hoje é ontem” (Augras, 1986). De acordo com Augras (1986) grande parte da psicopatologia deveria ser reconstituída a partir de um estudo a respeito da maneira como o indivíduo se situa em relação à vivência do tempo e do espaço. Longe de serem aspectos adjetivos na expressão de experiências específicas, tempo e espaço afirmam-se como dimensões significativas do ser. O papel do outro na constituição do eu é abordado pela filosofia dialógica de Buber, em que ele defende que toda a existência do homem está fundamentada na relação com o outro, ou seja, no diálogo. O ser se determina quando em relação, não existe o eu em si, pois o eu é posterior à relação, é a partir dessa relação que o eu delimita sua própria existência (Buber, 1979). De acordo com a filosofia dialógica, os bloqueios neuróticos e até a desestruturação psicótica surgem, pelo menos em parte, porque outras pessoas (figuras parentais, principalmente) não foram capazes de entender, considerar e valorizar a experiência da criança. Em conseqüência, ela não pode sentir-se con- Psicopatologia na fenomenologia-existencial 39 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 firmada e, portanto, não é capaz de apreciar e valorizar sua própria experiência, tem de rejeitá-la, alienando uma parte de si mesma, que vai tornar-se inconscien- te (Hycner, 1995). Como a criança, por sua própria condição de imaturidade, dependência e impotência com relação ao mundo adulto, possui uma estrutura de ego frágil e vulnerável, é fundamental, para seu desenvolvimento saudável, que esse mundo seja experienciado como sendo suficientemente confiável e acolhedor, caso con- trário, ela terá que lidar com uma realidade insuportável e inevitável. Na impos- sibilidade de superar esse conflito ela o introjeta, causando uma divisão interna do self. Segundo Romero (1997), o aspecto essencial da existência humana, do qual se origina a problemática relacional que caracteriza a patologia, consiste em modalidades específicas de internalizar a figura do outro por parte do indiví- duo. O sujeito neurótico internalizou a figura do outro como uma presença dominante, perante a qual o próprio sujeito se posiciona como ente secundá- rio. Isso significa que para o neurótico o outro tem demasiada presença. O neurótico está tão habitado pelo outro que quase sempre precisa tomar pro- vidências, tendo que apelar para truques no sentido de conquistar um espaço suficiente para ele mesmo nesse mundo (Romero, 1997, p.165). Ainda a respeito da neurose, Romero (1997) afirma que o movimento da vida humana é uma espiral em aberto e, na neurose, essa espiral tende a fechar- se num círculo limitante, supostamente protetor, pouco permeável, escassamen- te mutável, sufocante. Romero (1997) diz, também, que o que caracteriza o círculo da neurose, além dos comportamentos peculiares a cada tipo, são alguns traços visíveis e pertencentes a todos as variações típicas: o predomínio de sentimentos negati- vos referidos ao mundo e, com maior freqüência, ao próprio sujeito. Há uma pro- funda insatisfação de fundo que não é superada por eventuais compensações nem por sucessos materiais, eróticos e até afetivos. Os sentimentos negativos, os conflitos, a baixa auto-estima e o estado de impotência e de insatisfação geram no neurótico uma vivência de angústia, que é definida por Romero (1997) como angústia sintomática, diferente da angústia existencial, que é inerente à condição humana. A angústia sintomática é perturbadora, limitante e restritora da liberdade, levando o sujeito a utilizar mecanismos repetitivos, em um circuito fechado in- terminável. É resultante de conflitos e de um processo de alienação de si mesmo. Carlene Tenório 40 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 A angústia existencial, por sua vez, estimula o questionamento da situa- ção originante e motiva a procura de novos caminhos. Está associada à experi- ência de liberdade e responsabilidade. É originada por circunstâncias que põem em jogo os valores de sentido, ou que estão associados a decisões definitivas. Na psicose há um processo de profunda alienação de si mesmo e do outro, por conta de uma total impossibilidade de se estabelecer um diálogo com o ou- tro (Eu-Tu). O outro teve que ser alienado por se revelar excessivamente podero- so e nocivo à preservação do eu. Esse eu tornou-se desconhecido em virtude de tantas defesas e negações de si mesmo, na tentativa de minimizar a ameaça externa. O outro está no mundo do psicótico como uma figura parcial, contraditó- ria e ambivalente, é um habitante estranho e fugidio, assemelhando-se a um ser fantasmático e desencarnado. O psicótico constrói um mundo dividido e frag- mentário, alienado de um contato vital com a realidade, por não ter obtido um reconhecimento mínimo dos outros. Sem reconhecimento por parte do outro, o sujeito não se reconhece a si mesmo. Não conseguindo transitar pelas vias comunitárias que o sistema ne- cessariamente impõe, o sujeito se perde nos labirintos de seus conflitos, refu- giando-se periodicamente ou permanentemente nos recintos imaginários, geralmente sombrios e espectrais (Romero, 1997, p. 32). No psicopata, o outro está quase ausente: é apenas um objeto a ser consi- derado em determinadas circunstâncias, seguindo as exigências e conveniências do próprio sujeito. Podemos dizer que o outro não habita o espaço interno do psicopata, ao contrário do neurótico que é habitado demais pelo outro (Romero, 1997). O mundo do psicopata está, portanto, praticamente desabitado por outros seres humanos, sendo freqüentado, apenas, por objetos de significação temporá- ria; por isso, o psicopata parece tão insensível, tão desconsiderado e tão egocêntrico. O psicopata não se reconhece propriamente no outro, que é o que lhe per- mitiria sentir-se verdadeiramente humano. Desse modo, sua liberdade fica trincada, uma vez que o sentido pleno da liberdade está baseado na realização do huma- no, compartilhada no mundo dos homens. O psicodiagnóstico: uma proposta metodológica De acordo com o pensamento de Kierkegaard (Penha, 1982), nenhum prin- Psicopatologia na fenomenologia-existencial 41 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 cípio, sistema ou idéia geral pode dar conta de explicar ou descrever a realidade humana, a vivência particular de cada pessoa. O pensamento abstrato só pode compreender o concreto abstratamente, enquanto o pensamento centrado no indivíduo busca compreender concretamente o abstrato, apreendê-lo em sua singularidade, captá-lo em sua manifestação subjetiva. A realidade é o que aparece à consciência. A subjetividade é a realida- de. A própria realidade é aquela de que o indivíduo tem maior conhecimento. (Penha, 1982). Estes pressupostos existencialistas tornam-se fundamentais na constru- ção da postura do psicólogo e dos objetivos de um processo diagnóstico. Dentro dessa abordagem, o psicólogo não tenta explicar e enquadrar a pessoa examina- da em categorizações e parâmetros arbitrariamente teorizados, pois ele acredita que a vivência dessa pessoa é sua própria explicação, sendo ela a melhor inter- prete de si mesma. Como explica Angerami (1984), uma quantidade muito grande de fenô- menos da existência, cada vez mais mostram-se inatingíveis e incompreensí- veis diante das teorizações vigentes de compreensão do homem. As teorias, em sua desvairada tentativa de explicação do homem, negam o experenciar da própria existência. A pessoa doente é antes de tudo uma pessoa que sofre, que precisa em primeiro lugar ser compreendida a partir de seus sentimentos, sensações, emoções, enfim, de tudo que por ela é vivenciado. A pessoa, no processo diagnóstico, deve ser apreendida como sendo um fenômeno único e, como tal, respeitada em sua totalidade; não deve, portanto, ser avaliada segundo normas e padrões de comportamento preestabelecidos, numa total revelia a sua própria existência. Seu nível de crescimento ou de maturidade deve ser dimensionado por meio dos projetos de vida por ela própria idealizados e de acordo com seu próprio mundo e contexto existencial. O existencialismo, em sua exuberância, mostra que a existência é um contínuo vir a ser, um sempre ainda não, com a possibilidade de um poder ser. Desse modo, é totalmente inaceitável a rotulação do ser humano, aprisionan- do-o dentro de determinadas categorias diagnósticas (Angerami, 1984). A fenomenologia é uma filosofia da experiência, anterior às explicações meramente psicológicas, sociológicas, ou historicistas oferecidas pela ciência. Carlene Tenório 42 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 Isto faz com que o psicólogo fenomenológico-existencial assuma uma postura de escuta do ser, desvelando-se ao mesmo tempo em que este também se desvela, recusando-se a instalar-se na verdade ou em seu sistema de verdades e certezas (Costa, 1995). A fenomenologia aponta para uma perspectiva metodológica denomi- nada epoché, palavra grega que significa suspensão, cessação ou seja, a colocação entre parênteses de todo interesse naturalmente orientado. A redução fenomenológica ou epoché deve ser assumida pura e sim- plesmente como uma modificação do olhar, visando uma compreensão da experiência natural, isto é, daquilo que emerge espontaneamente no aqui e agora, dentro do contexto relacional psicólogo-cliente. Desse modo, o Psicó- logo assume o ato criativo do descrever e compreender o fenômeno que vem a seu encontro, que se manifesta por si mesmo. É um olhar e uma escuta ingê- nua, destituída de um saber a priori ou de predeterminismos, propiciando a manifestação e a compreensão do ser do cliente em sua essência (Costa, 1995). Nesta perspectiva, o psicólogo não pode apreender o mundo vivencial da pessoa a ser diagnosticada, enquanto não suspender ou colocar entre parênteses todos seus pressupostos, sua própria visão de mundo e conceitos, tanto quanto for humanamente exeqüível no momento (Hycner, 1995). Segundo Augras (1986), fazer diagnóstico dentro desta perspectiva é iden- tificar e explicitar o modo de existência do sujeito em seu relacionamento com o ambiente em determinado momento e que feixes de significados ele constrói de si e do mundo. A adequada descrição fenomenológica do mundo particular, singular e concreto do sujeito e de sua situação atual tem de apoiar-se numa apro- ximação que procure apreendê-la em sua totalidade. Da mesma maneira que o indivíduo é a medida de sua própria normalida- de, em cada situação, o significado será buscado dentro daquilo que for manifes- tado. A objetividade desta apreensão configurada em diagnóstico apoiar-se-á em critérios de coerência, deduzidos daquilo que se ofereceu da história do indi- víduo e das vivências presentes. A subjetividade é inevitável e o método fenomenológico propõe que diante do reconhecimento da mesma, por parte do psicólogo, é possível limitá-la, transformando-a em ferramenta para a compreen- são do outro (Costa, 1995, p.32). Finalmente, como podemos então definir o psicodiagnóstico dentro do Psicopatologia na fenomenologia-existencial 43 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 ponto de vista fenomenológico-existencial? De acordo com Petrelli (1999, p. 23), o psicodiagnóstico, dentro desta abordagem, “é uma investigação intui- tiva compreensiva dos mistérios da história da vida de uma existência singu- lar”. Esta investigação intuitiva compreensiva deve ser feita seguindo alguns passos: I - Observar e escutar a pessoa por inteiro, fazendo a suspensão defi- nitiva de todos os conhecimentos a priori, de todo preconceito e até de toda hipótese pré-formada, aceitando e respeitando a singularidade existente na pessoa a ser diagnosticada. De acordo com Romero (1997), esta observação e esta escuta devem ser feitas com base nas oito dimensões existenciais fundamentais: 1 - Dimensão ontológica do homem como ser-no-mundo 2 - Dimensão social e interpessoal 3 - Dimensão da práxis 4 - Dimensão corporal 5 - Dimensão motivacional 6 - Dimensão afetiva 7 - Dimensão espaço-temporal 8 - Dimensão axiológica (valores inerentes à existência social e indi- vidual). II - Descrever cada experiência significativa, tentando achar o senti- do fundamental mediante um método compreensivo fenomenológico que não apela para um código que, supostamente, nos entregaria as chaves do enigma existencial, mas que se atém ao sentido possível que o discurso e a experiência vivida têm para a própria pessoa. III - Buscar as relações de sentido entre as diversas experiências vivi- das pelo sujeito, bem como entre os aspectos universais da existência humana, que foram redescobertas na construção de uma história de vida particular, des- cendo à intimidade dessa história, descobrindo o protagonista nas singulares vicissitudes de sua existência, sempre única e incomparável. IV - Fazer uma leitura diagnóstica descritiva com base na significação dada pelo próprio sujeito, associada aos princípios teóricos pertinentes à histó- ria particular do mesmo. Carlene Tenório 44 Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44 Referências bibliográficas ANGERAMI, V. A. Existencialismo e psicoterapia, São Paulo: Traço, 1984. AUGRAS, M. O Ser da Compreensão: Fenomenologia da Situação de Psicodiagnóstico, Petropólis: Vozes, 1986. BARBOSA, M.F. A Noção de Ser no Mundo em Heidegger e sua Aplicação na Psicopatologia, Psicologia-Ciência e Profissão, Brasília: Conselho Federal e Regionais de Psicolo- gia, 18 (3): 2 – 13, 1998. BORIS, G.D.J.B. Noções Básicas de Fenomenologia. Insight Psicoterapia, São Paulo: Le- mos Editorial e Gráficos Ltda, IV (46): 19-25, 1994. BUBER, M. Do Diálogo e do Dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1979. COSTA, V.S.M. Existencialismo - Fenomenologia e a Gestalt Terapia, Revista do I Encontro Goiano da Abordagem Gestáltica, Goiânia, I (1): 26-32, 1985. HOLANDA. A . F. Diálogo e Psicoterapia: Correlações entre Carl Rogers e Martin Buber, São Paulo: Lemos Editoral, 1998. HYCNER, R. De Pessoa a Pessoa: Psicoterapia Dialógica, São Paulo: Summus, 1995. MERLEAU-PONTY, M. Ciências do Homem e Fenomenologia, São Paulo: Saraiva, 1973. JASPES, K. Psicopatologia Geral, São Paulo: Atheneu, 1973. PENHA, J. O que é Existencialismo, São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. PETRELLI, R. Humanizando o Psicodiagnóstico, Revista do V Encontro Goiano da Aborda- gem Gestáltica, Goiânia, V(1): 23-25, 1999. ROMERO, E. O Inquilino do Imaginário: Formas de Alienação e Psicopatologia, São Paulo: Lemos Editoral, 1997. PSICOPATOLOGIA TOTAL/psicopatologia anamnese adulto.pdf ENTREVISTA INICIAL DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome Filiação Idade Sexo Naturalidade Estado civil Profissão Religião Residência QUEIXA PRINCIPAL O que te incomoda? Por que te incomoda? Você se lembra como e quando surgiu? O que você sente exatamente? O que isso interfere no seu emocional? Quando ocorrem esses sintomas? Descreva-os. Onde ocorrem? Qual freqüência? Com quem? Como se sente quando percebe que vai iniciar o processo? O que você faz para evitar esse comportamento? Há alguma situação ou fator de risco (perigo) ou externa que forneça o surgimento dos seus sintomas, ou até mesmo que piore as sensações? O que você pensa sobre uma pessoa que tenha as mesmas dificuldades que você tem? Você acredita que essas sensações afetam seus relacionamentos de um modo geral? SITUAÇÃO DE VIDA ATUAL Como está sua relação com a vida atualmente? E com a família? E o trabalho? Como está o lazer? Qual(ais) seu(s) interesses e atividades durante as horas vagas? Você está satisfeita com a vida que está levando? DESENVOLVIMENTO Descrição dos pais. Relacionamento com os pais e irmãos. Quais foram os principais acontecimentos desde a infância até a idade atual. Como foi o processo escolar. Qual o nível de realização, satisfação, alegria, interesse, escolhas vocacionais. Quais os problemas enfrentados. Como foi a relação de amizade desde a infância até a vida atual. Relacionamentos íntimos. EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS Na família. Problemas médicos, psicológicos ou de abuso de substância na família. Abuso sexual ou físico. HISTÓRIA MÉDICA Saúde atual. Quais medicações são usadas. Problemas médicos anteriores. Abuso de drogas. História familiar de saúde. HISTÓRIA PSIQUIÁTRICA E/OU PSICOTERAPÊUTICA: Quando? Com quem? Por que? Benéfica ou não? Problemas na terapia? Ocorrências anteriores de problemas atuais, curso e resultado. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES PSICOPATOLOGIA TOTAL/psicopatologia anamnese adulto_2.pdf ENTREVISTA INICIAL DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome Filiação Idade Sexo Naturalidade Estado civil Profissão Religião Residência QUEIXA PRINCIPAL O que te incomoda? Por que te incomoda? Você se lembra como e quando surgiu? O que você sente exatamente? O que isso interfere no seu emocional? Quando ocorrem esses sintomas? Descreva-os. Onde ocorrem? Qual freqüência? Com quem? Como se sente quando percebe que vai iniciar o processo? O que você faz para evitar esse comportamento? Há alguma situação ou fator de risco (perigo) ou externa que forneça o surgimento dos seus sintomas, ou até mesmo que piore as sensações? O que você pensa sobre uma pessoa que tenha as mesmas dificuldades que você tem? Você acredita que essas sensações afetam seus relacionamentos de um modo geral? SITUAÇÃO DE VIDA ATUAL Como está sua relação com a vida atualmente? E com a família? E o trabalho?
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