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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
ESCOLA DE VETERINÁRIA 
Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS DE 
OFTALMOLOGIA CLÍNICA 
 
 Prof. Fernando Antônio Bretas Viana 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
2002 
ii 
 
 
 
 
FERNANDO ANTÔNIO BRETAS VIANA 
Médico Veterinário (EV/UFMG - 1981) 
Mestre em Medicina e Cirurgia Veterinárias (EV/UFMG – 1984) 
Doutorando em Medicina – Oftalmologia (FM/UFMG) 
Professor – Escola de Veterinária da UFMG 
 
RUBENS ANTONIO CARNEIRO 
Médico Veterinário (EV/UFMG - 1979) 
Mestre em Medicina e Cirurgia Veterinárias (EV/UFMG – 1995) 
Doutorando em Ciência Animal (EV/UFMG) 
Professor – Escola de Veterinária da UFMG 
Neuro-oftalmologia 
 
FABIENE FERREIRA 
Médica Veterinária (EV/UFMG - 1998) 
Mestre em Medicina e Cirurgia Veterinárias (EV/UFMG – 2001) 
Doutorando em Ciência Animal (EV/UFMG) 
Manifestações oculares de doenças sistêmicas 
 
JULIANA DE OLIVEIRA 
Médica Veterinária (EV/UFSM – 2000) 
Mestranda em Medicina e Cirurgia Veterinárias (EV/UFMG) 
Ilustração da capa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
Estrutura e função do olho 01 
Semiologia oftalmológica 16 
Terapêutica oftalmológica 30 
Pálpebras 51 
Órbita e músculos perioculares 60 
Conjuntiva e membrana nictitante 64 
Sistema lacrimal 68 
Córnea e esclera 72 
Úvea 83 
Glaucoma 91 
Lente 97 
Vítreo e retina 101 
Neuro-oftalmologia 107 
Manifestações oculares de doenças sistêmicas 118 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
 
ESTRUTURA E FUNÇÃO DO OLHO 
 
 
 
ANATOMIA 
 
 
1. ÓRBITA: 
A órbita é uma cavidade óssea que separa o globo ocular da cavidade craniana, com a 
principal função de protegê-lo. Seu formato e posicionamento no crânio estão intimamente 
relacionados à atividade visual e ao comportamento alimentar do animal. 
Dependendo da espécie, a órbita é formada por cinco a sete ossos, possuidores de vários 
foramens e fissuras que permitem a passagem de nervos e vasos sanguíneos. Internamente, é 
revestida por uma fina camada de tecido conjuntivo denominado fascia orbital, subdividida 
em três porções: 
• Periórbita: É uma fina membrana fibrosa aderida à órbita, sob a forma de periósteo, que 
reveste o olho e seus músculos, vasos sanguíneos e nervos; 
• Fascia bulbar (ou cápsula de Tenon): É uma condensação do tecido conjuntivo externo 
da esclera, estando aderido a esta desde o limbo até a porção posterior do globo ocular; 
• Bainhas dos músculos oculares. 
 
2. PÁLPEBRAS: 
 
As pálpebras são pregas tegumentares modificadas, com estrutura central formada por tecido 
fibroso (septo orbital) e possuidoras de bordas livres mais espessas e pigmentadas (tarso). 
No tarso se implantam os cílios e se abrem os ductos das glândulas de meibômio (ou tarsais) 
e Zeis, ambas sebáceas, cujas secreções participam da formação do filme pré-corneano e 
impedem seu escoamento pelas margens palpebrais. A abertura formada pelas margens 
palpebrais livres recebe o nome de fissura palpebral e tem uma forma elíptica graças à 
presença dos ligamentos palpebrais medial e lateral, que ancoram os cantos palpebrais à 
órbita. Os músculos palpebrais, suas ações e inervação estão listados na TAB. I. 
A presença de cílios é variável entre as espécies, normalmente estando presentes apenas na 
pálpebra superior; os ruminantes possuem cílios em ambas as pálpebras e os suínos não os 
têm. Destaca-se também, nos eqüinos, a presença de uma protuberância de tamanho variável 
no canto medial, denominada carúncula lacrimal. 
No canto medial das pálpebras estão situados os pontos lacrimais superior e inferior, 
orifícios através dos quais a lágrima é drenada. 
As principais funções das pálpebras são (a) proteção do globo ocular como um todo, (b) 
proteção da córnea, evitando seu ressecamento, (c) produção da fração lipídica do filme pré-
corneano, (d) regulagem da entrada de luz no olho, (e) remoção de corpos estranhos e (f) 
encaminhamento da lágrima para a drenagem. 
2
 
3. SISTEMA LACRIMAL: 
A principal glândula responsável pela produção do filme pré-corneano (lágrima) é a 
lacrimal, situada na fossa lacrimal do teto da cavidade orbitária e com ductos abrindo-se no 
canto lateral do olho, nos fórnices conjuntivais. 
O filme pré-corneano é formado por três componentes que são, de dentro para fora, os 
seguintes: 
• Fração mucosa (mucina), produzida pelas células caliciformes da conjuntiva e que 
garante a aderência do filme pré-corneano à córnea e uma maior regularidade anatômica à 
sua superfície; 
• Fração serosa, a mais abundante das três, formada pelas glândulas lacrimal e nictitante, 
com as seguintes funções: 
? Encaminhar corpos estranhos e bactérias ao sistema de drenagem; 
? Evitar o atrito das pálpebras e da nictitante sobre a córnea; 
? Atuar como meio de transferência entre a córnea e o oxigênio atmosférico, células 
inflamatórias e anticorpos, bem como na remoção de seus metabólitos; 
? Garantir, junto com a camada mucosa, uma superfície lisa à córnea, visando uma 
melhor eficiência óptica; 
? Atuar como fonte de substâncias antimicrobianas, como anticorpos, lactoferrina e 
lisozima; 
• Fração lipídica, produzida pelas glândulas de meibômio, Moll e Zeis, cuja função é evitar 
a evaporação e o transbordamento da lágrima. 
A lágrima, após irrigar o olho, segue o seguinte trajeto até alcançar a cavidade nasal: Ângulo 
medial → lago lacrimal → pontos lacrimais superior e inferior → ducto lácrimo-nasal → 
cavidade nasal. 
 
4. MÚSCULOS OCULARES: 
O globo ocular é suprido por sete músculos, sendo quatro retos (superior, inferior, lateral e 
medial), dois oblíquos (superior e inferior) e o retrator do bulbo. São os responsáveis por 
manter suspenso o globo ocular na órbita e permitir seus movimentos. A TAB. I lista os 
músculos do globo ocular e das pálpebras com sua função e inervação. 
 
5. CONJUNTIVA: 
A conjuntiva é uma membrana transparente, formada por tecido conjuntivo frouxo que 
reveste a face interna das pálpebras (conjuntiva palpebral) e o globo ocular até a região do 
limbo (conjuntiva bulbar); a junção dos dois folhetos recebe o nome de fórnice conjuntival 
e o espaço entre os mesmos de saco conjuntival. No fórnice inferior, a conjuntiva apresenta 
uma prega denominada terceira pálpebra ou membrana nictitante. 
Observação: Limbo é o ponto de união entre esclera, cápsula de Tenon e conjuntiva. 
A substância própria da conjuntiva é formada por duas camadas, uma superficial glandular, 
rica em folículos linfóides e células produtoras de muco, e uma profunda fibrosa. A presença 
deste tecido linfóide é de grande importância nos mecanismos de defesa do olho e, por isto, 
alguns autores consideram a conjuntiva como um “linfonodo invertido”. 
 
3 
 
TAB. I: Músculos do globo ocular e pálpebras: 
 
Músculo Função Inervação 
Pálpebras 
Elevador palpebral superior Elevação da pálpebra superior Oculomotor 
Orbicular ocular Fechamento da comissura palpebral Facial 
Retrator do ângulo ocular Alongamento lateral da fissura palpebral Facial 
Corrugador superciliar Auxílio na elevação da pálpebra superior Facial 
Globo ocular 
Reto superior Rotação superior do globo Oculomotor 
Reto ventral Rotação inferior do globo Oculomotor 
Reto medial Rotação medial do globo Oculomotor 
Reto lateral Rotação lateral do globo Abducente 
Oblíquo dorsal Rotação médio-dorsal do globo Troclear 
Oblíquo ventral Rotação médio-ventral do globo Oculomotor 
Retrator do bulbo Retração do globo Abducente 
 
TERCEIRA PÁLPEBRA: 
A terceira pálpebra ou membrana nictitante é uma prega da conjuntiva, possuidora, no seu 
interior, de uma cartilagem hialina em formade “T” e, em sua face posterior, um tecido 
linfóide envolvido nos mecanismos de proteção do globo ocular. Possui ainda a glândula 
nictitante, responsável pela produção de parte da fração serosa da lágrima. Em algumas 
espécies (p. ex. suínos), há uma segunda glândula contígua à nictitante, situada na região 
periorbital, denominada glândula de Harder, cuja função ainda é obscura, mas parece estar 
relacionada à defesa imunológica do olho. 
A musculatura da nictitante é vestigial nos animais domésticos, que perderam a capacidade de 
seu controle voluntário. Alguns animais silvestres ainda fecham a terceira pálpebra voluntária 
e isoladamente das pálpebras, permitindo uma proteção ao globo ocular e uma certa captação 
de luz; é o que ocorre, por exemplo, em espécies que vivem em desertos, sujeitas a 
tempestades de areia. 
 
6. GLOBO OCULAR: 
O globo ocular é formado por três camadas ou túnicas: 
• Túnica externa ou fibrosa, constituída por córnea e esclera, primariamente atuando na 
manutenção da forma do globo ocular; 
• Túnica intermediária ou vascular (= úvea), formada por íris, corpo ciliar e coróide, com 
a principal função de fornecer nutrientes e carrear para fora do globo os catabólitos por ele 
produzidos; 
4
 
• Túnica interna ou nervosa, constituída pela retina, que capta e transmite os estímulos 
luminosos. 
 
6.1. CÓRNEA: 
É uma estrutura transparente que ocupa, nos animais, uma grande porção na região anterior 
do globo, proporcionalmente muito maior que no homem. A transparência corneana é obtida 
pela disposição das lamelas, avascularização, presença de nervos desmielinizados e um 
sistema de bomba aspirante-premente do endotélio, que regula seus teores de água. A 
inervação é feita pelo ramo oftálmico do trigêmeo e a nutrição é obtida através da lágrima, 
humor aquoso e vasos perilimbais, vindo o oxigênio diretamente do meio ambiente. 
A espessura da córnea varia de acordo com a espécie, mas na maioria dos animais domésticos 
é menor que um milímetro (0,45-0,65 mm no cão, dependendo da região), embora possa 
chegar a 1,5 mm nos eqüinos e 2 mm nos bovinos. Esta espessura é maior no centro que na 
região perilimbal e pode reduzir-se em função da idade e do sexo, pois as fêmeas 
normalmente possuem córneas mais finas. 
A córnea dos animais domésticos possui quatro camadas que são, de fora para dentro: 
? Epitélio: O epitélio que recobre a superfície anterior da córnea é do tipo estratificado 
pavimentoso não queratinizado, formado por duas ou três camadas de células poliédricas e 
igual número de camadas de células escamosas. No homem, está separado do estroma 
pela lâmina limitante anterior ou membrana de Bowman; 
? Estroma: O estroma corneano ou substância própria representa 90% da espessura total da 
córnea. É constituído basicamente por lamelas de tecido fibroso, com algumas poucas 
células que as produzem, fibrócitos denominados queratócitos. A correta disposição 
destas lamelas é um dos mais importantes fatores que garantem a transparência corneana; 
? Membrana de Descemet: Também denominada lâmina limitante posterior, a Descemet é 
uma membrana basal acelular do endotélio, constituída principalmente por fibras 
colágenas; 
? Endotélio, formado por uma camada simples de células endoteliais. São células de baixo 
poder de regeneração e uma eventual perda de grandes quantidades das mesmas (p. ex. em 
uveítes severas) pode causar edema e opacidade corneana permanentes, sobretudo em 
animais idosos. 
A córnea constitui, juntamente com a lente e os humores aquoso e vítreo, um dos elementos 
refrativos do olho. 
 
6.2. ESCLERA: 
A esclera é uma estrutura morfologicamente semelhante à córnea, mas destituída de 
transparência, devido às suas fibras irregularmente organizadas, abundante vascularização e 
baixo conteúdo de mucopolissacarídeos. Estende-se por todo o globo ocular, a partir do 
limbo, e apresenta, na sua porção posterior, a chamada lâmina cribrosa, local por onde 
penetram as fibras do nervo óptico. 
Morfologicamente, a esclera se divide em três porções: 
• Episclera ou lâmina episcleral, camada densa e altamente vascularizada, intimamente 
ligada à cápsula de Tenon; 
• Esclera ou substância própria, composta por fibroblastos e colágeno; 
5 
 
• Lâmina fusca, de fibras colágenas, que divide a esclera da úvea. É uma área rica em 
melanócitos e macrófagos. 
A coloração da esclera pode variar de acordo com a espessura de seu estroma (parece azulada 
quando este é muito fino) ou com alto teor de gordura (torna-se amarelada). A lâmina fusca 
tem uma coloração amarronzada. 
Peixes, lagartos, quelônios e alguns anfíbios e pássaros possuem a esclera formada por peças 
cartilaginosas e ósseas, que mantêm a forma do globo e supostamente são responsáveis por 
parte do fenômeno da acomodação visual, por possibilitarem um alongamento do mesmo. 
 
6.3. ÚVEA: 
A úvea é uma estrutura formada por coróide, corpo ciliar e íris. Íris e corpo ciliar são 
denominados úvea anterior e a coróide úvea posterior. 
 
a. ÍRIS: 
A íris é um diafragma formado por um tecido conjuntivo frouxo pigmentado e muito 
vascularizado, que divide o compartimento ocular anterior nas câmaras anterior e posterior, 
que se comunicam através da pupila. 
Grosseiramente a íris pode ser dividida em duas porções, a zona pupilar e a zona periférica, 
divididas entre si pelo colarete. A zona pupilar normalmente é mais pigmentada que o 
restante da íris. 
Histologicamente, a íris é dividida em: 
• Lâmina marginal anterior, formada por fibroblastos e melanócitos; 
• Estroma, constituído por tecido conjuntivo frouxo, fibroblastos e melanócitos. No 
estroma está presente um músculo disposto em forma de anel, o esfíncter da íris (= 
constrictor pupilar), de inervação parassimpática e responsável pela constricção pupilar; 
• Epitélio: Representa um prolongamento da retina, que também atapeta os processos 
ciliares. O epitélio anterior contém fibras musculares que dão origem ao músculo 
dilatador pupilar, de inervação simpática. O epitélio posterior é rico em grânulos de 
melanina e apresenta uma membrana basal em sua superfície livre. 
A cor da íris varia em função da espécie e raça, dependendo primariamente da quantidade e 
tipo de pigmentação presente e do grau de vascularização. A presença de carotenóides na 
alimentação pode modificar a coloração da íris. 
A pupila tem uma forma que varia de acordo com a espécie, sendo redonda nos primatas, 
canídeos e suínos, fusiforme vertical (quando em miose) nos felinos e oval em um plano 
horizontal nos ungulados. Na borda superior da pupila dos ungulados são observadas massas 
arredondadas de tamanho variável, extensões do epitélio pigmentado posterior da íris, 
denominados grânulos iridianos ou corpora nigra, que têm a função de aumentar a 
efetividade da constricção pupilar. A principal função da pupila é controlar a entrada da luz 
que incide sobre a retina, através dos reflexos pupilares. 
 
b. CORPO CILIAR: 
O corpo ciliar é uma prolongamento da coróide e está contíguo à face posterior da íris. 
Topograficamente, é dividido em duas porções, uma anterior (pars plicata) e uma posterior 
6
 
(pars plana). Possui como principais funções o fornecimento de nutrientes à córnea e lente e 
a remoção de seus catabólitos. Estas funções são desempenhadas pelo humor aquoso, líquido 
continuamente produzido pelo próprio corpo ciliar e drenado através do ângulo iridocorneano. 
O humor aquoso desempenha ainda importante função na manutenção da pressão intra-
ocular, sendo o principal responsável pela rigidez ocular. Além destas funções, o corpo ciliar 
tem ancorada a si a lente, através dos ligamentos suspensórios (= fibras zonulares) e, em 
última análise, sua contração é a responsável pela alteração na forma da mesma e conseqüente 
acomodação visual. 
A pars plicata é um anel formado por 70 a 100 processosciliares nos mamíferos. Estes 
processos têm a função de aumentar a área de produção do humor aquoso. Em algumas 
espécies (anuros, aves e alguns répteis), estão diretamente conectados à lente e são os 
principais responsáveis pela acomodação visual. 
A pars plana situa-se entre a porção terminal dos processos ciliares e o início da retina, 
formando, nesta área de união, a ora ciliar retiniana. 
A porção mais anterior do corpo ciliar forma, juntamente com a túnica córneo-escleral e a 
base da íris, o ângulo iridocorneano. A maior parte do humor aquoso é drenada através desta 
região, atravessando os ligamentos pectinados e caindo no plexo venoso intra-escleral. 
A contração do músculo ciliar, de fibras lisas e inervação simpática, é o responsável pelo 
fenômeno da acomodação visual e por um aumento na drenagem do humor aquoso. O 
espasmo deste músculo, quando a região se inflama, é causa de dor ocular, justificando o uso 
de colírios que causam sua paralisia (cicloplégicos). 
 
c. CORÓIDE: 
A coróide é uma estrutura fina, pigmentada e muito vascularizada, que se estende do corpo 
ciliar ao nervo óptico. É formada pelas lâminas vascular (vasos mais calibrosos) e 
coriocapilar (capilares) e tem como principal função a nutrição da retina. 
Entre as duas lâminas da coróide encontra-se uma área em forma de rim rica em melanócitos 
e localizada na porção superior, denominada área tapetal (= tapetum lucidum). A área 
tapetal é fibrosa nos herbívoros (tapetum fibrosum) e celular nos carnívoros (tapetum 
cellulosum) e seu tamanho está diretamente relacionado à atividade noturna do animal; pois 
tem a função de refletir a luz, fazendo com que a mesma incida pela segunda vez sobre a 
retina e, portanto, seja mais absorvida pela mesma. Os suínos são os únicos animais 
domésticos que não possuem tapete. A porção remanescente da coróide recebe o nome de 
área não tapetal ou tapetum nigrum. 
 
6.4. LENTE (= CRISTALINO): 
É uma estrutura de origem ectodérmica, forma biconvexa, avascular, transparente e com a 
superfície anterior menos convexa que a posterior. Os centros das superfícies são 
denominados pólos anterior e posterior e a circunferência lateral de equador. Está suspensa 
no centro do olho através dos ligamentos suspensórios, cujo estiramento garante a 
acomodação visual, sua principal função. 
Morfologicamente, a lente é formada pelas seguintes estruturas: 
7 
 
• Cápsula: A cápsula é um envelope transparente e flexível, formado por fibras colágenas e 
carboidratos complexos. Divide-se em cápsula anterior e cápsula posterior, 
respectivamente situadas em cada um dos pólos da lente. É impermeável a moléculas 
grandes, mas permite a passagem de água e eletrólitos. Pela sua elasticidade, a cápsula 
regula a forma da lente; 
• Epitélio da lente: Células epiteliais cúbicas situam-se sob a cápsula anterior e o equador, 
sendo importantes no transporte de cátions através da cápsula. Devido à grande atividade 
mitótica destas células, as opacidades produzidas por fatores tóxicos são comuns na área; 
• Substância própria: É composta por células (ou fibras) que se achatam em camadas 
denominadas lamelas. As células epiteliais perdem seus núcleos e se transformam em 
fibras que, pelo seu crescimento antero-posterior, formam as duas suturas em forma de 
“Y” em ambos os pólos, sendo o posterior invertido. Estas depressões normalmente só são 
visíveis a olho nu quando há alguma opacificação lenticular. As fibras mais velhas (e mais 
centrais) formam o núcleo da lente, ao passo que as mais novas constituem o seu córtex. 
Quimicamente, a lente é quase exclusivamente formada por proteínas (35%) e água (65%). O 
oxigênio e os metabólitos necessários à sua manutenção chegam primariamente através do 
humor aquoso que, quando tem sua composição alterada, determina distúrbios no 
metabolismo e transparência da lente. O metabolismo da glicose fornece a maioria da energia 
requerida pela lente. 
 
6.5. HUMOR VÍTREO: 
O humor vítreo é um hidrogel transparente localizado na câmara vítrea, que ocupa entre 60 e 
80% do volume total do globo ocular dos animais domésticos. Forma um suporte gelatinoso à 
retina e tem sua porção anterior côncava, formando a fossa patelar que está em íntimo 
contato com a lente. As principais funções do vítreo são a transmissão da luz e a manutenção 
da forma do globo e da posição normal da retina. É formado durante o desenvolvimento do 
organismo e, embriologicamente, possui três componentes: 
• Vítreo primário, formado através do sistema vascular hialóide, através de células 
mesodérmicas, fibras e secreções da lente e da superfície neural da retina. No adulto, 
persiste entre o pólo posterior da lente e o disco óptico, onde se observa um canal central 
denominado canal de Cloquet, remanescente da passagem da artéria hialóide; 
• Vítreo secundário, formado ao redor do primário, secretado pelo ectoderma retiniano; 
• Vítreo terciário, secretado pelo epitélio do corpo ciliar, persiste no adulto como os 
ligamentos suspensórios da lente, já discutidos anteriormente. 
Quimicamente, o vítreo é constituído por 98% de água e 2% de proteínas, ácido hialurônico e 
colágeno. A consistência do vítreo é uniforme na maioria das espécies, mas algumas, como os 
carnívoros, possuem a parte central mais densa. Animais mais velhos podem apresentar 
buracos ou liquefações (sinéreses) vítreas. 
 
6.6. RETINA: 
A retina é a estrutura ocular responsável pela captação dos estímulos luminosos, para a qual 
utiliza seus dois fotorreceptores; cones e bastonetes. Estas células, altamente especializadas e 
complexas, contêm fotopigmentos que produzem energia química quando expostas à luz; 
posteriormente, esta energia é transformada em impulsos elétricos que chegam ao córtex 
visual. Os bastonetes, células muito sensíveis, são responsáveis pela captação de estímulos 
8
 
luminosos de baixa intensidade na visão noturna (= visão escotópica). Os cones, ao contrário 
dos anteriores, só conseguem captar estímulos de alta intensidade, sob condições de 
iluminação abundante, sendo os responsáveis pela visão diurna colorida (= visão fotópica). 
Anatomicamente, a retina é dividida em três unidades neuronais sensoriais, formadas por 10 
camadas que são, da órbita para o vítreo: 
 
Epitélio pigmentado 
Camada de fotorreceptores (cones e bastonetes) 
Membrana limitante externa 
Camada nuclear externa 
Neurônio I 
Camada plexiforme externa 
Camada nuclear interna 
Neurônio II 
Camada plexiforme interna 
Camada ganglionar 
Camada de fibras nervosa Neurônio III 
Membrana limitante interna 
 
• Epitélio pigmentado, formado por células pavimentosas poligonais, desempenha papel 
fundamental no metabolismo da retina e produz grânulos de melanina que absorvem a luz 
e excitam os fotorreceptores; 
• Camada de fotorreceptores, formada pelos segmentos externos de cones e bastonetes; 
• Membrana limitante externa, estrutura crivada através da qual passam as partes 
externas dos fotorreceptores, que nela estão fixadas. Observa-se ainda nesta camada as 
células de Müller, um tipo de célula glial que se estende entre as duas membranas 
limitantes, formando um “esqueleto” estrutural da retina; 
• Camada nuclear externa, formada pelos núcleos dos fotorreceptores; 
• Camada plexiforme externa, onde os axônios dos bastonetes e cones entram em sinapse 
com os dendritos das células (neurônios) bipolares; 
• Camada nuclear interna, que contém os núcleos dos neurônios bipolares, células de 
Müller, células horizontais (neurônios de associação) e células amácrinas; 
• Camada plexiforme interna, que é a segunda e última região sináptica da retina, 
formada principalmente por axônios das células bipolares e dendritos das células 
ganglionares; 
• Camada ganglionar, que contém as células ganglionares, que representam o terceiro 
neurônio das vias ópticas; 
•Camada de fibras nervosas, formada pelos axônios das células ganglionares. Formam 
fibras amielínicas distribuídas em feixes que se estendem paralelamente à superfície da 
retina e convergem ao nível do disco óptico, formando o nervo óptico; 
• Membrana limitante interna, membrana basal que recobre a porção final das células de 
Müller. 
 
9 
 
7. NOÇÕES DE NEUROANATOMIA ÓPTICA: 
 
7.1. VIA ÓPTICA CENTRAL: 
O olho representa uma pequena parte do sistema visual. As fibras originárias da camada de 
fibras nervosas da retina convergem ao disco óptico, ganhando uma bainha de mielina e 
atravessando a esclera através da lâmina cribrosa. Através do nervo óptico estas fibras 
chegam ao quiasma óptico, onde sofrem uma decussação parcial, permitindo que um objeto 
focado em um dos olhos possa gerar estímulos em ambos os lados do cérebro. A proporção 
desta decussação está diretamente relacionada à posição dos olhos em relação à cabeça, sendo 
alta em animais com olhos laterais (83% em bovinos e eqüinos) e mais baixa naqueles que 
possuem olhos frontais (70% em carnívoros e 50% no homem); os vertebrados primitivos 
apresentam decussação total. 
Do quiasma óptico as fibras entram nos tratos ópticos direito e esquerdo, passam através do 
corpo geniculado lateral e, através da radiação óptica, chegam ao córtex visual. Nos 
carnívoros, o córtex visual parece não ser o único centro de estímulos visuais, pois mesmo 
após sua remoção ainda há percepção e discriminação de intensidade luminosa, sugerindo 
uma integração subcortical. 
 
7.2. SUPRIMENTO NERVOSO DO OLHO E ANEXOS: 
• Nervo óptico (II): Faz parte da via óptica; 
• Nervo oculomotor (III): Inerva os músculos reto ventral, reto dorsal, reto medial, 
oblíquo inferior e elevador palpebral superior. Também carreia fibras parassimpáticas que 
inervam o esfíncter pupilar e o músculo ciliar; 
• Nervo troclear (IV): Inerva o músculo oblíquo dorsal; 
• Nervo trigêmeo (V): Nervo sensorial, é dividido em três ramos, dos quais apenas o nervo 
oftálmico está diretamente relacionado ao olho, subdividindo-se em nervos supraorbital, 
lacrimal e nasociliar. O nervo supraorbital inerva uma parte da pálpebra superior e áreas 
adjacentes e o nervo lacrimal a glândula lacrimal. O nervo nasociliar se subdivide em 
nervos etmoidal e infratroclear, sendo o último responsável pela inervação do canto 
medial, membrana nictitante e sistema lacrimal adjacente. O nasociliar inerva ainda o 
globo como um todo; 
• Nervo abducente (VI): Inerva os músculos retrator do bulbo e reto lateral; 
• Nervo facial (VII): Contém fibras somáticas motoras e parassimpáticas, inervando os 
músculos orbicular e retrator do ângulo (através do ramo denominado nervo palpebral) e 
parte da glândula lacrimal. 
 
8. SUPRIMENTO SANGUÍNEO DO OLHO E ANEXOS: 
 
8.1. SUPRIMENTO ARTERIAL: 
O principal suprimento sanguíneo do globo ocular é feito através da artéria oftálmica 
externa, ramo da maxilar externa, que por sua vez se origina da carótida externa. A artéria 
oftálmica externa penetra no globo ocular e emite numerosas artérias ciliares posteriores 
curtas, que fornecem sangue à coróide e retina. As artérias ciliares posteriores longas e 
artérias ciliares mediais, as primeiras em anastomose com as artérias ciliares anteriores, 
respondem pelo suprimento sanguíneo do corpo ciliar. Ramos do plexo arterial ciliar 
10
 
formam o círculo arterial maior da íris. As pálpebras são supridas pela artéria temporal 
superficial, ramo da carótida externa, e pela artéria malar, ramo da infra-orbital. 
 
8.2. DRENAGEM VENOSA: 
A drenagem venosa da retina é feita através de veias e vênulas que circundam a periferia do 
nervo óptico. O círculo venoso retiniano (incompleto em algumas espécies) conduz o sangue 
venoso à esclera, através das veias ciliares posteriores, até uma dilatação da veia orbital, a 
veia oftálmica superior. 
A coróide é drenada através das veias vórtex, que se unem próximo ao equador do globo para 
formar as veias oftálmicas superior e inferior. O corpo ciliar é drenado pelas veias ciliares 
anteriores até estas mesmas veias oftálmicas superior e inferior, que conduzem o sangue 
venoso até o plexo venoso orbital. Finalmente, após uma série de anastomoses venosas, o 
sangue drenado do globo ocular chega até várias veias mais calibrosas, das quais se destaca a 
veia jugular externa. 
 
 
NOÇÕES DE FISIOLOGIA OCULAR 
 
 
1. NOÇÕES DE ÓPTICA: 
 
a. Natureza da luz: 
A luz é uma radiação eletromagnética que se propaga através de ondas. O olho humano é 
sensível a comprimentos de onda que variam entre 400 (violeta) e 700 nm (vermelho); cores 
fora destes limites (ultravioleta e infravermelho) não são percebidas pelo homem, mas podem 
penetrar no olho e causar determinados problemas. A velocidade de propagação desta luz 
varia de acordo com o meio, sendo maior no ar que em outras substâncias transparentes. 
Quando a luz incide sobre um objeto, pode sofrer reflexão, refração, dispersão ou uma 
associação destes fenômenos. Na reflexão, os raios luminosos retornam ao meio original após 
serem refletidos em determinada superfície. Ocorre refração quando a luz passa através de 
dois ou mais meios com índices refrativos diferentes (p. ex. ar e córnea), sofrendo então um 
desvio de sua trajetória. Finalmente, há dispersão quando os raios luminosos atravessam a 
retina e por ela são absorvidos. 
 
b. Prismas e lentes: 
Quando a luz atravessa um prisma, sofre um desvio; a extensão deste desvio, variável de 
acordo com o poder óptico do prisma, é medida em dioptrias (D). Assim, um prisma de 1 D 
desvia um raio de luz um centímetro a uma distância de um metro. 
Uma lente pode ser considerada como um conjunto de prismas. Cada lente possui um ponto 
focal, local onde os raios luminosos paralelos se concentram em um único ponto. Nas lentes 
côncavas, que causam divergência da luz, este ponto focal é apenas virtual, estando situado 
entre a fonte de luz e a lente. O poder óptico de uma lente também é expresso em dioptrias, 
calculadas através da seguinte fórmula: 
11 
 
D = 1 ou F = 1 onde a distância focal é expressa em metros. 
 distância focal D 
Através destas fórmulas, é fácil deduzir por exemplo que uma lente de 5-D possui uma 
distância focal de 0,2 m (20 cm). 
Costuma-se chamar as lentes convexas de positivas e as côncavas de negativas. Um teste 
simples para se determinar o formato de uma lente pode ser feito aproximando-a de um objeto 
qualquer; se este objeto parece afastar-se da lente, esta é negativa, ocorrendo a sensação de 
aproximação nas positivas. 
 
2. A FUNÇÃO VISUAL NOS ANIMAIS: 
 
O olho é o órgão responsável pela captação da luz e sua concentração nos fotorreceptores, que 
convertem estímulos luminosos em elétricos e, após sua interpretação pelas áreas cerebrais 
específicas, determina a sensação da visão. 
A visão é uma função orgânica complexa, determinada por um conjunto de atividades que 
incluem habilidade de detectar luz e movimentos, perspectiva visual, percepção de 
profundidade, acuidade visual e percepção de cores e formas. 
SENSIBILIDADE À LUZ: 
O sistema visual dos animais está adaptado ao nicho ecológico de cada espécie. Animais 
noturnos podem, por exemplo, detectar pequenas quantidades de luz, até sete vezes menores 
que as mínimas perceptíveis pelo homem. Um conjunto de estruturas torna esta percepção 
possível: 
• Presença de área tapetal (tapetum lucidum), que reflete 130 vezes mais luz que o fundo 
humano, permitindo uma segunda passagem da mesma na retina; 
• Pupila vertical em algumas espécies (p. ex. felinos), possibilitando uma dilatação até 6 
mm maior que no homem; 
• Córnea ocupando praticamente toda a porção anterior do globo ocular; 
• Lente fixada mais posteriormente, focando uma imagem menor mas mais brilhante sobre a 
retina; 
•Retina mais rica em fotorreceptores. 
Observação: Quanto à área tapetal, os animais podem ser divididos em dois grandes grupos, 
os de tapete celular (carnívoros) e os colagenosos (herbívoros). 
 
SENSIBILIDADE AO MOVIMENTO: 
Apesar de existirem poucos estudos relativos à percepção de movimentos nos animais, sabe-
se que os mesmos são mais sensíveis a objetos móveis que aos estacionários. Algumas raças 
de cães podem reconhecer objetos móveis familiares a distâncias de até 900 metros, mas a 
percepção destes mesmos objetos parados não passa de 600 metros. 
CAMPO VISUAL: 
A anatomia do globo ocular, seu posicionamento e a acuidade visual são variáveis de animal a 
animal, normalmente em função de seus hábitos alimentares. Na maioria dos predadores, os 
12
 
olhos são posicionados frontalmente, determinando um grande campo visual binocular (área 
em que a luz emitida por determinado objeto incide simultaneamente sobre ambas as retinas), 
que proporciona uma maior percepção de profundidade e, conseqüentemente, maior 
coordenação dos movimentos corporais. Os animais situados em uma posição inferior da 
cadeia alimentar, especialmente os herbívoros, têm os olhos situados mais lateralmente, 
possuindo um campo visual binocular pequeno, mas uma grande área de visão monocular, 
importante nas ações de fuga aos predadores. 
PERCEPÇÃO DE PROFUNDIDADE: 
A percepção de profundidade está relacionada à visão binocular. A estereopsia (percepção 
binocular profunda) é alcançada quando a imagem individual obtida por cada olho é fundida 
em uma única. A percepção de profundidade é muito menos desenvolvida nos animais 
domésticos quando comparada à do homem. 
ACUIDADE VISUAL: 
A acuidade visual refere-se à habilidade de distinguir detalhes de um objeto separadamente e 
em foco. Depende das propriedades ópticas do olho, ou seja, da capacidade do olho em gerar 
imagens focadas com precisão, e da habilidade da retina em detectar e processar estas 
imagens. 
a. Fatores ópticos da acuidade visual: 
A correta incidência dos raios luminosos sobre a retina é dependente de refração da luz, 
primariamente realizada no olho pela córnea e pela lente e, em menor grau, pelos humores 
aquoso e vítreo. Chama-se emetropia quando a luz incide corretamente na retina, não 
havendo qualquer erro refrativo. Se há erros refrativos (ametropias), esta incidência ocorre 
antes da retina (miopia) ou depois dela (hipermetropia), determinando a necessidade de se 
aproximar ou afastar o objeto, respectivamente, para que o mesmo seja focado. Outra 
ametropia, menos comum em medicina veterinária, é o astigmatismo, alteração na qual, por 
diferenças nos poderes de refração dos quadrantes da córnea ou lente, a imagem é 
erroneamente focada na retina. 
A emetropia depende primariamente da integridade e transparência dos meios refrativos 
(córnea, humor aquoso, lente e humor vítreo) e do mecanismo de acomodação visual. Na 
acomodação visual, a curvatura da lente é alterada para permitir um foco correto da luz sobre 
a retina. Esta alteração se dá principalmente pela contração do corpo ciliar, determinando 
estiramento dos ligamentos suspensórios, com conseqüente aumento da curvatura lenticular. 
Os carnívoros provavelmente têm um segundo mecanismo acomodativo, a movimentação 
anterior da lente. 
A maioria dos animais domésticos possui pouco poder de acomodação visual, normalmente 
de 2-3 dioptrias no cão, 4 no gato, menos de 2 nos eqüinos e provavelmente nenhum poder 
acomodativo nos ungulados. Estes valores baixos permitem, por exemplo, que um cão apenas 
possa focar corretamente apenas objetos situados entre 33 e 50 centímetros aproximadamente. 
No homem, uma criança tem 14 dioptrias de capacidade acomodativa, capaz de focar objetos 
a até 7 centímetros de seus olhos. 
b. Fatores retinianos na acuidade visual: 
A arquitetura retiniana dos animais domésticos permite concluir que os mesmos possuem uma 
baixa acuidade visual. 
13 
 
Retinas com excelente poder de resolução possuem alta densidade de fotorreceptores 
(predominantemente cones), um grande número de células ganglionares e fibras ópticas e uma 
alta relação entre os mesmos (até uma célula ganglionar por cone em alguns primatas). Além 
disto, estes animais não normalmente possuem área tapetal e têm uma região retiniana de alta 
concentração de fotorreceptores, células ganglionares e rodopsina, a chamada fóvea central. 
Nos animais domésticos, o incremento da visão noturna exige a presença de um grande 
número de fotorreceptores (primariamente bastonetes) sinapticamente convergentes a uma 
única célula ganglionar (1:20 nos gatos, por exemplo). Isto resulta em uma baixa acuidade 
visual, com as imagens diurnas sendo percebidas como num filme fotográfico de alta 
velocidade, bastante granuloso. Além disto, a reflexão da luz na área tapetal facilita sua 
dispersão e não há fóvea central, embora exista uma região superior e temporal ao nervo 
óptico com uma maior concentração de fotorreceptores. Esta concentração pode ser maior em 
animais silvestres quando comparados aos domésticos; os lobos, por exemplo, possuem 
12.000-14.000 células por mm2, número relativamente alto quando comparado aos dos cães, 
que possuem entre 6.400 e 14.400, variando em função da raça e provavelmente de sua 
aptidão (cães de caça poderiam ter uma maior concentração de receptores). 
c. Estimativa da acuidade visual: 
O mais comum indicador da acuidade visual no homem é a fração de Snellen, que avalia a 
habilidade de uma pessoa em distinguir letras ou objetos a uma distância fixa (geralmente 20 
pés ou 6 metros) com uma resposta padrão. O indivíduo de visão normal seria classificado 
como 20/20. Frações de Snellen de 20/40 ou 20/100, por exemplo, indicam que a pessoa 
testada necessita de uma distância de 20 pés para discernir detalhes que uma pessoa normal o 
faria a 40 ou 100 pés, respectivamente. 
Nos animais domésticos, embora os testes de avaliação da acuidade visual sejam bastante 
subjetivos, estimam-se os seguintes valores: 
• Cão: 20/50 a 20/140, com média de 20/75; 
• Gato: 20/100 a 20/200; 
• Cavalo: 20/30; 
• Bovinos: 20/240 a 20/440. 
PERCEPÇÃO DE CORES: 
A exata natureza da luz ainda é motivo de controvérsias, mas admite-se que a mesma seja um 
conjunto de partículas (fótons), transmitidas através de ondas. A amplitude destas ondas 
determina, em um conceito simples, as diversas cores existentes. Os humanos possuem três 
tipos distintos de cones, cada um deles responsável pela percepção de uma das cores básicas 
(vermelho, azul e verde) e suas variantes. 
Apesar de possuírem uma baixa concentração de cones (10% na área de maior concentração 
de fotorreceptores na retina, contra 100% nos humanos), sabe-se hoje que os animais 
percebem, em graus variáveis, algumas das cores. 
Os cães possuem apenas dois tipos de cones, um sensível à luz de comprimento entre 429-435 
nm (violeta para os humanos) e outro para 555 nm (verde-amarelado no homem). Não 
possuem ou não usam os cones “verdes” e aparentemente não distinguem entre as cores 
vermelho e verde (deuteranopia). Isto parece indicar que estes animais sejam inaptos a 
14
 
diferenciar ondas luminosas médias a longas, percebidas pelo homem como verde, verde-
amarelado, amarelo, laranja e vermelho. 
Os gatos possuem os três tipos de cones, indicando uma eventual capacidade física de 
tricromacia. Estudos não indicam, entretanto, que os mesmos possuam a mesma capacidade 
humana na distinção de cores. 
Os eqüinos são capazes de diferenciar o azul e o vermelho do cinza, mas não são aptos a 
distinguir entre esta última cor e o verde, sugerindo a presença de apenas dois tipos de cones 
como nos cães, suínos e ruminantes.A presença de um pigmento amarelo na lente eqüina 
provavelmente filtra as ondas azuis, reduzindo aberrações ópticas e aumentando o contraste. 
As restrições à percepçãode cores nos animais domésticos provavelmente têm limitadas 
conseqüências e normalmente eles reagem apenas àquelas consideradas biologicamente mais 
importantes. O maior desenvolvimento de outros órgãos de sentido e a capacidade muito 
maior que a humana em distinguir as variações da escala de cinza tornam estes animais 
completamente adaptados a seus nichos ecológicos. 
 
3. FOTOQUÍMICA DA RETINA E PROCESSAMENTO DA 
INFORMAÇÃO VISUAL: 
 
A imagem formada sobre a retina pela refração dos raios luminosos que atravessam a córnea e 
a lente é constituída por um feixe de fótons. Estes fótons penetram na retina até alcançar a 
camada de fotorreceptores (cones e bastonetes). A primeira reação produzida é fotoquímica, 
quando uma quantidade de energia luminosa é absorvida e cria uma desestabilização de uma 
molécula, fazendo-a passar de um estado de repouso a um de “excitação”; a molécula volta a 
entrar em estado de repouso por mecanismos diversos. 
Nos bastonetes, há a rodopsina, molécula constituída por uma proteína (opsina) e um 
derivado da vitamina A (retinal). A absorção de um fóton leva a uma modificação do retinal, 
determinando uma seqüência de reações químicas que culminam no aparecimento de uma 
variação de potencial elétrico. Há, portanto, uma conversão de energia luminosa em elétrica. 
A seqüência bioquímica que determina esta conversão pode ser assim sumarizada: 
Luz → Mudança estrutural do retineno 1 da rodopsina → Ativação da proteína G 
(transducina) → Ativação da fosfodiesterase-6 → Diminuição intracelular do monofosfato 
cíclico de guanosina (cGMP) → Fechamento dos canais de Na+ → Hiperpolarização. 
Os pigmentos fotoquímicos dos cones ainda não foram muito bem isolados, mas parece haver 
três tipos com diferentes sensibilidades, cianolábil (azul), clorolábil (verde) e eritrolábil 
(vermelho). 
 
4. FISIOLOGIA DO HUMOR AQUOSO: 
O humor aquoso é produzido no corpo ciliar através de processos passivos (difusão e 
ultrafiltração) e ativo (transporte seletivo através de gradiente de concentração). O mecanismo 
principal é o da ultrafiltração, no qual há passagem de fluido sob influência da pressão 
hidrostática determinada pelo sistema arterial ciliar. 
Depois de formado, o humor aquoso passa pela pupila, atravessa o trabeculado situado no 
ângulo iridocorneano e chega ao plexo venoso escleral. Cerca de 25% do humor aquoso 
15 
 
produzido é drenado através de uma via alternativa, na qual o mesmo atravessa o corpo ciliar 
e a coróide através dos espaços supraciliar e supracoroidal, chegando ao sistema venoso 
escleral. 
A barreira hemato-aquosa, uma das barreiras hemato-oculares (a outra é a barreira 
hemato-retiniana), é um complexo de proteção funcional existente entre o sangue nos 
capilares do estroma ciliar e o humor aquoso na câmara posterior. Moléculas grandes (p. ex. 
proteínas e algumas drogas) não atravessam pelas duas camadas de células do epitélio ciliar. 
Esta barreira freqüentemente é rompida por inflamações e outras doenças. 
A concentração protéica do humor aquoso representa aproximadamente 0,5% quando 
comparada à do plasma. Em eventuais rompimentos da barreira hemato-aquosa, grandes 
quantidades de proteínas, incluindo imunoglobulinas e fibrinogênio, aparecem no humor 
aquoso. Denomina-se humor aquoso plasmóide quando a composição deste está próxima à 
do plasma. 
O equilíbrio entre a formação e a drenagem do humor aquoso resulta numa pressão intra-
ocular relativamente constante, que distende o globo e mantém sua forma. A pressão intra-
ocular sofre variações diurnas e pode ser alterada por outros fatores como pressão arterial 
média, pressão venosa central e osmolalidade do sangue. 
 
LEITURA SUPLEMENTAR RECOMENDADA: 
 
GUM, G.G.; GELATT, K.N. Physiology of the eye. In: GELATT, K.N. (ed.) Veterinary 
Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1999, p. 151-181. 
OFRI, R. Optics and physiology of vision. In: GELATT, K.N. (ed.) Veterinary 
Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1999, p. 183-216. 
SAMUELSON, D.A. Ophthalmic anatomy. In: GELATT, K.N. (ed.) Veterinary 
Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1999, p. 31-150. 
SLATTER, D. Fundamentals of Veterinary Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Saunders, 
2001, 640 p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 
 
SEMIOLOGIA OFTALMOLÓGICA 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO: 
 
O exame clínico do olho difere-se dos demais pelas próprias particularidades do órgão. Além 
da delicadeza requerida para a realização deste exame, a sistemática do mesmo assume uma 
importância ainda maior quando comparada a outros sistemas, pois qualquer inversão na 
ordem dos procedimentos impossibilita a realização posterior de alguns deles. 
 
2. MATERIAL MÍNIMO NECESSÁRIO: 
 
O material necessário para um bom exame oftalmológico é simples e relativamente barato. 
Evidentemente, profissionais que desejem se aprofundar em oftalmologia necessitarão de 
mais alguns recursos. A princípio, o mínimo requerido consiste em: 
 
• Lanterna-caneta ou transiluminador de 
Finnof 
• Lupa oftalmológica 
• Oftalmoscópio direto 
• Tiras para teste de Schirmer 
• Tiras de fluoresceína 
• Cânula lacrimal
 
• Algodão 
• Solução para irrigação 
• Tonopen (preferível) ou tonômetro de 
Schiötz 
• Swabs estéreis 
• Espátula de Kimura 
• Midriático e anestésico tópico 
• Pinça ocular de Bishop Harmon
 
 
3. HISTÓRICO: 
 
Como em todo exame clínico, a obtenção do histórico é o passo inicial para se realizar um 
bom diagnóstico. Em oftalmologia, o histórico é um recurso fundamental em algumas 
situações, sobretudo quando há suspeita de doença de caráter hereditário ou quando se deseja 
fazer um prognóstico baseado na evolução do quadro. Alguns questionamentos importantes 
incluem: 
a. O animal apresenta alguma deficiência visual? Esta deficiência é maior à noite, de dia ou 
em ambientes estranhos? 
b. Há quanto tempo o problema está presente? 
c. A alteração teve um progresso lento ou apareceu subitamente? 
d. A deficiência visual é maior em um olho que no outro? 
e. Onde o animal vive e qual é a sua alimentação habitual? 
f. O paciente teve alguma doença anterior? 
g. O paciente apresenta alguma secreção ocular? Se presente, qual é o aspecto desta 
secreção? 
17 
 
h. O olho afetado é dolorido? Se afirmativo, qual é a manifestação clínica desta dor? 
i. O olho afetado apresenta-se mais vermelho que o normal? 
j. O olho afetado tem um aspecto diferente do normal? 
k. O animal sofreu algum traumatismo na cabeça ou no olho recentemente? 
l. O animal apresenta distúrbios de comportamento ou de locomoção? 
m. Existe algum ascendente ou descendente do animal com problemas similares? 
 
4. CONTENÇÃO: 
 
Sempre que possível, o exame ocular deve ser realizado sem qualquer contenção física ou 
química, que podem alterar determinados testes. Como a maioria dos pacientes não é 
suficientemente cooperativa, podemos lançar mão de: 
a. Contenção física: Podem ser usadas cordas ou, para animal pequeno, coletes de lona com 
aberturas para as patas, que mantêm o mesmo suspenso no ar. Deve-se lembrar que o 
estresse causado pela contenção pode causar alterações em certos procedimentos (p. ex. o 
teste de Schirmer, que tem valores mais altos em animais estressados pela maior 
frequência de piscadas). 
b. Contenção química: Pode ser feita através de: 
• Acepromazina + clorpromazina: Exige atropinização inicial, pois pode causar miose. A 
associação determina, em alguns casos, enoftalmia e protrusão da nictitante, dificultando 
certos exames; 
• Quetamina + xilazina: A associação pode elevar a pressão intra-ocular, não devendo ser 
utilizada quando este parâmetro for importante para o diagnóstico. Em gatos pode-se 
utilizar apenas a quetamina em doses baixas (10 mg/kg/IM); 
• Xilazina: É a drogade escolha para a contenção visando um exame oftalmológico, pois é a 
que menos alterações produz no globo ocular; 
• Lidocaína: Ruminantes e eqüinos podem necessitar de um bloqueio do nervo aurículo-
palpebral para se evitar o espasmo do músculo auricular durante o exame. 
 
5. SISTEMÁTICA DO EXAME CLÍNICO: 
 
A sistemática correta do exame oftalmológico é descrita na TAB. II. 
 
6. AVALIAÇÃO DA VISÃO: 
 
A avaliação da visão é um procedimento qualitativo muito subjetivo em medicina veterinária, 
principalmente pela extrema adaptação de alguns animais a deficiências visuais. Os principais 
métodos utilizados são: 
 
• Teste do obstáculo: Consiste em movimentar-se cuidadosamente o animal em direção a 
obstáculos desconhecidos para ele; 
• Teste do reflexo de ameaça: Movimenta-se a mão em direção aos olhos do animal, 
sempre atrás de uma placa de vidro, para evitar-se correntes de ar; 
18
 
• Teste do algodão: É o mais confiável de todos e consiste em lançar-se à frente do animal 
pequenas bolas de algodão, observando se o mesmo acompanha sua trajetória. Alguns 
autores afirmam que gatos cegos há muito tempo podem ouvir a queda do algodão!! 
Animais com deficiências visuais apresentam diversos sinais clínicos, mas hesitação em se 
locomover, batidas em objetos desconhecidos e, no caso de ruminantes, isolamento do 
rebanho são os mais comuns. 
 
TABELA II: Sistemática do exame oftalmológico (Slatter, 2001). 
 
 
Obter o histórico e formular relação provisória de alterações 
↓ 
Avaliar a visão 
↓ 
Examinar cabeça e olhos em ambiente iluminado e testar os reflexos tônicos do olho 
↓ 
Realizar os procedimentos preliminares: 
Teste dos reflexos pupilares à luz 
Teste de Schirmer 
Coleta de amostras para cultura microbiológica 
↓ 
Instilar anestésico tópico e midriático 
↓ 
Coletar amostras para citologia 
Medir a pressão intra-ocular 
↓ 
Examinar sistematicamente o olho com ampliação e iluminação focal 
↓ 
Examinar o fundo do olho (oftalmoscopia) 
↓ 
Realizar outros exames e coletas, se necessário 
↓ 
Formular um diagnóstico provisório e instituir terapia adequada 
↓ 
Reavaliar o quadro e determinar diagnóstico e terapia definitivas 
 
 
7. EXAMES UTILIZANDO APARELHOS ÓPTICOS: 
 
a. AMPLIAÇÃO: 
 
O exame das estruturas extra-oculares e segmento anterior do olho pode ser realizado sob 
ampliação, com a utilização de lupas manuais ou, se possível, acopláveis à cabeça (lupa de 
pala). Na aquisição de uma lupa, deve-se preferir aquelas com o maior aumento (2-4 vezes) e 
distância focal (15-25 cm) possíveis. 
19 
 
b. OFTALMOSCOPIA: 
 
? Oftalmoscopia direta: Permite a observação direta das estruturas oculares através de um 
oftalmoscópio colocado entre o observador e o olho do animal. É o tipo de oftalmoscopia 
mais utilizado em medicina veterinária, pela facilidade de realização, imagem real 
produzida e, sobretudo, pelo custo relativamente baixo do aparelho. Entretanto, permite o 
exame apenas de pequenas áreas de cada vez e exige uma proximidade muito grande com 
o animal, podendo colocar em risco o examinador. Na escolha de um oftalmoscópio 
direto, deve-se preferir aquele que possua eliminador de pilhas, reostato (controla a 
intensidade da luz), foco em fenda (permite melhor visualização de alterações da lente e 
elevações da retina) e filtros cobalto (facilita a observação de áreas impregnadas por 
fluoresceína) e verde (melhora o exame do fundo do olho de animais despigmentados, por 
“anular” a coloração avermelhada dos vasos sanguíneos da coróide). 
? Oftalmoscopia indireta: Consiste numa lente convergente colocada entre o animal e o 
observador, exigindo uma fonte de luz à parte. As lentes variam de 10 a 30 dioptrias, mas 
em medicina veterinária normalmente é usada a de 20 D. O oftalmoscópio indireto pode 
ser mono ou binocular e permite a avaliação de uma área mais ampla e com maior 
segurança, não necessitando de midríase para a realização da maioria dos exames. 
Entretanto, os equipamentos são caros e a imagem obtida é pequena e invertida, 
prejudicando de certa maneira a interpretação do exame. 
? Técnica da oftalmoscopia direta: Após contido o animal, o oftalmoscópio é focado a 
aproximadamente 40 cm do mesmo, posicionado em zero. Na medida em que se aproxima 
o aparelho do olho, as dioptrias vão sendo positivamente aumentadas, até se chegar a uma 
distância mínima do mesmo. Após o exame das estruturas superficiais, as dioptrias vão 
sendo diminuídas, até chegarem aos valores negativos necessários ao exame da retina. Os 
valores das dioptrias mais empregadas são +20 (estruturas externas), +15 (câmara 
anterior), +12 (pólo anterior da lente), +8 (pólo posterior da lente), +5 (humor vítreo) e –3 
(retina), que podem variar em função da acuidade visual do observador. 
 
c. RETINOSCOPIA: 
 
A retinoscopia é uma técnica especializada que avalia o estado refrativo do olho, permitindo o 
diagnóstico de erros refrativos, como miopia e hipermetropia. Tem pouca aplicação na 
medicina veterinária, principalmente pela impossibilidade de correção das alterações 
diagnosticadas. 
 
d. BIOMICROSCOPIA (LÂMPADA DE FENDA): 
 
O biomicroscópio ou lâmpada de fenda permite o exame do olho sob grande ampliação (20 a 
40 vezes), na qual podem ser vistos detalhes de várias das estruturas oculares, como por 
exemplo as camadas da córnea. O aparelho é principalmente utilizado para o exame do 
segmento anterior, embora possa haja a possibilidade da visualização do vítreo e retina. 
Existem dois tipos de lâmpada de fenda, as de mesa e as manuais. Os aparelhos de mesa são 
pouco práticos em medicina veterinária, pela dificuldade de posicionamento do paciente. Já 
os aparelhos manuais, a despeito de sua praticidade, possuem um custo muito elevado. 
 
20
 
8. AVALIAÇÃO DO SISTEMA LACRIMAL: 
 
a. TESTE DE SCHIRMER: 
 
O teste de Schirmer objetiva uma avaliação semi-quantitativa da produção de lágrimas, sendo 
indicado quando há suspeita de ceratoconjuntivite seca. É realizado com tiras apropriadas, 
que podem ser confeccionadas com papel de filtro Whatman nº 40, recortadas em medidas de 
5 x 40 mm para carnívoros ou 8 X 60 mm para eqüinos; a 5 mm de uma das extremidades, 
faz-se um pequeno corte que, após dobrado, é inserido entre a córnea e a pálpebra e deixado 
por um minuto. Após isto, mede-se a embebição do papel pela lágrima, do corte até o final. 
Existem três variações do teste de Schirmer: 
? Schirmer I: É realizado sem anestesia tópica, sendo preservada a sensibilidade corneana, 
inclusive à irritação produzida pela tira. Avalia a soma da produção basal e reflexa do 
olho. É a única variação do teste de Schirmer empregada em medicina veterinária; 
? Schirmer II: Mede apenas a produção basal de lágrimas, uma vez que se anestesia a 
córnea antes da aplicação da tira; 
? Schirmer III: Em desuso até mesmo na medicina humana, consiste em medir a secreção 
lacrimal reflexa estimulada pela ação do cloreto de sódio. 
 
Observação importante: Animais idosos ou portadores de ectrópio podem apresentar 
valores baixos do teste de Schirmer, que evidentemente não devem ser confundidos com 
alterações na produção de lágrimas. 
 
TABELA III: Valores normais do teste de Schirmer I para algumas espécies (Slatter, 2001). 
 
Espécie Normal Suspeito Diminuído 
Cão 19,8 + 5,3 5 – 11 < 5 
Gato 16,9 + 5,7 5 - 11 < 5 
Cavalo > 15 10 – 15 < 10 
Boi > 15 10 – 15 < 10 
Coelho 5,3 + 2,93 - - 
 
b. TESTE DE ESTABILIDADE DO FILME LACRIMAL: 
 
O tempo de rompimento do filme lacrimal (BUT, do inglês break up time) avalia a 
integridade da fração lipídica da lágrima. É realizado instilando-se uma gota de fluoresceína 
na superfície corneana e, mantendo-se as pálpebras abertas, observa-se, através de lâmpada de 
fenda com filtro cobalto, o tempo de aparecimento de pontos secos. O BUT de cães normais 
deveser maior que 20 segundos. 
 
c. AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DO DUCTO LÁCRIMO-NASAL: 
 
A obstrução do ducto lácrimo-nasal é a principal causa de epífora nos ajimais domésticos. Os 
testes para avaliação da integridade do ducto são: 
21 
 
a. Teste de Jones: Consiste em instilar fluoresceína no saco conjuntival e observar sua 
eventual chegada ao ponto nasal. Só tem valor diagnóstico quando positivo, pois 
comunicações entre o ducto lácrimo-nasal e a cavidade nasal podem determinar falsos-
negativos. 
b. Irrigação: Feita com solução fisiológica, através de uma cânula lacrimal em carnívoros 
(20 ou 22 para cães adultos) ou sonda flexível em grandes animais. 
c. Cateterização, através de nylon monofilamento para animais pequenos ou sonda flexível 
para grandes. 
d. Dacriocistorrinografia: É uma técnica radiográfica de contraste que permite a 
localização de obstruções ou saculações do ducto lácrimo-nasal. Utiliza-se como contraste 
2-3 ml de diatrizoato de meglumina (Hypaque, H), injetados através de canulação do 
ducto. 
 
9. AVALIAÇÃO DA PRESSÃO INTRA-OCULAR: 
 
a. TONOMETRIA: 
 
A tonometria é a medida da pressão intra-ocular (PIO), realizada principalmente quando há 
suspeita de glaucoma. A tonometria pode ser: 
? Digital: É feita pela aplicação alternada dos indicadores sobre o globo ocular. 
Evidentemente, é um método arcaico, subjetivo e pouco preciso, mas pode indicar, 
dependendo da experiência do examinador, uma eventual variação da PIO. 
? De depressão (ou indentação): Utiliza o tonômetro de Schiötz, que avalia a pressão 
intra-ocular a partir de uma força-padrão (5.5, 7.5, 10.0 ou 15.0 gramas) aplicada sobre a 
córnea anestesiada. Não é um aparelho de grande precisão, podendo determinar erros de + 
4-5 mm Hg. 
ATENÇÃO: Devido à curvatura do instrumento, adequada ao olho humano e adaptável para 
carnívoros, o tonômetro de Schiötz não serve para a avaliação da pressão intra-ocular em 
outras espécies. Também deve-se atentar que a tabela de conversão humana, que normalmente 
acompanha o tonômetro, não é adequada para o uso em animais, que possuem tabelas 
próprias. 
? De aplanação: Avalia a força necessária para aplanar uma pequena área da córnea. 
Embora muito menos lesivo às estruturas oculares e podendo ser utilizado em qualquer 
espécie, tem um custo elevado, que desestimula seu uso em medicina veterinária. Dos 
vários tipos de tonômetro de aplanação (p. ex. Maklakoff, Draeger, Perkins, Goldmann e 
MacKay-Marg), o único verdadeiramente adaptável à medicina veterinária é o Tonopen, 
aparelho de fabricação japonesa que permite uma leitura direta da pressão intra-ocular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
 
TAB. IV: Valores normais da pressão intra-ocular em algumas espécies domésticas. 
 
Espécie Valores (mm Hg) Referência 
Caninos 14 – 24 Severin (1995) 
 21 + 2,1 Gum (1991) 
Felinos 12 – 26 Severin (1995) 
 17,4 – 19,2 Bill (1966) 
Bovinos 14 – 22 Severin (1995) 
 20 + 5,5 Gum (1991) 
Eqüinos 16,5 – 32,5 Cohen & Reinke (1970) 
 28,6 + 4,8 McClure et al (1976) 
 
Uso do tonômetro de Schiötz: 
• Manter o animal com o olho em posição paralela à mesa de exames e com a pálpebra 
retraída; 
• Não comprimir o pescoço ou região periocular, pois pode haver um aumento de pressão, 
levando a falsas interpretações; 
• Tocar a córnea brevemente com o tonômetro, pois quando o mesmo repousa sobre a 
mesma por períodos prolongados, pode desencadear o reflexo de escoamento, levando a 
leituras falsamente diminuídas; 
• Realizar três leituras e obter a média que, após convertida pela tabela de calibração (TAB. 
V), fornece a pressão intra-ocular em milímetros de mercúrio. 
 
b. TONOGRAFIA: 
 
Tonografia é o exame utilizado para se avaliar a facilidade de escoamento do humor aquoso 
através da malha trabecular. Pode ser realizado, sem muita precisão, através do tonômetro de 
Schiötz, mas é mais acertado o uso de um tonógrafo. Atualmente é um exame pouco utilizado, 
inclusive em medicina humana. 
 
8. COLETA DE MATERIAL: 
 
Dependendo da suspeita clínica, podem ser feitos: 
• Raspado conjuntival: Realizado através da espátula de Kimura, permite a coleta de 
material para exame citológico ou bacterioscopia, através de esfregaços; 
• Swab estéril: Usado para a coleta de material para isolamento de bactérias e antibiograma. 
Neste caso, vale ressaltar que a instilação de anestésico tópico é contra-indicada, pois o 
mesmo pode inibir o crescimento bacteriano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
TAB. V: Tabela de calibração para tonometria de Schiötz em carnívoros: 
 
Leitura na escala 
de Schiötz 
PIO (mm Hg) 
Peso de 5,5 g 
PIO (mm Hg) 
Peso de 7,5 g 
PIO (mm Hg) 
Peso de 10,0 g 
0,5 52.6 71.2 93.6 
1,0 49.3 67.0 88.3 
1,5 46.3 63.1 83.3 
2,0 43.4 59.4 78.6 
2,5 40.8 55.9 74.1 
3,0 38.3 52.6 69.9 
3,5 36.0 49.6 66.0 
4,0 33.9 46.7 62.2 
4,5 31.9 44.0 58.7 
5,0 30.1 41.6 55.4 
5,5 28.4 39.2 52.3 
6,0 26.9 37.1 49.4 
6,5 25.5 35.1 46.7 
7,0 24.2 33.2 44.2 
7,5 23.0 31.5 41.8 
8,0 21.9 29.9 39.6 
8,5 21.0 28.5 37.5 
9,0 20.1 27.1 35.6 
9,5 19.3 25.9 33.8 
10,0 18.6 24.8 32.1 
10,5 18.0 23.8 30.6 
11,0 17.4 22.8 29.1 
11,5 17.0 22.0 27.8 
12,0 16.6 21.3 26.6 
12,5 16.3 20.6 25.5 
13,0 16.0 20.0 24.5 
13,5 15.8 19.5 23.6 
14,0 15.7 19.1 22.8 
14,5 15.7 18.8 22.0 
15,0 15.7 18.5 21.4 
15,5 15.8 18.3 20.8 
16,0 15.9 18.1 20.3 
16,5 16.1 18.0 19.9 
17,0 16.4 18.0 19.5 
17,5 16.8 18.1 19.2 
18,0 17.2 18.2 19.0 
18,5 17.7 18.4 18.8 
19,0 18.3 18.7 18.7 
19,5 19.0 19.0 18.6 
20,0 19.7 19.4 18.7 
 
12. OUTROS EXAMES: 
 
Vários outros exames podem ser realizados, mas quase sempre estão inacessíveis ao clínico 
comum. Podem ser citados: 
• Gonioscopia: Permite a visualização, através de uma lente especial (goniolente), do 
ângulo iridocorneano. 
• Eletrorretinografia: Avalia a transmissão dos impulsos nervosos pela retina. 
24
 
• Retinoangiografia fluorescente: Avalia a integridade ou a extensão de eventuais lesões 
nos vasos retinianos. 
• Ultra-sonografia: Avalia a imagem ultra-sonográfica (modo B) ou seu traçado (modo A). 
• Biomicroscopia ultra-sônica: Utiliza um transdutor de alta potência (20-100 mHz), 
fornecendo uma imagem de alta definição e grande aumento. 
 
13. ALGUNS TERMOS UTILIZADOS EM OFTALMOLOGIA: 
 
• Acomodação: Ajuste do olho para a visão em distâncias diferentes, usualmente 
acompanhado por alterações na forma da lente determinadas por contração ou 
relaxamento do corpo ciliar. 
• Acuidade visual: Habilidade visual em distinguir formas. 
• Afacia: Ausência de lente. 
• Amaurose: Termo obsoleto que indica perda da visão. 
• Ambliopia: Visão reduzida em um olho aparentemente normal ao exame clínico. 
• Ancoria: Ausência de pupila. 
• Aniridria: Ausência parcial (mais freqüente) ou total da íris. 
• Anisocoria: Pupilas de tamanhos diferentes, quando comparados os dois olhos. 
• Anoftalmia: Ausência do globo ocular. 
• Anquilobléfaro: Fusão das margens palpebrais entre si. 
• Astigmatismo: Condição óptica na qual o poder refrativo não é uniforme em todos os 
meridianos oculares. Pode ser regular, quando há apenas 2 meridianos de poder refrativo 
diferente, ou irregular quando existem 3 ou mais. 
• Blefarite: Inflamação das pálpebras. 
• Blefarofimose: Incapacidade de abrir o olho em sua extensão normal. 
• Blefaroplastia: Cirurgia plástica para reconstituição das pálpebras. 
• Blefaroptose: Queda da pálpebra superior por denervação. 
• Blefarospasmo: Espasmo tônico do músculo orbicular. 
• Bloqueio pupilar: Bloqueio da passagem do humor aquoso por aderência entre a borda 
pupilar da íris e a cápsula anterior da lente. 
• Buftalmia: Aumento de volume do globo ocular. 
• Calázio: Lipogranuloma crônico das glândulas de Meibômio. 
• Catarata: Opacidade da lente, de sua cápsula ou de ambos. 
• Ceratite: Inflamação da córnea. 
• Ceratocone:Protrusão crônica da córnea. 
• Ciclite: Inflamação do corpo ciliar. 
• Cicloplegia: Paralisia do corpo ciliar. 
• Coloboma: Buraco ou fissura em alguma parte do olho, devido a má formação congênita. 
• Corectopia: Deslocamento da pupila de sua posição normal. 
• Coroidite: Inflamação da coróide. 
• Crescente afácico: Subluxação ventral da lente que, quando vista através da pupila 
dilatada, dá a impressão de uma lua crescente. 
• Dacrioadenite: Inflamação da glândula lacrimal ou da terceira pálpebra. 
• Dacriocistite: Inflamação do saco lacrimal. 
• Dacrioestenose: Atresia do ducto lacrimal. 
25 
 
• Descemetocele: Hérnia da membrana basal do epitélio corneano (membrana de 
Descemet). 
• Dioptria: Unidade do poder refrativo de uma lente. 
• Diplopia: Percepção de um objeto como duas imagens (“visão dupla”). 
• Discória: Pupila de formato anormal. 
• Distiquíase: Camada supranumerária de cílios, que emergem dos ductos das glândulas de 
Meibômio. 
• Distrofia: Anomalidade não inflamatória de origem nutricional, metabólica ou congênita, 
que atinge a várias estruturas oculares (p. ex. distrofia corneana). 
• Ectasia: Dilatação ou distensão de determinada estrutura do olho. 
• Ectrópio: Eversão da pálpebra. 
• Emetropia: Visão normal, ou seja, estado refrativo de um olho que, quando em repouso, 
foca os raios luminosos paralelos exatamente sobre a retina. 
• Endoftalmia: Sinônimo de endoftalmite, é a inflamação de todas as estruturas oculares 
internas. 
• Enoftalmia: Recessão anormal do olho no interior da órbita, produzida por diminuição da 
pressão intra-ocular. 
• Entrópio: Inversão da pálpebra. 
• Epífora: Transbordamento de lágrimas para fora do olho, normalmente determinada por 
drenagem deficiente. 
• Episclerite: Inflamação dos tecidos superficiais da escleral. 
• Esclerite: Inflamação da esclera. 
• Esotropia: Estrabismo medial (= convergente). 
• Estafiloma: Saliência na córnea ou esclera “forrada” por tecido uveal. 
• Estrabismo: Condição onde os olhos não estão simultaneamente direcionados para um 
mesmo ponto. 
• Euribléfaro: Aumento da fissura palpebral. 
• Exoftalmia: Protrusão do globo ocular. 
• Exotropia: Estrabismo lateral (= divergente). 
• Flare aquoso: Efeito de Tyndall, observado através de biomicroscopia, em humor aquoso 
com conteúdo protéico muito alto. 
• Fotofobia: Desconforto ocular produzido pela incidência de luz de alta intensidade. 
• Glaucoma: Aumento da pressão intra-ocular. 
• Hemeralopia: Perda da visão diurna. 
• Heterocromia: Diferença de coloração entre as duas íris ou entre porções de uma delas. 
• Heterotropia = Estrabismo. 
• Hialose asteróide: Opacidades vítreas fixas, formadas por um complexo de lípides e 
cálcio. 
• Hifema: Presença de sangue no humor aquoso. 
• Hipermetropia: Estado refrativo no qual a luz é focada atrás da retina. 
• Hipópio: Presença de pus no humor aquoso. 
• Hipotonia: Diminuição da pressão intra-ocular. 
• Hordéolo (= terçol): Infecção purulenta de uma ou mais glândulas da pálpebra. 
• Iridociclite: Inflamação da íris e do corpo ciliar. 
• Íris bombé: Aderência total da pupila à lente, determinando, por acúmulo do humor 
aquoso, um aspecto de balão. 
26
 
• Irite: Inflamação da íris. 
• Lagoftalmia: Fechamento incompleto das pálpebras. 
• Leucoma: Opacidade corneana extensa que, quando em associação com aderência de íris, 
recebe a denominação de leucoma aderente. 
• Mácula: Opacidade corneana moderada. 
• Microftalmia: Olho anormalmente pequeno de origem congênita. 
• Miopia: Erro refrativo que determina o ponto focal de objetos distantes aquém da retina. 
• Nébula: Opacidade corneana pequena. 
• Nictalopia: Perda de visão noturna. 
• Nistagmo: Movimentos oscilatórios e involuntários do globo ocular. 
• Oclusão pupilar: Obstrução da pupila por membrana congênita (membrana pupilar) ou 
adquirida; 
• Panoftalmite: Inflamação de todos os tecidos do globo ocular. 
• Phthisis bulbi: Diminuição degenerativa do volume do globo ocular. 
• Presbiopia: Condição refrativa na qual ocorre uma diminuição do poder de acomodação 
visual devido à idade. 
• Proptose: Deslocamento do globo ocular para fora da órbita. 
• Ptose: Queda da pálpebra superior, também chamada de blefaroptose. 
• Quemose: Edema da conjuntiva. 
• Retinite: Inflamação da retina. 
• Rubeose iridiana: Vascularização da íris. 
• Seclusão pupilar: Sinéquia posterior completa, com separação funcional das câmaras 
anterior e posterior. 
• Simbléfaro: Aderência da(s) pálpebra(s) ao globo ocular. 
• Sinéquia anterior: Aderência da íris à córnea. 
• Sinéquia posterior: Aderência da íris à lente. 
• Sinérese: Redução da viscosidade do vítreo com liberação de líquido. 
• Sinquise: Liquefação do vítreo. 
• Triquíase: Presença de cílios extranumerários. 
• Uveíte: Inflamação da íris, corpo ciliar e coróide. 
• Visão binocular: Habilidade de usar os dois olhos simultaneamente focados em um 
mesmo objeto. 
• Visão escotópica: Capacidade de captação de estímulos luminosos de baixa intensidade 
(visão preto e branco). 
• Visão fotópica: Capacidade de visão de estímulos luminosos de alta intensidade (visão 
colorida). 
• Xeroftalmia: Queratinização da córnea e conjuntiva. 
• Xerose: Ressecamento anormal do olho. 
 
14. INTERPRETAÇÃO DE SINAIS CLÍNICOS OCULARES: 
 
ALTERAÇÕES NA FISSURA PALPEBRAL: 
Excesso de pele na cabeça (congênito ou por alterações endócrinas), edema palpebral, 
síndrome de Horner, lesão do nervo oculomotor, lesões corticovasculares, entrópio ou 
ectrópio. 
27 
 
EDEMAS PALPEBRAIS: 
Conjuntivite neonatal, blefarodermatites (bactérias, fungos ou protozoários), traumatismos, 
edema palpebral degenerativo, infestações parasitárias, corpos estranhos, alergia, picada de 
insetos, conjuntivites severas, abscessos palpebrais, cistos das glândulas palpebrais ou 
neoplasias. 
 
BLEFAROESPASMO: 
Dermóide, distiquíase, cílio ectópico, triquíase, entrópio, irritação palpebral (p. ex. blefarite 
marginal), ceratite, irite, úlceras de córnea, neoplasias, corpos estranhos, ceratoconjuntivite 
seca, litíase de margens palpebrais ou glaucoma. 
 
PROTRUSÃO DA TERCEIRA PÁLPEBRA: 
Microftalmia, ceratoconjuntivite, impactação da glândula da nictitante, inflamação crônica da 
terceira pálpebra, fascite nodular ocular, lesões invasivas retrobulbares, neoplasias, 
traumatismos, “fratura” da cartilagem da nictitante, dor ocular, síndrome de Horner, ação de 
drogas, tétano, hidrofobia ou desidratação extrema. 
 
EPÍFORA: 
Entrópio, lesões corneanas dolorosas, dacriocistite, alterações no sistema de drenagem 
lacrimal, distiquíase, cílio ectópico, atopia, uveíte, algumas conjuntivites infecciosas (p. ex. 
ceratoconjuntivite infecciosa de ruminantes e herpesvirose felina) ou síndrome da drenagem 
lacrimal deficiente. 
 
LÁGRIMAS AVERMELHADAS: 
Dacriocistite, dacriocanaliculite, neoplasias, traumatismos oculares ou conjuntivite severa. 
 
SECREÇÃO OCULAR MUCOPURULENTA: 
Conjuntivite, corpo estranho no saco conjuntival, abscesso orbitário, infecções oculares ou 
perioculares, doenças sistêmicas infecciosas, neoplasias oculares ou empiema dos seios 
paranasais (eqüinos). 
 
ESTRABISMOS: 
Alterações neuromusculares (congênitas, traumáticas ou degenerativas), lesões cerebrais, 
hidrocefalia, traumatismos (principalmente os decorrentes de proptose traumática), infecções 
orbitais ou retro-orbitais, neoplasias, disfunções vestibulares ou sinusite crônica. 
 
OLHO PROEMINENTE: 
Órbita rasa, alterações vasculares retrobulbares, processos inflamatórios (abscessos, 
alterações da parótida, edemas, hemorragias ou infecções dos seios paranasais), mucocele ou 
inflamação da glândula salivar zigomática, miosite de músculos periorbitais, pseudotumores, 
lesões traumáticas posteriores à órbita, neoplasias, traumatismos cranianos, parasitos 
(Dirofilaria immitis), cisto retrobulbar, corpos estranhos oubuftalmia (glaucoma ou tumores 
intra-oculares). 
 
28
 
OLHO DE TAMANHO DIMINUÍDO: 
Enoftalmia congênita (cães dolicocefálicos ou microftalmicos), phthisis bulbi, tétano, 
síndrome de Horner, traumatismo periocular, perfuração do globo ocular, perda de gordura 
retrobulbar, atrofia de músculos periorbitais ou senilidade. 
 
OLHO VERMELHO: 
Úlcera de córnea, corpo estranho, traumatismo, uveíte, glaucoma, conjuntivite. Quando 
bilateral, deve-se suspeitar de doença sistêmica. 
 
PROTUBERÂNCIAS CORNEANAS: 
Dermóide, infiltração inflamatória, tecido de granulação, abscesso corneano, ceratopatia 
bolhosa, neoplasias, olho seco, seqüestro corneano, laceração corneana, descemetocele ou 
prolapso de íris. 
 
CÂMARA ANTERIOR RASA: 
Lesão vitreal extensa, glaucoma de ângulo fechado, luxação anterior de lente, lente 
intumescida ou sinéquia anterior. 
 
LEUCORIA: 
Catarata, coloboma, corpo estranho intra-ocular, gliose retiniana avançada, hemorragia vítrea 
organizada, hiperplasia persistente do vítreo primário, descolamento de retina, displasia 
retiniana, fibroplasia retrolental ou massas vítreas. 
 
ANISOCORIA: 
Traumatismo craniano ou proptose traumática. 
 
MIDRÍASE: 
• Unilateral: Coma, traumatismo craniano, hematoma extradural e glaucoma; 
• Bilateral: Cegueira bilateral, traumatismo craniano, botulismo ou neurite retrobulbar. 
 
MIOSE: 
Traumatismo craniano, vasodilatação dos vasos iridianos, intoxicações (p. ex. 
organofosforados), dor ocular por irritação acentuada de pálpebras, conjuntiva ou córnea, 
coma, encefalite, meningite, uveíte, irite, espasmo do esfíncter pupilar, lesões subtalâmicas ou 
síndrome de Horner. 
 
PUPILAS FIXAS: 
Glaucoma agudo, lesões neurológicas bilaterais, lesões no seio cavernoso, efeito de drogas, 
síndrome de Horner, atrofia de íris, sinéquias e seclusão pupilar, hifema ou lesões retro-
orbitárias. 
 
 
 
 
29 
 
CEGUEIRA SÚBITA: 
• Unilateral (na maioria dos casos): Corioretinite aguda, glaucoma agudo, neuropatia 
óptica, envenenamentos, descolamento de retina, hemorragia retiniana, hifema total, 
traumatismo, lesão cortical unilateral, uveíte, hemorragia vítrea; 
• Bilateral: Neurite óptica, cegueira cortical, descolamento de retina bilateral, opacidade 
total do humor aquoso, catarata bilateral. 
 
14. LEITURA SUPLEMENTAR RECOMENDADA: 
 
SLATTER, D. Fundamentals of Veterinary Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Saunders, 
2001, 640 p. 
STRUBBE, D.T & GELATT, K.N. Ophthalmic examination and diagnostic procedures. 
In: GELATT, K.N. (ed.) Veterinary Ophthalmology 3ª ed. Philadelphia, Lippincott Williams 
& Wilkins, 1999, p. 427-466. 
YAMANE, R. Semiologia Ocular. Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1990, 292 p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30
 
 
TERAPÊUTICA OFTALMOLÓGICA 
 
 
 
As drogas, para atingirem seu local de ação e produzirem o efeito desejado, necessitam 
atravessar determinadas barreiras que, na maioria das vezes, apresentam seletividade à 
passagem de algumas delas. O olho, um dos tecidos mais nobres do organismo, não foge a 
esta regra, apresentando vários obstáculos à passagem de xenobióticos, incluindo drogas. 
Estes obstáculos são representados pelo fluxo contínuo da lágrima na superfície corneana e 
pelas barreiras epiteliais (epitélios conjuntival, corneano, ciliar e pigmentar da retina) e 
endoteliais (vasos da retina e da íris). Se por um lado estas barreiras impedem a entrada de 
substâncias tóxicas no olho, por outro dificultam a ação terapêutica de determinados 
fármacos. Por tudo isto, a potência farmacodinâmica e as propriedades farmacocinéticas de 
uma droga devem ser muito bem conhecidas antes de sua administração, para se evitar que a 
mesma, por não alcançar seu sítio de ação, não desempenhe seu papel terapêutico. 
 
I. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO E PROPRIEDADES REQUERIDAS DAS 
 FORMULAÇÕES: 
 
Na escolha da via de administração, deve-se levar em conta a estrutura-alvo, existência de 
barreiras intactas ou não, disponibilidade de apresentações comerciais, comportamento do 
animal e cooperação do proprietário. Com relação à estrutura a ser atingida, normalmente 
usa-se a via tópica para conjuntiva e superfície corneana, via tópica e/ou sistêmica para 
camadas profundas da córnea, íris e corpo ciliar e via sistêmica para o segmento posterior e 
órbita. 
 
1. VIA TÓPICA: 
 
1.1. PROPRIEDADES REQUERIDAS PARA DROGAS DE USO TÓPICO: 
 
a. Características físico-químicas da droga: 
A córnea é um “sanduíche” trilaminar formado por (a) externamente, um epitélio 
pavimentoso estratificado de caráter lipofílico, com células unidas por firmes junções; (b) o 
estroma, formado por fibras colágenas mergulhadas numa substância intersticial rica em água 
e, portanto, hidrofílica e (c) um endotélio lipofílico. Como se vê, a droga ideal para atravessar 
a córnea deve ter uma solubilidade bifásica, ou seja, ser ao mesmo tempo lipo e hidrossolúvel; 
para que isto seja possível, a molécula deve apresentar uma porção polar e uma apolar, ter 
baixo peso molecular e estar num pH ideal. 
Após a aplicação sobre o olho, a porção não drenada de determinada droga pode penetrar na 
córnea ou ser absorvida pelos vasos conjuntivais, sobretudo se a conjuntiva estiver inflamada. 
Esta penetração pode ser aumentada através de alguns recursos: 
• Alteração da superfície corneana: O espaço intercelular pode ser transitoriamente 
expandido por agentes quelantes (p.ex. o EDTA sódico) e a permeabilidade epitelial 
31 
 
modificada por agentes tensoativos (p. ex. cloreto de benzalcônio), aumentando 
consideravelmente a absorção de certas drogas. No caso dos agentes tensoativos, deve-se 
lembrar que seu uso crônico pode determinar perda da camada epitelial superficial, 
retardamento da cicatrização de processos ulcerativos e “quebra” do filme pré-corneano, 
com conseqüente ressecamento do globo ocular; 
• Veículo adequado: O uso de veículos mais viscosos aumenta o tempo de permanência da 
droga nos tecidos, favorecendo sua absorção. Também a utilização do cloreto de 
cetilpiridínio como veículo favorece a ação das drogas, pois o mesmo inibe a albumina 
pré-lacrimal que se liga a determinados fármacos, reduzindo sua biodisponibilidade. 
b. Tonicidade: 
A tonicidade das soluções utilizadas deve, sempre que possível, ser similar à da lágrima que, 
no homem, corresponde a 1,4% de NaCl, embora variações entre 0,7 e 2,0% sejam bem 
toleradas sem grande desconforto. Como a absorção das drogas pela córnea é dependente de 
um gradiente de concentração, onde seria de se esperar um melhor efeito de soluções mais 
concentradas; tal fato não ocorre, entretanto, devido ao maior lacrimejamento produzido por 
estas soluções, fazendo com que as mesmas sejam rapidamente diluídas e drenadas. 
c. pH: 
Embora o olho suporte grandes variações de pH (entre 3,5 e 10,0), o ideal é que este seja o 
mais próximo possível da lágrima (7,4). É importante também que seja mantido um pH no 
qual haja equilíbrio entre as formas ionizada e não-ionizada da droga, visando obter-se a 
melhor absorção possível. 
d. Estabilidade: 
Temperatura e pH são os fatores que mais interferem na estabilidade das preparações para uso 
oftalmológico. A maioria destes produtos é mais estável num pH entre 5,0 e 7,0 e a 
temperaturas mais baixas. Quando as condições ideais de armazenamento não são obedecidas, 
vários fármacos perdem rapidamente sua atividade. 
e. Esterilidade: 
As preparações para uso oftalmológico devem ser sempre estéreis, sobretudo aquelas que 
penetram no globo ocular. De maneira geral, recomenda-se que os colírios e pomadas sejam 
usados apenas para um único tratamento, desprezando-se eventuais sobras; esta prática é, na 
maioria das vezes, forçada pelo reduzido tamanho das apresentações comerciais, que 
impedem uma segunda utilização. 
 
1.2. SOLUÇÕES:

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