Buscar

03 e 04 - O Estudo da Sistemática Vegetal e Futuro da Taxionomia Vegetal

Prévia do material em texto

12
	
	
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ASNTA CRUZ – UESC
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS - DCAA
BOTÂNICA SISTEMÁTICA II-2014
Prof. Luiz Alberto Mattos Silva
(Revisado em 2013)
O ESTUDO DA SISTEMÁTICA VEGETAL (*)
	
Conceitos
Importância
Objetivos
O estudo da Sistemática Vegetal com ênfase na situação do Brasil
Importância da Sistemática moderna na conservação
Evolução recente da integração da Sistemática com outras disciplinas
Uma aproximação filogenética
A Sistemática na prática
O desafio dos taxonomistas nos trópicos
O futuro da Taxonomia Vegetal
O Plano Nacional de Botânica
Política geral de ação para o desenvolvimento da Botânica
Política geral de ação específica para a taxonomia de fanerógamos
Flora da Bahia: história e organização
Bibliografia Recomendada
	
1
2
4
4
9
9
9
10
10
12
12
13
14
15
16
Citando Raven et al. (2001) (**): “Quando você para e examina uma flor, um arbusto ou uma árvore, você pode perguntar-se: ‘Qual é o nome daquela planta?’ Tal questão – surgindo de uma simples curiosidade para classificar organismos do mundo ao nosso redor – tem intrigado gente desde Aristóteles e sem dúvida desde épocas anteriores... O processo aparentemente trivial de dar nome a um organismo é, de fato, parte de um sistema altamente organizado para o estabelecimento de relacionamentos genéticos e identificação de tendências evolutivas.
Uma vez que as pessoas comumente dão nome às plantas e outros organismos na língua de seu país, haverá quase tantos nomes para o mesmo organismo quanto o número de línguas existentes. Para os botânicos e outros, essa pluralidade de nomes representa uma barreira significativa para o compartilhamento de informações. Portanto, além dos ‘nomes comuns’, que variam de país para país (diria até mesmo de um determinada região), cada organismo também tem um ‘nome científico’ – um nome latino com duas palavras que o identifica precisamente em qualquer lugar do mundo.
O nome científico não apenas fornece uma ‘carteira de identidade’ universal para um organismo, mas também fornece pistas acerca das relações de um organismo com outro”.
CONCEITOS
A Sistemática é a ciência dedicada a inventariar e estudar a biodiversidade dos organismos e compreender as suas relações filogenéticas. Compreende, portanto, a descoberta, descrição e in-
___________________________
(*) Parte desse texto foi compilado de autores indicados no final.
(**) Raven, P. H.; Ray, F. E. e Eichhorn, S. E. 2001.Biologia Vegetal (6ª ed.). Ed. Guanabara Koogan S.A., RJ. p. 253.
terpretação da diversidade biológica bem como a síntese da informação sobre a diversidade (Silva, 2000). De acordo com o paleobiólogo Simpson “Sistemática é o estudo científico dos tipos e diversidade dos organismos e de qualquer e todas as relações entre eles”.
Para outros, a Sistemática é a descoberta de todos os ramos da árvore evolutiva, a documentação de todas as mudanças ocorridas ao longo da evolução desses ramos e a descrição de todas as espécies. A identificação, a descrição, a nomenclatura e a classificação de todas as plantas, constituem a ciência conhecida como Botânica Sistemática, Sistemática, Taxonomia Vegetal ou simplesmente Taxonomia.
Segundo Jones Jr. (1987), “a Botânica Sistemática é um amplo campo que concerne o estudo da diversidade das plantas, sua identificação, nomenclatura, classificação e evolução. Entretanto deve assinalar-se que alguns autores estabelecem uma diferença entre Sistemática e Taxonomia, dando à primeira um definição geral como mencionada, restringindo à taxonomia ao estudo da classificação”
	A classificação é o ordenamento das plantas em grupos que têm características em comum. Tais grupos se organizam posteriormente em um sistema. Assim, por exemplo, as spp. de angiospermas similares são colocadas em um gênero; os gêneros se agrupam em famílias, as famílias com traços comuns se organizam em ordens e assim sucessivamente.
A identificação ou determinação é o reconhecimento de certos caracteres da flor, do fruto, da folha etc. e aplicação do nome de uma planta que possui esses caracteres particulares. O reconhecimento se apresenta quando o espécime em questão é similar a uma planta previamente conhecida.
	Marzocca (1985) simplifica assim: “a Botânica Sistemática é a ciência da classificação e denominação dos vegetais. Ou seja, estabelece e ordena os grupos de plantas parentadas entre si,possuidoras de características comuns e fornece a tais grupos os nomes que permitem identificá-los. Inclui a Taxonomia, que estabelece a classificação com base nas relações filogenéticas das plantas e a Nomenclatura, que atribui a cada planta um nome.”
	Barroso (1978) define Sistemática Vegetal como a “parte da botânica que tem por finalidade agrupar as plantas dentro de um sistema, levando em consideração suas características morfológicas internas e externas, suas relações genéticas e suas afinidades... A Sistemática compreende a identificação, a nomenclatura e a classificação:
A identificaçãoé a determinação de um taxon, como idêntico ou semelhante a outro já conhecido. Pode ser feita com o auxílio de literatura ou pela comparação com outro de identidade conhecida;
A nomenclatura está relacionada com o emprego correto dos nomes das plantas e compreende um conjunto de princípios, regras e recomendações aprovadas em congressos internacionais de Botânica e publicados num texto oficial;
A classificação é a ordenação das plantas de maneira hierárquica, ou seja, em um taxon; cada espécie é classificada como membro de um gênero, cada gênero pertence a uma família, e assim sucessivamente.
	Um taxon (taxa em plural) é um termo conveniente e útil que se aplica a qualquer grupo taxonômico de qualquer nível (Ex.: espécie, gênero ou família).
	A nomenclatura é o aspecto da taxonomia que se encarrega da aplicação ordenada de nomesaos taxa de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (CINM). O Código contêm regras para selecionar o nome correto ou para formular um nome novo.
IMPORTÂNCIA
	Um sistema de classificação é necessário porque permite a identificação das plantas e a comunicação científica com outros especialistas da botânica ou de outras área afins.
	Também, a Sistemática – mais objetivamente a classificação sistemática -compreende tanto um acúmulo de informações como um sistema de recuperação, sem os quais a comunicação científica seria impossível.
	O nome correto de uma planta é a chave que abre a porta à totalidade da sua biologia, já que os ecólogos, bioquímicos, horticultores e outros, devem ter um sistema de referência para as plantas que utilizam no seu trabalho e na sua investigação.
A Sistemática é essencial para a nossa compreensão sobre o mundo natural. As atividades básicas da classificação sistemática —classificação e nomeação — são métodos humanos antigos de lidar com a informação sobre o mundo naturale cedo a humanidade conduziu a classificação notavelmente sofisticada de organismos importantes, a exemplo das muitas espécies selecionadas para a alimentação, abrigo, fibra para roupa e papel, medicina, ferramenta, tintura e outros usos. Usamos estas espécies, em parte pelo fato do nosso entendimento sistemático do biota.
Apenas para ilustrar: nos anos 60, o botânico Hugh Iltis realizou uma excursão para estudar as plantas dos Andes peruano e coletou uma sp. de tomate (Solanum). Sabendo que os parentes silvestres do tomate cultivado teriam importância,para a melhorar a colheitas, mediante trabalhos de melhoramento genético, Iltis enviou algumas sementes para o geneticista Charles Rick, na Califórnia. Surpreendentemente, foi identificada como uma sp. nov. e nomeou-a como Solanum chmielewslkii, em homenagem ao polonês Tadeusz Chmielewski, geneticista em tomate. Rick cruzou este parente silvestre com um tomate cultivado e assim introduziu genes que notadamente melhoraram o paladar do tomates.
Centenas de avanços semelhantes, melhoraram o rendimento, a resistência às doença e outrascaracterísticas desejáveis em plantas cultivadas, espécies de madeira comerciais e variedades hortícolas.
A Sistemática contribui com o nosso conhecimento de evolução, porque estabelece um contexto histórico para entender uma grande variedade de fenômenos biológicos, como adaptação, especiação, taxas de evolução, diversificação ecológica e especialização, relações da co-evolução de anfitriões e parasitas, além da biogeografia.
Como parte de suas funções, os taxonomistas trabalham para gerar um serviço de informação que é essencial para todo aquele que trata com os organismos. Poderíamos chamar de “Serviço de Informação Taxonômica” e funciona assim:
	
ENTRADA
- Dados provenientes de várias fontes
- Espécimens obtidos em trabalhos de
Campo
----------------------------------
	SISTEMÁTICA VEGETAL
Coleções de Herbário
Descrição
Identificação
Nomenclatura
Bibliografia
Classificação
	CONTRIBUIÇÕES
Floras
Revisões
Monografias e Teses
Guias de Campo
Educação Ambiental
Informação
	USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO
Biólogos
Ecólogos
Agricultores
Público em Geral
OBJETIVOS
	A Sistemática Vegetal tem cinco objetivos:
Fazer um inventário da flora mundial – embora o inventário da flora esteja praticamente completo na zona temperada do Hemisfério Norte, o índice de coletas ainda é baixíssimo nos trópicos;
Proporcionar métodos mais ágeis para a identificação e a comunicação;
Produzir um sistema de classificação coerente e universal;
demonstrar as implicações evolutivas da diversidade vegetal – desde Darwin que os biólogos têm demonstrado a existência de linhas evolutivas entre os taxa. O desenvolvimento evolutivo - ou linhagem de um taxa – é designado por filogenia. As relações filogenéticas mostram que diferentes espécies, e as linhagens que representam, não surgiram espontaneamente mas que podem ter tido origem numa forma ancestral comum
Proporcionar um só nome científico, em latim, para cada grupo de plantas do mundo – este objetivo é a chave que abre a porta a toda a biologia dos organismos. Ecólogos, bioquímicos, fisiologistas etc., necessitam de um sistema de referência para as plantas que utilizam nas suas investigações. No entanto, este sistema pode e deve ser utilizado também pelo público em geral.
Um objetivo central da Sistemática, além da descrição da diversidade e elaborar um sistema geral de referência, é contribuir para a compreensão dessa diversidade, através do estudo das relações de parentesco entre as espécies. As classificações resultantes devem refletir a história filogenética e, assim, possibilitar a previsão das características dos organismos atuais, além de recuperar as informações indexadas.
O ESTUDO DA SISTEMÁTICA VEGETAL, com ênfase na situação do Brasil(***)
Durante muitos anos, a sistemática ou taxonomia vegetal foi considerada como uma parte estática da botânica, preocupada apenas com a denominação correta das plantas e utilizando para tanto, caracteres morfológicos vegetativos e reprodutivos, muitos já utilizados desde a época de Linnaeus. Hoje o conceito da sistemática evoluiu bastante e, apesar de utilizar a morfologia externa como base para descrição dos táxons, o taxonomista utiliza-se também de múltiplas fontes de evidência, tais como a citologia, anatomia, embriologia, ecologia, genética, química, além de refinadas técnicas computacionais , dos mais requintados instrumentos ópticos e de precisão, e, principalmente dispõe de novos paradigmas pautados em métodos explícitos de análise. Assim, o taxonomista atual deve ser um cientista de campo e laboratório, e o que é mais importante, deve trabalhar integrado a grupos com outros conhecimentos, utilizando portanto a metodologia inerente a cada um deles.
	Especialmente nas duas últimas décadas, a sistemática vegetal teve avanços impressionantes, tanto pelo incremento de análises cladísticas como pela aplicação de técnicas moleculares. Análises da variação no genoma de cloroplastos em particular, e, em menor exten- 
_______________________________
(***)este texto em itálico, foi extraído do artigo “Sistemática: tendências e desenvolvimento, incluindo impedimentos para o avanço da do conhecimento da área”, de autoria do taxonomista José Rubens Pirani (2004).
são, de segmentos do genoma nuclear incrementaram grandemente nosso entendimento da filogenia das plantas em todos os níveis taxonômicos. Assim, a Sistemática emerge como um ramo vigoroso da Biologia Evolutiva, provendo a necessária perspectiva histórica para a Biologia Comparada e embasamento filogenético para o desenvolvimento de hipóteses sobre processos evolutivos e para a produção de sistemas de classificação preditivos e robustos.
 Em contraste a esse desenvolvimento teórico e metodológico vigoroso e consolidação da Sistemática como a ciência do estudo da biodiversidade, vigora num país de megadiversidade como o Brasil a situação de enormes lacunas no estado de conhecimento da vegetação e flora, e necessidade de fortalecimento de equipes de pesquisa. A formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento sócio-econômico sustentável depende de aprimoramento dos estudos taxonômicos e do acesso facilitado a informações sobre biodiversidade. Cresce a demanda por informações técnico-científicas de qualidade para a definição de estratégias e prioridades de conservação de áreas naturais, e para a adoção de medidas de controle e manejo ambiental. 
 Apesar de as coleções de biológicas (zoológicas, botânicas e microbiológicas) comporem a infra-estrutura básica de suporte para o desenvolvimento científico em todas as áreas ligadas ao meio ambiente e indústria, no Brasil elas se encontram em situação muito aquém da adequada. A maioria dos acervos existentes tem sérios problemas de manutenção,carecem de infra-estrutura física e de recursos humanos especializados. Mantido o quadro atual, fica muito difícil vislumbrar no país uma exploração feita de maneira sustentável, com aproveitamento ideal da riqueza de recursos genéticos sem comprometer a conservação da diversidade de ecossistemas. Esses acervos precisam passar por um processo de readequação tecnológica e gerencial, incorporando métodos e processos que permitam rápida caracterização e documentação do acervo, e maior acessibilidade aos ricos dados existentes nas coleções.
 Mais de um milhão e meio de espécies viventes já foram descritas e nomeadas, entre organismos diversos como animais, plantas, bactérias, amebas, e no entanto isso representa somente pequena fração do total existente, estimado entre cinco e cem milhões de espécies. 
Mesmo entre as já descritas e minimamente caracterizadas, em muitos casos não se conhecem dados importantes como hábitos de vida, anatomia, distribuição geográfica, possível utilidade para o homem, tolerância ou vulnerabilidade à alterações ambientais. Embora o nome de um organismo seja fundamental, muito mais importante é a informação existente e que pode ser recuperada através do nome. Isto é, o nome da espécie permite a indexação do conhecimento, a sumarização da informação disponível sobre cada organismo nomeado.
O grau de conhecimento da biodiversidade não é igual em todas as partes do mundo. A região neotropical é a mais rica em espécies, e o Brasil detém cerca de 20% do total de espécies do planeta. Das 25 famílias de angiospermas endêmicas da região neotropical listadas por Smith et al. (2004), apenas 11 não estão representadas no Brasil. Mas, como país em desenvolvimento, ainda tem por realizar muito esforço nas tarefas de descobrir, nomear, descrever os caracteres morfológicos, conhecer a biologia, ecologia e distribuição geográfica da maioria das espécies existente em seu território. A urgência desse empreendimento fica mais evidente diante do rápido declínio da biodiversidade em decorrência da ação dramática do homem sobre os vários ecossistemas. A formulação de políticas e estratégias de conservação biológica e de desenvolvimento sócio-econômico sustentável depende do acesso facilitadoa informações sobre biodiversidade, e é essa demanda crescente que compete às coleções biológicas e taxonomistas associados atender.
Um objetivo central da Sistemática, além da descrição da diversidade e elaborar um sistema geral de referência, é contribuir para a compreensão dessa diversidade, através do estudo das relações de parentesco entre as espécies. As classificações resultantes devem refletir a história filogenética e, assim, possibilitar a previsão das características dos organismos atuais, além de recuperar as informações indexadas.
A teoria da Sistemática passou por profundas modificações a partir de 1950, quando o entomólogo alemão Willi Hennig revolucionou o estudo das classificações biológicas. Hennig procurou demonstrar que a classificação dos organismos não deve se basear na semelhança global, mas sim apenas nos atributos que permitirem aferir o parentesco filogenético. A diversidade biológica é resultante do processo de ramificação das espécies ancestrais em espécies descendentes, e só as novidades evolutivas compartilhadas pelos organismos (sinapomorfias) permitem recuperar o parentesco de forma segura. Na escola fundada por Hennig, chamada Sistemática Filogenética ou Cladismo, o axioma fundamental é que a história evolutiva de ancestralidade-descendência dos organismos pode ser reconstruída e representada mediante um diagrama hipotético denominado cladograma. Nessa escola, somente os agrupamentos de organismos cuja realidade histórica seja suportada pela observação de pelo menos um caráter no estado derivado (grupos monofiléticos) podem ser utilizados na classificação.
Uma classificação biológica que se baseia na filogenia tem muitos mais capacidade de previsão, e possibilita entender a evolução de todos os caracteres, mesmo aqueles não considerados (por terem sido desconhecidos ou ignorados pelo taxonomista), resultando em um sistema de referência mais eficiente. Constitui assim uma classificação mais útil não só para os sistematas mas para os biólogos em geral, e para todos os demais pesquisadores que lidem com a diversidade biológica. Fica evidente, portanto, a grande importância da Sistemática. Toda a ciência básica e aplicada dependem de identificações corretas, que evitem erros, ou gastos inúteis, ou danos sérios. E além disso, um sistema filogenético com alto poder de previsão é muito vantajoso na indicação de rumos para a pesquisa e busca de novos potenciais biológicos.
Ao passo que muitas escolas de Zoologia cedo abraçaram os preceitos da Sistemática Filogenética, infelizmente, é necessário reconhecer que na Botânica houve grande resistência por várias décadas. Apesar de já em 1978 Bremer & Wanntorp conclamarem os botânicos para o fato de que não seriam monofiléticos a maioria dos grupos taxonômicos então em uso corrente, na academia e na prática persistiu dominando até meados da década de 90 o sistema de classificação de Arthur Cronquist (1981, 1988). Esse renomado sistemata inclusive publicou feroz artigo contra o Cladismo (Cronquist, 1987). E tampouco as análises filogenéticas encetadas por Dahlgrenet al. (1985) na sistemática das monocotiledôneas tiveram o impacto e aceitação amplos que certamente mereciam. Mesmo assim, trabalhos cladísticos de grande envergadura para o entendimento das relações filéticas em altos níveis hierárquicos nas plantas vasculares foram realizados por Crane (1985), Dahlgren & Bremer (1985) e Donoghue & Doyle (1989).
No Brasil a história não foi diferente. Aylthon Brandão Joly (1976), em texto básico importante para as famílias vegetais representadas no Brasil, adotou o sistema de Engler. Com a consolidação de primazia do sistema de classificação de angiospermas de Arthur Cronquist (1968, 1981) em escala global, a partir da década de 70, este passou a ser o sistema adotado nas escolas e universidades. Nele se baseia a estrutura dos excelentes livros de Graziela Barroso e colaboradores (1976, 1978, 1980), frutos de uma importante escola de Sistemática no Brasil. Malgrado sejam hoje um tanto anacrônicos na classificação adotada em altos níveis hierárquicos, estes livros persistem sendo extremamente úteis nas caracterizações das famílias e/ou chaves para identificação de gêneros brasileiros. 
	Só bem mais recentemente, a partir de meados da década de 90, começaram os princípios do Cladismo ser adotados em salas de aula de Botânica no país, e com o aparecimento de uma classificação até nível de ordens, baseada em filogenias moleculares (APG 1998, 2003), e adotada no livro básico de Walter Judd e colaboradores (2002), isso tornou-se imperativo em todas as escolas que se considerem atualizadas. 
A teoria de Hennig foi sendo aperfeiçoada e ampliada por muitos autores subseqüentes, graças aos avanços nos fundamentos teóricos e às melhorias computacionais. Vários programas foram desenvolvidos para elaborar as árvores filogenéticas e para verificar as modificações de cada caráter. Dispomos atualmente de metodologia capaz de formular hipóteses testáveis de parentesco, com base no exame de grande número de características de espécies atuais e fósseis. Garantindo-se a qualidade dos dados, pode-se afirmar que quanto mais amplo o número e tipo de caracteres analisados, mais precisa e mais confiável tende a ser a filogenia reconstruída. As autoridades semi-subjetivas em Sistemática foram suplantadas por equipes empregando métodos analíticos em acelerado desenvolvimento e computadores habilitados a empregá-los mais e mais eficientemente.
Assim, a Sistemática Vegetal, que tinha sido longamente tida como “arte mais que ciência”, passou por um verdadeiro renascimento durante os últimos 25 anos. Isso devido primariamente à incorporação da fundamentação teórica e métodos explícitos do Cladismo, e subseqüentemente ao emprego dos dados macromoleculares na reconstrução filogenética, a qual é predicado no reconhecimento dos grupos naturais ou monofiléticos. 
Com o advento das técnicas de amplificação e seqüenciamento de nucleotídeos dos genomas nucleares, dos cloroplastos e dos mitocôndrios, a Sistemática entrou na era molecular. No final dos anos 80, tornou-se possível obter seqüências completas de trechos genômicos, e a forma de analisá-las comparativamente adequada foi obviamente o arsenal metodológico da Cladística. Isto é, ao contrário do que muitos proclamam, as técnicas moleculares não revolucionaram os métodos em Sistemática; antes, elas rapidamente se acomodaram aos métodos analíticos previamente existentes e que, eles sim, constituíram revolução paradigmática, como já ressaltou Schuh (2000). 
	As técnicas moleculares trouxeram vastos conjuntos independentes de dados, e tem havido contínuos avanços na extração do DNA, seqüenciamento de genes, alinhamento de seqüências, e no desenvolvimento de programas computacionais para adequada interpretação dos dados. Em conseqüência da crescente disponibilidade desses métodos, os sistematas têm tido a oportunidade de incorporar aos seus estudos as abordagens macro-moleculares, que não mais ocupam um domínio separado, mas passam a constituir parte integrante das ferramentas utilizadas em Sistemática.
	Nesse novo momento, a Sistemática Molecular tem corroborado o monofiletismo de várias famílias, ordens e grupos de hierarquia superior de vegetais por um lado, e apontado pontos críticos ou problemáticos que requerem ampla reformulação dos sistemas de classificação vigentes. O momento atual é, portanto, de grande dinamismo e instabilidade na Taxonomia em diversos níveis hierárquicos, sobretudo nos mais elevados. Porém provavelmente nunca estivemos tão perto de conseguir um sistema de classificação filogenético consistente, que retrate efetivamente as relações de parentesco entre as famílias de angiospermas.
	Parece muito óbvia a especial utilidade das abordagens moleculares na análise de relações filogenéticas em altos níveis hierárquicos, que já resultou em novas classificações que, embora ainda pobremente resolvida em certos pontos, são flagrantemente melhores e mais aprimoradas e confiáveis. Esses avançosno conhecimento, associados ao forte desenvolvimento do ferramental metodológico da Sistemática a coloca de novo numa posição chave face a outras disciplinas na Biologia, com crescentes e robustas aplicações em investigações sobre vias biossintéticas e de desenvolvimento, produtos naturais, origens e migrações de linhagens evolutivas, e na conservação. Mais do que nunca a Sistemática é fundamental, necessária e valiosa na Biologia. Em termos simplistas, estudos em sistemática podem indicar quais genomas no reino vegetal devem ser procurados, amostrados e pesquisados para as respostas às questões ligadas à evolução de estruturas físicas e químicas, e sua síntese e ontogenia. 
	Colocando de outro modo, em plena era da Genômica, persiste a moderna sistemática em suas aplicações e ligações com outras disciplinas; por outro lado, as aplicações da Genômica a um contingente cada vez maior de espécies deverá pautar-se na Sistemática, que por seu turno persistirá baseada fundamentalmente no reconhecimento fenotípico dos organismos na natureza. 
As modernas técnicas moleculares representam um recurso rico e poderoso que, ao invés de ofuscar, aumenta a necessidade de conjuntos de dados não-moleculares, de botânicos que possam interpretá-los, e das maneiras de obtê-los, isto é, trabalho de campo, estudos floris-ticos, coleções de herbário, e os pilares da taxonomia básica, que são a morfologia e a anatomia. Seqüências e cladogramas são meras ferramentas, é preciso conhecer as plantas para colocar as questões, estruturara a amostragem, selecionar os caracteres (incluindo quais genes analisar), e interpretar os resultados (Maddison 1996). Cladogramas geralmente colocam tantas questões quantas respondem; não há iluminação recíproca se não houver luz vinda de outra fonte.
A Sistemática fornece a matéria prima física e informacional para os conjuntos de dados que sustentam as investigações moleculares e filogenéticas. E isso só pode ser alcançado por meio de grande incremento da atividade taxonômica básica e da pesquisa florística, e de programas de trabalho de campo e organização de coleções melhor conduzidos e acelerados. Uma garantia de produção de uma sistemática robusta baseada em evidências moleculares e filogenéticas depende fortemente na identificação acurada de espécimes, preparação adequada de amostras (fragmentos desidratados em gel de sílica, ou outros), e amostragem cuidadosamente planejada de táxons e/ou populações representando da maneira mais abrangente possível a amplitude geográfica, variabilidade e filogenia do grupo. Monografias e floras são o meio mais eficiente de geração das informações e espécimes necessários, assim como de por em prática os profundos reorganizações filogenéticas atualmente em curso. Os taxonomistas são necessários para executar as diversas alterações nomenclaturais envolvidas em cada caso (Hammel 2001).
Considerando todos esses aspectos, constata-se que no Brasil houve nas últimas décadas grande evolução em certas frentes de pesquisa em sistemática e produção baixa ou pouco expressiva em outras. Muitos projetos florísticos de grande monta foram encetados, seja demarcados com base em unidades geo-políticas, seja baseados em ecossistemas, ou unidades de conservação ou unidades geográficas. No primeiro caso, podem ser citadas a Flora Ilustrada Catarinense, iniciada em 1962, a Flora Ilustrada do Rio Grande do Sul, a Flora de Goiás, a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, todas elas ainda incompletas mas em andamento. Nas outras categorias, são bem mais numerosos os trabalhos e áreas cobertas, indo desde compactas listas florísticas e manuais gerais até livros ou artigos detalhados sobre cada família de plantas, com chaves, descrições, ilustrações e mapas. Esses projetos têm o grande mérito de terem envolvido colaboração de numerosos pesquisadores e de terem na maioria constituído etapa marcante na formação de novos recursos humanos, pela atuação de alunos de iniciação, aperfeiçoamento, mestrado e doutorado. O grande volume de informação acumulada com todos essas explorações florísticas envolveu importantes avanços no conhecimento da taxonomia dos grupos tratados, com intensa melhoria do estado de conhecimento da morfologia, anatomia, biologia e fenologia das plantas, e expansão e detalhamento do mapeamento geográfico e das preferências ecológicas de cada táxon. Muitas coleções biológicas no país todo tiveram incremento considerável, em decorrência de projetos dessa natureza, podendo-se afirmar que em certos casos o herbário local como um todo foi constituído dessa forma. Esse vasto arsenal de informações precisa ser tratado e tornado disponível em maior alcance, sob a forma digital: muitas delas estão um tanto dispersas na literatura, ou, no que tange as coleções, são de difícil acesso pelas distâncias neste país de dimensões continentais, e pelas restrições de custo de remessa. 
Por outro lado, no plano das revisões taxonômicas, monografias e estudos filogenéticos, embora também tenha havido crescimento e melhoria na qualidade, a produção foi bem menos expressiva, pelo menos até certo ponto como decorrência da maior dificuldade e maior demanda de tempo para a conclusão desses tipos de trabalho, em relação aos de cunho florísticos. Talvez sintomático dessa situação seja o fato de apenas três das 90 monografias já publicadas na série Flora Neotropica terem sido publicadas por brasileiros e o início de emprego de métodos cladísticos somente a partir de 1990. Para que a pesquisa taxonômica no país passe para um nível mais aprimorado e alcance repercussão internacional, urge que se incorporem, ao labor do sistemata brasileiro, contínuos esforços visando à investigação sistemática de caráter mais abrangente e aprofundado, preferentemente envolvendo emprego de filogenias. Deve ser valorizada aqui a forte diversificação das fontes de evidência taxonômica que efetivamente passaram a ser empregadas no país desde os anos 80, com crescente integração com outras áreas de pesquisa e usos de técnicas mais refinadas de microscopia eletrônica, citológicas, químicas e moleculares. É também muito promissor o fato de as novas gerações de mestres e doutores estarem majoritariamente imbuídas do paradigma cladista. 
Importância da Sistemática Moderna na Conservação
Ainda de acordo com Pirani (2004), os estudos em Sistemática e as coleções botânicas acumulam volume inestimável de dados valiosos para o avanço da ciência e também para conservação. Trabalhos florísticos, desde que pautados em análises taxonômicas e filogenéticas consistentes que incorporem dados geográficos, podem direcionar a conservação de modo mais avançado. Dados sobre distribuição geográfica, preferências de habitat e estrutura populacional de grupos de organismos permitem identificar centros de endemismo e de diversidade, assim como espéceis raras e/ou ameaçadas. Esse constitui o arsenal de informações fundamental para estabelecimento de prioridades para conservação.
As atuais árvores filogenéticas podem estabelecer outro nível de informação e análise para maximização a conservação da diversidade genética que é em si a base da biodiversidade. Face à crescente destruição dos habitats e ameaças de extinção, muitas espécies e certamente algumas famílias e gêneros endêmicos a regiões restritas podem estar desaparecendo antes mesmo que tenhamos noção de suas propriedades químicas e processos de desenvolvimento e regulação. Considerando que não podemos salvar de forma realista todas as áreas naturais da destruição, estudos filogenéticos podem representar opção inteligente que nos permitirá conservar áreas detentoras de diversidade genética mais alta, e portanto de diversidade taxonômica. Eles ainda possibilitam identificar espécies significativas do ponto de vista evolutivo, cujo DNA deva ser estocado em bancos de germoplasma, que complementariam os esforços existentes de criação de bancos de DNA para espécies raras e ameaçadas.
Porém toda a execução e interpretação dos esforços em busca de dados taxonômicos consistentese de filogenias robustas e suas aplicações na conservação biológica continuarão sendo baseados em trabalho de campo e no conhecimento botânico tradicional acumulado.
Evolução recente da integração da Sistemática com outras disciplinas:
Outro aspecto que passou por evolução qualitativa na última década foi a integração crescente em interfaces de atuação do sistemata com pesquisadores de outras áreas. Além do incremento de uso de dados de outras fontes além da morfologia pela taxonomia, dados esses muitas vezes obtidos em colaboração com laboratórios não intrinsecamente ligados a herbários, parece ter havido uma maior abertura e acessibilidade dos procedimentos taxonômicos normais para a comunidade científica e leiga como um todo. 
Uma série de sítes da rede mundial atualmente estabelecem ligação mais efetiva da Sistemática vegetal com outras disciplinas. Até recentemente, mesmo um “nome correto” de uma planta ficava no domínio de um grupo relativamente limitado de especialistas, porém agora a comunidade científica como um todo tem acesso muito mais facilitado aos nomes aceitos e sinônimos taxonômicos. É possível examinar as mais recentes proposições filogenéticas e a literatura concernente; é possível buscar mais facilmente os membros mais proximamente relacionados a um dado táxon, e/ou representantes de um dado grupo numa dada área geográfica; é possível localizar botânicos e especialistas em um grupo taxonômico trabalhando numa dada região. 
Merecem destaque entre os sites mais úteis:
Index herbariorum(http://www.nybg.org/bsci/ih/ih.html) – continuamente atualizado;
AngiospermPhylogeny Website (http://www.mobot.org/MOBOT/Research/APweb) – em constante reformulação, apresenta as mais recentes evidências de realinhamento em filogenia de angiospermas e a literatura associada.
Diversityof Life DotOrg (http://www.plantsystematics.org/javatree.htm) – traz filogenias recentes de grandes grupos de plantas e animais. 
No Brasil, a página Taxonomia no Brasil (http://www8.ufrgs.br//taxonomia), vinculada à Sociedade Botânica do Brasil, apresenta dados atualizados de todos os herbários brasileiros e dos pesquisadores especializados em cada grupo taxonômico.
Uma Aproximação Filogenética 
Está bem claro, portanto, que a ciência Sistemática Vegetal, está intimamente ligada, em geral, ao estudo da evolução, dos fósseis, para o entender as mudanças genéticas em populações locais. Este tipo de informação de sucessão de eventos evolutivos só poderá ser obtida pelo Sistemata que reconstrói a Filogenia, a crônica evolutiva, dos organismos. 
Assim sendo, estudos de mudanças evolutivas, das idades e dos padrões de diversificação de linhagens, dependem diretamente do conhecimento das relações filogenéticas. 
A Sistemática desempenhará um papel crescentemente e importante em muitas outras disciplinas, inclusive ecologia, biologia molecular, lingüística, filosofia, entre outras. 
A Sistemática na Prática 
A classificação vegetal, além de armazenar informação sobre os organismos, pode ser útil como em muitas áreas. Por exemplo, a descoberta de precursores bioquímicos da droga “cortisona” em certas espécies de inhames (Dioscorea. Família Dioscoreaceae) incitou uma procura para a descoberta concentrações mais altas da droga em outras espécies de Dioscorea. O fato é que estas espécies parentes do inhame também compartilharam características geneticamente controladas, como muitos componentes químicos, em maior ou menor escala. 
A classificação, que sempre se preocupou em descrever e se agrupar organismos, recentemente tem se voltado para o estudo (acasalado) das relações filogenéticas. Muitos naturalistas e botânicos têm contribuído para o entendimento da filogenia. Tudo começou praticamente com Charles Darwin (em 1859), que estimulou a classificação binária. Um passo crítico neste processo foi o desenvolvimento de uma perspectiva filogenética para a qual contribuíram Willi Hennig (entomologista alemão), Walter Zimmerman (botânico alemão), Warren Wagner (botânico norte-americano), além de (Lawrence). 
Há três maneiras básicas para identificar uma planta desconhecida:
A forma mais rápida é perguntar para algum botânico profissional (especializado) ou a um naturalista bem treinado e que conhece as plantas de uma região. 
A segunda alternativa seria consultar literatura sobre as plantas da região. Na maior parte das regiões temperadas, onde a vegetação é mais uniforme, pode-se encontrar com certa facilidade livros dedicados às plantas em geral e outros focalizando flórulas (uma porção da flora).
O terceiro caminho para a identificação é visitar/consultar herbário(s).
O desafio do Taxonomista nos Trópicos	
	Ante a fascinante diversidade da flora neotropical, o botânico brasileiro de hoje persiste ainda numa situação de paradoxo: tem disponível de um lado uma série de dados detalhados sobre muitas espécies de plantas, indo da morfologia externa à ultra-estrutura e composição micro ou molecular, porém de outro lado o alto grau de desconhecimento acerca de muitos aspectos de certos táxons, ou de regiões naturais inteiras sub ou inexploradas, com o agravante de muitas estarem sendo destruídas em ritmo vertiginoso, pouco controlado. 
	Nesse contexto, urge que esse profissional concilie duas facetas do labor: a exploratória, de campo, trazendo dados complementares aos táxons conhecidos ou descrevendo as plantas ainda desconhecidas, documentando sua distribuição e ecologia geral; e a de pesquisa em busca da definição clara das homologias nos caracteres (das mais variadas fontes), visando aprimorar a classificação com base em hipóteses de filogenia consistentes. 
	Conciliando sua pesquisa nessas duas linhas, o taxonomista estará contribuir ativamente para o enriquecimento e diversificação dos acervos botânicos, para o aprimoramento da sistemática do(s) grupo(s), para a produção de sinopses ou monografias que facilitem o acesso às informações básicas sobre os táxons de cada família por outros pesquisadores, geralmente dispersas e a partir dali reunidas, e de maneira geral, para subsidiar os esforços de melhor conhecimento da flora brasileira e de sua conservação e manejo adequado (Pirani, 2004).
De acordo com Judd et al. (1999), “é importante observar que o conhecimento sobre Sistemática Vegetal cresce muito rapidamente. Novas hipóteses filogenéticas surgem a passos rápidos e podemos vislumbrar importantes alterações já nos próximos anos. 
Dado estas circunstâncias é impossível um livro de ensino manter-se atualizado e será, indubitavelmente, necessário aumentar o material apresentado através de reedições ou informações adicionais, estas facilitadas com o uso da Internet”.
Estes autores estão conscientes de que algumas das hipóteses sobre as relações filogenéticas serão modificadas e que os estudantespossam achar frustrante pelo fato de ser uma disciplina tão antiga e ainda necessite de revisões freqüentes.
Mas, como qualquer ciência, o conhecimento em Sistemática Vegetal é sempre provisório e tem que avançar para refletir novas descobertas. 
	
O FUTURO
DA TAXONOMIA VEGETAL
O Brasil possui a flora mais rica do mundo e ainda tem aproximadamente 40% da sua área coberta por floresta nativa
Essa imensa riqueza natural constitui-se em verdadeiro patrimônio científico, tecnológico, econômico e cultural, patrimônio esse que precisa ser melhor conhecido, preservado e explorado racional e criteriosamente.
Não se pode valorizar o que não se conhece. Portanto, os recursos naturais vegetais são de pouca utilidade se não forem racionalmente explorados. Essa é uma condição indispensável para que se possa promover sua conservação, perpetuando as boas qualidades do meio ambiente para as gerações futuras.
No que diz respeito à extinção de espécies, há uma crescente preocupação a nível mundial, que deverá atingir aos brasileiros, pois o conhecimento disponível é ainda muito incipiente. Apesar das dificuldades para uma avaliação precisa sobre o nível de perda das espécies,as listas das ameaçadas e/ou extintas já aparecem com maior freqüência.
Vários fatores atuam para que haja o desaparecimento das espécies. Entretanto, os avanços, muitas vezes desordenados, no plano econômico-social são os que mais aceleram a destruição da vegetação.
Dentre as atividades antrópicas que + interferem com o ambiente (spp. Vegetais e animais ou populações inteiras) podem-se citar:
o avanço da fronteira agrícola
a implantação dos grandes projetos de hidrelétricas e de mineração de superfície (e a conseqüente construção de rodovias e ferrovias)
a exploração madeireira
a expansão dos centros urbanos
o desenvolvimento dos pólos industriais (poluição)
Segundo a “Avaliação e Perspectiva” (CNPq, 1987) seriam necessários 360 botânicos de alto nível, trabalhando no mesmo nível e qualidade de Martius e seus colaboradores, durante 50 anos, para que esse patrimônio fosse, pelo menos, conhecido taxonomicamente..
Hoje, a abordagem precisa ser diferente em ritmo, qualidade e direcionamento. Há trabalhos, e bons trabalhos, mas realizados por poucos pesquisadores em número insuficiente, muito aquém do desejável, para tarefa de tamanha envergadura. Além de poucos, estão distribuídos geograficamente.
Temos, portanto, duas situações conflitantes:
a necessidade urgente de conhecer as plantas nativas, suas características, seu potencial de uso e sua adequada preservação; e
a escassez de recursos humanos qualificados que permitam esse conhecimento em ritmo + acelerado que o da destruição.
Para alcançar esses objetivos é fundamental o envolvimento de uma política científica que contemple as subáreas de Botânica, Econômica, Ecologia, Fisiologia, Fitogeografia, Morfologia e Taxonomia (Fanerógamas e Criptógamas) e que possibilite a conservação de nossas espécies.
O PLANO NACIONAL DE BOTÂNICA
	O plano Nacional de Botânica, elaborado pela Sociedade Botânica do Brasil, busca:
alcançar um padrão de excelência nas distintas subáreas da Botânica na diferentes regiões do país;
tratar da política geral de ação para o desenvolvimento da Botânica, abordando os seguintes itens:
recursos humanos
pesquisa
infra-estrutura de ensino e pesquisa
intercâmbio, divulgação e extensão
e já estão traçadas ações e metas específicas para 7 subáreas:
Botânica econômica
Ecologia
Fisiologia
Fitogeografia
Morfologia
Taxonomia de Criptógamos
Taxonomia de Fanerógamos
POLÍTICA GERAL DE AÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA BOTÂNICA
1. Recursos Humanos – Principais Linhas de Ação
estimular a formação de botânicos a nível de graduação, pós-graduação e ensino não convencional
fomentar, junto às Universidades e outras instituições de pesquisa, programa de estágio
facilitar a complementação da formação de botânicos juntos às instituições mais avançadas no exterior.
2. Pesquisa – Principais Linhas de Ação
buscar maior interação entre as Universidades e as Instituições que realizam pesquisa em Botânica básica ou aplicada, visando a criação de programas inter-institucionais e multidisciplinares
estimular o conhecimento básico de ecossistemas
incentivar estudos avançados em regiões, ou ecossistemas reconhecidos como de interesse científico, econômico e/ou social
selecionar locais para a conservação in situ de reservas genéticas, através de levantamento prévio da vegetação, para determinar aquelas de alta diversidade
incentivar o levantamento de espécies com potencial sócio-econômico
3. Infra-estrutura de Ensino e Pesquisa – Principais Linhas de Ação
Para que o desempenho científico possa ser compatibilizado com as aspirações dos botânicos e as necessidades de ciência e tecnologia da nação, é necessário:
estimular a estruturação de centros emergentes de alta competência
fornecer os meios necessários para a informatização dos herbários
apoiar a criação e manutenção de coleções botânicas vivas como forma de preservação do patrimônio genético nacional
conscientizar as Instituições, da importância do herbário e outras coleções botânicas e da importância científica e social também de jardins botânicos, arboretos e outras coleções de plantas vivas.
4. Intercâmbio, Divulgação e Extensão – Principais Linhas de Ação
As dimensões do país e o isolamento dos grupos de pesquisa são também fatores que dificultam o desenvolvimento do ensino e da pesquisa e o desenvolvimento tecnológico delas decorrentes. São necessárias as seguintes medidas para dinamizar as atividades, para manter unidos e informados os grupos consolidados e os emergentes e promover a difusão e o aproveitamento dos conhecimentos adquiridos:
incrementar o intercâmbio de pesquisadores entre as instituições nacionais e com as estrangeiras e entre os cursos de pós-graduação;
incentivar a publicação de livros técnicos e de divulgação, escritos por pesquisadores nacionais;
apoiar a publicação de monografias, relativos a plantas nativas;
definir uma política de intercâmbio de material científico;
otimizar o aproveitamento da visita de especialistas através da participação de maior nº de interessados da região; 
incentivar e aprimorar a transferência das informações científicas dos centros de pesquisa e ensino para a população; e
estimular a criação de unidades voltadas para o ensino e a divulgação da Botânica, sob enfoque conservacionista (o caso do Mestrado de Ecologia e Gestão Ambiental).
POLÍTICA GERAL DE AÇÃOESPECÍFICA P/ A TAXONOMIA DE FANERÓGAMOS
	A importância da Taxonomia não reside somente nos subsídios que proporciona à outras sub-áreas da Botânica e ciências afins mas, também, por permitir o real conhecimento dos recursos vegetais.
	Para o desenvolvimento dessa subárea, recomendam-se as seguintes medidas específicas:
a. Recursos Humanos
Promover o intercâmbio entre pesquisadores, professores e alunos das Universidades e Instituições de Pesquisa em Taxonomia, possibilitando consultas a coleções científicas, participação em cursos, realização de estágios e projetos conjuntos;
Facilitar a obtenção de auxílios para visitas de curta duração (1 a 3 meses) a Herbários nacionais e estrangeiros que contenham coleções representativas dos grupos taxonômicos em estudo por docentes/pesquisadores e alunos da pós graduação;
Organizar cursos modulados de aperfeiçoamento de Taxonomia deFanerógamos, nos quais se incluam, também, as subáreas relacionadas, como Anatomia, Palinologia e Ecologia, além de metodologias de trabalho no campo e no Herbário; 
Estimular a capacitação de taxonomistas visando a sua participação em projetos integrados de estudos da flora brasileira;e
Estimular a capacitação de pessoal mo uso de terminais de computadores (Bancos de Dados), junto aos Herbários.
b. Pesquisas 
Realizar projetos florísticos a nível de ecossistemas para as várias regiões do Brasil. Tais projetos seriam feitos regionalmente, porém sob coordenação regional;
Intensificar as coletas em áreas sujeitas a impactos e naqueles onde falta documentário botânico;
Elaborar floras regionais visando inventariar os recursos vegetais no Brasil;
Facilitar a obtenção de recursos e a liberação de docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação para a realização de expedições científicas
Infra-estrutura
Apoiar os Herbários, visando a preservação e dinamização do acervo científico;
Promover a informatização das Instituições que mantêm coleções científicas, de modo a agilizar o intercâmbio e a comunicação entre elas e a uniformização de etiquetas;e
conscientizar os órgão diretivos, da importância científica das coleções e da responsabilidade pela sua manutenção.
Flora da Bahia: História e Organização 
Autores: Tânia Regina dos Santos Silva, Ana Maria Giulietti, 
Raymond Mervin Harley, Luciano Paganucci de
Queiroz e Flávio França
O Estado da Bahia possui uma área de 567.295,3 km², representando cerca de 6,6% do território brasileiro e aproximadamente 36,3% da Região Nordeste. A Bahia possui uma boa representatividade de quase todos os ecossistemas brasileiros. Na porção mais ao Leste, encontra-se a Mata Atlânticacomos seus remanescentes, a exemplo dos Mangues, Restingas, Matas Higrófilas, Mesófilas e Matas Ciliares. Para o Oeste, o Semiárido ocupa mais de 50% do Estado, incluindo caatingas, lagoas temporárias nas partes mais baixas, cerrados e os campos rupestres. 
Apesar da diversidade de ecossistemas e uma flora exuberante, a Bahia tem apenas 6,68% da área do Estado conservada com proteção total. A estrutura de conservação do Estado é formada principalmente por 39 Áreas de Proteção Ambiental (APA), 24 Parques (nacionais, estaduais e municipais), duas Reservas Biológicas, oito Reservas Ecológicas, 29 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e sete áreas em categorias diversas. Embora exista um grande número de áreas de proteção, grande parte delas está criada apenas em decretos, faltando regularização da situação fundiária, plano de manejo, pessoal especializado e fiscalização adequada. 
Trabalhos de Campo na Botânica desde o Século XIX
A riqueza de espécies vegetais na Bahia é extremamente alta, estimada em cerca de 10.000 espécies de angiospermas. Atualmente, esse número parece estar subestimado. A Flora do Pico das Almas, por exemplo, incluiu 1.123 táxons, dos quais 105 (9,3%) eram novos. Uma estimativa seguindo essa perspectiva assumiria cerca de 12.000 espécies de angiospermas para a Bahia.
Esta rica flora tem despertado o interesse de muitos visitantes desde o século XIX, com plantas coletadas por Martius, Neuwied, Blanchet, Sellow, Gardner, entre outros, e usadas na elaboração da Flora Brasiliensis. O interesse pela flora da Bahia foi demonstrado também pelos estudos de Ule e Luetzelburg, no início de 1900.
Rede de Instituições Botânicas na Bahia
A partir de 1971, muitas novidades da Bahia foram descobertas através da viagem exploratória realizada pelo Dr. Irwin e colaboradores do NYBG (EUA), com a participação do Dr. Harley, do RBG-Kew (Reino Unido). Isso provocou uma renovação do interesse pela Flora da Bahia. Em 1974, 1978 e 1980 outras grandes expedições foram realizadas. O material coletado serviu de base para a preparação do ‘Towards a Checklistofthe Flora da Bahia’, a primeira lista publicada para a flora completa da Bahia desde a Flora Brasiliensis, há mais de um século. Entre 1980 e 1982, o botânico americano Dr. Mori trabalhou no CEPEC e contribuiu significativamente para o desenvolvimento do herbário, realizando importantes coletas.
O CEPEC, o RBG-Kew e o Departamento de Botânica do IB-USP estabeleceram uma parceria para cobrir os campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, em Minas Gerais (Serra do Espinhaço) e na Bahia (Chapada Diamantina). As numerosas expedições forneceram dados importantes para a preparação das floras do Pico das Almas, Grão Mogol e Catolés.
Em 1994, o Projeto Chapada Diamantina (PCD) agregou o CEPEC, o RBG-Kew e o IB-USP às principais instituições de ensino e pesquisa do Estado da Bahia: a UEFS, o IBGE e o CEPEC, sob coordenação da UFBA. Além da formação de uma rede visando estudos da flora da Bahia, a parceria resultou na publicação do Check-list das espécies vasculares de Morro do pai Inácio (Palmeiras) e Serra da Chapadinha (Lençóis), Chapada Diamantina, Bahia, Brasil’ e as Plantas Úteis da Chapada Diamantina.
O Projeto Flora da Bahia
O projeto Flora da Bahia deu continuidade ao PCD. Ele foi desenvolvido entre 1999 e 2001, e foi financiado pelo CNPq/CAPES através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação. A nova rede incluiu além dos integrantes do PCD, a UNEB, a UESC, a UESB, a EBDA, o NYBG e a Organização não governamental APNE, sob a coordenação da UEFS.
O projeto tem como objetivos principais: (i) a coleta em várias regiões do Estado visando ampliar as coleções depositadas nos herbários da Bahia, (ii) a melhoria da capacidade instalada nos herbários e (iii) preparar a lista de espécies de algumas áreas de Mata Atlântica, restinga e campos rupestres. O desenvolvimento das pesquisas com a flora da Bahia foi um dos pontos mais importantes para a implantação do Programa de Pós-Graduação em Botânica da UEFS (Capítulo 23) nos níveis de Mestrado (2000) e Doutorado (2002) com uma linha ligada à flora da Bahia. Em continuidade ao projeto Flora da Bahia, foi aprovado o projeto Estudos taxonômicos em Grupos da Flora da Bahia, através do Edital Universal (vigência 2001-2003), que concentrou seus esforços de coleta em áreas até então pouco amostradas e na preparação das primeiras monografias para a flora da Bahia.
Em 2003, foi aprovado o projeto Flora da Bahia II, pelo Edital Universal (vigência 2003-2005), que teve como foco principal o início da publicação das monografias, por gêneros ou famílias, na revista Sitientibus da UEFS. Um comitê executivo foi criado em 2004 para acompanhar e apoiar a publicação das monografias da Flora da Bahia. Participam desse comitê membros do CEPEC, IBGE, UEFS, UESB, UESC, UFBA, UNEB e do recentemente criado Jardim Botânico de Salvador (JBSSA), que decidiram que a Flora da Bahia cobrirá todos os grupos de plantas (como tradicionalmente conhecidas), incluindo angiospermas, gimnospermas, algas, briófitas, pteridófitas e fungos.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
BARBOSA, M. R. & THOMAS, W. W. 2002. Biodiversidade, Conservação e Uso 
 Sustentável da Mata Atlântica no Nordeste. 
BARROSO, Graziela M. et al. 2002. Sistemática de Angiospermas do Brasil.(Vol. 1, 2ª ed.)
_______. 1991. Sistemática de Angiospermas do Brasil.(Vol. 2)
_______. 1991. Sistemática de Angiospermas do Brasil.(Vol. 3)
JUDD, W.S. et al. 2002. Plant Systematics. A phylogenetic approach.2ed. 
JOLY, Aylthon Brandão. 2002. Botânica – Introdução à Taxonomia Vegetal.
JOLY, Aylton Brandão. 1977. Botânica – Chaves de identificação das famílias de plantas 
vasculares que ocorrem no Brasil
JONES Jr., Samuel B. 1987. Sistemática Vegetal (2ª ed.)
MARZOCA, Angel. 1985. Nociones Basicas de Taxonomia Vegetal.
PIRANI, J. R. 2004. Sistemática: tendências e desenvolvimento, incluindo impedimentos para o 
avanço da do conhecimento da área.
RAVEN, Peter; EVERT, Ray F. & EICCHORN, Susan E. 2001. Biologia Vegetal (6ª ed.)
TISSOT-SQUALLI, M. L.2006. Introdução à Botânica Sistemática.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes