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Resenha Direito Penal na Grécia Antiga (1)

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Universidade Federal de Uberlândia 
Resenha 
GASTALDI, Viviana. Direito Penal na Grécia Antiga. Fundação Boiteux, 2006. 
Nome: Marina Gomide Queiroz Machado 
Disciplina: História do Pensamento Jurídico 
Professor: Diego Nunes 
69ª turma de direito noturno 
 
Bibliografia: 
GASTALDI, Viviana. Direito Penal na Grécia Antiga. Fundação Boiteux, 2006. 
JARRAT, Susan. Rereading the sophistic: Classical Rhetoric Refigured. Carbondale: 
Southern Illinois University Press, 1991. 
Lei de Talião, Código de Hamurabi 
ALLEN, Danielle. The world of Prometheus. The politics of punishing in democratic Athens. 
Princeton: Princeton University Press, 2000. 
Platão, Leis IX, 863c. 
 
Referências: 
Constituição política do império do Brazil, de 1824 
Código de Dracon 
Código de Solon 
Código Penal brasileiro 
Direito canônico de 1983 
GUERNET, Louis. Antropología de la Grecia Antigua. Madrid: Taurus, 1980 GARGARIN, 
Michael. Early Greek Law. London, 1989. 
LEONTINI, Górgias. 
FOUCAULT, Michel 
POSPISIL, 
HALL, Debrunner M. Even dogs have Eribyes: sanctions in Athenian practice and thinking. 
Oxford: Clarendon Press, 1996. 
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito 
 DE COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga 
Sobre a autora: 
VIVIANA GASTALDI, Professora e pesquisadora do Departamento de Humanidades da 
Universidad Nacional del Sur, na Argentina, é Doutorada em Letras com especialidade em 
Direito Grego e Literatura 
Prefácio 
O livro trata sobre o surgimento e o desenvolvimento do direito penal na Grécia antiga, 
citando várias obras e tragédias gregas como fonte de estudo. Aborda questões sobre a 
intenção do delito e suas consequências e justificativas, e os tipos de punição aplicável. 
Destaca-se o estudo do homicídio em diferentes etapas da cultura grega. 
Questões preliminares 
Há indícios sobre o surgimento do direito penal grego nos poemas épicos de Homero, em que 
apresentava a existência de regras de conduta, violações dessas regras e também punições 
executadas por uma autoridade. 
Dentro da classificação do desenvolvimento do direito penal na Grécia, é estudada uma etapa 
denominada pré-direito, que segundo Luis Gernet, constitui em um grupo de forças que 
estabelecem a análise das normas de comportamento, sem existir um Estado que obrigue tal 
ato. Assim como Platão, Hobbes e Marx, Gernet considera que só há direito, se houver 
Estado. No entanto, há outra corrente de pensamento, modelo seguido por Pospisil, que 
afirma que a existência do direito requer autoridade, intenção de aplicação universal, deveres 
e direitos entre as partes e aplicabilidade da sanção, de modo que a lei pode existir em 
diversas sociedades sem necessariamente apresentar uma forma escrita. 
No conjunto do direito grego, encontra-se especificamente o ordenamento jurídico durante o 
período clássico em Atenas, conhecido como direito ático. É importante salientar que na 
organização ateniense, a estrutura da polis, contava com o Estado autônomo, que abrangia 
todos os cidadãos livres (excluindo mulheres, crianças e exilados, que cometiam falta contra a 
polis). O estudo do direito ático foi possibilitado pelos textos legislativos conservados, 
epigrafes e manuscritos, contendo a Constituição de Atenas, a antiga lei de Gortina, as Leis e 
a Republica de Platão e a Política de Aristóteles. Outra fonte importante do direito ático 
privado foram as tragédias, principalmente a de Eurípedes. 
Para estabelecer punições é necessário delimitar o conceito de delito dentro dessas sociedades 
antigas. Na cultura grega, esse conceito é conhecido por hybris, que expressava um ato 
contrário à lei, uma violação das normas que regem a conduta entre os homens, e ainda pode 
representar a ideia de injustiça. Especificadamente em Atenas, a hybris compreende delitos 
mais amplos como adultério, incesto, atentados contra a autoridade construída, violação a 
hospitalidade, injúrias verbais e ofensas aos mortos e parentes. 
Em várias cidades gregas, nota-se que os primeiros legisladores ditam suas constituições, após 
o surgimento da escrita, sem que houvesse um consenso da população. No entanto, Clistenes, 
liderou uma reforma popular em Atenas, e reformulou a constituição, garantindo maior 
participação popular, e estabeleceu-se assim, um sentido jurídico à norma: a lei garantindo a 
democracia, “é a expressão do que o povo, como um todo, considera como uma norma válida 
e obrigatória” (Susan Jarrat). Clistenses realizou uma reforma política que proporcionou aos 
cidadãos, independentemente do critério de renda, o direito de voto e ocupação de diversos 
cargos. 
Parte I: o começo: Homero 
Nota-se que na cultura homérica há grande influência do ideal de herói, os homens exaltavam 
valores como beleza e coragem. Prevalecia a “cultura da vergonha”, assim denominada, pois 
os que não se adaptavam as regras obtidas nos modelos positivos de conduta, incorriam na 
vergonha social, podendo perder a sua dignidade e honra. 
Foi estabelecida na polis, a sanção conhecida por atimia, uma punição para as faltas 
cometidas contra a cidade, semelhante a um exílio na própria terra. O homem declarado 
átimos ficava impedido de participar dos tribunais, não podendo ser testemunha nem 
prestar queixa, não poderia pronunciar nas assembleias e nem entrar em santuários. 
Atimia era declarada aos que tentassem impor a tirania, mas também servia de pena para 
suborno e falsa acusação. 
Nos poemas de Homero há relatos sobre a organização do poder da sociedade dividida na 
assembleia, conselho de anciãos, e a ágora. O conselho composto por chefes dos genos, 
(transformou-se no senado romano posteriormente) que eram consultados geralmente nos 
casos de homicídio; a assembleia era presidida pelo rei, que representava a descendência de 
um deus ou herói e possuía grande poder religioso, político e militar; a ágora consistia em um 
espaço para debates e reuniões, na qual a população apenas assistia, sem participar 
ativamente. Os juízes participavam da administração da justiça, e decidiam sobre questões da 
vida social e política. É importante destacar nas obras de Homero, a grande influencia da 
mitologia na sociedade no âmbito político e jurídico, nesse aspecto, se assemelha ao direito 
canônico, que também valoriza a existência de um ser superior (Deus). 
Nesse contexto, a obra de Homero traz conceitos como Themis, e Dikê. Themis define um 
conjunto de condutas comportamentais que estão de acordo com a vontade divina, como o 
dever de hospitalidade, o dever de sepultar os mortos, e também o direito de expressar a 
própria opinião, ainda que esta fosse contrária a do rei. A Dikê representa a justiça humana, e 
é considerada o início do sistema democrático. 
Nos episódios de Ilíada e Odisseia, retrata três situações de ruptura da ordem social: o 
homicídio, a lesão da honra e danos ao patrimônio. Alguns casos de homicídios eram aceitos, 
se demonstrasse superioridade da força do homicida, no entanto, poderia desencadear um 
sentimento de vingança, sustentado no desejo de honrar o morto. A vingança concretizava-se 
de duas formas: pelo exílio do assassino ou mediante um pagamento de uma indenização. Os 
julgamentos dos homicídios ocorriam na assembleia, sendo que esta determinava o 
comportamento dos homens de acordo com os princípios e valores comuns. Os direitos 
fundamentais do homem foram assegurados desde a Constituição de 1824 e partir desta 
condição, o homicídio não deve ser exaltado como ato heroico. Porém, as Constituições mais 
antigas não previam punição ao homem que matasse sua esposa em caso de adultério, o que 
representa resquícios da teoria de que e a vingança se legitima para salvara honra de alguém. 
Como acontecia também na Mesopotâmia, na lei de Talião:“Olho por olho, e dente por dente” 
presente no Código Hamurabi. 
A questão do adultério na Grécia antiga também é comentada pela autora Viviana Gastaldi. O 
marido traído poderia vingar-se recuperando o dote pago ao pai da esposa, como uma forma 
de pagamento e compensação. Aos adúlteros, havia um sentimento de vergonha e repúdio, era 
aconselhado ao homem, deixar a cidade. Não havia sanção para a adultera, pois a mulher não 
era considerada culpada. No atual século, observamos uma situação inversa, apesar de não 
existir mais a sanção penal para adultério, a sociedade de um modo geral condena mais a 
mulher do que o homem que trai. 
 
 
Parte II – A época clássica 
As instituições jurídicas foram desenvolvidas em nove magistrados: o arconte epônimo, que 
cuidava das questões de herança; o arconte basileus, composto por um chefe religioso da 
comunidade, que julgava homicídios; o polemarco, responsável pela justiça militar; e os 
outros seis, eram juízes cuja principal função era organizar o tribunal e os julgamentos. 
O surgimento do alfabeto e da escrita possibilitou fixar as normas estabelecidas, e a criação de 
uma legislação, de forma que a regulamentação das leis deixasse de ser exclusiva dos árbitros 
e juízes. Mas ainda assim, a religião ainda influenciava na lei grega. 
As leis de Dracon foram elaboradas no século VII e apresentava punição (exilio do autor) 
para homicídios, de modo a diminuir a violência provocada pela vingança. A noção de delito 
surge como uma ação proibida e penalizada por um órgão institucionalmente competente. A 
pessoa lesada deveria apresentar o culpado diante dos magistrados, pois somente a eles cabia 
o direito de punir. No entanto, a lei permitia ao homem matar o adultero pego com sua 
mulher. 
Posteriormente, o código de Sólon substituiu o código draconiano e estabeleceu uma 
democracia na sociedade ateniense com maior participação do povo. Sólon, poeta e 
magistrado, aboliu a escravidão por dívidas e promoveu a redistribuição de terras. Entre 
outras medidas importantes, houve a criação do direito de apelação popular contra a decisão 
de um magistrado, o direito do cidadão de empreender uma ação a favor dos agravados. Após 
Sólon, outras medidas foram incorporadas por Clitenses, como a limitação do poder do 
Aerópago, e o ostracismo (exilio dos cidadãos que ameaçassem a democracia). O poder era 
dividido em três órgãos: O Conselho, os tribunais e a Assembleia Geral, e havia ainda o voto 
secreto. 
Ainda sobre o homicídio, os casos que ocorriam dentro da família, eram considerados 
gravíssimos, e o exilio era necessário para que o homicida não contaminasse os parentes mais 
próximos com seu pecado. Já para os homicídios considerados justificáveis, era instituída a 
pena de purificação. 
As tragédias do século V apontavam a mácula como fenômeno irracional que marcavam 
quem cometesse um delito, principalmente homicídio. Era esperado que o maculado se auto 
exilasse de modo a evitar contágio, tendo em vista que a sociedade repudiava tal 
comportamento. 
O surgimento da retórica como uma técnica de discurso público representou um grande 
avanço, pois possibilitou que a decisão jurídica fosse embasada em argumentos apresentados 
perante a comunidade. A sociedade passa a ter conhecimento do que é injustiça definido por 
padrões fixos escritos. 
Ainda no século V, o processo de julgamento por homicídio passou por modificações formais 
e foi dividido em etapas. O arconte ou magistrado detinha de um escrito, denominado lexis, 
que continha os nomes das partes, o fato ocorrido, e o depoimento das testemunhas. O 
magistrado deveria analisar as formas da lexis, se o acusador tinha o direito de apresentar a 
demanda e se o acusado tinha capacidade para se defender pessoalmente. O acusado poderia 
aceitar a acusação e cumprir o que lhe for imposto ou apresentar argumentos contrários do 
demandante, por meio de um debate. Esse debate consistia em um juramento de ambas as 
partes, envolvendo deuses, o juramento era considerado eficaz, pois acreditavam que o falso 
testemunho implicaria em uma maldição. 
É importante ressaltar que o direito sempre deve ser associado a outras ciências, abrangendo o 
âmbito econômico, politico, social e religioso, sendo assim, as argumentações dos debates nas 
instancias processuais, possuíam normas e valores que regiam a cultura jurídica de Atenas. 
Kelsen, em seu livro, A teoria pura do direito, propõe que o direito seja estudado puramente, 
sem a influencia de politica, ideologia, religião, história, moral e valorativa para elaborar uma 
ciência jurídica escrita, no entanto, ele mesmo ressalta a importância de outros olhares 
científicos sobre o direito, mas no âmbito da ética, ciência politica e teologia. 
O julgamento apresenta controvérsias no que diz respeito à justificativa da ação culpável. 
Usa-se da probabilidade e do silogismo retórico como métodos de identificar a justificativa da 
ação e verificar a credibilidade dos argumentos. 
A tragédia de Ésquilos ilustra bem esse pensamento, sua obra, trata da maldição da tragédia 
sobre a família de Atreu e narra sobre o julgamento de Orestes, que encerra a sucessão de 
vingança familiar e da maldição lançada sobre os filhos de Atreu. 
Orestes justifica sua ação dizendo que o homicídio por ele cometido foi justo e vingativo. 
Dentro do julgamento, havia um representante das partes, que se dirigia aos juízes e poderiam 
atuar também como testemunhas. Dentro do enredo, Apolo deveria ser apenas uma 
testemunha, mas ele intervém de tal modo dirigindo-se a esses representantes, que influencia 
muito no resultado do julgamento. Nesse processo, consideravam válidas as provas que cada 
criador elabora como determinado propósito, que segundo Michel Gargarin, representam a 
valorização de uma cultura oral. Logo, a funcionalidade proposta por Aristóteles (divisão do 
silogismo em premissas maiores e menores) é questionável, pois não pode ser facilmente 
aplicável no contexto da tragédia de Esquilos. Ao fim da obra, todos os juízes depositam seu 
voto e Orestes é absolvido graças ao voto decisivo de Atenas. Atenas decide votar a favor de 
Orestes para que sua família não fique sem a figura de um pai, chefe de família, e eixo das 
relações familiares. 
Percebe-se que o julgamento do homicídio não é mais realizado dentro do sistema 
reivindicatório pelo sangue, e sim por um ritual de penalização racional e organizado. Na 
tragédia citada, nota-se que há intensa participação dos cidadãos e também um confronto de 
crenças pessoais com normas jurídicas. 
Parte III: A penalidade 
É importante estudar a punição e sua interação com a sociedade, e a forma que outras 
estruturas sociais são afetadas pela instituição de processos de punição. De acordo com 
Focault, além de reprimir, estabelecer uma pena implica em formar um discurso expressando 
textos, cultura, símbolos e rituais com a lógica da instituição. 
A penalização difere da vingança em vários aspectos. Segundo Danielle Allen, “a vingança é 
focada sobre um mal pessoal sofrido; ela é passional e irada; penalização por outro lado, é 
produzida por um ator judicial imparcial que não está pessoalmente envolvido com a matéria 
e que age de acordo com a lei.”. Ou seja, a vingança não possui limites, é pessoal e muitas 
vezes há um prazer e satisfação ao realizar o sofrimento do outro, são respostas a outros atos e 
não são legitimas; já a penalização é limitada conforme a gravidade da ofensa, geralmente não 
há relação pessoal com a vítima, as bases das punições são legitimas e possuem autoridade 
politica, familiar ou institucional. As punições são estabelecidasde acordo com princípios, e 
pode ocorrer de uma mesma punição se aplicar em diferentes circunstâncias. 
Antes da formação da polis grega, eram considerados delitos graves aqueles que 
prejudicavam a manutenção da sociedade, como exemplo o sacrilégio e a traição. Nessa 
época, a punição era estabelecida de acordo com a vontade dos deuses. O cidadão que 
cometesse um delito era considerado átimos, e era excluído da sociedade, a condenação se 
estendia por toda sua família, e era aconselhável que fugisse para evitar que sofresse 
lapidação, escarnio e golpes. 
A atimia torna-se pena legitima imposta por lei após a formação das polis gregas. Configurase 
em uma privação dos direitos de cidadania, poderia ser temporária, aplicada nos casos de 
divida do tesouro público ou definitiva, em que o cidadão não poderia se manifestar nas 
assembleias nem publicamente, e quando morto, perderia o direito de ser sepultado. A atimia 
era a penalização para crimes como homicídio, corrupção, roubo, traição, falso testemunho, 
adultério, abuso do poder publico, e tentativa de alterar as leis tangentes ao crime de 
homicídio. 
Outra forma de punição consistia na imprecação, o indivíduo culpado era excomungado 
severamente assim como todos os seus descendentes masculinos também eram excluídos dos 
santuários e da perpetuidade. Nesse exemplo fica clara a ligação do direito e religião. A 
excomunhão também foi uma pena prevista no Código de Direito Canônico de 1983 para 
ações como profanação de espécies sagradas, absolvição por um sacerdote que praticou o 
pecado da carne, violência física contra o Papa, consagração ilícita de um bispo, violação 
direta do segredo da confissão pelo confessor, heresia, aborto e apostasia. Nos dias de hoje, 
existem países de religião muçulmana como Arábia Saudita e Irã, que a apostasia, ou seja, a 
renuncia da fé, é penalizada pela religião islâmica com pena de morte. 
Voltando as civilizações gregas, a lapidação (apedrejamento) era uma penalidade pouco 
usada, ocorria nos casos mais extremos de traição contra o Estado e antagonismos políticos. 
Não era um ato coletivo e espontâneo, mas sim a aplicação racional de um processo legal. 
Na sociedade ateniense a prisão não era uma punição estabelecida por lei, mas era válida para 
pobres que não conseguiam pagar suas dívidas, e ficavam presos até que conseguissem 
quitálas. O objetivo de prender era semelhante ao de exilar: tirar os delinquentes do convívio 
social onde praticaram o delito, porém aos exilados era possibilitado interagir em uma nova 
comunidade. 
Por fim, as multas consistiam em penalidades leves nos casos de negligencia dos deveres 
oficiais, dano intencional, uso de linguagem abusiva e violação de uma mulher livre. 
Os vereditos e penalidades eram decididos por tribunais populares, exceto homicídios, que 
eram julgados em tribunais especiais. O Aéropago era um tribunal especial que julgava casos 
de homicídios e incêndios intencionais, envenenamento e ofensas religiosas, era considerado 
um tribunal superior, a última instância em Atenas, representava uma força politica, pois 
possuía os poderes do Conselho. 
As ações eram divididas em casos públicos (roubo) e casos privados (homicídios). A sentença 
poderia ser estabelecida de duas formas, na primeira o demandante e o acusado propunham 
uma opção diante do tribunal, e após uma discussão era votavam-se nas duas alternativas; já a 
segunda, a pena era estudada pelos juízes e determinada por uma lei, pela jurisprudência do 
tribunal ou por um acordo entre as partes. Esse processo distinguia-se de acordo com a 
condição jurídica das partes, se fossem cidadão ou escravos por exemplo. Os tribunais 
aplicavam a legislação com base na opinião comum, e em teorias filosóficas. 
O direito penal grego baseia-se em analisar a responsabilidade jurídica individual, a 
intencionalidade e a voluntariedade nos atos ilícitos. Alguns autores como Górgias de 
Leontini afirmam que só se é responsável por um ato ilícito quando existe intenção. O atual 
código penal prevê sanções diferentes para homicídio doloso (em que há intenção de matar) e 
culposo (em que não há intenção de matar), mesmo que a pena para homicídio culposo seja 
menor, ambos são penalizados. O involuntário, presente em diversas tragédias gregas, 
tornouse uma noção mais abrangente. 
Após a crise oriunda da guerra do Peloponeso, o desenvolvimento da retórica foi fundamental 
nos debates na vida publica de Atenas, principalmente nos debates dialéticos sobre 
responsabilidade, que exigem maior elaboração dos argumentos de defesa. 
A justificação de um ato involuntário pode ser fundamentada na ignorância, na compulsão, e 
até mesmo no amor. Platão afirma que a ignorância é o principio do delito involuntário e do 
delito em geral (Leis, IX, 863c). Analisando as ações involuntárias e o papel do agressor e da 
vítima, o agressor se torna vítima das circunstâncias. Como exemplo, na tragédia de Édipo 
Rei, o herói é acusado de incesto e parricídio, porem é absolvido declarando não ter 
conhecimento de suas relações familiares. 
A finalidade da punição fundamenta-se em duas teorias principais: o utilitarismo, que afirma 
que a punição é benéfica para a sociedade e o retribucionismo, que considera a pena valiosa 
em si mesmo. Os gregos tinham a necessidade de justificar a sua legislação penal, que tinha 
características retribucionistas, pois consideravam a pena como reparação de uma ofensa e um 
ato de intimidação a todos que cogitavam agir de forma semelhante. 
A teoria utilitarista de punição teve vários defensores como Pitágoras, Aristóteles e Platão. O 
sofista Pitágoras considera a punição não como um ato de retribuição, mas sim uma tentativa 
de evitar que tal ação ocorra novamente. O direito penal deve promover a intimidação e não 
uma vingança ou retribuição. Platão considera a atividade punitiva com a função educativa, 
que torna o punitivo um cidadão melhor, e mais virtuoso. Aristóteles considera que pena 
combata a injustiça e a disseminação de delitos, e também, que deva ser proporcional ao dano 
causado. 
A justiça retribuitiva foi predominante na Grécia por muitos anos. Contudo, com o passar do 
tempo, notou-se uma mudança voltada para a compreensão e a indulgência. Evitar delitos é 
mais importante que castigá-los. Portanto, o propósito de uma boa legislação consiste em 
promover aos homens maior felicidade e melhor convivência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	Prefácio
	Questões preliminares
	Parte I: o começo: Homero
	Parte II – A época clássica
	Parte III: A penalidade

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