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11 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Você já deve ter pensado em como surgiu a Ciência? Já pensou em como nossa tecnologia nos proporciona conforto e utilidades? Neste módulo, vamos estudar um pouco a forma pela qual o homem veio a buscar conhecimento e, assim, desenvolver meios mais eficazes e propícios para sua sobrevivência. Pense em como devia ser difícil viver na pré-história ou mesmo na antiguidade, quando não havia luz, água encanada nem nossos bons aparelhos eletroeletrônicos. Bem, vamos então nos aventurar pela história do pensamento científico. Desde a pré-história, o homem sempre se deparou com a necessidade de conhecer. Inicialmente, tal conhecimento era utilizado exclusivamente para sua sobrevivência no meio. Entretanto, com o avanço de suas habilidades, seus conhecimentos se tornaram cada vez mais elaborados e, com o passar do tempo, surgiram novas necessidades, as quais o levaram à elaboração de novos mecanismos para produzir conhecimento cada vez mais confiáveis e seguros. Vamos, então, estudar um pouco da evolução do raciocínio humano em ralação ao saber, como o homem pensava nos primórdios da civilização e quais foram os momentos-chave que direcionaram a forma atual de fazer pesquisa, gerar conhecimento e propiciar o avanço tecnológico do qual desfrutamos hoje. Vamos nos aventurar por situações e personagens históricos que foram imprescindíveis para o direcionamento da ciência como a conhecemos atualmente. Tal retrospecto irá propiciar a você uma ideia de como chegamos ao nível de conhecimento que temos atualmente, conhecimento esse que será utilizado no seu dia a dia profissional. A CIÊNCIA NA HISTÓRIA MÓDULO 1 12 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância OBJETIVOS DO MÓDULO Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste módulo, você seja capaz de: � Compreender os princípios do conhecimento científico; � Conhecer o histórico do método científico e do processo de desenvolvimento da ciência; � Entender o progresso do pensamento científico e suas principais diretrizes. 13 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância HOMEM PRIMITIVO E O MEDO: Você sabia que o homem primitivo temia todos os fenômenos que não conhecia? Dessa forma, o trovão, o relâmpago e os demais fenômenos climatológicos eram atribuídos a atividades divinas, pois não podiam ser explicados pelo conhecimento rudimentar do homem primitivo 1 .INTRODUÇÃO Desde a Pré-História, a busca pelo saber já era parte do cotidiano do ser humano. Imaginem como se fazia para concretizar atividades básicas como se alimentar, aquecer-se ou se abrigar num ambiente hostil e sem recursos! Nesse contexto, os homens primitivos tinham que ter conhecimentos básicos, tais como: qual fruto é comestível e qual seu aspecto quando maduro; quais as raízes tóxicas e como diferenciá-las de outras que podem ser utilizadas; como fugir de um possível predador; quais as espécies que poderiam ser caçadas com mais facilidade e como e onde se abrigar do tempo (chuva e frio). Com o passar do tempo, as habilidades humanas foram se aperfeiçoando cada vez mais e, assim, a forma de registrar tais informações também necessitou de aperfeiçoamento. Naquele contexto, todo conhecimento adquirido por um indivíduo era transmitido aos demais membros de seu grupo por demonstração e, dessa forma, também era perpetuado quando passado à geração seguinte. Assim, cada vez mais, o nível de informações adquiridas pelos homens aumentava. Essa capacidade de aprender, ou seja, de adquirir conhecimento a partir de experiências do cotidiano, favoreceu o desenvolvimento tecnológico e facilitou imensamente a vida do ser humano. Assim, a partir das observações do dia a dia, o homem produziu uma gama de conhecimentos suficiente para que ele desenvolvesse a agricultura e a pecuária. Então, suas condições alimentares melhoraram consideravelmente, possibilitando também que sua inteligência fosse direcionada para a produção de artefatos (estes, na maioria das vezes, pensados para facilitar a produção de alimento) e, posteriormente, para a investigação metódica sobre uma série de questões levantadas. Dali em diante, o nível de conhecimento foi sendo aprimorado e os questionamentos formulados pelo ser humano passaram a motivar cada vez mais sua investigação na busca pelo saber. 14 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância 2 .TIPOS DE CONHECIMENTO Conhecer é resultado da incorporação de um novo conceito ou de um conceito que, anteriormente, era desconhecido sobre um fato ou fenômeno em particular. O conhecimento é produto de experiências vivenciadas no dia a dia, de informações que nos são transmitidas através do contato pessoal ou através da leitura de textos que expressam informações adquiridas por outras pessoas e são relatadas. Dentre os demais seres vivos, o homem é o único capaz de desenvolver conhecimento com propósitos bem determinados, ou seja, não somos os únicos a ter capacidade de aprender. Você pode perceber isso de forma prática se tiver um cachorro, por exemplo, que é capaz de aprender a sentar, deitar e rolar, desde que tenha uma motivação condicionada. Outros animais selvagens, como os golfinhos, ou os chimpanzés, também apresentam grande capacidade de aprendizagem e até mesmo de raciocínio. Entretanto, o ser humano é o único que - ao longo de seu processo evolutivo - desenvolveu uma capacidade de buscar ativamente o conhecimento, ou seja, planejamos meios para descobrir como as coisas funcionam. Você pode estar pensando: então, a ciência sempre existiu? Nem sempre. A ciência é produto do homem já intencionado em conhecer os fenômenos e com a intenção de produzir informações de forma propositada. Vamos ver mais adiante como esse pensamento surgiu. Então, surge outro questionamento: todo o conhecimento é fruto de uma investigação científica? Também não, como vamos estudar. O conhecimento pode ter várias origens, dependendo de suas características. Vejamos, pois, quais os tipos de conhecimentos e quais suas particularidades. Podemos classificar as formas de conhecimento em quatro tipos: Filosófico, Teológico, Popular e Científico. 2.1 CONHECIMENTO DE FÉ O conhecimento de Fé tem por base proposições sagradas, buscando compreender e explicar as manifestações divinas. Tais manifestações são colocadas como infalíveis e indiscutíveis. Suas evidências não são verificadas, pois está sempreimplícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. A fé é a base desse conhecimento, sendo fundamental no princípio de que as verdades são infalíveis e 15 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância indiscutíveis, por se consistirem em revelações da divindade (MARCONI & LAKATOS, 2000). Esse tipo de conhecimento não pode ser quantificado nem testado; ele simplesmente toma por base a crença de que a existência de Deus é um fato. O conhecimento teológico busca descrever, entender e explicar suas manifestações. 2.2 CONHECIMENTO FILOSÓFICO O conhecimento filosófico baseia-se, primariamente, na reflexão sobre o fato ou fenômeno investigado. É um conhecimento valorativo, pois toma como ponto de partida a formulação de hipóteses, ou seja, supostas verdades, sendo que estas não podem ser submetidas à observação e certificação de sua veracidade. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência (vivência) e não na experimentação (simulação de situações). Dessa forma, tal conhecimento não é verificável. A reflexão é a principal ferramenta do conhecimento filosófico e suas colocações se baseiam em argumentos, ou seja, cada ponto de vista deve ser defendido com base em situações e proposições expostas e defendidas. O conhecimento filosófico consiste num conjunto de enunciados correlacionados de forma lógica, por isso é considerado racional (MARCONI & LAKATOS, 2000). Dessa maneira, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão de questionamentos sobre as situações e problemas humanos. Como se baseia na reflexão, busca a distinção entre o certo e o errado. 2.3 CONHECIMENTO POPULAR, EMPÍRICO OU DO SENSO COMUM O conhecimento popular, ou senso comum, trata-se de um conhecimento produzido diante da necessidade de resolução de um problema imediato. Sendo assim, desde os primórdios da humanidade sempre foi a principal fonte de aprendizado e Leia um pouco mais sobre o conhecimento científico e suas características no site: http://www.fdc.br/Arq uivos/Artigos/14/OCo nhecimento.pdf O conhecimento filosófico se baseia no fundamento de que uma mesma realidade pode ser vista de diferentes formas de acordo com o ponto de vista do observador. Embora cada um desses pontos de vista expresse uma informação diferente, todas estão corretas, pois a forma de ver uma mesma realidade varia de acordo com aspectos individuais de quem a descreve, tais como seu histórico de vida, seu grau de instrução e seus ideais. 16 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância conhecimento do ser humano. Surge sem programação ou planejamento, apresentando critérios espontâneos e intuitivos. Imagine a seguinte situação: um homem da idade das cavernas se via diante de um rio com forte correnteza. Em uma situação normal, não haveria meios para atravessar o rio; entretanto, ao ver uma árvore grande derrubada sobre o rio, esse homem vê uma oportunidade para atravessar. Isso constitui um aprendizado que ele irá utilizar em situações semelhantes para resolver seus problemas. Assim, todas as experiências vividas constituem uma forma de adquirir conhecimento, sendo este empregado em situações similares. Você pode perceber, então, que esse conhecimento é muitas vezes fruto do acaso, ou seja, de situações não planejadas, nem premeditadas. Assim, ele está sujeito a erros constantes, pois as situações variam e o mesmo procedimento nem sempre é eficaz. A concepção do conhecimento popular não é fundamentada em informações pré-estabelecidas. Dessa forma, permanece em um nível superficial, pois se o problema foi resolvido, a investigação cessa. Sendo assim, tem um caráter utilitarista, pois é produzido à medida que se faz útil. O conhecimento popular - por estar vinculado à vivência, orientado pelo interesse prático, imediatista e pelas crenças pessoais - pode ser tido como um conhecimento subjetivo e à mercê de particularidades regionais. Apresenta baixo poder de crítica, pois é incapaz de ser submetido a uma averiguação sistemática e isenta de interpretações pessoais. A linguagem utilizada na descrição desse conhecimento é baseada em termos e conceitos vagos, que podem adquirir sentidos diferenciados de acordo com as pessoas ou grupos que as utilizam. Esse tipo de conhecimento é transmitido de uma geração para outra, sendo assim, muitas vezes, os filhos ou netos podem aprimorá-lo. Por exemplo, um sapateiro transmite ao seu filho os saberes de seu ofício; o filho pode interpretá-los e aprimorá- los de acordo com sua perspicácia e criatividade. Assim, ao passar para seu próprio Uma forma bastante clara de exemplificar o conhecimento popular é a sabedoria popular do homem do campo ou do ribeirinho. Essas pessoas aprendem a ler a linguagem da natureza através da observação do dia a dia. Assim, são capazes de prever chuvas, ou saber o melhor período de plantio ou de colheita. Podem afirmar, com precisão, o melhor local para a pesca de um determinado peixe, ou mesmo como utilizar um recurso sem que comprometa sua oferta futura. 17 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Entenda um pouco mais sobre as características do conhecimento científico acessando o site: http://www.inf.ufsc.br /~cancian/ciencia/cien cia_conhecimento_cie ntifico.htm filho, os ensinamentos já serão diferentes dos adquiridos através de seu pai. Isso mostra que o conhecimento popular pode variar de acordo com a geração, ou mesmo com a região na qual é utilizado. No entanto, o conhecimento popular, se aplicado aos mesmos tipos de fatos e fenômenos, dentro de uma rotina que sofre poucas variações, pode ser considerado correto. Outro exemplo que podemos adotar é sobre algumas plantas com propriedades medicinais utilizadas há séculos. Você já ouviu falar que a camomila é calmante, inclusive indicada para mães que estão amamentando ou mesmo a bebês. A camomila vem sendo utilizada há séculos. No início, não se sabia exatamente por que ela era calmante e, mesmo assim, as pessoas faziam uso. Isso se justifica porque, independente da idade, do local, ou do tempo, a camomila age na fisiologia humana da mesma forma, dando sempre resultados positivos. Hoje em dia, já se conhecem quais substâncias químicas - presentes na camomila - desencadeiam o efeito de calmante. Entretanto, essa descoberta só se deu depois de já se saber de fato que essa planta tinha tal propriedade. Por isso, muitas vezes se fala que o conhecimento popular pode ser precursor de descobertas científicas. 2.4 CONHECIMENTO CIENTÍFICO Conhecimento científico, no nosso contexto de estudo, é o que tem maior significado, uma vez que todos os conteúdos, informações e conhecimentos mediados em níveluniversitário são frutos desse tipo de saber. É caracterizado como um conhecimento factual, ou seja, baseado em fatos que podem ser verificados, mensurados e testados. Aliás, o teste é um dos fatores que agregam confiança a esse tipo de conhecimento, porque todos os dados e informações divulgadas estão sujeitos a testes que averiguem sua veracidade e, por isso, confia-se tanto em dados comprovados cientificamente. Esse tipo de conhecimento pode ser caracterizado por representar a busca de princípios explicativos dos fenômenos/fatos investigados. O homem passa a uma posição ativa na busca da compressão das inter-relações entre os fatores 18 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância O conhecimento científico é fruto da investigação científica. Então, podemos colocar a seguinte questão: O QUE É CIÊNCIA? Vamos discutir essa questão na próxima sessão! que ordenam um determinado fenômeno. Isso implica planejar como buscar conhecimento sobre algo. O conhecimento científico se estabelece mais enfaticamente após a Revolução Científica (na Idade Média), como veremos a seguir. Naquele período, estabeleceu-se o uso da Matemática e da quantificação nos experimentos que produziam conhecimento. Isso permitiu maior precisão dos dados gerados e, consequentemente, um melhor uso de tais informações. Dessa forma, as informações geradas poderiam ser divulgadas por meio de textos publicados ou mesmo pela troca de cartas entre pesquisadores. Essa difusão de informações favoreceu o avanço de pesquisas que podiam partir do ponto onde outras pararam. O conhecimento científico é sistemático, pois utiliza a lógica como linha de pensamento. Suas hipóteses são testadas por dados que podem ser gerados por medições, ou mesmo por experimentos controlados. Assim, pode responder questões, ou sanar dúvidas que o conhecimento gerado até então não respondem. Então, esse conhecimento é uma forma de busca de informações que parte sempre de uma investigação metódica na qual os procedimentos são planejados previamente, o que possibilita a minimização de erros. Esse novo conhecimento pode ser testado e criticado, tornando-se, assim, seguro e confiável. Entretanto, mesmo assim, em muitas situações, é falível, ou seja, à medida que novos conteúdos são produzidos ou que novas tecnologias são propostas, uma informação antes tida como verdadeira pode ser desacreditada. Nesse contexto, a ciência evolui, aproximando-se cada vez mais da realidade inquestionável dos fatos. Muito bem! Fechamos aqui uma importante seção para se compreender os mecanismos que promovem a ciência. Para ver se você compreendeu, reflita um pouco sobre as características do conhecimento científico que o tornam seguro e confiável. 3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA Podemos sempre associar a ciência ao conhecimento, ou seja, a ciência simboliza toda informação que é confiável 19 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância por ser fruto de uma investigação sistemática, a qual gera resultados confiáveis e seguros. Dessa forma, sempre que você ouve - em uma notícia - que algo foi cientificamente comprovado, imediatamente dá credibilidade ao conteúdo; pois, se foi produzido através da investigação científica, tem credibilidade e passou por testes que comprovaram tal informação. Cervo e Bervian (2002, p. 16) afirmam que: A ciência é um modo de compreender e analisar o mundo empírico, envolvendo o conjunto de procedimentos e a busca do conhecimento científico através do uso da consciência crítica que levará o pesquisador a distinguir o essencial do superficial e o principal do secundário. A ciência tem como principal meta se aproximar ao máximo da realidade possível. Assim, busca distinguir o que é essência, ou seja, como de fato as coisas são e o porquê do comportamento que apresentam, daquilo que aparenta ser, mas que pode mudar em certas circunstâncias. Nesse sentido, o conhecimento científico pode modificar-se ao longo do tempo; pois - à medida que se dá o avanço tecnológico - maior será a precisão dos dados. Então, muitas vezes, novas descobertas modificam o conhecimento já existente. Por isso, dizemos que a ciência é uma escada em espiral. Na medida em que o tempo passa, o nível de informação só aumenta e esse avanço sempre se baseia nas informações anteriores (CARVALHO, 2000). Assim, pode-se dizer que a ciência é uma forma particular de conhecer, pois é gerada através de dados que são obtidos de forma que se aproximem o máximo possível da realidade. Para isso, vários métodos de coleta de dados são adotados, os quais veremos nos próximos módulos. Você pode se perguntar, então: “mas a ciência já surgiu assim, com esse rigor todo, com essa maneira sistemática de pensar e proceder na busca de conhecimentos e informações sobre os fatos e fenômenos investigados?” Na verdade, não! A ciência passou (e passa) por um processo de evolução no que se refere à procura pela verdade dos fatos. E é isso que iremos estudar na próxima seção. Para se aprofundar mais na reflexão sobre a Ciência, leia o texto de apoio disponível de: CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11--69 20 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Em 1905, Albert Einstein divulgou suas teorias sobre o Espaço Curvo, em periódicos científicos, as quais relatavam que a matéria presente poderia desviar feixes de luz. Essas teorias eram julgadas, por muitos, como especulações interessantes; mas, por desafiarem a física newtoniana, eram desacreditadas. Assim, ainda havia muito descrédito sobre as ideias de Einstein. Em 1919, um grupo de cientistas chefiados por Eddington constatou que os raios luminosos, vindos de estrelas distantes, ao passarem próximos ao Sol, sofriam um desvio de - em média - 1,7 segundos em sua trajetória. Eles encurvando-se, em sua direção, tal como havia predito Einstein. Essa constatação, obtida através do confronto de sucessivas fotos de estrelas, durante o eclipse, era uma prova favorável à teoria do espaço curvo, proposta por Einstein. 4 HISTÓRICO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO O século XX testemunhou dois momentos inesquecíveis, frutos do avanço científico. O primeiro ocorreu em 1919, quando um grupo de cientistas - ao observar um eclipse solar - confirmaram a teoria de Einstein sobre o espaço curvo. Outro evento se destacou pelo poder destrutivo demonstrado, em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, quando duas cidades japonesas (Hiroxima e Nagasáqui) foram destruídas por bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos. Este último evento demonstrou que o homem pode, com seu conhecimento científico, promover situações catastróficas à própria humanidade (KÖCHE, 1997).Você deve ter percebido, com esses dois exemplos, que a ciência traz conhecimentos que podem ser empregados de diversas formas; tanto para elevar o nível de conhecimento da humanidade, como para causar temor e destruição. Isso nos leva a uma reflexão simples: qual é de fato o propósito da ciência? Busca de saber, ou controle prático da natureza e domínio sobre os homens? Pense um pouco sobre isso! De fato, uma das principais preocupações dos pesquisadores e cientistas atuais é solucionar e resolver problemas práticos, ou seja, conhecer as coisas em sua essência e, assim, traçar previsões quanto ao rumo dos acontecimentos que cercam o homem. Esse conhecimento pode promover maior domínio sobre o mundo e melhoria nas condições da existência humana. Descobertas como a 21 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Estudos de múmias egípcias demonstram que alguns esqueletos apresentavam indícios de cirurgias cranianas. Tais indícios se baseiam no fato de existirem calos ósseos retilíneos, indicando que o crânio foi aberto intencionalmente e que o paciente sobreviveu, pois houve calcificação (cicatrização da fissura). eletricidade, a telefonia, a informática, a descobertas de medicamentos, as melhorias na agricultura e na agropecuária, sem dúvida, aumentaram (e muito) a qualidade de vida humana, bem como sua expectativa de vida. O conhecimento científico é tomado como base para as decisões a serem tomadas. Isso de tal forma que, no início do século XXI, vivemos na chamada sociedade do conhecimento. Entretanto, não podemos nos iludir com a ideia de que a ciência traz resposta a tudo. Podemos perceber isso claramente uma vez que muitas doenças ainda não têm cura e muitas guerras ainda são travadas mesmo havendo tanta sabedoria nas relações sociais. Devemos ter em mente que o motivo fundamental para a investigação científica está em sua curiosidade intelectual, ou seja, na necessidade de compreender o mundo. Essa forma de entendimento passou por diferentes momentos históricos e, em cada um deles, situações e pensadores fizeram com que o meio de produção do conhecimento fosse modificado. Vamos agora estudar alguns desses momentos. Muito bem! Você terminou uma importante seção da nossa disciplina, na qual refletimos sobre o caráter da ciência. Faça um breve intervalo, pois iremos agora estudar como evoluiu o pensamento científico atual. 4.1 A Ciência na ANTIGUIDADE A preocupação com o conhecimento sempre foi uma característica marcante da grande maioria dos povos da antiguidade, uma vez que a sobrevivência dos indivíduos e das populações dependia do conhecimento da dinâmica ambiental na qual viviam. Afinal, os homens sempre construíram abrigos, dominaram a produção de alimentos, desenvolveram artefatos de guerra e sempre buscaram meios de cura (PRICE, 2000). Podemos perceber que, em todas as culturas conhecidas, pode ser encontrado algum conhecimento de destaque acerca da geometria, da agricultura, da astronomia, do comércio ou mesmo do domínio da química. Nesse período, muitos dos conhecimentos produzidos era fruto do acaso, da tentativa e erro; 22 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância No período dos pré- socráticos, o povo grego acreditada em deuses antropomórficos, ou seja, que apresentavam aparência humana. Nesse período, acreditava-se que os deuses do Olimpo governavam o mundo terreno de acordo com suas vontades e caprichos, ou seja, para se ter uma boa colheita, a deusa Era deveria estar satisfeita com os sacrifícios oferecidos pelos mortais, por exemplo. Dessa forma, a dinâmica da Terra e do clima ficava à mercê da vontade desses deuses, sem qualquer regra ou previsão. Assista ao vídeo sobre o texto de Platão “O mito da Caverna”. Disponível em: http://www.youtube.com/w atch?v=dHVR4GpDvCQ&f eature=related sendo assim obtido de maneira informal e assistemática. Esse caráter dificultava a averiguação e a divulgação precisa das informações geradas. Muitos povos antigos se destacaram na produção de conhecimentos que até hoje chamam a atenção pela precisão e criatividade. Dentre eles, podemos salientar os egípcios, que se destacam pelas suas construções e por conhecimentos - na área médica - como as técnicas de mumificação e cirurgias cerebrais bem sucedidas. Eles também dominavam muito bem a agricultura, dentre outros destaques. Já os babilônicos se destacam pelos estudos nas áreas da Matemática e da Astronomia. Nesta última área do conhecimento, os babilônicos se consagraram por desenvolver a convencional base sexagesimal, a qual continuamos a utilizar até hoje para a medida de ângulos, minutos e segundos e para a subdivisão de horas. Outra cultura que merece destaque, no que se refere à ciência, é a civilização grega. Inicialmente, podemos chamar a atenção para os chamados Pré-Socráticos, um grupo de filósofos que tomou o primeiro passo para romper a associação da ciência com a filosofia. Naquele momento da história, a ciência e a filosofia encontravam-se ainda fundidas, sendo à filosofia atribuída a tarefa de desenvolver conhecimento seguro. A influência dos filósofos pré-socráticos ajudou a substituir a visão caótica do mundo governado por deuses antropomórficos pela ideia de Cosmos, na qual o universo é ordenado por princípios e leis fixas e inerentes à própria natureza. Estabelece-se, assim, o conceito de causa e efeito; os fenômenos estavam relacionados a causas e forças da natureza que poderiam ser conhecidas e previstas (KÖCHE, 2000). A principal forma de conhecimento dos pré-socráticos era a percepção dos sentidos 23 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Leia também o livro “O mundo de Sofia” de Jostein Gaarder, editora Cia das Letras. humanos. Dessa forma, a principal dificuldade encontrada era a de saber se, por baixo das aparências perceptíveis, haveria uma essência imutável que definiria as coisas. Rompe-se, assim, com as crenças mitológicas e inicia-se o caminho da construção do conhecimento ocidental com uma atividade filosófica voltada para a compreensão racional do Cosmos. Em um segundo momento do pensamento grego, a investigação do mundo passa a seguir um novo modelo, chamado de Platônico. Para Platão, o real não pode ser percebido pelos sentidos humanos, pois a forma acessível aos sentidos mostra como as coisas são, mas não o que elas são. Dessa forma, o modelo platônico gera o conhecimento pelo raciocínio, o que Platão chama de mundo das ideias. Nele, as coisas são na sua forma perfeita, sendo o mundo dos sentidos apenas a representação do que é perfeito, ou seja, a representação de opiniões e crenças sobre a aparência do real (HÜHNE, 2000). A ciência na visão platônica fornece a inteligência eo entendimento, que seria o conhecimento indutivo, desenvolvido através da argumentação e expressão de ideias (dialética). Outro filósofo grego que se destacou, no contexto da ciência, foi Aristóteles. Aristóteles foi discípulo de Platão e introduz o conceito de ciência como produto do entendimento da realidade, em que a análise da realidade é feita através da observação da natureza, associada às sensações provenientes dos sentidos. Com base nessa percepção, eram formuladas ideias universais que representavam a essência da realidade. Surge, assim, o primeiro método de produção de conhecimento baseado no entendimento e experiência sensível da realidade (PRICE, 2000). O método aristotélico consiste em analisar a realidade através de suas partes, que podem ser percebidas pelos sentidos. Depois do levantamento de um grupo de informações suficientes, pode-se pensar em um comportamento padrão dos fenômenos estudados e, dessa forma, a partir de informações obtidas, generaliza-se uma informação. O próximo passo desse método é formular princípios universais, os quais são correlacionados entre si através da lógica. Assim, o modelo aristotélico busca produzir conhecimentos que visam ser um fiel espelho da realidade (CARVALHO, 2000). 24 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Assista ao documentário “Mentes Brilhantes”. Nele, podemos verificar os principais momentos da história que revolucionaram a trajetória do avanço tecnológico, e os personagens que os desencadearam. Disponível em: http://www.youtube.com/w atch?v=xxFXdMuqbMA Os gregos viam o mundo dotado de uma ordem e estrutura natural que define a ordem e o acontecimento dos fenômenos naturais. Cabe à Filosofia e à Ciência buscar conhecer tal ordem, compreendê-la e demonstrá-la. Essa visão demonstrativa da ciência aristotélica, que data do século IV a.C, permanece até o século XVII d.C. e vigorou por mais de dois mil anos, sendo utilizada até hoje como método empírico ou indutivo. 4.2 Abordagem da Ciência Moderna O método aristotélico de produzir conhecimento permaneceu sendo o mecanismo de busca de saber do homem por um longo período. Entretanto, à medida que a complexidade da sociedade aumentava novos conhecimentos eram necessários. A forma empírica de busca do saber, muitas vezes, não satisfazia as necessidades de conhecimentos mais precisos. Isso sem mencionar que as questões ainda não respondidas, até então, levaram muitos a pensar em uma nova forma de proceder na pesquisa científica. Naquele momento da história, almejava-se uma pesquisa que buscasse informações com caráter quantitativo, ou seja, que pudessem ser expressas e representadas numericamente, de forma que tais informações pudessem ser comprovadas, e os mecanismos de sua produção pudessem ser repetidos e reproduzidos, confirmando assim as informações com maior grau de certeza e precisão (PRICE, 2000). Esse fenômeno teve início, no século XIII, por influência do uso da Matemática, da observação astronômica e da busca de dados através da experimentação. No século XVI, intensifica-se a busca de conhecimentos em todas as áreas das ciências naturais (física, química, biologia, medicina), o que levou - no século XVII - a uma reformulação na forma de gerar conhecimento, movimento conhecido como Revolução Científica. Os principais precursores desse movimento foram Galileu Galilei e Francis Bacon, que introduzem a experimentação como fonte de conhecimento, modificando totalmente a concepção do mundo teórico e da ciência (KÖCHE, 1997). 25 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Galileu Galileu, físico, matemático e astrônomo italiano, nasceu em 1564. Desenvolveu os fundamentos da mecânica com o estudo de máquinas simples (alavanca, plano inclinado, parafuso etc.). Entre suas criações, destaca- se o telescópio com o qual explorou os céus como nunca fora feito antes. Além de estudar as constelações Plêiades, Órion, Câncer e a Via Láctea, descobriu as montanhas lunares, as manchas solares, o planeta Saturno, os satélites de Júpiter e as fases de Vênus. A partir de suas descobertas, defendeu a ideia de que a Terra não ficava no centro do Universo. Como essa teoria era contrária à Igreja, foi perseguido, processado duas vezes e obrigado a negar suas ideias publicamente. Foi banido para uma vila de Arcetri, perto de Florença, onde viveu em um regime semelhante à prisão domiciliar. As longas horas ao telescópio causaram sua cegueira, e ele morreu em 1642. Bacon se contrapôs veementemente ao método aristotélico, baseado somente na observação, julgando a necessidade de um método que desse maior eficácia à investigação. Propôs, então, um método de investigação da natureza, com base na necessidade do controle experimental para obtenção de confiabilidade dos dados. Esse método seguia o caminho da indução experimental sistematizada. Nesse contexto, Bacon entendia que os sentidos poderiam falhar, no registro ou sensibilidade, em relação aos dados e, assim, a busca pelo saber essencial deveria dispor de meios mais confiáveis para a obtenção e registro de dados (KÖCHE, 1997). O método proposto por Bacon segue os seguintes passos: 1 – Experimentação – realização de experimentos sobre o fenômeno estudado, para poder observar e registrar - metódica e sistematicamente - todas as informações que pudesse coletar; 2 – Formulação de Hipóteses – através da análise dos dados da fase anterior, tenta-se explicar as relações causais entre os fatos registrados; 3 – Repetição dos experimentos – os experimentos são refeitos por outros cientistas, ou em outros locais, visando evidenciar regularidade no comportamento dos dados; 4 – Teste das hipóteses – os experimentos são repetidos novamente, buscando novos dados e novas evidências que confirmem as hipóteses propostas; 5 - Formulação de teorias generalistas – através das evidências obtidas, é possível a formulação de leis, cujo enunciado pode ser generalizado para explicar todos os fenômenos da mesma espécie. 26 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Para conhecer mais sobre o método de Galileu, assista ao vídeo sobre os primeiros experimentos de Galileu em: “Galileu, o pai da Ciência”, disponível em: http://www.youtube.com/w atch?v=yThJZhDKEfo e em: http://www.youtube.com/w atch?v=hZ64zHfLjEA Bacon tenta, assim, estreitar o máximo possível a correspondência dos enunciados com os fatos, criando critérios rígidos na produção de conhecimentos tidos como verdadeiros. Entretanto, seu método permaneceu numa escala qualitativa, o que não possibilitou um avanço significativo desse método. Outro importante nome da história da ciência foi Galileu Galilei, que via necessidade de analisar os fenômenos naturaisexperimentalmente e, assim, obter informações mais precisas. Galileu é considerado o pai da revolução científica, sendo o primeiro a incorporar a Matemática e a Geometria para explicar fenômenos naturais. Galileu não acreditava na validação da explicação pela simples demonstração, mas por provas elaboradas de forma matemática. Assim, o principal foco refere-se às evidências quantitativas produzidas pela experimentação. Esta forma de pesquisa constitui o método científico quantitativo- experimental (PRICE, 2000). O procedimento para desenvolver ciência proposto por Galileu se iniciava com a observação de um fenômeno natural. Em seguida, ele propunha uma hipótese, ou seja, propunha uma explicação para tal fenômeno e, na sequência, eram desenvolvidos experimentos que buscavam validar tal hipótese, ou seja, verificar se essa relação proposta era real ou não. Assim, os passos do método proposto por Galileu consistiam de: 1 – Observação dos fenômenos: A partir da observação de um fenômeno, poderia ser formulada uma hipótese que descrevesse seu comportamento; 2 – Em seguida, monta-se um experimento que simule o fenômeno natural, de forma a conseguir dados que validem a hipótese proposta; 3 – Formulação de enunciados: a partir dos dados obtidos com os experimentos, formulava-se um enunciado teórico que explicasse tal fenômeno; 27 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Isaac Newton. Este cientista inglês foi um dos principais cientistas do século XVIII, contribuindo com a formulação de leis e teorias científicas empregadas até a atualidade. Dentre as maiores descobertas de Newton, quatro delas foram realizadas em sua casa. Isto ocorreu no ano de 1665, período em que a Universidade de Cambridge foi obrigada a fechar suas portas por causa da peste que se alastrava por toda a Europa. Na fazenda onde morava, o jovem e brilhante estudante realizou descobertas que mudaram o rumo da ciência: o teorema binomial, o cálculo, a lei da gravitação e a natureza das cores. Galileu tomou como pressuposto que os fenômenos da natureza apresentam relações quantitativas entre os fatos que os constituem. Por exemplo, os movimentos dos corpos eram determinados por relações quantitativas numericamente determinadas. Para Galileu, cabe à razão apresentar questões inteligentes, manifestadas através de hipóteses quantitativas aos fenômenos da natureza, e as respostas seriam obtidas através de experimentos. Só a partir dessa nova concepção, inicia-se a explosão da ciência moderna. Após as colocações de Galileu, questionam-se as principais “verdades” defendidas pela concepção aristotélica de ciência, propondo-se - a partir de então - uma nova forma de produzir conhecimento científico. O método proposto por Galileu leva a dados com maior grau de confiabilidade, uma vez que a manifestação matemática de um fenômeno poderia ser utilizada por outros pesquisadores em locais diferentes, em épocas diferentes, ou mesmo por pesquisadores de outras nacionalidades. Com isso, o procedimento empregado na produção dos saberes se torna mais eficaz. Na mesma época do falecimento de Galileu, nasce outro ícone da Ciência, Isaac Newton. Você, certamente, já ouviu falar dele pelas suas leis e, dentre elas, da Lei da Gravidade. Newton não aceitava ideias previamente formuladas, afirmando que não aceitava leis e teorias que não fossem formuladas através da experiência por indução, ou seja, que fossem tiradas diretamente dos fatos. Newton foi o principal formulador do método científico indutivo-confirmável, no qual as informações são extrapoladas de uma parte para o todo. Ou seja, analisam-se as partes que compõem um evento natural e, compreendendo as partes, poderia se ter uma ideia do todo (CARVALHO, 2000). Para Newton, a realidade só é plenamente conhecida quando se descreve - com exatidão quantitativa - como ela funciona, e como ela se relaciona. O método 28 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância newtoniano se aproxima mais do de Bacon do que com o de Galileu, pois Newton não trabalha com hipóteses. Seu método baseia-se puramente na indução, ou seja, nos fatos. Os passos desse método estão listados a seguir: 1 – Observação dos fenômenos naturais – busca conhecer os fatores envolvidos no fenômeno estudado; 2 – Análise das partes - estabelecimento de relações quantitativas entre os fatores analisados; 3 – Indução de hipóteses – elaborar uma suposta relação quantitativa entre os fatores, o que deverá ter sua veracidade testada; 4 – Verificação das hipóteses – teste da hipótese, os dados experimentais irão dizer se os fatos se ajustam ou não à hipótese formulada; 5 – Generalização dos resultados para casos similares – aceita-se a hipótese pode ser estendida para situações similares, em que novos experimentos podem ser desenvolvidos; 6 – Confirmação das hipóteses, obtendo-se Leis Gerais – estabelecimento de relações causa-efeito seguras e previsíveis. O método de Newton parte de que, para se ter um conhecimento total de um fenômeno natural, o pesquisador deve se destituir de quaisquer concepções prévias, ou seja, deve-se partir do zero para que uma investigação consiga captar a essência das coisas. Por isso, do primeiro passo desse método ser fundamentado, na experimentação inicial, os dados dos experimentos é que permitirão - a partir da reflexão - a formulação de um conceito ou lei científica. Para Newton, o conhecimento é produzido a partir de uma lei obtida pela observação indutiva (experimentos), ou pela dedução matemática dessa lei. O século XVIII é considerado o século das luzes, por isso esse período é chamado de “Iluminismo”, durante o qual impera a visão racional de Descartes. Nele, o conhecimento é produto de ideias e, dessa forma, o raciocínio dedutivo do ser produtor de conhecimento é fundamental. O Iluminismo, entretanto, avança bem mais que os conceitos indutivos de Bacon e o dedutivo de Descartes. Neste momento, a ciência também aborda quais os limites para o conhecimento (CARVALHO, 2000). 29 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Após a Revolução Científica descrita no tópico acima, você pode ficar com a impressão de que tudo estava perfeito na produção do conhecimento; que a ciência poderia ser imbatível na busca do conhecimento do mundo e das relações existentes entre as mais diversas áreas do saber. Bem, a dinâmica das coisas não foi tão retilínea assim. No século XIX, a ciência se caracteriza pela racionalidade e precisão nos dados. A pesquisa era o meio pelo qual as verdades podiam ser descobertas e compreendidas. Nesse contexto, repercutiram-se os grandes acontecimentos tanto no campo da economia, com a Revolução Industrial, quanto no campo político, com a Revolução Francesa; ambas ocorridas na segunda metade do século XVIII.A criação de um sistema de produção mecanizado leva à necessidade de consumidores para os produtos. Ao mesmo tempo, cria-se uma classe detentora dos meios de produção e o proletariado, dependente da força de trabalho (CARVALHO, 2002). O estado começa a se preocupar com a ordem social, ameaçada pelas revoltas da classe trabalhista. A produção padronizada e mecanizada (Fordismo) gera produtos massificados, desprovendo o consumidor de escolhas. Esses e outros conflitos de ordem política e econômica do sistema capitalista comprometem os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade propostos pela Revolução Francesa. Esse contexto histórico leva a um redimensionamento do conhecimento. Surgem, assim, as ciências humanas com o propósito de compreender as crises instaladas. Essas ciências configuram um novo olhar na busca de conhecimento pelo homem. A situação da época demonstra um mundo cheio de euforia com as novas descobertas no campo das ciências sociais, e surgem duas tendências metodológicas que marcam novos objetos de conhecimento. O primeiro é o pensamento positivista, cujo principal pensador foi Augusto Comte. Para os positivistas, a ciência é o único meio de se conhecer a verdade. Para essa linha de raciocínio, somente através da comprovação científica é que uma teoria pode ser confirmada. Os positivistas se fundamentam na lógica matemática e na experimentação como meios para promover conhecimentos seguros. Tomam como base a neutralidade do pesquisador, sendo a sociedade regida pelas leis que se aplicam também ao mundo natural. No pensamento positivista, o comportamento dos dados é fixo, ocorrendo independente do ser humano. Cabe à razão humana entendê-los e compreendê-los (CARVALHO, 2002). 30 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Albert Einstein, considerado um dos mais brilhantes pensadores e cientistas do século XX. Tornou-se famoso por formular a Teoria da Relatividade Geral e Restrita, nas quais faz a relação entre matéria, energia, espaço e tempo. Suas teorias foram propostas com base em raciocínio dedutivo, sendo confirmadas realisticamente anos mais tarde. Recebeu o prêmio Nobel de Física em 1921 e participou do projeto que deu origem à bomba atômica americana. O segundo pensamento é o materialismo histórico-dialético, cujo principal nome associado é o de Karl Marx. Nesse método, Marx coloca o conhecimento científico com uma ferramenta para a compreensão das transformações sofridas pela sociedade no que se refere ao sistema de produção vigente, ou seja, as ideias propostas devem ser analisadas de acordo com o sistema econômico da época. Essa visão implica a falta de neutralidade da ciência, pois o conhecimento é fruto da interpretação do pesquisador; o que se opõe ao pensamento positivista. A visão dialética de Marx propõe a detecção pelos meios científicos das mudanças ocorridas na sociedade em determinado contexto político (CARVALHO, 2000). Muito bem! Você concluiu uma importante etapa da leitura, embora ainda não tenhamos concluído o conteúdo. Para você se certificar de que entendeu tudo direitinho, pense um pouco sobre as principais diferenças entre os modelos de Aristóteles, Bacon, Galileu e Newton na produção do conhecimento científico. 4.3 A VISÃO CONTENPORÂNEA DA CIÊNCIA No século XX, a ciência busca novos rumos. Com os conflitos de ordem mundial ocorridos na primeira metade do século (1ª Guerra Mundial, Revolução Russa e 2ª Guerra Mundial), surgem novas propostas para a produção de conhecimento científico que retomam o ideal de objetividade através do pensamento racional. Nas primeiras décadas do século XX, novas descobertas no campo das ciências naturais, da economia e das ciências sociais promovem um significativo avanço no conhecimento científico. Essas descobertas promovem inovações tecnológicas que possibilitam melhoria na forma de fazer ciência, permitindo que as descobertas atingissem níveis maiores de profundidade e de complexidade. Consequentemente, aumentou-se também o nível de conhecimento das coisas, o que permitia um 31 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Para entender mais sobre a história da evolução da ciência e de como tanto conhecimento foi se concretizando ao longo do tempo, aí vão algumas sugestões de leitura; “A Dança do Universo” Marcelo Gleizer. Companhia das Letras. “Uma Breve História de Quase Tudo. Bill Bryson. Companhia da Letras. avanço tecnológico que - por sua vez - aumentava o nível de conhecimento e assim sucessivamente. Você pode perceber que se tratava de um ciclo vicioso; conhecimento gera tecnologia, e tecnologia gera conhecimento. Nesse contexto, a ciência parece ser imbatível e, aí, cria-se um mito de que tudo pode ser desvendado através da pesquisa científica (PRICE, 2000). Você deve estar se perguntando: “mas a ciência é de fato detentora do poder de tudo descobrir?” Bem, apesar dos avanços inegáveis em diversas áreas, ainda temos questões sem resposta, tais como a cura para o câncer, ou a busca por uma energia inesgotável e não poluente. Entretanto, essa contínua melhoria na forma de produzir informações teve como consequência a ruptura com teorias anteriormente acreditadas. Com a melhoria de equipamentos, e com o conhecimento acumulado até então, novas informações surgem para se sobrepor e derrubar informações que passam a ser desacreditadas diante de novos conhecimentos. Um exemplo é a descoberta da idade real do planeta Terra. Nesse contexto, cabe-nos mencionar outro ícone do pensamento científico que revolucionou o século XX, Albert Einstein. Vocês já devem ter visto muitas fotos representando um cientista com aspecto de alucinado. Entretanto, Einstein é considerado um gênio por ter formulado suas teorias utilizando-se apenas da dedução. Mas o que significa isso? Ele utilizou os conhecimentos já produzidos por outros cientistas, principalmente Newton, e - através do seu raciocínio, inteligência e lógica - formulou novas teorias que, de certa forma, contrapunham-se às Leis de Newton, na época (final do século XIX), aceitas como verdades absolutas. Com o surgimento de teorias como a relatividade geral e restrita, formuladas por Einstein, o método científico passa a considerar a concepção de ideias e hipóteses prévias. Além do mais, no século XX, as ciências sociais alcançam seu ápice, gerando conhecimentos que têm o ser humano e a sociedade como objeto de estudo; objeto 32 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância este que não se adequava aos meios tradicionais de produção do conhecimento empregado nas ciências exatas e nas naturais. Dessa forma, surgem novos meios de gerar e aprimorar o conhecimento humano nas mais diversas áreas. Naquele momento histórico, verificou-se um avanço significativona produção de conhecimentos tecnológicos; o que - por sua vez - viabilizou o avanço científico. Surge o Mercantilismo, um expressivo avanço econômico decorrente da Revolução Industrial, que foi viabilizado pelas novas descobertas científicas. O rigor metodológico promove cada vez mais a expansão da economia e, nesse contexto, quanto mais se descobre, maior seu potencial de exploração econômica. A ciência passa a ser um meio para desenvolvimento econômico (CARVALHO, 2000). Assim, a forma ideal de se fazer ciência, no final do século XX, alcança um elevado grau de credibilidade decorrente do rigor nos métodos e técnicas para a produção de dados. Entretanto, devem-se considerar o objeto de estudo e os objetivos a serem alcançados com a pesquisa. Assume-se, então, um caráter revolucionário, que considera o desejo do homem em obter caminhos seguros para alcançar ou produzir um conhecimento. Admite-se que os procedimentos científicos são um sistema aberto e mutável, podendo ser definidos como: A descrição e a discussão de quais critérios básicos são utilizados no processo de investigação científica (MARCONI &LAKATOS, 2000). O método científico pode envolver raciocínio exato, objetivo e sistemático; de forma que o caminho trilhado para o desenvolvimento de uma pesquisa possa ser analisado, criticado e repetido sempre que necessário. Ou, então, estabelecer mecanismos que consideram o contexto histórico, associados aos dados e à interpretação do pesquisador no momento da produção dos dados. Dessa forma, o objetivo básico da ciência não é o de descobrir verdades ou conhecer plenamente a realidade, mas sim fornecer um conhecimento provisório que permita uma melhor interação com o mundo; de forma que previsões possam ser feitas, e mecanismos de gestão dos recursos possam ser desenvolvidos (HÜHNE, 2002). Você pode perceber que, hoje em dia, a pesquisa científica pode adotar diversos métodos e inúmeras formas de coleta de dados, para melhor conhecer a essência de uma realidade, como veremos no módulo 4. O importante é que tais meios sejam adequados à área de pesquisa em questão e que o pesquisador adote medidas éticas na coleta de dados, como veremos no módulo 3. 33 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância Muito bem! Terminamos mais uma seção e com ela o módulo 1. Nos próximos módulos, iremos tratar de temas mais aplicados da Metodologia Científica. Até mais. 34 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informações e documentação – referências. NBR 6023. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informações e documentação – trabalhos acadêmicos - apresentação. NBR 14724. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11—69. Disponível em: http://www.biomaterial.com.br/Metodologia_pesquisa.pdf. Acesso em 31 de Nov. de 2011. CARVALHO, M. C. de. Construindo o saber: metodologia científica, fundamentos e técnicas. 2 ed. Campinas: Papirus, 2002. CERVO, A. L. ; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 2 ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2000. HÜHNE, L. M. Metodologia Científica: cadernos de textos e técnicas. 7 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002. KÖCHE, J. C. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 18 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2000. MEDEIROS, J. B. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2010. PRICE, D. de S. A ciência desde a Babilonia. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. SANTOS, A. R. dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 5 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000. 35 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância 1. O Conhecimento sempre foi necessário para que o homem pudesse sobreviver no meio natural e evoluir em temos tecnológico, cultural e social. No desenvolvimento histórico do pensamento científico, em que momento a ciência estabelece uma necessidade ativa de entender e interpretar os fenômenos naturais (0,5) a) Na Grécia antiga, quando os filósofos pré-socráticos deixaram a visão de mundo caótico em prol de um universo organizado e se estabeleceu o conceito de Cosmos; b) Na Idade Média, com os estudos de Galileu Galilei, considerado o pai da ciência moderna por ter introduzido o método experimental e a quantificação dos dados, tornando os resultados de suas pesquisas mais precisos; c) Na Idade Moderna, com o avanço tecnológico possibilitado pelos equipamentos modernos, que apresentam alto grau de precisão nos dados; d) Na antiguidade, período marcado pela revolução científica, da qual Galileu Galilei é considerado o principal mentor; e) Na Era Contemporânea, através do avanço tecnológico, que permite conhecimentos cada vez mais seguros e confiáveis. 2. “Ao contrário do que dão a entender a maioria dos livros de metodologia, o conhecimento científico não é algo pronto e acabado, indiscutível. Na verdade, o século XX foi palco de uma apaixonada discussão sobre o que é ciência, quais são suas características e sua relação com os outros tipos de conhecimento” (DALTON, 2002). Com base no fragmento de texto acima, podemos entender que a ciência na atualidade não está isenta de erros e equívocos. Diante disso, analise as seguintes afirmativas: (0,5) I - A pesquisa, quando segue os padrões de produção de conhecimentos da atualidade, encontra-se isenta de qualquer possibilidade de erros. II - O teste ao qual qualquer pesquisa científica está sujeita permite que os conhecimentos gerados por ela possam ser criticados, e possíveis falhas serem identificadas e corrigidas; o que dá maior segurança e confiabilidade as informações produzidas. III - A exposição dos meios pelos quais um pesquisador consegue alcançar determinadas informações é imprescindível para que tais dados possam ser interpretados e analisados. IV - A pesquisa desenvolvida, no início do século XX, foi totalmente desacreditada nos dias atuais, pois novos equipamentos permitiram dados muito mais seguros e confiáveis. MÓDULO 1 36 CNEaD – Coordenadoria Nacional de Educação a Distância V - Podemos dizer que o rigor científico, atualmente exigido nas pesquisas,deve- se à necessidade de mascarar os possíveis erros cometidos; de forma que os mesmos não sejam evidenciados pelos usuários de tais informações. a) Somente as afirmativas I e IV estão corretas; b) Somente as afirmativas III, IV e V estão corretas; c) Somente as afirmativas II e III estão corretas; d) Somente as afirmativas I,II e V estão incorretas; e) Somente as afirmativas III, IV e V estão incorretas. 3. Descreva em, no máximo, 3 linhas sobre como a ciência impulsiona a tecnologia e vice-versa. 4. Descreva, de forma geral, as principais diferenças entre os métodos adotados por Aristóteles, Galileu e Einstein. 5. Explique porque Galileu é considerado o pai da Revolução Científica, e quais são as principais diferenças do seu método comparado ao de Newton.
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