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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Uma Introdução à Preparação e Avaliação de Projetos Agroindustriais Parte I: Preparação do Projeto Carlos Arthur B. da Silva, Ph.D. Junho de 2001 1 Uma Introdução à Preparação e Avaliação e de Projetos Agroindustriais Parte I – Preparação do Projeto1 Carlos Arthur B. da Silva2 Prefácio A agregação de valor no setor agrícola através da agroindustrialização é geralmente considerada como uma das políticas mais eficientes que podem ser implementadas para se atingir o desenvolvimento econômico sustentável. De fato, investimentos em processamento agrícola são conhecidos por apresentarem efeitos multiplicadores significativos, devido às chamadas ligações para frente e para trás dentro da cadeia produtiva do setor. Outros benefícios trazidos por investimentos agroindustriais surgem do nível de geração de emprego relativamente alto, do melhoramento na qualidade de alimentos e fibras, e da possibilidade de operação em pequena escala. Ao perceberem os benefícios da agroindustrialização, governos e organizações internacionais têm criado programas de desenvolvimento agroindustrial. Esses programas tipicamente incluem o fornecimento de crédito e assistência técnica a investidores em potencial e muitos têm, como alvo específico, grupos de pequenos produtores e investidores de pequena escala como seus beneficiários. No sentido de avaliar a viabilidade de um empreendimento agroindustrial, um investidor em potencial, seja público ou privado, deve considerar um número de tópicos, os quais variam desde estratégias de marketing até preocupações tecnológicas, financeiras e organizacionais. Diversas fontes de riscos e incertezas também devem ser devidamente consideradas, a fim de minimizar a probabilidade da empresa não ser bem 1 Traduzido do original em Inglês por Michelle Oliveira. 2 Economista Agrícola, PhD.; Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa; Brasil; e-mail: carthur@ufv.br 2 sucedida. Por estas razões, formulações e análises adequadas tornam-se instrumentais para o sucesso de qualquer programa de desenvolvimento agroindustrial. Este texto tem por objetivo constituir-se em uma ferramenta para orientar o processo de preparação e avaliação de projetos agroindustriais. Ele apresenta os conceitos relevantes e descreve procedimentos metodológicos normalmente seguidos por profissionais, doadores, organizações internacionais e instituições de crédito, ao prepararem e avaliarem projetos agroindustriais. O texto é um material auxiliar do software “AgriVenture”, distribuído pela Food and Agriculture Organization (FAO) da Organização das Nações Unidas (ONU), como parte de seu projeto de disponibilizarão de acesso ao conhecimento denominado INPhO (www.fao.org/inpho). O trabalho está dividido em 2 partes separadas. Esta primeira parte descreve os principais conceitos e técnicas relacionadas com a preparação de um projeto agroindustrial. Já a segunda parte trata dos aspectos de avaliação financeira. Sendo uma fonte introdutória, o texto foi intencionalmente mantido o mais conciso possível. Referências para uma leitura mais aprofundada são sugeridas ao longo da apresentação. Os leitores são fortemente estimulados a usar o programa “AgriVenture”, assim como os projetos exemplo nele demonstrados, para aprimorar o entendimento de conceitos e procedimentos aqui apresentados. O autor deseja agradecer as contribuições de estudantes da Universidade Federal de Viçosa, que leram o primeiro esboço e apresentaram sugestões valiosas. A assistência de Chris Fields na edição deste texto também é reconhecida. Deseja-se, também, agradecer ao corpo técnico da AGSI na FAO, especialmente ao José Machado e François Mazaud, pela oportunidade de participar no projeto “AgriVenture” e pelas suas contribuições na revisão deste material. Certamente, quaisquer erros e omissões que tenham permanecido são inteiramente de responsabilidade do autor. 3 Introdução à Avaliação e Preparação de Projetos Agroindustriais Parte I – Preparação do Projeto 1. Introdução Ainda que aparentemente auto explicativo, o termo "agroindústria" é utilizado em múltiplos contextos denotando, desde os mais simples processos pós colheita às mais elaboradas transformações de matéria-prima em produto final. Existem muitas definições e classificações para este termo na literatura especializada. James Austin, em seu livro "Agroindustrial Project Analysis: Critical Design Factors” (1), define agroindústria como "... um empreendimento que processa matérias-primas de origem animal ou vegetal. O processamento envolve transformação e conservação através de alteração física ou química, armazenamento, embalagem e distribuição." Ele ainda expande sua definição para uma classificação de agroindústrias pelo nível de transformação de matéria-prima. O autor descreve quatro níveis de transformação, que englobam desde operações simples, tais como limpeza e classificação, a processos mais sofisticados, como alteração química ou texturização. Quanto mais alto o nível, mais complexos se tornam os processos a ele associados. A definição de Austin cria um amplo espectro para a classificação de empreendimentos como agroindústrias e tem sido adotado por importantes referências como por exemplo BROWN (1995). Uma vez que estes autores tiveram seus textos publicados pelo Banco Mundial, é admissível que esta também seja a visão adotada por aquela instituição. Em uma recente publicação, a FAO apontou que o termo "agroindústria" comumente se refere a "... o subconjunto de procedimentos de fabricação que se refere ao processamento de matérias-primas e produtos intermediários derivados do setor agrícola" (FAO, 1997). A mesma publicação utiliza o termo "indústria agro-processadora" como um sinônimo de agroindústria, já que o Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 4 trabalho da indústria agroprocessadora é "...transformar produtos originados da agricultura, floresta e pesca." Enquanto esta publicação apresenta outras classificações e especificações para este tipo de atividade econômica, ela adverte que devido a recentes desenvolvimentos em tecnologias e processos, a separação clara do que pode ser considerado somente indústria do que deve ser visto como uma agroindústria tem se tornado complexo. Esta preocupação é relevante, principalmente no setor não alimentício, no qual as cadeias de produção, que convertem matérias-primas básicas em produtos finais podem ser muito longas e envolverem variadas transformações. Em contraste com visões mais amplas da FAO e do Banco Mundial, outras definições, um pouco mais restritas, têm sido adotadas por autores e instituições importantes. Por exemplo, a UNIDO (The United Nations Industrial Development Organization) tem definido agroindústrias como "...indústrias que utilizam matéria-prima agrícola como principal material do qual são fabricados produtos em escala comercial." (SRIVASTAVA, 1981). A partir desta perspectiva, o primeiro nível de agroindustrialização de Austin, que envolve apenas operações básicas de pós-colheita, seria excluído desta definição. Apesar desta distinção, há um ponto em comum indiscutível em todos os significados descritos acima: o termo "agroindústria" se refere, implicitamente, à agregação de valor à uma matéria-prima de origem agrícola e àquelas produzidas pelos setores florestal e de pesca. Em suma, este é o maior diferencialdesta classe de empreendimento. Em face do exposto, o presente texto adotará a visão abrangente de agroindústrias proposta por AUSTIN (1992). 2. A especificidade de projetos agroindustriais Projetos agroindustriais possuem um variado número de aspectos que os diferenciam de outras classes de investimentos. Em sua maioria, as diferenças estão associadas com o tipo de matéria-prima mais adequada para a transformação agroindustrial. Por estas características, é recomendável que 5 um projeto agroindustrial seja preparado e avaliado por uma equipe multidisciplinar que considere os aspectos abaixo relacionados. 2.1. Características Específicas de uma agroindústria As matérias-primas utilizadas em agroindústrias são ou já foram organismos vivos. Por esta razão, a sua obtenção e processamento estão sujeitos a limitações que não são comuns em outras indústrias de transformação. Austin (1) listou as mais relevantes limitações específicas da agroindústria: - Sazonalidade - matérias-primas agroindustriais não estão regularmente disponíveis durante o ano. Elas estão sujeitas a oscilações associadas a alguns fatores, como o clima e ciclos reprodutivos de animais. É comum que o curto período de safra de uma fruta ou hortaliça ocorra durante o curto período de alguns meses, impossibilitando a obtenção desta matéria- prima pelo restante do ano. Em áreas onde o leite é produzido por vacas criadas no pasto, a produção pode ser consideravelmente maior em períodos de chuva. A especificidade de matérias-primas biológicas complica os processos de tomada de decisão, afetando os procedimentos de obtenção, a definição do mix de produto, o dimensionamento da fábrica, controle de estoque, etc. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 6 - Perecibilidade - ao contrário dos demais insumos industriais, matérias-primas agroindustriais, em sua maioria, não podem ser estocadas por um longo período. O processamento deve ocorrer de forma rápida, uma vez que os riscos de deterioração e perda de qualidade ou de nutrientes são geralmente altos. - Variabilidade - as características das matérias-primas agroindustriais são variáveis, principalmente em áreas menos desenvolvidas do mundo. Isto ocorre apesar de recentes desenvolvimentos em genética e biotecnologia e da implementação de elevados padrões de plantas e animais. Frutas destinadas ao processamento, por exemplo, podem chegar à fábrica em variados tamanhos e formas, com diferentes atributos físicos e químicos. O leite pode ser recebido de produtores em variadas temperaturas, com diferentes concentrações de gordura e com outras propriedades distintas que afetam sua qualidade. Esta relativa falta de padronização resulta em alta complexidade nas operações de processamento de agroindústrias. Outros aspectos especiais da agroindústria que merecem ser mencionados são: - múltiplas alternativas de produto para uma dada matéria-prima; um laticínio pode se dedicar à produção de variados queijos, manteiga, leite pasteurizado, iogurte, creme de leite, etc. Frutas podem ser transformadas em sucos, polpa, geléias, pastas e muitos outros produtos. Estas particularidades fazem com que a tomada de decisão em relação ao mix de produto ou opções de processamento sejam bastante complexas; Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 7 - restrições tecnológicas que favorecem a localização da fábrica próxima às fontes de matéria-prima (instalação em áreas rurais, onde a infra- estrutura pode ser precária); - os custos da matéria-prima compõem uma grande proporção dos custos do produto final; - a demanda é muitas vezes sazonal, especialmente para alguns produtos alimentícios, como por exemplo, sucos ou sorvete; - os produtos finais são, em geral, altamente perecíveis; - há ocorrência de desperdício e geração de grandes quantidades de resíduos (ex.: soro do leite na produção de queijo, vinhoto na destilação alcoólica da cana-de-açúcar, etc.); - crescimento de inspeção do governo e de agências de proteção ao consumidor (leis severas e regulamentos que dificultam o planejamento de projetos, processos, marketing, etc.). Felizmente os empresários em potencial são conscientizados sobre estas particularidades das agroindústrias pelas organizações financiadoras e outras instituições que investem neste setor. Os financiamentos nesta área podem incluir linhas de crédito específicas para a agroindústria incluindo, a oferta de assistência técnica, incentivos para fomentar a integração entre fornecedores de equipamentos e matérias-primas e outras concessões financeiras ou isenção de impostos. Em qualquer caso, o primeiro passo a ser dado por um investidor é o preparo de um projeto sólido, que considere de forma apropriada os múltiplos aspectos tecnológicos e econômicos que devem ser tomados como base para a decisão final sobre o investimento. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 8 2.2. A necessidade de uma equipe interdisciplinar e de uma visão sistêmica Deve-se pensar em um projeto como um grupo de informações organizadas e coerentes, que permite a caracterização e avaliação da intenção de investimento, sob perspectivas técnicas e econômicas. Para elaborar tal grupo de informações, é necessário conhecer um variado número de disciplinas. A perícia do profissional da área agrícola e dos técnicos de processamento é necessária para se fazer a determinação das matérias-primas apropriadas para o processamento. Os técnicos, por sua vez, devem determinar qual processo é mais apropriado e especificar os equipamentos, o layout da indústria, as instalações e os operadores. Previsões de mercado, custo e estimativa do faturamento e uma avaliação financeira do investimento são de responsabilidade de economistas. A natureza multidisciplinar da elaboração e avaliação de um projeto requer sinergia, na qual profissionais de diferentes campos de atuação contribuem para o resultado final. Por isso, a constituição de uma equipe interdisciplinar é extremamente aconselhável. Pela mesma razão, é importante enfatizar que um empreendimento agroindustrial deve ser entendido como um sistema no qual cada componente afeta e é afetado por outros componentes. Este sistema engloba não apenas as operações internas da indústria, mas principalmente as interações entre a indústria e os fornecedores de insumos, consumidores e os ambientes institucional e de mercado. Adotando uma visão sistêmica, se reconhece claramente que o seu funcionamento depende da harmonização e coordenação da circulação de produto e de informação ao longo da cadeia de produção, e que depende também da operação adequada de cada componente do sistema. Não é suficiente que cada componente do processamento opere com máxima eficiência e que os fornecedores ofereçam as matérias-primas apropriadas a curto prazo; os esforços produtivos se mostram inúteis se os canais de venda Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight ___________________________ 2 GITTINGER (12) adota um ciclo composto por 5 estágios: identificação, preparação e análise, avaliação, e avaliação retrospectiva. Certamente, as 3 fases iniciais correspondem ao estágio de pré-investimento discutidos neste texto 7 não estão claramente definidos. Em resumo, durante o planejamento e avaliação de um projeto, deve-se estar ciente da interaçãoque existe entre seus inúmeros componentes. Como se sabe, "a força de uma corrente depende de seu elo mais fraco”. 2.3. O ciclo de desenvolvimento do projeto agroindustrial O processo de desenvolvimento de um projeto de investiemnto segue uma seqüência típica, que é designada na literatura como o “ciclo do projeto”. Este ciclo é caracterizado de modo distinto por diferentes autores e instituições, mas em essência, todos eles se referem a mesma sucessão de atividades envolvidas na seleção, avaliação e implementação de uma empresa. A definição de ciclo adotada por BEHRENS & HAWRANECK (2) está resumida abaixo. Ela divide-se em pré-investimento, investimento e fases operacionais, as quais podem ser ainda subdivididas.2 As atividades de pré-investimento no ciclo do projeto, tipicamente, consistem da identificação das oportunidades de projeto, a análise das alternativas de projeto, a preparação do projeto e sua avaliação. Na identificação das atividades, informações são reunidas para se escolher as oportunidades de investimento que devem merecer um exame mais detalhado dos perspectivos empreendedores em potencial. Para agroindústrias, estas oportunidades estão associadas com uma gama de fatores, incluindo a disponibilidade de matérias-primas a baixos custos, a existência de incentivos do governo local para a implementação de unidades agroindustriais, a existência de planos ou Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 10 programas internacionais que favorecem os investimentos no setor e a atratividade das perspectivas de demanda para produtos processados, entre outros. Agencias de incentivos a investimentos nos níveis federal e estadual constituem uma fonte de informação comum que podem ser úteis no estágio de identificação. A seleção preliminar de um projeto é conduzida por uma análise dos projetos alternativos. O objetivo é identificar uma oportunidade de investimento, que seja potencialmente atrativa, para justificar esforços futuros em termos de tempo e alocação de recursos para a preparação e avaliação do projeto. Estudos de oportunidades de investimentos, nos quais perfis básicos dos projetos alternativos são desenvolvidos, podem ser úteis para classificar as opções de investimento em perspectiva. Tais estudos não são detalhados e tendem a ser baseados em estimativas conjuntas ou em projetos comparáveis de áreas ou regiões distintas. Em geral, eles também contêm uma avaliação preliminar das expectativas de mercado e números aproximados para investimentos, custos e receitas. Uma série de perfis agroindustriais foi desenvolvida pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico do Banco Mundial (4). No Brasil, os Ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário também desenvolveram uma série de perfis de projetos agroindustriais que podem ser vistos como uma típica fonte para a observação inicial de idéias para o projeto (15;17). Depois que uma oportunidade de investimento estiver sido identificada, a preparação do projeto deve ser executada, envolvendo a coleta, organização e análise do conjunto de informações, com a finalidade de apoiar, apropriadamente, a decisão de implantação. O nível de detalhamento no estágio de preparação irá caracterizar esta etapa como um estudo de pré-viabilidade ou de viabilidade. A diferença entre 11 estes 2 termos é bastante sutil e é comum encontrar diferentes interpretações para seus limites e objetivos. Tipicamente, ambos terão as mesmas estruturas básicas, cobrindo informações de mercados, questões tecnológicas, especificações de localização, estimativas do investimento, dos custos, das receitas e dos lucros. Como citado anteriormente, o nível de detalhes e aprofundamento da análise será o fator diferenciador. Rigidamente falando, os estudos de viabilidade devem ser mais detalhados, contando mais com números reais do que estimativas aproximadas para os parâmetros financeiros e tecnológicos. Eles devem fornecer todas as informações necessárias para uma decisão quanto ao investimento. O conteúdo deste texto segue de perto a estrutura geral de um estudo de viabilidade. No entanto, em algumas seções – especialmente nos aspectos financeiros – as discussões enfatizam os procedimentos de estimativa que alguns autores classificariam como mais apropriados para aproximações de pré- viabilidade. Dependendo dos seus objetivos, os leitores devem avaliar a conveniência de aplicar os caminhos mais curtos para estimar ou empregar cálculos mais detalhados. O estudo de viabilidade oferece a base para a avaliação do projeto. Quando o estudo é completado, investidores, concessores de empréstimos e outras partes interessadas podem consultá-lo para conduzir análises que sustentarão as suas decisões em relação à implementação do projeto. Investidores podem estar primariamente interessados nos seus retornos financeiros esperados, enquanto os concessores de empréstimos irão examinar a consistência geral dos planos de investimento, os riscos envolvidos, os aspectos organizacionais e outros elementos que podem ajudar a justificar o comprometimento de fundos nesta tentativa. Outras partes, como o governo, podem estar interessadas nos impactos ambientais ou sócio-econômicos, tais como a criação de empregos, a geração de receitas fiscais, ingresso de moeda estrangeira, etc. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 12 O relatório da avaliação conclui a fase de pré-investimento. Neste ponto uma decisão é tomada quanto a implementação ou não do projeto, isto é, se deve- se iniciar ou não a fase de investimento. Na fase de investimento, os seguintes estágios serão considerados: - definição dos arranjos legais, organizacionais e financeiros para a implementação do projeto - aquisição e transferência de tecnologia - especificações de engenharia, propostas, negociações e aquisições - aquisição de terreno, contratação de trabalhos civis e instalação - marketing de pré-produção, incluindo as especificações da função de suprimento, o que é um problema crítico nos projetos agroindustriais (veja a Seção 4) - recrutamento e treinamento de pessoal - autorização da fábrica e início das suas atividades Finalmente, o ciclo do projeto é concluído pela fase operacional, na qual ocorre a operação normal da indústria. A principal preocupação deste texto é com as fases de pré-investimento. Conceitos e técnicas aplicados à preparação e avaliação do projeto serão discutidos nas seções seguintes e na Parte II deste trabalho. 3. Avaliação de mercado para o empreendimento agroindustrial Para muitos profissionais, o ponto de partida no preparo e avaliação de um projeto agroindustrial deve ser a identificação dos mercados potenciais. Considerando-se este fato, muitas perguntas devem ser respondidas: quem são os consumidores em potencial para o produto; quantos são e o quanto eles estão Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 13 dispostos a comprar; quando, onde e a que preço. Além disso, deve-se ter informação sobre os competidores, tanto os atuais quanto os potenciais. Como componente do projeto, a análise de mercado é um pré requisito para que este seja bem sucedido. O conhecimento obtido a partir desta análise afetará as decisões de planejamento relacionadas ao mix do produto, dimensão da fábrica, o preço de venda e receitas potenciais. De fato, o estudo de mercado pode ser visto como um ponto crítico no processo de decisão de investimento. Ele pode indicar a existência de demanda por produtosde primeira necessidades e supérfluos, ou pode apontar limitações ou ausência de oportunidades de mercado para os produtos agroindustriais em consideração. Sobre esta última hipótese, não teria justificativa a continuidade do trabalho de elaboração do projeto. A análise de mercado visa estimar a demanda atual e futura para a produção apresentada no projeto. Para fazer esta estimativa, deve-se entender os fatores que afetam a demanda, uma tarefa para a qual a teoria econômica fornece algumas diretrizes. Por esta razão, antes de se discutir algumas das técnicas comuns usadas na análise de mercado, uma breve revisão a respeito de conceitos econômicos é necessária. 3.1. Conceitos econômicos básicos para a análise de mercado 3.1.1. Demanda A demanda por qualquer bem é determinada pelas escolhas individuais dos consumidores. A teoria econômica postula que os indivíduos precisam fazer um grande número de escolhas para preencher suas necessidades e vontades. Necessidades biológicas, aspectos culturais, características pessoais e eventualidades ajudam a determinar estas escolhas, as quais são restringidas pelo fato de que os consumidores, em geral, possuem renda limitada. Consequentemente, para um dado nível de renda, o consumidor tentará Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 14 selecionar os tipos e quantidades de produtos que irão proporcionar o nível máximo de seu bem estar, ou, em termos econômicos, o nível máximo de utilidade. A representação matemática do problema de escolha do consumidor permite aos economistas tirar uma série de conclusões com respeito ao comportamento do consumidor. Uma conclusão importante é que, tudo mais permanecendo constante, os consumidores irão preferir mais a menos de um produto, mas irão adquiri-lo em maior quantidade, somente a preço mais baixo. Isto implica que existe uma relação negativa entre quantidade demandada e preços. Economistas usam a curva de demanda para representar a relação entre demanda e preços. A inclinação negativa da curva fornece a descrição das quantidades que os consumidores estão dispostos a comprar a um dado intervalo de preço. Além disso, a curva permite a determinação de um conceito importante para a análise de mercado: a elasticidade-preço da demanda. 3.1.2. Elasticidade-preço da demanda A elasticidade preço da demanda é uma medida expressa em forma de fração. Esta fração associa a variação percentual em quantidade demandada com a variação percentual em preço. Quanto mais intenso for o efeito do aumento de preço na redução da demanda, maior é a elasticidade preço, e vice-versa. As elasticidades da demanda são geralmente calculadas para cada 1% de variação no preço. Se a variação percentual em quantidade demandada for maior que um para uma variação percentual de 1% no preço, a demanda do produto é considerada elástica. Inversamente, se a variação em quantidade demandada é menor que um, a demanda do produto é considerada inelástica. A variação percentual na demanda exatamente igual à do preço indica um caso de Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 15 elasticidade unitária. Note que na visão da relação negativa entre preço e demanda, as elasticidades estimadas serão negativas. Portanto, devemos desconsiderar o sinal quando comparamos o valor calculado a uma unidade, ao estabelecermos se um bem é elástico ou inelástico. Matematicamente, expressamos a elasticidade preço da demanda como Ep= ∆Q/Q / ∆P/P = ∆Q/∆P . P/Q onde Q é a quantidade demandada e P é o preço O grau de elasticidade nos fornece algumas informações sobre a natureza da demanda. Primeiro espera-se que, produtos essenciais e produtos para os quais existem poucos ou nenhum substituto terão demanda inelástica. Ao contrário, produtos supérfluos ou aqueles com mais substitutos tenderão a ter demanda elástica. 3.1.3. Elasticidade-renda da demanda A relação entre demanda e renda é considerada positiva para a maior parte dos produtos: um aumento de renda causa um aumento na demanda. Porém, há alguns bens que não seguem esta regra, os chamados produtos inferiores. Em algumas economias, produtos usados no cotidiano, como por exemplo, feijão e farinha de milho são considerados inferiores, uma vez que os consumidores realmente tendem a reduzir seus consumos quando há aumento de renda. Os economistas também expressam a relação entre renda e demanda usando a chamada curva de Engel. A expressão matemática das curvas de Engel permite a determinação das elasticidades-renda da demanda. Estes valores são definidos como a variação percentual na demanda dada uma variação percentual na renda, permanecendo constantes outros fatores. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 16 Matematicamente temos Ey= ∆Q/Q / ∆Y/Y = ∆Q/∆Y . Y/Q onde Y representa renda e Q a quantidade demandada. Na maior parte dos casos, Ey será positiva, mas sabe-se que seu valor varia de acordo com o intervalo de renda. No caso de alimentos, é esperado que ocorra redução com o aumento de renda. Consequentemente, o uso de elasticidades renda na análise de mercado deve ser feito com cautela, principalmente quando se deseja estimar a demanda futura para determinada estimativa do crescimento de nível de renda esperado. 3.1.4. Elasticidades cruzadas Como vimos acima, a redução da demanda é esperada quando o preço do produto aumenta. Isto é verdade, particularmente quando se trata de produtos para os quais há substitutos próximos no mercado. Um exemplo clássico para a agroindústria é encontrado na relação entre preços das carnes bovina e suína em muitas partes do mundo. A demanda por carne suína aumenta quando os preços da bovina aumentam e vice-versa, já que os consumidores substituem produtos mais caros pelos mais baratos. Há, também, os produtos complementares, os quais os consumidores tendem a comprar de modo associado; pão e manteiga, e leite e café, são exemplos clássicos. Para o analista, estas relações tornam importante a avaliação não somente do preço dos produtos envolvidos no projeto, mas também dos seus substitutos e complementares potenciais. Em muitos casos, esta identificação é direta, porém para alguns produtos, os substitutos não estão claramente definidos. Um exemplo é a demanda de leite nos Estados Unidos, a qual descobriu-se estar relacionada aos preços de refrigerantes. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 17 Elasticidades cruzadas de demanda expressam a relação entre variação de preço de um artigo com a variação de demanda de um outro artigo. Matematicamente temos Eij= ∆Qi/Qi / ∆Pj/Pj = ∆Qi/∆Pj . Pj/Qi Produtos substitutos terão elasticidade cruzadas positivas, enquanto os complementares terão valores negativos. Produtos não relacionados (independentes) terão elasticidade cruzadas igual a zero. Elasticidades podem ser calculadas pelo uso de informações de pesquisas sobre gastos familiares ou de estudos econométricos. A tabela abaixo apresenta várias estimativas de elasticidade de demanda para produtos alimentícios nos Estados Unidos. Tabela 1 Exemplos de Elasticidade Produto Elasticidade Preço Elasticidade Renda Carne bovina -1.66 0.29 Carne de Carneiro -1.42 0.57 Carne Suína -1.03 0.13 Frango -0.90 0.18 Peixe -0.67 -Fontes: * YOUNG e BURTON (21) ** DAHL e HAMMOND (8) Preços e renda são apenas duas das variáveis que influenciam demanda; há outras que também devem ser consideradas no estudo de mercado: - Tamanho da população e suas características, Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 18 - Uma vez que a demanda total de mercado é a soma das escolhas individuais dos consumidores, é importante saber o número de consumidores, suas idades, localizações e a taxa de crescimento populacional. Estes tipos de informações podem, geralmente, ser encontradas em agências estatísticas do governo e departamentos de planejamento; - Fatores sócio-culturais - Sabe-se que atributos culturais, tais como religião, formação étnica e nacionalidade, afetam a demanda, principalmente no caso de produtos agroindustriais. As quantidades e os tipos de alimentos consumidos, por exemplo, variam consideravelmente entre regiões culturalmente diferenciadas. Além disso, padrões de consumo podem mudar durante o ano, determinados por datas religiosas ou outras festividades culturais e costumes. - Fatores Geográficos - Fatores específicos de localização, clima, paisagem, proximidade em relação ao litoral, altitude, são conhecidos por afetarem o tipo e a quantidade dos produtos consumidos. Este aspecto torna necessária a separação da análise de mercado em uma base regional. 3.2. Análise de mercado para produtos agroindustriais Com base no conhecimento teórico sobre demanda e os fatores que a influenciam, devemos proceder com a análise do mercado atual e suas perspectivas para os produtos do projeto. Alguns passos que devem ser dados a este respeito serão discutidos a seguir. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 19 3.2.1. Identificação das informações disponíveis Esta fase da análise do projeto começa com a identificação e o exame de informações de mercado existentes, tanto quantitativas quanto qualitativas. Iremos procurar por dados estatísticos de fontes convencionais (governos, organizações internacionais, instituições acadêmicas, estudos especiais, etc.). Tentaremos também identificar estudos similares, informes de mercado, publicações em geral, matérias da imprensa e qualquer outro conhecimento relacionado ao produto ou produtos sob análise. A experiência tem mostrado que o diálogo com profissionais experientes sobre o assunto em estudo constitui um atalho valioso na análise de mercado. Estes especialistas são geralmente funcionários públicos, gerentes de empresas, pesquisadores acadêmicos, ou outros analistas especializados. Suas contribuições, possivelmente na forma de entrevistas, podem ser de grande valor na identificação de fontes de informação para a análise. A INTERNET também pode ser uma fonte de conhecimento do mercado. Muitos governos locais, universidades e organizações internacionais disponibilizam prontamente as informações que geram. Com os avanços dos mecanismos de busca, hoje, é relativamente eficiente identificar e consultar estes recursos usando a INTERNET. A FAO mantém um banco de dados completo e acessível pela INTERNET, cobrindo questões de produção e comércio internacional de vários produtos agroindustriais na maioria dos países (www.fao.org). O Banco Mundial e suas instituições associadas também coletam e organizam dados demográficos e econômicos, tais como renda, população, cifras de comércio internacional (www.worldbank.org). Há outros sites internacionais importantes que contêm dados e relatórios de pesquisas sobre assuntos de alimentos e agronegócio: World Trade Organization (www.wto.org), Organization for Economic Development and Cooperation (www.ocde.org), os institutos que constituem a rede internacional de centros de pesquisa agrícola (www.cgiar.org), e em particular, o International Food 20 Policy Research Institue (www.ifpri.org). O Rabobank (www.rabobank.com), uma instituição financeira privada, que tem forte presença no agronegócio internacional, também apresenta um site bastante útil. 3.2.2. Série de dados O ideal seria que fôssemos capazes de descrever tendências de demanda e identificar os fatores que a influenciam utilizando tabelas de dados, construídas com as informações reunidas nos estágios iniciais da análise. Como via de regra, essa série de dados deve ser de, pelo menos, 10 anos, para que a mesma possa tanto nos fornecer relatos razoáveis de tendências passadas, quanto nos permitir aplicar um tratamento estatístico aos dados, principalmente para propósitos de prognóstico. No intuito de medir a demanda de determinado produto, costuma-se representá-lo por uma variável: o consumo aparente, definido pela expressão abaixo: Cap = P + I – E onde, Cap = consumo aparente P = quantidade produzida I = importações E = exportações Esta simples equação assume que a quantidade demandada de certo produto pode ser estimada pela diferença entre a quantidade que entra em um país ou região (via importação ou produção própria) e a quantidade que sai do mesmo país ou região. Se assumirmos que não há variação nos estoques durante Usuario Highlight Usuario Highlight 21 um dado ano, então o consumo aparente torna-se um substituto aceitável do consumo efetivo. Através da combinação entre a estimativa do consumo aparente e dados da população, podemos calcular estimativas do consumo per capita, os quais são particularmente úteis para propósitos de comparação. Por exemplo, comparando- se o consumo per capita de itens alimentícios com a quantidade diária recomendada, pode-se ter uma noção do potencial de crescimento do mercado devido a aumentos na renda. A tabela 2 mostra algumas estimativas do consumo de carne bovina no Brasil, em base per capita. TABELA 2 Série de dados de tempo sobre o Consumo Per-capita de Carne Bovina: Brasil (1987 – 1998) Ano Consumo Per-capita (kg/ habitante / ano) 1987 33.4 1988 27.6 1989 33.8 1990 34.6 1991 35.7 1992 26.8 1993 34.6 1994 35.4 1995 37.9 1996 39.5 1997 37.3 1998 38.3 22 A seqüência de dados de consumo apresenta importantes informações sobre a evolução do mercado de um produto e é particularmente útil no cálculo de taxas de crescimento do mercado. Dados sobre estas taxas, principalmente quando comparados, de forma apropriada, com dados de população ou crescimento da renda, facilitam as previsões de comportamentos futuros da demanda, como será discutido no próximo item. 3.2.3. Previsões de mercado Um projeto agroindustrial normalmente visa à construção e operação de uma nova indústria de processamento. Certamente existem projetos que tratam da expansão, relocação ou modernização de fábricas já existentes, mas em todos os casos, alguma estimativa de receitas futuras e custos é essencial, já que as decisões de investimentos em projetos têm impactos a longo prazo. Previsões de demanda se fazem necessárias como uma base para o estabelecimento do plano de marketing do projeto, o qual envolve decisões quanto ao mix de produto, quantidades a serem produzidas, estratégias de preço e vendas. Isto deve auxiliar no processo de estimativa de custos e rendas futuras. As previsões podem ser feitas utilizando-se inúmeras técnicas quantitativas e qualitativas. A abordagem quantitativa geralmente segue duas linhas metodológicas principais: uma que baseia-se na observação do comportamento passado da variável em estudo e a generaliza no futuro (análise de séries temporais); e a outra que levaem consideração, explicitamente, a relação entre variáveis previstas e um grupo de variáveis explanatórias (tratamento causal). Obviamente, há outros métodos quantitativos, porém a discussão dos mesmos estaria além do objetivo deste breve texto introdutório. O leitor interessado pode se referir a qualquer livro de econometria e pesquisa de mercado sugerido na bibliografia. 23 3.2.3.1. Análise Quantitativa O método quantitativo de prognóstico mais simples está baseado na extrapolação do comportamento passado. Para isto, deve-se plotar os números de demanda em um gráfico no qual tempo é representado no eixo horizontal, como mostrado na Figura 1 abaixo. Uma curva estatística adequada pode ser usada para estimar a função que descreve a relação entre demanda e tempo (D = f(t)). Valores futuros de D podem ser, então, facilmente estimados através da substituição de t pelos seus valores futuros conhecidos. A forma da curva – linear, quadrática, exponencial, etc... – deve ser determinada utilizando-se procedimentos estatísticos apropriados e testes. Na Figura 1, uma tendência linear foi estimada por motivos de exemplificação. Figura 1 Consumo Per-capita de Carne Bovina no Brasil (1987-1998) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1985 1990 1995 2000 A maioria dos softwares modernos e bem definidos, tais como o Microsoft Excel ou o Lótus 1-2-3 da IBM, possuem funções intrínsecas que permitem simples ajustes de curvas para propósitos de previsões. Programas especializados, como ForecastPro (Palisade Corporation), vão um passo além, ao fornecerem conselhos de especialistas quanto à seleção de um método e, automaticamente, calculam os prognósticos. 24 Taxas de crescimento podem ser usadas como outra ferramenta simples de previsão. Elas são calculadas a partir de dados observados ou estimados por análise econômica ou por julgamento do analista. O cálculo de uma taxa de crescimento geralmente seguirá a fórmula exponencial Dt = Do (1 + i)t , onde Dt é a demanda prevista para o período futuro t, Do representa o nível de demanda atual, e i a taxa de crescimento. Este método foi usado em um estudo que prediz o consumo de carne bovina no Brasil para 2010 (6), utilizando-se os seguintes dados: Consumo de carne bovina em 1998 = 6,131 mil toneladas de carcaça equivalente Taxa de crescimento = 2,58% ao ano Consumo em 2010 = 6,131 (1 + 0,258)12 = 8,323 mil toneladas O estudo brasileiro utilizou uma taxa de crescimento da demanda que havia sido estimada através de uma fórmula que combina a elasticidade-renda de consumo de carne bovina com estimativas da taxa de crescimento populacional e uma taxa de crescimento da renda per capita esperada. A fórmula abaixo é largamente usada em previsões de demanda: I = θ + N • Ey onde, I = taxa de crescimento da demanda θ = taxa de crescimento populacional n = taxa de crescimento da renda per capita Ey = elasticidade-renda da demanda Os autores deste estudo usaram os seguintes dados: Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 25 taxa de crescimento populacional = 1,2% ao ano taxa de crescimento da renda per capita = 2,76% ao ano elasticidade-renda = 0,5 Portanto, i = 0,012 + (0,5 x 0,0276) = 2,58% ao ano. O chamado tratamento causal, uma técnica de previsão quantitativa mais sofisticada, considera a relação entre a demanda e os fatores que a influenciam. Equações do tipo: Dt = f (Preçot, Rendat, Populaçãot, Preço de substitutost, etc...) podem ser estimadas por métodos econométricos e usados para prever D para vários períodos futuros. Para obter mais informações sobre o tratamento causal e outras técnicas quantitativas de previsões, o leitor interessado é estimulado a consultar as referências de análise de mercado e preço listadas na bibliografia deste trabalho. 3.2.3.2. Métodos qualitativos Haverá situações nas quais o analista terá que contar com métodos qualitativos para estimar níveis futuros de demanda. Este caso é especialmente justificado pela ausência de dados seqüenciais ao longo do tempo que sejam confiáveis. Neste tipo de situação, podemos basear nossas previsões em opiniões e julgamentos fundamentados, chegando a estimativas razoavelmente aceitáveis. O método Delphi é freqüentemente utilizado como técnica de prognóstico qualitativo. Seguindo um processo sistemático, este método depende de estimativas realizadas por especialistas para que se alcance um consenso. O primeiro passo constitui a seleção de profissionais especializados no mercado em questão. Um moderador, então, pergunta a cada indivíduo sua estimativa para Usuario Highlight 26 tendências de mercado, taxas de crescimento da demanda esperadas, e outras informações. As estimativas são compiladas e retornadas aos especialistas, para os quais pede-se avaliá-las novamente, desta vez levando-se em consideração todas as estimativas dos outros especialistas. Esse processo de reavaliação é repetido até que se atinja um senso comum. Como os participantes responsáveis pelas estimativas não são identificados, os mesmos não são influenciados por muitos fatores subjetivos, tais como reputação individual ou posição hierárquica no grupo, o que contribui para minimizar alguns tipos de preconceitos ou propensões. Uma técnica qualitativa semelhante é o painel de especialistas, que segue os mesmos princípios do Delphi, embora difira no fato de que as avaliações são realizadas em seções de “brainstorming”, nas quais idéias são lançadas e discutidas até que se chegue a um consenso. A construção de cenários é um outro método útil de previsão qualitativa, na qual analistas combinam informações de fontes distintas para construir cenários que descrevem o ambiente esperado para o mercado. Um cenário pode envolver a combinação de taxas esperadas de população e renda, o efeito de atuais orientações nutricionais no consumo per capita, ou dados números de consumo per capita em países e regiões semelhantes. A idéia é desenhar um quadro lógico e plausível que pode gerar um modelo de comportamento futuro da demanda. Com a criação de cenários, taxas de crescimento podem ser estimadas mesmo quando dados de séries temporais não são confiáveis ou estão indisponíveis. Outros métodos qualitativos são a análise de impacto cruzado de, na qual prováveis forças que causam impacto na demanda futura são identificadas, e o analista concentra esforços para determinar como estas forças afetarão umas às outras. Há ainda o método de analogias históricas, pelas quais estabelecem-se e avaliam-se trajetos de desenvolvimento comparativos. Analogias podem ser feitas entre países e regiões diferentes ou produtos semelhantes, em uma dada área. Usuario Highlight Usuario Highlight 27 Em resumo, técnicas qualitativas oferecem procedimentos relativamente simples e eficientes que auxiliam o processo de previsão de mercado. Detalhes sobre os métodos discutidos acima podem ser encontrados em FERRIS (11). 3.2.4. Avaliação da concorrência É tipicamente provável que o empreendimento agroindustrial enfrentará algum tipo de competição quando apresentar seus produtos a potenciais consumidores. Rivais podem já estar presentes no mercado alvo, oferecendo os mesmos produtos ou substitutos bem próximos. Se as oportunidades de um negócio atraente tornam-se evidentes, novos empreendedores aparecerão no mercado. Um estudo do ambiente da concorrência ajudará o analista na determinação da estratégia necessária para assegurar que o projeto irá manter sua parcela no mercado alvo e que terá sucesso. Um primeiro passo na análise da concorrência é uma investigação da estrutura do mercado.A avaliação desta estrutura requer a identificação do número de firmas operando num segmento específico, suas respectivas parcelas do mercado, suas localizações em relação ao mercado final, suas fontes de matéria-prima, o tamanho e nível de utilização das suas fábricas e outras informações que ajudam a definir o poder de cada uma no mercado. Quanto mais concentrado o mercado, mais difícil torna-se a inserção no mesmo, pois rivais já existentes podem exercer seu poder para defender suas respectivas parcelas. Há também a necessidade de avaliar as chamadas “barreiras à entrada” no mercado (tecnologia, leis e regulamentos, etc) para determinar a facilidade com que novos concorrentes podem entrar no mesmo, assim como a possibilidade de concorrência internacional na forma de importação direta. A conduta estratégica da concorrência também deve ser analisada. O analista precisará avaliar as políticas de preços, distribuição e promoção dos concorrentes, e entender seu posicionamento e objetivos em relação ao mercado alvo. Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 28 Concluindo, a análise de mercado fornece uma avaliação do potencial de venda para o produto agroindustrial em questão. Além disso, se devidamente desenvolvida, ela constituirá uma base para o estabelecimento do plano de marketing da empresa. Considerando esta importância, o leitor deve checar a lista abrangente proposta por compreensão de AUSTIN (1) com questões de análise de mercado antes de avançar nos próximos passos da preparação do projeto. 4. Planejamento e avaliação da função de suprimentos de insumos Como citado na introdução deste texto, a característica mais distinta de projetos agroindustriais, quando comparados a outros ramos industriais, é a natureza de suas matérias-primas. Estas são variadas em larga extensão, perecíveis, sazonais, e participam da maior parcela do custo total do produto. Num estudo recente conduzido por este autor, abrangendo a preparação de 15 perfis interativos de projetos para agroindústrias de pequena escala, a parcela de custo correspondente à principal matéria-prima foi maior que 50% do custo total, na maioria das vezes (17). Certamente, sob estas circunstancias, a preocupação com a função de suprimento de matéria-prima deve-se constituir a consideração principal na preparação e análise de um projeto. Livros clássicos sobre projetos agroindustriais (1;3) apontam as 4 variáveis principais que devem der examinadas; quantidade, qualidade, tempo e matérias-primas. Além disso, é relevante examinar a organização desta função. 4.1. A necessidade de suprimentos estáveis O sucesso e a sustentabilidade de qualquer empresa processadora dependem da sua habilidade em obter lucro e transformar matérias-primas em produtos que possam satisfazer os desejos e necessidades dos clientes. Para se ganhar a confiança e a lealdade do consumidor, é essencial que os produtos estejam disponíveis regularmente de forma competitiva. Particularmente no setor Usuario Highlight 29 alimentício, a necessidade de prazos de entrega estáveis vem se tornando um pré-requisito para os canais de distribuição, já que as principais cadeias de supermercados e varejistas ganham crescente poder de mercado no mundo todo. Até mesmo em canais de distribuição menos sofisticados, a necessidade de manter parcelas de mercado requer regularidade na produção e nos cronogramas de atendimento de mercado. Para uma agroindústria, o pré-requisito para manter estabilidade de saída de produtos apresenta um desafio não trivial aos gerentes da fábrica. Eles enfrentam uma necessidade de reconciliar planos de produção com o fato de que o suprimento de matéria-prima está sujeito aos caprichos da biologia, clima e mercados. Considere o caso de um produtor de suco de fruta, para o qual a principal matéria-prima está disponível por apenas 4 meses no ano. Se a demanda é estável e o processador quer assegurar um prazo de entrega regular de seu produto durante o ano, ele precisa criar um estoque de produtos ou de matérias-primas (ex: polpa de fruta congelada ou enlatada). Se o problema técnico de perecibilidade não permite esta estratégia, os custos de sustentação de estoques vão, provavelmente, tornar-se financeiramente expressivos, afetando negativamente a competitividade. Como uma alternativa à criação de estoques, os gerentes podem tentar garantir um suprimento consistente, obtendo insumos de regiões e países diferentes, geralmente a custos maiores, ou trabalhando com fornecedores locais para amenizar as irregularidades da produção local de fruta através da promoção de práticas agrícolas aprimoradas. Assim, o caso do produtor de suco de fruta, como um modelo para vários outras agroindústrias, mostra que a organização da função de suprimento de insumos e matérias-primas pode vir a ser crucial para o sucesso da empresa. Adiante neste texto, iremos examinar a “integração vertical” como um método de criação de ligações eficientes para frente e para trás na empresa agroindustrial. Usuario Highlight Usuario Highlight 30 4.2. Quantidade, qualidade e custos A definição das quantidades apropriadas de matéria-prima, depende essencialmente, de planos de produção estabelecidos com base na análise de mercado. Se o esquema de produção é conhecido, esta definição torna-se uma simples questão de utilizar a relação entre a entrada de insumos e saída de produtos (coeficientes técnicos) para estimar as necessidades de matéria-prima. Sabemos, por exemplo, que 7 litros de leite são necessários para produzir um kilo de queijo frescal. Um projeto visando a produção de 1000 Kg de queijo frescal por dia irá, então, requerer 7000 litros de leite diariamente. Devemos determinar se essa quantidade de leite estará disponível, quais são as suas características qualitativas, e qual será o preço de compra esperado. Para avaliar a disponibilidade potencial de matérias-primas, podemos seguir um processo similar à coleta de dados realizada na fase de análise de mercado. Devemos examinar informações quanto aos padrões de uso da terra, número e tamanhos de propriedades, produtividade de plantações, números de cabeças de gado, etc., para padrões e tendências que ajudam a predizer o suprimento em relação ao horizonte de planejamento do projeto. Devemos discutir esses rumos com especialistas em commodities (produtos agrícolas passíveis de classificação segundo padrões internacionais como trigo, açúcar, café, etc.), pesquisadores, pessoal da extensão agrícola, associações de fazendeiros, funcionários públicos e quaisquer outras fontes de conhecimento. A qualidade da matéria-prima disponível também deve ser avaliada. Em agro-processamento, existe um ditado afirmando que a qualidade do produto depende diretamente da qualidade de sua matéria-prima. Com isto em mente, engenheiros de processo definem as especificações de suas matérias-primas através de considerações das características intrínsecas do material, tais como contagem microbiológica e teor de gordura, no caso de leite, ou graus Brix, pH, cor, textura, e graus de maturação no caso de frutas e hortaliças. Essas Usuario Highlight Usuario Highlight 31 características não são afetadas somente pelas variedades de plantas e raças de gado, mas também por tecnologias agrícolas, práticas de manuseio pós-colheita, e logística. Devemos nos esforçar para determinar a medida em que os padrões de qualidade de matéria-prima atendem nossas especificações. Devemos também investigar o grau de variação de qualidade, entre fornecedores e em diferentes épocas do ano. Se qualidade inconsistente torna-seuma preocupação, medidas próativas deverão ser tomadas para alterar os acordos de coordenação vertical, como será discutido posteriormente neste texto. Para complementar nossa avaliação da disponibilidade de matéria-prima, tendo examinado questões relativas à quantidade e qualidade, devemos também analisar os padrões do mercado atual, já que eles estão relacionados ao tempo e aos custos. Diversas questões precisam ser respondidas para nos auxiliar a determinar o custo de um fornecedor de matéria-prima garantido e confiável: Qual é o nível de excedente no mercado; existe um padrão sazonal no mercado; quais são os canais de distribuição; quem são os principais compradores; que tipos de acordos comerciais são feitos entre vendedores e compradores (contratos, licitações, vendas para entrega imediata, etc...); qual é a estrutura de preço comumente usada; qual é a incidência de impostos e quais são seus níveis; qual a percentagem de perda pós-colheita; e quais são os custos de transporte? Por fim, deve-se observar que por discutida apenas uma lista parcial de fatores que influenciam os custos da matéria-prima. Cada tipo de matéria-prima agrícola tem suas próprias peculiaridades, e existem muitos acordos diferentes de sua aquisição. 32 4.3. Acordos alternativos de suprimento Os sistemas de suprimento de empresas agroindustriais podem ser definidos por qualquer uma das formas de coordenação verticais alternativas. De fato, há múltiplas possibilidades para as firmas de aquisição: matérias-primas podem ser obtidas de mercados locais ou regionais a pronta entrega, de produtores independentes através de obrigação contratual, de produtores individuais estrategicamente aliados à firma agroindustrial, ou numa estrutura verticalmente integrada, na qual a industria produziria suas próprias matérias- primas. Cada um desses modos de suprimentos apresenta vantagens e desvantagens para as partes envolvidas. A escolha de um modo depende de muitos fatores, dentre os quais estão o tipo de matéria-prima obtida, o ciclo de produção da matéria-prima, a estrutura legal regulando transações de compra e venda, a existência de instituições de apoio fornecendo serviços como inspeção e classificação, e a estrutura de impostos. A formulação de um projeto deve considerar, cuidadosamente, as alternativas razoáveis de aquisição para delinear um sistema confiável e estável. A teoria dos custos transações é uma das estruturas alternativas conceituais que pode ajudar na análise e recomendação de uma forma eficiente de coordenação vertical. Conseqüentemente, variáveis dependentes da transação tais como a sua freqüência, o grau de especificidade dos ativos e o grau de incerteza, são analisados juntamente com algumas considerações relativas ao comportamento oportunístico e racionalidade limitada das partes. O exame dessas variáveis, em princípio, leva à indicação de uma alternativa que minimize custos de transação. Detalhes sobre esse assunto podem ser encontrados em KILMER (7) enquanto que uma nota de precaução sobre suas limitações é apresentada por HOBBS (13). 33 Enquanto que uma evidência interessante indica que a indústria agro- processadora prefere adquirir a matéria-prima em mercados de pronta entrega, a integração de agroindústrias com produtores através de acordos contratuais é freqüentemente defendida como um meio eficiente de assegurar a entrega de matérias-primas atendendo exigências de qualidade, tempo e custo. Em alguns países e para alguns tipos de agroindústrias, contratos de integração são uma forma de crescente importância na coordenação vertical. Nos Estados Unidos, 92% de todas as operações do setor avícola utilizam contratos de integração. Esta cifra atinge 88% para hortaliças processadas, 55% para batatas, e 11% para suínos. No Brasil, a grande maioria das agroindústrias de frango opera sob contratos de integração, que são freqüentemente feitos com pequenos produtores. Esses contratos geralmente exigem que a indústria forneça insumos e assistência técnica aos produtores, enquanto que estes são responsáveis por investir em infraestrutura e equipamento e gerenciar o processo produtivo. Um rígido controle dos processos tecnológicos e administrativos garante uma produção de frangos que satisfaça os critérios de tamanho e qualidade durante um período previamente especificado, sob frações otimizadas de ganho de peso por unidade de ração consumidora. Essa integração contratual é vista como uma força principal atrás da vantagem competitiva do setor avícola brasileiro sobre carnes substitutas nos mercados interno e externo (16). No entanto, apesar das suas características desejáveis, a integração contratual também não escapa de críticas. Freqüentemente, argumenta-se que o produtor encontra-se numa posição desvantajosa de negociação e pode tornar-se dependente em apenas uma agroindústria como sua única forma de escoamento. Poder de barganha desigual pode ser a fonte de termos de troca injustos, os quais fornecem aos produtores retornos incompatíveis com seus investimentos e esforços gerenciais. Esse ponto é bastante controverso e não será explorado em detalhes aqui. O leitor interessado é aconselhado a consultar alguns dos diversos estudos que discutem estes temas. Uma boa fonte inicial é a coleção de trabalhos publicados de um recente Seminário em Agroindustrialização e Desenvolvimento 34 Econômico (14). Os quadros 1 e 2 abaixo foram preparados para ilustrar as visões atuais sobre as vantagens e desvantagens dos contratos de integração para a unidade agroindustrial e para os fazendeiros. QUADRO 1 Vantagens e Desvantagens de Contratos de Integração para Produtores � Vantagens � Contratos de integração garantem um mercado para os produtos oriundo das fazendas. � Contratos fornecem maior estabilidade de renda e redução de riscos, especialmente no caso de atividades de curto ciclo. � Contratos favorecem a produção de culturas e de um animal com maior valor comercial. � Assistência técnica é garantida, permitindo melhor qualidade e produtividade. � Há maior acesso a tecnologias modernas de produção e administração, as quais podem freqüentemente ser transferidas a outras atividades da fazenda. � O número de decisões a serem tomadas é reduzido, principalmente aquelas relativas à aquisição e aplicação de insumos agrícolas. � Acesso a crédito agrícola é facilitado. � A necessidade de capital de giro é reduzida. � Sub-produtos e resíduos podem ser usados na propriedade ou vendidos para mercados locais. � Desvantagens � Dependência excessiva de um único comprador � A empresa de integração pode usar seu domínio tecnológico para influenciar preços e/ou prazos de entrega de produtos. Dietas de alimentação animal, por exemplo, podem ser ajustadas para acelerar ou retardar os ciclos de crescimento, afetando os retornos dos produtores indiretamente. � Contratos freqüentemente não são transparentes, particularmente com relação a questões de pagamento. � Contratos limitam a flexibilidade do produtor, especialmente com relação ao ajuste do mix de produtos agrícolas às oportunidades de mercado. � Práticas agrícolas tradicionais podem ser abandonadas, o que causa dificuldades no ajuste a antigos padrões de produção caso a integração falhe. � Produtores podem perder contato direto com seus mercados tradicionais. � O contrato apresenta um potencial de indução à monocultura. Isto aumenta a dependência com a indústria integradora, e também reduz a diversidade de produção, favorecendo a vulnerabilidade a doenças e causando degradação do ambiente. 35 QUADRO 2 Vantagens e Desvantagens de Contratosde Integração para Agroindústrias � Vantagens � Riscos de instabilidade de suprimento de matéria-prima são reduzidos. � Planejamento da produção agroindustrial é feito com maior eficiência através do melhoramento dos prazos de entrega das matérias-primas. � Se for o caso de empresas integradas verticalmente, a mudança para integração contratual transfere alguns riscos de produção para os produtores. Problemas relacionados à mão- de-obra também são reduzidos e os custos de insumos agrícolas podem ser bastante reduzidos através de economias de escala nas suas aquisições. Além disso, a quantia de capital imobilizado na terra e outros bens de produção é reduzido. Custos de controle de produção também diminuem. � Há um aumento no controle da qualidade do produto. Isto favorece a eficiência do processamento e permite melhor serviço ao consumidor. � Elevações no nível de produção em uma certa área são mais facilmente alcançadas através de contrato. � Introdução de tecnologias melhoradas é favorecida. � Acesso ao crédito e incentivos do governo ou subsídios é aumentado. � Desvantagens � Há um risco de quebra contratual, especialmente quando as instituições são fracas. Se os preços de mercado são maiores que os preços do contrato, e se este último é difícil ou impossível de ser executado, os produtores podem não cumprir suas obrigações para com a firma. � Risco de mau uso de insumos fornecidos. Os produtores podem utilizar rações, fertilizantes, e outros insumos em atividades que não sejam aquelas especificadas nos contratos. � Risco de roubo dos produtos. Os produtores podem reter porções da produção contratual para o consumo próprio ou para venda no mercado. � Perda da flexibilidade operacional. Adequação às oportunidades de mercado pode ser retardada devido a obrigações contratuais em progresso. � Alguns custos de transação são aumentados, já que as indústrias devem lidar com grande número de fornecedores em termos individuais. � A imagem da empresa pode ser danificada por preconceitos do público em relação aos contratos de integração. Em algumas áreas, a impressão geral é que os produtores são explorados pela agroindústria. Como visto no prefácio, a escolha do sistema apropriado de obtenção de matéria-prima não é um esforço trivial e deve ser encarado como um elemento chave na definição da estratégia da agroindústria. A experiência tem demonstrado que haverá situações em que uma mistura de alternativas será a melhor opção. Para fábricas que processam matérias-primas múltiplas, como é geralmente o caso da indústria de processamento de frutas e hortaliças, é provável que esquemas variados de coordenação serão obrigatórios. 36 4.4. Aquisição de insumos adicionais Vimos que as matérias-primas constituem os principais itens de custo para a maioria das agroindústrias. Discutimos também as características específicas que fazem da obtenção de matéria-prima uma tarefa bem desafiante. Além disso, agravando a complexa questão de aquisição de insumos, há a necessidade de assegurar que outros ingredientes importantes, partes, e materiais estejam disponíveis quando necessários. Estes incluem embalagens, entre outros conservantes químicos, flavorizantes e corantes, produtos de limpeza e sanitização, materiais de laboratório, rótulos de embalagens, açúcar, sal, e condimentos. Em princípio, a obtenção desses insumos agroindustriais adicionais pode ser conseguida usando-se procedimentos tradicionais dos departamentos de compra. Conduto, algumas dificuldades podem surgir devido às características típicas de agroindústrias descritas a seguir: - Localização em áreas rurais A tendência de localização de empresas agroindústrias próximas às fontes de matéria-prima (Veja a Seção 7) geralmente dificulta o gerenciamento da aquisição de outros insumos por parte dessas empresas. Distâncias relativamente maiores dos fornecedores e deficiências em infraestrutura (transporte, comunicação, etc...) são apenas alguns dos fatores que podem tornar necessário o aumento das quantidades em estoque para as agroindústrias, quando comparadas com as chamadas indústrias urbanas. Para estes fatores, precisa-se manter altos estoques, acarretando no aumento da necessidade de capital de giro. Outro efeito adverso é representado pelos custos de entrega às áreas rurais, tipicamente mais altos. Quando insumos não estão disponíveis no mercado interno, o tempo entre o pedido de compra e a entrega é outra fonte potencial de preocupação, em vista da necessidade de importação. A freqüência de compras terá que ser definida de Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 37 modo que o risco de falta de estoque seja minimizado. Freqüentemente, isto implicará em maiores lotes de compra, altos estoques e outras pressões sobre a necessidade de capital de giro. - Considerações de tamanho e escala Agroindústrias de pequena escala são particularmente afetadas na compra de insumos adicionais pela falta de poder de barganha das mesmas. Para itens como latas, garrafas, e outros materiais de embalagem, o número de fontes alternativas de suprimento é normalmente pequeno; isto ocorre particularmente em economias menos desenvolvidas. Ademais, essas fontes de suprimento, freqüentemente, requerem uma quantia mínima de compra maior que o pedido razoável de uma empresa pequena. A compra de grandes quantidades claramente aumenta estoques e conseqüentemente a necessidade de capital de giro. 5. Aspectos tecnológicos Assim que a disponibilidades de matéria-prima e a existência de um mercado para os produtos do projeto forem estabelecidos, o analista deve direcionar seus esforços para uma avaliação dos aspectos tecnológicos da agroindústria proposta. A natureza muito especializada desta tarefa reforça a necessidade de dar-se um tratamento interdisciplinar à preparação e avaliação do projeto. Nesta etapa, engenharia agroindustriais, técnicos em ciência de alimentos, engenheiros civis, e profissionais de administração serão provavelmente necessários. Os principais aspectos a serem considerados neste estágio de engenharia de projeto têm sido apontados em orientações tradicionais de viabilidade de investimento, tais como em UNIDO (2), e serão discutidos abaixo: - avaliação e seleção de processos tecnológicos Usuario Highlight Usuario Highlight 38 A escolha da tecnologia do processamento tem profundas implicações na viabilidade de uma agroindústria. O processo selecionado afetará, diretamente, as necessidades de investimento e a qualidade do produto final e custos. Além disso, como a tecnologia pode vir a ser o fator diferenciador no ambiente competitivo, essa escolha é um elemento estratégico, chave na sobrevivência do negócio a longo prazo. Os analistas devem esforçar-se para identificar tecnologias de processo alternativas, tanto as atuais quanto as prospectivas, e avaliar suas vantagens e desvantagens em relação aos objetivos e recursos do projeto. Uma tecnologia apropriada terá que ser compatível com as limitações do projeto, tais como a disponibilidade e custos relativos de energia proveniente de fontes distintas, disponibilidade e custos de mão-de-obra, leis e regulamentos, custo de licenciamento, patentes e outros itens de direito de propriedade, e requerimentos gerenciais associados. Para exemplificar este assunto, vamos considerar a escolha da tecnologia de extração de óleo de uma dada empresa. Opções alternativas de extração poderiam ser um processo químico envolvendo solventes ou um processo mecânico utilizando pressão hidráulica. Cada escolha tem implicações em termos de necessidade de investimentos (equipamentos, construções,área do terreno, etc.), qualidade do produto final, eficiência do processo, qualificações desejadas para as operações, custos dos produtos, quantidades de esgoto e resíduos resultantes, etc... Cada uma dessas variáveis deveria ser meticulosamente analisada e comparada antes que a decisão final possa ser feita. Dentro do limite dos programas de desenvolvimento agroindustrial, o que se percebe com freqüência é que novos empreendimentos são induzidos a implementarem tecnologias que favorecem a mão-de-obra intensiva, geralmente através de planos de financiamento preferenciais. Sem menosprezar as considerações sociais, a força competitiva de tecnologias de mão-de-obra 39 intensiva em relação às mais modernas alternativas intensivas, intensivas em capital, devem ser averiguadas, tanto em termos de qualidade do produto quanto de custos. Para alcançar isto, deve-se identificar os tipos e níveis de tecnologia utilizados pelos atuais concorrentes e determinar a força dos mesmos. Leis e regulamentos podem também ter um impacto na escolha da tecnologia de processamento. Certos processos produtivos, tais como a produção de queijo a partir de leite não pasteurizado, podem não estar em conformidade com a legislação. Diversos governos, no intuito de proteger os consumidores contra doenças transmitidas por alimentos, têm criado severas para controlar as operações de processamento, limitando, assim, a escolha da tecnologia; isto ocorre principalmente no setor agro-alimentar. As normas podem ditar o tipo e a quantidade de ingredientes usados ou especificar o processo de envase. A legislação pode até mesmo impedir o uso de tecnologias que são conhecidas por conservar alimentos efetivamente, como por exemplo, a irradiação. Regulamentos de controle de qualidade também estão tornado-se mais bem definidos, freqüentemente exigindo a adoção de programas como “Boas Práticas de Fabricação” ou APPCC (Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle). Estas normas podem requerer que processos de limpeza e sanitização devam utilizar o método “CIP” (Cleaning in-place), conseqüentemente excluindo processos que utilizam equipamentos não adequados ao CIP. Se pretende-se atingir mercados de exportação, a legislação do país importador terá que ser examinada. Claramente, as agências e órgãos públicos responsáveis pelos regulamentos do produto agroindustrial terão que ser consultados antes que qualquer tecnologia de processamento seja selecionada. Como um último lembrete nesta discussão, deve-se estar atento para a natureza do progresso tecnológico. A história recente da civilização está cheia de exemplos de mudanças dramáticas ocasionadas pela ciência e tecnologia. Atualmente estamos presenciando progressos impressionantes no campo da informática, biotecnologia, genética, nanotecnologia, robótica, e muitos outros. O 40 progresso, provavelmente, causará impacto nos processos industriais a médio e longo prazo. Embora a futurologia é sempre um exercício arriscado e complexo, os analistas de projeto não podem se dar ao luxo de desconsiderar a avaliação de previsões tecnológicas. Por este motivo, a seleção do processo tecnológico deve ser realizado com precaução, caso contrário, a opção recomendada pode estar obsoleta logo no início. - avaliação e seleção dos equipamentos da fábrica O próprio processo tecnológico selecionado irá fornecer a estrutura necessária para recomendar o número e os tipos de equipamentos a serem instalados. A maior parte das considerações relacionadas à escolha da tecnologia, descrita na discussão anterior, será aplicada na avaliação e seleção dos equipamentos da fábrica. Portanto, com a preocupação óbvia de minimizar as necessidades de investimento, as seguintes variáveis serão consideradas: - fontes alternativas de energia e seus respectivos custos: caldeira a óleo x Caldeira à lenha, secador elétrico x secador solar; - grau de automação: esteira transportadora automática para linhas de recepção de matéria-prima x linhas operadas manualmente; - necessidade de técnicas especiais de operação: o nível de treinamento do operador exigido e o efeito do nível de instrução necessário na disponibilidade de mão-de-obra e nos custos; - requerimentos de montagem e manutenção: a necessidade para montagem especial, disponibilidade local de peças e pessoal de manutenção, necessidade de estoque de peças extras; - eficiência do equipamento: número de operadores necessários, consumo de energia, velocidade de processamento e produtividade; - compatibilidade do equipamento: problemas que podem ser encontrados quando da integração à equipamentos diferentes, talvez de fornecedores distintos, na linha de produção. 41 A análise das variáveis acima deve auxiliar na recomendação do equipamento apropriado para a agroindústria. Para facilitar o processo de estimativa do investimento (Seção 8), cada tipo de equipamento recomendado deve ser especificado em detalhes. Essas especificações de equipamentos também serão requeridas para a determinação do lay-out da planta e para a estimativa das necessidades de construção. - determinação dos coeficientes técnicos (coeficientes insumo/produto) para matéria-prima e outros insumos Em nossa discussão sobre a aquisição de insumos, ficou subentendido que dos coeficientes que expressam a relação entre a quantidade dos produtos era necessário para estimar as necessidades de matéria-prima de outros insumos que a fábrica irá usar. Isto ilustra um interessante aspecto do processo de preparação do projeto: nem todas as tarefas podem ser executadas seqüencialmente, como pode ter sido sugerido anteriormente; algumas devem ser realizadas simultaneamente. De fato, haverá situações nas quais uma etapa da preparação de um projeto afeta e é afetada por outras. Este tipo de inter-relação é particularmente relevante na análise de tecnologias de processamento. No caso dos coeficientes técnicos, a tecnologia selecionada guiará a sua estimativa; e estes últimos são essenciais tanto para a definição da necessidade de matéria- prima quanto para a estimativa do custo de produção, que será discutida na seção 9. Os coeficientes técnicos devem ser estimados, preferencialmente, para todos os itens que são direta ou indiretamente usados para gerar o produto final. Os coeficientes mais comumente calculados são aqueles que relacionam a necessidade de matéria-prima com uma unidade de produto final (ex.: se 9 Kg de tomates são necessários para produzir 1 Kg de tomate seco, o coeficiente técnico estimado é 9.0). Ao multiplicarmos este valor pela quantidade a ser produzida, isto Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight 42 será um simples problema aritmético para estimar as necessidades de matéria- prima e os custos. Outros coeficientes técnicos irão relacionar quantidades produzidas com a necessidade de mão-de-obra (ex.: x homem-horas de mão-de- obra qualificada / litro de leite processado), energia e outros utilidades (exemplo: kwh de energia elétrica / kg de furta seca; litros de água / litro de suco), ou embalagem (ex.: Kg de filme plástico / Kg de produto processado). Esses índices podem ser obtidos pesquisando-se o processo tecnológico na literatura ou através da consulta com pesquisadores e fabricantes de equipamentos. Além disso, eles podem ser estabelecidos por experimentos em uma planta piloto. Muitos empreendedores podem se atentar para o inverso deste coeficiente, isto é, a quantidade de produto final que pode ser obtida a partir de uma dada quantidade de matéria-prima. Por exemplo, pode-se pensar em X kilos de farinha de mandioca que podem ser produzidos a partir de uma determinada disponibilidade de Y kilos de mandioca. É uma simples
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