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Capitalismo prosperidade e estado de bem estar - Enrique Serra Padrós

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Capitalismo, Prosperidade e
Estado de Bem-estar social
Enrique Serra Padrós.
 Professor assistente de História Contemporânea da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
Do livro O Século XX
O período posterior à Segunda Guerra Mundial foi marcado pela reconstrução européia e japonesa, 
pela Guerra Fria, pela descolonização e pela nacionalização da hegemonia americana. Mas foi, 
também, um período de enorme crescimento produtivo nos países desenvolvidos. Denominados de 
anos gloriosos ou Idade de Ouro, o fato é que os primeiros trinta anos do pós-guerra, constituíram 
uma era única na história contemporânea. A espantosa recuperação do mundo capitalista, quanto ao 
crescimento econômico e avanços tecnológicos, revolucionou as pautas de consumo e 
comportamento até então existentes.
1. Sombra e Luzes sobre o mundo capitalista depois do Triunfo sobre o nazismo. A Saída da 
Segunda Guerra Mundial.
O impacto da Segunda Guerra sobre o conjunto da sociedade européia teve características inéditas. 
O fato de ter sido uma guerra total, envolvendo a mobilização de todos os setores produtivos e 
recursos naturais, deixou cicatrizes profundas entre os sobreviventes. As utilizações de novas 
tecnologias de destruição e as enormes mobilidades dos exércitos atingiram áreas extensas. O 
bombardeio das vias de comunicação e o desmantelamento e mudança de fábricas para zonas mais 
seguras contribuíram para desorganizar, ainda mais, a vida material das pessoas. Aliás, nunca se 
vira, até então, tamanha transferência de contingentes populacionais. A guerra deslocara dezena de 
milhões de pessoas, soldados, prisioneiros de guerra, as vítimas do racismo, trabalhadores forçados, 
além dos movimentos espontâneos de população fugindo da guerra. Tais fluxos provocaram, por 
toda a Europa, alterações demográficas, problemas geopolíticos e choques que acrescentaram novos 
tensionamentos à sempre explosiva convivência entre as diversas nacionalidades continentais. Além 
das dezenas de milhões de mortos, feridos, mutilados e desabrigados, deve-se contabilizar o número 
de nascimentos que, previstos segundo as tendências do pré-guerra, não chegaram a ocorrer. 
Calcula-se que ao redor de 55 milhões de pessoas, potenciais produtores e consumidores, deixaram 
de nascer na Europa, o que é um dado espantoso. A própria falta de braços no campo gerou 
subprodução, encarecimento dos alimentos e surgimento do mercado negro em um período em que 
a fome e o desabastecimento estavam na casa da maioria dos europeus.
O endividamento das economias européias, em decorrência da guerra, é outro fato a destacar. Os 
países envolvidos gastaram seus estoques de moeda e recorreram a empréstimos externos e ao 
endividamento comercial, provocando a reconversão de saldos das antigas potências européias em 
relação a alguns países do Terceiro Mundo. Em 1945, por exemplo, a dívida britânica junto à 
Argentina (uns 126 milhões de libras) só foi zerada com a venda de empresas que a Grã-Bretanha 
possuía naquele país (ferrovias, companhias de construção elétrica, transporte urbano). A essa 
altura, parte desse material já era considerado obsoleto, mas a nacionalizações foram capitalizadas 
pelo projeto político peronista.
Os índices globais do fim da guerra mostram as enormes dificuldades dos países europeus para 
ressurgir da destruição material. Os níveis de produção caíram em quase todos eles. Comparada aos 
anos 30, a produção de cereais diminuíra em 70%, a de carne 66% e outros produtos agrícolas 75%. 
Embora algumas tecnologias vinculadas à indústria de guerra se tivessem desenvolvido, o produto 
industrial despencou. Claro, alguns beneficiaram-se com o colapso europeu. Os EUA, durante a 
guerra, triplicaram a produção industrial (em 1946 produziram metade da produção mundial) já a 
sua renda per capita aumentou mais de 100% (de 550 para 1.260 doláres).
Além das perdas materiais, as potências coloniais européias tiveram enorme dificuldade para 
manter seus impérios. Por quê? a) a contradição no apelo das metrópoles ao esforço de guerra 
colonial contra as ditaduras fascistas em nome da democracia e liberdade; b) a falta de condições 
materiais para restabelecer a tradicional relação metrópole-colônia c) a penetração econômica 
americana nas colônias européias durante a guerra d) a pressão política e simultânea dos EUA e da 
URSS contra a manutenção da ordem colonial: a primeira, contrária aos mercados fechados; a 
segunda, identificando-se com os movimentos revolucionários e procurando novos espaços 
econômicos para relacionar-se. Independentemente de questões ideológicas, a descolonização 
enfraqueceu a Europa em benefício das superpotências.
O impacto da guerra sobre a consciência européia foi considerável. Restou um medo residual da 
barbárie, da tecnologia destrutiva, dos perversos efeitos das ocupações. Nada mais brutal, do que a 
presença de milhares de crianças órfãs, além das terríveis imagens dos diversos holocaustos (judeus, 
eslavo, cigano e etc.) Neste aspecto, a reconstrução foi muito mais difícil. O colaboracionismo ficou 
como ferida exposta nas consciências nacionais. Puni-lo? Ignorá-lo? Execrá-lo? A guerra abalou 
crenças profundas da cultura européia. As cicatrizes físicas e morais, junto com a memória ou o 
esquecimento, foram a outra cara da sociedade que devia reerguer-se.
A experiência da pós-primeira guerra e a crise de 1929 serviram de referência para evitar situações 
posteriormente semelhantes. O dilema para a economia americana era o de como evitar uma crise 
de superprodução no fim da guerra. Ou seja, como orientar um reordenamento internacional e a 
necessária reconversão de uma economia de guerra para uma outra em tempos de paz, sem correr o 
risco de um quebra-quebra generalizado? Como fazer para adequar os altos índices de 
produtividade atingidos entre 1939 e 1945 com a realidade do pós-guerra? Por um lado, era 
fundamental evitar a falências das economias européias, pois a recuperação econômica da Europa 
era estratégica para a manutenção da supremacia dos EUA. Por outro, a superpotência destinou 
cotas de alimentos a fundo perdido como ajuda humanitária para que os europeus enfrentassem os 
dolorosos primeiros meses de fome e frio. Na prática o governo dos EUA comprava enormes 
estoques de seus agricultores, mantinha os lucros para o setor agrícola, impedindo a sua quebra, e 
melhorava muito a sua imagem externa. Entretanto, a ajuda não tão desinteressada assim. Havia 
uma contrapartida. As econômicas européias deviam seguir as recomendações americanas de 
flexibilizar seus mercados e suas políticas econômicas às novas tendências estruturadas a partir da 
lógica do sistema de acumulação dos EUA.
Desde os anos 30, já se estudavam mecanismos de dinamização do comércio e de mudanças na 
rigidez monetária pautada em cima do padrão ouro (universalmente aceito). Porém, em julho de 
1944, nos Estados Unidos, representantes de 44 países reuniram-se para desenhar o panorama 
econômico mundial. Num cenário de fim de guerra e reconstrução posterior procuraram-se soluções 
para a falta de pagamentos internacionais (principalmente dos países endividados com o conflito) e 
que mantivessem a dinâmica relação produção-consumo. Após diversas propostas, aprovaram o 
acordo de Bretton Woods, que introduzia as seguintes modificações: a) aceitação do dólar como 
moeda internacional e conversível em ouro (a libra esterlina foi usada por pouco tempo); b) livre 
conversibilidade das moedas nacionais entre si, a partir de uma paridade fixada em ouro ou em 
dólares; c) criações de instituições que sustentassem os acordos como o Fundo Monetário 
Internacional e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, mais conhecidocomo Banco Mundial. Bretton Woods definiu a livre conversão de dólares por ouro (cada onça de 
ouro foi taxada em 35 dólares), numa época em que os EUA detinham quase 80% das reservas de 
ouro. Estas enormes reservas tinham sido obtidas na troca por produtos industriais americanos e 
com um artifício muito controverso. O valor do ouro estava congelado nos índices de 1934. Ora, 
somente entre 1939 e 1945 houve uma inflação que variou, dependendo do setor, entre 200% e 
400%. Ou seja, os EUA lucraram muito vendendo produtos com o valor corrigido pela inflação em 
troca de ouro com valor congelado. A enorme transferência de ouro para os EUA foi um dos fatos 
mais importantes do início da reconstrução européia. Assim, podia-se garantir a conversão desse 
ouro em dólares mantendo-se o dinamismo do circuito comercial. Os EUA passavam a 
desempenhar o papel de fiadores da economia internacional. Era o famoso “padrão de cambio ouro” 
(Gold Exchange Standard) que substituía o padrão ouro (Gold Standard)a frase “o dólar é tão bom 
quanto o ouro” sintetizava a necessidade de mudar a mentalidade das pessoas em relação aos novos 
tempos, quer dizer, desfazer-se do ouro e assumir o dólar como base monetária internacional. 
Quanto ao FMI, vigiava a aplicação das novas normas monetárias, promovia a estabilidade dos 
tipos de câmbio e favorecia um sistema multilateral de pagamentos. Já o Banco Mundial priorizava 
a reconstrução, investindo capital nas economias destruídas e reconvertendo as estruturas produtivas 
às novas necessidades de paz.
A realidade do intercâmbio comercial e do volume de endividamento europeu com os EUA 
mostrou-se muito mais complexa do que se antevia. Os países europeus precisavam de dólares para 
saldar dívidas e viabilizar projetos de desenvolvimento. Havia duas formas de obtê-lo. Uma, através 
da obtenção de saldos positivos no comércio com os EUA (o que não se verificava). Outra, através 
da venda do ouro dos bancos centrais nacionais (que como vimos, tinha o preço congelado). A 
segunda possibilidade era a mais viável, porém a situação era dramática. As necessidades dos países 
eram superiores ao que as reservas nacionais possuíam. E os EUA continuavam lucrando. Sua 
produção escoava para um enorme mercado externo, enquanto acumulava a maior quantidade do 
ouro que os outros países eram obrigados a gastar. Evidentemente que o ouro acabou e reconstrução 
ficou incompleta. A Europa, não tendo mais como obter novos dólares, passou a conviver com a 
crise da “fome de dólares”. O medo de turbulências sociais e a possibilidade de avanços dos 
partidos de esquerda no velho continente levaram o tesouro americano a uma intervenção cirúrgica 
nas frágeis economias européias e japonesa do pós-guerra. Para revitalizar o capitalismo dessas 
regiões. Era fundamental desobstruir os canais do comércio mundial e afastar o perigo de qualquer 
fantasma revolucionário. Em relação a esta última afirmativa, deve-se lembrar que, durante os 
primeiros anos do pós-guerra, enquanto a União Soviética consolidava a sua posição no Leste 
europeu, a esquerda mostrava-se muito forte na França, Itália e Grécia. Esta situação levou os EUA 
a elaborar a Doutrina Truman, eixo norteador da sua política externa no alvorecer da Guerra Fria e 
que antecedeu em alguns meses o Plano Marshall, do qual não pode dissociar-se. No dia 5 de junho 
de 1948, o Secretário de Estado George Marshall, discursando na Universidade de Harvard, 
defendeu o aumento da ajuda econômica à Europa. Os Objetivos do Plano Marshall eram: a) 
reconstruir a sociedade capitalista global; b) recompor a economia européia; c) integrar o Ocidente 
europeu à economia americana; d) adequar a imensa defasagem entre os dólares e ouro existentes 
nos EUA e a falta deles entre os aliados ocidentais.
Portanto, o fornecimento de doações e empréstimos americanos a juros baixos visava equilibrar 
orçamentos e estabilizar as moedas européias. Inicialmente, a oferta de ajuda abrangia também os 
países da Europa Oriental. Porém, conhecidas as condições de adesão para o recebimento da ajuda, 
ficou muito claro, para a lideranças de Moscou, que o plano intervinha nas economias nacionais 
limitando seriamente a soberania de projetos estratégicos de desenvolvimento. Ou seja, no Leste 
europeu, produziria a inviabilização de projetos socialistas. Assim, restrito a Europa Ocidental 
(excetuando inicialmente a Espanha Franquista), entre 1948 e 1961 entraram na Europa uns 30 
bilhões de dólares, na forma de empréstimos e doações. A Inglaterra o país mais beneficiado, 
recebeu 7,5 bilhões de dólares (seguido da França com 5 bilhões, Alemanha com 4 bilhões e Itália 
com 3,5 bilhões) Num primeiro momento, os novos investimentos priorizavam a produção de 
alimentos, rações para animais e fertilizantes, posteriormente, matérias-primas e manufaturadas. O 
Japão recebeu ajuda semelhante através do Plano Dodge.
O Plano Marshall foi fundamental para a acelerada recuperação das economias européias nos anos 
50 e 60. Mas foi muito mais favorável aos EUA. Entre as condições impostas estava a que facilitava 
aos EUA acessar as matérias-primas estratégicas do seu interesse (cromo, tungstênio), lembrando 
que 70% de todos os produtos importados pela Europa também provinham da lá. Inclusive, 
confirmava-se o temor soviético. Técnicos americanos fiscalizavam a utilização dos fundos, a não 
abertura de empresas concorrentes das americanas, os orçamentos estatais e a proibição de venda de 
material estratégico ao Leste europeu.
A receptividade e docilidade dos governos europeus às orientações americanas era fato levado em 
conta. A interdependência entre a Europa e os EUA acentuou-se significativamente. O plano 
garantiu aos EUA manter índices de produtividade semelhantes aos da guerra. E se a Europa 
recuperou rapidamente um novo ciclo de crescimento, cabe lembrar, entretanto, que perdera a 
primazia mundial dentro do capitalismo. Fora deslocada, definitivamente, pelos EUA. O plano 
permitiu superar a tendência à estagnação da “fome de dólares”, substituindo-a pela dolarização do 
mundo. A combinação dos efeitos da Conferência de Bretton Woods com os do Plano Marshall 
confirmava a idéia de “americanização da economia do mundo ocidental”, ou seja, a imposição 
hegemônica dos EUA (Trias, 1977, p.204)
Paralelamente ao processo de reconstrução européia ocorreu a sua integração. Em 1948 nasceu a 
Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE) mais tarde Organização de Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Sua função era a de distribuir a ajuda do Plano Marshall. 
Concomitantemente, aprofundava-se a associação entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo (Benelux), 
experiência bem sucedida de eliminação de taxas alfandegárias e restrições comerciais monetárias. 
Em 1951, avançara-se muito com a formação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço 
(CECA). Proposta no Plano Schuman (ministro de Relações Exteriores francês), visava esvaziar a 
competição industrial franco-alemã colocando sob uma autoridade supranacional uma política de 
produção conjunta para o carvão, aço e ferro. Estabelecia-se, assim, um único mercado europeu de 
carvão e aço (sem taxas, alíquotas ou discriminação de fretes, subsídios e etc.) Sendo uma 
experiência setorial, trouxe ganhos políticos e mostrou o caminho da integração sem conflito.
Finalmente, em 25 de março de 1957, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Luxemburgo e Itália, a 
Europa dos seis, acordavam o Tratado de Roma, criando a Comunidade Econômica Européia 
(CEE). Embora sem maior homogeneidade entre os parceiros, houve voluntarismo político para 
superar o ressurgimento de conflitos. A livre circulação de produtos agrícolas e industriais e taxasalfandegárias comuns ante terceiros caracterizaram o primeiro período da CEE. A Inglaterra, ponta-
de-lança dos interesses dos EUA no continente não querendo abrir a sua zona internacional de 
influência (a Commonwealth), optou por não fazer parte da CEE assim como não fizera da CECA.
Em resumo, as perspectivas do que seria a reconstrução européia se confirmaram. Foram anos 
muitos duros para uma população que tanto sofrera. A terrível destruição material da sociedade 
somaram-se milhões de pequenas tragédias individuais cujas feridas permaneceriam expostas por 
muitos anos mais. Qualquer pós-guerra, por pior que fosse, sempre era melhor que a realidade da 
própria guerra. Por outro lado, temia-se que a paralisia da economia européia levasse ao colapso a 
economia americana, que se agigantara abastecendo seus aliados. Mas a experiência do fim da 
Primeira Guerra e a identificação de uma nova ameaça, a soviética, permitiram uma relação 
diferenciada no que diz respeito à cobrança das dívidas dos aliados e ao tratamento dado aos 
vencidos. A grande descoberta dos EUA foi que, para manter a hegemonia conquistada durante a 
Segunda Guerra, era necessário recuperar a economia e o tecido político europeu e japonês. Em vez 
de países frágeis, precisava de aliados para a Guerra Fria e de consumidores para a sua indústria 
(muito maior que as reais necessidades de seu mercado interno). O acordo de Bretton Woods, 
complementado pelo Plano Marshall, garantiu um volume de moeda que viabilizou a relação 
demanda-produção. Isto foi fundamental. Garantiu um fantástico crescimento produtivo e 
acumulação de capitais nos EUA e impulsionou a recuperação européia e japonesa. Ainda estimulou 
a integração na Europa e possibilitou que essas economias fossem permeáveis aos interesses 
americanos. Era o resultado da supremacia indiscutível dos Estados Unidos no mundo capitalista.
2. As décadas de Progresso: A transformação do capitalismo. Demografia, economia, política e 
cultura. O desenvolvimento do Progresso Material e social.
A sociedade emergente da guerra, de forma global, caracterizou-se pela aceleração do crescimento 
econômico e um boom industrial sustentado pelos avanços da pesquisa científica aplicados nos 
setores produtivos.
O crescimento econômico das três décadas posteriores à guerra constituiu um fato inédito. As 
perspectivas de estagnação foram afastadas pelos mecanismos internacionais implementados pelos 
EUA. A interdependência gradual dos mercados, combinando-se com um Estado que assumia 
tarefas econômicas e sociais, propiciou “o grande salto” (Hobsbawm, 1995, p.264) A interação 
mercado-Estado produziu a “economia mista”. O Estado planejava, racionalizava e orientava a 
produção. Comprometia-se com previdência social e garantia o pleno emprego, afastando o clima 
de instabilidade. Era o Estado Regulador ou de Bem-Estar Social.
Mas como se explica o crescimento do pós-guerra? No que diz respeito à organização do trabalho, o 
que predominou na reconstrução do pós-guerra foi a expansão do sistema americano conhecido 
como fordismo. O sistema de trabalho montado pelo empresário Henry Ford consistia na adequação 
de tarefas seqüenciais e repetitivas, existentes desde o século passado, com a inédita esteira 
mecânica, criando assim uma linha de montagem. Fixando o trabalhador ao longo da esteira, 
reduzia o gasto inútil de energia e controlava a velocidade do processo de trabalho. Os ganhos em 
produtividade foram notáveis. Também estava implícita no fordismo a visão de que se remunerasse 
melhor os trabalhadores, estes se tornariam consumidores. Ou seja, por que não ampliar o leque de 
consumidores se isto implicava mais produção? Ford acreditava que cabia ao Estado regulamentar e 
organizar essas relações. O New Deal de Roosevelt dava-lhe, parcialmente razão.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o fordismo existia somente nos EUA. Na reconstrução 
constituiu-se num dos pilares da expansão americana. Vinculado aos princípios do Estado capitalista 
regulador, ajudou a solucionar o problema do excesso de mão-de-obra que não era absorvido pelos 
sistemas de trabalho, mais simples e em menor escala, existentes na Europa antes da guerra. A 
imposição e expansão do fordismo na Europa e Japão trouxeram rápidos benefícios. A linha de 
montagem acelerou e dinamizou a produção, especializou os trabalhadores em ações simples e 
modernizou os padrões de produção, especialmente no setor automobilístico e de eletrodomésticos. 
Além do próprio conceito, grande parte da maquinaria necessária para a linha de montagem também 
deveria ser comprada dos EUA.
Mas, em termos políticos, o mais importante talvez tenha sido a exportação da concepção de um 
mercado massificado do qual fazem parte importantes setores de trabalhadores industriais e 
agrícolas. A adesão à idéia de ver no operário um consumidor potencial teve, como conseqüência 
imediata, o fortalecimento dos mercados internos e a possibilidade de um crescimento econômico 
parcialmente auto-sustentado das economias nacionais desenvolvidas. A transformação do 
trabalhador em um consumidor de produtos até então inacessíveis, através de aumento salarial, 
criava uma sensação de melhoria material e esvaziava pressões sociais gerais. O fordismo, além de 
ser um dos pilares do chamado Estado de bem-estar social gerou, também, demandas de maquinaria 
e capital. Os padrões de produção em série e em grande escala e o consumo massificado, ligados 
direta ou indiretamente a investimentos dos EUA, mostram o real caráter deste reordenamento 
mundial.
A base teórica do Estado pós-guerra nos países desenvolvidos foi formulada pelo economista 
britânico John Maynard Keynes, que em 1936 publicou A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da 
Moeda. A sua proposta fundamental defendia o estímulo da demanda e o aumento da produção, da 
renda e do emprego através da intervenção do Estado. Este devia corrigir os defeitos do mercado 
objetivando um capitalismo eficiente. Como veremos depois, a doutrina Keynesiana, ao defender o 
papel regulador do Estado na economia e nas relações sociais, acabou sendo a sustentação 
explicativa do Estado de bem-estar social.
Em termos demográficos, a recuperação de pós-guerra foi acompanhada por significativo 
crescimento (baby boom). Acompanhando a tendência da economia, o aumento populacional 
durante os anos de ouro contrastou com o período anterior à guerra, quando houve redução do 
tamanho ideal da família. Após 1946, e de acordo com as teses Keynesianas sobre o consumo, 
muitos governos estimularam o crescimento da natalidade. A partir dos anos 60 verificou-se uma 
retratação em diversos países desenvolvidos. Vários foram os motivos: o medo da superpopulação, 
a generalização de métodos contraceptivos, a legalização do aborto em alguns países, o temor de 
novos problemas econômicos e a conscientização da relação entre famílias reduzidas e bem-estar 
social. Já no terceiro mundo, houve crescimento permanente. A redução da taxa de mortalidade, o 
aumento da expectativa de vida e o violento processo de urbanização promoveram alta taxa de 
natalidade. O debate sobre as teses malthusianas (crescimento demográfico muito maior que a 
capacidade da população produzir alimento) avançou nos anos 60 e 70.
A reconstrução européia e japonesa na agricultura passou a ser chamada de segunda revolução 
agrícola. A modernização tecnológica e a maquinização do trabalho desenvolveram pequenas 
prosperidades agrícolas com o aumento de produtividade. E a reforma agrária foi imposta onde 
ainda não ocorrera, como no Japão. A tecnologia aumentou fantasticamente a capacidade de 
produção de alimentos. A introduçãoda genética e da química (adubos, pesticidas) afastou o 
fantasma da fome e rompeu a dependência européia dos mercados externos. A fome crônica ficou 
evidenciada muito mais como problema político de prioridade de investimento em escala planetária 
do que de superpovoamento mundial.
Um ultimo elemento a destacar para a compreensão do desenvolvimento global da sociedade do 
pós-guerra é a pesquisa científica e os avanços tecnológicos produzidos. A guerra atingiria toda a 
estrutura produtiva. Matérias-prima, energia, equipamentos, sistemas de montagem. A 
complexidade e o custo das novas pesquisas e tecnologias acentuaram a dependência em relação ao 
grande capital. Por outro lado, a velocidade na aquisição de novos conhecimentos sucateava 
rapidamente a produção há pouco desenvolvida (a indústria de armas foi o grande exemplo). A 
sofisticação de algumas plantas industriais a necessidade de mão-de-obra; a automatização 
caracterizou os últimos anos do período. A corrida espacial a energia nuclear, a eletrônica e a 
robótica foram alguns dos novos setores privilegiados por essa revolução tecnológica. A 
aplicabilidade da ciência passou a ser quase direta. A física aprofundou o desenvolvimento da 
energia atômica (os reatores nucleares e a bomba H nos anos 50); a astronomia contava, desde 
1955, com o primeiro telescópio eletrônicos; a biologia e a química desenvolviam a indústria 
farmacêutica, os produtos sintéticos, as transfusões de sangue e órgãos, a produção de plásticos, etc.
O potencial aberto pelas novas descobertas científicas e tecnológicas aumentou a demanda de fontes 
de energéticas e estimulou o estudo sobre outras. O carvão, o gás, o petróleo, a eletricidade e a 
hidráulica foram explorados como nunca. Praticamente, até 1970, falava-se em “energia barata”. 
Nada mais exemplar da incrível velocidade da transformação do mundo material do que a 
massificação do automóvel e dos eletrodomésticos. Facilitando a vida do cidadão-consumidor 
comum, tais produtos passaram a fazer parte da vida da sociedade moderna e do “modo de vida 
americano” (American way of life), exportado mundo afora.
Apontadas as diretrizes e tendências gerais do período cabe apresentar uma breve síntese dos 
principais países capitalistas envolvidos na reconstrução. O discurso homogêneo entre eles, desde o 
fim da guerra, era o dos valores democráticos ocidentais e, acima de todos a liberdade como valor 
universal. Os EUA propuseram uma reconstrução do espaço político, um modelo bipartidário e a 
estabilidade do bem-estar econômico e da paz social. Tal modelo, com algumas variáveis e 
carregado com o anticomunismo do início do pós-guerra, espalhou-se pela Europa e Japão.
Os EUA, fiadores da ordem ocidental, desenvolveram três orientações que pautaram a reconstrução: 
1) organizar a economia capitalista em volta de sua liderança e interesses; 2) abrir os impérios 
coloniais e as metrópoles européias aos seus investimentos e comércio; 3) derrotar a onda 
revolucionária anticapitalista (na Europa, no Extremo Oriente e depois, na América Latina e África)
É visível na política externa americana a intrínseca vinculação entre interesses econômicos e 
militar-estratégicos. Neste sentido, a obtenção de mercados estava acompanhada pelas necessidades 
geradas pela Guerra Fria: controle sobre zonas energéticas, bases militares, enclaves geopolíticos 
etc. A administração Truman (1945-1953) orientou com êxito a reconversão econômica de tempos 
de guerra para tempos de paz. A Guerra da Coréia (1950-1953), além de mostrar a disposição dos 
EUA ante o avanço revolucionário em zonas de interesse estratégico, foi também fator de 
dinamização produtiva e comercial (necessidades de apetrechos militares, matérias-primas e infra-
estrutura), principalmente para o Japão e para a Europa. Internamente, a caça as bruxas Macarthista 
introjetou a Guerra Fria e marcou uma guinada conservadora da qual não escaparam nem os 
defensores do reformismo social do governo Roosevelt. O governo Eisenhower (1953-1960) 
enfrentou dificuldades com a espiral inflacionária, que dificultou as exportações do país, 
principalmente com o aumento competitivo das exportações da Alemanha e do Japão. A ascensão 
dos democratas Kennedy e Johnson ao poder (1961-1968) fortaleceu algumas ações de matriz 
keynesiana (política de impostos, ampliação de gastos públicos, seguros sociais, programas contra a 
pobreza) paralelamente, reforçou-se a pesquisa nos campos militar e espacial. Mas o que mais 
marcou estas administrações foi a agressiva política externa. Na América Latina, depois do fracasso 
na tentativa de invadir Cuba (1961), partiu-se para o apoio direto de regimes contra-revolucionários 
e ditatoriais. O pior foi, porém, a escalada militar no Vietnã. Os reflexos da guerra e seus custos 
contribuíram para o desequilíbrio orçamentário. A continuada perda de competitividade 
internacional nos setores de eletrodomésticos e material elétrico, além do dólar ser uma moeda de 
alto valor diante de qualquer outra, favorecia as importações e criava saldos comerciais negativos. 
Os EUA estavam numa encruzilhada.
Na Europa Ocidental, o processo de desnazificação (eliminação das estruturas residuais nazistas) 
ficaria incompleto. No contexto da Guerra Fria, os antigos quadros do serviço secreto inimigo, 
assim como seus cientistas e empresários, tinham utilidade contra URSS. Mesmo, assim, nos 
primeiros meses após a guerra, comunistas e socialistas participavam de governos de coalizão com 
democrata-cristãos e liberais, segundo a lógica anterior de uma grande aliança contra o inimigo 
comum. A rápida deterioração das relações entre EUA e URSS, o receio do comunismo e a 
expectativa de melhoria do nível de vida dos trabalhadores acabaram isolando a esquerda em cada 
país. No parlamento ou mesmo em alguma coalizão de governo, a esquerda foi moderando suas 
propostas; grande parte dos socialistas abriu mão do marxismo adotando um reformismo negociador 
entre o capital e o trabalho.
A Alemanha Ocidental sentiu fortemente o impacto da Guerra Fria. A divisão territorial, em 1949, 
entre uma área capitalista (República Federal da Alemanha) e outra socialista (República 
Democrática da Alemanha) produziu umas das situações mais traumáticas do mundo 
contemporâneo. O sistema político foi estruturado a partir dos princípios de democracia, 
parlamentarismo, federalismo e garantias de liberdade e direitos. As forças políticas aglutinaram-se 
assim: União (democratas-cristãos e outros católicos de direita antinazistas e anticomunistas); 
Partido Social-Democrata (SPD), esquerda reformista com alguns princípios marxistas; Partido 
Liberal (FDP) reformista e de centro. De 1949 aos anos 60, a aliança da União com os liberais 
ocupou o poder. Konrad Adenauer foi o grande nome do ressurgimento alemão pautado pela 
integração e colaboração com o bloco ocidental, estímulo à integração européia e questionamento 
ao Estatuto de Ocupação (que vigorou até 1955). O “milagre alemão” continuou nos anos 60 com a 
ampliação de programas sociais. Entretanto, sinais de contração da expansão econômica e de 
inflação começaram a manifestar-se. Isto aproximou setores progressistas da União e a social-
democracia (que em 1957 abandonara o marxismo). Impuseram-se então, medidas de controle de 
preços e salários e ampliação da previdência social. Na política externa, houve importante 
aproximação com o Leste europeu e com a própria Alemanha Oriental. Willy Brandt, o líder da 
social-democracia nos anos 60, enfrentou o problema da imigração (turca, espanhola e portuguesa)e a efervescência estudantil e operária de 1968, reforçando a ordem pública e a segurança. Em 
1969, a aliança entre o SPD e os liberais afastou os democratas-cristãos do poder após vinte anos de 
hegemonia. A nova coalizão reforçaria o reformismo do Estado de bem-estar social.
Marcada pelo colaboracionismo de parte da população durante a guerra, a França passou por 
importante reconstrução política. O perfil político definiu-se ao redor dos Partidos Comunistas, 
socialista e o Movimento Republicano Popular (democrata-cristão). A constituição de 1946 
estabeleceu um poder executivo frágil em benefício do legislativo. Até o fim dos anos 50, uma 
aliança entre socialistas e o Movimento Republicano dava à França destacado papel dentro dos 
esquemas internacionais de integração e cooperação, afiançando o ressurgimento europeu (OTAN, 
1949; CECA, 1951; CEE, 1957). Mas os problemas coloniais abalaram profundamente o país; o 
Vietnã e a Argélia mostraram a incompetência diplomática para encontrar uma solução negociada e 
transformaram-se em retumbantes derrotas militares. Apesar do sucesso econômico de importantes 
setores do país, a “guerra suja” na Argélia e a pressão dos militares de extrema direita em manter a 
colônia desgastaram completamente a IV República. A eleição de De Gaulle em 1958, como um 
governo de “salvação nacional”, foi acompanhada de uma nova constituição e um fortíssimo poder 
executivo (podia nomear o chefe do governo, dissolver a Assembléia Nacional, usar poderes 
excepcionais nas crises, apelar diretamente aos eleitores via plebiscitos). De Gaulle jogou todo o 
seu prestígio no reconhecimento da independência da Argélia (1962), apesar da violenta campanha 
do grupo paramilitar de extrema direita Organização do Exército Secreto (Organization armée 
secrete, OAS). Na política externa, procurou autonomia ante o bloco ocidental, tentando recuperar o 
orgulho francês, uma posição internacional de destaque e questionando o grau de ingerência dos 
interesses dos EUA dentro da Europa. Assim devem ser avaliadas a retirada francesa do mando 
unificado da OTAN (1966) e visita de De Gaulle ao Canadá francófono (1967) e as iniciativas 
nucleares desde o início dos anos 60. Internamente, porém, o governo sofreu sérios 
questionamentos de setores econômicos prejudicados com a integração européia. À persistência do 
desemprego e da inflação somaram-se descontentamentos regionais contra o centralismo de Paris. 
Em 1968, confluíram as reivindicações operárias com a intensa mobilização estudantil que produziu 
o “maio francês”. O governo conseguiu combatê-lo, mas pouco depois, um De Gaulle 
profundamente desgastado retirava-se da cena política.
Na Grã-Bretanha, o fim da guerra trouxe um fato surpreendente. Winston Churchill, liderança maior 
na resistência ao nazismo, foi derrotado na eleição de julho de 1945. Clement Attlee, trabalhista, 
venceu com um programa de amplas reformas sociais e nacionalizações. O programa de 
nacionalizações atingiu o Banco da Inglaterra, os setores mineiros, as ferrovias, o gás e a 
eletricidade. Paralelamente, um ousado plano previdenciário amenizava o desemprego, garantia 
saúde pública e abria frentes de trabalho através de um programa de moradias populares. Para 
financiar tudo isto, além de uma política de austeridade, optava-se por diminuir o protagonismo 
internacional, ficando a reboque da orientação dos EUA e abrindo mão de importantes colônias 
(Índia, Paquistão, Birmânia e Ceilão). O governo Attlee promoveu restrições ao consumo e ao 
salário. Pior, a escalada militar dos EUA na Coréia e o conseqüente rearmamento do exército inglês 
(ante a perspectiva de um novo conflito de proporções mundiais) obrigaram o governo a cortar o 
orçamento dos programas sociais. O resultado não poderia ser diferente; em 1951, os conservadores 
voltaram ao poder. Tinha início um período de leve desnacionalização (siderurgia, transporte 
rodoviário) mas mantinham-se as reformas sociais, assim como consolidava-se a política de 
negociação das independências coloniais em troca da permanência na Commonwealth. Em 1964 os 
trabalhistas voltaram a vencer (H. Wilson) e, apesar das dificuldades monetárias, mantiveram os 
programas sociais e os investimentos em escolas, hospitais e moradias. Concomitantemente, 
cresceram os conflitos no Ulster (Irlanda do Norte). No início dos anos 70, o recrudescimento da 
questão irlandesa, acompanhada da radicalização dos setores operários e a crescente perda de 
competitividade da indústria inglesa esboçou um quadro de profunda crise.
Na Itália manifestava-se desde a guerra uma forte tendência revolucionária, antifascista e 
antimonarquista. Mas a pressão americana e uma recomendação soviética ao colaboracionismo da 
esquerda com os setores burgueses esvaziaram os setores radicais. Em junho de 1946, um plebiscito 
rejeitou a Monarquia (54% dos votos). Organizou-se então, a “Reconciliação Nacional”, coalizão 
liderada pela democracia-cristã (DC), sob a qual se moviam inclusive, setores fascistas 
sobreviventes. No ano seguinte, os representantes socialistas e comunistas, sob o calor do 
endurecimento das relações URSS-EUA, foram expulsos do governo. Em 1948, a vitória eleitoral 
do bloco da direita, cujo eixo era DC apoiada pela Igreja e pelos EUA, afastou o “perigo vermelho” 
estabelecendo as bases para reconstrução do país. “O milagre dos anos 50” não escondeu as mazelas 
de uma Itália muito desigual em termos sócio-econômicos e regionais. O contraste entre o Norte 
industrializado e o Sul agrário se manteve, sendo perceptível a permanência do fluxo migratório do 
segundo para o primeiro. A necessidade de apoiar-se em alianças regionais levou a DC a fazer 
concessões a outras forças políticas, provocando seguida instabilidade ministerial. Entrementes, a 
esquerda passou a aceitar o jogo político da democracia parlamentar e aproximou-se dos setores 
progressistas da DC. Isto permitiu que, em 1958 e 1963, coalizões entre a DC e a esquerda 
esboçassem um Estado de bem-estar, como no resto da Europa Ocidental. Porém, no fim dos anos 
60, os problemas avolumaram-se houve desaceleração econômica com inflação e desemprego, 
sobrevivência de práticas de nepotismo, clientelismo e corrupção das elites. O descontentamento 
social manifestou-se na forma de greves maciças (1969) por salário e fortalecimento dos conselhos 
de representantes sindicais nas negociações capital-trabalho-Estado.
A inserção do Japão no cenário internacional causou impacto. A derrota militar atingiria duramente 
dois pressupostos ideológicos básicos da sociedade nipônica, o racismo e o papel divino do 
imperador. Até 1951, o general MacArthur administrou o país como território ocupado. Durante tal 
período foram fixadas as bases da recuperação do país. Os EUA tinham cinco eixos de interesse: 1) 
a destruição do poder militar e a responsabilização das suas ações; 2) a desmilitarização da 
sociedade e reconversão industrial; 3) a democratização do país e a limitação do poder do 
imperador (Constituição Parlamentar e Sufrágio Universal); 4) o desenvolvimento econômico que 
garantisse o retorno aos investimentos americanos e auto-sustentasse a reconstrução do país e; 5) a 
transformação do Japão em ponto de apoio do sistema defensivo dos EUA no Extremo Oriente.
Assim sendo, diversas ações foram encaminhadas para modernizar a mentalidade das elites, impor o 
reconhecimento dos sindicatos e a reforma agrária. A reativação econômica partiu da modernização 
do parque industrial preservado pela guerra. As injeções de capital externo e a Guerra da Coréia 
aceleraram o desenvolvimento. A combinação de fatores conjunturais com a existência deuma mão-
de-obra barata e relativamente dócil, a contenção do gasto público e da inflação, e a capacidade de 
poupança do Estado e da população garantiram o “milagre japonês”. Em função do caráter 
estratégico e único que o Japão tinha para os EUA no contexto da Guerra Fria, o país não precisou 
direcionar capitais para a segurança nacional ou outros gastos militares (bem ao contrário daquele 
país, “guarda-chuva nuclear” do mundo ocidental). Desde a saída de MacArthur, o Partido Liberal-
Democrático estabeleceu-se no governo mantendo laços orgânicos com influentes setores 
econômicos. Nos anos 60, a economia japonesa ocuparia amplos espaços internacionais. Adquirindo 
e produzindo tecnologia avançada, adaptando patentes importadas e desenvolvendo a capacidade de 
concentração da mão-de-obra no trabalho, estruturou uma sofisticada indústria siderúrgica, naval, 
automobilística e eletrônica. Não só ocupava mercados externos como o aumento da renda nacional 
criara um grande mercado interno.
A reestruturação teve sérias implicações sociais. As profundas alterações no sistema produtivo, o 
perfil do emprego e o aburguesamento de segmentos operários provocaram desdobramentos. Em 
breve linhas, pode-se destacar:
1) A extensão da mecanização da agricultura e sua intensificação tecnológica produziu constante 
diminuição do campesinato e estímulo à urbanização da sociedade. A introdução da biotecnologia e 
a criação seletiva aumentava a produtividade, liberando braços no campo. Se no mundo 
desenvolvido o impacto desse processo sobre o tecido social foi amenizado por outras fontes de 
trabalho nas cidades, no Terceiro Mundo produziu êxodo rural e os cinturões urbanos de miséria. 
Tal situação combinou-se com a explosão demográfica, resultando em falta de espaço, poluição, 
insuficiência de redes sanitárias, ausência de áreas verdes e excesso de automóveis.
2) O crescimento do proletariado europeu, no imediato pós-guerra, acompanhou a incorporação do 
fordismo, assim como a exploração extensiva de setores econômicos cujas potencialidades, antes da 
guerra, não haviam sido utilizadas. O uso de tecnologias mais sofisticadas, antes da guerra, como a 
automação e a posterior robotização, produziu problemas que se agravariam a partir dos anos 70. 
Outro fator a considerar é que o custo social da mão-de-obra européia, protegida pelo Estado de 
Bem-estar, estimulou a transferência de empresas para a periferia, onde uma série de vantagens 
comparativas, como baixos salários e leis sociais permissivas, possibilitou o deslocamento conjunto 
de vagas de trabalho (embora o número destas fosse geralmente inferior às fechadas na matriz da 
empresa, pois a abertura de novas fábricas implicava a adoção de parques industriais mais 
modernos) É comum nos anos 70, a presença dos “cinturões de ferrugem” nas antigas cidades 
industriais européias, resultado de desindustrialização de certos setores produtivos (Hobsbawm, 
1995, p.297) Constata-se, entre os operários com capacidade de consumo nos países desenvolvidos, 
uma gradual acomodação social, perda de solidariedade e combatividade. O acesso ao consumo de 
certos bens de massa, o pleno emprego, assim como o entorno protetor do Estado de bem-estar, 
moderaram as reivindicações e fragilizaram o poder sindical. Parte desse bem-estar de setores do 
operariado europeu e americano foi financiado pelos trabalhadores do Terceiro Mundo, que, com o 
seu trabalho, geraram a riqueza dos Estados periféricos, canalizada e transferida, através do 
comércio desigual e do pagamento de juros e dívidas, aos países desenvolvidos.
3) A ascensão da mulher, como protagonista produtiva e política, concretizou-se rapidamente. Os 
anos gloriosos vislumbraram uma crescente determinação para o seu protagonismo. O papel 
desempenhado na retaguarda da guerra, tanto no setor produtivo, quando na estrutura familiar, 
permitiu acesso maciço ao ensino e ao mundo do trabalho. Mas permaneceu a desigualdade salarial 
com um dos graves problemas a enfrentar dentro da perspectiva da valorização profissional. 
Socialmente, a independência da mulher deu saltos significativos. O salário e as pílulas 
anticoncepcionais aceleraram uma conscientização social feminina que promoveria uma verdadeira 
revolução comportamental e ideológica no fim dos ano 60. A concepção tradicional da família e da 
relação entre os sexos modificava-se radicalmente.
4) A exigência de maior qualificação da mão-de-obra e o contato com novas tecnologias levaram à 
universalização da alfabetização e do ensino fundamental. Até os setores pobres passaram a ter mais 
consciência da importância da educação para a ascensão social. A ampliação das escolas e da 
universidades foi objeto de pressão política, inclusive no Terceiro Mundo. O papel da educação na 
politização das massas secundaristas e universitárias foi evidente. Gerações mais conscientes, 
críticas, exigentes e mais bem instrumentalizadas surgiram deste processo. Por isso 1968 foi o ano 
da explosão estudantil. Exigia-se o arejamento geral do mundo acadêmico. Mas criticavam-se 
também as contradições de uma sociedade que começava a ter problemas sociais crescentes, além 
da burocratização, massificação, despersonalização e alienação. Secundaristas e universitários 
clamaram como uma geração que buscasse seu espaço; mas muito mais gritaram contra o legado 
que estavam recebendo das gerações anteriores: o imperialismo, o napalm e bomba atômica, a 
mercantilização de tudo e os valores consumistas da sociedade burguesa, que pausterizava e 
massificava qualquer postura autônoma e solidária. O paradoxo é que a radicalização era de setores 
que, em tese, viviam muito melhor que a geração anterior mas que exigiam, além da qualidade 
material, mais qualidade de vida. Já no Terceiro Mundo, 1968 foi muito mais do que isso; foi 
também denúncia da opressão econômica externa, do subdesenvolvimento crônico e de muitos 
autoritarismos.
5) A guerra provocou grande crise no sentimento religioso. As posturas das diversas igrejas ante o 
holocausto e diante do próprio nazismo foram muitas vezes, ambíguas. A dimensão da destruição 
humana e material atingiu em cheio a fé das pessoas. A isto somou-se a forte presença do 
materialismo consumista como medida de sucesso e estabilidade. A eleição de João XXIII para o 
papado em 1958, iniciou um fase de abertura aos problemas sociais. As encíclicas Mater et Magistra 
(1961) sobre aspectos sócio-ecônomicos, e Pacem in Terris (1962) envolvendo a paz e as relações 
internacionais, confirmaram essa preocupação. Finalmente, o Concílio Vaticano II (1962-1965) 
estabelecia as bases para uma orientação mais sensível à situação dos setores pobres e terceiro-
mundistas.
O caráter destrutivo da guerra produziu reflexões sobre os limites do uso da ciência e da tecnologia 
e sobre os fundamentos de uma ética civilizatória. A perda da humanidade estava presente numa 
sociedade profundamente ferida. Importante, apesar da euforia material dos anos gloriosos, sempre 
pesou sobre a consciência coletiva a lembrança da barbárie anterior e o medo do holocausto nuclear.
Os novos desafios e a procura de novas respostas estimularam a produção científica. Nas ciências 
econômicas polemizou-se sobre os caminhos a seguir no mundo do pós-guerra. Keynes, Galbraith, 
Samuelson e os ultraliberais Hayeck e Friedman apontaram caminhos diferentes para a nova ordem 
econômica. Na filosofia, o existencialismo e o marxismo marcaram posição a partir de novas 
correntes que renovaram o ambiente intelectual. Sartre, Althusser e Marcusse estiveram entre os 
principais inspiradores da efervescência político-cultural do fim dos anos 60.
Também a produção artística e literária sofreuimpacto direto dos acontecimentos do período. Os 
novos avanços científicos permitiram utilizar outros recursos de expressão (o plástico na escultura, 
a eletrônica na música) O experimentalismo, a existência de um público muito maior e de mediana 
formação e as diversas percepções sobre os fatos produziram uma explosão de manifestações 
artísticas extremamente variadas. Na pintura, entre outras correntes, destacavam-se a permanência 
do surrealismo, presente no mundo dos sonhos, das alucinações e do subconsciente (Miró, Dalí) e a 
ausência de elementos figurativos na explosão colorida das formas no abstracionismo (Kandinski, 
Mondrian, Poliakoff). Fortemente marcada pela sociedade individualista e de consumo de fins dos 
anos 50, a Pop Art foi a grande representação plástica dos anos gloriosos, mostrando o efeito da 
massificação e a mercantilização de tudo através da transformação de ícones em produtos de 
consumo.
Na arquitetura, os avanços técnicos permitiram responder às enormes demandas urbanas. Prédios 
gigantescos (edifícios, estádios, aeroportos, depósitos) áreas abertas acompanhando a expansão 
urbana, a utilização crescente de novos materiais (vidro, alumínio), a opção pela altura para dar 
mais espaço às superfícies verdes etc. São marcadas registradas disso o edifício da ONU, em Nova 
York, e as concepções arrojadas e funcionais de Oscar Niemayer para a cidade de Brasília.
A música, além de ganhar riquezas rítmicas importantes, tornou-se objeto de grande consumo de 
massas. Associada à evolução da mobilidade social dos jovens e adolescentes, aproveitou-se da 
fantástica possibilidade de ser reproduzida como nunca antes o fora. O disco de vinil, o rádio, a 
televisão e alta-fidelidade tornaram-na extremamente popular e produziram o fenômeno da 
ampliação permanente de público, independentemente de estilos musicais. O fenômeno musical 
marcante dos anos gloriosos foi o Rock; de Elvis Presley a Jimi Hendrix, passando pelos Beatles, o 
rock pautou musicalmente as mudanças sociais do seu tempo.
Na literatura ecoaram profundamente os problemas do período. As questões sociais, a guerra e o 
pós-guerra, as infindáveis feridas abertas, individuais ou coletivas, o maquinismo e a massificação, 
o autoritarismo, o papel da ciência, a burocracia, a contestação etc. Orwel, Greene, Camus, 
Malraux, Brecht, Weiss, Pasternak, Kerouac, Hemingway e Neruda são alguns dos tantos nomes 
que refletiram a realidade do pós-guerra no romance e na poesia.
Por último, a que é considerada a arte mais característica do século XX, o cinema. Estourou como 
um grande veículo de massa, emocionando o público com imagens, ilusões e mensagens. A 
concepção de industria cinematográfica lembra as modernas empresas produtivas do fordismo. A 
preocupação com resultados comerciais imediatos tornou-se o móvel da maioria das produções, 
reduzindo sensivelmente a qualidade do produto. As inovações técnicas foram rapidamente 
incorporadas, como a cor e tela panorâmica, assim como aproveitaram-se as escolas de cinema. Se é 
verdade que se criou um mercado para o entretenimento (aproveitando a demanda da massa por 
opções de lazer), também é verdade que alguns diretores produziram grandes obras reflexivas. 
Rossellini, De Sica, Capra, Weles, Truffaut, Gordad, Tati, Buñuel, Wilder e Bergman estão entre 
eles. A indústria de Hollywood marcou a produção do período, diversificando temáticas e 
investindo muito dinheiro em grandes produções. E cumpriu, também, importante papel na 
expansão ideológica do “modo de vida americano”, juntamente com a televisão. Inclusive, a difusão 
desta última gerou uma indústria própria que teve nos EUA o grande motor propulsor. Desde os 
anos 50, começaram a produzir-se e a exportar-se interminável e variada produção de séries de TV 
americanas. Produtos típicos da industria cultural massificada de baixa qualidade para públicos 
pouco exigentes, a TV e o cinema (assim como as histórias em quadrinhos) desempenharam 
destacado papel na padronização cultural em curso nos anos 50 e 60.
3. As Bases do Estado de Bem-Estar social: o Projeto social-democrata para a humanização do 
capitalismo
As participações malsucedidas de partidos políticos de orientação social-democrata no poder, 
durante o entre guerra, e a vontade de marcar distância do socialismo soviético, levaram essa 
corrente, em diversas partes da Europa, a priorizar a participação dentro dos limites da legitimidade 
do Estado burguês. Assim, através do jogo eleitoral e do sistema de alianças políticas, o objetivo 
passou a ser o acesso ao governo para introduzir algumas reformas de caráter social, e então, 
voltando à trincheira do parlamento, defender tais avanços até uma nova chegada ao governo. Com 
este tipo de atuação, defendendo programas de moradia popular, luta contra o desemprego ou 
pensão para os idosos, consideravam que cumpriam com o seu papel. Pensavam que, se não 
eliminavam as contradições do capitalismo, ajudavam a combater as tensões mais visíveis. Neste 
sentido, tinham razão, pois não modificaram a estrutura econômica nem a relação de forças 
existentes.
O cruzamento das propostas de Keynes com o gradual afastamento da social-democracia de 
propostas revolucionárias levou-os ao objetivo de gerenciar a economia capitalista, limitando-se a 
combater seus efeitos sociais negativos. Ou seja, através do Estado, desenvolver programas sociais, 
garantir o pleno emprego e evitar desequilíbrios internos acentuados. A tese keynesiana de que uma 
sociedade sadia devia ter produtividade crescente sustentada num forte mercado consumidor 
reforçava a opção social-democrata de garantir pleno emprego, bons salários e razoável cobertura 
social. A solução era aumentar o consumo. Visando combater a liberdade caótica das forças do 
mercado, propunham a sua regulamentação racional. Essa relativa ingerência do Estado era 
compensada pela paz social a ser construída. Veja-se que, numa conjuntura extremamente sensível 
às demandas sociais deprimidas pela guerra e estimuladas pelo avanço bolchevique, a proposta 
social-democrata não deixava de ser sedutora para o capitalismo e para a burguesia. Neste sentido, 
as estatizações britânicas levadas a cabo pelos trabalhistas entre 1946 e 1947, foram bem sucedidas 
pela burguesia. Por quê? Porque a orientação reformista defendia a participação do Estado na 
atividade econômica em circunstâncias especiais, abrindo mão da estatização ou socialização geral 
dos meios de produção. Assim, o Estado intervinha nos seguintes setores: estratégicos ou que 
exigiam um enorme volume de capital privado. Fora estas situações, a orientação reformista era a 
de que esquecer posturas radicais anteriores e não mais ameaçar o capital e a prosperidade privada. 
Isto interessava muito a burguesia.
O abandono das teses revolucionárias pela social-democracia isolou a esquerda européia dentro de 
um quadro de “satanização” do bolchevismo e do comunismo. Porém, não se tratou somente disto. 
Os social-democratas manifestariam diferenças concretas em relação aos projetos socialistas e 
abriram mão de fatores políticos mobilizadores. A opção pelo reformismo dentro dos limites do 
capitalismo abriu-lhes chances eleitorais. Na prática, procurou-s um consenso, um compromisso de 
classe envolvendo o capital e o trabalho. Keynes já havia dado o sinal, cabia ao Estado intermediar 
tal relação (Estado regulador). Os Social-democratas preencheram esse Estado com preocupações 
sociais progressistas e até humanistas (se comparadas às outras propostas da direita). O consumo 
passava pelo compromisso dos capitalistas em direcionarparte dos seus lucros às atividades 
produtivas (criando mais empregos) e em concordar com uma distribuição de riqueza (sem colocar 
em risco, em momento algum, a propriedade privada ou a hierarquia social existente) Já os 
trabalhadores aceitavam as regras do funcionamento do sistema, inseriam-se nele e reconheciam a 
propriedade privada do capital. Esta foi a compensação da produtividade e da distribuição de 
parcela dos ganhos. Sintetizou a combinação de crescimento econômico com uma mão-de-obra 
plenamente empregada, com salários razoáveis e protegida pelo Estado de bem-estar social. Tão 
forte foi o impacto deste tipo de proposta à sociedade que até setores políticos de direita a 
assumiram, mesmo que parcialmente. Assim se explica o porquê dos conservadores na Inglaterra ou 
da democracia-cristã na Alemanha preservarem parte do Estado de bem-estar. Portanto, o Estado foi 
instrumento de diversas ações encadeadas: 1) assumiu as atividades que não interessavam ao setor 
privado, mas que eram globalmente importantes; 2) regulou, mediante mecanismos políticos, as 
relações econômicas entre o capital e o trabalho e compensou os efeitos distributivos do mercado; 
3) desempenhou papel econômico, fornecendo serviços e insumos a baixo custo, financiando a 
atividade privada, realizando obras públicas e capacitando a mão-de-obra; 4) incorporou múltiplos 
programas sociais (assistência familiar, habitacional, auxílio financeiro, saúde)
Os governos deviam estimular o aumento da produção, diminuir o número dos excluídos do circuito 
produtivo e, conseqüentemente, promover o crescimento da demanda de todo tipo de consumo. 
Fundamentalmente, deviam promover uma melhor distribuição de renda entre os setores menos 
aquinhoados. Aumentos salariais, subsídios, gastos e investimentos governamentais, prêmios, 
redução de impostos, oferta de serviços sociais etc. Tais eram os mecanismos que apontavam nessa 
direção. Encontrar um consenso social e político era o que de mais interessante havia no cenário 
institucional do pós-guerra. Quase todos os programas de governo referiam-se a tal objetivo. O 
pleno emprego e a igualdade para todos no recebimento dos serviços do Estado de bem-estar social 
contentavam segmentos importantes da população.
Havia, no entanto, um erro de perspectiva nessa proposta de consenso. A social-democracia 
considerava que com o crescimento econômico e ganhos de produtividade, havia fatias maiores de 
riqueza para distribuir entre as massas empregadas. Podia justificar, então, que era mais eficiente 
abandonar o questionamento sobre a legitimidade da propriedade privada dos meios de produção e 
aumentar uma fiscalização racional sobre o funcionamento da economia. E devia convencer os 
capitalistas de que eles tinham a ganhar com a manutenção de um clima de estabilidade. Entretanto, 
afastado o fantasma da revolução no início do pós-guerra, o capital partiria à procura de melhores 
taxas de remuneração, deslocando-se para o Terceiro Mundo (caso das multinacionais). Da mesma 
forma, a incorporação de novas tecnologias fazia parte da racionalidade do capitalismo em fase de 
maior internacionalização. Tanto num caso como no outro, iniciou-se um processo de desemprego 
que tomaria um viés profundamente agudo a partir dos anos 80. São dois exemplos que mostram 
como o compromisso do capital com a proposta social-democrata funcionou enquanto aquele não 
encontrou melhores condições de reprodução. Na prática, a social-democracia deixava até de ser 
reformista. Não tendo objetivos nem ações revolucionárias, mesmo assim o reformismo devia 
produzir, gradualmente, transformações estruturais. Mas isto se o Estado não tivesse assumido 
atividades em setores não-lucrativos que subsidiaram a industria privada (montagem de infra-
estrutura de transportes e comunicações para viabilizar empresas particulares, venda de energia ou 
matéria-prima subsidiada etc.) Ou seja, o desempenho por debaixo do seu real custo significou 
transferência de fundos estatais ao setor privado. Quer dizer, retiraram-se do Estado os recursos 
com os quais poderia desenvolver um verdadeiro projeto de estatizações. Empresas e investimentos 
deficitários inviabilizaram em médio prazo o setor público. Escondeu-se, porém, que subsidiaram 
em grande parte, a expansão privada. Quando, em meados dos anos 70, os investimentos públicos 
ficaram obsoletos e sucateados, por falta de reinvestimento e de cobrança de preços de mercado, 
foram alvo de críticas pelos defensores das privatizações e dos quais exigiam “menos Estado”. O 
argumento usado seria o da incompetência do setor público e da incapacidade reguladora do Estado 
(Przeworski, 1989. P.58)
Outra crítica que se faz à social-democracia é que, ao impedir a revolução, promovendo o 
compromisso de classe que imobilizou os setores sociais mais radicais, fortaleceu o mercado. O seu 
projeto de compromisso não só não eliminou as contradições estruturais do capitalismo como 
perpetuou a necessidade de manter sob controle os desequilíbrios. É outro paradoxo; defendendo 
uma economia de mercado com crescente produtividade para manter o pacto social, a social-
democracia fortaleceu o capital e ajudou-o a combater suas contradições (desequilíbrio na 
distribuição de riqueza, eficiência pela redução salarial, tendências ao desemprego etc.) Sob os 
preceitos keynesianos, a social-democracia procurou conciliar, via Estado, o controle democrático 
da economia com os interesses privados. É inegável que durante os anos gloriosos esta experiência 
pareceu definir uma fórmula que satisfazia à maioria dos atores sociais envolvidos. O Estado de 
bem-estar social foi uma realidade que se concretizou, em diversos momentos, em grande parte da 
Europa Ocidental. Porém, muito mais do que o engajamento de uma consciência solidária, o que 
motivou o capital e os capitalistas a sustentar o Estado de bem-estar foi o medo do impacto que as 
conquistas sociais dos trabalhadores soviéticos poderiam ter sobre o movimento operário mundial. 
E não se esqueça de que o financiamento da adesão ao pacto de consenso teve a enorme 
contribuição indireta da exploração desenfreada que o Terceiro Mundo continuou sofrendo das 
economias centrais.
De qualquer forma, o consumo de bens cotidianos, como alimento, vestuário, moradia e lazer, 
estava ao alcance da mão daqueles que, até pouco tempo atrás, os consideravam como luxo. É isto 
que deu um grande fôlego às teses defendidas pela social-democracia européia. Não libertava o 
homem da exploração, mas tornava-o consumidor do sistema. Funcionou assim, enquanto durou o 
consenso e este foi sustentável enquanto garantiu emprego e segurança social.
No pós-guerra, o Estado aumentou sua atuação no conjunto da sociedade, ampliou suas funções e 
consolidou-se como pilar da recuperação em marcha. A intervenção do Estado regulador deu-se em 
duas grandes esferas: a econômica, propriamente dita, e a social. Em relação à primeira, cabe 
lembrar que visou regular o funcionamento global da economia, impulsionando e sustentando a 
expansão econômica. Dentro desta perspectiva, promoveu investimentos em três direções: 1) 
indústrias vinculadas ao desenvolvimento da sociedade de bem-estar; 2) indústrias de bens de 
consumo duráveis (prioridade para os automóveis); 3) desenvolvimento de novas regiões industriais 
em espaços interiores. O Estado assumiu obras de infra-estrutura. Além da oferta de trabalho 
previsível, as demandas de materiais e outros recursos para tais obras, por sua vez, multiplicaram e 
dinamizaram outros setores produtivos, inclusive privados. Assim, obras em estradas, ferrovias, 
rede elétrica, rede de esgoto etc. eram emparte de programas de urbanização vinculados a criação 
de empregos e esvaziamento de tensões sociais.
Outra atividade em que o Estado exerceu uma ação direta sobre a produção foi o financiamento de 
parte da pesquisa científico-tecnológica. Por outro lado, apesar de destacar-se muito a procura do 
bem-estar social, a política de compromisso entre capital e trabalho teve como uma das regras 
básicas a proteção da propriedade privada e da economia de mercado. Sendo assim, usaram-se 
diversos artifícios que estimularam o capital privado: subvenções, isenções fiscais, linhas de 
financiamento, programas monetários etc. O Estado ainda comportou-se como consumidor (para os 
serviços sociais que prestava e os bens públicos que protegia), sendo um grande consumidor de 
armamento e apetrechos militares.
Finalmente, desenvolveu-se uma política externa agressiva, em termos econômicos, dando 
sustentação aos investimentos e empresas que agiam no mercado mundial. De forma geral, estas 
foram tendências que caracterizaram a intervenção econômica do Estado do pós-guerra. Vejamos 
alguns casos específicos.
A França teve um forte processo de estatizações, pressionada pela presença de socialistas e 
comunistas no primeiro governo do pós-guerra. Companhias de seguro, bancos, setores energéticos 
(gás, carvão e eletricidade) e empresas específicas, como Renault e Air France, passaram às mãos 
do Estado (representando quase 1/5 de toda a produção industrial) A planificação estatal visou as 
grandes empresas, investindo pesados recursos em tecnologia. Até 1952, o Estado produziu um 
crescimento desequilibrado, pois privilegiara o carvão, aço, cimento, eletricidade, maquinaria 
agrícola, transporte e, depois, petróleo e fertilizantes. A montagem dessa infra-estrutura nos anos 50 
estimulou, com subsídios e linhas de crédito, o capital privado. A ausência do controle estatal no 
setor de bens de consumo originou um desequilíbrio entre preços e salários. A deterioração destes 
provocou uma onda de greves e a retirada dos sindicalistas das comissões de modernização (órgãos 
de negociação empresário-sindicalista-Estado)
Na Inglaterra, os princípios Keynesianos estavam arraigados. Desde 1944 o pleno emprego e a 
previdência social eram objetos de estudo. Através de uma política flexível entre salários e preços, 
havia uma preocupação com uma distribuição de renda mais equilibrada. O principal mecanismo 
para isto foi o imposto progressivo que taxava a renda, heranças e patrimônio imobiliário. Em 1946, 
os trabalhistas, no poder, estatizaram setores estratégicos, criando fortes monopólios estatais: Junta 
Nacional do Carvão (1946) e Junta Nacional das Ferrovias Britânicas (1946) Junta Nacional dos 
Transportes Marinhos (1946), Junta Nacional do Aço (1948). Estatizou-se também, o Banco da 
Inglaterra, os aeroportos, a televisão e o rádio, o transporte rodoviário e ações da British Petroleum 
Rolls-Royce. Aproximadamente 20% da indústria britânica estavam estatizados. Mesmo assim, o 
Estado resistiu a assumir formulas globais de planejamento. Os conservadores, ao voltarem ao 
poder, mesmo privatizando alguns setores estatais, mantiveram outros e partiram, nos anos 60, para 
um planejamento mínimo, pressionados pelos investidores privados. Surgiu, assim, em 1962, o 
Conselho Nacional para o Desenvolvimento Econômico, integrado por seis empresários, seis 
sindicalistas, seis representantes do governo e dois especialistas. Este organismo deu maior 
confiança ao setor privado e criou as leis de Ciência e Tecnologia (1965) e Expansão Industrial 
(1968).
Na Itália, o Instituto de Reconstrução Italiano (IRI), criado durante o regime fascista, preservou-se 
no pós-guerra. Vinculado ao governo, encaminhou a recuperação industrial da região norte e um 
programa de desenvolvimento para o sul. Houve o cuidado para dinamizar as exportações antes de 
investir na melhoria social interna, evitando o aumento das importações. Nos anos 50, já havia um 
programa de planejamento para a década e políticas para o desenvolvimento da química, 
petroquímica e siderurgia.
Na Alemanha ocorreu, simultaneamente, o estímulo da livre concorrência e do livre mercado e 
ações de planejamento. Umas delas foi a suspensão dos grandes cartéis (como no setor bancário), 
descentralização das grandes unidades produtivas (Krupp, Farben, Hoesch) pulverizando a 
produção, o gerenciamento e o poder que isso representava. Tudo acompanhado por uma rigorosa 
legislação anti-monopolista. Outra experiência marcante foram as leis de co-decisões (patrões e 
empregados regulamentando os setores produtivos) Na década de 1960, o setor público controlava 
40% da produção de ferro e carvão, e 61% da eletricidade, 72% do alumínio e 60% das instituições 
de financiamento.
O Japão encaminhou políticas de planejamento e intervencionismo estatal sem ter, entretanto, um 
setor público desenvolvido. Desde a ocupação americana, o Estado interveio para quebrar o poder 
dos grandes consórcios econômicos e reduzir a grande propriedade, de 46% para 8% do total. A 
Guerra da Coréia possibilitou um grande fluxo de dólares que estimularam o planejamento. Assim 
como na Inglaterra e na França, priorizaram-se os setores estratégicos (aço, química, construção 
naval e petróleo). Aos poucos, o Estado desenvolveu a pesquisa cientifica e estimulou para este 
foram decisivos o boom dos anos 60.
Finalmente, nos EUA, o intervencionismo econômico estatal reduziu-se muito se comparado ao 
New Deal dos anos 30. Em 1946 foi aprovada a lei do emprego: o Estado obrigava-se a abrir vagas 
de trabalho. Porém, a Lei Taft-Hartley (1947) proibia a sindicalização obrigatória e exigia um aviso 
de sessenta dias antes da deflagração da greve. Tal medida protegia o capital e disciplinava a mão-
de-obra. Quanto aos déficits orçamentários (provocados pela crescente conta da Guerra Fria e da 
reconstrução), o Estado aumentou os impostos para financiá-los.
A corrida armamentista estreitou a colaboração entre o setor público e privado. A pesquisa e a 
produção no setor bélico e afins exigiram financiamento público. A corrida espacial e as novas 
demandas industriais de alta tecnologia reforçaram um planejamento eficiente. O maior exemplo foi 
o Programa de Avaliação e Análise Técnica, órgão do Pentágono que centralizou todas as empresas 
e centros de pesquisa que trabalhavam para ele sob um esquema de planejamento homogêneo e 
estandardizado. O governo Kennedy reforçou a geração de empregos (construção de obras públicas, 
estradas, equipamentos urbanos), mantendo parte da agricultura e das minas sob controle estatal. 
Apesar da pressão dos grupos defensores do “mais mercado, menos Estado”, nos anos 60 e 70 
mantiveram-se as iniciativas de bem-estar social.
Um dos primeiros elementos negociados foi a extensão do conceito de salário mínimo. Salário que 
permitisse conferir, aos indivíduos, condições decentes de convivência social. Sendo uma iniciativa 
de origem inglesa, foi na França, porém, vigente desde 1947, que ele recebeu a complementação da 
indexação às variações de preços (1953), evitando a defasagem entre salário e variação do custo dos 
produtos básicos.
Em matéria de moradia, o Estado congelou e fiscalizou os valores dos aluguéis (França, Inglaterra, 
Alemanha) e desenvolveu programas de construção de moradias populares em áreas destruídas pela 
guerra, de construção muito antiga (Alemanha e França) ou pressionadas pelo crescimento 
demográfico. Concomitantemente à construção das moradias populares montou-se uma rede de 
iniciativas de infra-estrutura que seguiam a mesma lógica (encanamento e abastecimento de água, 
rede de esgotos, ruas). Reformulou-se toda uma legislação a esse respeito; na França, uma lei de 
julho de 1950 instituiuum programa de subsídios, reduções fiscais e empréstimos para a construção 
civil, assim como a poupança-habitação.
Em relação ao ensino, a intervenção também foi forte. As necessidades eram diversas: renovação 
dos quadros dirigentes, formação qualificada de quadros técnicos e científicos numerosos para 
enfrentar as novas necessidades e responder ao enorme afluxo em todos os graus provocados pela 
pressão demográfica e pela adequação dos futuros trabalhadores às novas tecnologia em 
desenvolvimento. Uma das respostas mais concretas a isto, além da multiplicação de escolas 
públicas e programas de concessão de bolsas, foi a institucionalização do ensino obrigatório. Na 
Grã-Bretanha, impôs-se em 1947 a idade de 15 anos como limite obrigatório, enquanto que na 
França foi de 16 anos. A luta contra o analfabetismo e a extensão generalizada do ensino primário e 
secundário caracterizam o período em estudo. Mas grandes desequilíbrios continuaram acontecendo 
em boa parte do Terceiro Mundo, apesar das relativas melhorias e do apoio sistemático de 
programas da ONU.
Estes investimentos e subvenções estatais foram financiados por recursos próprios do Estado e pelo 
mecanismo de tributação progressiva sobre salários e lucros das empresas. Considerando a 
realidade de largas camadas populacionais dos países desenvolvidos, assim como o acesso a uma 
variada gama de produtos que a auxiliavam, não há como negar que a vida das pessoas melhorou 
significativamente durante os anos gloriosos. Este quadro é mais positivo ainda, se comparado à 
realidade da guerra ou da depressão dos anos 30. Após um longo período de recessão e compressão 
das demandas, os anos gloriosos foram fartos para alguns e geraram expectativas para muitos mais. 
O capitalismo do pós-guerra foi tão reformado que ficou irreconhecível (Hobsbawn, 1995, p.265). 
Ou seja, um capitalismo que, nos países desenvolvidos, mostrava um inédito grau de distribuição de 
riqueza.
4. Os Desequilíbrios do Sistema e as Premissas da Revolução da Informação e do Conhecimento.
No início dos anos 70, a combinação do esgotamento do sistema de acumulação característico dos 
trinta anos gloriosos e do surgimento e aprofundamento de problemas de ordem conjuntural 
adquiriam um peso importantíssimo. Quais eram os sintomas da tempestade que se aproximava e 
que se manifestavam de forma mais freqüente no transcorrer da década de 1960?
A crise começou pelos EUA e foi exportada a outras regiões. O domínio americano declinara, em 
termos relativos, durante as últimas décadas. Alguns indicadores econômicos mostram a perda de 
competitividade da superpotência: enquanto em 1955 o Produto Nacional Bruto (PNB) do país 
representava 36,5% do mundial, em 1970 mal chegava aos 30,2%. A própria taxa média de 
crescimento anual do PNB dos EUA, medida em séries de cinco anos, era superada 
permanentemente, entre 1950 e 1970, pelo Japão, França, Alemanha e Itália. Até na produção 
automobilística, pilar de sustentação do American Way of Life, verificaram-se dificuldades (diante 
da produção européia e japonesa os EUA viram reduzir-se a sua fatia mundial de 51% para 35% 
entre 1965 e 1975)
A recuperação européia, notadamente o milagre japonês e alemão, significou para os EUA a perda 
de espaço nesses mercados. Muito pior, alavancou essas economias a uma acirrada disputa nos 
mercados internacionais. Com matrizes industriais mais modernas, aquisição e reprodução de 
tecnologia avançada, e especializando-se em setores produtivos específicos (eletrônico, 
automobilístico, siderúrgico e químico), aquelas economias contavam com a vantagem de não ter 
maiores ônus com a segurança militar, o que, paradoxalmente, pesava cada vez mais para os EUA. 
É muito importante salientar que no fim dos anos 60, como sinal claro do aumento da competição 
internacional, o modelo produtivo baseado no fordismo começara a declinar ante novas formas de 
organização do trabalho e da produção. Dentro da perspectiva de minimizar as conquistas dos 
trabalhadores, ganhou espaço o toyotismo (apliacado, pela primeira vez, nas empresas Toyota). 
Através de um rigoroso controle de qualidade e obrigando o operário a realizar tarefas múltiplas, o 
toyotismo vinculou a estabilidade do emprego e o salário à situação financeira da empresa. Desta 
forma, começava a desenhar-se a terrível perspectiva do desemprego, enquanto atacavam-se as 
áreas consideradas problemas para um melhor desempenho produtivo: absenteísmo, mobilidade 
voluntária, greves, direitos sociais.
As demandas internas da população dos países desenvolvidos saturaram-se. A reconstrução das suas 
economias, acrescidas de injeções de capital e de novas tecnologias, atingia todo o conjunto de 
demandas reprimidas desde a guerra. Por outro lado, tendências decrescentes na produção e na 
margem de lucros começavam a pesar mais sobre as concessões que tinham sido feitas ao 
movimento operário para evitar a sua radicalização. O alto custo dessa mão-de-obra levou a 
expansão de empresas multinacionais ao Terceiro Mundo. O Estado de bem-estar social passava a 
ser questionado abertamente. A saída de capitais e empresas dos espaços metropolitanos seria, 
futuramente, pesada carta de barganha contra os sindicatos e partidos de esquerda.
A década de 1960 vivenciou marcado questionamento interno e externo dos EUA. Em termos da 
lógica da Guerra Fria verificou-se a diminuição da distância que separava URSS dos EUA enquanto 
poderio militar, tecnologia espacial e presença internacional. A onda revolucionária que se 
desencadeou desde Cuba, pelo quintal latino-americano, desgastou a superpotência. Novos projetos 
nacionalistas e populistas, combinados com a expansão de guerrilhas e a radicalização de alguns 
setores vinculados à Igreja e ao exército, provocaram uma escalada inédita na região. Já no Vietnã 
ocorria a maior derrota da política externa americana em todos os tempos (e, se devidamente 
relativizada, derrota militar). No Vietnã caiu, definitivamente, a máscara de nação pacifista e anti-
colonial dos EUA mostrando ao mundo a lógica do “grande porrete”, conhecida há muito tempo por 
mexicanos e centro-americanos. Mais de 500 mil soldados envolvidos, bombardeios maciços e 
utilização de todo tipo de armas químicas, com desastrosas conseqüências demográficas, 
econômicas e ecológicas, não evitaram o atoleiro. Pior, a guerra produziu fortíssima indignação 
interna ante o princípio de intervenção presente desde a Doutrina Truman. Da Ofensiva do Tet 
(janeiro de 1968) até os Tratados de Paris (1973), o desfecho do conflito fragilizou a pretensão 
hegemônica internacional da superpotência.
Outros fatores somaram-se à rejeição do conflito no Vietnã, mostrando sinais evidentes de 
insatisfação. Na sociedade americana do pós-guerra persistiam gritantes desigualdades sociais. A 
marginalização de importantes minorias expunha as mazelas sociais distantes do discurso oficial da 
democracia-modelo.
A mecanização agrícola aumentara a pobreza. Nos centros urbanos mesclava-se a ostensiva 
concentração de riqueza e a visibilidade do racismo. 1968 foi o ano do esgotamento da capacidade 
de diálogo e espera. A questão racial intensificou-se com o assassinato de Martin Luther King. A 
violência racista, permanente e impune durante os anos 60, varreu as expectativas da não-violência 
negra. A belíssima frase de Luther King, “Eu tenho um sonho [...] que todos os homens foram 
criados iguais”, pronunciada ante 250 mil pessoas na histórica Marcha sobre Washington (1963), 
surtiu efeito, mas nas mãos de estratégias de luta mais radicais: os Black Muslins (muçulmanos 
negros) de Malcom

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