Buscar

Trabalho de Psicologia e Politicas Publicas Drogas e Alcool

Prévia do material em texto

UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
	
PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS:
	ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) EM POLÍTICAS PÚBLICAS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
SÃO PAULO
2016
UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS[Digite uma citação do documento ou o resumo de uma questão interessante. Você pode posicionar a caixa de texto em qualquer lugar do documento. Use a guia Ferramentas de Caixa de Texto para alterar a formatação da caixa de texto da citação.]
PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS:
ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) EM POLÍTICAS PÚBLICAS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
Trabalho de Final de Semestre apresentado à disciplina de Psicologia e Políticas Públicas, do curso de Bacharelado em Psicologia, pela UNIP – Universidade Paulista, Campus Chácara Sto. Antônio.
Orientadora: Profª. 
SÃO PAULO
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................03 
2 A ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS (OS) EM POLÍTICAS PÚBLICAS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS....................................................................................................04
3 DISCUSSÕES.........................................................................................................13
4 CONCLUSÕES.......................................................................................................16
REFERÊNCIAS.........................................................................................................19
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo contextualizar o campo de atuação do psicólogo no que diz respeito às políticas públicas voltadas especificamente para os usuários de álcool e outras drogas. A princípio, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), apresenta à categoria e à sociedade em geral o documento de Referências Técnicas para a Prática de Psicólogas (os) em Políticas Públicas de Álcool (Crepop), que busca construir referências para a atuação da Psicologia na área. Foi a partir deste objeto principal, tendo-o como referencial, nos baseamos para analisar o campo e os desafios encontrados pelo profissional e dissertar, entre outras coisas, acerca da constituição do campo dos cuidados relacionados ao uso de Drogas no Brasil, exemplificar melhor o cotidiano desse profissional de psicologia em um contexto de atuação frente a uma demanda bastante específica, conceituar teoricamente essa prática psicológica adequada à tal demanda, explorar a dimensão ético-política da atuação dessa/e psicóloga/o na política de álcool e outras drogas e, não menos importante, objetivamos relacionar uma coisa à outra, no caso, desde a política pública em si quanto à necessidade de ser reavaliada e repensada todo o tempo para que seja eficaz no que se propõe até a elaboração propriamente dita de parâmetros compartilhados e necessariamente legitimados pela participação crítica e reflexiva de psicólogas (os), referenciada neste documento.
Ademais, ressaltamos que o referido documento que nos serviu de base e estudos, tamanha a sua importância, e segundo o que nele consta, é reflexo do processo de diálogo que os Conselhos vêm construindo com a categoria, buscando confirmar-se como instância reguladora do exercício profissional. Nos debruçamos sobre o mesmo em virtude da proposta maior que comporta o seu uso pelos profissionais de psicologia e por apresentar-se completo em termos de conteúdo que enriqueceu bastante as discussões sobre políticas públicas e o papel central e constantemente ativo da psicologia que nesse processo, embora recente, tem se mostrado cada vez mais consciente e crítica quanto às questões tratadas pela Política Social.
 2 A ATUAÇÃO DE PSICÓLOCAS (OS) EM POLÍTICAS PÚBLICAS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
Ao pensarmos em psicologia e políticas públicas, impossível não citarmos o CREPOP – Centro de Referência Técnica Em Psicologia e Políticas Públicas, que se trata de um projeto permanente do Sistema Conselhos de Psicologia que, dando continuidade ao projeto Banco Social de Serviços em Psicologia, desde 2006, sistematiza e divulga informações acerca da prática profissional da(o) psicóloga(o) nas políticas públicas. O CREPOP visa a promoção da ampliação e a qualificação da atuação profissional de psicólogas(os) que atuam na esfera pública, dispondo de um referencial para a atuação desses profissionais, identificando oportunidades estratégicas de participação da psicologia nas políticas públicas e promovendo sua interlocução com espaços de formulação, gestão e execução em políticas públicas. Esse centro apresenta-se, portanto, como um meio estratégico de consolidação da presença da profissão nas políticas sociais brasileiras. Afinal, a história da Psicologia, no que diz respeito ao seu envolvimento com as políticas públicas no Brasil, precisa, antes de mais nada, ser contextualizada nas condições gerais do país, em particular a coisa política. À luz da história, sabemos que a psicologia, mesmo após a sua regulamentação quanto profissão, esteve um pouco distante das políticas sociais em vista do próprio processo histórico do Brasil em termos políticos, que experimentou mais um longo período ditatorial, de “exceção” no plano político e obscurantismo no plano cultural. Porque certamente, houve um impacto na psicologia, em decorrência dessa organização política em benefício das elites e da hegemonia da direita política (Schwarz, 1970), e que ainda é um tema aberto. Em todo caso, não se pode negar que o impacto da ditadura no âmbito acadêmico a partir do segundo período, como nos lembra Germano (1993) e Netto (1990), com o Decreto-lei nº447, de fevereiro de 1969, que institucionaliza a repressão e o controle ideológico no interior da academia. Ou seja, podemos concluir que a suspensão dos direitos fundamentais ao cidadão comum alcançou, logicamente, a Psicologia, no seu pensar e práticas, uma vez que estavam incluídas aí as liberdades de organização e de expressão, que a Psicologia, profissão e formação profissional, se desenvolve no Brasil e desse modo permaneceu por pelo menos 20 anos obscuros.
Além disso, é impossível analisar a história desta ciência no que tange à feitura de políticas públicas sem nos atermos a esse fenômeno social no qual necessariamente se insere e que mesmo está marcada, quanto profissão, pelo elitismo e pela escasssa consideração das demandas sociais (e.g. Botomé, 1979; Mello, 1975). Pécault (1990) e Yamamoto (1996), porém,,ressaltam que após os efeitos do “milagre econômico”, ocorreu uma busca por novas bases de legitimação política. Estabeleceu-se então condições para uma reorganização relativamente livre da repressão de diversos segmentos da sociedade civil e, assim, os intelectuais. Foi um processo de resistência ao regime autocrático-burguês que o campo profissional também se politiza. Conclui-se então que pensar em psicologia sem posicionamento 
político, é descabido. Desse modo, o CREPOP, como mesmo é apresentado, também contribuí para a expansão da Psicologia na sociedade e para a promoção dos Direitos Humanos.
 Sua metodologia parte da diretriz Investigação Permanente em Psicologia e Políticas Públicas, em que o CREPOP realiza pesquisas multicêntricas em que se investiga a prática dos psicólogos no país diante das especifidades regionais aos seus trabalhos nas políticas públicas. Esse processo investigativo da Rede CREPOP implica desde a construção e atualização de um banco de dados com informações acerca dos profissionais, legislações e inclusive dados geográficos, etc., como sua metodologia se divide em três circuitos: levantamento de campo, investigação da prática e, por último, a produção de referências. Tudo isso é feito de modo democrático e transparente, pois o circuito produção prevê a realização de consulta pública, criada e utilizada em várias instâncias, mesmo governamentais, visando o auxílio na elaboração e coleta de opiniões da sociedadesobre temas de importância. Em outras palavras, as pessoas podem e devem opinar sobre a prática dos profissionais de psicologia junto ao CREPOP, em suas ferramentas de consultas públicas, por vias acessíveis como questionários online ou reuniões específicas (RE) e grupos fechados (GF). Já as referências técnicas são recursos que o Conselho 
5
Federal de Psicologia dispõem aos profissionais, para qualificação e orientação de sua prática profissional. São elaborados a partir de um corpo de especialistas altamente gabaritados e reconhecidos por suas qualificações técnicas e científicas.
 Para analisarmos a constituição do campo de cuidados relacionados ao uso de drogas no Brasil, compreendermos os seus valores, legitimarmos suas ideias e entendermos suas práticas, é preciso contextualizar, antes, a própria política pública e a psicologia em relação àquela e a ela mesma historicamente. Antes de mais nada, política é conflito, segundo Abranches (1985). É, como tal, política social: uma parte do processo de alocação e distribuição de valores, é campo de oposição e contradição de interesses. Por sua vez, Santos (1987) propõe considerar política social como aquela que ordena escolhas trágicas segundo um determinado princípio de justiça, consistente e coerente. Portanto, tendo em mente que o caráter ideológico de nossas orientações na vida é inerente ao ser humano, a própria Psicologia, no que diz respeito aos profissionais que se organizam, pode carregar uma ideologia que, sabemos, durante muito tempo e até hoje, pode convergir com os interesses das elites capitalistas. Superar essa compactuação moral e ideológica é imprescindível, para podermos combater os males como a segregação, marginalização, exclusão, pobreza e miséria, que no Brasil corresponde a uma alta taxa de desigualdade social, e que neste caso, tem uma considerável relação com o uso de álcool e outras drogas.
 O documento do CREPOP apresenta um aprofundado relato referenciado teoricamente que se debruça sobre as questões históricas, sociais e subjetivas em torno do uso de certas substâncias que envolvem a moral, a cultura, a própria economia, etc, fazendo pensar, por exemplo, no porquê de algumas serem lícitas e outras não, de modo a desconstruir qualquer posicionamento preestabelecido por parte do psicólogo em relação a esse tema e que possa configurar-se senso comum. Isso auxilia na desconstrução de preconceitos, por exemplo. Relata, por exemplo, o caráter histórico do alcoolismo quanto prática dos negros no pós-abolição, em uma sociedade permanentemente racista e geracionalmente desigual, de modo que se constituiu socialmente um tipo de alcoolismo originário e endêmico a essa etnia,
6
então naturalizado como característica desta, estereotipando, aumentando o preconceito, a vergonha, humilhação, a ponto de tornar-se foco de medidas de “limpeza” eugênicas.
A Questão Social, segundo Iamamoto & Carvalho (1983) e Netto (2007) pode ser definida como o conjunto dos problemas políticos, sociais e econômicos postos pela emergência da classe operária no processo de constituição da sociedade capitalista. Neste caso, trata-se da manifestação no cotidiano da vida social da contradição capital-trabalho. Foi na Europa que o protagonismo da classe operária em meados do séc. XIX, a questão social passa a ser tratada como questão política (Pastorini, 2004). Mas diferentemente de lá, no Brasil, a inserção profissional do psicólogo no campo do bem-estar social sucedeu os anos de ditadura, como uma particularidade histórico-cultural e nacional a ser considerada (Netto, 2007). No que diz respeito às drogas, elas sempre farão parte da experiência humana. Todas as sociedades em todas as épocas houve consumo de algum tipo de substância psicoativa com as mais diferentes funções: rituais, práticas curativas, ou por razões recreativas e lúcidas (Escohotato, 2009). Num contraponto, já o “problema das drogas”, é uma questão recente em termos históricos, evidenciando o caráter proibicionista do Estado moderno. E eis a contradição:
As drogas lícitas, como os psicofármacos e o álcool, são hoje as principais responsáveis pelos danos e agravos à saúde, mesmo se compararmos com todas as demais drogas proibidas somadas. Uma pesquisa recente da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) identificou o índice de 12% de prevalência de uso nocivo ou dependência de álcool em relação à população brasileira (BRA-SIL, 2007a).
 Com a nova lei de drogas, a Justiça Terapêutica ganha maior forma no país, associada ao paradigma da abstinência. Apesar de uma prática não restritiva de liberdade, restringe seus direitos por se tratar de um tratamento compulsório. Uma medida que obviamente não funciona como forma de descriminalização dos usuários de drogas e também não estimula o contato clínico, não há escolha para aquele que é submetido ao tratamento obrigatório.
 A nova perspectiva em saúde pública, no que tange em particular os 
7
usuários de drogas, é oriunda de um processo histórico de superação de condições políticas adversas, como por exemplo, desde a época do governo militar há, no Brasil, uma hegemonia do modelo liberal em que uma forma mercantilista de prática profissional assegura o seu funcionamento (Campos, 1997). Muito interessantemente, os autores lembram que é possível constatar que, em algumas muitas ocasiões, “os conhecimentos psicológicos foram utilizados para o ocntrole, a segmentação e a diferenciação”, assim, contribuindo para a manutenção e incremento do lucro necessário à reprodução do capital”. Ou seja, as políticas públicas de saúde em voga no Brasil são resultado do protagonismo dos coletivos, movimentos sociais e grupos organizados que estão em constante processo de tensão crítica em relação ao Estado. No que se refere à prática psicológica, foi a partir desse processo que acirraram-se os debates e críticas sobre os rumos que tomava a profissão, especialmente em relação ao modelo clínico de atendimento. Um modelo que de longe não pode funcionar para todas as demandas que se apresentam, menos ainda para as classes menos favorecidas e que em grande parte consistem dos grupos atendidos no contexto da atuação frente a usuários de drogas 
 No processo de inserção do psicólogo nas políticas públicas de saúde mental, notamos, portanto, uma linearidade no que tange à história política da sociedade brasileira. Desse modo, é o plano do coletivo que garante o sentido público das políticas. Seguido esse rumo de reinvenções, A Políticas Nacional de Assistência Social (Brasil, 2004) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
efetivado em 2005, definem a política brasileira de proteção social e determinam a ampliação da rede socioassistencial no país. As políticas atuais sobre álcool e outras drogas estão em constante movimento de disputa, seja na própria sociedade civil, seja na máquina de Estado. O relevante é que amplos setores da sociedade civil organizada vem, ao longo do tempo, engajando-se neste debate para construir políticas efetivas de atenção, cuidado e proteção social. Acreditamos que as diretrizes que são criadas, em meio a esses processos de revoluções e reformas políticas em torno de instituições e programas de saúde desenvolvidas no curso da história da sociedade brasileira, revelam-se os próprios meios de se tornar a 
8
psicologia mais amplamente disseminada nos mais diferentes contextos de atuação, vindo a democratizar o seu acesso às camadas menos favorecidas. A exemplo da “aprovação de leis e estatutos como o ECA, o estatuto do idoso e as políticas de proteção às mulheres e algumas minorias que permitiram uma ampliação sem precendentes para o trabalho do psicólogo (Yamamoto & Oliveira, 2010). Existe uma relação direta entre a concepção de saúde, de segurança social e acima de tudo de direito e a prática profissional do psicólogo nesse contexto, que é bastante elucidada no exemplo da própria Fundação para o Bem-Estar do Menor (FEBEM) que atendiacrianças e adolescentes em conflito com a lei, por exemplo, que até então não eram vistos como sujeitos detentores de direito e que deviam ser protegidos e ter sua integridade salvaguardada. Yamamoto & Oliveira relatam que foi a partir da década de 1990 que o psicólogo foi “paulatinamente se inserido em espaços institucionais com foco no atendimento a essas camadas da população que foram priorizadas pelas distintas agendas governamentais”. A citar:
[…] as casas de passagem, as delegacias de defesa da mulher, os diversos 
projetos da assistência social dirigidos às crianças e jovens em situação de 
risco e vulnerabilidade, e, ainda, as Organizações não Governamentais 
ligadas à proteção social foram espaços de trabalho para um contingente
amplo de psicólogos ao longo das décadas de 1980 e 1990.
(Yamamoto & Oliveira, 2010)
 No Brasil, as políticas públicas de saúde foram consolidadas diante de eventos como a Reforma Sanitária, expresso no movimento constituinte de 1988. A Constituição Federal no seu art. 196 considera que:
[...] a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante po-
líticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação. (Brasil, 1988).
 
 A rede psicossocial para álcool e outras drogas é fortalecida com a inclusão do CAPS AD III com a inclusão do CAPS AD III e a ampliação de recursos para sua implementação. Esse equipamento passa a ser um meio de proporcionar 
9
atenção especializada da Rede de Atenção Psicossocial destinado a proporcionar um assistir contínuo e integral a pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool, crack e outras drogas, funcionando 24 h/dia e em todos os dias da semana. (Brasil, 2012b, art 2º). A partir de então, vemos que uma série de portarias foram editadas e criaram-se novos equipamentos desse tipo de atenção psicossocial. A exemplo das Unidades de Acolhimento (Uas), CAPS, etc. Programas também foram lançados pelo governo federal, como o “Carck, é possível vencer” (Brasil, s.d.), constituindo uma ampliação dos recursos previstos para o Plano integrado de Enfrentamento ao crack e outras drogas. Comunidades Terapêuticas (CTs) foram incluídas no SUS como Serviços de Atenção em Regime Residencial. Neste momento, vale observar que o CREPOP/CFP aponta o isolamento dos psicólogos que atuam nas CTs, e o distanciamento de sua práticas das premissas das políticas públicas, sem questionamento dos efeitos que este tipo de prática produz no mundo: as Comunidades Terapêuticas defemdem o paradigma da abstinência, e reproduzem práticas semelhantes às dos espaços prisionais e manicomiais (CFP, 2011). Uma forma de mudar esse quadro é mudar radicalmente a forma como se dá a práxis psicológica nesses meios, talvez, pela problematização da inserção desses profissionais nesses espaços, permitindo uma análise crítica das práticas que violam os Direitos Humanos. Segundo Domanico (2006), “o pânico do sujeito usuário de drogas acionado em relação ao crack reproduz estigmas e sofrimento de grupos sociais específicos relacionados ao consumo dessa droga”. Por isso, as (os) psicólogas (os) nos seus diversos contextos de trabalho podem questionar práticas autoritárias e produzir práticas democráticas condizentes com a perspectiva do cuidado e não a da tutela.
 Nos CAPS AD, por exemplo, encontramos um psicólogo que pode estar envolvido com o seguinte número de atividades, oferecidas aos pacientes:
 a - atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação,
entre outros);
 b - atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de
suporte social, entre outras);
 c - atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de
10
nível superior ou nível médio;
 d - visitas e atendimentos domiciliares;
 e - atendimento à família;
 f - atividades comunitárias enfocando a integração do dependente quími-
co na comunidade e sua inserção familiar e social;
 g - os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma
refeição diária; os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas
refeições diárias.
 h - atendimento de desintoxicação (Brasil, 2002a).
 Temos, portanto, um bom exemplo de espaço em que, muito logicamente, deve prezar pela interdisciplinaridade e intersetoriedade como exigências da práxis exigida pelo CREPOP para um atendimento competente, eficaz e humano.
 Mas cada programa e instituição exige do profissional de psicologia algumas competências e habilidades que se fazem necessárias de acordo com o que esta ou aquele propõem oferecer ao cidadão, dependendo do caso que consiste a demanda, por fim, constituindo princípios e diretrizes gerais. Por exemplo:
 As (os) psicólogas (os) inseridas (os) na Atenção Primária à Saúde (APS) 
realizam um trabalho intersetorial que leva em conta uma 
abordagem integral do indivíduo e o seu contexto familiar e cultural. O 
trabalho dos profissionais de saúde praticado no Núcleo de Apoio a Saúde 
da Família (NASF) permite um cuidado longitudinal, no qual o indivíduo e a 
comunidade são acompanhados por estratégias dinâmicas que visam 
produzir a atenção integral das pessoas atendidas pela Estratégia de Saúde 
da Família (ESF).
 
 Muito logicamente, em razão da quantidade de programas diferentes e instituições e centros de apoio psicossocial, destinados aos usuários de drogas, não podemos citar todas os princípios e diretrizes gerais que permeiam as tantas práticas do profissional de psicologia. Mas evidenciado está a necessidade deste de conhecer o campo em que atua, e as próprias práticas assim como as teorias, especialmente as críticas em relação às problemáticas vivenciadas pelos sujeitos que comporão suas demandas, de modo a poder mais competentemente atendê-las 
11
e contribuir para uma prática psicológica ética assim como humana e consciente.
12
3 DISCUSSÕES
 A partir do exposto, pudemos compreender melhor que, se tratando de políticas públicas de saúde, no que se refere à assistência aos usuários de álcool e outras drogas, está focada numa rede de atenção psicossocial que estabelece como prioritária a noção de integralidade, fundamentada na consideração da subjetividade e do campo das relações sociais como estruturante da atuação profissional. O psicólogo conta hoje com uma ampla opção de contextos nos quais atuar frente a essa demanda, e com profissionais de outras áreas: nos CAPS, AD, nos Consultórios de Rua, nas equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), nos Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Acolhimento (UA), nos Centros de Convivência, além de atuarem nos equipamentos da Assistência Social, nos Projetos de Inclusão Produtiva e de Geração de Trabalho e Renda, nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS), entre outros dispositivos da rede. Em decorrência dessa ampla e dinâmica rede de centros de assistência pelos quais são levados adiante os programas e políticas públicas, em especial aos usuários de drogas, há, também uma grande de diretrizes gerais e regras que precisam ser conhecidas pelo profissional de psicologia, assim como ele deve saber das muitas teorias, de modo a unir conhecimento teórico e competência, consciência social, multidisciplinaridade e ética. Mas, pelo que vimos, nem sempre foi assim.
 Notamos que no decorrer da história do Brasil, a psicologia nem sempre esteve envolvida com a política pública desaúde pelo menos não da forma como atualmente entendemos ser mais adequada às exigências naturais das demandas em seus diferentes graus de complexidade, como também a considerar a questão técnica e a ética. Os estudos que o CREPOP e o Conselho Federal de Psicologia tem feito, apontam que ainda é muito necessário formar melhor o profissional de psicologia e supervisioná-lo mais na sua prática profissional, de modo a estabelece o que deve ser melhorado, mudado. Segundo Yamamoto & Oliveira (2010), para efetivação da práxis psicológica seguindo as diretrizes e regras gerais, o documento aponta que algumas mudanças precisam ser feitas tanto nos referenciais teórico-metodológicos existentes quanto na adaptação dos profissionais já formados. Assim como na fundamentação dos projetos, dos programas, dos serviços e benefícios, ressaltando, ainda, a necessidade de compreender a pobreza e seus desdobramentos de uma forma que possibilite romper com o ciclo que a gera. 
 Afinal, o CRAS não é o lugar para a psicoterapia, mas sim o CAPS, por exemplo, e o psicólogo diante desta ampla rede de assistências que também configuram-se possíveis contextos de atuação, deve se referenciar a partir das diretrizes e regras gerais estipuladas de acordo pelos órgãos competentes. Ainda nesse sentido, apesar da recomendação clara pelos CREPOP/CFP, relata Yamamoto, os primeiros estudos sobre o trabalho do psicólogo nos CRAS, como o realizado por Cruz (2009) com psicólogos sergipanos, revelam que “uma das atividades mais desenvolvidas pelos psicólogos é a psicoterapia, seja individual ou em grupo. Além disso, foi constatado que os referenciais que norteiam as práticas são prioritariamente clínicos e que muito pouco se sabe sobre ações com comunidades”: o discurso do psicólogo ainda apresentada a clínica como um sinônimo de Psicologia. Isso precisa ser problematizado, e mudado. 
 Outro ponto relevante foi destacado por Ximenes, Paula e Barros (2009), ao dissertarem acerca das possibilidades de articulação entre a Psicologia Comunitária e a proteção social básica apontam pontos de tensão nessa relação que dizem respeito à política em si e, também, à Psicologia. Yamamoto e Oliveira (2010) aponta que no caso da Psicologia, “destaca-se a práxis ideológica que a profissão pode assumir ao se coadunar à política que tende a reproduzir ordens socialmente excludentes”. Então presumimos que isto põe o profissional de psicologia diante de um desafio que envolve transcender uma situação relativamente confortável devido ao fato de ser, a atuação transformadora e o conflito pertinente à política que envolve esta ação, na ordem social vigente, uma escolha ainda dispersa, distante. Portanto, constata-se que a formação do profissional de psicologia crítico ainda é novidade no Brasil – e para atuar na política social, o psicólogo é imprescindível tê-la. Do contrário, ele pode vir a não apenas “não produzir fissuras nas iniquidades reforçadas pela política, resulta” (Yamamoto & 
14
Oliveira, 2010), como reforçar politicamente essas iniquidades, por exemplo, através das ideologias e de práticas psicológicas ainda mais alienantes, ou pior, antiéticas e até mesmo criminosas, nos casos mais graves. Por outro lado, a atuação do psicólogo consciente e conhecedor dessas realidades (bem embasado teoricamente), compreende que precisa ir onde está o problema, se inserir nas comunidades, atuar de frente para as pessoas que formam um grupo dentro do qual alcançam maior força, desde que orientados por profissionais de psicologia altamente gabaritados e competentes, que não apenas reconhecem o vencimento da prática alienante da psicologia social ou comunitária antiga, como sabe que ela não responde aos critérios estabelecidos pelas diretrizes mais modernas que compõem as políticas sociais desenvolvidas nos últimos anos no país:
15
4 CONCLUSÕES 
 Nery (2009) e Senra (2009) relatam que o psicólogo é um dos profissionais mais presentes na assistência social brasileira, apenas atrás do assistente social e o pedagogo. Diante do que foi exposto neste trabalho, sabemos que a atuação do psicólogo nas políticas públicas não se deu de forma objetiva ou linear, mas envolvida de questões propriamente políticas e que precisa ser contextualizada socio-historicamente, se quisermos compreender as variáveis que não apenas determinaram a entrada tardia da psicologia no campo da política pública e das assistências sociais como também questões a serem ainda hoje revistas, combatidas e superadas pela categoria. 
 Ficou claro que são duas dessas variáveis: regimes antidemocráticos (a história de inconstância política do nosso pais) e questões político-ideológicas – em particular, esta última, divide-se, primeiro, no que pode permear a práxis do psicólogo que, desde muito cedo, vê como a clinica como sinônimo da ciência psicológica ou pode estar imbuído de ideologias contrárias às teorias críticas da psicologia (o que pode ocasionar conflito entre a prática e a política pública, necessariamente), e segundo, nas inconstâncias que se fizeram as políticas de saúde pública no Brasil mesmo após o regime militar. Sobre esta circunstância, referida por último, foi importante a implementação de instituições como CRAS, CREAS para o atendimento diferente de tudo que já fora criado no país a nível político e as diretrizes que embasam a nova prática, assim como a constituinte e os estatutos que se fizeram posteriormente contribuem para a atuação mais ampla do psicólogo. Ou seja, não se pode pensar em melhorias das políticas públicas com envolvimento da psicologia sem nos atermos ao contexto sócio-histórico em que elas se dão.
 No decorrer deste trabalho, evidenciou-se, também, a necessidade de termos esse profissional envolvido com as políticas públicas de saúde, nos diferentes meios em que elas se fazem presentes. Desse modo, é importantíssimo que o profissional seja altamente qualificado, formado a partir de bases teóricas críticas, e claro, supervisionado por órgãos competentes, como o CREPOP e o CFP, de modo a fazer convergir a práxis psicológica com os objetivos preestabelecidos nas políticas públicas à população mais vulnerável e tornar isso consistente e duradouro. Do contrário, tudo pode ir por água abaixo, e pior, produzir efeito contrário ao que se pretende. 
 A exemplo do CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) e no CREAS (Centro de Referência, o psicólogo, na equipe assistencial, é um dos profissionais de referência, ao lado do assistente social, que compõem a equipe mínima de nível superior (Yamamoto & Oliveira, 2010). No CREAS, além dos dois profissionais citados, está previsto um advogado. E devido a realização de atividades educativas ligadas a alguns projetos do MDS, os CRAS têm aberto espaço para outros profissionais, com destaque para pedagogos, sem prejuízo para as demais categorias ocupacionais. Porém:
Os modelos de trabalho na assistência social têm sido alvo de estudos dos 
núcleos de representação profissional de psicólogos e assistentes sociais. 
Essas discussões visam construir parâmetros e diretrizes de trabalho que
fujam das formas clientelistas e assistencialistas características da 
assistência social em tempos passados. (Yamamoto & Oliveira, 2010)
 Como ficou claro, a iniciativa primeira dessa parceria resultou no documento denominado “Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos (as) na Política de Assitência Social” (Conselho Federal de Serviço Social & Conselho Federal de Psicologia, 2007). O próprio CREPOP, órgão vinculado ao CFP, lembra Yamamoto & Oliveira, vem realizando sucessivos levantamentos e pesquisas sobre a atuação dos psicólogos nas políticas públicas brasileiras (CFP 2009a, 2009b, 2009c). “De posse dos dados, o CREPOP lançou diversos guias de orientação para os psicólogos tendo em vista subsidiar a prática que vem sendorealizada de forma que esta se coadune às propostas das referidas políticas”. Entre esses guias, usamos um para a feitura deste trabalho com referência ao atendimento aos usuários de drogas lícitas e ilícitas.
Compreendemos, finalmente, a importância desse documento pelo que ele advoga: reitera a Psicologia como uma prática que deve se comprometer com a 
17
transformação social e “toma como foco as necessidades, potencialidades, objetivos e experiências dos oprimidos” (CFP, 2008, p. 22). Definitivamente, além desse papel, o documento propõe que os psicólogos atuem sobre a dimensão subjetiva dos indivíduos para favorecer sua autonomia, enfatizando que a pessoa deve ocupar um lugar de poder, “de construtor de seu próprio direito e da satisfação de suas necessidades” (CFP, 2008, p. 23).
18
REFERÊNCIAS
 YAMAMOTO, O. H, OLIVEIRA, I. F. Política Social e Psicologia: Uma Tragetória de 25 Anos. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 9-24.
 XIMENES, V. M., PAULA, L. R. C., & BARROS, J. P. P. (2009).. Psicologia Comunitária e Política de Assistência Social: diálogos sobre atuação em comunidades. Psicologia Ciência e Profissão, 29, 686-699.
 SCHWARZ, R. (1970). Remarques sur la culture et la politique au Brésil. 1964-1969. Les Temps Modernes, 288, 37-73.
 GERMANO, J. W. (1993). Estado militar e educação no Brasil (1964/1985). São Paulo: Cortez.
 NETTO, J. P. (1990). Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez.
 PÉCAULT, D. (1990). Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. São Paulo: Ática.
 PASTORINI, A. (2004). A categoria “questão social” em debate.
São Paulo: Cortez.
 SANTOS, W. G. (1987). A trágica condição da política social.
 ABRANCHES, S. H., W. G. dos Santos & M. A. Coimbra (Orgs.), Política social e combate à pobreza (2a ed.) (pp. 33-63). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
 SCHWARZ, R. (1970). Remarques sur la culture et la politique au Brésil, 1964-1969. Les Temps Modernes, 288, 37-73.
 ABRANCHES, S. H. (1985). Os despossuídos: crescimento e pobreza no País do Milagre (2a ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar
 Ministério da Saúde (04/03/2008). Portaria 154 de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Diário Oficial da União, 43, 38-42.
 Ministério da Saúde (1999). Manual para a organização da atenção básica. Brasília: Secretaria de Assistência à Saúde, Ministério da Saúde.
 NERY, V. P. (2009). O trabalho de assistentes sociais e psicólogos na política de assistência social – saberes e direitos em questão. Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS (2004). Política Nacional de Assistência Social. Brasília: MDS.
 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS (2009). Orientações técnicas - Centro de Referência da Assistência Social. Brasília: MDS.
 Conselho Federal de Serviço Social & Conselho Federal de Psicologia (2007). Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos(as) na Política de Assistência Social. Brasília: CFSS/ CFP.
 Conselho Federal de Psicologia – CFP (2008). Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS. Brasília: CFP.
 Conselho Federal de Psicologia – CFP (2009a). A prática profissional 
20
dos(as) psicólogos(as) no campo das medidas socioeducativas em meio aberto. Brasília: CFP.
 ESCOHOTADO, Antonio. Historia elemental de las drogas. Anagrama,
2009. Editora, 2001, v. 1, p. 159-162.
 BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório Final da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília, 2002b.
 DOMANICO, Andrea. Craqueiros e cracados bem vindo ao mundo dos nóias: estudo sobre a implantação de estratégias de redução de danos para usuários de crack nos cinco projetos-pilotos do Brasil. 2006. 220f. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2006.
 NERY FILHO, Antônio. Entrevista. In: Toxicomanias incidências clínicas e sócio-antropológicas. EDUFBA. Salvador, 2009.
21

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes