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Resumo AP2 Cultura Brasileira

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Cultura Brasileira – AP2 2018 
Aula 10: Festas populares e turismo cultural – inserir e valorizar ou esquecer? O 
caso de Moçambique de Osório, Rio Grande do Sul 
As manifestações populares, sejam de cunho religioso ou não, possuem um caráter 
ideológico uma vez que comemorar é, antes de mais nada, conservar algo que ficou na 
memória coletiva. Tais manifestações culturais podem formar parte de um produto, desde 
que sejam conectados de forma direta ou complementaria aos serviços turísticos. 
O turismo a partir de sua implantação pode “redefinir realidades sociais”, criando 
expectativas a partir de imagens projetadas e adaptando as localidades a estas 
expectativas. O que pode ser uma descoberta como novo destino ou nova atração, ou 
mesmo uma reciclagem de um antigo destino. 
As manifestações culturais correm o risco de sofrer mudanças quando tratados de forma 
massiva, repetitiva e acatando o gosto do visitante, neste caso operadores turísticos e 
turistas. Em muitos casos, com apoio de poderes locais, as manifestações turísticas 
perdem sua função original para atender a demanda de novos participantes. 
O interesse de exploração turística de determinada manifestação cultural se deve a 
fatores como o potencial, a originalidade do evento e de uma divulgação consistente da 
mesma através da imagem que se queira projetar no caso das festas religiosas a sua 
concepção está nos devotos e nos grupos de atores sociais que permeiam o universo 
sacro e ao mesmo tempo profano de tais manifestações. 
Para que seja considerado como um produto turístico, a festa será analisada como um 
evento apto a atrair não somente devotos, como outros segmentos. 
É importante fazer a devida distinção entre o evento/espetáculo e a festa popular, feita 
para acelerar um acontecimento, agrícola ou religioso que faz parte do cotidiano, possui 
sua organização no seio da comunidade, a partir da arrecadação de recursos e da ajuda 
do poder municipal. 
Patrimônio intangível, festas populares e o turismo 
Prats – o patrimônio como recurso turístico pode ser apresentado em 3 formas: a) o 
patrimônio pode se constituir em um produto turístico por ser, capaz de integrar junto a 
oferta hoteleira, um motivo de compra autônoma. b) o patrimônio pode ser apresentado 
como “associado” a um produto turístico integrado, sendo parte integrante do produto. c)o 
patrimônio pode se constituir em um valor agregado para destinos turísticos que não 
possuem no patrimônio atrativo principal ou o motivo de compra básica. 
O patrimônio passa a ser algo passível de atrair espectadores desde que seja de 
interesse a determinados segmentos turísticos capazes de transformá-lo. 
As festas populares expressam as formas identitárias de grupos locais, onde o motivo de 
encontro, de fé ou simplesmente de celebrar atrai e identifica a devotos e indivíduos de 
mesma identidade. 
No caso específico das festas populares, sua realização forma a expressão simbólica 
mais fiel da vida social de uma comunidade. 
As festas populares do Brasil se divide em: - Religiosos: ministrados por sacerdotes ou 
por pessoas autorizadas pela igreja, como missas, procissão, benção, novena e reza. 
– Profano-religiosos: ministrados por leigos com a aprovação do sacerdote 
homenageando as figuras sacras, de modo alegre e festivo, etc. – Festas profanas, com 
caráter de diversão. Com o propósito de segurar os visitantes o maior tempo possível nas 
festas com leilões, danças, comidas, etc. 
 
O caso de Moçambique de Osório, Rio Grande do Sul 
Festa de Nossa Senhora do Rosário – elegemos tal manifestação pela incidência de 
material de divulgação de Osório e região litorânea onde aparecem a imagem dos reis 
Congos e de alguns componentes. 
Foram realizadas entrevistas com turistas e veranistas que circulam nos meses de verão 
na região. Se buscou saber se conheciam tal manifestação e se tinham interesse em 
participar ou conhecer. 
Os Moçambiques são cortejos, constituídos por guias, pajens, capitães, etc. 
Os perfis do grupo possuem laços de parentesco, avós, tios, primos, irmãos e pais e sua 
tradição é oral, passada de geração e geração de novos dançantes. 
A Festa ocorre próximo ao dia 8 de outubro, data em que se celebra Nossa Senhora do 
Rosário. 
Os participantes do grupo se autodenominam é uma “forma de dança ou cortejo, cujo 
motivo principal é a representação de um combate simbólico, tendo a figurada Rainha 
Ginga como personagem principal”. 
A sendo também uma fonte de autoestima. 
Quando nos referimos aos poderes públicos municipais, tanto legislativo como executivos, 
é importante dizer que estes possuem relações de manutenção para com o grupo. Isso 
ocorre através de uma lei de incentivo que é revertida em ajudas na manutenção das 
vestimentas e na estrutura para as apresentações realizadas fora do município. 
Turismo cultural – quem procura o que? 
Se pode definir aquele turista que busca a cultura próxima da autentica daquele que 
busca o espetáculo, cuidando de observar o perfil de cada grupo ou indivíduos e qual é 
sua intenção de busca. Na tipologia dos tipos de turista, temos a definição do turista 
cultural como busca o pitoresco ou vestígio do estilo de vida local tradicionais, que talvez 
possa coincidir com o passado da cultura própria; incluíram-se a isso costumes e idiomas 
diferentes. 
O que difere o turismo cultural do de massas é que o produto final é organizado e 
pensado de tal fora onde se padronizam fatores sociais, financeiros e geográficos para 
tornar acessível a um grande número de pessoas, a preços competitivos, importando a 
quantidade e a homogeinização, baseando-se no volume e não na forma. 
A importância da cidade ou do núcleo urbano onde são desenvolvidas tais manifestações 
contam como valor agregado (paisagem natural e antrópica, patrimônio edificado, 
recursos cênicos e serviços), e também como elementos de permanência de turistas e de 
visitantes que acorram ao local da festa. 
Políticas públicas e privadas para um turismo cultural 
A formulação de políticas públicas onde se valorize e se aproveite os recursos culturais 
como forma de valorizar e perpetuar a imagem da festa, respeitando suas mudanças, são 
desafios aos setores responsáveis, sejam públicos e privados. Ocorre que para a 
valorização de tais manifestações culturais dependem dos interesses de meios oficiais de 
apoio e de setores com uma ampla visão cultural para tal proposta. 
As políticas públicas são na maior parte das vezes resultada de imposição de elites que 
valorizam o que se entende por alta cultura ou cultura elitista, esquecendo em muitos 
casos das minorias. 
A elaboração de leis específicas de proteção ao patrimônio intangível pode significar 
muitas vezes o não cumprimento e a posterior marginalização. Entendemos que políticas 
públicas de valorização de tais manifestações onde os próprios atores sociais sejam 
chamados a participar, se incluídos como elementos participativos e discutir suas 
necessidades é parte do caminho que se possa seguir. 
Barreto – “conservar significa manter, guardar para que haja uma permanência no tempo. 
Desde que guardar é diferente de resguardar, preservar o patrimônio implica mantê-lo 
estático e intocado, ao passo que conservar implica integrá-lo no dinamismo do processo 
cultural”. 
 
Aula 11: ***Catolicismo popular na escrita do folclore brasileiro (Parte I) 
O interesse pelo estudo do catolicismo popular e seus sub/temas como as festas, rituais, 
danças e folguedos tem crescido vertiginosamente nas últimas décadas embalado em 
grande medida pelos estudos culturais. 
O folclore se tornou o elemento mediador para a criação de uma cultura de paz, ancorada 
na identificação de diversos elementos culturaiscomuns e da aceleração do encontro de 
povos através de práticas culturais diversas. É sob referência absolutamente 
conservadoras que o movimento do folclore brasileiro se constituiu como campo de 
estudos institucionalizados e custeado por verbas públicas dos estados da união. 
Fernandes – problematizou a atuação e o método folcloristas, por tratarem a cultura com 
apego ao passado, desconsiderando os seus aspectos múltiplos e dinâmicos, além de se 
basearem em métodos estrangeiros, distanciando-se da realidade nacional. 
Recentemente, alguns sociólogos brasileiros como Mariza Peirano, José Jorge de 
Carvalho, entre outros retomaram esse embate antigo e revelaram que a presença do 
movimento do folclore nas ciências sociais deve ser considerada como parte de um 
processo relevante do pensamento intelectual brasileiro. 
Ortiz – considera que o romantismo teve um impacto importante na definição do conceito 
de cultura popular, pois, ao Iluminismo voltou-se para situações particulares, dando 
ênfase às diferenças e espontaneidade dos sentimentos, aproximando-se também do 
historicismo e descobrindo, assim, a Idade Média, os romances da cavalaria, os reis, as 
cruzadas. 
No Brasil, o movimento folclórico só será articulado a partir das primeiras décadas do 
século XX, quando as festas e todo um conjunto de manifestações populares estarão 
envolvidos em debates que buscavam discutir elementos para a nacionalidade brasileira. 
A ideologia da mestiçagem e a união das três raças passaram a serem as marcas de 
nossa identidade nacional, tal como pregavam as ideias científicas, naturalistas, 
positivistas e evolucionistas na época. 
O Movimento Modernista que buscou nas tradições, costumes e crenças populares o 
elemento mediador para se entender o Brasil, será o ponto inicial para a criação de 
órgãos e grupos que vão se ocupar da pesquisa e do levantamento das manifestações 
populares. 
Os folcloristas se distanciaram do ambiente acadêmico, envolvendo-se gradativamente 
com a política nacional e regional. Consideravam-se como folclore parte da música 
popular, os contos, as histórias, as lendas, etc. 
Para Almeida o folclorista deveria ter vocação, intuição, características de um psicólogo, 
disposição para a vivencia no convívio com o povo para adquirir noção segura das 
reações folclóricas através de uma observação daquele povo. 
Os estudos do folclore revelaram esforços de se criar referencias para uma identidade 
nacional, nesse sentido, os folcloristas estiveram constantemente embalados por noções 
como o mito das três raças como pilares da formação nacional um vez que 
constantemente fundamentaram suas análises nessa busca comum de identificar a 
contribuição do branco, do nego e do índio nas festas, nos mitos, nas lendas, nas 
histórias. 
A obra de Câmara Cascudo, indiscutivelmente a mais vasta e numerosa da produção 
escrita do folclore. 
***Lazer, turismo, folclore e tradições populares no Brasil (Parte II) 
O deslocamento humano, tal como o que ocorre nas atividades de lazer e turismo, 
independentemente do seu motivo, inclui elementos culturais a serem consumidos dentro 
de sua rica cadeia produtiva que envolve dezenas de setores econômicos. Sejam pelos 
atrativos naturais, ou pelos atrativos históricos e culturais de museus, bibliotecas, 
arquivos, monumentos, pela arquitetura, pintura, escultura, pelas ruínas e outros legados, 
ou mesmo por meio de festas, comemorações, comida típica, artesanato, feiras, 
mercados e folclore local, que fazem parte das manifestações tradicionais e usos 
populares, sempre haverá consumo cultural. 
O turismo é a modalidade dos deslocamentos e retornos ao domicílio original, das viagens 
de lazer, do tempo de não trabalho. 
A esse patrimônio cultural encarado como algo maior, superior, intangível, que o visitante 
carrega na memória, e não na mala de viagem, agregam-se distintos meios de 
hospedagem, alimentação, entretenimento e serviços turísticos diferenciados prestados 
pelas agências de viagens, transportadoras, locadoras, pelo comércio e pelas 
oportunidades especiais de compras que fazem parte da identidade3 local e herança 
cultural dos povos. 
Essa forma de conhecimento, destacada por crenças, valores, normas, símbolos, datas, 
eventos, músicas, danças, roupas, leis, tradições e hábitos nativos, etc. Trata-se de algo 
forte, poderoso, de grande atração e interesse cultural, motivando a vontade de 
conhecimento e justificando o deslocamento humano. 
Para que o turismo seja um agente possibilitador da melhoria de vida, da localidade e do 
visitante, é fundamental a educação patrimonial. A mediação dos sujeitos sociais 
alcançada pela educação patrimonial possibilita a salvaguarda e o incentivo das práticas 
relacionadas aos saberes e aos modos de fazer geradores de identidade cultural. 
 
Entendimento sobre cultura 
Quando se fala em cultura está se pensando em indivíduos dentro de um processo social 
dinâmico que é a sociedade, interagindo com valores de diferentes expressões, 
caracterizados pelas crenças, rituais e tradições que passam de geração a geração. É, 
portanto, algo mutável e que pode acontecer assumindo as mais variadas formas de 
expressão, pois é a própria comunidade que permite essa ocorrência ao participar – direta 
ou indiretamente – na transmissão e divulgação dessas experiências culturais. 
A palavra cultura tem origem latina, vem do verbo colere, que significa cultivar. 
O sentido de cultura surge em oposição à barbárie, como marca própria da civilização, 
mas pode ser considerado também como todas as maneiras de existência humana. 
A variedade das vivências humanas faz com que cada cultura seja o resultado de uma 
história particular, incluindo as relações com outras culturas e as possibilidades de 
movimentação em direção ao futuro. A discussão sobre cultura está muito ligada à 
constatação da diversidade e às forças sociais que movem sociedade. A formulação da 
cultura, portanto, implica necessariamente confrontos, tensões, disputas, consenso e 
negociações. 
O resgate da cultura, dos valores e tradições de uma localidade pode manter ativas as 
referências culturais de um município ou de um grupo e transformar-se em um potencial 
produto turístico capaz de auxiliar na construção da história da comunidade. 
 
Motivação cultural para o lazer e o turismo 
A motivação cultural para o lazer e o turismo está presente em qualquer pessoa uma vez 
que exercerá concomitantemente a função de agente aculturador e de elemento 
suscetível de sensibilização por culturas outras que a sua própria. 
Se os visitantes forem preparados e alertados para observar e acompanhar as tradições 
culturais, os saberes e os fazeres de um determinado grupo, poderão apreciar e interagir 
com melhor compreensão, adotando posturas éticas que não venham a comprometer a 
continuidade das práticas culturais. 
O interesse causado pelos atrativos de valor cultural de uma localidade pode atrair 
visitação para bens patrimoniais – materiais ou imateriais – que ofereçam referencial 
cultural ou histórico, tais como: monumentos, obras de arte, museus, etc. gerações 
futuras. 
O lazer e o turismo cultural podem gerar renda para os municípios e, também, a 
manutenção da cultura das comunidades. 
Pode produzir melhoria na autoestima da comunidade e, consequentemente, melhoria da 
qualidade de vida da população local. 
 
Entendimento sobre patrimônio 
A palavra patrimônio está associada à noção de sagrado ou à noção de herança, de 
memória do indivíduo, de bens de família. A ideia de um patrimônio comum a um grupo 
social, definidor de sua identidade e, enquanto tal, merecedor de proteção, nasceu no 
final do século 18, com a visão moderna de história e de cidade. 
O patrimônio cultural, considerado em toda a amplitude e complexidade, começa a se 
impor como um dos principaiscomponentes no processo de planejamento e ordenação 
da dinâmica de crescimento das cidades e como um dos itens estratégicos na afirmação 
de identidades de grupos e comunidades, transcendendo a ideia fundadora da 
nacionalidade em um contexto de globalização. 
 
Patrimônio material e imaterial 
A distinção entre patrimônio material e imaterial surge em função de um processo 
histórico que se desenvolve para encorajar e valorizar a salvaguarda de bens culturais 
menos sólidos quanto aos seus materiais formadores – que não correspondem à noção 
tradicional de monumento –, e que podem ser significativos para uma pequena 
comunidade. 
A expressão “imaterial” é adotada pela legislação federal brasileira, mas compreendem-se 
como sinônimas as expressões “patrimônio intangível”, “cultura tradicional e popular” ou 
“patrimônio oral”, todas igualmente problemáticas e simplificadoras do ponto de vista 
conceitual. 
Folclore e tradições populares no Brasil 
As manifestações culturais tradicionais são um resíduo da cultura de outras épocas ou 
lugares e, como afirma Cláudio Basto, “o povo é um clássico que sobrevive”13, mas 
acrescentaríamos a esta ideia a de que o povo sobrevive, mas sobrevive com as 
mudanças condicionantes de sua época na história. 
A Organização Mundial do Turismo afirma que: “Costumes e tradições locais poderão ser 
afetados pela atividade turística desenvolvida na região, tanto pelo aparecimento de 
novos hábitos que virão com os turistas, quanto pelo desejo dos moradores de adaptar 
seus próprios costumes aos gostos, momentos e anseios dos visitantes”. 
O folclore e as tradições populares são considerados quase exclusivos de uma fração 
específica do povo: pescadores, camponeses, lavradores, boias-frias, gente da periferia 
das cidades. 
O folclore e as tradições populares se nos manifestam vários domínios do saber, da 
expressão e da comunicação, valorizando o que há de original, criativo e inteligente em 
cada manifestação uma vez que a cultura de um povo é viva e está em constante 
transformação. 
Dotados de impressionante e opulenta diversidade cultural, a beleza das festas folclóricas 
e das tradições populares brasileiras é evidente e constitui um atrativo para os turistas. O 
Carnaval, a Festa do Divino, o Círio de Nazaré, as Festas Juninas. 
Como manifestações culturais, o folclore e as tradições populares brasileiras refletem a 
complexidade desses recursos e indicam as dificuldades na nomeação e registro das 
mesmas como bens culturais com status de patrimônio oficializado, principalmente por 
suas peculiaridades, envolvendo a intangibilidade, particularmente, do turismo cultural. 
Considerações finais: patrimônio como produto turístico 
O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente da importância 
que lhes atribui a memória coletiva. 
O patrimônio cultural é um produto turístico que exerce sobre o consumidor forte atração 
em função de seu caráter diferencial, mas isoladamente ele não garante o turismo, porque 
para isto ele deve estar cercado da estrutura de suporte que inclui os serviços turísticos, a 
infraestrutura básica de apoio ao turismo. 
A esperança do turismo cultural é que ele ofereça exatamente o contrário do turismo 
massivo: menos gente, visitando menos lugares, mais devagar, reunindo menor número 
de experiências, com maior qualidade; recebendo mensagens mais detalhadas sobre o 
significado de lugares e manifestações que poderão ser igualmente aproveitadas pelas 
comunidades em seus momentos de lazer. 
 
Aula 12: A CIDADE E SEUS SOUVENIRES: O RIO DE JANEIRO PARA O TURISTA 
TER 
Souvenires são um componente essencial e um significante eloquente da experiência de 
viagem no mundo contemporâneo. É praticamente impossível inventariar todos os objetos 
― marcos da cidade em miniatura, chaveiros, pratos decorativos, bolsas, camisetas, 
esculturas, ímãs, canetas ― que enfeitam paredes, estantes e geladeiras nas mais 
remotas partes do globo ou circulam aderidos a corpos de diferentes gêneros, idades e 
etnias. Funciona, a um só tempo, como testemunho da viagem empreendida, como 
recurso de memória e como suportes da dádiva quando passam das mãos do turista para 
as de seus familiares e amigos na volta ao lar. Sem falarmos em um “segmento 
especializado” de souvenires que preenchem o desejo de viajar de maneira politicamente 
correta, uma vez que são produzidos por “segmentos desfavorecidos” e comercializados 
através de ONGs positivamente acreditadas. Em última instância, garantem ao turista a 
experiência da caridade pela via da compra. 
Souvenires são o que o viajante traz consigo ― representam materialmente o vínculo 
entre o lugar visitado e o lar para o qual se retorna. Souvenires funcionam como marca de 
uma certa experiência cultural plena de capital simbólico capaz de conferir status àquele 
que o possui. Passam por diferentes regimes de valor e seguem variadas trajetórias e, no 
processo, reforçam fronteiras entre “aqui” e “lá”, entre “visitantes” e “hospedeiros”, entre 
presente e passado – tempo em que a viagem de fato se deu, ou a temporalidade 
abstrata do Outro. 
Não se trata de avaliar a qualidade estética dos souvenires ou de pontificar sobre sua 
natureza falsificada, inautêntica, kitsch ou massificada. 
 
Rio de Janeiro e seus Souvenires 
A “natureza turística” de um lugar é uma construção histórica e cultural. Esse processo 
envolve a criação de um sistema integrado de significados através dos quais a realidade 
turística é estabelecida, mantida e negociada, e tem como resultado narrativas a respeito 
da cidade como destinação turística. Estas narrativas, que se modificam com o tempo, em 
alguma medida antecipam o tipo de experiência que o turista deve ter e necessariamente 
envolve seleções: enquanto certos aspectos são iluminados, outros permanecem na 
sombra. Alguns elementos são de longa duração e perduram apesar das mudanças na 
cidade, no trade turístico e no perfil dos visitantes. 
A “capital turística do Brasil” sintetiza o caráter nacional, é vista como espécie de vitrine 
do país. As lojas de souvenires cariocas parecem reforçar essa lógica, tomando para si a 
tarefa de condensar o Brasil e disponibilizá-lo como mercadoria para seus visitantes. 
As lojas cariocas oferecem souvenires de todas as regiões brasileiras ― chimarrão, 
artesanatos do sertão mineiro, carrancas, carros de boi em miniatura, bijuterias do Pará 
―, sem lhes identificar a procedência. 
O exotismo possui uma longa tradição na cultura europeia ocidental, articulada em torno 
de três aspectos básicos: alteridade, distância e desconhecimento (Todorov, 1984). O 
exótico substitui o maravilhoso dos séculos XV e XVI. Ambos, no entanto, pressupõem a 
exclusão daquilo que é familiar e conhecido. 
A demanda pelo exótico encontra, nas lojas de souvenires, em diferentes partes do 
mundo, possibilidade de plena realização. Nesse espaço heterotópico, para usar a 
expressão de Foucault5, elementos culturais e eventos históricos são recombinados em 
arranjos improváveis e transformados em mercadorias turísticas. 
Não encontramos objetos que remetam a situações de conflito e disputa ou mesmo que 
celebrem personalidades do mundo das artes ou da política. 
Exotismo calcado na natureza facilmente se aproxima do erotismo, outro elemento 
presente no conjunto de souvenires sobre o Rio. As curvas do Pão de Açúcar, traço 
econômico que imediatamente evoca a cidade, aparecem ao lado de exemplos mais 
explícitos como as bonecas de mulatas sensualmente curvilíneas e os cartões postais 
com abundantes mulheres de biquíni nas praias cariocas ― uma representação da cidade 
o poder público estadual pretende impedir. 
A lei estadual nº 4.642, de 17/11/2005, proíbe “a veiculação, exposição e venda de 
postais turísticos, que usem fotos demulheres, em trajes sumários, que não mantenham 
relação ou não estejam inseridas na imagem original dos cartões-postais de pontos 
turísticos, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro”. 
Sérgio Ricardo de Almeida, o objetivo era proteger a imagem do Rio: “O uso de cartões 
postais com fotos explorando mulheres em trajes sumários sugere o turismo sexual, 
prática que em passado recente, que ainda se reflete no presente, nos estigmatiza com 
rótulos indignos.” 
Esta associação entre a cidade e suas mulheres, objetificadas para consumo, não é, por 
certo, exclusiva aos postais cariocas. Os que encontramos nas lojas de souvenires em 
Atenas, por exemplo, também operam dentro dessa mesma lógica, sendo ainda mais 
explícitos na nudez revelada. Mas, se no caso destes cartões-postais, fica evidente que 
modelos profissionais foram intencionalmente fotografadas, os postais que capturam os 
corpos de mulheres nas praias cariocas buscam uma espontaneidade cuidadosamente 
construída. Sem rosto e sem a companhia de homens ou crianças, as mulheres parecem 
flagradas em seu suposto cotidiano tropical, evocando idealizações acerca do Rio de 
Janeiro as quais constituem, com incômoda frequência, o imaginário estrangeiro: 
Que situa a cidade como um “campo de diversões sexuais”; nele, as mulheres são 
por natureza “bonita, exótica” e sexualmente “ativíssima” [...]. 
Mas há dois elementos onipresentes nas lojas de souvenires que buscam estabelecer 
pontes simbólicas ente natureza e cultura: a estátua do cristo Redentor, no alto do 
Corcovado, e o Pão de Açúcar. 
São objetos que os turistas não podem deixar de comprar, por mais “óbvios”, 
“anacrônicos” ou “deslocados” que sejam. 
Os souvenires disponíveis nas lojas visitadas, independente da imagem da cidade que 
evoquem, nos ajudam a problematizar a noção de autenticidade: muitos são 
intencionalmente “fake”. 
Os souvenires do Rio vendidos nessas lojas são, na maioria das vezes, “falsos cariocas”, 
originários de Minas Gerais e de outras localidades mais longínquas. Mesmo quando são 
“de fato” produzidos por artesãos locais, podem estar referidos a “falsas” narrativas, falas 
míticas como as que elevam as “baianinhas” a símbolo da mulher carioca. Mas, 
paradoxalmente, oferecem àquele que os compra a marca da autoridade de “quem esteve 
lá”, de quem vivenciou uma experiência autêntica de encontro com a alteridade. 
 
Aula 13: TURISMO CULTURAL E SUSTENTABILIDADE: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL? 
O turismo é uma atividade de grande importância para a promoção do desenvolvimento 
socioeconômico dos núcleos receptores, porém nem sempre interfere positivamente 
nestes. Assim, surgem novas concepções a respeito dessa atividade que, ao enfatizarem 
as dimensões sociais, culturais e ambientais presentes no processo de produção e 
comercialização do produto turístico, orientam novas formas de gestão e consumo de 
atrativos, equipamentos e serviços, passíveis de se traduzir em benefícios reais para as 
comunidades e possibilitando maior enriquecimento da experiência turística aos 
visitantes. 
 
TURISMO CULTURAL: EM BUSCA DAS ALTERIDADES 
Trilhando os caminhos da cultura 
Os grupos humanos partiram de uma unidade biológica comum e adaptaram-se a um 
contexto histórico e social específico, desenvolvendo formas diversificadas de agir 
enquanto membros de uma coletividade, isto é, passaram a simbolizar modos e estilos de 
vida próprios. Isso significa que o homem estabeleceu hábitos, costumes, práticas sociais, 
padrões comportamentais que fundamentam e legitimam todo o modo de pensar, sentir e 
agirem sociedade. 
Da mesma forma, ao deter o controle sobre a natureza, os agentes sociais, através do 
uso de tecnologias, puderam cristalizar o seu estilo de vida em artefatos materiais, os 
quais dotados de uma dimensão simbólica e de uma representatividade permitem 
apreender a forma singular ou a estrutura que condiciona a existência empírica dos 
contemporâneos: a cultura. 
Laraia - cultura é um conjunto de valores, crenças, costumes, hábitos e fatores históricos 
materiais e imateriais que permeiam, de forma dinâmica, a vida social. Ou seja, a cultura 
é construída ao longo de processos históricos e materiais de um povo, através de suas 
inter-relações e modos de vida. 
A cultura é inerente a cada povo, transformando suas experiências tangíveis e intangíveis 
a partir do trabalho, o qual ultrapassa e modifica algo existente em algo novo. Assim 
sendo, permite que qualquer povo, independente de suas condições materiais e 
históricas, tenha uma cultura peculiar. 
A cultura tanto pode ser expressa por elementos tangíveis casas, museus, igrejas, etc., 
quanto por aqueles que, transcendendo a uma existência concreta, tornam-se elos entre a 
contemporaneidade e um passado socialmente produzido, ou seja, diz respeito a um 
patrimônio espiritual. 
Cultura e turismo: onde se encontram? 
A cultura figura como atrativo significativo para os turistas, especialmente para aqueles 
que buscam na apreciação do outro, um diferencial em relação às suas vivências 
habituais. Nesse contexto, conhecer a herança cultural reelaborada na cotidianidade de 
povos e comunidades específicos, através de suas diversas formas de representações, 
constitui-se um viés integrador. 
O interesse pela cultura sempre fez parte de uma necessidade humana, encontrando nas 
diversas formas de turismo um importante instrumento de legitimação. 
Com o maior desenvolvimento e integração das sociedades e a ampliação do conceito de 
patrimônio, o turismo cultural foi assumindo novos contornos, com o aumento de 
reflexões, debates e teorizações acerca do segmento. 
De acordo Köhler e Durand - As definições a partir da demanda apresentam o turismo 
cultural sob o foco das motivações, percepções e experiências pessoais. Nestas 
definições, o que define se a experiência turística pode ser classificada como cultural são 
as interpretações dos turistas e não os espaços ou objetos em si. As definições que 
focam os aspectos da oferta baseiam-se no desfrute turístico de equipamentos e atrações 
previamente classificados como culturais e aptas ao consumo do fluxo turístico. 
MT - Conceitua turismo cultural como “a vivência do conjunto de elementos significativos 
do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os 
bens materiais e imateriais da cultura”. 
A utilização de conceitos voltados para a oferta não deve inviabilizar as motivações da 
demanda, pois os turistas, tidos como culturais, possuem como principal motivação o 
desejo de entrar em contato com diferentes culturas, visitando os elementos 
representativos do patrimônio de uma determinada comunidade (conjuntos arquitetônicos, 
sítios arqueológicos, danças típicas, religiosidade, gastronomia, o artesanato, a 
musicalidade, performances artísticas). 
Goulart e Santos - o turismo cultural é apreendido como “[...] um fenômeno social, produto 
da experiência humana, cuja prática aproxima e fortalece as relações sociais e o processo 
de interação entre os indivíduos e seus grupos sociais, sejam de uma mesma cultura, ou 
de culturas diferentes”. Nessas definições ficam explicitadas, o interesse maior pelo 
compartilhamento e pela troca de experiências entre visitantes e comunidades, e as 
repercussões locais decorrentes da dinamização do patrimônio e em virtude do 
intercâmbio cultural. 
Perez - caracteriza da seguinte forma o perfil sócio econômico, as necessidades, gostos e 
motivações intrínsecas à demanda por turismo cultural: - Visitantes estrangeiros de 
idiomas e bagagens culturais diferentes; - Cidadãos de um mesmo país, que procuram 
uma relação mais aprofundada com o seu patrimônio cultural; - Residentes locais que 
procuram um conhecimento mais aprofundado do território que habitam; - Pessoa com 
rendimentos acima da média; - Pessoas que despendem mais; - Passammais tempo num 
mesmo sítio. 
O autor alerta, também, para o fato de se evitar a generalização ao tratarmos das 
características da demanda, considerando as constantes transformações no mercado 
turístico, a influência dos meios de comunicação e da indústria cultural na valorização de 
determinados destinos e produtos, bem como as mudanças que ocorrem no interior da 
própria demanda. 
 
Turismo cultural e as singularidades deste novo horizonte de mercado 
A segmentação do mercado turístico faz com que, cada vez mais, surjam segmentos 
diferenciados que atendam aos interesses particulares de grupos específicos. Para Netto 
e Ansarah, grande parte da teoria de segmentos do turismo está relacionada com as 
teorias de marketing, ou seja, falar em segmentação do turismo é falar de estratégia de 
marketing. Com isso, a segmentação baseia-se nas características da demanda, já que é 
através desta diferença que as empresas e os órgãos ligados ao turismo irão atingir esses 
turistas a partir das especificidades de cada grupo. 
Com o advento do Meio Técnico-Científico-Informacional exposto por Milton Santos, 
através da velocidade das informações e da compressão do espaço e do tempo, em que 
tudo se torna efêmero, e “o espaço se fragmenta e perde seus lugares, o tempo é 
analógico e virtual” o mundo torna-se, cada vez mais, homogeneizado e padronizado. É 
neste sentido que a cultura de um povo, através de suas memórias e identidades, pode 
sobressaísse como um símbolo de resistência e luta perante a tendência à padronização 
global. Daí, então, a importância do turismo cultural na contemporaneidade. 
O Turismo Cultural, assim, pressupõe um público educado e informado que compartilhe 
com os órgãos de patrimônio uma definição sobre o que constitui lugares, eventos e 
coleções corretas. Por outro lado, o Turismo Cultural deve ser visto pelos órgãos de 
preservação como um meio de arrecadar recursos para a manutenção de lugares e 
manifestações, bem como um instrumento de informação ao público visitante (GOODEY). 
No âmbito do patrimônio imaterial, o turismo pode contribuir para o revigoramento dos 
saberes e fazeres populares e das tradições, ora por intermédio do aumento da 
visibilidade dos produtores culturais, ora pela valorização das manifestações artísticas 
locais. 
Ao fortalecimento das identidades culturais e de práticas sócio/culturais específicas, que 
em alguns casos, poderiam estar sofrendo um processo de desaparição. 
Talavera - o turismo cultural, segundo o autor, favorece o mercado turístico geográficos e 
culturalmente mais distantes, promovendo as revalorizações de seus territórios para o uso 
desta atividade. 
Entretanto, o turismo quando desenvolvido de forma deliberada sem o envolvimento da 
população local, e associado a outros fatores, pode interferir negativamente na cultura de 
uma determinada localidade, seja através da cenarização dos lugares, seja por intermédio 
d espetacularização de manifestações populares tradicionais. 
A cultura como produto turístico: as encruzilhadas da sua comercialização 
Vaz e Jacques - Consideram que a apropriação da cultura pela atividade turística não 
deve ocorrer de forma que a mesma se transforme em mercadoria, ou melhor, em um 
produto cultural para ser comercializado e consumido, o que, por sua vez, tornaria o 
próprio conceito de cultura esvaziado. 
No entanto, a cultura, de uma maneira geral, vem sendo utilizada como um mero produto 
de mercado, o que, na concepção de Adorno e Horkheimer, elimina o caráter estético e 
artístico da cultura refletindo em sua degradação. A cultura tem que ser apropriada pelo 
turismo de uma forma que valorize a mesma, reforçando as suas peculiaridades e 
especificidades. 
A excessiva comercialização dos bens culturais em prol da captação de fluxos turísticos 
pode impedir que a comunidade receptora o percebesse como parte integrante do seu 
convívio social, atribuindo-lhe um caráter eminentemente econômico. Nesse sentido, 
perde-se a noção de continuidade sociocultural dos bens culturais, uma vez que estes são 
vistos como necessários, exclusivamente, para a fruição turística de uma localidade. 
[...] os monumentos e o patrimônio histórico adquirem dupla função – obras que propiciam 
saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais, fabricados, 
empacotados e distribuídos para serem consumidos. 
As festas e danças populares são ressignificadas quando da sua inserção ao sistema de 
produção e consumo turístico, destacando-se a banalização das festas tradicionais, bem 
como a transformação de rituais sagrados em rituais de entretenimento. 
O resultado desses mecanismos consistiu numa reprodução acelerada desses modelos 
de formatação e estruturação da oferta turística em diversas localidades, 
desconsiderando-se as especificidades locais e inviabilizando o acesso da comunidade 
aos benefícios do turismo. Do ponto de vista social, a transformação da cultura em 
produto turístico pode se refletir na segregação espacial dos turistas em relação à 
comunidade local e no esvanecimento dos conteúdos simbólicos da produção cultural. 
Diante dos impactos negativos ocasionados por essa atividade, atrelada à emergência de 
novas necessidades, preferências, valores e atitudes da demanda em relação ao meio 
socioambiental e cultural onde o turismo se processa, novas diretrizes norteiam a gestão 
e operacionalização do turismo cultural, destacando-se a oferta de novos produtos e 
roteiros turísticos cuja conceptualização está baseada na criatividade e inovação, na 
interpretação patrimonial e na “autenticidade” das atrações culturais, pressupondo a 
inserção comunitária e a sustentabilidade em todas as etapas do processo. 
 
TURISMO CULTURAL E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS E OPORTUNIDADES 
O turismo sustentável pode ser definido como um modelo de gerenciamento da 
atividade que enfatiza a conservação dos aspectos naturais e culturais do núcleo 
receptor, evitando-se a degradação dos atrativos e estimulando a economia local, de 
forma consensual e de acordo com as demandas das comunidades. 
Os turistas culturais buscarão destinos capazes de oportunizar experiências tidas como 
únicas e provocadoras dos sentidos, com base em motivos, sensações e emoções. 
Os destinos turísticos tradicionais, segundo Goodey, agregarão valor às suas ofertas 
culturais, propiciando aos turistas o exercício ou a prática de atividades lúdicas e didático-
pedagógica com elevado teor educacional e com nítido interacionismo entre turistas e 
comunidades. 
Na visão de Yasoshima e Oliveira, “os novos turistas procurarão aliar o entretenimento 
das viagens com a educação, fazendo com que cada viagem seja uma forma de 
aprendizagem e instrução.” 
A atividade turística deve empreender ações e projetos de valorização das manifestações 
populares tradicionais e contemporâneas, inserindo-as no circuito turístico, ao mesmo 
tempo em que possibilitará o fortalecimento da identidade e da diversidade cultural, com a 
participação efetiva de segmentos populares na implantação e gerenciamento das 
atrações: 
O turismo como prática econômica precisa, no entanto, encontrar formas mais respeitosas 
de se inserir no cotidiano das comunidades receptivas. 
O turismo cultural deve ser entendido como uma atividade capaz de agregar valor aos 
bens culturais e, nesse contexto, a interpretação do patrimônio aliada a outras técnicas de 
educação ambiental têm diversificado as oportunidades de conhecimento da cultura local 
tanto por parte dos visitantes, como por parte da comunidade, além de possibilitar a 
inserção social em áreas de interesse turístico. 
Lucas - ao citar os princípios do turismo cultural tomando por base o National Trust for 
Historic Preservation, estabelece algumas diretrizes necessárias. 
a) Autenticidade e qualidade: contar a verdadeira história do lugar; a história distingue um 
lugar do outro; agrega valor e qualidadeao produto cultural, tornando-o mais atraente ao 
turista cultural, etc. b) Encontrar o equilíbrio entre a comunidade e o turismo cultural: as 
circunstâncias locais determinam o que pode ser feito em turismo cultural; os programas 
elaborados devem considerar os recursos e características que os autóctones dispõem e 
desejam com partilhar. c) Visão comunitária: definir a identidade da comunidade, “o jeito 
de ser” característico da localidade, como parte de seu patrimônio, bem como de seu 
estilo de vida; elaborar descrição da comunidade. 
Compreende-se que as culturas são dinâmicas e sofrem processos constantes de 
adaptações em seus conteúdos e formas culturais; assim, o turismo é entendido 
como instrumento de reforço das identidades e de articulação das culturas locais, à 
medida que estimula a participação da comunidade no processo de planejamento e 
gestão da oferta turística. 
Nesses casos, a adoção de um novo modelo de planejamento e gestão no turismo 
emerge como alternativa para amainar os impactos negativos decorrentes do processo de 
massificação dessa atividade no meio ambiente natural e urbano, além de considerar as 
interferências na dinâmica sociocultural das comunidades receptoras. 
Beni - afirma que existem várias interpretações para o turismo sustentável, dentre 
elas: a sustentabilidade econômica do turismo que tem como enfoque, apenas, o 
aspecto financeiro; o turismo ecologicamente sustentável que tem como foco a 
preservação das áreas naturais; o desenvolvimento sustentável do turismo que 
protege o meio ambiente, pois o considera como fator de competitividade e o 
desenvolvimento econômico ecologicamente sustentável. 
A sustentabilidade é definida como a totalidade do sistema ser humano/ meio ambiente 
(incluindo recursos naturais e culturais), na qual as dimensões culturais, naturais, 
econômicas e sociais teriam igual importância. As políticas de turismo devem estar 
integradas nas políticas econômicas, sociais, culturais e ambientais, mas sem as 
preceder. 
No contexto em que a implantação da atividade turística em uma dada localidade tenciona 
a inserção social numa perspectiva mais ampla de desenvolvimento, o fortalecimento das 
identidades culturais prescinde de ações capazes de consolidar práticas coletivas de 
gestão dos territórios étnico-culturais e dinamizar sua economia. 
Esse fato pressupõe a existência de uma rede intricada de ações colaborativas entre os 
diversos atores do turismo – gestores públicos, empresariado, comunidade – capazes de 
contribuir para a dinamicidade das manifestações populares tradicionais sob a forma de 
eventos e atrações associadas aos valores de lugar; para a refuncionalização do 
patrimônio material ou edificado, a partir de novos usos compatíveis com a carga de 
suporte dos destinos, bem como para o surgimento de ações de sensibilização e 
informação turística, desenvolvendo, desta forma, o valor da hospitalidade no destino. 
A articulação institucional e a formação de parcerias são essenciais para a continuidade e 
funcionalidade de projetos turísticos sustentáveis, elevando ou mantendo os benefícios 
para as comunidades locais. 
O envolvimento da comunidade torna-se premissa essencial na implementação de 
propostas e de modelos de desenvolvimento do turismo cultural nas próximas décadas. A 
ampliação do conceito de sustentabilidade pressupõe uma visão holística e sistêmica do 
turismo, com as comunidades estabelecendo mecanismos de controle da capacidade de 
carga social, monitoramento e avaliação das atividades desenvolvidas. 
O planejamento sustentável do turismo deve privilegiar o atendimento satisfatório das 
expectativas da população residente, no intuito de possibilitar sua participação em 
projetos integrados de revigoramento da cultura local. 
Tal iniciativa consiste também em garantir a qualidade dos produtos e serviços oferecidos 
aos visitantes, aumentando o seu nível de competitividade e promovendo a hospitalidade 
no destino turístico. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Entende-se que uma nova proposta para o turismo cultural deve priorizar os aspectos de 
singularidade presentes em uma região vocacionada para o turismo, a fim de que os 
promotores turísticos possam estimular as múltiplas facetas presentes nessa atividade. 
Este segmento deve ser desenvolvido de forma a preservar o patrimônio cultural dos 
lugares, permitindo, deste modo, que haja a manutenção das manifestações existentes 
para as gerações futuras. 
Deve-se planejar o turismo cultural norteado nas dimensões culturais, naturais, 
econômicas e sociais da sustentabilidade. Estas, por sua vez, devem ser consideras de 
forma integrada e equitativa, promovendo a transformação dos elementos culturais em 
produtos turísticos, ao passo que contribuam para a preservação destes elementos e a 
melhoria da vida da comunidade envolvida. Para tanto, é importante que a políticas 
públicas setoriais estejam articuladas com as políticas de turismo. 
Aliado à valorização do lugar, a comunidade local deve participar ativamente do processo 
de planejamento do turismo para estabelecer atrativos culturais que esta considera de 
valor turístico, assim como impor os limites desta atividade para que o turismo não 
interfira de forma negativa no cotidiano da localidade. 
Diante do exposto, percebe-se que os ideais da sustentabilidade podem ser atrelados ao 
turismo cultural, visando à minimização dos impactos negativos e a preservação do 
patrimônio cultural local, contribuindo, desta forma, para a melhoria da qualidade de vida 
da comunidade receptora e para a valorização da experiência do turista. Assim, a relação 
entre turismo cultural e sustentabilidade é possível. 
 
Aula 14: Da Literatura ao Turismo – considerações no âmbito da América Latina 
O lugar da América Latina na nova ordem mundial 
De uma perspectiva cultural, a ideia de nação é a de um sistema de representação 
cultural, ultrapassando o foco político para o de bens simbólicos. Entendendo da ótica de 
Anderson, a noção de fronteiras e limites políticos é ultrapassada. Já não é possível 
associar uma identidade estritamente a um espaço ou a um país; ou mesmo identificar um 
patrimônio como exclusivo de uma cultura. Isto porque, as identidades e as culturas são 
móveis. Deslocam-se, viajam, redefinem fronteiras. Muitos de seus componentes se 
originam em um território e migram, acentuando seus caracteres ou hibridando-se com a 
cultura receptora; a desterritorialização, no lugar de apagar ou esfumaçar aspectos das 
culturas, na verdade, reafirmam-nos. 
Dominguez - “ampliar a autonomia política da região [...] exige governos baseados em 
alianças sociais qualitativamente distintas das atuais”. Laredo - diz que se “re/valorizamos 
o potencial que temos e aplicamos o modelo e a estratégia de integração adequados para 
redimensionarmo-nos e potenciarmo-nos, poderemos avançar progressivamente até o 
desenvolvimento e uma produtividade destinada não somente ao mercado externo, mas 
também a nosso incomensurável mercado interno, melhorando a qualidade de vida”. 
Assim, na consideração da nova ordem mundial, o global e o local devem ser tratados 
como complementares: o primeiro como ferramenta para a visibilidade do segundo. 
Da literatura ao turismo no contexto global 
Se entendermos que uma cultura é considerada como local, porque é compartilhada 
subjetivamente por uma dada comunidade, e que a global está diretamente relacionada 
ao processo econômico, às mudanças tecnológicas e à universalização da informação, 
temos que, quanto à Literatura, é a sua recepção quem vai sinalizar as suas dimensões 
culturais em relação à globalização. O processo de tradução, editoração, divulgação, 
distribuição do livro vai viabilizar a mundialização do texto literário e levar o imaginário 
local para o universo global (por caminho virtual ou real). 
Pensar formas de valorização da Literatura, visando ao turismo, é estratégiade 
fazer interagir o global-local, evitando cair no aspecto homogeneizador do global. É 
realizar o comparativismo, em consideração da perspectiva antropológico-social da 
cultura, sem descurar da especificidade do valor estético da Literatura no contexto 
da diversidade cultural, do multiculturalismo e da globalização. 
Operar o turismo através da literatura implica uma compreensão do funcionamento do 
mercado cultural no contexto globalizado. É forma de valorização do discurso literário e do 
bem simbólico local, que habita o imaginário ficcional. O bem simbólico, presente na 
literatura, é consubstancializado para o turista através do patrimônio cultural arquitetônico 
(material) e do imaterial (mitos, lendas, folclore, danças, música, culinária, hábitos de um 
povo) e, ainda, do patrimônio natural. 
Nesse caso, por essa ótica, a cultura sobrepõe-se ao mercado pois é ela quem dará o 
“tom” da relação entre local e global, entre cultura e turismo. 
Nas ações de contexto local, o trato da literatura há que observar aspectos de reescrita, 
intertextualidade, identificação de bens simbólicos inscritos no texto ficcional (hábitos, 
costumes e tradições), através das estratégias narrativas singulares; fazer interagir várias 
disciplinas no corpo do texto literário: a história cultural e social, a antropologia, a crítica 
literária. 
Além de valorizar a literatura junto à comunidade local, prepara-a (à comunidade) para 
receber o turista, porque promove a reflexão sobre a sua própria identidade. 
No âmbito internacional, a ação da mídia - fruto de definições político-sociais locais – 
sinalizará aspectos (diferenças) da cultura local para o possível viajante e motivam-no 
para o turismo, a ele que, eventualmente, também já teve contacto com aquela cultura 
através da literatura. Assim, a atenção à maneira como os discursos políticos e a 
mensagem mediática e do marketing turístico veiculam os produtos culturais e as culturas 
locais, contribui para que a cultura se imponha em relação ao mercado. 
Embora a literatura esteja presa a uma linguagem, em relação à sua transnacionalidade, 
a tradução e a distribuição oportunizam a sua condição de competitividade em relação às 
demais expressões artísticas. A interdisciplinaridade é outro fator favorável, quando a 
interlocução de linguagens faz um texto literário ser relido pelo teatro, pelo cinema, etc. 
Dessa forma, a ultrapassagem da dicotomia de valor global/local, permite um olhar 
interativo, que valoriza o local, lançando mão das ferramentas do global, particularmente 
da mídia. 
A conciliação do estético com o turismo através da literatura faz ressaltar a importância da 
cidade como cenário ficcional e como “produção de localidade”. 
O estético é ressaltado pelo leitor-turista, quando, no processo da leitura, realiza-se a 
interação texto-leitor, em relação à “significância de experiências de leitura como parte da 
motivação do leitor para a ação subsequente”, que o tornará turista-leitor. Nesse mister, 
o foco na cidade é fundamental, exatamente por ela abrigar as culturas, as subjetividades, 
fomentadoras do trânsito de turistas. 
As formas urbanas de cidades (o local), que abrigam bens simbólicos, provocam 
imaginários transnacionais (o global). O trânsito de turistas promove a transculturação, 
num enriquecimento mútuo (turista e local). Aspectos das culturas antes vistos pela ótica 
eurocêntricos – do exótico - agora colocados pela ótica de valorização do diferente vêm a 
abrir novas perspectivas ao leitor e levá-lo a redimensionar a própria História. 
A Literatura funcionará como elemento de sustentabilidade, quando provocadora do 
fluxo entre as culturas - local e global - e do consumo cultural pelos turistas (globais) que 
buscam o diferente (local). Isto porque, ao ser lida em âmbito global (considerada a sua 
divulgação e distribuição), desencadeia a motivação para do leitor, que reconstrói a 
motivação porque, consideradas a sua situação histórica e social e assegurando uma 
visão da cultura não corrompida pelo interesse econômico e utilizando as ferramentas da 
tecnologia global para informar o leitor sobre a cultura local. 
É estratégico lançar mão dos recursos instaurados pela lógica do mercado global, onde a 
mídia e o marketing ocupam lugar singular e, necessariamente, vão atingir a leitores de 
uma esfera internacional e interferir na sua motivação para, como nos resultados da sua 
ação, quando, depois, ele passa a turista - usufruído dos bens simbólicos e consumidor 
das mercadorias. 
Pós-colonialismo e inter-relações afro-latino-americanas 
Tendo em conta os laços linguísticos que unem os países da América Latina, tomando a 
Literatura como base para a discussão, é possível considerar a diferença cultural de cada 
um desses países como elemento de interesse provocador de ações para o turismo, 
visando ao desenvolvimento. Em relação a esse laço da língua, na comunidade de países 
de Língua Portuguesa, é comum a evocação do verso de Fernando Pessoa: Minha pátria 
é a Língua Portuguesa. 
Daí a sugestão de alternativas de inter-relações entre os países, potencializando a ideia 
do laço linguístico, através da Literatura. 
As questões de nacionalismo e de identidade nacional, hoje reconceitualizados, estão 
presentes nos vários discursos culturais e nas discussões sobre pós-colonialismo. 
Nos países da América Latina, a condição pós-colonial acentua essas questões. 
Ressaltadas a hibridização cultural e uma postura de resistência à globalização, temos 
que a diferença se faz ainda em relação à cultura do ex/colonizador por força da 
descentralização das identidades. Tal reflexão sustenta-se no entendimento de nação, 
não mais como uma entidade política, mas enquanto “entidade simbólica”, como um 
sistema de representação cultural. As culturas nacionais constroem identidades ao 
produzirem símbolos e sentidos com os quais nos identificamos e que estão contidos nas 
memórias contadas e nas imagens criadas sobre uma nação. 
Se a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou 
representado, temos que a transição de identidade, ocasionada pelas diferentes 
interpelações do momento histórico, fortalece o aspecto político da identidade dos 
povos pós-colonizados. 
A cultura é aqui entendida no seu sentido largo, que não esbarra na visão clássica 
(herança de tradições e costumes), mas se alimenta também das vivências; melhor 
dizendo, que acrescenta vivências à herança. Por isso é que pensar cultura provoca 
pensar a identidade cultural, composta de múltiplas camadas e entendida como 
intersecção de múltiplas influências que se moldam por um senso de pertinência. Vale 
dizer, como observa Homi Bhabha, que a cultura como estratégia de sobrevivência é 
tanto transnacional como tradutória. Ela é transnacional porque os discursos pós-coloniais 
contemporâneos estão enraizados em histórias específicas de deslocamento cultural [...], 
é tradutória porque essas histórias espaciais de deslocamento – agora acompanhadas 
pelas ambições territoriais das tecnologias globais de mídia - tornam a questão de como a 
cultura significa, ou o que é significado por cultura, um assunto bastante complexo. 
Para exemplificação desse raciocínio é destacada a Região Sul-baiana do Brasil e o seu 
potencial turístico, marcado por uma cultura singular, de excepcionais peculiaridades no 
panorama sociocultural do país. O forte e significativo componente histórico que marca a 
compreensão da cultura dessa Região é imprescindível para a percepção cultural do seu 
presente, não só no que diz respeito à sua singularidade nacional de berço do Brasil 
(considerada a articulação das culturas indígena, branca e negra), como à importância da 
nação brasileira enquanto expressão em Língua Portuguesa. Portanto, a 
excepcionalidade cultural dessa Região faz com que se constitua em manancial relevante 
para as discussões identitárias locais e a potencializacomo expressão cultural de atração 
turística nacional e internacional. Tais observações se acrescentam, quando é levada em 
conta a sua singularidade contextual de região encravada na Mata Atlântica 
remanescente, num litoral de excepcional beleza. Uma região na qual o meio-ambiente, a 
cultura, a história constitui-se atração incontestável para o turismo, devido aos aspectos 
culturais únicos. Nesse singular panorama cultural (propício para as reflexões sobre a 
cultura produzida na articulação de diferenças culturais), cabe acrescentar e ressaltar a 
sua rica e inquestionável literatura. 
Para citar um exemplo, é sabido que Jorge Amado ultrapassa fronteiras nacionais e 
ocupa o mundo com a sua obra. Os livros Cacau, Terras do Sem-Fim, Gabriela Cravo e 
Canela, São Jorge dos Ilhéus, Tocaia Grande, por vieses diferentes, fazem povoar o 
imaginário de leitores de imagens das terras do Cacau da Bahia, sua cultura, sua gente. 
Assim, se a obra amadiana tem vários momentos e fases, o seu leitor caminha com elas. 
Primeiro, sob um foco neo/realista, que concretiza sentidos centrados na problemática 
social, na relação de classe; depois, atentos ao relato fácil e agradável do contador, a 
movimentação da cidade de Ilhéus, a sua sociedade, os seus costumes; a seguir, 
buscando, na obra, o entendimento da cultura, das questões étnicas, da história e 
formação da nação grapiúna. 
Devido ao alcance da recepção da sua obra, Jorge Amado ganha leitores de múltiplas 
nacionalidades que, estando em locais os mais diversos, resolvem, um dia visitar a cidade 
de Ilhéus, apresentada nas páginas dos vários livros da saga cacaueira. 
As possíveis estratégias provocadoras de sustentabilidade através do Turismo implicam 
no desenvolvimento de políticas valorizadoras de ações culturais. Ações podem ser 
desencadeadas a partir de articulações realizadas de ações locais e de fora para dentro 
(entre os países). No primeiro caso, ações locais desencadearão programas para a 
recepção desses turistas, acionando segmentos sociais, através da promoção de formas 
de sustentabilidade, relacionadas a comércio de artesanato, a visitação de museus e 
sítios históricos, a formas de divulgação das representações culturais locais, seja através 
do teatro, da literatura, da arte visual, etc. Afora estratégias mais simples (a 
comercialização de livros, telas, esculturas, dentre outros), empreendimentos mais 
ousados – por parte do poder público e investidores privados – poderão ser garantidores 
da sustentabilidade do turismo. 
No segundo caso, inter-relações literárias poderão desencadear realizações de trabalhos 
culturais de divulgação. Para isso, deverão ser celebrados convênios, parcerias e 
intercâmbios em instituições culturais de países de expressão em Língua Portuguesa e 
em Língua Espanhola. A intensificação desses procedimentos poderá contribuir para 
gerar um turismo cultural sustentável para a América Latina, na medida em que projetos 
de intercâmbio, por exemplo, promovam a intensidade do fluxo de turistas, turistas esses 
interessados na história, na literatura, na cultura local: interessados na diferença Latino-
americana. 
Diversidade cultural e desenvolvimento sustentável - por uma política valorizadora 
dos bens simbólicos da América Latina. 
O fenômeno transnacional faz com que cruzamentos de fronteiras operem mudanças nas 
culturas através dos processos de transculturação. Daí a imprescindibilidade de políticas 
culturais bem traçadas e respeitadoras dos valores locais, a fim de salvaguardar o bem 
cultural do consumo depredador. 
Para isso, torna-se fundamental atentar para a relação entre produtos culturais e 
definições políticas em esferas locais e nacionais, visando a um foco internacional. Como 
observa Canclini, em um processo de integração transnacional, a reivindicação do público 
não pode ser uma tarefa para ser desenvolvida apenas dentro de cada nação. As 
macroempresas que reordenaram o mercado de acordo com os princípios de 
administração global criaram uma espécie de “sociedade civil mundial” de que são 
protagonistas. 
No entanto, o resultado das ações integrativas deverá ser assegurado, por meio da 
implementação de políticas culturais, em favor da sustentabilidade dos valores regionais. 
Os passados históricos, marcados por uma condição análoga aos países pós-colonizados 
da América Latina e as singularidades de cada nação no que diz respeito às suas 
respectivas expressões culturais constituem-se elementos que justificam acreditar numa 
“negociação” do local com o global, “negociação” essa provocadora da comunicação, do 
trânsito de pessoas, isto é: acionadoras de ações para o turismo. 
Se a Literatura veicula imagens urbanas – paisagens locais, costumes, mitos, danças, 
comida típica, música – esses bens simbólicos de culturas singulares constituem-se 
referentes para o leitor de outras culturas, outras cidades. 
Enquanto elemento de interação entre a cultura e o turismo, as cidades – que abrigam os 
patrimônios e povoam o imaginário da ficção – constituem-se o elemento que motiva o 
trânsito do turista, e é onde ocorre a transculturação (turista/ morador). Movido pelo 
imaginário ficcionalizado no texto literário, essa clientela específica – o leitor-turista – vai 
interagir e, simbolicamente, recriar a cidade. Dessa forma, identidades diferentes são 
observadas por campos de relações do “bloco cultural” (questões de pós-colonização, 
proximidade espacial, relações temporais), justificando ações conjuntas, fortalecedoras do 
espaço Latino-americano. 
Mecanismos devem ser articulados a fim de que a neutralização das barreiras nacionais 
seja potencializada favoravelmente às expressões culturais locais, promovendo a ordem 
econômica e política através da integração e intercâmbio. Isto porque, como é óbvio, nem 
a comunidade nem o indivíduo podem sustentar sozinhos, um encaminhamento de tal 
monta. Se a cultura promove o turismo, ela deve ser preservada através de políticas 
públicas, definidas em conformidade com as representações sociais, através de 
planejamento participativo. 
Integração e intercâmbio justificam, portanto, um bloco propositor de um turismo 
intracontinental, valorizador da diferença cultural entre países de culturas próximas, nas 
quais as fronteiras nacionais ficam ultrapassadas politicamente e dimensionadas em 
perspectiva cultural. 
A questão é garantir políticas que busquem potencializar as singularidades. A 
ultrapassagem da concepção de fronteira (do político para simbólico) assegurará pontos 
de interação entre os povos através do intercâmbio, da migração, da hibridação 
linguística, da literatura. 
Nestes tempos, as políticas de inclusão podem ser interpretadas como indicativas da 
necessidade de ações culturais para um turismo que vise ao fortalecimento de um bloco 
cultural latino-americano frente ao mundo. Nesse caso, há a imprescindibilidade de um 
eficaz processo de integração que considere a região como um espaço de cruzamento de 
identidades, de mesclas; que reconheça o processo de reelaboração das identidades 
(dinâmicas e múltiplas). 
Observar como a apropriação e a reelaboração do consumo cultural pelo turismo é 
articulada no âmbito regional e os impactos que tais ações provocam nas identidades 
locais. A evidência do processo de fragmentação de identidades paralelo ao processo de 
globalização, ainda sinaliza a necessidade de considerar ações de uma perspectiva sócio 
comunicacional de identidade, ações essas que contribuam para a sua reformulação, nos 
espaços sociais, inclusive no espaço massmediático. 
A Literatura, enquanto elo estético e simbólico contribui para que laços tempos-espaciais 
justifiquem ações de turismo. A política, encaminhada nesse entendimento, assegurará a 
valorização do estético, a sustentabilidade da cultura e promoverá o desenvolvimento das 
comunidades. 
 
Aula 15: Turismo e patrimônio histórico cultural em SãoJoão Del Rei/MG 
COMO ESTA AULA FALA SOBRE O TURISMO EM UMA DETERMINADA REGIÃO NÃO 
A DIGITEI. OBS: MAS ANEXE ESTA AULA AO RESUMO SE DESEJAR. 
 
Aula 16: Patrimônio Gastronômico, Patrimônio Turístico: uma reflexão introdutória 
sobre a valorização das comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no 
Brasil 
O turismo ganhou destaque não apenas sob o ponto de vista da iniciativa privada, mas 
também nos âmbitos da administração pública e da discussão acadêmica. 
Alimentação, cultura e identidade 
Como alerta o historiador Carlos Roberto Antunes dos SANTOS “não é suficiente que 
uma coisa seja comestível, para que efetivamente seja consumida. É necessária uma 
série de condicionamentos como o biológico, o psicológico, o cultural e o social para que 
se dê um passo”. Como observa o antropólogo Roberto DA MATTA nem todo alimento 
(considerado aquilo que pode nos fornecer nutrientes) pode se transformar em “comida”, 
por não fazer parte dos nossos hábitos: A “comida” é o alimento que vai ser ingerido. Só é 
“comida” aquilo que é aceito socialmente e culturalmente dentro de um determinado grupo 
de indivíduos. Estes elegem o que comer, quando, como, onde e com quem, dependendo 
de inúmeros fatores, como crenças, valores sociais, cultura, costumes, etc.. 
Bonin e Rolim - Argumentam que “os hábitos alimentares se traduzem na forma de 
seleção, preparo e ingestão de alimentos, que não são o espelho, mas se constituem na 
própria imagem da sociedade”, salientando a íntima relação que se estabelece entre a 
alimentação e a cultura de uma sociedade. A partir desta contribuição, pode-se observar 
que a própria ideia de gosto alimentar já vem permeada pela fusão do biológico com o 
cultural. 
O gosto alimentar extrapola o domínio do aparelho sensorial humano e se aproxima da 
ideia de gosto defendida por BOURDIEU, para quem o gosto caracteriza uma propensão 
e aptidão à apropriação material e simbólica de uma determinada categoria de objetos ou 
práticas classificadas e classificadoras, constituindo a fórmula generativa de um estilo de 
vida. Como já foi indicado anteriormente, na fusão do orgânico com o cultural o gosto 
alimentar caracteriza a preferência por determinadas iguarias como sendo, mais do que 
um exercício do paladar individual, uma expressão do arcabouço cultural que orienta as 
escolhas individuais. 
Observa-se que a abrangência da relação alimentação/cultura não se restringe aos 
processos relacionados com a manipulação da iguaria a ser digerida, mas se estende aos 
modos à mesa, bem como aos locais e às maneiras com que a degustação ocorre, 
fazendo com que o complexo fenômeno da alimentação humana tenha marcas de 
mudanças sociais, econômicas e tecnológicas. 
Rolim - afirma que, se as escolhas alimentares são incorporadas ao processo de 
desenvolvimento que as sociedades passam, os hábitos alimentares terminam por 
constituir “um elemento bastante importante da identidade social de determinados grupos 
de indivíduos que, por isso mesmo, ocupam determinados espaços sociais e expressam 
determinados estilos de vida”. Se no âmbito da alimentação cotidiana alimentos 
tradicionais convivem com inovações gastronômicas (de ordem tecnológica, de mistura de 
sabores provenientes de outras localidades, de popularização de receitas estrangeiras), a 
maneira com que tais inovações são incorporadas merece destaque, bem como a 
existência de determinadas permanências. 
A denominação prato típico designa uma iguaria gastronômica tradicionalmente 
preparada e degustada em uma região, que possui ligação com a história do grupo que a 
degusta e integra um panorama cultural que extrapola o prato em si. Esta iguaria, por 
reforçar a identidade de uma localidade e de seu povo, se torna muitas vezes uma 
espécie de insígnia local, fato que ganha importância dentro do contexto turístico. 
O interesse dos visitantes pela comida do outro – do visitado – é uma constante, e pode 
também ser justificado pelas palavras de MINTZ, que ressalta: o comportamento relativo à 
comida liga-se diretamente ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social, e isso 
parece valer para todos os seres humanos. Reagimos aos hábitos alimentares de outras 
pessoas, quem quer que sejam elas, da mesma forma que elas reagem aos nossos. 
Muitos municípios, ansiosos por incrementar suas respectivas ofertas, terminam por 
oferecer aos visitantes pratos criados recentemente, sem nenhuma ligação cultural, como 
sendo pratos tradicionais. Ou ainda, como observa GIARD, terminam por oferecer 
versões adaptadas de receitas tradicionais, oferecidas de forma completamente 
desconectada de seus sentidos originais: 
No fim das contas cada cozinha regional perde sua coerência interna, aquele espírito de 
economia cuja engenhosidade inventiva e rigor constituíram sua força; em sua vez e seu 
lugar, o que resta é apenas uma sucessão de “pratos típicos” cuja origem e função já não 
temos possibilidade de compreender, como aqueles lugares pitorescos que legiões de 
turistas percorrem, mas que não podem conhecê-lo pelo o que foram. 
Diante destas distorções, que têm se tornado cada vez mais populares, é imprescindível 
retomar a relevância da gastronomia como atrativo turístico, justamente por se acreditar, 
como argumenta REINHARDT que “o alimento é fonte de informações preciosas. Através 
do alimento, podemos identificar uma sociedade, uma cultura, uma religião, um estilo de 
vida, uma classe social, um acontecimento ou uma época”. 
Do reconhecimento da gastronomia e seus saberes como patrimônio cultural 
A UNESCO concebe como sendo manifestações de Patrimônio Cultural Imaterial as 
tradições, o folclore, os saberes, as técnicas, as línguas, as festas diversas outros 
aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e 
modificados ao longo do tempo. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em 
geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu 
ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de 
identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade 
cultural e à criatividade humana. 
No Brasil, o órgão responsável pela preservar o patrimônio histórico e artístico é o IPHAN 
(Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A atuação do IPHAN se dá através 
da realização de inventários e diagnósticos de avaliação do patrimônio e de aspectos a 
ele relacionados, estudos estes que fundamentam a realização dos tombamentos, a 
regulamentação das áreas tombadas e do entorno, os registros e os planos de ação 
necessários. 
Os bens culturais materiais (que ainda são divididos em duas categorias: imóvel e móvel) 
são classificados de acordo com suas características em quatro livros do Tombo: 1) Livro 
do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; 2) Livro do Tombo Histórico; 3) Livro 
do Tombo das Belas Artes; e 4) Livro das Artes Aplicadas. 
Os bens materiais têm como objetivo viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, 
salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural. Este programa 
caracteriza-se como uma ação de fomento que busca estabelecer parcerias com 
instituições dos governos federal, estadual e municipal, universidades, organizações não 
governamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura, 
à pesquisa e ao financiamento. 
Para que seja realizado o registro de um bem cultural de natureza imaterial, alguns 
requisitos precisam ser preenchidos, dentre eles a apresentação na solicitação de 
abertura do processo de uma manifestação formal de anuência com o processo de 
registro por parte da comunidade envolvida, além do cumprimento das etapas de 
inventariação e de análise realizadas pelo corpo técnico do IPHAN. Os bens que recebem 
parecer favorável para o registro são agrupados por categoria e registrados emlivros, 
classificados em: Livro de Registro dos Saberes (para conhecimentos e modos de fazer 
enraizados no cotidiano das comunidades); Livro de Registro de Celebrações (para os 
rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade, entretenimento e outras 
práticas da vida social); Livro de Registro dos Lugares (para mercados, feiras, santuários, 
praças onde são concentradas ou reproduzidas práticas culturais coletivas). 
Dentre os bens já registrados como Patrimônio Imaterial, pode-se citar a Arte Kusiwa dos 
Índios Wajãpi, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano; o Círio de Nossa Senhora de 
Nazaré, a Viola de cocho e o Jongo, etc. 
O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro bem cultural inscrito no Livro de 
Registro dos Saberes, em 20 de dezembro de 2002. A solicitação do registro foi feita pela 
Associação das Paneleiras de Goiabeiras e pela Secretaria Municipal de Cultura de 
Vitória, Espírito Santo. De acordo com o Livro de Registro de Saberes (IPHAN), a 
fabricação artesanal de panelas de barro em Goiabeiras (também conhecido como 
Goiabeiras Velha), bairro de Vitória, Capital do Espírito Santo, é uma atividade 
predominantemente feminina e constitui um saber repassado de mãe para filha por 
gerações sucessivas, constituindo-se também no meio de vida de mais de 120 famílias. 
As panelas de Goiabeiras são utensílios indispensáveis no preparo de peixes e mariscos, 
especialmente para preparar e servir a Moqueca Capixaba, uma referência obrigatória da 
culinária do Espírito Santo e um símbolo da identidade cultural regional. 
O mesmo documento descreve que as panelas se constituem de produtos de cerâmica de 
origem indígena (a técnica utilizada é reconhecida como legado cultural Tupiguarani e 
Una, com um número maior de elementos identificados com a tradição Una) e que tais 
utensílios continuam sendo modelados manualmente com o auxílio de ferramentas 
rudimentares (como a cuia e a vassourinha de muxinga, uma espécie vegetal da região). 
Dentre as atividades que compõem o Ofício das Paneleiras constam: a extração da argila; 
preparação das bolas e transporte até o local de trabalho; etc. 
Deve-se mencionar também que o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial também 
prevê a realização de Ações de Salvaguarda, que visam apoiar a continuidade de um bem 
cultural de natureza imaterial de modo sustentável, atuando no sentido da melhoria das 
condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua 
existência. O Plano de Salvaguarda do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras envolve 
ações voltadas para a organização e a capacitação do grupo de paneleiras, além de 
ações relativas à sustentabilidade ambiental deste ofício, tendo em vista a utilização de 
insumos ambientais escassos na produção das mesmas. 
De acordo com o Livro de Registro dos Saberes (IPHAN), o Ofício das Baianas de 
Acarajé, em Salvador, Bahia, consiste em uma prática tradicional de produção e venda 
em tabuleiro das chamadas comidas de baiana ou comidas de azeite, em que se destaca 
o acarajé, um bolinho de feijão fradinho, frito no azeite de dendê. O preparo do acarajé foi 
levado para a região pelas escravas negras no período colonial e tem sido reproduzido no 
Brasil desde então, tendo na transmissão oral sua principal forma de transmissão de 
receitas. De origem sagrada, associada ao culto de divindades do candomblé, esta 
comida popularizou-se e passou a marcar toda a sociedade baiana como um valor 
alimentar integrado à culinária regional. 
Deve-se mencionar que os dois Ofícios aqui citados obtiveram seus registros depois que 
amplas pesquisas atestaram a importância cultural das duas manifestações em relação 
aos grupos aos quais estão vinculadas. A panela, diretamente relacionado com os pratos 
tradicionais capixabas, encerra em sua produção uma gama bastante rica de saberes e 
práticas igualmente tradicionais. A produção do acarajé também envolve elementos que 
transcendem o bom paladar proporcionado pela iguaria. Trata-se de dois bens culturais 
de caráter gastronômico que possuem importâncias e significados regionais bastante 
arraigados. 
Confirmando a tendência de valorização do patrimônio gastronômico nacional, além dos 
registros concretizados (Ofício das Paneleiras e das Baianas), se encontram em processo 
de registro a Empada ou Empadão de Goiás – GO, o Arroz-de-cuxá – MA e os queijos 
artesanais de Minas – MG. 
Considerações finais - Um olhar turístico sobre a questão 
A atividade turística caracteriza-se como uma atividade socioeconômica e cultural 
que possui no elemento humano um elemento indispensável. Não bastasse o fluxo 
turístico ser composto por pessoas e o staff receptivo (pensando aqui nos 
responsáveis pelo planejamento e operacionalização dos produtos e serviços 
turísticos) ter a mesma composição, não se pode esquecer o fato de que o turismo 
trabalha com desejos, necessidades, motivações e expectativas do indivíduo 
turista. 
Seja em busca de uma complementação do seu cotidiano, seja em busca de algo que lhe 
é desconhecido, o turista cultural muitas vezes se baseia em seu próprio contexto cultural, 
em seus próprios valores para olhar o “diferente”. Buscando uma experiência turística que 
lhe acrescente algo (conhecimentos ou simplesmente emoções), este turista muitas vezes 
deseja exercitar, mais do que o olhar para o outro, uma experiência do outro. 
A gastronomia, em especial a gastronomia típica, merece destaque não apenas por 
constituir um bem cultural que deve ser valorizado como os demais, mas principalmente – 
aqui sob a ótica do turismo – por proporcionar um importante ponto de contato do turista 
com a realidade visitada, proporcionando, no sentido figurado e literal, uma degustação 
dos ritos, valores e tradições locais. 
Vale destacar a relevância das iniciativas do IPHAN que envolvem a pesquisa e a 
inventariação de alguns saberes gastronômicos de nosso país, principalmente quando se 
pode atestar a proliferação de pratos típicos feitos “sob encomenda” para a atividade 
turística em vários destinos do país, produtos estes destituídos de significado e de 
conteúdo cultural que são empurrados para os turistas como uma experiência genuína. 
Fica a contribuição para que nós, turismólogos, pensemos a gastronomia de uma outra 
forma: não como um conhecimento que se encerra no preparo de um prato ou na 
confecção de um utensílio, mas sim como algo que agrega, por trás daquele produto final, 
um universo simbólico que envolve conhecimentos, práticas e tradições das mais 
diversas. 
 
Aula 17: TURISMO E ETNICIDADE 
Turismo indica movimento de pessoas que não estão a trabalho em contextos diferentes 
do de origem, seja este o lar, a cidade ou o país. Trata-se, geralmente, de visitação a 
lugares onde poderão ser desempenhadas as mais variadas formas de atividades práticas 
e/ou subjetivas desde que não o trabalho. 
Pode-se afirmar somente que o turismo em larga escala emergiu no mundo ocidental no 
final do século XIX e início do XX. 
As origens do turismo são encontradas, além disso, em condições de alta produtividade, 
especialmente na sociedade industrial. Mas é com as transformações socioeconômicas 
experimentadas depois da II Guerra Mundial que o turismo se desenvolve como uma 
manifestação do consumo de massa. 
Nas ciências sociais, os estudos sobre turismo começam a se fixar entre os anos 60 e 70, 
quando aparece um número significativo de trabalhos sobre turismo, com relevo especial 
para a obra de Boorstin - que destaca o aspecto do simulacro no âmbito da atividade 
turística. 
Se turismo é um fenômeno muito complexo, não só por se apresentar quantitativamente 
com uma das maiores (se não a maior) indústrias do mundo, mas principalmente por uma 
enorme diversidade de objetivos programáticos, além dos aspectos subjetivos que 
perpassam todos os relacionamentos envolvidos nas suas múltiplas facetas, a 
antropologia do turismo

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