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Desenvolvimento Afetivo e Moralidade Universidade Paulista - UNIP Curso de Psicologia Prof. Marcelo Mendes Corpo / Alma, Razão / Emoção • Concepção dualista do ser humano. • Separação cartesiana entre corpo e alma. • Homem cindido entre razão e emoção. (Leite, 2006) O predomínio da Razão • Durante séculos o pensamento dominante caracterizou a razão como dimensão mais importante. • Emoção como elemento desagregador da racionali- dade. • Emoção responsável pelas reações “inadequadas” do ser humano. (Leite, 2006) Concepção Tradicional • Até séc. XX, razão deve dominar e controlar emoção mediado pelos mecanismos institucionais educacionais (família e escola). • Instituições escolares (currículos e programas educacionais) contribuíram por considerar apenas dimensões racionais/cognitivas no trabalho pedagógico. • Aprendizagem como produto exclusivo da inteligência formal, sendo desconsiderada a influência dos aspectos afetivos. (Leite, 2006) Concepções “Modernas” • Cognição e afetividade passam a ser interpretadas como dimensões indissociáveis do mesmo processo. Emoção como base do desenvolvimento humano. Primeiras reações do recém- nascido são de natureza emocional. (Leite, 2006) Dinâmica da Afetividade / Cognição • Desenvolvimento é um processo com predominância alternadamente de cognição e afeto. • Predominância funcional (alternância de predomínio das dimensões) atua na elaboração do real e mundo físico (cognição) e construção do eu (afetiva). Afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à outra (Galvão apud Leite, 2006) Afetividade e Cultura • No início da vida, a afetividade tem função de garantir as necessidade básicas. • Posteriormente, o “outro” tem papel fundamental na construção das formas de expressão emocional. Afetividade envolve vivências e formas de expressões humanas complexas, desenvolvendo-se com a apropriação dos sistemas simbólicos culturais, mas tendo como origem as emoções. (Leite, 2006) Afetividade Professor-aluno • Tassoni (2000): 3 classes rede particular com alunos com 6 anos de idade em média. Categorias Aspectos mais valorizados pelos alunos Posturas Proximidade (presença física da professora perto dos alunos). Receptividade (profes- sora volta-se para atender e ouvir alunos). Conteúdos Verbais Professores que encorajavam alunos a avançarem na execução das atividades. Interpretação que alunos fazem do comportamento das professoras em situação de ensino-aprendizagem é de natureza afetiva. (Leite, 2006) Afetividade Professor-aluno • Silva (2001): Investigou a relação professor-aluno 4° ano EF. Observações e entrevistas alunos e professora. Categorias Respostas alunos Jeito de ser professora “É gentil, não grita, se preocupa com a gente”. “É exigente, briga, mas com motivo”. Relação Professor- aluno “A gente se sente mais a vontade para perguntar, não dá medo, dá mais segurança, tenho vontade de ficar perto da professora”. (Leite, 2006) Cognição, Afeto e Moralidade Toda ação remete a um ”fazer” “saber fazer” Dimensão Cognitiva “querer fazer” Dimensão Afetiva (La Taille, 2002) A moral em Kant • Imperativo categórico traz a ideia de dignidade: moral exige respeitar a dignidade do outro e de si próprio. • Do ponto de vista do “querer fazer”, a moral exige o “dever”. • A moral remete à dimensão da lei, da obrigatoriedade. “Devemos agir de tal forma que façamos da humanidade, tanto na nossa pessoa quanto na pessoa de cada um dos outros, sempre ao mesmo tempo um fim e nunca simplesmente um meio” (La Taille, 2002) Dimensão Cognitiva ou Intelectual • Moral e razão: Seres humanos dotados de racionalidade e por isso sujeitos morais. • Ação moral guiada pela razão pois somente é responsabilizado moralmente quem tem liberdade de agir e assim quem tem a oportunidade de escolher. • Toda escolha pressupõe emprego de critérios que é por definição, racional. (La Taille, 2002) Dimensão Cognitiva ou Intelectual • Moral e Conhecimento: a moral tem conteúdo construído pela cultura. üRegras: formulações verbais reguladoras do agir. São prescritivas. üPrincípios: não nos diz como agir mas em nome do que agir. Matrizes morais das quais são derivadas as regras. üValores: Quando Kant diz que devemos tratar as pessoas como fim (princípio) não podendo humilhá-las ou feri-las (regras) é porque existe um pressuposto de que a pessoa humana tem dignidade (valor). (La Taille, 2002) Dimensão Cognitiva ou Intelectual • Equacionamento moral: situações de dilema. Dilema de Heinz. • “Saber fazer” moral pressupõe capacidade de identificar elementos, compará- los e hierarquizá-los. (La Taille, 2002) 1. Heinz deveria ter roubado a droga? 2. Mudaria alguma coisa se Heinz não amasse sua esposa? 3. E se a pessoa morrer fosse um estranho, faria alguma diferença? Esposa com câncer. Químico cobra 10 vezes mais que Heinz pode pagar. Rou- ba a farmácia para pegar o remédio. Dimensão Cognitiva ou Intelectual • Sensibilidade moral: há situações nas quais os elementos morais não são explícitos. • Antes do equacionamen- to moral é necessário perceber a presença de elementos moralmente relevantes. Desnaturalizar fenômenos e elementos sociais. (La Taille, 2002) Dimensão Cognitiva ou Intelectual • Desenvolvimento do juízo moral: Piaget Heteronomia: criança interpreta as regras ”ao pé da letra”. Gravidade da ação como mais relevante. Obediência aos mandamentos da autoridade. Autonomia: intenção da ação é o mais importante. Kohlberg Pré-convencional: obediência da autoridade para evitar punição. Convencional: adequar às expectati-vas do grupo e preservar estabilidade social. Pós-convencional: princípios universais que garantam a justiça para todos. (La Taille, 2002) Dimensão Afetiva • “Querer fazer” leva ao campo da motivação, dos interesses, da energia afetiva que move a ação. • Medo e Amor: para Freud, antes dos 6 ou 7 anos, a criança obedece as regras morais por medo das punições ou por medo de perder a proteção dos pais. • Apenas por esse medo, não se pode falar em senso moral pois não haveria vontade especial em participar de um universo moral. • É necessário a obediência voluntária. • Piaget diz que a criança de 4 anos respeita as regras porque respeita as pessoas que as impõem. É a fusão entre dois sentimentos: medo e amor. Amor e medo correspondem a dois sentimentos presentes no despertar moral. (La Taille, 2002) Dimensão Afetiva • Simpatia: capacidade de compenetrar-se dos sentimentos de outrem. Compaixão (capacidade de compartilhar e dor alheia). • Comover-se com sentimento alheio para suprir as necessidades do outro tem relação com o despertar moral. • Auto-interesse: preocupação do bem-estar próprio. Pela simpatia a criança volta-se espontaneamente para outras pessoas e pelo auto-interesse preocupa-se com o que lhe é devido. Simpatia e auto-interesse se complementam. (La Taille, 2002) Dimensão Afetiva • Confiança: para querer participar de uma comunidade moral é desejável haver um sentimento de confiança nas pessoas que dela participam. • Culpa: desenvolvimento da moralidade exige que a criança e adolescente interiorizem camadas mais profundas da dimensão afetiva. • “Querer agir” moral torne-se decorrência de um controle interno. • Culpa é a dor psíquica decorrente do não cumprimento de um dever moral. (La Taille, 2002) Dimensão Afetiva • Vergonha: perda de valor pessoal. A culpa incide sobre a ação e a vergonha sobre o eu. • A vergonha apenas é experimentada pelo pessoa que julga a si própria negativamente. Harkot-de-La-Taille Vergonha retrospectiva:no momento (ou na lembrança do momento) em que ocorre a disjunção entre “boa imagem” que a pessoa tem de si e a consciência de que não corresponde a tal imagem. Vergonha prospectiva: pessoa sente na perspectiva de perder a “boa imagem” que tem de si. (La Taille, 2002) Dimensão Afetiva • Virtudes: leitura ética da personalidade. Coroação da gênese afetiva da moralidade. As virtudes aparecem como fruto do esforço para superar afetos que se, deixados em seu estado primitivo, motivariam condutas imorais. O medo pode causar o não-cumprimento dos deveres. Auto-interesse sem ser compensado pela justiça e generosidade, reforça o egoísmo. (La Taille, 2002) Referências • LA TAILLE, Y. Cognição, Afeto e Moralidade. In: OLIVEIRA, M. K et al., (Orgs.). Psicologia, educação e temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002, p. 135-158 • LEITE, S. A. S. Afetividade e práticas pedagógicas. In: LEITE, S. A. S. (Org.). Afetividade e práticas pedagógicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006, p. 15-46.
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