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O Sistema Produtivo do Sistema Colonial Ibérico

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Aula 5 – O Trabalho Compulsório na América Ibérica
Estrutura do Sistema Produtivo do Sistema Colonial Ibérico
As necessidades que abarcavam o sistema produtivo ibérico, notadamente o hispânico, não se limitavam à mão de obra. Os trabalhadores precisavam de alojamentos, armazéns, igrejas, tavernas. Por sua vez, as minas precisavam de escoras para os poços, de alvenaria, de cabrestantes, de escadas e de grande quantidade de couro. Necessitava-se, igualmente, de mulas e cavalos, nas cidades e nas minas, para transportes das barras para os locais de cunhagem e portos de exportação, para o transporte de produtos das plantações e das estâncias e para o carregamento das mercadorias europeias que aportavam ao litoral e que eram requisitadas pelos centros de mineração (utensílios de ferro e aço, artigos de luxo e, acima de tudo, o mercúrio, utilizado na amalgamação da prata a partir dos minérios brutos).
A mineração criou, igualmente, um mercado interno voltado para o consumo da produção colonial de têxteis de lã e algodão elaborados por artesãos individuais. Apesar das proibições, essa produção artesanal expandiu-se bastante já que os atacadistas importadores-exportadores manipulavam com exclusividade as lãs e sedas de excelente qualidade e altos preços fornecidos pela Europa Ocidental ou Extremo Oriente. Os espanhóis necessitaram de setenta e oito anos para ocupar o território que viria a se tornar o seu império na América. Levaram duzentos anos em tentativas e erros para estabelecer os elementos de uma economia colonial vinculada à Espanha e, através desta, à Europa Ocidental. Por volta de 1700, esses elementos, que compunham a estrutura do seu sistema produtivo, eram os seguintes:
Uma série de enclaves (territórios) de mineração, no México e no Peru;
Áreas de agricultura e pecuária situadas na periferia dos enclaves de mineração e voltadas para o fornecimento de gêneros alimentícios e matérias-primas; 
Um sistema comercial planejado para permitir o escoamento da prata e do ouro (em espécie ou em lingotes) para a Espanha que, de posse dessa riqueza, adquiria os artigos produzidos na Europa Ocidental e escoados através de portos espanhóis para as colônias americanas.
Em se tratando de América portuguesa, a colonização por meio de agricultura tropical, como a inauguraram pioneiramente os súditos da Coroa, aparece como solução inicial através da qual se tornou possível valorizar economicamente as terras descobertas, e dessa forma garantir-lhes a posse (pelo povoamento); ou, em outros termos, de enquadrar as novas áreas no esforço de recuperação e expansão econômica que se vinha empreendendo, diferente, como já vimos, da América espanhola, onde a mineração é que permitirá o ajustamento das condições americanas aos estímulos da economia europeia, mas o caráter da empresa é evidentemente idêntico.
O sistema de colonização que a política econômica mercantilista visa desenvolver tem em mira os mesmos fins mais gerais do mercantilismo e a eles se subordina. Por isso, a primeira preocupação dos Estados Colonizadores será de resguardar a área de seu império colonial face às demais potências; a administração se fará a partir da metrópole, e a preocupação fiscal dominará todo o mecanismo administrativo. Mas a espinha dorsal do sistema, seu elemento definidor, reside no monopólio do comércio colonial. Em torno da preservação desse privilégio, assumido inteiramente pelo Estado, ou reservado à classe mercantil da metrópole ou parte dela, é que gira toda a política do sistema colonial. E aqui reaparece o caráter de exploração mercantil, que a colonização incorporou na expansão comercial, da qual foi um desdobramento.
O Monopólio do Comércio das colônias pela metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem a sua função histórica. Isto é, respondem aos estímulos que lhe deram origem, que formam a sua razão de ser, enfim, que lhes dão sentido. E, realmente, reservando a si com exclusividade a aquisição de produtos coloniais, a burguesia mercantil metropolitana pode forçar a baixa de seus preços até o mínimo além do qual a produção se tornaria antieconômica; a revenda na metrópole ou em outro lugar a preço de mercado cria uma margem de lucro apropriada pelos mercadores intermediários.
A colonização agrícola no Brasil já se inicia dentro da estrutura monopolista do sistema colonial. O princípio já tinha se fixado nas experiências anteriores, e derivava das próprias condições histórico-econômicas em que se processara a expansão marítima. Alguns setores da exploração da América portuguesa reservam-se diretamente à Coroa (pau-brasil e sal, por exemplo), são os “estancos”. No mais, o grande comércio açucareiro fica dentro do monopólio da classe mercantil portuguesa. O período de domínio espanhol (1580-1640 – União ibérica) assinala mesmo um enrijecimento do regime. Após a restauração (1640), as mudanças da dinastia bragantina face ao equilíbrio europeu obrigaram-na a algumas concessões, todavia, sempre se buscava contornar algumas das cessões consignadas nos tratados. Por outro lado, num esforço para revigorar o comércio ultramarino português e inspirando-se no êxito da experiência holandesa, a política colonial lusitana se orienta para o regime das companhias de comércio (Cia. Geral do Comércio do Brasil – 1649), que representam um fortalecimento do regime monopolista.
Encomienda (1509)
Primeira forma institucionalizada de uso de trabalho indígena. Nesse sistema, o rei espanhol, na figura de seus administradores, concedia uma permissão à figura de um encomendero. Este, por sua vez, poderia utilizar-se da mão de obra de toda uma comunidade indígena, podendo exigir-lhes trabalho (encomienda de serviços) e gêneros (encomienda de tributos). Em troca, o encomendero era obrigado a oferecer a catequização a todos os indígenas postos sob a sua responsabilidade. Desenvolveu-se durante a segunda década do século XVI, em substituição à escravidão, ou como um compromisso oficial entre a escravidão extrema praticada pelos primeiros colonos e o sistema de trabalho livre, teoricamente aprovado pela Coroa. O encomendero não poderia tomar as terras das comunidades indígenas e a sua concessão era repassada somente às duas gerações seguintes. Apesar dessas restrições, o sistema de encomienda também foi marcado pelo abuso e a exploração intensa das populações nativas. Uma das maiores provas da violência e imposição dos espanhóis pode ser observada no rápido processo de dizimação das várias comunidades indígenas americanas. A encomienda proporcionou o enriquecimento de muitos conquistadores e primeiros colonizadores, tendo sido a base das primeiras fortunas coloniais. Hernan Cortes, por exemplo, utilizou-se de uma encomienda (400 índios) para extrair ouro, construir estaleiros e barcos e manter soldados nas terras recém-descobertas. Ainda que não houvesse conexão legal entre esse sistema e propriedade de terra, ao menos nas zonas mais importantes do império, a relação era clara. Para barrar a catástrofe demográfica e os ímpetos senhoriais dos encomienderos, em1542 foram promulgadas as Leyes Nuevas (novas leis), proibindo a escravidão indígena. Essas leis retiravam das autoridades civis e eclesiásticas as encomiendas que possuíam, impediam a concessão de novas, além de proibir sua hereditariedade. Em 1549, proibiu-se a prestação de serviços dos índios aos encomenderos, mantendo-se a obrigação de tributos. Na segunda metade do século XVI, a instituição de encomienda foi sendo progressivamente abandonada no México (1570) e no Peru, persistindo por muito tempo em áreas periféricas como o Paraguai, Tucumán, Chile, Yucatán, inclusive com o direito de prestação de trabalho.
Repartimiento (de Índios)
Prestações compulsórias e rotativas de trabalho. Substituiu a encomienda, ainda que esta tenha subsistido ao seu lado por algum tempo. Era um sistema já conhecido pelas populações indígenas antes exploradas pelo império inca (mita) e asteca (cuatéquil). Esse tipo de sistema era administradoatravés de um sorteio onde os índios selecionados deveriam trabalhar compulsoriamente durante certo tempo. Em geral, os indígenas eram submetidos às realizações de tarefas desgastantes em um ambiente bastante adverso. Ao fim da jornada, os índios recebiam uma compensação financeira de baixo valor. Cada comunidade deveria fornecer um número proporcional à sua população de homens adultos que trabalhariam periodicamente nas empresas coloniais (minas, haciendas e serviços públicos) em troca de um jornal diário (o que se recebia por uma jornada), retornando depois à sua aldeia. Os trabalhadores eram designados pela autoridade comunal indígena, que os entregava a um “juiz repartidor” espanhol, que, por sua vez, os distribuía entre os colonos espanhóis. Este cargo passou a ser disputado por criollos pobres, pois oferecia uma forma de enriquecimento: índios e comunidades subornavam os juízes para obter isenções do trabalho, e os hacendados espanhóis da mesma forma, para obterem um maior número de trabalhadores ou para que fossem ignorados alongamentos da temporada laboral ou as condições adversas de trabalho.
A vigência do repartimiento de índios significou a vinculação definitiva da população indígena ao processo econômico comandado pelos espanhóis, em condições de dominação e exploração crescentes. A imposição do novo sistema de trabalho produziu mudanças profundas nas comunidades. No período anterior à conquista e durante o da encomienda, o indígena produzia seus meios de subsistência e o excedente imposto por seus dominadores, geralmente no mesmo espaço e sob as mesmas condições de produção. Com o repartimiento houve uma cisão: a produção dos meios de subsistência continuou a ser efetuada nas terras comunais, enquanto o trabalho excedente era realizado fora delas, sob condições de produção distintas, em atividades especializadas da economia espanhola (mineração, agricultura e pecuária), com meios de produção e comandos alheios à comunidade. Eram os funcionários espanhóis, e não mais as autoridades indígenas, que fixavam os tempos do trabalho compulsório, suas condições de execução, o salário e a divisão dos trabalhadores. O novo sistema se apresentava mais vantajoso para a Coroa e para muitos colonos: sua consequência imediata seria o afastamento dos índios do controle arbitrário dos encomenderos, diminuindo sua riqueza e poder político que, de certa forma, interessava à Coroa. O novo sistema também colocava os índios à disposição do crescente número de espanhóis que chegavam ao Novo Mundo (em 1570 apenas 4 mil dos 23 mil espanhóis possuíam encomiendas). Com o auxílio de cerca de 400 homens, 17 cavalos, 10 canhões e algumas armas de fogo, Cortez consegue com muita facilidade dominar o império asteca que contava com um exército estimado em 500 mil homens.
Hacienda
Largamente praticada, foi um sistema que consistia no endividamento de trabalhadores, afim de retê-los na propriedade. A relação é amplamente conhecida como peonaje, na qual o trabalhador recebia como salário um crédito na tienda de raya (onde retirava alimentos, roupas etc), além de um lote mínimo de subsistência. Suas contas eram manipuladas pelo hacendado de modo a tornar insolvente a dívida do peão, que ficava obrigado a pagá-la com trabalho. Enfim, muitos índios se dirigiam voluntariamente para as haciendas, sobretudo no século XVII, a fim de escaparem do repartimiento, dispondo-se a trabalhar gratuitamente para os fazendeiros em troca de um exíguo lote de subsistência.
Introdução do Escravismo Africano no Sistema Colonial Ibérico
Na colonização espanhola, os escravos africanos passaram a ser um recurso estratégico no processo por serem vistos ao mesmo tempo como mais confiáveis, resistentes e flexíveis que a população nativa, e capazes de serem levados para pontos fracos do sistema imperial. No entanto, a permissão para sua entrada foi dada com cautela, e mesmo assim em pequeno número, já que havia sempre o risco de que exacerbassem a situação instável e delicada das primeiras décadas.
Até o ano de 1550, só estava registrada a importação de cerca de 15.000 escravos africanos pela América espanhola. Alguns africanos acompanharam as expedições iniciais de conquista, na comitiva dos principais conquistadores. Os primeiros escravos africanos levados para o Novo Mundo vinham quase sempre das Ilhas Canárias, ou da própria Península Ibérica, por isso, sabiam falar espanhol e já haviam adaptado suas habilidades à sociedade colonial. Em 1510 foi permitida a exportação de 250 escravos de Lisboa, e em 1518 foi preparado o primeiro asiento (tratado ou acordo através do qual um grupo de comerciantes recebia da coroa espanhola uma rota comercial ou o monopólio de um produto) para o comércio de escravos. Estes eram admitidos por meio de uma licença, pela qual pagava-se uma taxa. Além disso, judeus, mouros, estrangeiros e hereges – na verdade, todos que não eram súditos de Castela ou não tinham o sangue puro – estavam formalmente excluídos das Índias. É bem possível que houvesse contrabando de escravos, já que os comerciantes portugueses vendiam-nos a preço mais baixo que os asientistas oficiais. Escravos africanos eram usados como criados, pedreiros, carpinteiros, coureiros, lavadeiras e cozinheiras, além de seu emprego nas plantations e obrajes, ou oficinas têxteis, nas quais predominava a mão de obra indígena. Bartolomé de Las Casas, o dominicano que lutou contra os maus- tratos impostos aos índios, achou aceitável a escravidão de africanos em seu período inicial, e propôs num texto de 1516 que os colonos tivessem permissão de utilizar africanos em vez de índios, como reação ao impacto completamente destrutivo da exploração, pelos colonos espanhóis, daqueles que lhes haviam sido confiados, retratando de maneira impressionante a ganância, a rapacidade sexual e a arrogância do encomendero. A situação dos africanos lhe parecia diferente, eles sobreviviam às condições de vida nas ilhas tão bem ou melhor que os espanhóis. Eram tratados como criados, mais estimados porque sabiam como cuidar de si mesmos e, por extensão, como cuidar de seus donos. Muito distantes de sua terra natal, eram vistos pelos colonos como mais dignos de confiança do que os índios, considerados desleais e traiçoeiros; alguns deles conquistaram a alforria e mesmo algum modesto cargo oficial. Mas na década de 1520, quando grupos africanos foram submetidos ao duro trabalho na bateia de ouro ou nos engenhos de açúcar, houve relatos de que eles também foram levados à revolta ou à fuga. Las Casas reveria suas opiniões sobre a aceitação da escravidão africana quando grande número desses escravos ficou disponível e foi submetido aos trabalhos mais pesados. Essa mudança de opinião representou em parte um aprofundamento de sua hostilidade em relação aos colonizadores. No fim de sua vida, escreveu que se arrependia amargamente de ter recomendado a importação de mais escravos africanos, e não tinha certeza se Deus o perdoaria por isso.
Escravidão
“A escravidão africana e o comércio atlântico de escravos acabaram dando uma contribuição expressiva para a fórmula imperial espanhola. A introdução de escravos africanos no novo mundo tinha dois aspectos positivos principais: Em primeiro lugar a venda de licenças para a entrada de africanos gerava dinheiro para o tesouro real, sempre uma preocupação importante. Em segundo lugar ajudava o poder colonizador a fornecer mão de obra aos centros urbanos e aos novos empreendimentos, numa época em que a população nativa já tinha sido dizimada”. A taxa de importação de africanos aumentou com o decorrer do século, porque não havia escravos índios disponíveis nos principais centros e também porque os colonos espanhóis tinham dinheiro para comprá-los. Como as autoridades foram lentas em sua reação, corsários e intrusos ingleses e franceses passaram a contrabandear escravos em meados do século.
É importante registrar que apesar da redução assustadora do tamanho das populações indígenas, elas ainda representavam uma ameaça potencial aos conquistadores.Além disso, durante um período considerável, suas instituições preservaram a vitalidade. Apesar de diferente da escravidão negra adotada no Brasil, a exploração do trabalho indígena também é tratada por muitos historiadores como escravismo. Porém o termo predominante nos livros de história é trabalho compulsório. Já o trabalho negro adotado em Cuba e nos países da América do Sul espanhola se assemelha muito ao trabalho escravo do Brasil, ao contrário do trabalho escravo negro adotado no sul dos Estados Unidos, onde os escravos eram bem tratados, incentivados a formar famílias, a se reproduzirem, como forma de reposição de mão de obra, sem que houvesse grande miscigenação de raças.
Nas Colônias, o Escravismo como Fator de Produção Agrícola em Grande Escala
Nas colônias onde não foi possível se dedicar imediatamente à mineração dos metais nobres, como na América espanhola, a colonização se especializaria na produção de produtos agrícolas tropicais. Dentre eles, o açúcar ocupava no início do século XVI uma posição excepcional no mercado europeu. Cultivado nas ilhas atlânticas portuguesas, comercializado nas praças flamengas, a sua procura crescia na medida em que, por um lado, se desalojavam antigos centros de ofertas (produção siciliana), e, por outro, em função da elevação geral do nível de renda da população europeia nesta fase de desenvolvimento. Além disso, a comercialização nas praças flamengas assegura à distribuição do produto os recursos das mais adiantadas técnicas de negócios da época. A cultura da cana e o fabrico do açúcar nas regiões quentes e úmidas do Brasil tropical apresentam-se, assim, na quarta década do século XVI, como uma solução que permitia ao mesmo tempo valorizar economicamente a extensa colônia, integrando-a nas linhas do grande comércio europeu, e promover o seu povoamento e ocupação efetiva, facilitando a sua defesa ante a concorrência colonial das grandes potências. É assim que, com a instituição das donatárias, se inicia na América portuguesa as cessões territoriais (os donatários, além da porção de que se apropriavam, podiam e deviam ceder terras em nome do rei – as “sesmarias”) com vistas a implantação da cultura canavieira e manufatura do açúcar para o mercado europeu.
O Mercado
A produção para o mercado europeu posteriormente se desdobrará nos outros produtos tropicais (tabaco, algodão etc.) em toda a América colonial (portuguesa, espanhola, inglesa, francesa); mas será sempre em torno deste tipo de produção – ou da mineração – que se desenvolverá a economia colonial. A especialização da economia colonial em produtos complementares à produção europeia e seu caráter “monocultor” se inserem na mesma lógica da época mercantilista, e deriva das condições histórico-econômicas em que se estabeleceu. A maneira de se produzir os produtos coloniais fica subordinada ao sentido geral do sistema, isto é, a produção devia se organizar de modo a possibilitar aos empresários metropolitanos ampla margem de lucratividade, o que obviamente impunha a implantação, nas colônias, de regimes de trabalho necessariamente compulsórios, semi-servis ou propriamente escravistas. Escravismo, tráfico negreiro, formas variadas de servidão formam, portanto, o eixo em torno do qual se estrutura a vida econômica e social do mundo ultramarino valorizado para o mercantilismo europeu. A estrutura agrária fundada no latifúndio se vincula ao escravismo e através dele às linhas gerais do sistema. A grande demanda estabelecida de mercado para a produção só encontra rentabilidade, efetivamente, se organizada em grandes empresas. Daí também decorre o atraso tecnológico e o caráter predatório que assume a economia da colônia. A sociedade se divide em grupos sociais, em castas incomunicáveis, com os privilégios da camada dominante juridicamente definidos, que é a estrutura fundamental do sistema de colonização da época mercantilista.
O Brasil-Colônia se encaixa com exatidão no quadro representativo do antigo sistema colonial e, pode-se dizer, o representa de forma exemplar. Assim, observando os movimentos históricos dos três séculos de nossa formação colonial é possível enxergar seus desdobramentos até os dias atuais.
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