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CIÊNCIAS HUMANAS
E SUAS TECNOLOGIAS
Nossa Equipe
Título da obra: 
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
• Matriz de Referência de Ciências Humanas e suas Tecnologias
Autora
Jaqueline Lima
Co-Autores
Ananda veduvoto
Silvia Helena 
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Diagramação/Editoração Eletrônica
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Thais Regis
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Capa
Joel Ferreira dos Santos
Apresentação
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USE O CÓDIGO
Sumário
MATRIZ DE REFERÊNCIA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Competência de área 1 –Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. ...........01
H1 –Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da 
cultura .......................................................................................................................................................................01
H2 –Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas ...............................................................03
H3 –Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos ....................................05
H4 –Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da 
cultura ..............................................................................................................................................................08
H5 –Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em 
diferentes sociedades .............................................................................................................................................11
Competência de área 2 –Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das 
relações socioeconômicas e culturais de poder. ............................................................................................17
H6 –Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos .................17
H7 –Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações ...................24
H8 –Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no 
enfrentamento de problemas de ordem econômico-social ...........................................................................27
H9 –Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em 
escala local, regional ou mundial ........................................................................................................................32
H10 –Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação 
da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica .........................................................34
Competência de área 3 –Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas 
e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. ............................40
H11 –Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço ..........................................40
H12 –Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades ..................................45
H13 –Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em 
processos de disputa pelo poder .........................................................................................................................50
H14 –Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação 
ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas ........57
H15 –Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da 
história .......................................................................................................................................................................63
Competência de área 4 –Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos 
processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. ..................................69
H16 –Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da 
vida social .................................................................................................................................................................69
H17 –Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da 
produção ..................................................................................................................................................................71
H18 –Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações 
socioespaciais ..........................................................................................................................................................80
H19 –Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso 
e apropriação dos espaços rural e urbano ........................................................................................................89
H20 –Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias 
à vida social e ao mundo do trabalho ................................................................................................................90
Sumário
Competência de área 5 –Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os 
fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na 
sociedade. ............................................................................................................................................................ 96
H21 –Identificar o papel dos meios de comunicaçãona construção da vida social ................................ 96
H22 –Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas 
políticas públicas .................................................................................................................................................. 104
H23 –Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades ...................... 108
H24 –Relacionarcidadania e democracia na organização das sociedades ............................................ 115
H25 –Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social ...................................................... 119
Competência de área 6 –Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no 
espaço em diferentes contextos históricos e geográficos. ......................................................................... 124
H26 –Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida 
humana com a paisagem .................................................................................................................................. 124
H27 –Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração 
aspectos históricos e/ou geográficos ............................................................................................................... 129
H28 –Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos 
histórico-geográficos ............................................................................................................................................ 135
H29 –Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os 
com as mudanças provocadas pelas ações humanas ................................................................................ 140
H30 –Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes 
escalas. ...................................................................................................................................................... 150
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
1
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
1
Fonte histórica, documento, registro, vestígio são termos utilizados para definir tudo aquilo produzido pela humanidade no tempo e no 
espaço; a herança material e imaterial deixada pe-
los antepassados que serve de base para a constru-
ção do conhecimento histórico. O termo mais clás-
sico para conceituar a fonte histórica é documento. 
Palavra, no entanto, que está atrelada a uma gama 
de ideias preconcebidas, significando não apenas 
o registro escrito, mas principalmente o registro ofi-
cial. Vestígio é a palavra atualmente preferida pelos 
historiadores que defendem que a fonte histórica é 
mais do que o documento oficial: que os mitos, a 
fala, o cinema, a literatura são produtos humanos e 
tornam-se fontes para o conhecimento da história.
Em linhas gerais, hoje a ideia que temos acerca 
de fonte histórica está dividida em três categorias: 
fontes escritas, fontes materiais não-escritas e fontes 
não-materiais (ou imateriais). Para entender melhor 
essas três categorias, aprofundaremos essa noção 
de fonte histórica a partir de alguns exemplos da-
dos aqui. Não obstante, é importante ressalvar que 
essas três categorias são uma escolha abrangente 
para tornar mais fácil a explicação, pois existem ou-
tras formas de se classificar as fontes, por exemplo: 
fontes visuais, fontes audiovisuais, fontes sonoras, 
fontes escritas, fontes impressas, fontes digitais, etc.
a) Fontes escritas: 
As fontes escritas ainda são as mais comuns no 
estudo da História, e de certa forma as com mais 
clareza de entendimento, pois as fontes materiais 
não-escritas e as fontes imateriais cobram do histo-
riador ou do pesquisador, um nível mais apurado de 
atenção e abstração, elas são mais subjetivas, pois 
em alguns casos é preciso ter uma capacidade de 
raciocínio de se enxergar além do visível, ou seja, 
ver para além do que esta palpável ou impalpável 
diante de si. Diferente da ideia de que os documen-
tos “contam a História” ou são os “pedaços da Histó-
ria”, não é o documento que se faz por si só ser uma 
fonte histórica, mas a validade e importância que o 
historiador concede a ele. 
b) Fontes materiais não-escritas: 
As fontes materiais não-escritas referem-se a 
uma vasta gama de objetos, utensílios, ferramen-
tas, armas, roupas, máquinas, veículos, instrumentos, 
construções, pinturas, esculturas, espaços artificiais e 
naturais, fenômenos naturais, o corpo humano, ani-
mais, plantas, alimentos, etc. Essas já vinham sendo 
pesquisadas desde pelo menos o período Renascen-
tista, principalmente em referência ao trabalho dos 
antiquários em se estudar suas coleções de objetos 
em seus gabinetes de curiosidade, a fim de descobrir 
a história por trás deles. 
Embora os materiais não-escritas tenham levado 
alguns estudiosos a desenvolverem novas formas de 
pesquisar a História e a se repensar a ideia de fonte 
histórica, até meados do século XX, a ideia tradicio-
nal de “documento histórico”, no sentido de docu-
mento como o texto escrito, ainda era predominante 
na historiografia. Com o passar dos anos os historia-
dores passaram a usar fontes materiais não-escritas 
para realizar seus trabalhos. 
c) Fontes imateriais: 
Basicamente define-se fonte não-material aquilo 
que não é tangível, aquilo que não está registrado 
num suporte físico (papel, pergaminho, madeira, pe-
dra, argila, meio digital, etc.), mas que se transmite 
através da cultura de forma oral, corporal e simbóli-
ca. Festas, ritos, cultos, celebrações, música (aqui no 
sentido de melodia), dança, teatro, ofícios, história 
oral, costumes, hábitos, lendas, saberes, folclore, mi-
tologia, etc., tudo que esteja relacionado à vida coti-
diana de uma comunidade, de uma sociedade, que 
represente aspectos sociais e culturais de um povo.
Identificação, valorização e preservação do pa-
trimônio histórico e cultural 
O Patrimônio Histórico e Cultural constituído por 
bens materiais e imateriais impregnados de um valor 
simbólico para a comunidade representa a memó-
ria que foi valorizada e materializada pelos poderes 
constituídos ao longo do tempo. A vivência de um 
período histórico marcado por uma legislação de-
mocrática garante que novas perspectivas possam 
ser construídas em vista da rememorização de uma 
história mais significativa especialmente de quem e 
para quem historicamente foi deixado de lado. Além 
COMPETÊNCIA DE ÁREA 1 – COMPREENDER OS ELEMENTOS CULTURAIS 
QUE CONSTITUEM AS IDENTIDADES.
 H1 – INTERPRETAR HISTORICAMENTE E/OU 
GEOGRAFICAMENTE FONTES DOCUMENTAIS ACERCA DE ASPECTOS DA CULTURA.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
2
disso, permite que a sociedade civil e os órgãos pú-
blicos na contemporaneidade possam desenvolver 
ações adequadas que fortaleçam a identificação, a 
valorização e a preservação da memória dos lugares 
e os lugares de memória, dentro desta nova perspec-
tiva histórica. 
As comunidades sempre deixam marcas no lugar 
onde vivem que identificam a sua história individual 
e coletiva materializando assim, nestes espaços, sua 
identidade, suas tradições e seus costumes. Nos lu-
gares estão “as marcas do local construídas no tem-
po”. Neste sentido, entende-se que todos os lugares 
trazem sinais peculiares do modo de ver e viver da 
população que habita ou habitou o local. 
Além dos lugares serem depositários da memó-
ria coletiva de um povo a memória coletiva de uma 
comunidade pode seridentificada também em ob-
jetos, festas, músicas, danças, práticas alternativas 
de medicina, técnicas, culinária e tantas outras re-
presentações que estão repletas de significação das 
mais variadas formas de vida que constituem as cul-
turas dos povos. 
Esse patrimônio, mesmo não sendo feitos de “pe-
dra e cal” também são memórias que podem servir 
como ponte entre as gerações. Um objeto, por exem-
plo, “guarda consigo uma história que é retomada 
com ele” e é um testemunho que funciona “como 
um transmissor de história” que é reativado com as 
lembranças que ele traz ao indivíduo ou sociedade. 
Portanto, o objeto “fala sempre de um lugar, seja ele 
qual for, porque está ligado à experiência dos sujei-
tos com e no mundo, posto que ele representa uma 
porção significativa da paisagem vivida. 
O termo patrimônio “pode ser entendido como 
um conjunto de bens, materiais ou não, direitos, 
ações, posse e tudo o mais que pertença a uma pes-
soa e seja suscetível de apreciação econômica”. As-
sim, a palavra patrimônio cultural está relacionada a 
um bem que pertence ao paterno, mas tão valioso 
que justifica sua herança. Por que alguns bens seriam 
considerados tão valiosos assim? Certamente por-
que neles está incutida a memória e a identidade de 
quem o deixa e de quem o herda. Desta forma ao 
passarem seus bens memoriais e identitários como le-
gado a outra geração, as pessoas podem manter-se 
como uma representação do que as caracterizam, 
mantendo aberto um canal de comunicação entre 
elas. Neste sentido se justificaria a necessidade de 
sua preservação. A trajetória histórica da construção 
do conceito Patrimônio Cultural, no Brasil está vincu-
lada a visão do patrimônio como um bem.
O decreto-lei que Getúlio Vargas assinou em 1937 
sobre o assunto vai utilizar este vocábulo. O decre-
to-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, além de 
criar o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional (SPHAN), definiu que patrimônio é o “conjunto 
de bens móveis e imóveis de interesse público” que 
possuam “excepcional valor arqueológico ou etno-
gráfico, bibliográfico ou artístico”. No Brasil “A atribui-
ção de valores aos bens segue a tradição européia, 
em que os patrimônios nacionais são constituídos a 
partir das categorias de história da arte”. Por conse-
quência, os tombamentos realizados pelo IPHAN nas 
primeiras décadas do século XX privilegiaram os mo-
numentos representativos da arte e da arquitetura 
colonial das camadas mais ricas da sociedade como 
fortificações militares, igrejas e conjuntos arquitetôni-
cos. Em geral guardamos os objetos e as construções 
ricas da sociedade. Guardaram-se os artefatos de 
exceção e perderam-se os bens culturais usuais e 
corriqueiros do povo. Esses bens diferenciados pre-
servados sempre podem levar a uma visão distorcida 
da memória coletiva, pois justamente por serem ex-
cepcionais não têm representatividade.
Esta política de proteção dos monumentos, por 
meio de tombamento do bem isolado, chamado de 
“pedra e cal”, de excepcional valor, perdurou até os 
anos de 1970 sendo esta visão ampliada considera-
velmente, somente a partir da Constituição Federal 
de 1988. Consta no artigo 216 que “Constituem patri-
mônio cultural brasileiro os bens de natureza material 
e imaterial, tomados individualmente ou em conjun-
to, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da socie-
dade brasileira, nos quais se incluem: as formas de ex-
pressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações 
científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, 
documentos, edificações e demais espaços destina-
dos às manifestações artístico-culturais; os conjuntos 
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artísti-
co, arqueológico, paleontológico, ecológico e cien-
tífico.” Percebe-se que o conceito de Patrimônio His-
tórico Cultural definido na nova Carta Constitucional 
foi ampliado consideravelmente. O texto carece de 
regulamentação para que possa permitir “uma políti-
ca pública de patrimônio que possibilite a gestão de-
mocrática”. A Educação Patrimonial poderia contri-
buir no sentido de provocar e ampliar a participação 
da comunidade na identificação, reconhecimento e 
preservação de seu patrimônio cultural.
O patrimônio cultural constitui uma herança his-
tórica, deixada pelas gerações anteriores, que cabe 
a todos preservar para que seja transmitida às ge-
rações vindouras. Por estabelecer uma relação de 
aproximação do indivíduo com o patrimônio, a Edu-
cação Patrimonial contribui para a formação de um 
cidadão consciente dos seus direitos e deveres, que 
compreenderá a importância da preservação dos 
bens culturais para a preservação da memória e da 
identidade de um povo ou nação e da necessidade 
da ação de proteger e escolher seus bens patrimo-
niais. Além de estabelecer uma relação de aproxi-
mação do indivíduo com o seu patrimônio, instigan-
do nele, quatro atitudes: a observação e a reflexão 
sobre o bem cultural; a manifestação das impressões 
sobre o mesmo; a capacidade de pesquisa e discus-
são sobre os resultados e a apropriação de um novo 
significado do bem para cada um que participa da 
proposta.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
3
A memória é a propriedade de conservar certas 
informações, propriedade que se refere a um con-
junto de funções psíquicas que permite ao indivíduo 
atualizar impressões ou informações passadas, ou re-
interpretadas como passadas. O estudo da memória 
passa da Psicologia à Neurofisiologia, com cada as-
pecto seu interessando a uma ciência diferente, sen-
do a memória social um dos meios fundamentais para 
se abordar os problemas do tempo e da História. 
A memória está nos próprios alicerces da Histó-
ria, confundindo-se com o documento, com o mo-
numento e com a oralidade. Mas só muito recente-
mente se tornou objeto de reflexão da historiografia. 
Só no fim da década de 1970 que os historiadores 
da Nova História começaram a trabalhar com a 
memória. Na Filosofia, na Sociologia, antropologia e 
principalmente na Psicanálise, no entanto, os estu-
dos sobre a memória individual e coletiva já estavam 
avançados. Foi o fundador da Psicanálise, e um dos 
ícones da modernidade, Sigmund Freud, quem no 
século XIX iniciou amplos debates em torno da me-
mória humana, trazendo à tona seu caráter seletivo: 
ou seja, o fato de que nos lembramos das coisas de 
forma parcial, a partir de estímulos externos, e esco-
lhemos lembranças. Freud distinguiu a memória de 
um simples repositório de lembranças: para ele, nos-
sa mente não é um museu. 
Nesse aspecto, ele remete a Platão, que já na 
Antiguidade apresentava a memória como um blo-
co de cera, onde nossas lembranças são impressas. 
Quando os historiadores começaram a se apossar 
da memória como objeto da História, o principal 
campo a trabalhá-la foi a História Oral. Nessa área, 
muitos estudiosos têm-se preocupado em perceber 
as formas da memória e como esta age sobre nossa 
compreensão do passado e do presente. há inclusive 
uma nítida distinção entre memória coletiva e me-
mória histórica: pois enquanto existe, segundo ele, 
uma História, existem muitas memórias. 
Existe uma memória individual que é aquela guar-
dada por um indivíduo e se refere as suas próprias 
vivências e experiências, mas que contém também 
aspectos da memória do grupo social onde ele se 
formou, isto é, onde esse indivíduo foi socializado.Há 
também aquilo que denominamos de memória cole-
tiva que é aquela formada pelos fatos e aspectos jul-
gados relevantes e que são guardados como memó-
ria oficial da sociedade mais ampla. Ela geralmente 
se expressa naquilo que chamamos de lugares da 
memória que são os monumentos, hinos oficiais, qua-
dros e obras literárias e artísticas que expressam a 
versão consolidada de um passadocoletivo de uma 
dada sociedade. 
Como contrapartida, ou outro lado da moeda, 
existem as memórias subterrâneas ou marginais que 
correspondem a versões sobre o passado dos grupos 
dominados de uma dada sociedade. Estas memó-
rias geralmente não estão monumentalizadas e nem 
gravadas em suportes concretos como textos, obras 
de arte e só se expressam quando conflitos sociais as 
evocam ou quando os pesquisadores que se utilizam 
do método biográfico ou da história oral criam as 
condições para que elas emerjam e possam então 
ser registradas, analisadas e passem então a fazer 
parte da memória coletiva de uma dada sociedade. 
Elas geralmente se encontram muito bem guardadas 
no âmago de famílias ou grupos sociais dominados 
nos quais são cuidadosamente passados de gera-
ção a geração. 
A forma de maior interesse para o historiador é a 
memória coletiva, composta pelas lembranças vivi-
das pelo indivíduo ou que Ihe foram repassadas, mas 
que não Ihe pertencem somente, e são entendidas 
como propriedade de uma comunidade, um grupo. 
O estudo histórico da memória coletiva começou 
a se desenvolver com a investigação oral. Esse tipo 
de memória tem algumas características bem es-
pecíficas: primeiro gira em torno quase sempre de 
lembranças do cotidiano do grupo, como enchen-
tes, boas safras ou safras ruins, quase nunca fazendo 
referências a acontecimentos históricos valorizados 
pela historiografia, e tende a idealizar o passado. 
Em segundo lugar, a memória coletiva fundamen-
ta a própria identidade do grupo ou comunidade, 
mas normalmente tende a se apegar a um aconte-
cimento considerado fundador, simplificando todo o 
restante do passado. Por outro lado, ela também sim-
plifica a noção de tempo, fazendo apenas grandes 
diferenciações entre o presente (“nossos dias”) e o 
passado (“antigamente’: por exemplo). Além disso, 
mais do que em datas, a memória coletiva se baseia 
em imagens e paisagens. O próprio esquecimento é 
também um aspecto relevante para a compreensão 
da memória de grupos e comunidades, pois muitas 
vezes é voluntário, indicando a vontade do grupo de 
ocultar determinados fatos. Assim, a memória coleti-
va reelabora constantemente os fatos.
 Nas sociedades sem escrita a atitude de lembrar 
é constante, e a memória coletiva confunde Histó-
ria e mito. Tais sociedades possuem especialistas em 
memória que têm o Importante papel de manter a 
coesão do grupo. Um exemplo pode ser visto nos 
griots da África Ocidental, cidadãos de países como 
Gâmbia, por exemplo. Os griots são especialistas res-
ponsáveis pela memória coletiva de suas tribos e co-
H2 –ANALISAR A PRODUÇÃO DA MEMÓRIA PELAS SOCIEDADES HUMANAS.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
4
munidades. Eles conhecem as crônicas de seu passado, sendo capazes de narrar fatos por até três dias sem 
se repetir. Quando os griots recitam a história ancestral de seu clã, a comunidade escuta com formalidade. 
Para datar os casamentos, o nascimento de filhos etc., os griots interligam esses fatos a acontecimentos 
como uma enchente. Tais mestres da narrativa são exemplos de como a tradição oral e a memória podem 
ser enriquecedoras para a História: ambas são vivas, emotivas e, segundo o africanista Ki- Zerbo, um museu 
vivo. 
Esses especialistas em memória das sociedades sem escrita, todavia, não decoram palavra por pa-
lavra. Pelo contrário, nessas sociedades a memória tem liberdade e possibilidades criativas, e é sempre 
reconstruída. A escrita por sua vez, transforma fundamentalmente a memória coletiva. No Ocidente, seu 
surgimento possibilitou o registro da História por meio de documentos. Para Leroi-Gouham, a memória es-
crita ganhou tal volume no século XIX que era impossível pedir que a memória individual recebesse esse 
conteúdo das bibliotecas. O que levou, no século XX, a uma revolução da memória, da qual fez parte a 
criação da memória eletrônica. 
 
Na sociedade ocidental atual, o ritmo acelerado do trabalho urbano somado a facilidade e rapidez 
dos meios de comunicação (criadas pelos constantes avanços tecnológicos) colocam o homem comum 
frente a uma quantidade avassaladora de informações. Tais fatos criam para o homem contemporâneo 
quase a obrigação de consumir a informação de forma acrítica, sem maior cuidado seletivo, perdendo-se 
portanto uma das mais importantes funções da memória humana – a capacidade seletiva – que é o PO-
DER de escolher aquilo que deve ser preservado, como lembrança importante e aqueles fatos e vivências 
que podem e devem ser descartados. A perda do exercício desse poder de seleção nas sociedades atuais 
constitui o fator fundamental para a formação do que os profissionais da informação chamam de socie-
dades do esquecimento. 
É verdade, nós não nos lembramos de tudo o que aconteceu ou que nos foi ensinado ao longo de 
nossa vida. Descartamos a maioria das experiências vivenciadas e só retemos aquelas que possuem signi-
ficado, isto é, são funcionais para nossa existência futura. Hoje, nessa virada de século que vivenciamos, 
acompanhando um movimento geral da sociedade ocidental, tem se explicitado uma forte necessidade 
de lembrar. Quando a outra face da moeda dos processos de mundialização. Quando se vive de maneira 
tão acelerada a ponto de sermos impedidos até de “sentir o tempo passar”, como se diz popularmente, 
projetos envolvendo a memória possibilita aos participantes dos mesmos, habitar esse tempo e vivê-lo ple-
namente, numa relação que pode ser criativa e transformadora. 
Assim, como vimos, a memória pode ser, ao mesmo tempo, subjetiva ou individual, porque se refere a 
experiências únicas vivenciadas ao nível do indivíduo, mas também social porque é coletiva, pois se baseia 
na cultura de um agrupamento social e em códigos que são aprendidos nos processos de socialização que 
se dão no âmago da sociedade.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
5
Ao conceito de cultura, podemos dizer que este 
é polissêmico e dinâmico e é um conceito social e 
histórico. Reflete o pensamento de grupos que se 
articulam com a sociedade num processo de com-
preensão e organização da mesma. O próprio con-
ceito de cultura é uma construção cultural de signifi-
cação e resignificação constante. 
As pesquisas realizadas em ciências humanas e 
sociais têm a cultura como uma de suas referências. 
O conceito de cultura constitui base na forma como 
o pesquisador irá ver e compreender o grupo ou a 
sociedade que pretende investigar. Para se estudar 
o homem e sua organização social, para compreen-
der as formas de ser e agir deste homem em socie-
dade é necessário definir o tipo de lente com a qual 
o observaremos que conceito de cultura constitui ou 
constituirá nosso entendimento e consequentemente 
a nossa forma de fazer pesquisa. Estes entendimentos 
configuram também à forma como as pessoas, em 
nosso caso o professor e os alunos darão sentido às 
ações desenvolvidas em ambiente escolar. 
A vida social não é, simplesmente, uma questão 
de objetos e fatos que ocorrem como fenômenos de 
um mundo natural: ela é, também, uma questão de 
ações e expressões significativas, de manifestações 
verbais, símbolos, textos e artefatos de vários tipos, e 
de sujeitos que se expressam através desses artefatos 
e que procuram entender a si mesmos e aos outros 
pela interpretação das expressões que produzem e 
recebem. 
A concepção de cultura, como um campo de 
significados no qual determinado grupo social com-
preende o mundo, se organiza e se comunica é uma 
entre as várias concepções que co-existem atual-
mente. 
O determinismo biológico e geográfico até iní-
cio do século XX eram as duas correntes teóricas 
que acreditavam que tanto as diferenças genéticas 
quanto asdiferenças do meio ambiente eram de-
terminantes das diferenças culturais. A diversidade 
cultural era explicada baseada principalmente nas 
ciências naturais, onde as formas de ser e agir de 
cada indivíduo estariam condicionadas ao seu apa-
rato biológico, portanto inatas, e as influências pre-
ponderantes do clima, altitude, latitude, do ambien-
te físico sobre o indivíduo. Através de estudos estas 
concepções foram mais tarde refutadas por alguns 
antropólogos, pois, os comportamentos são aprendi-
dos, transmitidos de alguém para alguém pela edu-
cação; e o homem não interage passivamente com 
a natureza, submetendo-se a todo instante. 
As diferenças existentes entre os homens, portan-
to, não podem ser explicadas em termos das limita-
ções que lhes são impostas pelo seu aparato bioló-
gico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualida-
de da espécie humana foi a de romper com suas 
próprias limitações: um animal frágil, provido de in-
significante força física, dominou toda a natureza e 
se transformou no mais temível dos predadores. Isto 
porque difere dos outros animais por ser o único que 
possui cultura. 
Cultura agregado ao de civilização, rompendo 
até então com as concepções deterministas. Para 
este etnólogo cultura e civilização são o todo com-
plexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, mo-
ral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou 
hábitos adquiridos pelo homem como membro de 
uma sociedade. 
Este conceito, que há muitos anos já vinha sendo 
gestado, caracterizou um marco na compreensão 
de cultura e nos estudos derivados dela. Cunhado 
como neutro possibilitaria se pensar toda a humani-
dade e que as diferenças culturais seriam os níveis 
a qual se encontrariam as sociedades e o homem 
no processo de evolução. Nesta perspectiva a cul-
tura se opunha a natureza, onde num processo de 
evolução as sociedades eram caracterizadas como 
selvagens, bárbaras e civilizadas. 
Por um lado, a uniformidade que tão largamen-
te permeia entre as civilizações pode ser atribuída, 
em grande parte, a uma uniformidade de ação de 
causas uniformes, enquanto, por outro lado, seus vá-
rios graus podem ser considerados como estágios de 
desenvolvimento ou evolução. 
Esta perspectiva preocupada com a igualdade 
existente na humanidade, entendendo-a como ten-
do a mesma origem e, portanto o mesmo destino 
traçou uma linha de evolução linear única das socie-
dades. Dos povos menos desenvolvidos, selvagens, 
aos mais desenvolvidos, os civilizados que naquele 
momento eram os europeus. 
Nesta perspectiva os estudos realizados preocu-
pavam-se em descobrir ou calcular em qual estágio 
de evolução determinada sociedade se encontra-
ria. Através da avaliação de alguns itens culturais, 
tais como religião, família, trabalho, governo, arqui-
tetura e outros, os pesquisadores classificavam as 
sociedades. Destaca-se que os pesquisadores neste 
período dispensavam a sua ida a campo, realiza-
vam suas análises sem ter contato direto com tais 
sociedades, sendo chamados posteriormente de et-
nógrafos de escritório.
H3 –ASSOCIAR AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS 
DO PRESENTE AOS SEUS PROCESSOS HISTÓRICOS.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
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Cultura está associada ao modo de vida, sendo 
ela o sistema simbólico que regula a forma de viver 
de determinado grupo de indivíduos. A cultura é 
condição essencial para a existência humana, pois 
organiza e controla os nossos comportamentos.
Nesta concepção, os estudos sobre a cultura não 
estariam preocupados em descobrir leis, em atribuir 
causas aos acontecimentos sociais, aos comporta-
mentos ou aos processos, mas sim em “ler” o texto, 
em interpretar a cultura e descrevê-la, à procura dos 
significados. 
A cultura consiste em estruturas de significado 
socialmente estabelecida” e estes significados se 
fazem através do comportamento humano que é 
visto como ação simbólica, uma ação que significa. 
O trabalho, tanto de pesquisa quanto de interven-
ção, nesta perspectiva deve considerar a estrutura 
de significados que estão presentes em relação ao 
seu contexto. “O que devemos indagar [nas ações 
e comportamentos] é qual a sua importância: o que 
está sendo transmitido com sua ocorrência e através 
de sua agência, seja ela um ridículo ou um desafio, 
uma ironia ou uma zanga, um deboche ou um or-
gulho” Desta forma, a cultura pode ser vista como 
um texto possível de ser lido, interpretado. Com-
preendida como um código, como um sistema de 
comunicação, seu caráter dinâmico é percebido 
pelas interpretações, significados, símbolos diante 
uma realidade permanentemente em mudanças ao 
mesmo tempo em que extremamente rica em sua 
diversidade. 
O trabalho de interpretação da cultura consiste 
em uma descrição densa, pois perante uma multipli-
cidade de estruturas conceptuais complexas, muitas 
delas sobrepostas ou amarradas umas às outras, que 
são simultaneamente estranhas, irregulares e inexplí-
citas, e que ele o pesquisador tem que, de alguma 
forma, primeiro apreender e depois apresentar. É 
como tentar ler (no sentido de ‘construir uma leitura 
de’) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de 
elipses, incoerências, emendas suspeitas e comen-
tários tendenciosos, escrito não com sinais conven-
cionais do som, mas com exemplos transitórios de 
comportamento modelado. 
As análises da cultura são registros de segunda 
ordem que revelam a interpretação que o pesquisa-
dor faz de determinado grupo social que se expressa 
e se interpreta dentro deste grupo - contexto. 
Nestas interpretações entramos em emaranha-
das camadas de significados, descrevendo e redes-
crevendo ações e expressões que são já significati-
vas para os próprios indivíduos que estão produzin-
do, percebendo e interpretando essas ações e ex-
pressões no curso de sua vida diária. 
Algumas concepções podem ser identificadas 
nas falas e nas ações educativas, pois sendo simbó-
licas carregam e transmitem determinados significa-
dos. 
As manifestações culturais em suas múltiplas di-
mensões são transmitidas, na maioria das vezes, via 
oralidade, recriadas coletivamente e modificadas 
ao longo do tempo. Transmitidas de geração em ge-
ração e, constantemente, reelaboradas pelas comu-
nidades e/ou grupos sociais em função das teias de 
sentidos e significados a ela atribuídas, de sua inte-
ração com a história dos atores sociais, gerando um 
sentimento de pertencimento contribuindo, assim, 
para promover o respeito à diversidade cultural e à 
criatividade humana. 
Cultura é um conjunto diverso, múltiplo de manei-
ra de produzir sentido, uma infinidade de formas de 
ser, de viver, de pensar, de sentir, de falar, de produzir 
e expressar saberes, não existindo, por conta disto, 
uma só cultura ou culturas mais ricas ou evoluídas 
que outras tampouco, gente ou povos sem cultura. 
Recusar portanto o etnocentrismo, está tendência 
de valorizarmos unicamente nossa maneira de ser e 
viver, enfim nossa cultura, é reorientar nosso olhar pri-
meiramente em direção a uma vocação mais multi-
cultural, no interior do qual possamos jamais perder 
de vista que as culturas humanas são diferentes, mais 
nunca desiguais.São qualidades diversas de uma 
mesma experiência humana, mas qualquer hierar-
quia que as qualifique é indevida. 
Dessa maneira precisamos compreender as re-
presentações sociais, inseridas no universo do ima-
ginário social. Para tanto, As identidades nacionais 
não são nem genéticas nem hereditárias, ao con-
trário, são formadas e transformadas no interior de 
uma representação. Uma nação é, nesse processo 
formador de uma identidade, uma comunidade sim-
bólica em um sistema de representação cultural. E a 
cultura nacional é um discurso, ou modo de construir 
sentidos queinfluenciam e organizam tanto as ações 
quanto às concepções que temos de nós mesmos. 
Não é ocioso lembrar que tais identidades, estão 
embutidas em nossa língua e em nossos sistemas cul-
turais, mas estão longe de uma homogeneidade que 
já não perseguimos; ao contrário, estão influencia-
das (as identidades) pelas nossas diferenças étnicas, 
pelas desigualdades sociais e regionais, pelos de-
senvolvimentos históricos diferenciados, naquilo que 
denominamos ‘unidade na diversidade. Como todas 
as nações, mas bem mais do que a maioria delas, 
somos híbridos culturais e vemos esse processo como 
um fator de potencialização de nossas faculdades 
criativas. 
A riqueza das significações presentes nas práticas 
de nossa Cultura Popular nos permite olhar para o 
passado dentro de sua dinamicidade, a fim de ten-
tar compreender a função que estas manifestações 
exercem não só no imaginário popular como tam-
bém no próprio cotidiano de um dado grupo social 
que estão mais diretamente vinculadas a constru-
ção/reconstrução da identidade cultural dos sujeitos 
sociais impactando em suas relações sociais, na fa-
mília, na escola e nos mais diversos espaços de vivên-
cia dos atores sociais.
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As manifestações culturais são as práticas que cimentam o formato dado ao nosso patrimônio cultural 
representando e expressando o redirecionamento de conhecimentos e técnicas que dão sentido a vida 
dos sujeitos sociais e lhes permitem ver e ler o mundo de acordo com as experiências compartilhadas indivi-
dualmente e coletivamente. Sabemos que a Cultura está muito associada à identidade dos grupos sociais. 
A conexão Cultura e identidade podem funcionar positivamente como disparador de construções de co-
nhecimentos que balizem a efetivação de práticas educativas revigoradoras do currículo escolar nas suas 
mais diversas perspectivas. 
Através da cultura popular é possível um novo reinventar social e educacional por serem cercadas de 
conhecimentos, práticas, saberes, tecnologias, maneiras de pensar e de fazer, de viver e humanizar. 
Durante a nossa infância aprendemos a vivenciar o calendário cultural das festas cíclicas, logo após, 
perdemos esse contexto onde passamos a ser guiados pelo calendário televisivo. Assim os fatores que inter-
ferem na importância da valorização da cultura popular para o desenvolvimento local são: Interferência da 
mídia; Tecnologia da informação (celular, internet, jogos eletrônicos); Valorização dos produtos estrangei-
ros; Papel da escola no ensino médio em relação à cultura popular, ou seja, falta de uma disciplina sobre 
cultura popular; Falta de projetos de políticas culturais.
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Sabemos que a palavra cultura é de origem lati-
na. Deriva do verbo colere (cultivar ou instruir) e do 
substantivo cultus (cultivo, instrução). Etimologica-
mente tem muito a ver com o ambiente agrário, com 
o costume de trabalhar a terra para que ela possa 
produzir e dar frutos. Ainda hoje se costuma usar a 
palavra cultura para designar o desenvolvimento da 
pessoa humana por meio da educação e da instru-
ção. Disso vêm os termos culto e inculto, usados no 
jargão popular com uma carga de preconceito e de 
discriminação, considerando uma cultura (especial-
mente a letrada) superior às outras. Porém, não exis-
tem grupos humanos sem cultura e não existe um só 
indivíduo que não seja portador de cultura. 
A cultura não é uma herança genética, mas o 
resultado da inserção do ser humano em determina-
dos contextos sociais. É a adaptação da pessoa aos 
diferentes ambientes pelos quais passa e vive. Atra-
vés da cultura o ser humano é capaz de vencer obs-
táculos, superar situações complicadas e modificar 
o seu habitat, embora tal modificação nem sempre 
seja a mais favorável para a humanidade, como po-
demos perceber atualmente. Desse modo a cultura 
pode ser definida como algo adquirido, aprendido 
e também acumulativo, resultante da experiência 
de várias gerações. Porém, enquanto aprendiz o ser 
humano pode sempre criar, inventar, mudar. Ele não 
é um simples receptor, mas também um criador de 
cultura. Por isso a cultura está sempre em processo 
de mudança. Em muitos casos pode até ser modifi-
cada com muita rapidez e violência, dependendo 
dos processos a que for submetida. Desta forma o ser 
humano não é somente o produto da cultura, mas, 
igualmente, produtor de cultura. 
Elementos da cultura 
Percebe-se então que existem vários elementos 
de cultura. As ideias que são os conhecimentos, os 
saberes e as filosofias de vida. A crença que consis-
te em tudo aquilo que se crê ou se acredita em co-
mum. Os valores, ou seja, a ideologia e a moral que 
determinam o que é bom e o que é ruim. As normas 
que englobam tanto as leis, os códigos, como os cos-
tumes, aquilo que se faz por tradição. As atitudes ou 
comporta- mentos, isto é, maneiras de cultivar os re-
lacionamentos com as pessoas do mesmo grupo e 
com aquelas que pertencem a grupos diferentes. A 
abstração do comportamento, a qual consiste nos 
símbolos e nos compromissos coletivos. As instituições 
que funcionam como uma espécie de controle dos 
comportamentos, indicando valores, normas e cren-
ças. As técnicas ou artes e habilidades desenvolvidas 
coletivamente. Os artefatos que são os instrumentos 
e utensílios usados para aperfeiçoar as técnicas e os 
modos de vida. 
Podemos então afirmar que a essência da cultu-
ra está basicamente em três elementos: as ideias, as 
abstrações e os comportamentos. As ideias são con-
cepções mentais das coisas concretas ou abstratas. 
As abstrações são a capacidade de contemplar as 
ideias e traduzi-las em sinais e símbolos. Os comporta-
mentos são os modos de agir dos grupos humanos, a 
partir das ideias e das abstrações. Portanto, é possível 
concluir que a cultura consiste em uma série de coi-
sas reais que podem ser observáveis, ser examinadas 
num contexto extra-somático. Enquanto coisas reais 
e observáveis, a cultura pode ser classificada em três 
tipos: 1) material, quando ela é formada por coisas 
ou objetos materiais, desde os machados de pedra 
das antigas civilizações até os moderníssimos com-
putadores; 2) imaterial também chamada de não 
material ou espiritual, quando não tem substância 
material, mas, assim mesmo, é algo real, como no 
caso das crenças, dos hábitos e dos valores; 3) cul-
tura ideal, aquela que é apresentada verbalmente 
como sendo a perfeita para um determinado grupo, 
mas que nem sempre é praticada. Pode-se tomar 
como exemplo disso a cultura religiosa, a qual nem 
sempre é assumida integralmente pelos que se dizem 
adeptos dela. 
Normalmente numa cultura os conhecimentos 
são mais de ordem prática, ligados à questão da so-
brevivência. Todavia o conhecimento engloba tam-
bém a organização social, as estruturas sociais, os 
costumes, as crenças, bem como as técnicas de tra-
balho e os conhecimentos acadêmicos. Por crença 
entende-se a aceitação como verdadeira de uma 
proposição comprovada ou não cientificamente. 
Consiste em uma atitude mental do indivíduo, que 
serve de base à ação voluntária. Embora intelectual, 
possui conotação emocional. As crenças são repre-
sentações coletivas que definem a natureza das coi-
sas sagradas e profanas. 
Os antropólogos costumam classificar as crenças 
em três categorias: a) pessoais, isto é, aquelas que 
são aceitas por cada indivíduo, independentemente 
das crenças do seu grupo; é o caso da crença no 
caapora; b) declaradas, ou seja, aquelas que são 
aceitas, pelo menos em público, com a finalidade 
H4 –COMPARAR PONTOS DE VISTA EXPRESSOS EM DIFERENTES 
FONTES SOBRE DETERMINADO ASPECTO DA CULTURA.
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apenas de evitar constrangimentos; no Brasil pode-
ria ser exemplo disso a crença na igualdade entre as 
pessoas, especialmente entre homem e mulher; c) 
públicas são aquelas crenças aceitas e declaradas 
como crenças comuns. Exemplo disso é a crença na 
ressurreição por parte dos cristãos e na reencarna-
ção por parte dos espíritas. Existem antropólogos que 
falam de crenças científicas (que podem ser com-
provadas), supersticiosas (fruto do medo) e extrava-
gantes (quando fogem do comum e do que é con-
siderando normal, como é o caso da crença de que 
pode acontecer alguma coisa numa sexta-feira, dia 
13 do mês). Há ainda os que classificam as crenças 
em benéficas e maléficas. 
Dentro da cultura os valores são muito importan-
tes. Eles são definidos pelos antropólogos como sen-
do objetos e situações consideradas boas, desejá-
veis, apropriadas, importantes, ou seja, para indicar 
riqueza, prestígio, poder, crenças, instituições, obje-
tos materiais etc. Além de expressar sentimentos, o 
valor incentiva e orienta o comportamento humano. 
Já as normas são definidas como regras que indicam 
os modos de agir dos indivíduos em determinadas si-
tuações. De um modo geral consistem num conjun-
to de ideias, de convenções referentes àquilo que é 
próprio do pensar, sentir e agir em dadas situações. 
As normas podem ser ideais (aquelas que os mem-
bros do grupo devem praticar) e comportamentais 
que são aquelas reais, pelas quais, em determinadas 
situações, os indivíduos fogem das ideais. Exemplos 
disso são as normas de trânsito. Outro elemento im-
portante para a cultura é o símbolo. Símbolos são 
realidades físicas ou sensoriais às quais os indivíduos 
que os utilizam lhes atribuem valores ou significados 
específicos. Normalmente os símbolos costumam re-
presentar coisas concretas ou também abstratas. 
Estrutura da cultura e níveis de participação 
Toda cultura possui uma estrutura. Normalmente 
ela se estrutura a partir de seis aspectos. O primeiro 
deles é o traço cultural, considerado o menor ele-
mento da cultura (a feijoada, o sotaque etc.), mas 
que já permite a sua descrição. Os traços podem 
ser materiais ou não. Um segundo aspecto é forma-
do pelos complexos culturais que são o conjunto de 
diversos traços ou características de uma cultura, 
formando o seu todo funcional (as diversas carac-
terísticas de uma região brasileira). Em terceiro lugar 
podemos mencionar os padrões culturais que são as 
coincidências individuais de conduta manifestas por 
um grupo social. Em quarto lugar aparecem as con-
figurações culturais, ou seja, a integração dos outros 
três elementos, a ponto de dar unidade à cultura, de 
modo que essa possa ser identificada a partir disso. 
Pense-se, por exemplo, na configuração cultural do 
povo mineiro. Em quinto lugar estão as áreas cultu-
rais, que são os territórios geográficos onde estão 
localizadas as culturas. As áreas culturais podem ser 
diferentes das áreas geográficas. Pense-se na área 
cultural do Nordeste que pode inclusive estar locali-
zada também em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por 
fim temos a subcultura que pode ser definida como 
algo que gera uma variação da cultura (um grupo 
cultural menor dentro da cultura maior). É o caso, por 
exemplo, da cultura japonesa dentro da cultura pau-
listana. Por essa razão o termo subcultura não pode 
e nem deve ter conotação pejorativa ou negativa. 
Isso já nos revela que o nível de participação dos 
indivíduos numa determinada cultura é bastante va-
riável. Existem quatro níveis: 1) universal, quando os 
padrões culturais são seguidos pela maioria absoluta 
da cultura (respeito pelos idosos); 2) especial, quan-
do certas normas são praticadas apenas por algum 
grupo ou alguns grupos de pessoas da cultura maior 
(cultura católica dentro da cultura brasileira); 3) al-
ternativo, quando certos padrões são quebrados e 
seguidos apenas por um número limitado de pessoas 
numa determinada cultura (cultura dos grafiteiros); 
4) da peculiaridade individual, que consiste nas ca-
racterísticas pessoais dos indivíduos que compõem o 
grupo cultural. 
Qualidades da cultura e processos culturais 
Disso resultam as qualidades da cultura e os pro-
cessos culturais. As qualidades da cultura podem ser 
entendidas como aqueles modos de vida, ou seja, 
as formas pelas quais as culturas se manifestam. Uma 
primeira qualidade é a social, isto é, a cultura apren-
dida, acumulada e transmitida pelo grupo social. A 
segunda é a seletiva, ou seja, aquela que se refere 
ao que cada cultura escolhe ou postula como básico 
para a sua sobrevivência (exemplo: o forró e a festa 
do São João no Nordeste). Uma terceira qualidade 
é chamada de explícita ou manifesta e se dá quan-
do uma cultura é exteriorizada através de ações ou 
movimentos (o caso do carnaval brasileiro). Por fim a 
qualidade implícita ou não manifesta, que é aquela 
que se encontra na mente, no íntimo, das pessoas do 
grupo cultural (crenças, valores etc.). 
Disso tudo resultam os processos culturais, os quais 
são maneiras, conscientes ou inconscientes, através 
das quais os grupos sociais se organizam e se com 
portam. Por meio dos processos culturais as culturas 
realizam mudanças significativas seja assimilando 
novos traços, seja abandonando outros. Um primei-
ro tipo de processo cultural é a mudança cultural, a 
qual consiste na realização de alterações na cultu-
ra, a partir de descobertas, invenções, empréstimos, 
abandonos, substituições, perda etc. Um segundo 
elemento do processo é a difusão cultural, ou seja, a 
propagação de elementos culturais por imitação, es-
tímulo ou imposição. O terceiro tipo de processo cul-
tural é a aculturação, isto é, a fusão de duas ou mais 
culturas diferentes, desde o contato entre elas até 
o surgimento de uma nova cultura. Foi o que acon-
teceu no Brasil com as diferentes culturas. O quarto 
processo cultural é a endoculturação que é a forma 
de estruturação que condiciona o comportamento 
da conduta e dá estabilidade à cultura. Por meio da 
endoculturação se dá a transmissão da cultura. 
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10
A relação entre indivíduo e cultura 
A pessoa “adquire as crenças, o comportamento, os modos de vida da sociedade a que pertence”. 
Porém nenhum indivíduo aprende toda a cultura, mas está condicionado a certos aspectos particulares da 
transmissão de seu grupo. Embora haja por parte do grupo cultural certo controle sobre os comportamentos 
das pessoas, nenhum ser humano se deixa condicionar totalmente pelas imposições de sua cultura. Isso nos 
permite falar da relação entre cultura e personalidade. 
Sabemos que a pessoa só se humaniza se interagir com os demais seres humanos. É a sociedade que, 
normalmente, estimula a pessoa a desenvolver suas potencialidades. Além disso, a elaboração da cultura su-
põe uma interação entre o indiví- duo, a sociedade e o ambiente onde ele vive. Normalmente o ser humano 
tem o seu comportamento modelado pela sua cultura, a qual é geradora de personalidades. O processo de 
enculturação, de educação e de socialização é o responsável pela produção das personalidades. Por meio 
dele o sujeito interioriza a sua cultura e molda a sua personalidade. 
Acontece, porém, que a enculturação não é a aceitação compulsória e passiva do comportamento 
ditado pela sociedade. Os indivíduos se ajustam à cultura de modos variados e diferentes, segundo seus inte-
resses. Mesmo porque a configuração aos padrões culturais depende da personalidade de cada indivíduo, 
dada a diferença de temperamentos e aos aspectos psicológicos de cada um. É certo que tanto a socieda-
de como os seus indivíduos não podem viver sem cultura,uma vez que essa é a sua identidade, a maneira 
própria de ser das pessoas e dos grupos sociais. Todavia a assimilação da cultura depende de vários fatores, 
desde aqueles genéticos até aqueles ambientais 
Hoje temos condições de saber que a formação da personalidade humana depende de vários fatores. 
Antes de tudo o fator da homeostase, isto é, do equilíbrio entre corpo e mente, o qual, por sua vez, depende 
de tantos outros fatores. Depois o fator sociocultural, o qual consiste naquela ação da cultura que tenta pa-
dronizar as personalidades, regulando os seus comportamentos, tentando criar uma personalidade coletiva. 
Por fim o fator ambiental, o qual consiste na influência de elementos externos, como, por exemplo, o clima, a 
alimentação, a localização geográfica etc. 
Podemos então concluir que há uma influência decisiva da cultura, do ambiente e do elemento bioló-
gico na formação da personalidade humana. Mas não se pode falar de um biologismo, de um culturalismo 
exclusivo e de um determinismo ambiental. Não podemos ter posições deterministas e querer construir este-
reótipos a partir disso. O ser humano é sempre capaz de surpreender e inventar. 
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11
O termo patrimônio, tradicionalmente, pos-sui conotação de herança paterna, ca-racterística da transmissão da carga he-
reditária de um grupo social a suas gerações futuras. 
Os bens, a terra, os animais, os objetos de uso co-
mum são passados de pai para filho, de grupo para 
grupo ao longo dos anos, de forma que não possam 
ser perdidos, extintos ou destruídos. Logo, para a tra-
dição, patrimônio decorre da apropriação privada 
dos bens.
Isto por si só não esgota, porém, todas as dimen-
sões que o conceito de patrimônio evoca. Ao longo 
da história, a concepção de patrimônio adquiriu no-
vos elementos e vinculou-se de forma interessante à 
ideia de nação e cultura. Tal conexão ocorreu a par-
tir do momento em que se passou a trabalhar com 
a noção de herança nacional, com a formação 
de grupos mais organizados social e politicamente 
e, efetivamente, com o surgimento dos Estados-na-
ções. A transmissão dos produtos nacionais às gera-
ções futuras era e é essencial à ideia de uma nação, 
vez que a continuidade de todo grupo social exigia 
(e exige) a passagem de bens e práticas (culturais) 
consideradas herança daquele grupo. Buscava-se, 
pois, a partir de uma identificação tradicional, pro-
veniente da atribuição de valores a determinados 
aspectos culturais, o nascimento de um sentimento 
de nacionalismo capaz de legitimar a formação dos 
Estados, de modo que as pessoas se sentissem uni-
das em face de um ideal comum: pertencer a uma 
nação. E isso deu ao Estado a legitimidade neces-
sária à sua estruturação e organização como poder 
superior, gestor dos interesses e bens da nação.
Ademais, houve outro fator fundamental: a des-
truição de monumentos e objetos de arte antigos fez 
com que o Estado se preocupasse com a preserva-
ção de bens tidos como históricos e artísticos que 
contavam a história nacional.
 A noção de patrimônio cultural cumpriu, à épo-
ca, algumas funções simbólicas: reforçar a ideia de 
cidadania, visto que os bens tradicionais são trata-
dos como nacionais, de interesse da população e 
sujeitos à gestão estatal; objetivar e tornar visível a 
nova nação a partir da identificação de bens repre-
sentativos; gerar provas materiais das versões oficiais 
da história nacional, por meio dos bens patrimoniais 
documentados; e educar novos cidadãos através 
da conservação desses bens.
A ideia de patrimônio cultural pressupõe a exis-
tência de um valor, a ele atribuído como justificativa 
da sua importância. Cria-se um universo simbólico 
característico aos patrimônios culturais, onde o valor 
nacional é o seu cerne. Esses bens viriam objetivar, 
conferir realidade e também legitimar essa comu-
nidade imaginada. A comunidade imaginada é a 
ideia de nação pregada pela sociedade ocidental 
do século XVIII, na qual as pessoas se identificam 
através dos bens culturais.
Apesar de os estudos reportarem ao século XVIII, 
essa noção possui caráter milenar e já existia em so-
ciedades tribais como elemento fundamental à vida 
social. Na Idade Média, por exemplo, a aristocracia 
preocupava-se com a transmissão hereditária de 
bens e construções; a Igreja tratava de resguardar 
os objetos que apresentavam caráter religioso, que 
fossem eivados de valores cristãos. No Renascimento, 
surgiu à devoção ao belo, antigo, rico e os monumen-
tos eram tratados como relíquias sagradas Contudo, 
a modernidade ocidental, valendo-se dessa catego-
ria preexistente, estabeleceu contornos semânticos 
específicos que formaram a ideia abordada.
Destarte, as bases valorativas nas quais se funda-
menta a noção de patrimônio cultural provêm da 
concepção material de valorização da cultura do 
mundo ocidental. Por outro lado, no mundo oriental, 
os objetos concretos não eram (e não são) enxerga-
dos como únicos e essenciais à construção cultural, 
não se configurando como principais depositários 
da tradição cultural. Procurava-se (e procura-se) en-
tender o patrimônio cultural essencialmente como 
o processo de conhecimento e interação sociais, 
comuns às pessoas do grupo social, enxergando os 
aspectos materiais como consequências dessa cons-
trução cultural objeto de valorização e preservação. 
Sob o olhar do mundo ocidental, inclusive, a tradição 
é marca de reconhecimento dos grupos orientais.
Importante ressaltar que a terminologia utilizada 
pelos ocidentais sempre foi a de “patrimônio históri-
co e artístico”, reflexo dos principais valores em que 
se fundava esse conceito, visto que tais dimensões 
são tidas como eixo para a legitimação da ideia de 
nação. Além desses aspectos, nitidamente materia-
listas, a construção da noção de patrimônio cultural 
fundou-se em bases culturais eurocêntricas, típicas 
de manifestações eruditas e consideradas civilizadas. 
As culturas não ocidentais, não europeias e não civili-
zadas foram “esquecidas” pelo conceito de patrimô-
nio cultural, vez que não eram consideradas merece-
doras de tutela.
H5 –IDENTIFICAR AS MANIFESTAÇÕES OU REPRESENTAÇÕES DA DIVERSIDADE DO 
PATRIMÔNIO CULTURAL E ARTÍSTICO EM DIFERENTES SOCIEDADES.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
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A ampliação do conceito de patrimônio cultural
A noção tradicional de patrimônio cultural, entre-
tanto, não figurou estanque até os dias de hoje. Ao 
longo da história, ela adquiriu novas acepções, viven-
ciou a transformação de valores simbólicos essenciais 
à categoria de pensamento, e a incorporação de ou-
tras dimensões, além da histórica e artística.
Fruto de processos culturais, patrimônio cultural 
não é imutável, já que a produção humana é refle-
xo das relações das pessoas com o meio ambiente 
particular que as envolve, assim como da interação 
entre elas próprias. Relações e interações são pro-
cessos dinâmicos, transformáveis e fundados na di-
versidade. Nesse sentido, não há patrimônio único, 
ou patrimônio eterno, ou mesmo formado de requi-
sitos pré-definidos, e que possui características deter-
minadas. Falar em processo é falar em construção, 
em criação, interação, relação, conceitos esses ex-
tremamente conflituosos.
A modernidade demorou, mas acabou por ad-
mitir que o patrimônio cultural de um grupo social é 
bastante diverso e sofre mudanças constantemente. 
Sua amplitude evidencia-se quando se entende que 
ele compreende os processos da vida humana. São 
as manifestações do ser humano em suas projeções 
de vida cotidiana: criações musicais coletivas, obje-
tos de uma época que se tornaram típicos, edifica-
ções arquitetônicas componentes deuma cidade, 
pinturas e poesias, crenças e festas, costumes, inven-
tos tecnológicos, etc.
Uma nova concepção de cultura
A expressão cultura foi e é muito usada como 
significado de sofisticação, educação (em seu sen-
tido restrito), sabedoria. Ainda nos dias de hoje é 
muito comum ouvir que Fulano é uma pessoa culta, 
enquanto Sicrano não tem cultura, é um ignorante. 
Parece que a cultura pode ser medida a partir do 
grau de sofisticação e polimento. E ter cultura é bom. 
Não ter cultura é ruim. Assim, a cultura pode ser usa-
da como instrumento de discriminação de um grupo 
em detrimento do outro, fato este comum quando se 
tratam de etnias, idades e sexo diferentes. A socieda-
de europeia é muito culta, enquanto os indígenas sul
-americanos são primitivos; os homens sempre leram 
muito – têm cultura -, as mulheres nunca o fizeram 
– são incultas; os brancos têm muito conhecimento 
e sabedoria, os negros são um grupo social cultural-
mente atrasado. Quantas vezes tais ideias foram re-
produzidas? Qual o grau de influência e dominação 
contido em tais afirmativas?
Analisando como ocorrem as relações de traba-
lho, por exemplo, em que empregador atua com seu 
poder diretivo sobre o empregado, o qual labora sob 
dependência financeira, constata-se que além dos 
aspectos econômicos existem outros fatores de su-
bordinação. Tais fatores baseiam-se em situações de 
dominação de classe – detentores do capital explo-
ram a força produtiva dos vendedores da sua força 
laboral -, de raça - negros, orientais, latino-america-
nos e estrangeiros, em geral, são explorados, tratados 
sem os mesmos direitos dos brancos, ocidentais, esta-
dunidenses, europeus -, e de gênero, sob a desculpa 
de que o homem culto é mais evoluído. Nada mais 
segregador do que uma concepção baseada nes-
ses moldes.
Pode-se, e deve-se, afirmar que não há pessoa 
sem cultura, da mesma maneira que não existem 
subculturas (em seu sentido pejorativo), nem cultura 
mais importante que outra, ou meios mais propícios à 
cultura, ou mesmo ser humano mais produtor de cul-
tura. Não há que se admitir classificação e hierarqui-
zação dos diferentes modos de vida. Prevalece a iso-
nomia entre processos culturais, independentemente 
do seu conteúdo, da forma e da origem.
Nesse sentido, a partir de estudos antropológi-
cos, debruçados sobre a diversidade humana e so-
bre suas manifestações desde as mais conhecidas 
às mais particulares, buscou-se a elaboração do 
conceito de cultura. Cultura é, pois, para muitos an-
tropólogos, toda e qualquer manifestação humana, 
independentemente da sua origem – branca, negra, 
indígena, asiática, ocidental ou oriental - e do seu 
conteúdo – erudito ou popular. O aprimoramento 
dessa concepção a partir da observação dos pro-
cessos sociais cotidianos, reflexos da interação entre 
passado e presente, permitiu entender-se os diferen-
tes modos de expressão cultural.
As dimensões do patrimônio cultural e suas co-
nexões
O ser humano interage com o meio e com outros 
seres humanos, produzindo um vasto processo cultu-
ral, seja por meio de conhecimentos tradicionais de 
modo de vida (como modos de fazer instrumentos 
musicais, receitas gastronômicas, medicamentos na-
turais, etc.), seja através de conhecimentos técnicos 
específicos – genéticos, tecnológicos, arquitetônicos, 
etc. – ou de expressões orais, danças, músicas, técni-
cas de criação, costumes. Nesse sentido, o patrimô-
nio cultural apresenta-se nas mais diversas formas e 
o que se vê é uma gama de dimensões antes não 
entendidas nem abarcadas pela noção tradicional.
O redirecionamento das preocupações mundiais 
foi fator importante para que o mundo enxergasse 
novos patrimônios e se desprendesse do reducionis-
mo artístico e histórico. As convenções e os tratados 
internacionais refletem o despertar para o dinamis-
mo inerente às manifestações culturais: Convenção 
sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e 
Natural, Recomendação sobre a Salvaguarda da 
Cultura Tradicional e Popular, ambas aprovadas pela 
UNESCO respectivamente em 1972 e 1989, Conven-
ção de Diversidade Biológica, assinada durante a 
ECO 92, Declaração Universal sobre a Diversidade 
Cultural, de 2001, e Convenção para a Salvaguar-
da do Patrimônio Cultural Imaterial, de 2003, todas 
elas são importantes na contextualização acerca da 
nova concepção de patrimônio cultural.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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Ademais, a revolução tecnológica em muito 
influenciou no desenvolvimento do patrimônio ge-
nético, do patrimônio científico, da mesma forma, 
a nova concepção antropológica de cultura foi 
responsável pelas discussões acerca do patrimônio 
imaterial. Tem-se, portanto, outras dimensões do pa-
trimônio cultural, além da material, a saber: ambien-
tal, urbana, genética, histórica, artística, imaterial, 
arqueológica, etnográfica, etc.
Vale ressaltar que a perspectiva das várias di-
mensões do patrimônio cultural não deve ser vista 
como uma segregação do que seria a amplitude do 
patrimônio cultural. O que se prega é a sua cone-
xão, o entendimento conjunto das suas dimensões e 
não a abordagem em separado, de cada uma. O 
tratamento a ser dado deve ser amplo, de maneira 
que haja uma interação entre as vertentes. A cultu-
ra é una, mesmo apresentando variadas manifesta-
ções, assim como o patrimônio cultural também o é. 
Não há patrimônio apenas genético, por exemplo, 
sem que haja conexão com o modo de vida, com 
as criações tecnológicas e perspectivas de constru-
ção cultural. Os costumes relativos a medicamentos 
extraídos de vegetais estão intimamente ligados às 
crenças religiosas, assim como estas estão conecta-
das aos monumentos erigidos, às festas tradicionais 
de celebração da vida e às danças e músicas.
Como exemplo, tem-se as tribos indígenas da 
Amazônia, as quais possuem conhecimentos tradi-
cionais acerca das plantas e seres vivos da região, 
usando-os como meio para cura de doenças. Ade-
mais, possuem crenças e ritos particulares, nos quais 
celebram sua ideologia e festejam datas comemora-
tivas, com danças e músicas típicas.
O patrimônio cultural imaterial
Falar em imaterialidade do patrimônio cultural 
significa, inicialmente, reforçar a ideia de que ele é 
composto por outras dimensões e deve ser enten-
dido em sua complexidade, mais especificamente 
pelos processos sociais e culturais que transformam 
diariamente o convívio humano. 
Pensar em patrimônio agora é pensar com trans-
cendência, além das paredes, além dos quintais, 
além das fronteiras. É incluir as gentes, os costumes, 
os sabores, os saberes. Não mais somente as edifica-
ções históricas, os sítios de pedra e cal. Patrimônio 
também é o suor, o sonho, a dança, o jeito, a ginga, 
a energia, vital, e todas as formas de espiritualidade 
da nossa gente. 
A concepção de patrimônio cultural imaterial sur-
ge como resposta à tradição. A partir da contextuali-
zação histórica vivida em tempos de ampliação des-
sa noção, ocorreu finalmente em 17 de outubro de 
2003, a positivação internacional das expressões cul-
turais intangíveis, quando a UNESCO, em conferência 
geral ocorrida em Paris, aprovou a Convenção para 
a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Esta 
tem como finalidades a proteção da dimensão intan-
gível do patrimônio cultural, a necessidade de sensi-
bilização local, regional, nacional e internacional so-
bre a sua importância, o respeito à produção cultural 
imaterial de comunidades, grupos e indivíduos, além 
da assistência e cooperação internacionais, e expli-
ca patrimônio cultural imaterial como sendo:
As práticas, representações, expressões, conheci-
mentos e técnicas - junto com os instrumentos, obje-
to, artefatos e lugares que lhes são associados - que 
as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os in-
divíduos reconhecemcomo parte integrante de seu 
patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, 
que se transmite de geração em geração, é cons-
tantemente recriado pelas comunidades e grupos 
em função de seu ambiente, de sua interação com 
a natureza e de sua história, gerando um sentimen-
to de identidade e continuidade, contribuindo assim 
para promover o respeito à diversidade cultural e à 
criatividade humana (UNESCO, 2005).
No Brasil, a Constituição de 88 já havia menciona-
do em seu artigo 216 a proteção dos bens imateriais 
ligados ao patrimônio cultural.
A norma do art. 216 se estrutura, portanto, como 
autêntica cláusula geral que vocaliza o reconheci-
mento e a garantia do patrimônio cultural brasileiro, 
incidindo indistintamente sobre todas as formas de 
manifestação que atendam ao requisito valorativo 
previsto naquele dispositivo, em harmonia com a no-
ção de patrimônio cultural imaterial concebida na 
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cul-
tural Imaterial, da UNESCO, firmada em 17 de outu-
bro de 2003, em Paris.
Com essa nova concepção, tem-se um patrimô-
nio cultural mais plural, condizente com o seu caráter 
processual e fluido, proveniente das construções hu-
manas. As manifestações vitais de um grupo social 
refletidas em suas mais variadas formas – festas, dan-
ças, comidas, artefatos, músicas, idiomas, expressões 
orais, técnicas de criação, costumes, conhecimentos 
relativos ao ambiente, ao universo, etc. – são constru-
ções intangíveis. Como expressão dos valores prove-
nientes das relações humanas, os significados cultu-
rais estão presentes em toda manifestação humana, 
não apenas nos objetos, e são constituintes das esfe-
ras da vida social e consequentemente do patrimô-
nio cultural imaterial.
Destarte, deve ser entendido a partir do contex-
to em que está inserto, com suas significações pró-
prias, do contrário, estará sendo apropriado a partir 
de um universo simbólico equivocado, criado para 
outros fins e não condizentes com a realidade social. 
A constante recriação a que estão sujeitos os modos 
de vida, de pensar, de fazer, de interpretar de um 
grupo social é prova da necessidade de interpreta-
ção contextualizada. Ademais, “quando se fala em 
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patrimônio imaterial ou intangível, não se está referin-
do propriamente a meras abstrações, em contraposi-
ção a bens materiais, mesmo porque, para que haja 
qualquer tipo de comunicação, é imprescindível um 
suporte físico”.
Nesse sentido, é importante salientar o cará-
ter difuso que está presente na noção de patrimô-
nio cultural imaterial. Juridicamente, entende-se o 
tema como um interesse difuso, caracterizado pela 
sua amplitude em relação à coletividade humana. 
O direito à proteção desse patrimônio é também 
configurado como difuso, marcado pela variação 
espaço-temporal, pela possível indeterminação de 
sujeitos, alta conflituosidade existente em seu cerne 
e indivisibilidade do objeto.
Com relação à indeterminação dos sujeitos, que 
o caráter difuso provém “do fato de que não há um 
vínculo jurídico a agregar os sujeitos afetados por es-
ses interesses”, já que eles se agregam em virtude de 
certas ocasiões fáticas. No caso em questão, os su-
jeitos desses interesses seriam todas as pessoas inseri-
das na vida social de determinado grupo, país ou até 
mesmo toda a humanidade, dependendo da sua 
identificação e participação no processo cultural.
Assim como os sujeitos do patrimônio cultural ima-
terial não são indivíduos facilmente determinados, o 
seu objeto é indivisível. O interesse difuso, em face da 
sua estrutura peculiar, possui uma continuidade inde-
pendente da satisfação individual, sendo seu obje-
to fluido e não se esgotando nem se extinguindo se 
exercido por alguns de seus sujeitos.
A base do patrimônio cultural imaterial está na 
sua vitalidade, dinamicidade e fluidez. Logo, os in-
teresses a ele relativos são “soltos”, desagregados e 
disseminados entre segmentos sociais, não apresen-
tando um vínculo jurídico básico e forte. Acontece 
que os conflitos resultantes de interesses difusos não 
se identificam com os conflitos tradicionalmente con-
cebidos na fórmula “Tício versus Caio”, o que faz com 
que se observe a intensa conflituosidade vivida pelos 
diversos grupos sociais.
No caso do processo cultural, a dinamicidade é 
característica marcante, observável facilmente com 
a análise acerca da mutabilidade espaço-temporal 
vivida pelas manifestações culturais. Na medida em 
que as construções humanas apresentam-se como 
processos variáveis, sujeitos ao contexto em que 
ocorrem, elas configuram-se como transformáveis 
independentemente de previsões, podendo surgir, 
declinar-se, extinguir-se ou reaparecer, a depender 
do tempo e do espaço.
Vê-se, portanto, que o patrimônio cultural imate-
rial constitui-se enquanto interesse difuso, não apenas 
sob a ideia da coletividade, vez que a sua amplitude 
vai além de um conjunto de pessoas determináveis, 
abrangendo grupos sociais variáveis, fluidos e plurais. 
Tal entendimento legitima a busca pela tutela jurídi-
ca do patrimônio cultural.
Repercussões da nova concepção de patrimônio 
cultural
Como não podia deixar de ser, a ampliação da 
ideia de patrimônio cultural gerou reflexos. Com a 
ampliação da ideia de patrimônio cultural observou-
se, inicialmente, a quebra, ou melhor, o início do pro-
cesso de desconstrução de algumas dicotomias pa-
radigmáticas, como a de material x imaterial, cultura 
erudita x cultura popular, presente x passado e pro-
cesso x produto, as quais passaram a ser questiona-
das e discutidas. Constatou-se também a discussão 
sobre da imaterialidade do patrimônio cultural, suas 
particularidades e conteúdo.
Sob esse aspecto, passou-se a entender que a 
imaterialidade cultural não se restringe ao folclore ou 
às manifestações populares, de modo que todo pro-
cesso cultural humano apresenta dimensões mate-
riais e imateriais, inclusive a cultura conhecida como 
erudita. A necessidade de conexão entre o material e 
o imaterial foi sendo vista como elemento importante 
para um tratamento mais plural da problemática re-
lativa ao patrimônio cultural.
Reconheceu-se o patrimônio cultural oriental, re-
presentado por suas peculiaridades e manifestações 
típicas, como merecedor da proteção oficial patroci-
nada pela Unesco. O foco cultural foi deixando de ser 
as construções europeias e dissipando-se por todos os 
grupos sociais, independentemente de origem e et-
nia, de modo que a diversidade e a pluralidade cul-
turais começaram a serem vistas como fundamentais 
à tutela internacional.
Não foram mudanças imediatas. Algumas conse-
quências seguem ocorrendo gradativamente. Outras 
não. Continuam na espera por condições materiais, 
ideológicas e históricas que permitam a sua concretu-
de, ou, pelo menos, apontem lutas a serem travadas.
Além disso, alguns estudiosos entendem que ocor-
reu uma tímida mudança de visão com relação ao 
tratamento preservacionista de proteção do patrimô-
nio cultural, vez que as instituições responsáveis pelo 
assunto passaram a ter ações um pouco mais amplas 
ou direcionadas especificamente para a preserva-
ção dos “novos patrimônios”.
Como dito, a atuação essencialmente voltada às 
construções de “pedra e cal”, predominante duran-
te os séculos XIX e XX, até o marco constitucional de 
88, evidenciava o privilégio dado aos bens materiais 
e àquilo que tradicionalmente se entendia como pa-
trimônio histórico e artístico. O entendimento limitado 
acerca do significado de preservação e as reducio-
nistas ações levadas a cabo pelo estado brasileiro fo-
ram aos poucos sendo vistos com ressalvas, gerando 
discussão sobre a inserção da imaterialidadenos pro-
jetos de preservação adotados. Apesar disso, pode-
se dizer quer a ideologia euro centrista e materialista 
continua como cerne das políticas de preservação 
voltadas ao patrimônio cultural, e estas, mesmo com 
novas ações e com uma nova maquiagem, conti-
nuam com dificuldades para absorver o significado 
da amplitude do patrimônio cultural.
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Novos instrumentos jurídicos de preservação fo-
ram criados, como o inventário e o registro, direciona-
dos às manifestações intangíveis, dando à temática 
um grande impulso na busca por uma tutela capaz 
de abarcar as diversas dimensões do patrimônio cul-
tural. Diante das opções de preservação elencadas 
pela Carta Constitucional de 1988 inventário, registro, 
vigilância, tombamento e desapropriação adotou-
se o Inventário Nacional de Referências Culturais e 
o Registro dos Bens de Natureza Imaterial como me-
canismos do processo preservacionista, por mais se 
adequarem à imaterialidade característica das ma-
nifestações culturais.
O Inventário Nacional de Referências Culturais é 
instrumento de identificação muito importante para 
as ações preservacionistas, visto que “tem como ob-
jetivo produzir conhecimento sobre os domínios da 
vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores 
e que, portanto, constituem marcos e referências de 
identidade para determinado grupo social”. Ele con-
siste na realização de pesquisas, levantamentos e in-
terpretações de dados acerca de um determinado 
grupo social, na sua dinamicidade cultural.
Juridicamente é um dos instrumentos que permi-
te a identificação desses saberes, fazeres, práticas, 
significações e valores expressos em práticas sociais, 
e que, juntamente com o pedido de instrução, com-
põem o encaminhamento ao Ministério da Cultura 
do pedido registro patrimonial nos livros do IPHAN.
A característica mais importante desse instrumen-
to é a sua capacidade de levar em conta numa 
mesma pesquisa os aspectos materiais e imateriais do 
bem cultural inventariado. Ele é capaz de contem-
plar, “além das categorias estabelecidas no registro 
[marcadamente imateriais], edificações associadas 
a certos usos, a significações históricas e a imagens 
urbanas, independentemente de sua qualidade ar-
quitetônica ou artística”. Esboça-se, portanto, a tão 
esperada conexão entre as dimensões material e 
imaterial do patrimônio cultural, o que configura um 
grande avanço em termos de preservação. É o que 
ocorre atualmente na Cidade de Rio de Contas-BA, 
onde técnicos da 7ª Superintendência Regional do 
IPHAN trabalham no inventário do patrimônio cultural 
típico da cidade, que pode vir a gerar conhecimen-
tos acerca das manifestações culturais e da sua ma-
terialização em obras tangíveis.
Esboça-se também uma aproximação com a co-
munidade, de modo que a população possa enten-
der-se como atriz social responsável pelas manifesta-
ções culturais em questão. O inventário passa a ter 
um papel de tradutor da realidade sócio cultural e, 
com isso, coloca os habitantes das localidades como 
seus mais legítimos intérpretes.
O Registro de Bens de Natureza Imaterial é instru-
mento constitucional regulamentado pelo Decreto 
n° 3551/00, que visa à documentação dos bens cul-
turais considerados imateriais, através do registro em 
um dos seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscri-
tos conhecimentos e modos de fazer enraizados no 
cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão 
inscritos rituais e festas que marcam a vivência coleti-
va do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e 
de outras práticas da vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, 
onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, 
plásticas, cênicas e lúdicas;
IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão ins-
critos mercados, feiras, santuários, praças e demais 
espaços onde se concentram e reproduzem práticas 
culturais coletivas. 
O registro é um instrumento de preservação que 
se adapta à dinâmica das manifestações intangíveis 
e, através dos dossiês se volta principalmente para a 
produção de conhecimento. Analisando-os de for-
ma bastante ideal, tem-se que os dossiês de registro 
devem apresentar toda a vida do bem cultural ima-
terial a ser registrado, de forma que seus elementos, 
características, seu surgimento, história e trajetória de-
vem ser abarcados. Faz-se necessário a juntada de 
documentos fotográficos, fonográficos, audiovisual e 
bibliográficos a respeito do bem, para que haja todas 
as informações sobre o contexto em que se insere o 
bem, as transformações sofridas com o tempo e com 
a interferência de outros processos culturais, sociais ou 
econômicos. É um trabalho complexo e importante 
para a catalogação do bem cultural a ser registrado.
Entretanto, apesar de ter sido inserido no mundo 
jurídico como um instrumento que visa à democrati-
zação da política de preservação, o registro apresen-
ta, como os demais instrumentos preservacionistas, di-
ficuldades para a realização da concretude da par-
ticipação popular nas ações de salvaguarda, com a 
apropriação do universo simbólico inerente aos bens 
culturais. Trata-se de um instrumento de catalogação 
e documentação que armazena informações e da-
dos importantes sobre a cultura de determinado gru-
po social. É difícil enxergar o registro para além dessa 
noção, como, por exemplo, um instrumento transfor-
mador, condizente com um novo pensamento pre-
servacionista.
É importante ponderar no sentido de que a mera 
criação de novos instrumentos de preservação não 
levará necessariamente a uma melhoria na política 
de preservação. Mesmo que outros instrumentos ju-
rídicos venham a ser instituídos (como de fato ocor-
reu com o Decreto nº. 3551/00), caso não haja uma 
mudança no pensamento segregacionista e limitado, 
continuar-se-á com dificuldade de visualizar uma po-
lítica de preservação participativa, democrática e 
condizente com a dinamicidade dos processos cul-
turais e com a sua completude. Logo, os instrumentos 
aqui abordados são bastante relevantes e podem 
atuar de forma interessante junto ao patrimônio ima-
terial, mas não exaurem a política de preservação do 
patrimônio cultural, que deve valer-se de ações mais 
amplas e essencialmente públicas de salvaguarda 
dos bens culturais imateriais.
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Com efeito, também as políticas públicas cultu-
rais sofreram influências da nova concepção de pa-
trimônio cultural, mas ainda deixam a desejar com 
relação à ideologia que as rege e a seus mecanis-
mos de atuação.
Aconteceu ainda, e segue acontecendo, uma 
diversificação dos saberes envolvidos na questão do 
patrimônio cultural. Novas entidades desenvolveram-
se, quebrando a exclusividade estatal no tratamen-
to do patrimônio cultural, e diferentes profissionais 
passaram a trabalhar na proteção e promoção dos 
novos segmentos do patrimônio. Arquitetos, arqueó-
logos, antropólogos, urbanistas, etnógrafos, ambien-
talistas, etc., substituíram os intelectuais detentores 
dos saberes cultos e sagrados. A diversidade atingiu 
não somente a noção de cultura, estendendo-se aos 
atores do patrimônio, e admitindo-se a participação 
da população na proteção e promoção do patrimô-
nio cultural.
É evidente que para se efetivar a quebra das di-
cotomias, ampliar o tratamento jurídico e protecio-
nista conferido ao patrimônio cultural, dar eficácia 
e conteúdo às ações preservacionistas e gerar uma 
apropriação mais efetiva por parte da população, 
faz-se necessário repensar o real sentido da preserva-
ção e entender a importância das discussões acerca 
davastidão do patrimônio cultural.
A necessidade de conexão entre as dimensões 
material e imaterial do patrimônio cultural para uma 
efetiva preservação
Apesar da ampliação do conceito de patrimônio 
cultural, as ações da política de preservação do pa-
trimônio cultural brasileiro ainda não atentaram para 
a necessidade de quebra da dicotomia material x 
imaterial e conexão entre essas dimensões do patri-
mônio cultural. A subjetividade humana é o porquê 
da construção material humana. Logo, não existe pa-
trimônio cultural material sem fundamento subjetivo, 
que lhe dá substrato e conteúdo. O homem se vale 
de sua subjetividade intrínseca para interagir com o 
mundo a sua volta e construí-lo, dando-lhe sentido.
O patrimônio cultural configura-se no processo 
cultural, composto pela interação entre sentimentos, 
pensamentos, anseios provenientes da figura huma-
na. É através das suas manifestações que tal intera-
ção é externada. O resultado desse processo cultural 
ocorre na apresentação material e imaterial: casas, 
ruas, objetos, cidades, modo de viver, de se relacio-
nar, manifestações musicais, literárias, etc.
Essa visão que separa o que é material e o que é 
imaterial contamina, por exemplo, as políticas públi-
cas de “revitalização” de centros históricos, que valo-
rizam apenas a melhoria estética dos lugares. São in-
tervenções governamentais propondo modificações 
no uso do espaço público, alterando não somente o 
aspecto material, mas também a sua vida e dinâmi-
ca. Tais medidas de revitalização continuam sendo 
medidas segregadoras, de limpeza social e embele-
zamento.
Com efeito, em detrimento de uma visão com-
partimentalizada que define o todo em partes, acre-
dita-se no todo compreendido pelo processo cultural 
inerente ao homem social. No patrimônio cultural o 
que se pretende preservar não é a representação do 
real, até porque esta não existe, mas sim o valor sim-
bólico de determinado bem cultural, ou seja, a con-
figuração do real. Assim como os centros históricos 
podem ser enxergados por seus valores, as celebra-
ções de uma tribo indígena também tiveram valo-
res agregados. Objeto da preservação é o proces-
so cultural em sua totalidade. O que se busca com 
as ações preservacionistas é a atuação do homem 
transitório no presente, com os valores apreendidos 
culturalmente, na concepção de uma ação projeti-
va de futuro. O cerne da questão é, portanto, o valor 
simbólico do bem cultural, a essência apropriada pe-
los atores e atrizes sociais e não as construções mate-
riais fruto desse processo.
Logo, uma política de preservação não pode vi-
sar à restauração física de determinado bem ou lo-
cal sem que haja interação com aquilo que lhe dá 
vida e dinamicidade, com a subjetividade humana. 
É um equívoco acreditar que a mera conservação 
física de praças, igrejas, terreiros de candomblé e 
centros históricos é capaz de preservar os valores cul-
turais inerentes às construções materiais fruto de pro-
cessos também culturais. Assim como é um equívoco 
entender que a catalogação dos usos e costumes é 
capaz resgatar a essência valorativa do bem cultu-
ral. Esse tipo de preservação/conservação serve efi-
cazmente como documentação estanque do que é 
resultado da construção humana no passado, como 
uma fotografia atual do que aconteceu e merece 
ser revisto. Mas não contempla o objetivo de dar ao 
homem de hoje entendimento acerca dos processos 
culturais característicos de outras épocas. Preserva-
se apenas o que se vê. Esquece-se do que se ouve 
e do que se sente. Texto adaptado de SOUZA, C. G. 
G. D
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Coordenadas Geográficas
Paralelos e Meridianos
Paralelos são os eixos que circulam o planeta no 
sentido horizontal. O Equador é a zona da Terra que 
mais recebe os raios solares no sentido perpendicu-
lar, quando eles são mais fortes.
Meridianos são os eixos que circulam o planeta 
no sentido vertical. O Meridiano de Greenwich divide 
a Terra no sentido vertical, originando, dessa forma, 
o hemisfério leste ou oriental e o hemisfério oeste ou 
ocidental.
Coordenadas geográficas são a combinação de 
latitudes e longitudes. A combinação dos elementos 
indica a referência exata de qualquer ponto da su-
perfície do planeta.
A latitude é a distância, em graus, de qualquer 
ponto da superfície terrestre em relação à Linha do 
Equador, o principal dos paralelos terrestres. Linha do 
Equador: 0º.
A longitude é a distância em graus de qualquer 
ponto da superfície terrestre em relação ao Meridia-
no de Greenwich. O Meridiano de Greenwich possui 
longitude de 0º, aumentando até 180º para o leste e 
diminuindo até –180º a oeste.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 2 –COMPREENDER AS TRANSFORMAÇÕES DOS 
ESPAÇOS GEOGRÁFICOS COMO PRODUTO DAS RELAÇÕES 
SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS DE PODER.
H6 - INTERPRETAR DIFERENTES REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS E 
CARTOGRÁFICAS DOS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS.
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O que é cartografia? (conteúdo adicionado por Ananda Veduvoto)
A cartografia expressa o conhecimento da superfície da terra por meio de mapas, cartas e plantas. É 
a ciência e a arte de representar as características de um lugar (cidade, estado, país, região) em uma su-
perfície plana (ROSA, 2004). Os mapas são de grande importância para a civilização moderna. O objetivo 
dos mapas é localizar, representar e comunicar características de um espaço (por exemplo, características 
naturais, socioeconômicas ou educacionais). 
A história dos mapas é bastante antiga. O ato de elaborar mapas precede até mesmo a escrita. Traçar 
mapas era uma necessidade dos povos primitivos. Aos gregos é atribuída a elaboração do atual sistema 
cartográfico: demarcaram os polos da terra, a linha do equador e os trópicos. Elaboraram o sistema de coor-
denadas geográficas, pensaram as primeiras projeções e fizeram o cálculo do tamanho do planeta (ROSA, 
2004). 
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), considera que:
•	 Um mapa possui escala pequena. Tem o intuito de representar os aspectos naturais (bacias, planal-
tos, vegetação) e características político-administrativas. Os mapas também podem ter fins temáticos, cultu-
rais ou ilustrativos. O nível de detalhamento da área não é muito grande. De modo geral, são representados 
grandes espaços. 
•	 As cartas possuem maior nível de detalhamento da representação do território. A escala é média ou 
grande. O objetivo é avaliar particularidades da área, com maior nível de precisão. As folhas são subdivididas 
em paralelos e meridianos. 
•	 As plantas são tipos específicos de cartas. Representam áreas bastante limitadas. A escala é grande. 
A quantidade de detalhes que podem ser observados é bem maior. 
Escala Cartográfica (conteúdo adicionado por Ananda Veduvoto)
A construção de mapas é feita a partir de uma visão reduzida de um território. A escala indica a propor-
ção entre a superfície real e a sua representação em um mapa, carta ou planta. O tipo de escala é definido 
a partir da temática do mapa. Se for necessário um maior nível de detalhamento, a escala deverá ser maior. 
Em mapas com menor nível de detalhamento, a escala é menor e a área observada é maior. A escala pode 
ser gráfica ou numérica. 
A escala numérica, por meio de uma proporção numérica, representa as dimensões do espaço real (ter-
reno) e do espaço representado no papel. O numerador é sempre uma unidade, indica a distância medida 
no mapa. O denominador representa a distância correspondente no terreno. Em uma escala de 1: 100.000, 
por exemplo, 1 centímetro no mapa representa 100.000 centímetros ou 1 quilômetro na superfície terrestre. 
A escala gráfica é elaborada a partirde uma linha ou régua graduada. As subdivisões são denominadas 
talões. O comprimento de cada talão corresponde ao valor medido no terreno. O valor é sempre indicado 
de forma numérica na parte inferior da régua. Veja o exemplo:
Fonte: http://alunosonline.uol.com.br/geografia/escala-cartografica.html
Projeções cartográficas (conteúdo sugerido pela Matriz de Referência do ENEM)
As projeções cartográficas foram desenvolvidas em formatos diferentes com o objetivo de representar a 
esfericidade da Terra de forma plana, em mapas e cartas. Cada projeção prioriza um aspecto diferente de 
dimensão e forma da Terra. Todas as representações possuem deformações. Não é possível representar uma 
superfície esférica em uma superfície plana sem que ocorram problemas de distorção. 
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No que diz respeito a superfície das projeções, podem ser planas, cônicas ou cilíndricas. Observe o es-
quema abaixo:
Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv44152_cap2.pdf
É possível minimizar as imperfeições ocorridas em representações planas da superfície terrestre no que se 
refere às áreas, aos ângulos ou às distâncias, porém, nunca será possível conseguir eliminar todas as distor-
ções ao mesmo tempo. De acordo com Fitz (2012):
•	 Projeções Conformes: a forma verdadeira da área a ser representada é mantida, os ângulos existen-
tes no mapa não são deformados. 
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•	 Projeções Equidistantes: as distâncias pos-
suem conformidade, não ocorrem deformidades li-
neares. 
•	 Projeções Equivalentes: as dimensões das 
áreas representadas são mantidas, não ocorrem de-
formações. 
Fonte das figuras (página 22): https://biblioteca.
ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv64669_cap2.pdf
 As projeções de Mercator, Miller, Berhmann e 
Robinson são as mais utilizadas na representação do 
mundo. De acordo com o IBGE (2012), a projeção 
cilíndrica equatorial de Mercator e a policônica são 
as utilizadas para representar o Brasil. 
O mapeamento oficial do Brasil é elaborado na 
projeção policônica. A principal característica desta 
projeção é a redução da deformação na conver-
gência dos meridianos. Em função disso, a região Sul 
é melhor representada. A projeção cônica é utilizada 
no mapeamento com escala de 1: 1000 000. Segun-
do o IBGE (2012) este é o padrão do mapeamento 
mundial, definido pela Organização das Nações Uni-
das (ONU).
 
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Leitura de mapas temáticos, físicos e políticos (conteúdo sugerido pela Matriz de Referência do ENEM)
O principal objetivo dos mapas temáticos é gerar e comunicar uma informação referente a um ou vários 
aspectos. O mapa poderá representar características físicas, como os tipos de vegetação, clima e hidrogra-
fia, entre outros, ou poderá mapear fenômenos sociais, políticos ou estatísticos.
Fitz (2009) nos explica que o intuito da construção deste tipo de mapa é fornecer a representação de fe-
nômenos que existem no espaço geográfico (espaço físico e espaço construído). A simbologia cartográfica 
é utilizada para facilitar a compreensão do usuário sobre o mapa. Na Geografia, os mapas são utilizados na 
análise do espaço geográfico (GIRARDI, 2008).
Para obter êxito na interpretação de mapas observe:
•	 O título do mapa: analise o tema que está sendo representado no mapa.
•	 As referências (autores, data de elaboração, fontes): perceba o período em que o mapa foi cons-
truído, isto ajudará na compreensão sobre a temporalidade de determinado assunto (problemas ambientais, 
guerras, intensificação do processo de urbanização, entre outros).
•	 A direção do Norte, a escala, o sistema de projeção e as coordenadas geográficas: observe as ca-
racterísticas de localização do espaço geográfico representado e o posicionamento do mapa. O tamanho 
da escala indicará se o local representado possui maior ou menor detalhamento na imagem. 
•	 Legenda e cores: a legenda esclarecerá os símbolos que aparecem no mapa. Cada símbolo possui 
um significado, descrito pela legenda. As cores indicam alternância de fenômenos ou territórios. As cores 
também possuem significação e geralmente estão detalhadas na legenda.
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Observe o exemplo abaixo:
FONTE: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_IDH.pdf.
Tecnologias modernas aplicadas à cartografia. (conteúdo sugerido pela Matriz de Referência do ENEM)
O avanço da tecnologia permitiu aperfeiçoamentos nas técnicas de conhecimento e mapeamento do 
espaço geográfico. Na cartografia, as novas tecnologias de informação e comunicação como os satélites, 
programas de computação e telecomunicação possibilitaram grandes revoluções nas técnicas de coleta e 
processamento de dados e informações do espaço geográfico.
Os satélites artificiais, que orbitam em torno do planeta Terra, captam imagens que são codificadas e 
transmitidas por estações rastreadoras. Isto permitiu grande precisão de detalhamento de imagens. 
O sensoriamento remoto utiliza diferentes sensores (equipamentos de fotografia, scanners de satélites e 
radares) para captar e registrar imagens à longas distâncias. A Aerofotogrametria consiste na técnica de 
obter fotografias por meio de sensores acoplados em aviões. A altura da aeronave determinará a escala da 
imagem. São instrumentos amplamente utilizados para planejar espaços rurais e urbanos.
O GPS (Sistema de Posicionamento Global) utiliza os sinais obtidos por satélite para fornecer informações de 
localização com precisão (objetos, veículos, pessoas) a partir de coordenadas geográficas: latitude, longitude e 
altitude. Nos SIGs (Sistemas de Informações Geográficas) são utilizadas todas as outras técnicas de captação de 
imagens e dados. Trata-se de um conjunto de tecnologias que permitem gerar informações e monitorar o espaço 
terrestre. As imagens digitais geradas através de satélites ou a técnica de aerofotogrametria e as informações de 
GPS formam um grande banco de dados. A partir disso, com os SIGs é possível coletar, processar e analisar uma 
gama significativa de dados e informações, gerando mapas e gráficos de ampla utilização. 
Referências Bibliográficas
FITZ, Paulo Roberto. Cartografia básica. São Paulo: Oficina dos Textos, 2008.
ROSA, Roberto. Cartografia Básica. Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Geografia: Laborató-
rio de Geoprocessamento, 2004. Disponível em: http://www.uff.br/cartografiabasica/cartografia%20texto%20
bom.pdf. Acesso em 7 jan. 2018.
ATLAS Geográfico Escolar. 6. Ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
index.php/biblioteca-catalogo?id=264669&view=detalhes.
Acesso em: 8 jan. 2018.
GIRARDI, Eduardo Paulon. Proposição teórico-metodológica de uma cartografia geográfica crítica e sua 
aplicação no desenvolvimento do atlas da questão agrária brasileira. Tese (doutorado) - Universidade Esta-
dual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Presidente Prudente, 2008.
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As relações de poder em si, tomando como base a subjetividade humana, fazem parte da consciência individual, exteriorizando-
se na tentativa de imposição da sua vontade sobre 
os outros na relação intersubjetiva - por ora prescin-dida. Dessa forma, a democracia representativa - re-
presentatividade da sociedade por cidadãos eleitos 
- compreende característica uníssona, à intrínseca 
relação de poder, a necessidade de um comandan-
te, visto que a mobilização das pessoas depende do 
start, da iniciativa e organização de alguma(s) pes-
soa(s). E dessa forma, os atores principais detêm o po-
der de influenciar, direta ou indiretamente em certas 
decisões, a consciência individual e assim, por meio 
da dominação, arraigarem os atores coadjuvantes 
da sociedade, caracterizados por serem receptores 
do poder/ dominação, partindo, pois, da aceitabili-
dade (construção humana), no Estado democrático 
de direito - este trabalho, restringe-se a esta forma de 
governo. 
Existem sutis relações na sociedade as quais de-
vem ser ressaltadas, porque são elas que afetam ca-
balmente as relações sociais. As crianças podem ser 
expositoras dessa relação de poder em si, intrínseca 
ao ser humano, quando se percebe na construção 
das relações sociais a tentativa de sobrepujar-se por 
meio de injúrias ao receptor da ação, como se obser-
va na prática de bullying. E assim, as tentativas recí-
procas de dominação esbarram em fatores alheios, 
os quais definem psicologicamente a aceitabilidade 
à fonte do poder na situação concreta. Essa externa-
lidade pode ser definidora de conflitos entre poder, 
delineando melhor a aceitabilidade do receptor des-
se poder/ dominação. O cidadão, ao longo do de-
senvolvimento, mergulhado na vontade de dominar, 
atua sobre a ação de sobrepujar-se de acordo com 
seus interesses, que passam por canais mais sutis no 
âmbito da competição social, se manifestando em 
preconceitos, em interações interpessoais e em rela-
ções de trabalho. Além disso, a psicologia moderna 
constata a existência de uma inerente predileção a 
certos comportamentos e sentimentos os quais po-
dem ser estimulados ou tolhidos pela família, reper-
cutindo na formação do indivíduo e na sua relação 
com o outro. 
História e construção social 
Tem-se, nessa relação com o outro, uma conexão 
histórica, visto que o homem está localizado tempo-
ralmente. A historicidade, dessa forma, guarda cisões 
de entendimento, de classes, de desenvolvimento, 
dentre várias repercussões promovedoras de mudan-
ças de pensamento e também de convívio social 
como as provocadas pela Revolução Industrial. E no 
afã de compreender o presente, acreditando residir 
nele às raízes do futuro, muitas vezes, esquece-se na 
historicidade o escopo da análise de um fato. Disso-
ciar a historicidade das relações de poder na socie-
dade é, simplesmente, fazer uma análise superficial 
dessas relações e dos jogos de convivência, de sorte 
que acontecimentos históricos de delimitado tempo/ 
espaço refletirão no presente e provavelmente no fu-
turo. Dessa forma, será tratado ao longo do artigo, 
algumas marcas históricas relevantes e associadas 
às relações sociais, voltadas às dominações na so-
ciedade. As relações de poder construídas têm início 
quando o sujeito parte do isolamento e estabelece 
relações com os indivíduos socialmente. 
As relações intersubjetivas exprimem maior com-
plexidade comparativamente às relações individuais, 
visto que estabelecem multifacetadas conexões in-
ter-individuais que se opõem numa relação simples 
entre dois indivíduos, um o dominado e outro o do-
minador. Contudo, a sociedade identifica diversas 
fontes de poder, muito além da oposição entre do-
minador e dominado. A fonte do poder, dificilmen-
te, será vista na sociedade, em vista da difusão do 
poder, ou seja, é circular advindo de vários pontos, 
logo, não apresenta colocação exata, parte de uma 
construção humana intersubjetiva e visível, talvez, em 
determinados caso concretos. O poder, dessa forma, 
atravessa a história, junto à construção da sociedade 
e de seus valores. 
Liberdade indissociável 
A liberdade encontra-se imersa num processo 
envolto pela consciência coletiva e jurídica. À cons-
trução coletiva, entende-se a autonomia oriunda da 
consciência moral individual e intersubjetiva. Portan-
to, obtém-se dessa bilateralidade axiológica atribui-
ções aos sujeitos de direito, permitidas somente pela 
existência do Estado Democrático de Direito o qual 
garantidor de liberdades/autonomias. A consciên-
cia moral individual do sujeito imerso, geralmente, 
num núcleo familiar, desenvolve-se permeada por 
garantias constitucionais (consciência jurídica) e por 
relações autônomas entre os sujeitos de direito (cons-
ciência moral intersubjetiva). E, dessa forma, o indivi-
duo particularizado reconhece- se livre e autônomo 
para realizar interações sociais, sendo-lhe atribuído 
identidade, ou seja, reconhece-se como igual num 
H7 –IDENTIFICAR OS SIGNIFICADOS HISTÓRICO-GEOGRÁFICOS 
DAS RELAÇÕES DE PODER ENTRE AS NAÇÕES.
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ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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processo dialógico-interacional. A passagem, pois, 
da consciência moral individual para a relação com 
a consciência moral intersubjetiva, nega aos sujeitos 
- não mais isoladamente - perda da liberdade total 
em certos aspectos, visto que a liberdade individual 
estende-se à fronteira da liberdade de outrem para 
ser legítima, no Estado democrático; então, ultrapas-
sando esse limite, o ponto de interseção entre a liber-
dade de dois indivíduos representa a perda da igual-
dade e perder-se-á, pois, parte da liberdade e da 
legitimidade de uma ação. Dessa forma, a relação 
entre os sujeitos, socialmente, demanda perda de li-
berdades para a garantia de liberdades prioritárias. 
O sujeito, portanto, aderido à sociedade, desenvol-
ve sua consciência moral coletiva integrada inicial-
mente aos padrões daquela cultura, logo, externa 
ao indivíduo isolado e, posteriormente, é capaz de 
tecer críticas a padrões que lhe são impostos (cons-
ciência individual). A consciência jurídica, dotada 
de juridicidade, observa a bilateralidade axiológica, 
reconhecendo nesta o ethos social que atua como 
substrato axiológico máximo da sociedade devendo, 
portanto, ser positivado constitucionalmente, pois re-
presenta os anseios e os interesses, racionalmente 
construídos e dispostos. Dessa forma, o processo de 
construção da liberdade é permeado pela bilatera-
lidade axiológica e pela consciência jurídica, ocor-
rendo, entre esses momentos, intrínseca interação 
entre os fatores e, portanto, não sendo possível sua 
separação no caso concreto da construção da liber-
dade do sujeito. 
Dessa forma, a liberdade do individuo em si 
(consciência moral individual) é inerente ao ser hu-
mano. Imerso na relação “eu”, tem-se a liberdade 
em si um expoente na liberdade do pensamento, a 
qual alheia à dominação direta das relações inter-
subjetivas, visto a inviabilidade de controle direto so-
bre o pensamento. A dominação indireta atua sobre 
a forma de pensar e agir da sociedade, impondo 
padrões sobre a conduta social. São elas subdividi-
das em quatro tipos: normas imperativas, convencio-
nalismos sociais demandantes de comportamentos 
socialmente aceitos, padronizados; normas morais 
constroem os valores socialmente assumidos como 
promotores do bem comum; normas religiosas, fun-
dadas na vontade divina; e, por fim, as normas jurí-
dicas, dotadas de coercibilidade, impõem condutas 
em acordo ao ordenamento jurídico posto. 
A liberdade, quando confrontada aos interesses 
da sociedade, determina dos atores principais, fon-
tes do poder, instrumentos os quais delimitam essa 
liberdade em si, objetivando interesses de classe, de 
instituições privadas ou de governo, de pessoas, den-
tre outros possíveis expoentes do poder. Diante disso, 
a liberdade em si basicamente delinear-se-ia sobre o 
campo da vontade individual, enquanto a liberdade 
intersubjetiva, construída, basicamente delinear-se
-ia sobre a condição. Portanto, inexiste serhumano 
somente possuidor de vontade individual, dentro de 
um processo intersubjetivo da sociedade, visto que o 
tempo todo se estabelece relações, interindividuais 
demandantes de, no mínimo, condição de igualda-
de dialógica. Desse modo, a liberdade é única, não 
podendo dissociar suas fases no ser humano; além 
disso - como visto - não se ausentam as relações de 
poder nessa relação, sendo a construção da liber-
dade, interferida pela capilaridade do poder o qual 
influencia a consciência moral individual e intersubje-
tiva, e também a consciência jurídica. 
Sociedade disciplinar 
Um ponto a ser abordado sobre relações de po-
der advém, como vários outros, diretamente do Esta-
do. A concepção penal variou durante o crescimen-
to da sociedade e assim foram construídas formas 
distintas de punição a fim de moldar e evitar a rein-
cidência de atos nocivos socialmente. Consequen-
temente também formulou-se, aliadas às ideias de 
superioridade etnocêntrica, uma série de caricaturas 
“anômalas” e, portanto, receptoras de preconceitos. 
Na democracia grega antiga, houve a instauração 
da figura da testemunha, através da qual o povo se 
apoderou do direito de dizer a verdade, de opor a 
verdade a seus próprios senhores, buscando no pro-
cesso a verdade dos fatos, a realidade do ocorrido. 
Diferentemente, o direito dos povos germânicos anti-
gos instituía- se próximo da regulação do fazer guer-
ra, por meio de jogos de provas fundados em duelos 
entre famílias, parentes ou algum autor de danos, 
sendo inclusive instaurada a vingança na qual um 
familiar poderia vingar um ente da família, ou outras 
situações previstas, alimentando assim as rivalidades 
entre as famílias. 
O antigo Império Romano expande seus domí-
nios, agregando o território pertencente a esses po-
vos germânicos e, pela influência grega, também 
incorporada à Roma antiga, as noções de julga-
mento, de testemunha e da busca pela verdade no 
processo. Enquanto o direito feudal - diante do clima 
de guerras constantes, da desarticulação do Estado 
e das disputas familiares- externava concepção se-
melhante ao direito germânico, através dos sistemas 
de provas de estrutura binária no qual o indivíduo 
deveria aceitar ou não a realização de uma prova, 
esse mecanismo de provas, díspar do sistema grego 
e romano, não serve para julgar quem tem razão, 
apenas para afirmar quem é o mais forte, o mais in-
fluente. Assim as punições variavam basicamente de 
indenização até penas de mortes, com mínima inter-
venção de terceiros nesses processos. 
O inquérito aparece, durante a Idade Média, 
como pesquisa da verdade entre as práticas jurídi-
cas. A sucessiva substituição dos sistemas de provas 
pela busca da verdade promoveu grandes avanços, 
muito além dos processos judiciários, mas influencia-
ram, portanto, toda a sociedade e instituições delas 
derivadas. Busca-se a partir de então a verdade nas 
ciências, nas pujantes universidades, na filosofia, ou 
seja, marca-se doravante, a volta do racionalismo. 
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A noção de crime altera-se, surgindo à ideia de infração que seria um dano cometido conta o Estado e 
a ordem; fazendo, portanto, com que através desse mecanismo, o Estado confiscasse o poder judiciário e 
retornasse a concepção da busca da verdade, do fato ocorrido, no processo. 
O direito penal sofre diversas reelaborações ao longo da história, desenvolvendo, um princípio teórico de 
separação do crime – infração- ligado ao código penal em si, da falta fundamentada no caráter religioso e 
moral. A lei, portanto, não deve retranscrever as leis morais e religiosas, mas deve adaptar-se ao que é nocivo 
a sociedade. Assim, a lei deve reparar o mal e impedir que males semelhantes possam ser cometidos contra 
o corpo social, ou seja, o criminoso social seria envolvido pela constituição por meio da qual seria punido. A 
partir disso surgem cinco tipos de punição, formulados por Beccaria e outros teóricos, como citado por Fou-
cault como a “bateria de penalidade”. São: “deportação, trabalho forçado, vergonha, escândalo público 
e pena de talião”. A primeira, assentada na transposição pelo individuo do pacto social, o não pertencer à 
sociedade; o segundo, restituição dos danos causados; a terceira, a exclusão dentro do corpo social, a puni-
ção viria da vergonha, espaço de exclusão social do indivíduo; o quarto consistiria em tornar o caso público, 
afetando socialmente o condenado; e por fim, a quinta, a pena de talião, fundamentação consistente na 
reciprocidade de ação por meio da qual o individuo deveria sofrer o ato cometido. 
Esses projetos penais desenvolvidos por teóricos com Beccaria duraram pouco tempo e foram substituí-
dos no início do século XIX, pela prisão. Essa nova forma de punição rapidamente se espalha, revelando-se 
distante da utilidade social, uma vez que buscava menos a defesa coletiva da sociedade e, mais o controle, 
a reforma moral das atitudes e dos comportamentos do indivíduo. Dessa forma, a noção da teoria penal, 
fundamenta-se na periculosidade, em prever e impedir certas atitudes humanas, ao invés de se ater ao que 
o indivíduo realmente fez. Nos moldes de Foucault, o controle dos indivíduos passa a ser exercido por uma 
série de poderes estatais como a polícia e toda uma rede de instituições de vigilância e correção, como por 
exemplo, as escolas as quais moldam os pensamentos e as atitudes, originando uma sociedade disciplinar. 
E atualmente, como instrumento de dominação utilizado denota-se a interpretação da constituição, muitas 
vezes, avessa à intenção do legislador, mas encontra-se condescendente na sociedade.
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Políticas de colonização, migração, imigração e 
emigração no Brasil nos séculos XIX e XX.
As migrações no Brasil 
As correntes migratórias no Brasil 
Pode-se identificar as principais correntes migra-
tórias na formação do Brasil:
- Migrações formadoras dos povos pré-colom-
bianos. Em torno de 50 mil anos atrás, povos oriundos 
da Ásia, via estreito de Bering, chegaram à América 
e Brasil. 
- Migrações dos “conquistadores”. Portugueses, 
holandeses, franceses e espanhóis passaram a orga-
nizar o espaço territorial e intervieram nas sociedades 
indígenas, escravizando-as. O fluxo migratório, espe-
cialmente do conquistador português, estava vincu-
lado: a) à apropriação militar e econômica da terra; 
b) a indivíduos atraídos pelo comércio do açúcar, 
pela mineração e algumas atividades agrícolas ou 
pelas obras de infra-estrutura. 
 - Migrações das populações indígenas. Presentes 
mais de 970 povos /nações com aproximadamente 
5 milhões de pessoas, migravam constantemente em 
busca da “terra sem males”. Com a chegada dos 
“conquistadores” as razões das migrações mudaram: 
os deslocamentos passaram a ser fugas da escravi-
dão, do genocídio, das doenças transmitidas pelo 
branco. 
- Migrações “forçadas” de escravos africanos. 
Estes africanos trazidos a ferro e fogo para o Brasil 
como “mercadorias”, tratados piores que os animais, 
tinham uma vida útil de aproximadamente 20 anos. 
Trabalhavam em torno de 14 horas ao dia e depois 
confinados em senzalas. A história registra que essa 
migração forçada trouxe cerca de 3,6 milhões de 
africanos, além dos mais de 30% mortos na travessia 
do Atlântico. 
- Migrações de colonização. Agricultores e tra-
balhadores europeus , no século XIX, excluídos da 
reorganização político-econômico pela implanta-
ção da lógica do capitalismo e, mais tarde, povos 
do Oriente vieram para consolidar a dominação do 
território, ocupar as terras de mataria e os espaços de 
fronteira. Tinham como função principal a produção 
de alimentos básicos.- Migrações de trabalhadores especializados. Tra-
balhadores europeus e asiáticos, com relativa qualifi-
cação, imigraram no pós 2ª Grande Guerra Mundial 
para o setor de serviços e em postos de trabalho no 
processo de industrialização do país. 
 - Migrações de trabalhadores clandestinos e de 
escala temporária (últimas décadas). São trabalha-
dores excluídos na origem pela concentração de 
riqueza e renda, pobreza, por ditaduras, ou desafia-
dos a buscar melhores condições de vida, mas que 
encontraram apenas a intolerância da legislação, da 
autoridade e da sociedade brasileira. Apesar do re-
torno de governos democráticos este fluxo continua. 
- Migrações internas. No início do século XX co-
meçou o processo de “enxamagem”. Esgotado o es-
paço territorial dos imigrantes europeus nas ‘colônias 
velhas’, seus descendentes são estimulados a buscar 
novas fronteiras agrícolas iniciando o ciclo da migra-
ção para as ‘colônias novas’. A partir da década de 
1930 o estímulo de políticas públicas, iniciou a colo-
nização em áreas de terras devolutas. Nas décadas 
de 60 em diante, da Revolução Verde na agricultura 
introduz a “modernização mecânico-químico-biológi-
co”, levando o setor agrícola à monocultura gerando 
um tremendo êxodo rural-rural e rural-urbano.
Hoje surge o fenômeno da “circularidade” traba-
lhadores desempregados, da economia informal e os 
excluídos que, pressionados pela falta de perspec-
tivas, buscam trabalho onde ouvem dizer que há. É 
um exército em contínuo movimento que inclui traba-
lhadores rurais (êxodo rural) e urbanos que vão para 
as cidades médias e regiões metropolitanas; para 
frentes de trabalhos rurais (colheitas, de cana, grãos, 
frutas, fumo) ou nas construções (barragens, rodovias, 
hidrelétricas, portos, obras civis...); organizam-se em 
movimentos para ocupação de terras com vista a se-
rem assentados: são migrações de fronteiras e migra-
ções de retorno.
Desafios socioculturais 
Todo ser se desenvolve dentro de uma rede de 
relações, que são como as veias que conduzem o 
sangue por todo o organismo e como a pele que per-
mite toda a circulação do sangue. A pessoa humana 
não foge deste principio e evolui como nó de rela-
ções que constituem a sociedade humana com suas 
culturas. 
H8 –ANALISAR A AÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NO QUE SE 
REFERE À DINÂMICA DOS FLUXOS POPULACIONAIS E NO 
ENFRENTAMENTO DE PROBLEMAS DE ORDEM ECONÔMICO-SOCIAL.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
29
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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28
O migrante, deixando sua terra, quebra sua rede 
originária de relações para reconstituí-la em outro lu-
gar. É por isso que, quando se desloca só ou com a 
família, intuitivamente busca lugares onde estejam 
amigos ou conhecidos. 
Inúmeros são os desafios de ordem social e cul-
tural que ele enfrentará e que se tentará enumerar 
separadamente, apesar de estarem fortemente en-
trelaçados.
 Sociais 
- Ruptura de raízes familiares.
- Confronto com atitudes racistas de intolerância 
e xenofobia.
- Acolhimento como “braço de trabalho” e não 
como pessoa.
- Tratamento não como cidadão, mas como in-
truso.
- Exigências para locação de imóvel para resi-
dência.
- Remuneração incompatível com seu trabalho 
ou com o fruto do
- seu trabalho. Acesso ao Serviço Nacional de 
Saúde apenas em situações de urgência. 
Relativização pela sua diversidade.
- Dificuldade de encontrar local para lazer.
- Esforço para escapar das redes de exploração 
de sexo e droga.
- Feminilização das migrações muitas vezes ex-
posta a caminho de exploração seja trabalhista e/
ou sexual. 
- Acusação de ser elemento de desequilíbrio nas 
remunerações legais por aceitar trabalho por qual-
quer preço. 
 Atitudes restritivas e de indiferença por parte da 
sociedade civil, cultural e religiosa com relação a imi-
grantes. 
- Inúmeros emigrantes partem com espírito de 
aventura sem a devida documentação e sem infor-
mações básicas sobre as dificuldades normais que 
enfrentarão. 
Culturais 
- Falta de conhecimento do idioma (barreiras lin-
guísticas) e dos costumes do país de destino. 
Dificuldade de “enxertar-se” na nova cultura e de 
diálogo intercultural. 
- Choque de gerações no contexto familiar.
- Dificuldade de convivência com diferentes vi-
sões de mundo.
- Aprendizagem do novo idioma sem o conheci-
mento das raízes culturais que o constituem. 
- Riqueza da cultura do migrante muitas vezes 
“explorada folcloricamente” nos países de emigra-
ção. 
-“Desligamento” da evolução da realidade so-
cioeconômico político-cultural do país de origem. 
- Dificuldade de acompanhar a evolução políti-
ca, literária e social do país de destino.
O cenário da globalização e seus atores 
As migrações hoje devem ser entendidas no ce-
nário amplo e complexo da economia globalizada. 
É necessário iniciar pela avaliação dos pressupostos 
que sustentam a economia de mercado global. Ao 
mesmo tempo em que os capitais e mercadorias 
têm livre circulação, os migrantes encontram barrei-
ras cada vez mais intransponíveis. Assim, o processo 
de globalização revela-se excludente, assimétrico e 
paradoxal. A concentração da riqueza e da renda 
nos países centrais também concentram as oportuni-
dades de trabalho. A tendência é o crescimento do 
fluxo dos países pobres em direção aos países ricos. 
Ou seja, da Ásia, África, América Latina e Leste Eu-
ropeu para Europa Central, Estados Unidos e Japão. 
Por exemplo, a Comunidade Européia atualmente 
necessita dos chamados “migrantes de reemplazo”. 
Dada a complexidade do vaivém, a origem e desti-
no deixam de ter fronteiras precisas. 
Nesse campo da mobilidade humana, os países 
ricos fazem um jogo duplo: ao mesmo tempo acei-
tam e rechaçam os migrantes. Por um lado, abrem 
a porta dos fundos para a entrada de trabalhadores 
clandestinos, pois necessitam de mão de obra fácil e 
barata para os serviços mais sujos e pesados. Pessoas 
que, por sua condição irregular, acabam submeten-
do-se a condições de trabalho extremamente pre-
cárias e a salários irrisórios. Por outro lado, fecham a 
porta da frente, negando aos imigrantes o status de 
trabalhadores legais e, consequentemente, os direi-
tos de cidadania. Além disso, o serviço de controle 
de entrada de migrantes costuma funcionar como 
uma peneira, filtrando a mão de obra qualificada e 
descartando os menos capacitados. Esse conjunto 
de fatores, entre tantos outros, torna os estrangeiros 
ainda mais vulneráveis à exploração indiscriminada. 
Neste cenário global, atuam distintos atores: em-
presas multinacionais, Estados, legisladores, forças 
de repressão, entidades e organizações defensoras 
dos direitos humanos e os próprios migrantes. Aqui as 
tensões são frequentes e os interesses conflitantes. A 
constante mobilidade humana faz esses atores de-
sempenharem papéis variados, divergentes e às ve-
zes contraditórios. 
A multidão dos “sem” 
A economia globalizada e a filosofia do neolibe-
ralismo conduzem a uma “seleção natural” em que 
os fracos são devorados pelos mais fortes. Continen-
tes inteiros, países e imensos setores da população 
são deixados à margem da história e dos benefícios 
do progresso e do crescimento econômico. Aprofun-
da-se o abismo entre pobres e ricos, seja em âmbito 
mundial e regional, seja em âmbito nacional e local. 
Agravam-se as desigualdades e a exclusão social, 
tendo como resultado, no fim da linha, o aumento do 
desemprego e da miséria, da fome e da violência. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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29
Há uma multidão de pobres e anônimos de imi-
grantes e emigrantes, refugiados, estrangeiros pre-
sos e deslocados internos. Todos eles são rostos 
“esperançosos de que lhes emprestemosnossa voz 
para denunciar injustiças, desigualdades, violações 
de direitos...” A cada dia e em cada lugar, novos 
rostos vêm somar-se à imensa multidão dos “sem”. 
Qual a saída? 
Para alguns, a solução é o movimento social or-
ganizado na luta pela terra, pelo emprego, pelos 
direitos básicos à pessoa humana e por mudanças 
estruturais na sociedade. Para outros, a migração 
aparece como caminho alternativo. Contudo, é 
preciso um alerta: não se pode, sem mais, opor os 
movimentos sociais aos migrantes isolados como 
se fossem os lutadores conscientes de um lado e 
os que preferem a fuga de outro. Na verdade “o 
imigrante é um combatente de uma guerra não 
declarada”. Emigra não para escapar à luta, mas 
para enfrentar a luta solitária por melhores condi-
ções de vida em outra parte. 
O fenômeno migratório nos dias de hoje – nú-
meros e fatos
 
Grandes movimentos populacionais em respos-
ta a fatores como crescimento demográfico, confli-
tos armados, eventos ambientais e questões relacio-
nadas à produção e trabalho são parte da história 
humana. Hoje, têm dimensão e abrangência reno-
vadas. Segundo a Organização Internacional para 
Migrações (OIM), existem 214 milhões de migrantes 
em todo o mundo5 . Embora, em termos percen-
tuais, se verifique certa estabilidade no crescimento 
do número de migrantes internacionais (elevouse 
de 3% da população global, em 2005, para 3,1%, 
em 2010), em valores absolutos, o contingente atual 
de migrantes é fenômeno sem precedentes, resul-
tado de crescimento muito rápido no número de 
migrantes nas últimas décadas: em 1970, existiam 
82 milhões de migrantes; esse número chegou a 175 
milhões, em 2000, e a cerca de 200 milhões em 2005 
. Em 2050, estimase que o número de migrantes in-
ternacionais chegará a 405 milhões . A maioria das 
migrações ocorre de forma legal, sendo que 10 a 
15% dos migrantes internacionais se encontram em 
situação irregular. 
No entanto, o número de migrantes irregula-
res vem aumentando de maneira relativamente 
constante. Em sua maioria, os migrantes irregulares 
adentram os países receptores por vias regulares, 
mas permanecem além do período devido ou em 
contradição com o tipo de visto recebido.
Os fluxos migratórios no mundo a partir do pro-
cesso de globalização (conteúdo adicionado por 
Ananda Veduvoto)
A humanidade está em movimento pelo mundo. 
Na contemporaneidade, várias razões levam milha-
res de pessoas a saírem de seus países em busca 
de melhores condições de vida em outros lugares. 
A partir da intensificação do processo de globaliza-
ção, houve à aceleração dos fluxos de capital, mer-
cadorias, serviços, tecnologias e pessoas em circula-
ção pelo mundo. As empresas multinacionais estão 
em todas as partes do globo, buscam mão-de-obra 
barata e disponível. Este processo tem contribuído 
para a grande desigualdade econômica e social 
entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos – 
países do Norte e países do Sul.
Novas formas de produção e consumo têm sido 
estabelecidas, levando a grande parte da popula-
ção mundial a condições precárias de vida. Povos, 
grupos étnicos, famílias e indivíduos são desenraiza-
dos de seus países e buscam refúgio em outros Esta-
dos por razões diversas e complexas, como:
•	 Conflitos civis e Governos Autoritários;
•	 Exploração e desrespeito aos direitos huma-
nos;
•	 Miséria e fome;
•	 Desastres naturais e degradação ambiental;
•	 Perseguição política, religiosa ou cultural;
•	 Busca por melhor qualidade de vida.
O processo de globalização permite haver gran-
de mobilidade territorial devido a modernização 
dos veículos de comunicação e dos meios de trans-
porte. O acesso a informações sobre migrações e 
oportunidades de trabalho são facilmente acessa-
das, os deslocamentos são cada vez mais rápidos 
e acessíveis até mesmo a populações com poucos 
recursos financeiros. A migração, inclusive, é uma 
das maiores indústrias do mundo, uma vez que par-
ticipa da rota de negócios de instituições bancárias, 
empresas aéreas, agências de viagens, traficantes 
e angariadores que facilitam deslocamentos ilegais.
Os governos favorecem a entrada de fluxos 
econômicos, principalmente empresas e comércio, 
porém permanecem austeros no que se refere a en-
trada de pessoas: as economias ricas incentivam a 
imigração de profissionais qualificados e dificultam 
a entrada de grupos pobres e com menor qualifi-
cação. 
Distribuição Geográfica dos Migrantes
 Dos migrantes internacionais, 60% vivem em 
países desenvolvidos; a maior parte na Europa (72,6 
milhões), na Ásia (61 milhões) – sobretudo no Ja-
pão, na Coréia do Sul e em Taiwan – e na América 
do Norte (50 milhões). Em 2010, uma em cada dez 
pessoas que viviam em países desenvolvidos era mi-
grante, ao passo que era migrante uma em cada 
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
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30
setenta pessoas que viviam em países em desenvol-
vimento (PEDs). Isso não significa que a maioria dos 
migrantes se desloque de PEDs para países desen-
volvidos. Entre as pessoas que cruzam fronteiras na-
cionais, pouco mais de um terço mudam de um país 
em desenvolvimento para um país desenvolvido. A 
maioria dos migrantes internacionais mudou se en-
tre PEDs ou entre países desenvolvidos. Ademais, 
segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 
2009 do Programa da ONU para o Desenvolvimento 
(PNUD), “a esmagadora maioria das pessoas que se 
deslocam o faz dentro de seu próprio país”: são 740 
milhões os migrantes internos.
Oitenta por cento dos refugiados – indivíduos 
com status distinto de outras categorias de migran-
tes, em relação aos quais os países têm obrigações 
legais de proteção e de nonrefoulement – e deslo-
cados internos encontram abrigo nos PEDs. De acor-
do com o Alto Comissariado das Nações Unidas 
para Refugiados (ACNUR), alguns dos países mais 
pobres do mundo acolhem significativas massas de 
refugiados, tanto em termos absolutos quanto em 
relação ao tamanho de sua economia. O Paquis-
tão, por exemplo, abriga 1,9 milhões de refugiados, 
com impacto econômico de 710 refugiados para 
cada dólar do PIB per capita, seguido pela Repú-
blica Democrática do Congo (475 refugiados para 
cada dólar do PIB per capita) e Quênia (247 refugia-
dos para cada dólar do PIB per capita). Compara-
tivamente, na Alemanha, o país industrializado com 
maior número de refugiados (594 mil pessoas), o im-
pacto econômico é de dezessete refugiados para 
cada dólar do PIB per capita alemão. Segundo o 
Alto Comissário para Refugiados, Antonio Guterres, 
configurase cenário em que países industrializados 
transferem aos países mais pobres o ônus da pro-
teção aos refugiados. Além de demonstrar o fraco 
empenho dos países desenvolvidos em cumprir suas 
obrigações de proteção internacional assumidas no 
âmbito da Convenção das Nações Unidas Relativa 
ao Estatuto de Refugiado, de 1951, e o Protocolo so-
bre o Estatuto dos Refugiados, de 1967, esse cenário 
revela o espírito humanitário e de solidariedade que 
move as políticas migratórias dos PEDs, apesar das 
dificuldades econômicas. De acordo com dados 
do Conare (Conselho Nacional para Refugiados), 
o Brasil abrigava, em 2011, 4.431 refugiados, de 77 
nacionalidades diferentes: a maioria composta por 
angolanos (38%), seguida de colombianos (14%) e 
de cidadãos da República Democrática do Congo 
(10%). Para Guterres, o Brasil é um “símbolo impor-
tante de atitude em relação ao refúgio.
A proporção de “pessoas nascidas no exterior” é 
mais elevada na Oceania (17%), América do Norte 
(14%) e Europa (10%). Estimase que, em 2010, migran-
tes internacionais representaram mais de 10% da po-
pulação em 38 países com populações superiores a 
um milhão de pessoas. Os países com maior propor-
ção de migrantes,em 2010, foram Catar (87%), Emi-
rados Árabes Unidos (70%), Kuwait (69%), Jordânia 
(46%) e a Palestina (44%)12. De acordo com o World 
Migration Report 2010, os dez países com maiores 
populações de pessoas “nascidas no exterior”, em 
ordem decrescente, em termos absolutos, são: EUA, 
Rússia, Alemanha, Arábia Saudita, Canadá, França, 
Reino Unido, Espanha, Índia e Ucrânia. Os dez maio-
res países em termos de números de emigrantes são: 
Rússia, México, Índia, Bangladesh, Ucrânia, China, 
Reino Unido, Alemanha, Cazaquistão e Paquistão. 
Ao longo do tempo, os fluxos migratórios ad-
quirem nova dinâmica. Na Europa, zonas anterior-
mente de emigração, como o Norte e o Oeste do 
continente, tornaramse áreas de imigração, a partir 
do pósSegunda Guerra Mundial, ao passo que o Sul 
da Europa, que por longas décadas se caracterizou 
pelo expressivo número de emigrantes, consolida se 
como área também de imigração, recebendo flu-
xos importantes de migrantes, desde os anos oiten-
ta. Fenômeno semelhante atinge a Europa Oriental, 
que se firma como área de imigração. 
Hoje, seis países europeus encontramse entre os 
dez maiores destinos de migrantes: França, Alema-
nha, Rússia, Espanha, Ucrânia e Reino Unido. Um em 
cada três migrantes internacionais encontrase na 
Europa (72,6 milhões em números absolutos), sendo 
que os migrantes representam 8,7 % da população 
total do continente. No continente americano, por 
sua vez, vivem 27% do total de migrantes interna-
cionais. É característica peculiar das Américas o 
fato de as migrações contemporâneas ocorrerem 
predominantemente entre os países da região. Na 
América do Norte, existem cinquenta milhões de mi-
grantes. Os EUA, país tradicional de imigração, de-
têm o maior estoque mundial de migrantes: há, no 
país, 42,8 milhões de migrantes13, que representam 
um quinto do número total de migrantes internacio-
nais e 13,5% da população norteamericana. No Ca-
nadá, residem 7,2 milhões de migrantes. 
Em termos proporcionais (quantidade de migran-
tes relativa ao tamanho da população), Bermudas 
e Canadá ocupam os primeiros lugares, juntamente 
com Saint Pierre e Miquelon (30,7%, 21,3% e 16,9%, 
respectivamente), à frente dos EUA. Na América La-
tina e Caribe, vivem 7,5 milhões migrantes. Argenti-
na, Venezuela e México são os principais países de 
destino, de acordo com o World Migration Report 
2010. O Brasil abrigava 688 mil migrantes em 2010. 
Verificouse, desde o ano 2000, decréscimo no 
número de migrantes nos dez principais países de 
destino da região entre os quais, Argentina, Para-
guai, Porto Rico e Venezuela, o que decorreu da 
deterioração das condições econômicas nesses 
países. O Equador, por outro lado, experimentou 
o maior aumento relativo no número de migrantes 
desde 2000, sendo, em 2010, o sétimo país de destino 
no subcontinente. Tal fato se explica pelo aumento 
da entrada de migrantes colombianos e, sobretudo, 
pela política migratória mais liberal implementada 
pelo governo equatoriano, o que vem tornando o 
Equador ponto importante de trânsito para os mi-
grantes da região, em seu deslocamento para paí-
ses preferenciais de destino entre os quais, o Brasil. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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31
O estoque de migrantes internacionais na Ásia é estimado em 61 milhões, o que representa aproxima-
damente 13% do total global. Quase a metade dos migrantes internacionais na Ásia é do sexo feminino. Em 
números absolutos e em termos globais, quatro países asiáticos figuram entre os maiores países de emigra-
ção: Índia, Bangladesh, China e Paquistão. 
A maior parte dos migrantes asiáticos (43%) deslocase entre os países da região, ao passo que 37% se 
destinam aos países da OCDE. Quatro dos mais importantes “corredores migratórios” incluem países asiá-
ticos: Bangladesh – Índia (3,5 milhões de migrantes por ano); Índia – Emirados Árabes Unidos (2,2 milhões), 
Filipinas – EUA e Afeganistão – Irã (ambos com 1,6 milhões de migrantes por ano). O Japão é importante 
país de destino dos migrantes da região: na Ásia Oriental, é o segundo país preferencial de destino, atrás 
apenas dos EUA. 
Dada a condição de sociedades em processo acelerado de envelhecimento, o Japão e a Coréia do 
Sul passam a reconhecer as migrações como parte importante das respectivas estratégias para compen-
sar os impactos dessa tendência demográfica no mercado de trabalho e na previdência social. O Oriente 
Médio constitui, hoje, uma das áreas de crescimento mais rápido em termos de recepção de migrantes, 
com taxa média de crescimento anual de 3,8%. Em 2010, a região abrigava 26,6 milhões de migrantes, o 
que representou aumento de 4,5 milhões de migrantes em relação ao ano de 2005. Os países do Conselho 
de Cooperação do Golfo e Israel são os principais destinos na região. 
A conexão ÍndiaEmirados Árabes Unidos movimenta o mais alto valor de remessas no mundo. A Ocea-
nia abriga cerca de seis milhões de migrantes. Embora, em termos relativos, esse valor corresponda a me-
nos de 3% do número global de migrantes, a região possui a maior proporção de migrantes em relação 
às populações nacionais em todo o mundo. Nos anos recentes, 21,8 % do crescimento populacional da 
Oceania deveuse à chegada de novos migrantes20. Migrantes representam 25% ou mais da população 
total de quatro cidades da região: Sydney, Melbourne e Perth, na Austrália, e Auckland, na Nova Zelândia.
O número de migrantes internacionais na África foi estimado em dezenove milhões, cerca de 9% do 
estoque global de migrantes. O número real pode ser ainda mais elevado, ante a insuficiência de dados 
sobre migrações na região. A mobilidade interna é significativa no continente africano, em razão dos cha-
mados fatores push x pull (de atração e repulsão) – conflitos, desastres ambientais, guerras civis ou desequi-
líbrios de renda – ou da característica nômade de várias tribos africanas. 
O fato de cerca de 40% do total global de deslocados internos encontraremse na África reflete essa 
mobilidade intensa. Ademais, o continente passa por intenso processo de urbanização, o que resulta em 
altas taxas de migração das zonas rurais para os centros urbanos. Segundo o World Migration Report 2010, 
estimase que as zonas urbanas abrigarão, em 2050, 68% da população da África subsaariana. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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32
Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reorga-
nização política internacional e os organismos multi-
laterais nos séculos XX e XXI.
As novas ferramentas tecnológicas, o padrão 
de circulação de capital em escala internacional, a 
administração de interdependência e conflitos, bem 
como uma tendência de “harmonização” das dife-
renças nacionais coloca a necessidade de analisar 
a organização dos interesses de diversos agentes em 
escala internacional. Iná Elias de Castro (2006) expli-
ca que o modelo de sistema internacional da atua-
lidade tem como fundamento as estratégias elabo-
radas pelos Estados, “a partir de suas possibilidades 
frente aos outros, para a escolha de posições favorá-
veis com relação às guerras e aos acordos”. 
A soberania tem norteado as decisões estatais 
tanto para legitimar conflitos, como para encaminhar 
as escolhas do Estado. Porém, os avanços tecnológi-
cos têm trazido mudanças importantes nos cenários 
das relações internacionais, “nas quais a soberania é 
posta em causa, as guerras mudam de sentido e a 
possibilidade de circulação de informações facilita o 
aparecimento de redes que criam formas de convi-
vência internacional” (CASTRO, 2006, p. 245).
No espaço público global que está posto, criou-
se um ambiente de grande competitividade. Tor-
nou-se necessário a busca por novos espaços de 
cooperação entre os Estados.A formação de blocos 
regionais, por exemplo, tem sido uma das estratégias 
utilizadas para fazer frente a competitividade ins-
taurada. “A integração regional tem surgido então 
como uma alternativa de negociação e de harmoni-
zação de práticas comerciais num conjunto reduzido 
de países vizinhos [...]” (COSTA, 2006, p. 258). Na con-
temporaneidade, a partir das análises geográficas, 
os blocos regionais tornam-se uma nova escala de 
análise. 
Além disso, é preciso considerar que o sistema po-
lítico internacional também sofreu alterações impor-
tantes. A maior parte das atividades do Estado estão 
submetidas a internacionalização de processos. “Os 
primeiros resultados das relações entre os Estados e 
entre as organizações internacionais, como os atores 
clássicos do sistema, regidos pela diplomacia e pelo 
direito internacional público”. Os fenômenos são 
bastante diversos e podem ultrapassar até mesmo o 
controle estatal – terrorismo, fluxos de informações, 
ações culturais e políticas – que se manifestam atra-
vés das fronteiras dos Estados, “através das normas 
do direito internacional e apesar das convenções di-
plomáticas” (CASTRO, 2006, p. 262).
Em meio a todas as reconfigurações do sistema 
internacional político e econômico, estão presentes 
também as organizações não governamentais, as 
empresas multinacionais e as instituições supranacio-
nais. Segundo Castro (2006), alguns destes atores po-
dem ter mais poder do que alguns Estados, como as 
corporações ou empresas multinacionais. “É, portan-
to, nessa nova arena de conflitos de interesses que 
se consubstanciam as estratégias de cooperação, 
alianças, negociações e confrontos” (CASTRO, 2006, 
p. 267). A partir desta discursiva, neste texto, busca-
remos discutir o papel do Estado-nação e as novas 
escalas geográficas a partir da globalização.
Na contemporaneidade, atores individuais e insti-
tucionais marcam um novo tempo da relação política 
com o território. O tempo atual permite que a socie-
dade exista em múltiplas escalas – do local ao global 
–, “que paralelamente estabelece a necessidade de 
os territórios delimitados e estáveis da política serem 
obrigados a conviver com as múltiplas espacialida-
des inventadas pelos atores sociais” (CASTRO, 2005, 
p. 80). Na globalização, os fenômenos políticos não 
se restringem a uma escala somente, desdobram-se 
em confluências e divergências nacionais, regionais, 
locais e também globais. 
As transformações desencadeadas pela globali-
zação, que impactam todos os níveis escalares, reo-
rientaram as relações interestatais e a economia polí-
tica internacional. O papel representado pelo Estado 
também sofreu transformações importantes. Outros 
agentes, em escala regional e global, passaram a 
exercer centralidade no desencadeamento e ge-
renciamento de conflitos, comenta Antônio Marcos 
Roseira (2011). “Os conflitos tornam-se menos centra-
lizados nas relações entre Estados, e cada vez mais 
difusos e flexíveis através da atuação de forças não 
estatais, como movimentos políticos internacionais, 
organizações terroristas, crimes fronteiriços, etc” (RO-
SEIRA, 2011, p. 23).
Para Milton Santos (2000) a globalização atual 
deve ser considerada a partir de dois processos pa-
ralelos. Primeiramente, é preciso considerar que há a 
produção de uma materialidade –, são as condições 
materiais que permitem a reprodução da base eco-
nômica, dos meios de transportes e das comunica-
ções. E, também, há, por outro lado, a produção de 
H9 –COMPARAR O SIGNIFICADO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO 
DAS ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS E SOCIOECONÔMICAS EM 
ESCALA LOCAL, REGIONAL OU MUNDIAL.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
33
novas relações sociais entre países, classes e pessoas. 
A informação e o capital tornam o mundo mais fluí-
do. De modo que, “todos os contextos se intrometem 
e superpõem, corporificando um contexto global, no 
qual as fronteiras se tornam porosas para o dinheiro 
e para a informação”. Em função disso, “o território 
deixa de ter fronteiras rígidas, o que leva ao enfra-
quecimento e à mudança de natureza dos Estados 
nacionais” (SANTOS, 2001, p. 32).
A princípio, David Harvey (1996), explica que 
a globalização pode ser analisada a partir de três 
elementos. O primeiro diz respeito a desregulação 
financeira – “aquilo que aconteceu realmente foi a 
passagem de um sistema global largamente contro-
lado pelos Estados Unidos para um outro sistema glo-
bal mais descentralizado e coordenado por meio do 
mercado”. O efeito mundial deste processo foi tor-
nar as “condições financeiras do capitalismo muito 
mais instáveis e volúveis” (HARVEY, 1996, p. 13). O se-
gundo elemento proposto por Harvey (1996) refere-
se à “revolução informática”, que conduziu mudan-
ças importantes nas organizações de produção e 
consumo, redefinindo necessidades e exigências. A 
revolução informática conduziu o que o autor cha-
mou de “desmaterialização do espaço”, atualmen-
te, coordenada pelas instituições financeiras e de 
capital internacional como um meio de controlar, 
instantaneamente, as suas ações e atividades no es-
paço. “Teve o efeito de formar um assim dito ‘cyber
-espaço’ no qual realizou certos tipos de importantes 
transações, sobretudo as financeiras e especulati-
vas” (HARVEY, 1996, p. 13). A terceira questão que 
permite analisar os desdobramentos da globaliza-
ção, para Harvey (1996), é a diminuição dos custos 
de transportes e mercadorias. Destes três aspectos 
que permitem compreender as mudanças econômi-
cas, sociais e políticas provocadas pelo processo de 
globalização, Harvey (1996), desmembra a análise 
em seis mudanças espaciais importantes. 
A primeira delas é a “produção e as formas or-
ganizativas do capital – sobretudo a multinacional 
– mudaram-se, aproveitando plenamente das redu-
ções dos custos no deslocamento de mercadorias 
e informações”. Ocorreu de forma intensa a deslo-
calização da produção, a dispersão geográfica e a 
fragmentação dos sistemas produtivos, “da divisão 
do trabalho e das espacializações das funções, se 
deram pari passu ao aumento da centralização do 
poder das grandes corporações”. De forma signifi-
cativa, aumentou o domínio e poder das multinacio-
nais sobre a organização do espaço (HARVEY, 1996, 
p. 13). 
Derivada das três mudanças importantes (des-
regulação financeira, revolução informática e di-
minuição dos custos de transporte e mercadoria), a 
força de trabalho assalariada duplicou num período 
de tempo menor que vinte anos. Porém, acompa-
nhando o movimento de dispersão geográfica dos 
sistemas produtivos, os proletários também estão 
geograficamente dispersos. Justamente em função 
disto, também se torna mais difícil organizá-los (HAR-
VEY, 1996). Outra mudança importante apontada 
por Harvey (1996, p. 14) é o constante movimento 
da população global, o fluxo migratório é cada vez 
maior e contínuo. “Os limites dos Estados são mais 
permeáveis ao capital que ao trabalho e às pessoas, 
mas em cada caso são suficientes”. Contudo, o au-
tor adverte: “organizar a força de trabalho diante de 
notáveis diversidades étnicas e culturais se torna um 
problema de dimensões particulares”.
O processo de urbanização foi intensificado ra-
pidamente. Segundo Harvey, tornou-se uma hiperur-
banização. A população que vive em espaços ur-
banos foi duplicada em trinta anos e “hoje se pode 
observar uma maciça concentração espacial numa 
escala antes considerada inconcebível” (HARVEY, 
1996, p. 14). 
Para concluir as análises acerca das transforma-
ções empreendidas pelo processo de globalização, 
Harvey (1996), observa a ocorrência de dois proces-
sos: a mudança de territorialização do mundo e a 
perda de poderes do Estado. A territorialização do 
mundo foi modificada não só em função do término 
da Guerra Fria, observa Harvey. “Talvez o elementomais importante tenha sido o diferente papel do Es-
tado, que perdeu alguns (se não todos) os poderes 
tradicionais para o controle da mobilidade do ca-
pital, sobretudo financeiro e monetário”. De modo 
geral, as atividades designadas ao Estado estão sub-
metidas ao capital financeiro. A função do Estado 
passou a ser criar uma situação de favorecesse os 
negócios das corporações multinacionais. Para isso, 
a estratégia utilizada foi conduzir operações de ajus-
tamento estrutural e processos de austeridade fiscal 
(HARVEY, 1996, p. 14). 
Em contrapartida, embora o Estado tenha perdi-
do alguns de seus poderes, no entendimento de Har-
vey, “tornou-se mais difícil para os poderes ocultos 
exercitar a disciplina sobre os outros, enquanto para 
os poderes periféricos tornou-se mais fácil se inserir 
no jogo das competições capitalistas”.
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A questão dos movimentos sociais e parti-cipação popular remetem sempre à pro-blemática das classes sociais oriundas da 
sociedade capitalista. Nesta relação de classes anta-
gônica e contraditória, os movimentos sociais, a par-
ticipação popular, as greves e as reivindicações são 
formas de expressão na luta por melhores condições 
de existência. 
No século XVIII se completa a transição de sistema 
feudal a capitalismo, as mudanças provocadas no 
processo de produção e a emergência do trabalho 
assalariado impactam diretamente as relações so-
ciais, reorganizando a sociedade em moldes capita-
lista de produção e reprodução, dividindo-a em duas 
classes sociais, dos que detêm e dos que não detêm 
os meios de produção. 
Esta divisão elucida o caráter antagônico das rela-
ções capitalistas, permeando todas as atividades hu-
manas e esferas da vida social estabelecidas no con-
junto das práticassociais, potencializando o processo 
de dominação econômica, política, social, ideológi-
ca e cultural e a manutenção do mando e do poder. 
A venda da força de trabalho aliena o trabalha-
dor de sua capacidade criativa de produção, que 
não percebendo a alienação, não reconhece a ex-
ploração de que é vítima. Os conflitos entre as classes 
aparecem a partir do momento em que os trabalha-
dores percebem que estão trabalhando mais e, no 
entanto, estão cada dia mais miseráveis. 
Vários tipos de enfrentamento vão surgindo no 
decorrer do desenvolvimento do capitalismo, em que 
os operários vão se organizando, de forma lenta, mas 
constante, em associações e sindicatos e a partir de-
les ocorrem os “movimentos de independência”. A 
teoria marxista mostra a importância do processo de 
formação de consciência de classe, por meio da qual 
o trabalhador descobre que seus interesses são diver-
gentes dos interesses da classe dominante. 
Os operários jamais aceitaram passivamente as 
novas condições impostas pela consolidação do ca-
pitalismo e da burguesia e, diante das contradições re-
sultantes desta consolidação ao longo do século XIX. 
“Toda propriedade burguesa, enquanto propriedade 
exclusiva, é baseada na miséria e no trabalho forçado 
do povo, forçado não pela lei, mas pela fome”. 
As diferenças sociais se tornaram agudizadas em 
face das condições de vida e de trabalho da classe 
dos trabalhadores, produzindo a resistência dos mes-
mos de diversas maneiras e em diversos lugares no 
mundo. 
No Brasil, a independência e a organização do 
Estado brasileiro após séculos de colônia império, se 
processam de acordo com as aspirações e interes-
ses da aristocracia rural; o processo de emancipa-
ção política do Brasil não alterou as estruturas de 
poder no país. “Permanecerão os mesmos quadros 
administrativos, na maior parte das vezes até as mes-
mas pessoas; e os processos não se modificarão.” 
O estudo da história revela que os movimentos 
sociais e a participação popular estiveram sempre 
presentes em todas as sociedades e devem ser en-
tendidos como fenômenos do processo de mudan-
ça. 
Avanços dos movimentos sociais 
O movimento social refere-se então a perspec-
tiva de mudança social, isto é, a possibilidade de 
superação das condições de opressão e da cons-
trução de uma nova forma de sociedade. 
Na Antiguidade destacam-se o movimento de 
escravos e religiosos; na Baixa Idade Média, os mo-
vimentos camponeses e servis – os camponeses ti-
nham poucos direitos, viviam quase completamen-
te a mercê de seus senhores, pagando a esses vá-
rias taxas. Os nobres dominavam a terra, detendo 
todo poder político, econômico, judicial e militar, 
formando a classe dominante na Europa por aproxi-
madamente 400 anos; ocorrem as insurreições cam-
ponesas e as revoltas se alastram rompendo com os 
laços de lealdade. 
Nas cidades (burgos), os artesãos entram em 
conflito com os comerciantes ricos (burgueses) que 
os mantinham presos e impotentes. Os comercian-
tes, por sua vez pressionam o rei, exigindo maior li-
berdade comercial e reconhecimento político junto 
às esferas do poder. Este período de grande efer-
vescência dos movimentos sociais culmina na der-
rocada do sistema feudal. 
Chega-se na Idade Moderna com os movimen-
tos dos mercadores e comerciantes protagonizando 
a Revolução Industrial e a transição para o sistema 
capitalista de produção. Na Idade Contemporâ-
nea, com o capitalismo já consolidado, destacam-
se os movimentos operários denunciando as precá-
rias condições de vida nas fábricas e nas cidades. 
O pensador alemão Karl Marx em muito contri-
buiu para a compreensão de classe social a partir 
da relação e reprodução social, em que as condi-
ções materiais da sociedade condicionam as rela-
H10 –RECONHECER A DINÂMICA DA ORGANIZAÇÃO DOS 
MOVIMENTOS SOCIAIS E A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA 
COLETIVIDADE NA TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE HISTÓRICO-GEOGRÁFICA.
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35
ções sociais, isto é, a situação de classe condiciona 
a relação do indivíduo com e na sociedade. Para 
Marx: “Não é a consciência dos homens que deter-
mina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social 
que determina sua consciência”. 
Uma das faces mais perversas do capitalismo se 
mostra na exploração do trabalhador com jornadas 
de trabalho excessivas e péssimas condições de so-
brevivência aviltantes à dignidade humana. Alguns 
segmentos de trabalhadores, em lugares e momen-
tos diversos, começam a se insurgir contra as explo-
rações sofridas. As lutas, a princípio mais isoladas, por 
melhores salários e redução de jornada de trabalho, 
pouco a pouco, tornam-se mais frequentes e orga-
nizadas. 
A primeira manifestação de resistência foi o “Mo-
vimento Ludita”, no qual operários ingleses inspirados 
em Ned Ludd, deram início à destruição das máqui-
nas, responsabilizadas como a causa da situação 
de miséria dos trabalhadores; o governo reage vio-
lentamente com perseguições e até condenações 
à morte. 
As greves, as ações de quebra-quebras de má-
quinas ou simplesmente o cruzar de braços implica-
va em prejuízos imediato aos capitalistas, posto que, 
não havendo produção não havia exploração da 
mais-valia e, portanto, não havia acumulação. Esses 
eram os únicos instrumentos de luta dos trabalhado-
res, uma vez que os mesmos não tinham quem os 
representassem para defender seus interesses diante 
do Estado em face do capital. 
A segunda manifestação, o “Movimento Cartis-
ta”, em 1830, também na Inglaterra, foi outro mo-
mento da luta operária; criou-se a Associação dos 
Operários por meio da qual foram realizadas greves, 
passeatas e comícios para pressionar o parlamento 
inglês. Os operários pretendiam com esse movimento 
uma representação política do proletariado, no en-
tanto, a publicação da “Carta do Povo” foi recusa-
da pelo governo queesvaziou esse movimento em 
1848. Neste mesmo ano, a publicação do Manifesto 
Comunista, de Karl Marx e Engels aponta um novo 
caminho para os trabalhadores, a classe proletária 
orientada para a luta. 
Após longo processo de conflitos, o movimento 
operário chegou ao final do século XIX com uma 
consciência crítica relativamente desenvolvida so-
bre a sociedade capitalista, tendo claro o seu pa-
pel de sujeito de transformações sociais. O proces-
so pelo qual os indivíduos passam, como agente de 
transformação social, de uma situação passiva para 
uma situação ativa e reivindicatória é decorrente do 
contexto socioeconômico e histórico de cada socie-
dade. 
Para se compreender a construção histórica dos 
movimentos sociais é preciso valorizar as experiências 
efetivas de reivindicações e conscientização dos tra-
balhadores, por meio das organizações representa-
tivas como sindicatos e partidos políticos. Neste ce-
nário, Antônio Gramsci, pensador italiano teórico do 
marxismo, enfatiza: “a necessidade da formação do 
intelectual orgânico, ou seja, o intelectual ligado a 
sua classe e capaz de elaborar coerente e critica-
mente a experiência proletária.” 
Os avanços observados em alguns momentos da 
história do Brasil, nas órbitas econômicas, sociais e 
políticas, sempre estiveram vinculadas aos interesses 
do capitalismo internacional o que significa que na 
divisão internacional do trabalho, o papel do Brasil 
foi sempre de subalternidade em relação aos países 
desenvolvidos, submetendo o povo a uma situação 
opressiva. 
Nos três séculos de colonização portuguesa não 
se proporcionou nenhum desenvolvimento interno 
e nem uma base para o desenvolvimento industrial 
futuro, os movimentos sociais deste período tinham 
como motivação comum a opressão econômica e 
política exercida por Portugal. 
A principal beneficiária do sete de setembro foi a 
aristocracia rural, que manteve seus interesses eco-
nômicos garantidos, continuando a responder aos 
movimentos de resistências com opressão, como por 
exemplo, nas revoltas: “Cabanagem” - no Pará de 
1835 a 1840, que culminou no extermínio de grande 
parte da população pela polícia - e na “Balaiada”, 
no Maranhão de 1838 a 1841. O esmagamento des-
ses movimentos revolucionários que apresentavam 
um claro conteúdo social e uma evidente ameaça a 
ordem escravocrata, consolidou o poder desta aris-
tocracia. 
A paz social ou a estabilidade política deste pe-
ríodo é o resultado da brutal repressão aos movimen-
tos sociais que explodiam. Tratava-se de manter à 
distância o povo brasileiro, sendo de acordo com 
o jurista brasileiro Raimundo Faoro “uma espécie de 
vulcão adormecido que não deve ser despertado”. 
No final do Império, a estrutura social resultante 
de quase quatrocentos anos de história era de “uma 
classe dominante” composta de senhores de escra-
vos e de terras, uma “classe média” de militares, pro-
fissionais liberais, funcionários públicos e pequenos 
produtores agrícolas e de uma “classe baixa”, maio-
ria da população, composta de escravos, trabalha-
dores sem livres, colonos e assalariados. 
Não havia projeto político que contemplasse os 
interesses dessa maioria. Ficando essa população su-
jeita, por longo tempo, à dominação das oligarquias 
agrárias conservadoras e das elites liberais. 
No início da República, a repressão aos movimen-
tos de Canudos (1893-1897) – resistência das popula-
ções sertanejas contra a opressão do latifúndio – e o 
do Contestado (1912-1916) – resistência de campo-
neses que juntamente com o “monge” João Maria 
lutavam pela permanência em suas terras –, marcou 
o tom com que os governos tratariam os movimentos 
sociais nos anos seguintes. 
O movimento operário no Brasil é influenciado 
pelas ideias anarquistas trazidas pelos imigrantes eu-
ropeus. Na luta pela emancipação, a classe operária 
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começou a se organizar, os sindicatos surgiram nos 
primeiros anos do século XX. As greves por melhores 
salários, pela redução da jornada de trabalho, pela 
regulamentação do trabalho feminino e infantil, pelo 
descanso semanal, pela revogação da lei de expul-
são dos estrangeiros, que eram proibidos de partici-
par das lutas sindicais, atingiram seu apogeu. Entre-
tanto, em 1920, o movimento entra em fase de reflu-
xo, após as violentas repressões sofridas, com prisões 
e expulsões de estrangeiros, sem resultados práticos 
efetivos. Apesar de muitas lutas, as reivindicações 
nas greves eram sempre as mesmas em face da limi-
tação das conquistas obtidas e da pouca mudança 
em relação à opressão a que os trabalhadores eram 
submetidos dentro e fora das fábricas. 
No final dos anos 20, no entanto, o movimento 
operário voltaria a crescer, sob a influência dos co-
munistas, que passariam a exercer a hegemonia no 
movimento operário daquele momento em diante. 
Todavia, o crescimento verificado no movimento 
operário foi inibido pelas reformas promovidas a par-
tir da década de 30. A mudança do eixo econômico, 
de agrário para industrial, com o Estado à dianteira, 
implicou a institucionalização das relações entre 
capital e trabalho, como por exemplo, a definição 
da jornada de oito horas diárias, do salário mínimo 
e da organização sindical. Assim, ao mesmo tempo 
em que o Estado atendia às reivindicações dos ope-
rários, aparecendo como protetor e benevolente, 
controlava todos os movimentos sociais, restringindo 
quase totalmente suas ações políticas. 
Nas décadas de 45 a 46, o movimento operário 
voltaria a crescer, com relativa liberdade, proporcio-
nada pela Constituição Liberal que vigorou até 1964; 
nos anos 60, os movimentos sociais avançaram, de-
notando uma crescente participação popular nas 
discussões dos problemas nacionais. 
Contudo, esse processo de intensa participação, 
foi interrompido com o golpe militar de 1964, que, 
a pretexto de livrar o Brasil do “perigo comunista” e 
respaldando-se no binômio ideológico “segurança e 
desenvolvimento”, restringiu a participação popular 
e proibiu qualquer manifestação que representasse 
ameaça a “ordem pública”. 
A perversa situação instaurada no Brasil pela Di-
tadura Militar (1964 – 1985), propondo impedimento 
do livre exercício dos direitos políticos, desmobilizou 
os movimentos sociais que passaram de um plano 
de atuação concreta para a descrença em face da 
decepção da sociedade civil com a política, que 
não mais articulava as demandas das camadas po-
pulares e médias. 
Neste contexto, a acumulação capitalista se fez 
apoiada em um governo militar e autoritário, a partir 
de um modelo de desenvolvimento excludente, que 
beneficiou apenas as classes empresariais ligadas 
aos monopólios, os movimentos sociais que ocorre-
ram no início dos anos 70, tinham como objetivo a 
satisfação das necessidades mínimas de sobrevivên-
cia da população pobre. Através dos setores popu-
lares, surgiram, então, movimentos por: creches, ha-
bitação, transportes, postos de saúde e melhoria em 
favelas, e ainda reivindicação por congelamento de 
preços e correção dos salários. 
No final dos anos 70, acontece o reaparecimen-
to do movimento operário, com as greves no ABCD 
paulista, em 1978, bem como sua reorganização 
através das centrais sindicais: Central Única dos Tra-
balhadores (CUT) e Central Geral dos Trabalhadores 
(CGT) e da articulação com partidos políticos. 
Nos anos 80, a relevância dos movimentos so-
ciais foi notável na campanha por eleições diretas 
para presidente da República – as Diretas Já (1984- 
1985) e na Constituinte de 1988, na qual se verifica-
ram avanços importantes com relação aos direitos 
de cidadania. Surgem novos movimentos centrados 
em questões éticas ou de valorização da vida.Em 
vista da violência, dos escândalos políticos, cliente-
lismo e corrupção, a população reage no plano da 
moral e nas questões sociais referentes a problemá-
tica da idade, fazendo emergir movimentos como: 
Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua 
(MNMMR), Movimento dos Aposentados, do Negro e 
do Indígena, dos Homossexuais, Feministas, Ecológi-
cos e outros. 
Nos anos 90, a deposição do então presidente 
Fernando Collor de Mello é resultado de intensas mo-
bilizações da sociedade civil onde se destacaram os 
“cara-pintadas”, cujo intuito era o estabelecimento 
da ética na política. 
Adentrando o século XXI, os movimentos sociais 
e a participação popular se reconfiguram em face 
da globalização, inclusive por meio das Organiza-
ções – não – governamentais (ONG’s). As ONG’s se 
apresentam como novas formas de resistência que 
substituem os movimentos sociais, são grupos de ci-
dadãos que se organizam na defesa de direitos, com 
estatuto jurídico de entidades privadas sem fins lucra-
tivos. Seu objetivo fundamental é a reconstrução da 
vida social. 
Uma ONG se define por sua vocação política, por 
sua possibilidade política: uma entidade sem fins de 
lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma 
sociedade democrática, isto é, uma sociedade fun-
dada nos valores da democracia - liberdade, igual-
dade, diversidade, participação e solidariedade. As 
ONG’s são comitês da cidadania e surgiram para 
ajudar a construir a sociedade democrática com 
que todos sonhamos. 
São ações coletivas “novas” decorrentes de pro-
blemas “antigos” na sociedade brasileira – fome, vio-
lência, miséria, desemprego e subemprego, explora-
ção de menores e o dilema da ausência do teto e da 
terra para morar e produzir. 
As lutas sociais no Brasil redefinem-se, o movimen-
to popular rural cresce e aparece, ficando conheci-
do como: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem 
– Terra (MST). Esse movimento surgiu em Santa Cata-
rina em 1979 e transformou-se no maior movimento 
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da década de 90, reivindicando a posse da terra e 
lutando pela reforma agrária no país, sendo apoia-
do por parte da sociedade brasileira que vê na distri-
buição da terra a possibilidade de fixar o homem no 
campo diminuindo a pobreza na cidade. 
As mudanças sociais oriundas da globalização 
da economia a partir da década de 90 anulam im-
portantes conquistas das classes subalternas brasilei-
ras em sua secular luta pela conquista de direitos. 
A reversão dos estragos dos anos 1990, que fo-
ram econômicos, políticos, sociais e culturais, portan-
to, é possível, mas vai exigir muita coragem e von-
tade política dos novos dirigentes do país, e muita 
mobilização popular, para além do voto. 
A conquista dos direitos é resultado de lutas so-
ciais empreendidas por movimentos populares e or-
ganizações sociais que reivindicaram direitos e espa-
ços de participação social. O conflito social deixa de 
ser simplesmente reprimido e passa a ser reconheci-
do.
As Bases Sociais da Obediência e da Revolta. 
A moralidade e a justiça/injustiça, tanto no pas-
sado como no presente, foram as forças motivacio-
nais e sustentadoras dos movimentos sociais, talvez 
num maior grau que a privação da subsistência e/ou 
a identidade, produtos da exploração e da opres-
são por meio da qual a moralidade e a (in)justiça 
se manifestam. No entanto, esta moralidade e esta 
preocupação com a (in)justiça estão referidas pri-
mordialmente a “nós”, e o grupo social percebido 
como “nós” foi e continua sendo muito variável, 
como entre a família, tribo, aldeia, grupo étnico, na-
ção, país, Primeiro, Segundo ou Terceiro Mundo, a 
humanidade etc., e gênero, classe, estratificação, 
casta, raça e outros agrupamentos ou combinações 
destas. 
O que nos mobiliza é esta privação/opressão/ 
injustiça com respeito a “nós”, de qualquer forma 
que “nós” nos definamos ou nos percebamos. Então, 
cada movimento social serve não só para lutar con-
tra a privação, mas, ao fazê-lo, também (re)afirma 
a identidade das pessoas ativas no movimento e 
talvez também a daqueles “nós” pelos quais o mo-
vimento atua. Estes movimentos sociais, portanto, 
longe de serem novos, caracterizam a vida social da 
humanidade em muitas épocas e lugares. 
Ao mesmo tempo, os movimentos sociais geram 
e exercem o poder social por meio de suas mobiliza-
ções sociais e de seus participantes. Este poder so-
cial é gerado pelo movimento social como tal e, ao 
mesmo tempo, derivado deste, e não por alguma 
instituição, seja esta política ou não. Além disso, a 
institucionalização debilita os movimentos sociais e o 
poder político do Estado os nega. Os movimentos so-
ciais requerem uma organização flexível, adaptativa 
e não-autoritária que dirija o poder social na busca 
de metas sociais, as quais não podem ser alcança-
das só por meio da espontaneidade fortuita. 
Mas esta organização flexível não tem de neces-
sariamente implicar a institucionalização, que limita 
e restringe o poder social destes movimentos. É assim 
que estes movimentos sociais auto organizados en-
frentam o poder (estatal) existente, com um novo po-
der social, o qual altera o poder político. O lema do 
movimento de mulheres, de que o pessoal é político, 
também se aplica, a fortiori, aos movimentos sociais, 
que também redefinem o poder político. Tal como o 
observou Luciana Castelina, uma militante em muitos 
movimentos sociais (e alguns partidos políticos): “So-
mos um movimento porque nos movemos” — e até 
movem o poder político. 
Os movimentos sociais e a transformação social 
Apesar de sua natureza defensiva, de suas limi-
tações e de suas relações com o Estado, que anali-
samos acima, os movimentos sociais são agentes im-
portantes de transformação social e portadores de 
uma nova visão. Uma razão da importância dos mo-
vimentos sociais, evidentemente, é o vazio que eles 
preenchem em espaços nos quais o Estado e outras 
instituições sociais e culturais são incapazes de atuar 
pelos interesses de seus membros, ou não querem fa-
zê-lo. Além disso, como observamos acima, os movi-
mentos sociais entram em espaços onde não existem 
instituições, ou quando estas não promovem ou vão 
contra os interesses da população. Muitas vezes os 
movimentos se aventuram a ir em lugares onde nem 
os anjos se atrevem a ir. 
Embora muitos movimentos sociais, em especial 
os religiosos, invoquem a santidade dos valores e das 
práticas tradicionais, outros movimentos sociais são 
inovadores no social, no cultural e em outros aspec-
tos. No entanto, se desaparecem as circunstâncias 
que deram à luz e fizeram crescer os movimentos so-
ciais, também desaparece o movimento. Se o mo-
vimento consegue os fins a que se propôs ou estes 
perdem sua relevância, ele perde seu atrativo, perde 
impulso e se dilui ou petrifica. 
Não obstante, muitas transformações sociais, mu-
danças culturais e desenvolvimentos econômicos 
ocorrem como resultado de instituições, forças, rela-
ções etc. que não se circunscrevem nem aos movi-
mentos sociais nem ao processo político dos Estados 
nacionais. O desenvolvimento econômico mundial, 
a industrialização, a mudança tecnológica, a “mo-
dernização” social e cultural etc. foram e continuam 
sendo processos que não são impulsionados nem di-
rigidos pelos movimentos sociais ou pelas instituições 
políticas (estatais). 
A intervenção destes tem sido mais de reação 
que de promoção. Embora não se deva menosprezar 
a intervenção estatal (como o fazem os proponentes 
do mercado livre), suas limitações são ainda maiores 
dentro de uma economia mundial com alguns ciclos 
e tendências que em grande medida estão além 
de seu controle. Hoje em dia, até a propriedade e 
o planejamento “socialista” estatal são incapazes de 
dirigir e mesmo de manejar as forças da economiamundial. 
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ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Esta circunstância nos deve conduzir a ser mais 
realistas e modestos sobre as perspectivas dos movi-
mentos sociais (ou, para isso, sobre as das instituições 
políticas) e sobre suas políticas para contrapor e até 
para modificar estas forças econômicas mundiais 
e, mais ainda, sobre sua capacidade para escapar 
aos efeitos destas forças. Mas isto não foi assim. Pelo 
contrário, as mais poderosas e incontroláveis são as 
forças da economia mundial, especialmente duran-
te o atual período de crise econômica mundial, mas 
geram movimentos sociais (e algumas estratégias 
políticas e ideológicas) que pretendem ao mesmo 
tempo a autonomia e a imunidade frente a estas 
forças econômicas mundiais e que prometem se so-
brepor ou isolar seus membros em relação a elas. 
Grande parte da atração dos movimentos so-
ciais provém claramente da força moral de sua pro-
messa de libertar seus participantes das privações 
profundamente sentidas nas suas necessidades ma-
teriais, status social e identidade cultural. Portanto, 
esperanças objetivamente irracionais de salvação 
aparecem como chamados subjetivamente racio-
nais para que se enfrente a realidade e para salvar-
se e salvar a alma por meio da participação ativa 
nos movimentos sociais. A mensagem se converte 
no meio, para inverter Marshal McLuhan. 
As referências neste contexto acerca de movi-
mentos (sociais) “anti-sistêmicos” (por exemplo, por 
parte de Amin e Wallerstein) têm de ser clarificadas. 
Muitos movimentos sociais são, com efeito, movi-
mentos anti-sistêmicos no sentido de que os movi-
mentos e seus participantes combatem ou desafiam 
o sistema ou algum de seus aspectos. Não obstante, 
muito poucos destes movimentos sociais são anti-sis-
têmicos em seus esforços, e menos ainda em suas 
conquistas, para destruir o sistema e substituí-lo por 
outro ou por nenhum. 
Há evidência histórica contundente de que os 
movimentos sociais não são anti-sistêmicos neste 
sentido. Como observamos acima, as consequên-
cias sociais dos próprios movimentos sociais não são 
nada acumulativas. Mais ainda, seus efeitos frequen-
temente não são intencionais, de tal forma que es-
tes efeitos são incorporados, se não cooptados pelo 
sistema, que termina sendo fortalecido e reforçado 
pelos movimentos sociais que originalmente eram 
anti-sistêmicos, mas seus resultados não o foram. Há 
pouca evidência contemporânea que nos leva a 
pensar que no futuro as perspectivas dos movimen-
tos sociais, assim como suas consequências, serão 
muito diferentes das do passado. De fato, os meios, 
fins e consequências anti-sistêmicas dos movimentos 
sociais mesmo que alguns destes sejam cooptados 
no final modificam o sistema “só” ao mudar os nexos 
com este.
Nova democracia civil 
Concluindo, pode-se perguntar como é que 
os movimentos sociais podem ser cíclicos, transitó-
rios, defensivos, mutuamente conflitivos e frágeis ao 
mesmo tempo que formam novos laços que servem 
para transformar a sociedade de hoje. 
A resposta pode ser buscada e talvez encontra-
da na participação e contribuição dos movimentos 
sociais na ampliação e redefinição da democracia 
na sociedade civil. 
Na tradição e prática, tanto burguesa como so-
cialista, a formação do Estado e do poder foram o 
primordial; a democracia foi definida principalmen-
te em termos de participação política e/ou econô-
mica nos assuntos do Estado. Atualmente, o poder 
e a instituição do Estado são evidentemente cada 
vez menos adequados para tratar muitos dos pro-
blemas, tanto sociais como individuais, em especial 
na sociedade civil do Ocidente, do Oriente e do Sul. 
Forças econômicas e políticas mundiais que estão 
fora de seu controle debilitam o Estado a partir do 
exterior e o incapacitam para servir os interesses de 
seus cidadãos no interior. 
Ao mesmo tempo, o Estado trata inadequada 
ou negativamente as múltiplas preocupações so-
ciais, culturais e individuais da sociedade (civil) e 
dos cidadãos. Esta deficiência do poder político (e 
mesmo da democracia, onde ela existe) ou do Es-
tado talvez se exacerbe durante períodos de crises 
econômicas ou outras e faça com que as regras es-
tabelecidas do jogo político sejam cada vez mais 
inadequadas. 
Portanto, muitos tipos de movimentos sociais 
emergem e se mobilizam para reescrever as regras 
institucionais (e democráticas?) do jogo e do poder 
políticos redefinindo assim o próprio jogo para que, 
de modo crescente, incluam e se baseiem em no-
vas regras democráticas do poder social/civil.
Ao fazerem isso, ajudam a mudar o centro de 
gravidade sócio-político de uma democracia políti-
ca ou econômica (ou outro poder) do Estado para 
uma democracia e poder civis mais participativos 
dentro da sociedade e cultura civis. Estas se esten-
dem muito mais adiante da família e do lar para ou-
tras preocupações onde as mulheres têm uma pre-
sença e um papel relativamente maior que na políti-
ca e na economia. 
Há imensas e talvez crescentes áreas onde os 
cidadãos já não podem ou lhes é contraproducen-
te confiar no poder político institucional do Estado. 
Nestas áreas em que os cidadãos, e cada vez mais 
as mulheres, se dedicam democraticamente a suas 
múltiplas e amiúde opostas preocupações econô-
micas, sociais, de gênero, comunitárias, culturais, 
religiosas, ideológicas e às vezes políticas. Com este 
propósito, os cidadãos da sociedade civil formam e 
se mobilizam através de múltiplos movimentos sociais 
e organizações não-governamentais autônomas e 
autogeradoras de poder. 
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39
Ao mesmo tempo, e em parte como consequência disso, as exigências para a democracia e sua ex-
tensão a ou redefinição na prática como democracia civil se fazem cada vez mais insistentes. No Ocidente, 
uma democracia mais participativa se vê acompanhada, ou talvez refletida, numa. baixa na participação 
eleitoral. No Leste, a nova democracia se manifesta tanto em movimentos sociais civis na China como em 
milhares de novos clubes civis e outras organizações e demonstrações públicas massivas sob a glasnost na 
União Soviética e em outros países da Europa Oriental. 
No Sul, a participação individual e massiva em movimentos e organizações que tratam de reestruturar a 
sociedade e a cultura assume uma posição primordial, junto com a tomada e o exercício do poder estatal 
onde cada vez mais falta democracia. Portanto relativamente, à democracia política no Estado, ela tam-
bém cresce neste processo da democracia civil participatória e autônoma na sociedade civil. Além disso, os 
movimentos sociais participatórios e autogeradores de poder (com a crescente participação de mulheres) 
participam de maneira importante neste processo de transformação social. Texto adaptado de FRANK, A. G; 
FUENTES, M Texto adaptado de MIRANDA, C. M; CASTILHO, N. A. N; CARDOSO, C. C
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A sociabilidade é a capacidade natural de a espécie humana viver em sociedade e desenvolve-se pelo processo de socializa-
ção. Por meio da socialização, o indivíduo se integra 
ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de 
hábitos, regras e costumes característicos dele. 
Isto ocorre quando o sujeito participa da vida em 
sociedade, assimila suas normas, valores e costumes 
e passa a se comportar segundo estes. Assim, quan-
to mais adequada for sua socialização, mais sociável 
ele se tornará. 
Com o surgimento da globalização e o adven-
to das novas tecnologias de comunicação, o tem-
po histórico se acelerou, e profundastransformações 
começaram a ocorrer em todas as esferas da socie-
dade.
Neste contexto de rápidas mudanças, surgem 
novas formas de sociabilidade e novos grupos que se 
reúnem em torno de afinidades ou interesses momen-
tâneos, e se identificam por algum aspecto externo, 
como uma linguagem própria, uma vestimenta, ou 
coisa do gênero, além das comunidades eletrônicas 
e virtuais, que habitam o espaço cibernético e aca-
bam criando um novo tipo de sociabilidade.
 A convivência humana pressupõe uma grande 
variedade de tipos de contatos sociais, que são o pri-
meiro passo para que ocorra qualquer associação. 
É através do contato social que as pessoas estabe-
lecem relações sociais, criando laços de identidade, 
formas de atuação e comportamento que são à 
base da constituição dos grupos.
O Grupo social é a reunião de duas ou mais pes-
soas, associadas permanentemente pela interação, 
e, por isso, capazes de ação conjugada visando a 
objetivos comuns. Grupo social primário é aquele no 
qual predominam os contatos primários; no grupo so-
cial secundário, por sua vez, predominam os conta-
tos secundários.
Os contatos podem ser primários, quando são 
pessoais e diretos, com uma forte base emocional. 
As primeiras experiências do indivíduo se fazem com 
base em contatos sociais primários. Ex: familiares, vi-
zinhança, escola, etc. E secundários, quando são im-
pessoais, formais, por carta, telefone, etc. Ex: caixa 
do banco, cobrador do ônibus.
A ausência de contatos sociais caracteriza o iso-
lamento social. Existem mecanismos que o reforçam, 
como as atitudes de ordem individual e social.
 Como atitudes de ordem individual podemos ci-
tar a timidez ou a desconfiança, pois este tipo de ati-
tude coloca dificuldade para a pessoa se comuni-
car e estabelecer laços de convivência e afinidade.
 Já as atitudes de ordem social envolvem vá-
rios tipos de preconceitos, como racial, religioso, de 
sexo, etc. 
As formas de convívio social são muito diversifi-
cadas, pois cada cultura tem suas regras particula-
res de convivência e podem se modificar de acordo 
com as transformações na sociedade.
 Nos grupos sociais ou na sociedade como um 
todo, os indivíduos se reúnem, separam-se, asso-
ciam-se e dissociam-se; isto é o que chamamos na 
Sociologia de processos sociais. A palavra processo 
quer significar contínua mudança de alguma coisa; 
já os processos sociais são as diversas maneiras pelas 
quais os indivíduos e os grupos atuam uns com os ou-
tros, a forma pela qual os indivíduos se relacionam e 
estabelecem relações sociais. 
Assim, os processos sociais podem ser associa-
tivos e dissociativos: Processos sociais associativos 
– São aqueles que estabelecem formas de coope-
ração, convivência e consenso no grupo. E podem 
ser: cooperação (trabalham juntos para um mesmo 
fim); acomodação (ajustam-se a uma situação de 
conflito, uma solução superficial); assimilação (solu-
ção definitiva e mais ou menos pacífica do conflito 
social, implica uma transformação da personalida-
de); Processos sociais dissociativos – São aqueles re-
lacionados com formas de divergência, oposição e 
conflito, que podem se manifestar de modos dife-
rentes como: competição (luta por objetivos escas-
sos); e conflito (competição com tensão, violência 
social). Exemplo: brigas entre gangues de uma co-
munidade.
Hoje, existe uma tendência para o auto-isola-
mento, que vem se verificando, principalmente, nas 
cidades grandes. É cada vez maior o número de 
pessoas que moram sozinhas a chamada “tendên-
cia single”. 
COMPETÊNCIA DE ÁREA 3 – COMPREENDER A PRODUÇÃO E O 
PAPEL HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E 
ECONÔMICAS, ASSOCIANDO-AS AOS DIFERENTES GRUPOS, 
CONFLITOS E MOVIMENTOS SOCIAIS. 
H11 –IDENTIFICAR REGISTROS DE PRÁTICAS DE GRUPOS SOCIAIS 
NO TEMPO E NO ESPAÇO.
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Tudo favorece o comportamento individualista, 
que se manifesta de várias maneiras: o gosto por 
ficar só, e a preferência pela companhia de ani-
mais, tratados como pessoas, por exemplo. Mesmo 
algumas relações de vizinhança, em que persistem 
as manifestações de vida comunitária, podem não 
sobreviver ao individualismo que tende a se universa-
lizar cada vez mais. 
Com o estímulo ao consumo e à competição de-
senfreada, a economia capitalista, dinâmica e tec-
nologicamente inovadora, colabora para reforçar a 
cultura do individualismo e o isolamento social. 
Este tipo de desenvolvimento favorece a forma-
ção de uma sociedade egocêntrica, com uma frá-
gil conexão entre seus membros, na qual as pessoas 
buscam satisfazer apenas suas necessidades e impul-
sos. Numa sociedade desse tipo, a satisfação indivi-
dual está acima de qualquer obrigação comunitária.
Apesar deste quadro um tanto quanto caóti-
co, podemos observar também que, no interior da 
própria sociedade moderna, existem forças que se 
opõem a essas tendências desagregadoras, porque 
todas as sociedades pós-industriais são necessaria-
mente sociedades democráticas, como o Brasil.
Os grupos sociais apresentam normas, hábitos e 
costumes próprios, divisão de funções e posições so-
ciais definidas. Com o passar do tempo, as pessoas 
participam geralmente de vários grupos sociais: gru-
po familiar (família), grupo vicinal (vizinhança), grupo 
educativo (escola), grupo religioso (igrejas), grupo de 
lazer (clubes, associações, etc.), grupo profissional 
(trabalho), e grupo político (partidos, Estado). 
Para definirmos um grupo social, é preciso obser-
var algumas características comuns a eles, como: 
- Pluralidade – o grupo dá ideia de algo coletivo, 
pois nele sempre há mais de uma pessoa; 
- Interação social – para que haja grupo, é pre-
ciso que os indivíduos interajam uns com os outros 
em seu interior, é preciso que haja reciprocidade nas 
ações realizadas dentro do grupo; 
- Organização – todo grupo, para funcionar bem, 
precisa de certa ordem interna;
- Objetividade e exterioridade – os grupos sociais 
são superiores e exteriores aos indivíduos, ou seja, o 
grupo existe independentemente da vontade indivi-
dual de cada um; Objetivo comum – os membros de 
um grupo costumam se unir em torno de certos valo-
res para atingir um objetivo. Se alguém de dentro do 
grupo colocar em dúvida esses valores, ele acaba se 
dividindo ou se desagregando; 
- Consciência grupal – são as maneiras de pen-
sar, sentir e agir próprias do grupo. Existe o comparti-
lhamento de ideias, pensamentos e modos de agir; 
- Continuidade – interação que faz a duração da 
existência do grupo. Há aqueles de pouca duração, 
que se reúnem somente para um único objetivo, 
como, por exemplo, os mutirões. 
Além dos grupos sociais, também podemos falar 
em agregados sociais. A diferença básica entre es-
tes conceitos, segundo o sociólogo Mannheim, está 
no fato de que os agregados sociais são reuniões de 
pessoas com fraco sentimento grupal, mas que, mes-
mo assim, conseguem manter entre si um mínimo de 
comunicação e de relações sociais. 
O agregado social se caracteriza por não ser or-
ganizado, não ter estrutura estável nem hierarquia de 
posições e funções. As pessoas que dele participam 
são relativamente anônimas, isto é, são praticamente 
desconhecidas entre si. O contato social entre elas é 
limitado e de pequena duração. Podemos citar como 
agregados sociais as multidões, o público e as massas.
As principais forças que mantêm unidos os grupos 
sociais dentro de uma sociedade são: 
- Liderança – é a capacidade de alguém co-
mandar ou orientar um grupo de indivíduos em qual-
quer tipo de ação. O líder age no grupo transmitindo 
ideias e valores aos outros membros. Existem tipos de 
lideranças diferentes, como a liderança institucional, 
em que o poder de mando vem do cargo e de sua 
posição no grupo. Ex: gerente, diretor,pai de família, 
etc. E a liderança pessoal, que se origina das quali-
dades pessoais do líder (inteligência, prestígio social, 
poder de comunicação, atitude, carisma, etc.). Ex: 
presidentes de Estado, de sindicato. De qualquer ma-
neira, o líder desempenha um papel de sustentação 
no grupo, pois é ele quem integra os seus membros e 
representa os interesses e os valores do grupo como 
um todo. 
- Normas e sanções – são as regras de conduta 
que dão coesão, orientam e controlam o compor-
tamento das pessoas no grupo. Estas regras indicam 
o que é permitido e o que é proibido no grupo. E 
toda regra ou norma tem uma sanção que seria a 
recompensa ou a punição que se atribui ao indivíduo 
perante seu comportamento social. Essas sanções 
poderão ser aprovativas, quando são aplicadas sob 
forma de aceitação, aplausos, promoções, e nada 
mais são do que o reconhecimento do grupo por 
ter o indivíduo cumprido o que se esperava dele; ou 
ainda reprovativas, que correspondem a punições 
impostas ao indivíduo que descumpriu ou desobe-
deceu alguma norma social. As punições variam de 
acordo com a importância que o grupo dá à norma, 
e variam de um insulto, uma vaia, até a prisão ou a 
pena de morte em alguns países. 
- Símbolo – é aquele que representa o que é abs-
trato e possui um valor ou significado que lhe é atri-
buído pelas pessoas que o utilizam. A linguagem é a 
mais importante forma de expressão simbólica. Sem 
ela, não haveria organização social humana, em ne-
nhuma de suas manifestações, nem normas, nem leis, 
nem criação científica ou literária. Podemos dizer, in-
clusive, que todo comportamento humano é simbóli-
co e todo comportamento simbólico é humano, pois 
não haveria cultura sem os símbolos. Por exemplo: 
nas igrejas cristãs, a cruz simboliza a fé em Cristo. 
- Valor Social – é o que o grupo estipula e avalia 
dentro de um contexto social e lhe atribui um signifi-
cado, uma qualidade determinada, do que é dese-
jável e o que é proibido, do que é bonito e o que é 
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feio, do que é certo e do que é errado. Enfim, quanto 
maior o contexto social, maior a variedade de opi-
niões e valores sociais, muitas vezes conflitantes. Os 
valores sociais variam também no espaço e no tem-
po, em função de cada época, de cada geração, 
de cada sociedade. Devido à pluralidade de valores 
e tendências dentro de uma mesma sociedade, é 
comum encontrarmos pessoas que não conseguem 
se entender em determinadas questões, como re-
ligião, política ou moral. Isto acontece porque elas 
têm escalas de valores diferentes.
Uma classe oprimida é a condição vital de toda 
sociedade fundada no antagonismo entre classes. A 
grande indústria aglomera, num mesmo local, uma 
multidão de pessoas que não se conhecem. A con-
corrência divide seus interesses. Mas a manutenção 
do salário, esse interesse comum que têm contra seu 
patrão, reúne-os num mesmo pensamento de resis-
tência e coalizão (isto é, os trabalhadores se orga-
nizam em sindicatos e outras formas de associação 
para lutar pelos seus direitos). Portanto, a coalizão 
tem sempre um duplo objetivo: cessar a concorrên-
cia entre os trabalhadores e realizar uma concorrên-
cia geral contra o capitalista. O primeiro objetivo da 
resistência é apenas a manutenção do salário. Mas, 
na medida em que os capitalistas se unem para re-
primir a resistência dos trabalhadores, as coalizões 
também se unificam. E a manutenção da resistência 
torna-se mais importante do que a manutenção do 
salário.
Foi através do processo de trabalho que a huma-
nidade construiu tudo o que existe na sociedade. 
Todo trabalho resulta da combinação de dois ti-
pos de atividade: a manual e a intelectual. O que 
varia é a proporção com que esses dois aspectos en-
tram no processo de produção. 
Todo processo de trabalho ou processo produtivo 
combina o trabalho com os meios de produção, que 
estão presentes tanto na produção artesanal como 
nas atividades de uma indústria moderna. Juntando 
o trabalho aos meios de produção, temos as forças 
produtivas, que foram se alterando ao longo da his-
tória. 
Até meados do século XVIII, a produção era fei-
ta com o uso de instrumentos simples, acionados por 
força humana, por tração animal e pela energia da 
água ou do vento. 
Com a Revolução Industrial ( séc. XVIII), foram 
desenvolvidas novas máquinas, passou- se a usar o 
vapor (carvão) como fonte de energia e, mais tarde, 
a eletricidade e o petróleo. 
Alteraram-se os meios de produção e também 
as técnicas de trabalho; houve, assim, uma profunda 
mudança nas forças produtivas. 
No processo produtivo, as pessoas dependem 
umas das outras para obter os resultados pretendi-
dos. Assim, para produzir os bens e serviços de que 
necessitam, os indivíduos estabelecem relações en-
tre si, a qual chamou de relações de produção. O 
trabalho é, necessariamente, um ato social, isto é, o 
trabalho, como força produtiva, é social.
Na produção social da própria vida, os homens 
estabelecem relações determinadas, necessárias e 
independentes de sua vontade. Essas relações de 
produção correspondem a uma determinada etapa 
de desenvolvimento das suas forças produtivas ma-
teriais.
A totalidade dessas relações de produção forma 
a estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura 
é a base real sobre a qual se levanta uma superestru-
tura jurídica e política, e à qual correspondem formas 
sociais determinadas de consciência. 
O modo de produção da vida material condicio-
na o processo de vida social, política e espiritual. Ou 
seja, não é a consciência dos homens que determina 
o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que 
determina sua consciência. 
Em determinada etapa de seu desenvolvimento, 
as forças produtivas entram em contradição com as 
relações de produção existentes. Essas relações o re-
gime de propriedade, por exemplo, que antes eram 
formas de desenvolvimento das forças produtivas, 
transforma-se em seu maior obstáculo.
 Sobrevém, então, uma época de revolução so-
cial. 
Mas uma formação social nunca desaparece 
antes que estejam desenvolvidas todas as suas for-
ças produtivas. E novas relações de produção mais 
adiantadas não substituem as antigas, antes que 
suas condições materiais de existência tenham sido 
geradas no próprio seio da velha sociedade.
 Em grandes traços, podem ser caracterizados 
como épocas progressivas da formação econômica 
da humanidade os modos de produção asiático, an-
tigo, feudal e burguês moderno.
A globalização significa uma perda para os tra-
balhadores, principalmente dos países subdesenvol-
vidos e para aquelas pessoas excluídas do mercado 
de trabalho. Ela significa não a modernização, mas 
um aprisionamento do Estado aos interesses das 
grandes corporações e dos organismos multinacio-
nais. Neste processo, o Estado libera a fronteira eco-
nômica do país para que as empresas estrangeiras se 
instalem, com isenção de taxas e com a adequação 
de uma infraestrutura que possibilite a chegada de 
matérias-primas e o escoamento da produção.
Nos anos 60, nas sociedades ocidentais, emergi-
ram um conjunto de mobilizações sociais com carac-
terísticas diferentes dos movimentos tradicionais (an-
teriores). Estes movimentos distintos não reclamavam 
à semelhança dos seus antecessores, a inclusão polí-
tica ou a distribuição da riqueza social. Os atores que 
protagonizavam estes novos movimentos não são 
“trabalhadores”, são homens, mulheres, jovens, que 
reclamam identidades sociais diferentes com preo-
cupações ambientalistas, pugnam pela paz, pela li-
berdade de orientação religiosa, sexual, política, etc.
 A base social dos novos movimentos sociais é 
transversal a todas as classes e a contestaçãonão 
se enquadra no esquema tradicional do tipo marxis-
ta. São novos atores com preocupações diferentes. 
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Estes movimentos sociais integram na agenda po-
lítica temas não politizados, à esquerda e à direita. 
Tornam-se públicas questões que até à data perten-
ciam ao domínio do privado, passando assim a per-
tencer ao domínio das relações sociedade-mundo, 
ou seja, há pluralidade de lugares de conflito político 
inscritos na configuração social. Os valores reclama-
dos são “pós-materialistas”, pois incidem sobre a so-
cialização dos meios de produção identitária e cultu-
ral - direito à construção autônoma das identidades 
sociais e pessoais. 
Nestes novos movimentos sociais as formas de 
ação e organização são descentralizadas, com lide-
ranças múltiplas, pertenças múltiplas (por exemplo, 
campanhas, manifestações únicas, etc).
A história das sociedades no seu cerne é o proces-
so de produção e reprodução dos próprios sistemas 
sociais através de três elementos: modelo e conheci-
mento; modelo de acumulação; modelo ético consti-
tuem a matriz de interpretação e de orientação para 
a ação ou seja, o que é possível, e os limites de um 
sistema sócio histórico. Os velhos movimentos sociais 
atuavam num determinado contexto, tinham por 
base determinados valores, normas que os enquadra-
vam e simultaneamente os limitavam. Atualmente a 
sociedade dispõe de recursos tecnológicos capazes 
de produzir outra linguagem, bens simbólicos distintos 
dos já existentes.
 A sociedade é capaz de criar os meios de produ-
ção bem como o seu término. Os limites da ação es-
tão assim alterados, tendo por isso também alterado 
os lugares de poder e conflito (deslocalizaram-se as 
formas de produção para o nível de produção cultu-
ral: a produção dos próprios limites sociais). A produ-
ção social, a sua distribuição e organização, deixou 
de ser o lugar de conflito, tendo-se este deslocado 
para a orientação dessa produção social, não tanto 
na organização mas antes para os próprios fins dessa 
produção (Machado, 2007; 257-259). Considera que 
o conflito central é cultural, tendo ocorrido uma des-
locação da centralidade do conflito econômico da 
sociedade industrial e do conflito político nos primei-
ros séculos da modernidade, explica a emergência 
dos novos movimentos sociais através da análise de 
três características estruturais que marcam a configu-
ração das sociedades capitalistas e industriais.
 O Estado e o mercado têm vindo a alargar de 
forma significativa o seu controlo a esferas da vida 
social. Identifica-se três aspectos desse controle sen-
do que o primeiro é o aprofundamento da regulação 
social através das instituições hegemônicas (Estado 
e mercado processo crescente de racionalização: 
regulação simbólica das relações sociais e produ-
ção do sentido; interferência direta na construção 
da identidade e relações sociais). O segundo é a 
expansão das formas de controlo social que passam 
a atingir/impacto, virtualmente, todos os indivíduos 
independentemente da classe (a relativa perda de 
centralidade do trabalho na construção da identi-
dade, pessoa e grupo) provocando sentimentos de 
privação (consumo) e de dominação por parte das 
instituições estatais. O último é a racionalidade abs-
trata em que se baseiam as instituições políticas e 
econômicas, tornando-as incapazes de providenciar 
respostas às necessidades/situações específicas. 
É este reforço significativo do controlo social por 
parte do Estado e mercado, que provoca a emergên-
cia dos novos movimentos sociais, com uma visão críti-
ca destes mecanismos, defendendo a autora uma al-
ternativa política, redefinindo também o próprio locus 
de conflito. Propõem e promovem a reconstrução da 
sociedade civil, autônoma e emancipada, sem a inter-
ferência/influência da ação das instituições políticas e 
econômicas, independentes de interesses privados e 
da regulação por parte do Estado. Pretendem formas 
alternativas da estruturação e cooperação social e o 
aprofundamento dos processos de participação polí-
tica e social, fazendo surgir propostas de auto-gestão, 
descentralização, solidariedade. 
Exemplo deste tipo de participação e implicação 
da população nas decisões políticas é o orçamento 
participativo de Porto Alegre, o qual foi “redigido e 
construído” em conjunto com a população (nego-
ciação direta com a população visando a afetação 
de verbas públicas a rubricas identificadas como 
prioritárias pelo povo). Em relação aos elementos que 
constituem e integram os novos movimentos sociais, 
a questão da classe (definida enquanto lugar que se 
ocupa no sistema de produção) tem de ser analisa-
da, tendo em conta o que alguns autores defendem 
estar a acontecer: a relativa perda de importância 
do trabalho. 
A pertença de classe no acontecer de ações 
coletivas, compreende não só esta pertença, pro-
veniente do lugar que se ocupa no sistema de pro-
dução, mas também o seu referencial cultural, de 
recursos e com o seu referencial simbólico, semânti-
co valorativo, configurador de determinado tipo de 
identidade. Outra questão que os distingue também 
prende-se com o discurso dos atores, sendo este par-
te integrante da sua identidade, traduzindo a auto 
definição do sentido que atribuem ao contexto social 
a que pertencem, se integram e movimentam. Consi-
dera-se que os novos movimentos sociais contêm três 
vertentes que os distinguem dos movimentos que os 
antecederam. A primeira refere-se ao tipo de exigên-
cias e aos conflitos políticos desses movimentos que 
incidem sobre questões que antes não eram politiza-
das (ex: aborto; energias limpas; antiglobalização). 
Outra vertente é a expansão de ideologias e atitudes 
participativas promovendo-se que o cidadão/indiví-
duo use os direitos consagrados (ex: direito de se ma-
nifestar, de contestar, de propor alternativas). A ter-
ceira vertente reporta-se à forma como é efetuada a 
própria ação/atitude de contestação/protesto, não 
sendo as mesmas as formas convencionais ou não 
institucionais de participação políticas, por exemplo 
manifestações e greves selvagens. Os valores hoje, 
bandeiras dos novos movimentos sociais, sempre exis-
tiram, sendo que a novidade destes em relação aos 
velhos movimentos sociais é a forma de ação que se 
assume como política.
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Enumeram-se quatro tipos de participação em grupos e ações coletivas. A primeira forma de participa-
ção é em associações de âmbito nacional, com objetivos políticos bem definidos direcionados para a defe-
sa de interesses específicos: sindicatos e partidos políticos. Ambos participam na arena política ao nível na-
cional e pretendem a alocação de recursos conforme os interesses coletivos organizados que representam. 
A segunda forma analisada debruça-se sobre a participação em grupos sociais locais tais como asso-
ciações de pais e de moradores. O âmbito é mais limitado (não defendem interesses nacionais ou de clas-
se) nem estão necessariamente vinculadas a partidos políticos, e pretendem, geralmente a resolução de 
problemas dos seus quotidianos, promovendo a criação de condições/meios que proporcionem conforto, 
proteção aos seus membros no seu dia a dia. 
A terceira forma de participação são os movimentos ambientalistas. Estes movimentos são como os novos 
movimentos sociais, e distinguem-se dos tradicionais (sindicatos e partidos políticos) pelo próprio recrutamen-
to e perfil dos seus membros, e as estratégias de ação. O ideal que os move foi também introduzido na agen-
da política e manifestos políticos recentemente, sendo que antes pertencia à esfera privada.
 Por fim, o quarto tipo de açõescoletivas referidas são as formas/manifestações de desobediência civil: 
bloqueios de estradas, boicotes eleitorais. A sua constituição como movimento é mais rápida que os outros 
movimentos referidos, não têm uma organização semelhante nem estrutura, a sua atuação é temporária, os 
riscos a que expõem os seus elementos (participação) são mais elevados. Este tipo de ação coletiva é enca-
rado como prejudicial à sociedade civil, dado que atuam utilizando a desobediência, provocam desordem 
e desorganização e, por isso, não benéficas para a sociedade civil.
Os modelos clássicos de interpretação dos Movimentos Sociais os concebiam como o meio mais eficiente 
de alcançar uma distribuição de bens distinta da vigente, sendo a violência e coerção um fator intrínseco 
(ex. a Revolução Francesa - assalto à Bastilha, a Revolução Russa - assalto ao Palácio de Inverno). A questão 
fundamental era o controle do poder.
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A justiça, independentemente das múltiplas interpretações de que tem sido alvo ao longo da história, parece ser uma aspira-
ção de toda a humanidade. Nesse sentido, e para 
não recuar muito no tempo, também a Declaração 
Universal de Direitos Humanos de 1948 reafirma esse 
impulso universalista quando, no seu preâmbulo, diz 
que: A liberdade, a justiça e a paz no mundo têm por 
base o reconhecimento da dignidade intrínseca e 
dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros 
da família humana”. Por outro lado, cada vez mais 
a humanidade parece sentir também que a lingua-
gem dos direitos humanos é aquela que afirma, de 
um modo mais coerente, a igualdade moral de to-
dos os indivíduos reconhecendo, embora, que é uma 
linguagem que se produz num mundo de conflito, de 
argumentação, de deliberação. 
Entretanto, e independentemente das polêmicas 
em redor da fundamentação e da diversidade de 
objetivos que os direitos humanos podem servir, mui-
tos países têm vindo a adotar, nas suas constituições 
e noutras leis fundamentais relativas à educação, os 
princípios da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem. Aliás, o direito constitucional tem vindo a im-
por-se como locus privilegiado de consolidação das 
pretensões democráticas de cidadania, embora se 
assista também em certos Estados à reinterpretação 
dos princípios constitucionais na linha da lógica mer-
cadológica da política. Interessa, por isso, repensar 
também a democracia em tempos de globalização, 
de modo a entretecer ainda mais as suas relações, 
ainda que complexas, com a justiça e os direitos hu-
manos. Democracia, justiça e direitos humanos. 
Na atual conjuntura do capitalismo flexível e 
transnacional, do “novo espírito do capitalismo”, os 
direitos humanos, que constituem uma parte intrínse-
ca da democracia (desde logo, porque a garantia 
das liberdades básicas é uma condição necessária 
para que a voz das pessoas se torne efetiva nas ques-
tões públicas e para que o controlo popular sobre os 
governos fique assegurado confrontam-se com sérios 
desafios que resultam de novas propostas do papel 
do Estado e do mercado e de novas concepções de 
democracia. 
Para simplificar, vou referir-me apenas a duas ten-
dências que claramente influenciam as concepções 
e práticas de experienciação da justiça e dos direitos 
humanos, tendo consciência, no entanto, que a sua 
regulação social e política se concretiza frequente-
mente de múltiplas formas, de acordo com a con-
figuração heterogênea que os Estados apresentam. 
Uma das duas vias principais para se conseguir 
apresentar os fundamentos teóricos da democracia 
moderna é precisamente (para além da filosofia utili-
tarista) a doutrina dos direitos do Homem. Isso signifi-
ca que a democracia moderna é inconcebível sem 
referência aos direitos e à justiça, ainda que estes 
privilegiem, dentro de uma concepção individualista 
e atomista da sociedade, sobretudo a ideia de pro-
teção, quer da propriedade quer do próprio ser dos 
indivíduos. Ou seja, a democracia moderna emerge 
intimamente conectada com os direitos individuais, 
avultando aí a liberdade, entendida quer como “li-
citude” (reportada à ideia de permitido) quer como 
“autonomia” (referida ao poder de estabelecer nor-
mas a si próprio e de lhes obedecer) e o direito da 
felicidade, pois na visão individualista ser justo cor-
responde a ser tratado de modo a poder satisfazer 
às suas necessidades e alcançar os seus próprios fins. 
Esse filão individualista da democracia, mal-grado 
outras propostas alternativas que intentam dar-lhe 
um cariz mais igualitário e solidarista, tem vindo a ser, 
nos tempos que correm, revalorizada dentro de uma 
concepção de Estado que parece reforçar a subs-
tância ideológica do individualismo ao mesmo tem-
po que apoia a visão “libertária” dos direitos integra-
dos num contexto de liberdade de mercado. 
A “nova democracia”, ajustada a um Estado 
“oco” ou a um “quase-Estado”, de pendor neolibe-
ral, apresenta-se também como capaz de proteger 
a justiça e os direitos humanos, ainda que de uma 
forma algo paradoxal: por um lado, reconhece-se 
que é bom que se fale deles até para que os me-
canismos de mercado possam funcionar bem e 
manter uma certa boa consciência; por outro lado, 
eles mantêm a marca individualista e conservadora 
(da ordem social vigente), deixando-se por exemplo 
cair o qualificativo “social” da justiça para se tornar 
numa justiça “neo-pietista” a favor dos desprotegi-
dos (pobres e necessitados em vez de constituir um 
conjunto de direitos universais de cidadania), com o 
seu público preferencial (o público privado), com os 
seus atores privilegiados (os líderes empresariais que 
progressivamente vêem convertidos os seus interes-
ses particulares em políticas públicas, apoiados pelo 
processo crescente de oligarquização do Estado em 
que os interesses privados e públicos se fundem). 
Torna-se claro, portanto, que a atual concep-
ção de mercado já não é a de mero mecanismo de 
alocação de recursos como era na sua concepção 
liberal inicial, mas é também uma instituição social 
H12 –ANALISAR O PAPEL DA JUSTIÇA COMO INSTITUIÇÃO 
NA ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES.
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inscrita num marco legal e moral, que deve ter pre-
sente, para funcionar melhor (ou de uma forma mais 
eficiente), a superioridade dos níveis de consciência 
social alcançado pela humanidade ou por certas so-
ciedades acerca do que é justo. Contudo, também 
não é possível esquecer que essa relegitimação do 
mercado não questiona a ideia de que “a legitimi-
dade num contexto de mercado não deixa de ser 
mais uma mercadoria que pode ser comprada” en-
quadrada numa democracia que alguns apelidam 
de “pós-democracia” intimamente conectada com 
a comercialização da cidadania e com a constru-
ção das novas identidades baseada em novas opo-
sições (por exemplo, aos funcionários públicos).
 Independentemente das múltiplas formas que 
a democracia pode assumir e das relações com-
plexas que podem ser estabelecidas entre ela e as 
diferentes classificações de direitos, considero que, 
pelas suas implicações profundas para a temática 
em análise, merece uma maior atenção a propos-
ta de ao entendê-la como “poder em público, que 
pressupõe não apenas o combate a todas as formas 
de poder invisível, mas também a sua compreensão 
como uma forma superior de dialogação social que 
diz respeito a todos (bem comum) e que se decide 
entre todos na base da igualdade política. 
Então, quanto mais o processo democrático po-
tenciar a exposição e os debates públicos (ou seja, 
a “publicização”), tanto mais a “democratização da 
democracia” se sentirá; inversamente, quanto mais 
se perder o acesso ao públicomais se residualizará a 
democracia, uma vez que tal pode equivaler à per-
da do acesso à igualdade e, portanto, à cidadania. 
Do mesmo modo, ainda, quanto mais se verificar 
a invasão do público pelo privado ou o abandono 
do postulado da proeminência do político, mais o 
público tenderá a banalizar-se. 
Um outro modo de ver a democracia e a pró-
pria política, concebida esta como uma prática de 
autodeterminação cidadã, coloca-as no interior do 
paradigma do diálogo, pelo que se torna relevante, 
nesse contexto teórico, aprofundar o modelo da de-
mocracia deliberativa que se reporta às pretensões 
que estão implicadas na comunicação humana e 
que se manifestam historicamente nas sociedades 
modernas racionalizadas. 
Trata-se de uma concepção dialógica da polí-
tica, entendida como um processo e razão e não 
exclusivamente de vontade, como um processo de 
persuasão argumentativa e não exclusivamente de 
poder, dirigido para a consecução de um acordo 
relativo a uma forma boa ou justa, ou pelo menos 
aceitável, de ordenar aqueles aspectos da vida que 
se referem às relações sociais e à natureza social das 
pessoas. Essa acepção de democracia radica num 
ideal intuitivo de uma associação democrática cuja 
justificação assenta em argumentos públicos e ra-
cionais entre cidadãos iguais. 
Ou seja, quer as instituições quer as decisões só se-
rão legítimas quando recebem a concordância dos im-
plicados num procedimento democrático, em circuns-
tâncias de participação livre e igual. Trata-se, insisto de 
uma democracia como processo que cria um público, 
que discute o bem comum em vez de promover o bem 
privado de cada um, e cuja legitimidade deriva de to-
dos os possíveis afetados pelas suas regulações as acei-
tarem como participantes em discursos racionais. 
 Obviamente que esse tipo de democracia, pres-
supondo uma estrutura argumentativa da discussão 
pública, pressupõe a formação racional da vontade 
e da opinião públicas, segundo as exigências da ra-
cionalidade comunicativa. Na verdade, as práticas 
democráticas deliberativas exigem ir além do voto, 
mobilizando a capacidade de questionar e mudar 
as preferências pré-fixadas, próprias ou alheias, pela 
via da(s) razão(ões). São, aliás, as “políticas discursi-
vas” que, para Habermas, se tornam necessárias para 
ultrapassar e prevenir as crises de legitimação políti-
ca. É, por conseguinte, o debate público, a situação 
ideal do discurso, que permite verificar se o resultado 
pode ser aceite como justo ou não pelos cidadãos. 
E, aqui, a lei, mais do que ser um modo de regular 
a competição (como é no liberalismo) ou uma ex-
pressão da solidariedade social (como acontece no 
republicanismo), deve visar a institucionalização das 
condições da comunicação deliberativa, pois só sob 
essas condições de comunicação é que emerge a 
produção legítima do direito, cabendo então aos di-
reitos humanos, que possibilitam o exercício da sobe-
rania popular, um papel fundamental na satisfação 
da “exigência de institucionalização jurídica de uma 
prática cidadã do uso público das liberdades”. 
Caberá então ao Estado de direito institucionali-
zar apenas as formas de comunicação necessárias 
a uma formação racional da vontade. Torna-se, por 
isso, fundamental, para Habermas, que as próprias 
comunicações políticas sejam filtradas deliberativa-
mente, reconhecendo-se embora que elas depen-
dem também dos recursos do mundo da vida ou seja, 
“de uma cultura política livre e de uma socialização 
política de tipo ilustrado e, sobretudo, das iniciativas 
das associações conformadoras da opinião” que se 
constituem e regeneram espontaneamente. 
Depois, e na medida em que a democracia de-
liberativa deve apenas propor princípios e procedi-
mentos que garantam a fundação das normas, das 
convenções e das instituições na razão, o esforço de 
formação deve ir no sentido de procedimentalizar 
ou de “fluidificar comunicacionalmente” a soberania 
popular e de conceber o exercício do poder comu-
nicacional (ancorado no mundo da vida e livre de 
dominação), segundo o modelo da ética da discus-
são, em que apenas opera a razão procedimental. 
Independentemente de outras leituras, é justo frisar, 
que essa abordagem pretende ultrapassar o formalis-
mo da democracia liberal e que foi desenhada para 
justificar políticas e valores não opressivos, para com-
bater modelos de democracia baseados nos interes-
ses e na visão privatizada do processo político. 
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Pretende-se que a democracia seja agora um 
processo que crie um público ou cidadãos que se 
orientam pela discussão em redor do bem comum, 
que mobilizam a autenticidade nos procedimentos 
discursivos, que transformam as suas preferências de 
acordo com fins públicos e racionalmente argumen-
tados, em diálogo aberto e livre de dominação. Por 
outras palavra, as políticas são adotadas porque os 
cidadãos e os seus representantes determinam a 
sua retidão depois de ouvirem e criticarem razões, 
pelo que a definição de bem comum não se afirma 
como independente daquilo que as próprias pes-
soas determinam que seja, de acordo com proce-
dimentos deliberativos em que todos os implicados 
são tratados como iguais. Essa abordagem tem, por 
conseguinte, o mérito de reforçar a ética da justiça 
e dos direitos, uma vez que destaca a questão da 
legitimação e a construção do consenso (é o ob-
jetivo da deliberação) sobre bens comuns, embora 
esse consenso nem sempre possa ser obtido, pois o 
que a democracia deliberativa exige é que as par-
tes oponentes ofereçam e estejam abertas a razões 
e se respeitem mutuamente, ou seja, que mobilizem 
o seu poder comunicativo. Isso significa que se pode 
viver em discordância moral de um modo moral-
mente construtivo.
 Também no caso dos direitos do homem, o seu 
reconhecimento e expressão (em forma de Decla-
rações, por exemplo) necessitam, dentro da lógica 
dessa abordagem, de uma comunidade de justifica-
ção, de um espaço público de discussão e justifica-
ção. Seria aqui que assentaria a “fundamentação 
racional” dos direitos e não em qualquer essenciali-
dade transcendente. Não obstante aceitarem mui-
tos desses pressupostos, criticam também a concep-
ção de democracia deliberativa porque frequente-
mente esta confina a deliberação efetiva aos fóruns 
legais em que os representantes das culturas e raças 
dominantes continuam a estar sobre-representados. 
É que embora as formas deliberativas devam 
expressar a razão universal pura, as normas de de-
liberação não são, de fato, culturalmente neutras 
e universais, para além de tenderem a privilegiar os 
bem educados, o discurso formal, os desapaixona-
dos, os que detêm a capacidade de deliberação 
reflexiva sobre o que é bom para a sociedade. Daí 
que os apelos à construção de um bem comum e 
à unidade da discussão democrática pode simples-
mente revelar-se como mais um mecanismo de ex-
clusão, porque privilegia os grupos com mais privi-
légios simbólicos e materiais, acabando a definição 
de bem comum por ser dominada por esses mesmos 
grupos. Depois, a esfera pública tende a apresen-
tar-se como um locus de obtenção de acordos har-
moniosos, não incluindo, por conseguinte, “contra 
públicos subalternos” (como os movimentos sociais 
de oposição) ou não reconhecendo que as “normas 
de deliberação” envolvidas nas esferas da discussão 
pública são culturalmente específicas. 
Outros, ainda, criticam essa concepção porque 
o dissenso, o conflito sobre o que são bens comuns, 
embora irresolúveis, são essenciais às políticas demo-
cráticas (aliás, nem todos os problemas são resolú-
veis pela discussão, nomeadamente os que tomam 
a forma de soma zero, nem a atenção ao conflito de 
interesses pode ser desviada para falhas de comu-
nicação). Finalmente, uma outra debilidade dessa 
concepçãotem a ver com a menor atenção não só 
aos aspectos da diferença, mas também aos do de-
sejo e da justiça afetiva. Perante essas debilidades 
prefere falar de uma outra concepção de demo-
cracia a comunicativa que recolhe muito da ante-
rior, mas que a completa noutros sentidos. 
Na verdade, a abordagem anterior não acau-
tela o fato de nem todos estarem na mesma situa-
ção de comunicação nem, além disso, o fato de 
o argumento não ser o único modo de comunica-
ção política e de poder até expressar-se de muitos 
modos. Então, a aceitação e respeito pelo Outro na 
sua singularidade (individual e social), a interdepen-
dência significante, a importância da emoção ou 
dos atos perlocutórios (retórica), o direito do outro 
contar a sua história com a mesma autoridade e o 
mesmo valor do ponto de vista da situação comuni-
cativa tornam-se elementos-chave da sua proposta 
de uma “democracia comunicativa”, mais atenta à 
ética do cuidado assim como aos direitos humanos 
como expressão suprema do cuidado e da solida-
riedade para com o Outro. 
Na democracia comunicativa, então, a intera-
ção comunicativa não omite a diferenciação de 
sentidos que os atores atribuem aos problemas, 
aos interesses, às próprias coisas, ao bem comum, 
nem esquece as suas diferentes posições sociais. E 
é esse reconhecimento da diferença e do que não 
é comum que desafia a própria argumentação e 
que leva a invocar a justiça e a “reciprocidade as-
simétrica” entre perspectivas dos sujeitos, uma vez 
que cada um tem a sua história que “transcende a 
copresença de sujeitos em comunicação” e cada 
posição social é estruturada pela configuração de 
relações entre outras posições, o que dá a cada lo-
cação um sentido específico e irreversível.
Por outro lado, essa concepção de democracia 
permite dar maior solidez à possibilidade de todos 
sermos vistos e ouvidos num espaço público, de ar-
ticularmos coletivamente a voz no debate público, 
tendo em conta, porém, as nossas diferenças. Essa 
comunicação entre perspectivas diferentes preser-
va a pluralidade, a qual, deve ser compreendida 
como uma condição de publicidade. Além disso, dá 
um caráter contingente e parcial ao meu ponto de 
vista, ao mesmo tempo que reconhece aos outros o 
direito de desafiarem os meus argumentos e interes-
ses, forçando-me a transformar as minhas expressões 
de auto interesse pelos apelos à justiça. 
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Desse modo, todos os participantes ganham 
uma visão mais ampliada dos processos sociais e 
simultaneamente se reforça a importância da regu-
lação comunitária e cidadã. E aqui voltaria a uma 
questão cara a certas feministas e que tem a ver 
com a possibilidade de a democracia comunicativa 
dar uma atenção particular à ética do cuidado, en-
carada esta, sobretudo como um enquadramento 
moral das políticas sociais. 
Na verdade, o ideal da teoria comunicativa im-
plica a atenção a aspectos não linguísticos da co-
municação e, de uma forma geral, a outras formas 
de uma ética do cuidado que a democracia deli-
berativa, pela sua preocupação de ser uma demo-
cracia racional, omitia, desprezando, por essa mes-
ma via, o caráter situado da comunicação e a sua 
ligação ao desejo. Então, a ética do cuidado, mais 
atenta às peculiaridades e às relações no desenvol-
vimento moral, parece vir complementar a ética da 
justiça e, nesse sentido, vem reforçar a relevância da 
democracia comunicativa. Acrescente-se, no en-
tanto, que esse fato não impede, de modo nenhum, 
as pretensões de universalização, dado que esta, do 
meu ponto de vista, é sobretudo uma característica 
das justificações morais e não exclui os juízos situa-
dos.
 Penso, além disso, que a ética do cuidado, por 
enfatizar o lado da justiça afetiva (embora não tan-
to as estruturas sociais de poder), fomenta numa 
democracia comunicativa o que poderia chamar-
se de uma “justiça reconstituinte”, para além de nos 
ajudar a perceber que os direitos se baseiam fun-
damentalmente em processos de comunicação e 
concessão de significado e que se constituem em 
verdadeiras ferramentas do diálogo que ajudam a 
interpretar e a reinterpretar as relações mútuas entre 
os membros de uma dada sociedade. 
Considere-se, pois, que uma democracia comu-
nicativa, não obstante também as suas debilidades 
(há que ter em conta que a política não é unica-
mente uma atividade deliberativa e comunicativa, 
mas ela é também estratégica), favorece uma visão 
mais completa da própria justiça de tal modo que 
esta, pensada sem o cuidado, se “converte mais 
num defeito que numa virtude. Do mesmo modo, a 
democracia comunicativa pode vir a dar uma outra 
extensão à própria noção de espaço público, que 
surge então não apenas como fundado na argu-
mentação intersubjectiva mas também na “partilha 
da sensibilidade”.
Uma reflexão sobre as temáticas “Ética” e “Cons-
tituição” incide automaticamente no tema da jus-
tiça. Não há como separarmos de forma abrupta 
essas temáticas. Essa necessidade remonta os clás-
sicos gregos e se justifica quando em determinado 
contexto são verificados problemas que preocupam 
a coletividade, parte dela, ou se estabelecem de-
terminadas situações ou diferenças que exigem in-
tervenções a fim de minimizar ou viabilizar soluções.
A preocupação com as ameaças vindas das 
guerras e dos conflitos existentes entre pessoas ou 
Estados não é mérito do nosso tempo. A história da 
humanidade está permeada de pessoas, grupos, en-
tidades, entre outras, cuja preocupação foi construir 
uns pressupostos mínimos para com isso garantirem a 
efetivação da justiça e, em consequência, construí-
rem a paz. Alguns personagens ainda estão nítidos 
em nossa memória cultural, como Martin Luther King, 
Mahatma Gandhi, a própria intenção que levou à 
criação da Organização das Nações Unidas, entre 
outros.
Atualmente talvez o mundo tenha se afastado um 
pouco do papel decisivo da Constituição como ga-
rantia mínima dos direitos dos cidadãos. Os inúmeros 
conflitos motivados por ambições pessoais, interesses 
econômicos, disputas étnicas, dificuldades relativas 
bem como disputas territoriais e comerciais, entre ou-
tros, exigem que reflitamos sobre o papel institucional 
da Constituição como algo que previna esses atritos.
Considerando especificamente a situação inter-
na, o país se debate com problemas como a fome, 
desemprego, miséria, falta de acesso à educação, 
saúde, enfim, deficiências que impõem uma quanti-
dade significativa da população a condições de vida 
abaixo de qualquer critério de humanidade. Esse des-
cuido pode ser considerado como causa de inúme-
ras situações de violência e de busca de soluções in-
dividualistas e ilusórias (tanto em nível individual quan-
to grupal). Há quase que uma via que se cruza entre o 
descaso oficial da União e a opção pela ilegalidade. 
Ao mesmo tempo, conflitos não menos ameaçadores 
comprometem o sonho da justiça, a implementação 
de medidas que possibilitem relações mais equilibra-
das e a construção de uma sociedade pautada em 
direitos e deveres. Ao perdermos o horizonte ético 
e imperativo da Constituição, a mesma ameaça se 
faz sentir na corrupção tornada comum nas relações 
pessoais, profissionais e nas instituições, também veri-
ficada no comércio de drogas e armas, nos conflitos 
envolvendo a posse e o acesso a terras, na falta de 
trabalho para grande parcela da população, etc.
Ao retomarmos o sentido originário da ética, nota-
mos que ela apareceu no momento histórico de tran-
sição da tirania para a democracia. Mais ainda, era 
uma convicção ligada ao fato de que para alcan-
çar um fim era preciso a virtude interior. Ou seja, para 
acontecer à democracia, a justiça, a paz e o bem 
eram elementos fundamentais eintimamente ligados. 
Uma nação que abandona o senso ético acaba por 
inviabilizar a sua Constituição e o estatuto da demo-
cracia.
Na mesma proporção, a humanidade de modo 
geral tem se preocupado um pouco mais com a cons-
trução da justiça. Existe um desejo latente, de muitas 
maneiras manifesto e expresso nas diversas culturas, 
uma espécie de sonho inconsciente, de que a justi-
ça seja construída, pois sem ela é impossível a convi-
vência humana e a sobrevivência não só do homem, 
mas também da natureza e do próprio universo.
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A desigualdade em diversas situações da convivência humana como, por exemplo, no acesso aos servi-
ços de saúde tem proporcionado um profundo debate sobre a justiça. A justiça traz consigo a prerrogativa 
do direito (em relação ao que alguém tem direito) ou daquilo que é devido às pessoas. Temos casos onde 
a própria justiça é vista pelo foco ou pela ótica da falta mais do que pela concretude, pois sempre que há 
alguém, em uma situação determinada, cujos benefícios que lhes cabem não são efetivados, temos um 
princípio de injustiça e de desconstituição ética.
Estes direitos podem ser considerados em relação a uma pessoa individualmente, como o direito ao tra-
tamento de um determinado problema de saúde de que é portador; em relação a um grupo social, como o 
direito à demarcação das terras indígenas ou direito ao transporte diferenciado aos portadores de deficiên-
cias; ou em relação à coletividade, como o direito à livre expressão ou direito à educação básica.
A injustiça pode ser caracterizada quando é negado a alguém um benefício ao qual se tem direito ou 
que deixa de distribuir encargos de forma equitativa. Neste sentido é que entra o papel da Constituição 
como garantia de que todos sejam atendidos, pelo menos nos seus direitos mínimos, do contrário, o papel do 
próprio Estado fica bastante comprometido.
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A primeira década desse século trouxe, de forma bastante contraditória, o retorno do ator social nas ações coletivas que se pro-
pagaram na maioria dos países da América Latina. 
Em alguns países latino-americanos, houve uma radi-
calização do processo democrático e o ressurgimento 
de lutas sociais tidas décadas atrás como tradicionais, 
a exemplo de movimentos étnicos - especialmente 
dos indígenas na Bolívia e no Equador, associados ou 
não a movimentos nacionalistas como o dos boliva-
rianos, na Venezuela. Algumas se fundamentam em 
utopias como o bien vivir dos povos andinos da Bolívia 
e do Equador, e vem transformando-se em propostas 
de gestão do Estado um Estado considerado plurina-
cional porque é composto por povos de diferentes 
etnias, que ultrapassam os territórios e fronteiras do Es-
tado-nação propriamente ditos. 
Observa-se também, no novo milênio, a retoma-
da do movimento popular urbano de bairros, ou movi-
mento comunitário barrial, especialmente no México 
e na Argentina. Todos esses movimentos têm eclodido 
na cena pública como agentes de novos conflitos e 
renovação das lutas sociais coletivas. Em alguns ca-
sos, elegeram suas lideranças para cargos supremos 
na nação, a exemplo da Bolívia. Movimentos que es-
tavam na sombra e tratados como insurgentes emer-
gem com força organizatória, como os piqueteiros na 
Argentina, cocaleiros na Bolívia e Peru e zapatistas no 
México. Outros, ainda, articulam-se em redes compos-
tas de movimentos sociais globais ou transnacionais, 
como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Ter-
ra (MST) no Brasil e a Via Campesina. 
Um aspecto importante a registrar é a ampliação 
das fronteiras dos movimentos rurais, articulando-se 
com os movimentos urbanos. Muitas vezes, a questão 
central é rural, mas a forma de manifestação do movi-
mento ocorre no meio urbano, a exemplo dos protes-
tos na Argentina e o próprio MST no Brasil. Ao falarmos 
de articulações, registre-se também que o movimento 
sindical de trabalhadores está presente em várias mo-
dalidades, pelo que tem sido chamado de novo, a 
exemplo dos piqueteiros na Argentina, que têm com-
posição social multiforme e heterogênea. 
Na primeira década desse século, ampliaram-se 
os movimentos que ultrapassam as fronteiras da na-
ção; são transnacionais, como o movimento alter ou 
antiglobalização, presente no Fórum Social Mundial, 
que atuam através de redes conectadas por meios 
tecnológicos da sociedade da informação. Novíssi-
mos atores entraram em cena, tanto do ponto de vis-
ta de propostas que pautam para os temas e proble-
mas sociais da contemporaneidade, como na forma 
como se organizam, utilizando-se dos meios de co-
municação e informação modernos. Preocupam-se 
com a formação de seus militantes, pela experiência 
direta, e não tanto com a formação em escolas, com 
leituras e estudos de textos. 
O exame do material produzido sobre os movi-
mentos altermundialistas revela-nos que existem vín-
culos internacionais que os unem, especialmente na 
mídia, como o jornal Le Monde Diplomatique, edi-
tado em vários idiomas, escrito por participantes ou 
adeptos ao movimento. Existe uma densa e intensa 
rede de comunicações intramembros, militantes com 
militantes. São produzidos textos, boletins, artigos etc. 
No Brasil, uma significativa parte desses militantes - de-
nominados ativistas - tem chegado aos cursos de pós-
graduação e, mais recentemente, ocupam posições 
como professores e pesquisadores nas universidades, 
especialmente as novas, criadas nessa década na 
área de ciências humanas. Teses e dissertações vêm 
sendo produzidas por esses militantes/ ativistas/pes-
quisadores. Muitas delas são parte das histórias que 
eles próprios vivenciaram. 
Registre-se, entretanto, que, no movimento al-
terglobalização, por se tratar de uma rede, não há 
homogeneidade, tanto no que se refere às propos-
tas como às formas de lutas - todas fragmentadas. 
Há diferentes correntes ideológicas que sustentam 
os ideais dos ativistas, que vão das novas formas do 
anarquismo do século XIX, organizadas agora em tor-
no da ideia de desobediência civil às concepções 
radicais de grupos articulados a partidos políticos de 
esquerda, passando pelas práticas de compromisso 
e responsabilidade social das organizações não go-
vernamentais (ONGs) e entidades de perfil mais assis-
tencial, aos movimentos populares herdeiros do movi-
mentalismo associativista dos anos 1970-1980 no Brasil. 
É importante destacar que, apesar das diferenças 
existentes nos movimentos transnacionais, a exemplo 
do próprio Fórum Social Mundial, eles unem à crítica 
sobre as causas da miséria, exclusão e conflitos so-
ciais, a busca e a criação de um consenso que via-
bilize ações conjuntas. À globalização econômica, 
os movimentos propõem outro tipo de globalização, 
alternativa, baseada no respeito às diferentes cultu-
H13 –ANALISAR A ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS 
QUE CONTRIBUÍRAM PARA MUDANÇAS OU RUPTURAS 
EM PROCESSOS DE DISPUTA PELO PODER.
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51
ras locais. Com isso, contribuem para construir outra 
rede de globalização, a da solidariedade. Ela expres-
sa-se não somente nos fóruns mundiais, mas sobre-
tudo nas redes de defesa dos direitos humanos, nas 
lutas contra a fome e defesa de frentes de produção 
alimentar, e não de armas, na defesa do meio am-
biente, na luta pela paz, contra a exploração do tra-
balho infantil etc. Não podemos ignorar, entretanto, 
as várias críticas que os movimentos altermundialistas 
ou transnacionais têm recebido nos últimos anos. Elas 
atingem não só os movimentos, mas também seus or-
ganizadores e intelectuais de apoio. Afirma-se que: 
estesmovimentos transformam os meios em fins, o 
êxito é dado não pelas conquistas, mas pelo número 
de participantes e seu impacto midiático na socieda-
de. O movimento torna-se dependente da opinião 
pública, pois é preciso que a sociedade manifeste 
o conhecimento da ação, precisa que se discuta e 
debata o que se está demandando, reclamando ou 
denunciando, para que a ação coletiva venha a 
atingir reconhecimento e legitimidade social. 
A mídia e sua cobertura tornam-se elementos es-
tratégicos nessa configuração; ela contribui para a 
direção do movimento, pois o movimento social pre-
cisa de visibilidade. As críticas aos altermundialistas 
destacam que, entre os participantes, nos megae-
ventos, quem detém de fato a fala são porta-vozes 
autorizados, de certa forma já “profissionais na políti-
ca”, detentores de um capital militante onde a luta 
política se trava num combate de ideias e ideais, a 
questão simbólica é mais importante que os proble-
mas concretos. O processo de transformação social 
adquire facetas proféticas, místico, sem objetivo defi-
nido. Os processos efetivos de dominação existentes 
não aparecem nos discursos. 
Seguindo o objetivo inicial deste trabalho - de 
traçar uma visão panorâmica sobre os movimentos 
sociais latino-americanos na contemporaneidade -, 
observo que setores do movimento ambientalista se 
politizaram em algumas regiões, a exemplo da luta 
contra a instalação de papeleiras no Uruguai, ou a 
luta contra empreendimentos de mineração a céu 
aberto na região de Mendoza, na Argentina, que 
causam sérios problemas socioambientais. Naquela 
região, as ações são organizadas em assembleias, 
nucleadas na União de Assembleias Cidadãs (UAC). 
A UAC é composta de comerciantes, pequenos pro-
dutores, donas de casa, estudantes etc. Ou seja, um 
grupo social heterogêneo, mas que participa segun-
do pressupostos da importância da ação social co-
letiva. Outros movimentos ambientalistas se articula-
ram com movimentos populares, como na região do 
rio São Francisco, no Brasil, assim como o movimento 
contra a construção de barragens e dos pequenos 
agricultores, em várias partes do Brasil e na Argen-
tina. O Movimento Campesino de Córdoba (MCC), 
por exemplo, reúne cerca de seiscentas famílias e 
tem aglutinado inúmeras associações, apoios de pro-
fissionais e militantes. 
O movimento negro, ou afrodescendente como 
preferem alguns, avançou em suas pautas de luta, 
a exemplo do Brasil com a política de cotas nas uni-
versidades e no Programa Universidade para Todos 
(Prouni) etc. 
Destaca-se, nesse avanço, o suporte governa-
mental por meio de políticas públicas - com resul-
tados contraditórios. De um lado, as demandas so-
ciais são postas como direitos (ainda que limitados), 
abrindo espaço à participação cidadã via ações 
cidadãs. De outro, há perdas, principalmente de au-
tonomia dos movimentos e o estabelecimento de es-
truturas de controle social de cima para baixo, nas 
políticas governamentais para os movimentos sociais. 
O controle social instaura-se, mas com sentido dado 
pelas políticas públicas, ainda que haja a participa-
ção cidadã no estabelecimento das normativas. 
As grandes conferências nacionais temáticas são 
uma das estratégias básicas desse controle. Nesse 
cenário de redes movimentalistas com apoio institu-
cional, deve-se acrescentar as inúmeras ações e re-
des cidadãs que se apresentam como movimentos 
sociais de fiscalização e controle das políticas públi-
cas, atuando em fóruns, conselhos, câmaras, consór-
cios etc., em escala local, regional e nacional, princi-
palmente no Brasil e na Colômbia. 
Nessa breve lista de movimentos sociais na Amé-
rica Latina da atualidade, é preciso registrar ainda a 
retomada do movimento estudantil, especialmente 
no Chile, com a Revolta dos Pinguins, e as ocupa-
ções em universidades no Brasil, sobretudo nas públi-
cas, em luta pela melhoria da qualidade do ensino, 
contra reformas da educação, atos de corrupção e 
desvio de verbas públicas. Aliás, não são apenas os 
estudantes que têm se mobilizado. A área da educa-
ção, especialmente a educação na escola básica, 
tem sido fonte de protestos de grandes dimensões, a 
exemplo do México, em 2006, na região de Oaxaca. 
Devemos destacar também que a área da edu-
cação - devido ao potencial dos processos educati-
vos e pedagógicos para o desenvolvimento de for-
mas de sociabilidade, constituição e ampliação de 
cultura política, passou a ser área estratégica tam-
bém para os movimentos populares, a exemplo do 
MST, no Brasil. Outra ação coletiva nova no campo 
da educação foi o surgimento dos chamados “ba-
charelados populares”, organizados em antigos es-
paços fabris por ex-trabalhadores, em ações deno-
minadas “fábricas recuperadas”. 
Enquanto algumas unidades fabris, fechadas na 
crise dos primeiros anos deste século, foram recupe-
radas pelos trabalhadores em processos auto gestio-
nários, com apoio de sindicatos e subsídios governa-
mentais, outras se transformaram em espaços culturais 
com destaque para as atividades educativas, de for-
mação. Ancorados também em processos de luta por 
direitos e construção de identidades, destacam-se os 
movimentos das mulheres e o LGBTTTS - lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis, transexuais, trangêneros e simpati-
zantes, em diferentes formatos e combinações. 
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Na primeira década deste milênio, fortaleceram-
se as ONGs e entidades do terceiro setor - que an-
tes serviam apenas de apoio aos movimentos sociais 
populares. Estes últimos enfraqueceram-se e tiveram 
de alterar suas práticas, ser mais propositivos - partici-
pando dos projetos das ONGs - e menos reivindicati-
vos ou críticos. No Brasil, o número de manifestações 
nas ruas diminuiu e a relação inverteu-se: as ONGs 
tomaram a dianteira na organização da população, 
no lugar dos movimentos. Esse processo se aprofun-
dou quando surgiu outro ator social relevante no 
cenário do associativismo nacional: as fundações e 
organizações do terceiro setor, articuladas por em-
presas, bancos, redes do comércio e da indústria, ou 
por artistas famosos, que passaram a realizar os pro-
jetos junto à população, em parcerias com o Estado. 
Apoiados por recursos financeiros, privados e 
públicos (oriundos dos numerosos fundos públicos 
criados) e por equipes de profissionais competentes 
- previamente escolhidos não por suas ideologias, 
mas por suas experiências de trabalho -, essas orga-
nizações passaram a trabalhar de forma diferente de 
como os movimentos sociais atuavam até então. O 
terceiro setor passou a atuar com populações tidas 
como vulneráveis, focalizadas, grupos pequenos, 
atuando por meio de projetos, com prazos determi-
nados. Novos conceitos foram criados para dar su-
porte às novas ações, tais como responsabilidade 
social, compromisso social, desenvolvimento susten-
tável, empoderamento, protagonismo social, eco-
nomia social, capital social etc. Esse cenário resulta 
em inúmeras ações cidadãs, citadas anteriormente, 
como as cooperativas de material reciclável no Brasil 
(o país é um dos campeões na reciclagem de latas, 
papel e papelão). Projetos sociais organizam coope-
rativas de recicladores e grandes eventos como o 
Festival Lixo e Cidadania (Belo Horizonte, 2007, 2009), 
apresentando os “resultados” de tais ações. 
A análise do novo cenário remete-nos ao tema 
da institucionalização das práticas e organizações 
populares, na própria sociedade civil ou por meio de 
políticas públicas, conferências nacionais patrocina-
das por órgãos público-estatais, ou estruturas organi-
zativas criadas no próprio corpo estatal, a exemplo 
dos conselhos. 
Movimentos sociais no Brasil- Antecedentes: a 
era movimentista(1970-1980) 
No Brasil e em vários outros países da América 
Latina, no fim da década de 1970 e parte dos anos 
1980, ficaram famosos os movimentos sociais popula-
res articulados por grupos de oposição aos regimes 
militares, especialmente pelos movimentos de base 
cristãos, sob a inspiração da teologia da libertação. 
No fim dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990, o ce-
nário sociopolítico transformou-se de maneira radical. 
Inicialmente, houve declínio das manifestações de 
rua, que conferiam visibilidade aos movimentos po-
pulares nas cidades. Alguns analistas diagnosticaram 
que eles estavam em crise, porque haviam perdido 
seu alvo e inimigo principal: os regimes militares. Em 
realidade, as causas da desmobilização são várias. O 
fato inegável é que os movimentos sociais dos anos 
1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente, via 
demandas e pressões organizadas, para a conquista 
de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis 
na nova Constituição Federal de 1988. 
A partir de 1990, ocorreu o surgimento de outras 
formas de organização popular, mais institucionali-
zadas - como os Fóruns Nacionais de Luta pela Mo-
radia, pela Reforma Urbana, o Fórum Nacional de 
Participação Popular etc. Os fóruns estabeleceram 
a prática de encontros nacionais em larga escala, 
gerando grandes diagnósticos dos problemas so-
ciais, assim como definindo metas e objetivos estraté-
gicos para solucioná-los. Emergiram várias iniciativas 
de parceria entre a sociedade civil organizada e o 
poder público, impulsionadas por políticas estatais, 
tais como a experiência do Orçamento Participativo, 
a política de Renda Mínima, Bolsa Escola etc. Todos 
atuam em questões que dizem respeito à participa-
ção dos cidadãos na gestão dos negócios públicos. 
A criação de uma Central dos Movimentos Populares 
foi outro fato marcante nos anos 1990, no plano orga-
nizativo; estruturou vários movimentos populares em 
nível nacional, tal como a luta pela moradia, assim 
como buscou uma articulação e criou colaborações 
entre diferentes tipos de movimentos sociais, popula-
res e não populares. 
Ética na Política, um movimento do início dos 
anos 1990, teve grande importância histórica, porque 
contribuiu decisivamente para a deposição - via pro-
cesso democrático - de um presidente da Repúbli-
ca por atos de corrupção, fato até então inédito no 
país. Na época, contribuiu também para o ressurgi-
mento do movimento dos estudantes com novo perfil 
de atuação, os «caras-pintadas». 
À medida que as políticas neoliberais avança-
ram, outros movimentos sociais foram surgindo: con-
tra as reformas estatais, a Ação da Cidadania contra 
a Fome, movimentos de desempregados, ações de 
aposentados ou pensionistas do sistema previdenciá-
rio. As lutas de algumas categorias profissionais emer-
giram no contexto de crescimento da economia in-
formal, no setor de transportes urbanos, por exemplo, 
apareceram os transportes alternativos («perueiros»); 
no sistema de transportes de cargas pesadas nas es-
tradas, os «caminhoneiros». Algumas dessas ações 
coletivas surgiram como respostas à crise socioeco-
nômica, atuando mais como grupos de pressão do 
que como movimentos sociais estruturados. Os atos e 
manifestações pela paz, contra a violência urbana, 
também são exemplos dessa categoria. Se antes a 
paz era um contraponto à guerra, hoje ela é almeja-
da como necessidade ao cidadão/cidadã comum, 
em seu cotidiano, principalmente nas ruas, onde mo-
toristas são vítimas de assaltos relâmpagos, seques-
tros e assassinatos. 
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Grupos de mulheres foram organizados nos anos 
1990 em função de sua atuação na política, criando 
redes de conscientização de seus direitos e frentes 
de lutas contra as discriminações. O movimento dos 
homossexuais também ganhou impulso e as ruas, or-
ganizando passeatas, atos de protestos e grandes 
marchas anuais. Numa sociedade marcada pelo 
machismo, isso também é uma novidade histórica. O 
mesmo ocorreu com o movimento negro ou afrodes-
cendente, que deixou de ser predominantemente 
movimento de manifestações culturais para ser, so 
bretudo, movimento de construção de identidade e 
luta contra a discriminação racial. Os jovens também 
criaram inúmeros movimentos culturais, especialmen-
te na área da música, enfocando temas de protesto, 
pelo rap, hip hop etc. 
Deve-se destacar ainda três outros importantes 
movimentos sociais no Brasil, nos anos 1990: dos indí-
genas, dos funcionários públicos - especialmente das 
áreas da educação e da saúde - e dos ecologistas. 
Os primeiros cresceram em número e em organiza-
ção nessa década, passando a lutar pela demarca-
ção de suas terras e pela venda de seus produtos a 
preços justos e em mercados competitivos. Os segun-
dos organizaram-se em associações e sindicatos con-
tra as reformas governamentais que progressivamen-
te retiram direitos sociais, reestruturam as profissões 
e arrocharam os salários em nome da necessidade 
dos ajustes fiscais. Os terceiros, dos ecologistas, proli-
feraram após a conferência Eco-92, dando origem a 
diversas organizações não governamentais. 
Aliás, as ONGs passaram a ter muito mais impor-
tância nos anos 1990 do que os próprios movimentos 
sociais. Trata-se de ONGs diferentes das que atua-
vam nos anos 1980 junto a movimentos populares. 
Agora são inscritas no universo do terceiro setor, 
voltadas para a execução de políticas de parceria 
entre o poder público e a sociedade, atuando em 
áreas onde a prestação de serviços sociais é carente 
ou até mesmo ausente, como na educação e saú-
de, para clientelas como meninos e meninas que vi-
vem nas ruas, mulheres com baixa renda, escolas de 
ensino fundamental etc. 
Cenário dos movimentos sociais na atualidade 
no Brasil 
Para situar a relação movimentos sociais e edu-
cação, é preciso delinear um quadro referencial 
mais amplo, relativo à conjuntura que constitui o 
campo sociopolítico e econômico no qual ocorrem 
os movimentos. Algumas características básicas des-
sa conjuntura na atualidade, no campo do associa-
tivismo, são: 
- Há um novo cenário neste milênio: novos tipos 
movimentos, novas demandas, novas identidades, 
novos repertórios. Proliferam movimentos multi e plu-
riclassistas. Surgiram movimentos que ultrapassam 
fronteiras da nação, são transnacionais, como o já 
citado movimento alter ou antiglobalização. Mas 
também emergiram com força movimentos com de-
mandas seculares como a terra, para produzir (MST) 
ou para viver seu modo de vida (indígenas). Movi-
mentos identitários, reivindicatórios de direitos cultu-
rais que lutam pelas diferenças: étnicas, culturais, re-
ligiosas, de nacionalidades etc. Movimentos comuni-
tários de base, amalgamados por ideias e ideologias, 
foram enfraquecidos pelas novas formas de se fazer 
política, especialmente pelas novas estratégias dos 
governos, em todos os níveis da administração. Novos 
movimentos comunitaristas surgiram – alguns recrian-
do formas tradicionais de relações de autoajuda; ou-
tros organizados de cima para baixo, em função de 
programas e projetos sociais estimulados por políticas 
sociais. 
- Criaram-se varias novidades no campo da or-
ganização popular, tais como a atuação em redes e 
maior consciência da questão ambiental ao deman-
dar projetos que possam vir a ter viabilidade econô-
mica sem destruir o meio ambiente. 
- A nova conjuntura econômica e política tem 
papel social fundamental para explicar o cenário 
associativista atual. As políticas neoliberais desorgani-
zaram os antigos movimentos e propiciaram arranjos 
para o surgimento de novos atores, organizados em 
ONGs, associações e organizações do terceiro setor. 
- As reformas neoliberais deslocaram as tensões 
para o plano cotidiano, gerando violência, diminui-
ção de oportunidadesno mundo do trabalho formal, 
formas precárias de emprego, constrangimento dos 
direitos dos indivíduos, cobrança sobre seus deveres 
em nome de um ativismo formal etc. 
- O Estado promoveu reformas e descentralizou 
operações de atendimento na área social; foram 
criados canais de mediações e inúmeros novos pro-
gramas sociais; institucionalizaram-se formas de aten-
dimento às demandas. De um lado, observa-se que 
esse fato foi uma vitória, porque demandas anteriores 
foram reconhecidas como direito, inscrevendo-as em 
práticas da gestão pública. De outro, a forma como 
têm sido implementadas as novas políticas, ancora-
das no pragmatismo tecnocrático, tem resultado na 
maioria dos projetos sociais implementados passando 
a ter caráter fiscalizatório, ou sendo partícipes de re-
des clientelistas, e não de controle social de fato. 
Um panorama dos movimentos sociais neste novo 
milênio pode ser descrito em torno de 13 eixos temá-
ticos, que envolvem as seguintes lutas e demandas 
- Movimentos sociais em torno da questão urba-
na, pela inclusão social e por condições de habitabili-
dade na cidade. Exemplos: a |Movimentos pela mo-
radia, expresso em duas frentes de luta: articulação 
de redes sociopolíticas compostas por intelectuais de 
centro- -esquerda e movimentos populares que mili-
tam ao redor do tema urbano (o hábitat, a cidade 
propriamente dita). Eles participaram do processo 
de construção e obtenção do Estatuto da Cidade; 
redes de movimentos sociais populares dos Sem-Te-
to (moradores de ruas e participantes de ocupações 
de prédios abandonados), apoiados por pastorais da 
Igreja Católica e outras; b |movimentos e ações de 
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grupos de camadas médias contra a violência urba-
na e demandas pela paz (no trânsito, nas ruas, esco-
las, ações contra as pessoas e seu patrimônio etc.); 
c |mobilizações e movimentos de recuperação de 
estruturas ambientais, físico-espaciais (como praças, 
parques), assim como de equipamentos e serviços 
coletivos (área da saúde, educação, lazer, esportes 
e outros serviços públicos degradados nos últimos 
anos pelas políticas neoliberais); ou ainda mobiliza-
ções de segmentos atingidos pelos projetos de mo-
dernização ou expansão de serviços. 
- Mobilização e organização popular em torno 
de estruturas institucionais de participação na ges-
tão política-administrativa da cidade: a |Orçamen-
to Participativo e Conselhos Gestores (saúde, edu-
cação, assistência social, criança e adolescente, 
idoso); b conselhos da Condição Feminina, Popula-
ções Afrodescendentes etc. 
- Movimentos em torno da questão da saúde, 
como: a Sistema Único de Saúde (SUS); b confe-
rências nacionais, estaduais e municipais da saúde; 
c agentes comunitários de saúde; d portadores de 
necessidades especiais; e portadores de doenças es-
pecíficas: insuficiência renal, lúpus, Parkinson, mal de 
Alzheimer, câncer, doenças do coração etc. 
- Movimentos de demandas na área do direito: 
a humanos: situação nos presídios, presos políticos, 
situações de guerra etc.; b culturais: preservação e 
defesa das culturas locais, patrimônio e cultura das 
etnias dos povos. 
- Mobilizações e movimentos sindicais contra o 
desemprego. 
- Movimentos decorrentes de questões religiosas 
de diferentes crenças, seitas e tradições religiosas. 
- Mobilizações e movimentos dos sem-terra, na 
área rural e suas redes de articulação com as cida-
des por meio da participação de desempregados e 
moradores de ruas, nos acampamentos do MST, mo-
vimentos dos pequenos produtores agrários, Quebra-
deiras de Coco do Nordeste etc. 
- Movimentos contra as políticas neoliberais: a 
|Mobilizações contra as reformas estatais que reti-
ram direitos dos trabalhadores do setor privado e pú-
blico; b | atos contra reformas das políticas sociais; c 
|denúncias sobre as reformas que privatizam órgãos 
e aparelhos estatais. 
- Grandes fóruns de mobilização da sociedade ci-
vil organizada: contra a globalização econômica ou 
alternativa à globalização neoliberal (contra ALCA, 
por exemplo); o Fórum Social Mundial (FSM), inicia-
tiva brasileira, com dez edições ocorridas no Brasil e 
no exterior; o Fórum Social Brasileiro, inúmeros fóruns 
sociais regionais e locais; fóruns da educação (Mun-
dial, de São Paulo); fóruns culturais (jovens, artesões, 
artistas populares etc.). 
- Movimento das cooperativas populares: mate-
rial reciclável, produção doméstica alternativa de 
alimentos, produção de bens e objetos de consumo, 
produtos agropecuários etc. Trata-se de uma gran-
de diversidade de empreendimentos, heterogêneos, 
unidos ao redor de estratégias de sobrevivência (tra-
balho e geração de renda), articulados por ONGs 
que têm propostas fundadas na economia solidária, 
popular e organizados em redes solidárias, autoges-
tionárias. Muitas dessas ONGs têm matrizes humanis-
tas, propõem a construção de mudanças sociocultu-
rais de ordem ética, a partir de uma economia alter-
nativa que se contrapõe à economia de mercado 
capitalista. 
- Mobilizações do Movimento Nacional de Atin-
gidos pelas Barragens, hidrelétricas, implantação de 
áreas de fronteiras de exploração mineral ou vegetal 
etc. 
- Movimentos sociais no setor das comunicações, 
a exemplo do Fórum Nacional pela Democratização 
da Comunicação (FNDC).
Dos “antigos” aos “novos” movimentos sociais 
A contestação social foi uma constante ao longo 
da história gerando vários tipos de movimentos so-
ciais consoante o período em que ocorreram. A tran-
sição do Antigo Regime para o Liberalismo provocou 
revoltas consideradas como “primitivas” ou “pré- mo-
dernas”. Esses protestos surgiram do confronto entre o 
sistema capitalista e a tradicional organização social. 
Da adaptação ou da incapacidade de adaptar-se 
resultaram movimentações sociais, entre as quais se 
ressalta o banditismo, movimentos revolucionários 
camponeses do gênero milenarista, sociedades se-
cretas rurais estudadas por Hobsbawm em Espanha 
e Itália, classificando este tipo de protesto como for-
mas arcaicas ou primitivas de agitação social. Dentro 
do mesmo tipo de revolta pré- moderna também se 
encontram os motins de subsistência. 
Estas agitações pré-modernas não foram alvo de 
muitas análises, nem lhes foi atribuída grande impor-
tância, porque fogem à classificação estabelecida 
para os movimentos sociais modernos, isto é, os ocor-
ridos desde os finais do século XVIII. São protestos que 
mais se poderiam enquadrar em fenômenos ocasio-
nais surgidos na Idade Média, mas a verdade é que 
aconteceram nos séculos XIX e XX, tendo, portanto, 
coexistido com movimentos de protesto modernos. 
Os intervenientes nestes movimentos primitivos ainda 
não tinham encontrado uma linguagem específica 
para expressar as suas aspirações sobre o mundo e, 
por isso, as suas ações foram consideradas pré-polí-
ticas. A sua cultura era, sobretudo oral porque eram 
maioritariamente analfabetos. 
Esta gente, que não nasceu nem cresceu num 
mundo moderno ou capitalista, viu-se confrontada 
com a penetração das relações de produção e da 
lógica do capitalismo no seu mundo tradicional. O 
confronto entre estas duas realidades produziu con-
flitos, expressos de forma arcaica e sem pretensões 
políticas, nos quais o parentesco e outros vínculos tri-
bais tinham um peso importante na delimitação dos 
bandos em confronto. . 
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As progressivas reformas políticas, o avanço do 
capitalismo e a modernização trazida com a indus-
trialização, determinaram o desaparecimento gra-
dual das velhas formas de protesto, pois a persistên-
cia dos costumes e direitos do passado já não faziasentido num mundo em transformação. As contesta-
ções locais, espontâneas, esporádicas e apolíticas 
foram substituídas por protestos modernos, com ideo-
logias e extensão nacional. Os movimentos, passam 
de “reativos”, que incluem as práticas defensivas 
frente às pressões exteriores resistência ao serviço mi-
litar, hostilidade contra a maquinaria, ocupações de 
terras etc, para ações “proativas”, principalmente a 
partir de meados do século XIX, ou seja, formas mais 
organizadas através de uma base associativa: gre-
ves, manifestações, sindicatos. 
A grande revolução de 1789 -1848 foi o triunfo 
não da indústria como tal, mas da classe média ou 
da sociedade “burguesa” liberal; não da economia 
moderna ou do estado moderno, mas das econo-
mias e Estados em uma determinada região geográ-
fica do mundo (parte da Europa e alguns trechos da 
América do Norte), cujo centro eram os Estados rivais 
e vizinhos da Grâ-Bretanha e França. A transforma-
ção de 1789 – 1848 é essencialmente o levante gê-
meo que se deu naqueles dois países e que dali se 
propagou por todo o mundo. 
Com a guerra fria o capitalismoganha o mundo, 
surgindo o conceito de globalização, mas mesmo 
ganhando o capitalismo como forma econômica os 
movimentos sociais se espalham pelo o mundo, dan-
do origemaos movimentos do rock, do reggae o mo-
vimento dos negros nos Estados Unidos, o movimento 
das mulheres, também a luta pelos direitos humanos. 
Em alguns países latino-americanos, houve uma 
radicalização do processo democrático e o ressur-
gimento de lutas sociais tidas décadas atrás como 
tradicionais, a exemplo de movimentos étnicos – es-
pecialmente dos indígenas na Bolívia e no Equador, 
associados ou não a movimentos nacionalistas como 
o dos bolivarianos, na Venezuela. 
Observa-se também, no novo milênio, a reto-
mada do movimento popular urbano de bairros, ou 
movimento comunitário barrial, especialmente no 
México e na Argentina. Todos esses movimentos têm 
eclodido na cena pública como agentes de novos 
conflitos e renovação das lutas sociais coletivas. Em 
alguns casos, elegeram suas lideranças para cargos 
supremos na nação, a exemplo da Bolívia. Movimen-
tos que estavam na sombra e tratados como insur-
gentes emergem com força organizatória, como os 
piqueteiros na Argentina, cocaleiros na Bolívia e Peru 
e zapatistas no México. Outros, ainda, articulam-se 
em redes compostas de movimentos sociais globais 
ou transnacionais e a Via Campesina, além da Coor-
dinadora Latino americana de Organizacionesdel 
Campo (CLOC). 
Com efeito, à medida que o desenvolvimento 
industrial se foi processando e as relações sociais se 
foram alterando pelo modo de produção capitalista, 
surgiram novas formas de protesto motivadas pelo 
fosso que se criou entre capitalistas e operários. Este 
grupo de trabalhadores, com o tempo, foi-se forta-
lecendo e ganhando consciência de classe. Forma-
ram associações de trabalhadores e mais tarde sin-
dicatos. 
Em Portugal, à semelhança do que aconteceu 
na Europa, às primeiras associações de operários ti-
nham um caráter mutualista com propósito cultural e 
de apoio mútuo, como assistência na doença e na 
morte, memória das antigas confrarias de ofícios. Esta 
era a única hipótese de associação, uma vez que o 
agrupamento por ofícios era proibido no nosso país, 
só foi autorizado em 1891. Este movimento associati-
vo foi cimentando a organização operária, fazendo 
emergir, na segunda metade do século XIX, um tipo 
de movimento social distinto, como as greves, em 
que existia uma situação conflitual entre os trabalha-
dores e seus patrões. 
Essa conflitualidade foi motivada por baixos salá-
rios, excessivos horários de trabalho, más condições 
laborais. Para demonstrar a sua insatisfação e recla-
marem melhores condições de vida, os operários 
cessavam o trabalho e protestavam, fossem ou não 
filiados em alguma associação. 
O movimento operário foi à expressão da con-
flitualidade gerada no seio da sociedade industrial, 
entre patrões e assalariados. São movimentos orga-
nizados que tem na base a aquisição de melhores 
condições salariais e de trabalho, passando das rei-
vindicações econômicas e sociais para as políticas, 
sobretudo depois que são de organização sindical. 
A partir da década de 60, do século XX, os mo-
vimentos sociais são chamados de novos, são deri-
vados da pós-industrialização, já não centrados nos 
movimentos laborais e na sua luta pela transforma-
ção econômica e política, nem enquadrados pelo 
sindicalismo, mas baseiam-se em outros sistemas de 
valores estruturantes das consciências e das identi-
dades dos indivíduos e dos grupos. 
O movimento feminista, movimento ecologista, 
movimento pacifista. São movimentos mais segmen-
tados, que agregam aderentes de acordo com as 
ideologias dos grupos e visam afirmar identidades ou 
melhorar a qualidade de vida e que se inspiram em 
valores não materialistas mas em valores universalis-
tas, como a paz, o meio ambiente a autonomia e 
identidade. 
No caso do movimento feminista são os direitos 
das mulheres: jurídicos e de cidadania, que levam à 
ação coletiva das mesmas para que lhes sejam re-
conhecidos direitos contratuais, de propriedade e 
direito de voto. 
O movimento ecológico luta por uma nova for-
ma de desenvolvimento racional e sustentável, mu-
dando formas de produção, exploração de recursos 
com contrapartidas ambientais, consumismo irracio-
nal e inconsequente. 
Movimentos pacifistas lutam por ideais de paz, de 
forma não violenta através da resistência, boicotes, 
diplomacia. Estes movimentos têm em comum o fato 
de serem formas de contestação politizadas, embo-
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ra não almejassem uma revolução política, daí a não 
integração em partidos ou sindicatos e a manifesta-
ção na esfera pública, através de comícios ou desfi-
les, processos não institucionais de ação, recrutando 
os seus atores em meios sociais diversos. 
O intuito é tornarem-se visíveis para trazer a opi-
nião pública para a sua causa e terem efeitos po-
líticos. Para poder emancipar-se do Estado há que 
adquirir direitos políticos. São movimentos que visam 
adquirir privilégios democráticos. 
Estes novos protagonistas: jovens, estudantes, mu-
lheres, profissionais liberais focavam a sua luta já não 
nas condições de vida ou redistribuição de recursos 
mas na qualidade de vida e na diversidade de estilos 
de vivê-la. 
Ao longo do século XX a natureza do capitalismo 
foi-se alterando, deixando o centro de ser a produ-
ção industrial e o operário, dando, dessa forma, lu-
gar a novos temas e agentes para as mobilizações 
coletivas. 
Os movimentos sociais a que se assiste no século 
XXI, põe em causa a forma como a própria democra-
cia está a ser exercida na época atual, atendendo a 
que oprincipal objetivo da democracia deve ser per-
mitir que indivíduos, grupos e coletividades se tornem 
sujeitos livres, produtores de sua história, capazes de 
reunir em sua ação o universalismo da razão e as par-
ticularidades da identidade pessoal e coletiva. 
Existem vários tipos de movimentações desse gê-
nero mas destacaremos, em Portugal, o movimen-
to de 12 de Março intitulado “Geração à rasca”, e 
na Europa o movimento dos “Indignados”, iniciado 
em Espanha. Nos dois movimentos, os indivíduos, en-
quanto cidadãos, intervêm na esfera pública e pro-
nunciam-se sobre questões que lhes dizem respeito 
como: a crise, desemprego, exploração, enquanto 
pessoas pertencentes a uma coletividade. 
Os “Indignados” tinham o escopo de promover 
uma democracia mais participativa. Começou com 
um protesto pacífico em Espanha a 15 de Maio de 
2011, contra as políticas econômicas que levaram ao 
desemprego e ocorreramem 50 cidades espanholas 
em simultâneo, tendo depois contagiado mais de 60 
países. 
No Brasil uma grande ascensão dos Movimentos 
Sociais se viu na década de 1970 buscando o fim 
da repressão da Ditadura Militar e as liberdades in-
dividuais e democráticas. Os principais movimentos 
sociais são: Movimentos Sociais Ligados à produção, 
político-partidários, religiosos, do campo, categorias 
específicas, lutas gerais e movimentos sociais urba-
nos. 
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Ter-
ra é um dos movimentos sociais mais importantes do 
Brasil, tem como principal objetivo as questões refe-
rentes ao trabalhador do campo, a reforma agrária 
e algumas outras importantes transformações sociais. 
Também tem como objetivo desapropriar os latifun-
diários que estão na posse das multinacionais e de 
todas as terras improdutivas. 
Outro importante Movimento social brasileiro é 
o “Movimento dos Trabalhadores Sem Teto” (MTST), 
este movimento, diferentemente do MST, tem um ca-
ráter urbano pois as disputas e ações dele ocorrem 
na maior parte das vez na cidade. 
O movimento negro, ou afrodescendente como 
preferem alguns, avançou em suas pautas de luta, 
a exemplo do Brasil com a política de cotas nas uni-
versidades e no Programa Universidade para Todos 
(Prouni) etc. Destaca-se, nesse avanço, o suporte go-
vernamental por meio de políticas públicas – com re-
sultados contraditórios. De um lado, as demandas so-
ciais são postas como direitos (ainda que limitados), 
abrindo espaço à participação cidadã via ações 
cidadãs. De outro, há perdas, principalmente de au-
tonomia dos movimentos e o estabelecimento de es-
truturas de controle social de cima para baixo, nas 
políticas governamentais para os movimentos sociais. 
Desta forma, na travessia dos anos noventa e no 
início do século XXI, os movimentos sociais adquiriram 
um papel-chave como ator político em um Estado 
democrático, pela importância reconhecida como 
portador legítimo e representante dinâmico de rei-
vindicações de diferentes setores da sociedade civil. 
Texto adaptado de LEÃO, T.F. et al; SILVA, C. M. T
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A História e seus fundamentos: da historiogra-fia em geral para a historiografia econômi-ca 
A história em geral e a história econômica, em 
particular, enquanto disciplina das Ciências Econô-
micas, tem sido, ao longo do tempo, objeto de certo 
descaso por parte dos cientistas sociais. 
É certo que, em boa parte, tal situação resulta 
das dificuldades de identificação dos métodos utili-
zados nesse campo de estudo com os métodos con-
sagrados no estudo da economia e outras ciências 
sociais. Tal como acontece com a historiografia em 
geral, a impossibilidade de se estabelecerem leis 
históricas baseadas numa regularidade constatável 
do comportamento humano passado faz da história 
econômica um conhecimento passível de questiona-
mento e, mesmo, vulnerável. 
Naturalmente, isto não pode servir às ideias se-
gundo as quais, por essa mesma razão, o conheci-
mento histórico deixaria de ter valor, pois segundo 
aquele expoente da Escola dos Annales, a história 
não é uma ciência do passado, mas o campo da 
ciência em que se procura entender a importância 
do passado para a compreensão do presente, da 
mesma maneira em que se procura entender a im-
portância do presente para a compreensão do pas-
sado. 
Nessa perspectiva, o conhecimento histórico 
naturalmente estará sujeito ao fazer histórico, isto é, 
resultará dos temas elencados pelo historiador que, 
por sua vez, carregará inquietações e convicções de 
seu tempo. A análise e a compreensão histórica são, 
dessa maneira, condicionadas pela pergunta que se 
faz aos acontecimentos. Desconsiderar isto seria a 
exemplo do que pretendiam e ainda pretendem os 
historiadores de tradição positivista, mutilar o próprio 
homem. 
Os acontecimentos, no entanto, não podem se 
restringir às ideias e fatos manifestos pelo homem, 
pois este é constituído também por seu corpo, sensi-
bilidade e mentalidade. Tal situação afirma a impor-
tância de se incluir no processo de estudo da história 
a preocupação com a utilização de técnicas origina-
das na concepção positivista de ciência, como ele-
mentos de auxílio para construção do conhecimento 
histórico. Contudo, a utilização desses recursos deve 
se realizar numa proposta de conhecimento global. 
Tal conhecimento supõe não se dividir a realida-
de em compartimentos a partir dos quais se obteriam 
conhecimentos históricos específicos como tradicio-
nalmente se apresentam nas disciplinas de história 
política, história social, história econômica, etc. Isto 
não significa que o fazer histórico deva sempre re-
meter a uma história total, pois é o estudo de alguns 
aspectos particulares de uma sociedade que muitas 
vezes leva à compreensão de sua realidade global. 
Assim, a história, tendo como objeto o estudo 
das causas que dão conformação ao presente da 
humanidade e não simplesmente ao seu passado, 
lida com uma variada quantidade de elementos da 
realidade que lhe dão uma capacidade de leitura 
relativamente integrada das diferentes questões re-
levantes para a ciência econômica, em temas que 
vão do desenvolvimento econômico à economia in-
ternacional. 
Dessa forma, são exemplares para a teoria eco-
nômica, os esforços empenhados por escolas históri-
cas de diferentes vertentes ideológicas e metodoló-
gicas, como a Escola Histórica Alemã e o Marxismo, 
em reconhecer o papel fundamental das instituições 
na compreensão da realidade.
Assim, duas ordens de problemas se colocam. Em 
primeiro lugar, o diálogo entre o pensamento econô-
mico e a história é e deve ser essencial para o desen-
volvimento da ciência econômica, uma vez que se 
pode encontrar algum consenso quanto ao fato das 
instituições serem construídas historicamente como 
produto das relações que se estabelecem na socie-
dade. Em segundo lugar, mesmo manifestando de 
maneiras diferentes seu entendimento do fenômeno 
das instituições e atribuindo-lhe diferentes pesos, as 
duas correntes aqui destacadas invariavelmente re-
correm a esse diálogo para alcançar a compreen-
são da realidade econômica. 
Nesse sentido, Polanyi (2000), historiador da última 
geração da Escola Histórica Alemã, procura estudar 
o século XIX, período marcado por uma relativa paz, 
buscando entender os mecanismos que teriam sus-
tentado tal situação e, para tanto, delimita quatro 
ordens de instituições, referindo-se a aspectos eco-
nômicos e políticos, como explicativos daquela reali-
dade. Tais instituições seriam: o equilíbrio de poder, o 
padrão internacional do ouro, o mercado auto regu-
lável e o estado liberal. 
H14 –COMPARAR DIFERENTES PONTOS DE VISTA, PRESENTES EM 
TEXTOS ANALÍTICOS E INTERPRETATIVOS, SOBRE SITUAÇÃO OU 
FATOS DE NATUREZA HISTÓRICO-GEOGRÁFICA ACERCA DAS 
INSTITUIÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS.
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Mesmo reconhecendo o risco do reducionismo, 
ao utilizar um pequeno grupo de instituições para a 
explicação de uma realidade muito mais complexa, 
Polanyi se propõe a fazê-lo por considerar aquele um 
período único, que se centralizou num mecanismo ins-
titucional claramente definido. 
O interesse pela paz no período também seria expli-
cado por um elemento poderoso, que desempenharia 
um papel semelhantemente ao desenvolvido no pas-
sado pelas dinastias e pelo clero, a que ele denomi-
na haute finance. Esta é, sem dúvida, uma instituição 
social nitidamente visível, servindo inclusive às análises 
marxistas, sendo constituída de um corpo real e que 
recebe outros nomes ou definições, mas que acabam 
por se manifestar no fenômenoda bancocracia. 
Para essa instituição a paz era uma necessidade 
para a realização de seus interesses. Naturalmente, o 
comércio se unia a essa paz, assim como a indústria. As 
ações de Estado passavam, a partir da configuração 
dessa ordem internacional, a estar imbricadas com as 
necessidades da haute finance e, por conseguinte, 
assumiam motivações eminentemente econômicas e, 
por consequência, o sistema internacional tinha sua ló-
gica e sua ordem definida economicamente. 
A quebra do consenso da haute finance, que se 
dá pela fragmentação de seus componentes em tor-
no de interesses nacionais, explicitados pelo fim do 
Concerto da Europa e pelo nacionalismo alemão, é 
que vai levar a auto-regulação e, finalmente, o siste-
ma internacional ao seu fim. A explicação da criação, 
da manutenção, da crise e da mudança do sistema 
internacional do século XIX se dá, portanto, pela com-
preensão do comportamento das instituições que o 
compõem. 
Tratando do mesmo período que Polanyi, o século 
XIX, e dos elementos que teriam dado conformação 
à nossa era, Hobsbawm (1982), marxista filiado à tradi-
ção inglesa originada na obra de Maurice Dobb, ca-
tegoriza o período que vai de meados do século até 
a década de 70, como a era do capitalismo industrial 
liberal triunfante. O arranjo e a superação dessa situa-
ção, em sua visão, se daria, dando vazão a uma nova 
categoria de capitalismo, o capitalismo industrial mo-
nopolista, com a quebra do monopólio industrial inglês 
explicitada de quatro formas: uma nova era tecnoló-
gica, o fortalecimento da economia de mercado de 
consumo doméstico, a competição internacional en-
tre economias industriais nacionais rivais e, naturalmen-
te, do ponto de vista político, um novo estado forte e 
intervencionista. Notam-se claramente as semelhan-
ças entre as interpretações do fenômeno de Polanyi 
e Hobsbawm, particularmente no que se refere ao pa-
pel das instituições enquanto elementos
A noção de instituições gravita em torno de duas 
visões. Uma as caracteriza essencialmente como estru-
turas sociais que restringem a ação humana. Uma ver-
são bastante conhecida dessa definição é a que des-
creve instituições como “as regras do jogo em uma 
sociedade ou as restrições criadas pelos homens que 
dão forma à interação humana”.
A outra visão é mais inclusiva, encampando não 
só o caráter limitador, mas também o caráter mo-
tivador e formativo das instituições como estruturas 
sociais que capacitam e impelem indivíduos a tomar 
certos cursos de ação. Assim, instituições são vistas 
como sistemas duráveis de regras sociais que estrutu-
ram a interação social ao restringir, orientar e formatar 
o comportamento humano. Definiu-as como “ações 
coletivas controlando, desobstruindo e expandindo 
ações individuais”. O filósofo norte-americano John 
Searle também as define de modo mais construtivo:
Instituições humanas são, acima de tudo, capa-
citadoras, porque criam poder um tipo especial de 
poder. É o poder que se realça em palavras como: 
direitos, encargos, obrigações, autorizações, permis-
sões, delegação de poderes, exigências e certifica-
ções.
As duas visões têm lá suas diferenças de fundo 
significativas. Em comum, porém, pode-se dizer que 
se concentram sobre objetos bastante semelhantes. 
Modelos mentais compartilhados, convenções so-
ciais, regras de conduta, códigos legais e organiza-
ções sociais são alguns exemplos de instituições que 
se encaixam em ambas as visões. Assim, em termos 
mais concretos, a valorização social da eficiência 
produtiva, uma congregação unida por uma fé co-
mum, o dinheiro, o código civil, certo modelo de teo-
ria econômica, as práticas comerciais num país ou 
região e as firmas em funcionamento em certo mer-
cado podem ser analisados como instituições. 
O analista não se deve surpreender ao encontrar 
instituições dentro de instituições, hierarquias de insti-
tuições, ou outras formas de conjugação entre elas. 
A valorização social da eficiência produtiva em fir-
mas e repartições públicas ou o modelo de metas 
de inflação dentro do Banco Central são exemplos 
disso. Ao estudioso caberá a responsabilidade de de-
limitar o objeto de interesse.
Instituições: origem, forma e função
Também de maneira geral, ambas as visões ten-
tam identificar três dimensões importantes das insti-
tuições: como surgem, de que forma se manifestam, 
e que funções desempenham. Por exemplo, várias 
instituições desempenham o papel de redutoras da 
incerteza ambiental em que agentes racionalmente 
limitados devem interagir, orientando e delimitando 
padrões de comportamento, balizando expectativas 
e impondo custos para ações desviantes. Os contra-
tos monetários (de salário, por exemplo), bem como 
acordos comerciais ou de administração de preços, 
são exemplos de instituições que servem a tal propó-
sito. As instituições podem também reduzir a com-
plexidade do ambiente, tornando previsíveis certas 
ações de indivíduos e grupos. Da mesma forma, as 
instituições podem ainda filtrar e prover informações 
e estabelecer certo curso de resolução de proble-
mas ou conflitos que evite ações destrutivas ou im-
produtivas.
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Finalmente, entre seus aspectos funcionais, insti-
tuições trazem consigo efeitos distributivos. O sistema 
fiscal de um país, com tributos e despesas governa-
mentais, é um claro exemplo disso. Dessa forma, po-
de-se dizer que as instituições desempenham várias 
funções na coordenação e administração de agen-
tes e recursos, nos processos de aprendizagem e ino-
vação tecnológica, na distribuição de ônus e bônus, 
e na integração e coesão social, entre outras.
Com respeito à configuração das instituições, é 
possível que elas sejam formais ou informais. Institui-
ções informais em geral carecem de registros e re-
presentações físicas como sedes e números. Embora 
possa haver nelas características hierárquicas, não 
é incomum que cada participante seja responsável 
por policiar, perpetuar, adaptar e penalizar o com-
portamento próprio e o alheio. Em certas culturas ou 
mercados, por exemplo, regatear preços é uma prá-
tica comum e esperada, resultando numa prática de 
determinação de preços diferente do que se faz em 
certas culturas ou mercados em que o preço da eti-
queta não é negociável.
Instituições formais são, por sua vez, caracteriza-
das pela preocupação em legitimar e fazer explícitas, 
geralmente de modo escrito, regras e consequências 
aplicáveis a certo campo de ação humana. Ao en-
tender que certas fusões e aquisições concentram 
em demasia a oferta em certo mercado, pode-se 
criar um aparato legal antitruste que analise casos 
relevantes e possa impedir tal concentração.
Em ambas as formas, as instituições podem con-
ter estruturas de influência com algum grau de exclu-
são (ex no que se refere a quantas pessoas, ou quem 
tem legitimidade para fazer as leis, comandar uma 
organização, ou impor sanções). Várias delas pos-
suem ou estabelecem certa hierarquia que garante 
ou delimita poderes de atuação, inclusive os que se 
relacionam a mudar a própria instituição. Portanto, 
são instituições que estabelecem relações de poder 
e autoridade, garantindo a um grupo de pessoas so-
berania para definir, interpretar e aplicar regras que 
influenciarão as ações de outras.
É comum imaginarmos que o controle das insti-
tuições informais seja mais amplamente distribuído, 
de forma que instituições surjam e se modifiquem de 
maneira descentralizada. Mas mesmo instituições in-
formais podem conter hierarquias próprias entre os 
agentes nela engajados (ex. famílias patri ou matriar-
cais, ou pessoas influentes em grupos de consumo). 
Elas também podem ter interações hierárquicas mais 
complexas envolvendo outras instituições. Por exem-
plo, a língua falada num país dependeparcialmente 
dos meios de comunicação, que são organizações 
formais controladas por grupos com as próprias for-
mas linguísticas. Igualmente, pessoas que passaram 
pelo sistema educacional - uma instituição formal e 
hierarquizada - tendem a adotar formas linguísticas 
mais formais. Pessoas sem escolaridade ou com me-
nor escolaridade tendem a reconhecer a «superiori-
dade» da língua falada por pessoas de maior esco-
laridade.
No que se refere à origem, há autores que par-
tem do indivíduo e sua interação para explicar como 
surgem instituições, numa abordagem conhecida 
por “individualismo metodológico. Por exemplo, 
cada pessoa interpreta o mundo de acordo com seu 
modelo mental - construído por processos que ainda 
estamos longe de conhecer. Mas tanto as experiên-
cias pelas quais a pessoa passa quanto as informa-
ções que lhe chegam são originadas e imiscuídas no 
ambiente que a rodeia. As gerações passadas trans-
mitem seus modelos mentais e os consequentes hábi-
tos, conceitos, valores, métodos de absorção de co-
nhecimento, regras de conduta e outras instituições 
através da linguagem (esta, em si, uma instituição 
primordial). Há, no agregado, uma miscelânea dos 
modelos mentais de cada indivíduo com sua con-
cepção do mundo em que vive. 
As mais fortes semelhanças entre esses modelos 
mentais dão origem a costumes, mitos, cerimoniais, 
tabus e credos que identificamos por culturas. E a 
cultura é um determinante na conformação das ins-
tituições, da predominância de um ou alguns mode-
los mentais. Assim, instituições surgem predominan-
temente a partir da interação espontânea de indiví-
duos com modelos mentais semelhantes.
A visão “individualista” do surgimento das institui-
ções, entretanto, deixa sem explicação como os mo-
delos mentais originais vieram a existir e, mais, como 
poderia ter havido semelhanças de modelos mentais 
entre indivíduos isolados. Ao assumir a existência dos 
modelos mentais dos indivíduos, a versão “individua-
lista” se apóia, por exemplo, em uma instituição pre-
viamente existente, a linguagem, para poder expli-
car como um modelo mental pode ser disseminado 
ou apreendido.
Diante de tal dificuldade, há autores que partem 
das instituições para explicar outras instituições. A 
formação de qualquer instituição requer ao menos 
uma instituição prévia, a linguagem. Partir das institui-
ções para explicar as instituições não significa negli-
genciar a autonomia dos indivíduos na conformação 
dessas. Em outras palavras, avançar com relação ao 
individualismo metodológico não implica assumir um 
coletivismo metodológico que suprime a agência 
individual. Trata-se apenas de reconhecer que, nas 
sociedades modernas, todos nascemos num mundo 
com instituições estabelecidas, e discutir como surgiu 
a primeira instituição seria um insolúvel problema de 
regressão infinita no estilo “quem veio primeiro, o ovo 
ou a galinha?” 
Nessa visão, a análise do papel dos indivíduos 
na mudança institucional ganha em complexida-
de, uma vez que é preciso perquirir sobre o contexto 
institucional em que certas preferências individuais 
emergem, e, a partir daí, explicar por quais mecanis-
mos institucionais os indivíduos tentam promover as 
mudanças institucionais em análise, com quais possí-
veis objetivos, e assim por diante. Assim, as instituições 
vigentes influenciam o indivíduo e, em seguida, o in-
divíduo se torna um potencial agente de mudança 
institucional.
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Instituições e tecnologia
A literatura sobre desenvolvimento econômico 
há muito tem dado devida ênfase ao papel do co-
nhecimento e do progresso tecnológico no processo 
de desenvolvimento econômico. Menos enfatizado, 
contudo, principalmente na literatura ortodoxa mais 
recente, é o papel que as instituições desempenham 
na geração de conhecimento e de difusão do pro-
gresso técnico. Vale ressaltar ainda que, quando 
alguma atenção é dada ao papel das instituições 
nesse processo, não é raro considerá-las como fator 
de inércia que retarda o desenvolvimento econômi-
co. Enquanto, de um lado, é bastante difundida a 
ideia de que a tecnologia seria uma categoria pura 
e indiferente a interesses particulares ou de classe e 
que serviria apenas ao propósito do aumento da pro-
dutividade, as instituições são, por vezes, associadas 
tão somente com as normas que favorecem o status 
quo. Como resultado de seu caráter inercial, as ins-
tituições serviriam, então, apenas como empecilho 
aos avanços da tecnologia, inibindo mudanças tec-
nológicas, freando o desenvolvimento e o progresso 
social. É como se cada uma representasse uma face 
de Janus a figura mitológica romana de duas faces 
que se opõem, uma voltada para a vida primitiva e a 
outra para a civilização. Essa visão parece ter se ali-
mentado injustamente do que ficou conhecido por 
“dicotomia Ayres-Vebleniana”.
Há, porém, motivos para se pensar diferente. Pri-
meiro, o progresso tecnológico não está isento da 
inércia produzida pela própria tecnologia pregressa. 
Dessa forma, a própria introdução de certas tecnolo-
gias físicas pode envolver parâmetros mais ou menos 
rígidos para a introdução de novas tecnologias. Por 
exemplo, a bitola dos trilhos de trem ainda reproduz a 
tecnologia das velhas carroças puxadas por animais. 
Fosse a bitola aumentada, a produtividade do trans-
porte ferroviário poderia ter crescido ao utilizar va-
gões de maior capacidade. Segundo, a tecnologia, 
em qualquer das definições já tentadas, tanto resol-
ve quanto cria problemas. A siderurgia permite a ob-
tenção do aço; o aço laminado serve à fabricação 
de automóveis, que auxiliam no transporte humano e 
de bens. Ao mesmo tempo, a siderurgia produz gases 
e partículas prejudiciais à saúde e degrada o meio 
ambiente na extração dos minérios que lhe servem 
de insumo.
Numa sociedade em que prevaleça a cultura pe-
cuniária, instituições como o dinheiro podem facilitar 
a resolução de problemas coletivos (ex. provisão de 
bens públicos), assim como ganhos monetários pro-
metidos por oportunidades de lucros podem incen-
tivar investimentos em novas tecnologias. Por outro 
lado, a busca extremada pelo dinheiro (seja por des-
vios psicológicos engendrados pela própria cultura 
pecuniária, seja por outras razões como a incerteza 
keynesiana) pode levar a crises financeiras ou à de-
sagregação social, como por exemplo as derivadas 
de elevados níveis de desemprego.
Ressalte-se também que as tecnologias não são 
necessariamente neutras em termos de quem vai se 
beneficiar com seu uso. A discussão em andamen-
to sobre a tecnologia de transgênicos na agricultu-
ra é um caso exemplar. O futuro dessa tecnologia, 
a decorrente divisão dos benefícios gerados e o de-
sempenho de boa parte da agricultura de grãos vão 
depender do aparato institucional negociado ao 
longo do processo e de sua posterior atuação (e.g. 
regulação legal, órgãos de controle e legitimação 
do conhecimento, e ações coletivas públicas). As 
tecnologias podem dar margem ao que chamaram 
de “cercamento cerimonial”, ou seja, o aproveita-
mento da tecnologia para fins inibidores do bem-es-
tar coletivo. Uma tecnologia pode ser criada e con-
trolada por grupos de interesse que se apropriam de 
forma concentrada dos benefícios por ela gerados 
ao conseguir criar um aparato institucional voltado a 
esse fim. Ou seja, certas tecnologias podem ser mais 
permissivas ao cercamento cerimonial (transgenia) 
que outras ( internet), por um período relevante de 
tempo.
Terceiro, para discutir a geração de conhecimen-
to e de progresso tecnológico, é mister que nos pre-
paremos para entender sua relação com o que se 
entende por mudanças institucionais. A tecnologia 
como aplicação sistemáticade conhecimento às 
atividades produtivas está ela mesma emaranhada 
num sistema de hábitos de pensamento comuns a 
uma sociedade. O conhecimento é algo moldado 
por valores, costumes, teorias e tradições comparti-
lhados por uma comunidade - suas instituições. Por 
fim, as instituições não apenas determinam limites. 
Elas também promovem mudanças à medida que 
moldam o conhecimento e sua aplicação à resolu-
ção de problemas. 
Por exemplo, mudanças organizacionais dentro 
das empresas que redefinam papéis, obrigações e 
responsabilidades parecem tão importantes para a 
produtividade do trabalho quanto a introdução de 
uma nova máquina na linha de produção. A recente 
preocupação com sistemas de inovação, que lidam 
com a conjugação de diversas instituições em prol 
de maior capacidade inovativa de países, regiões 
ou setores industriais, também demonstra o caráter 
construtivo das instituições.
Por um lado, pode-se dizer que certos padrões de 
comportamento social são resultado do alinhamento 
dos agentes com a produção e o uso de tecnolo-
gias modernas. Ou seja, instituições precisam ser de-
senvolvidas ou modificadas para viabilizar ou condi-
cionar o progresso técnico. As instituições legais que 
garantem ao capitalista empregar o trabalho, por 
exemplo, são essenciais ao progresso industrial mo-
derno (e.g. para a viabilização do sistema de produ-
ção fabril). Essas são mudanças tecnológicas e insti-
tucionais promovidas pela oferta de tecnologia.
Por outro lado, pode-se perceber que certos há-
bitos, valores socialmente estabelecidos e instituições 
formais que deles derivam acabam por promover 
a mudança tecnológica. O instinto de auto-preser-
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vação e a preocupação com a degradação do 
meio ambiente levaram à criação de órgãos como 
o Ibama e ao desenvolvimento de tecnologias que 
amenizam o impacto negativo de várias atividades 
produtivas ao meio ambiente.
Não é preciso, portanto, interpretar as instituições 
como em essência limitadoras, e a tecnologia como 
libertadora, com a primeira emperrando o desenvol-
vimento da segunda. Mesmo autores que preferem 
concentrar-se no papel do progresso tecnológico no 
desenvolvimento começam a reconhecer a necessi-
dade de se analisar mais positivamente e completa-
mente o papel das instituições na produção e difu-
são do conhecimento. Richard Nelson, por exemplo, 
propõe que conhecer’ as tecnologias sociais preva-
lecentes, e o que elas permitem e impedem é tão 
importante quanto ‘conhecer’ as tecnologias físicas 
disponíveis na determinação do conjunto de ‘esco-
lhas’ disponíveis que agentes particulares enfrentam.
Ou seja, tanto as instituições quanto as tecnolo-
gias em si lembram Janus. O desafio do desenvolvi-
mento, em sua concepção moderna da ampliação 
das liberdades e do bem-estar, é fazer com que os 
dois caminhem com a mesma face voltada para es-
ses fins.
Mudança institucional
O processo de desenvolvimento é reconheci-
damente um processo de ruptura com padrões 
existentes. Argumentamos que o desenvolvimento 
econômico envolve, necessariamente, mudanças 
institucionais. Nesse sentido, é fundamental atentar 
para alguns elementos definidores dessa dinâmica 
de mutação.
Uma instituição desenvolve certa capacidade 
de resolução de problemas específicos e gera certo 
resultado distributivo em termos de quem arca com 
seus custos e quem, e em que medida, dela se bene-
ficia. É decorrente imaginar que demandas diversas 
de redistribuição de custos e benefícios hão de surgir 
com frequência. Tais demandas implicam uma pos-
sibilidade de revisão coletiva de modelos mentais, 
de renegociação, inércia, resistência e oposição. 
Portanto, assim como a mudança tecnológica, a 
mudança institucional é um processo de destruição 
criadora. Em muitos casos, na verdade, o melhor ter-
mo parece ser corrosão criadora. Afinal, instituições 
são, por definição, estruturas com estabilidade e al-
gum grau de inércia (o conhecimento e a tecnolo-
gia também) que em geral permitem mudanças gra-
duais e paulatinas.
Mudanças em uma instituição envolvem em ge-
ral dois processos: imposição (legítima ou não) ou 
persuasão de grupos de indivíduos envolvidos. A ina-
dequação de uma instituição a certos propósitos a 
ela confiados gera desconforto e insatisfação. Esses 
se manifestam de diversas formas: voz e saída são 
duas delas. A voz é uma opção negociada, em que 
as partes envolvidas se comunicam de modo a fazer 
com que a causa da insatisfação seja investigada, 
atenuada ou eliminada. Na opção saída, as pessoas 
ou grupos insatisfeitos abandonam a instituição, rati-
ficando sua inadequação ou incapacidade de satis-
fazer certos propósitos. Em instituições informais, por 
exemplo, quando em geral não há um fórum explí-
cito de coordenação, a opção voz é muito custosa 
para o indivíduo, e a opção saída é mais incidente.
 A lealdade, outro elemento considerado, pode 
ser identificado como uma manifestação da con-
fiança no modelo mental em prática. Isso pode sig-
nificar tanto um elemento de inércia e mudanças 
graduais, quando as deficiências notadas parecem 
ter correção, quanto um elemento de mudança ra-
dical, quando as deficiências notadas desviam a ins-
tituição do que se entende ser a concepção maior, 
à qual os indivíduos se sentem leais.
Tais manifestações podem se concretizar a partir 
de elementos diversos. Alguns deles são vistos a se-
guir em sua capacidade de influenciar as mudanças 
institucionais.
Conflito, cooperação e custos na mudança insti-
tucional
Em nosso cotidiano, as instituições - principalmen-
te as de caráter eminentemente econômico - são 
uma tentativa de criar alguma ordem estável em si-
tuações potencialmente conflitantes de forma a se 
conseguir ganhos mútuos. O Estado moderno ilustra 
tal situação. Há, por exemplo, conflito de interesse 
quanto à incidência de tributos nos vários setores da 
atividade econômica. Através de sua legitimação 
legal ou do monopólio legal da força, porém, o es-
tado consegue estabelecer uma ordem tributária de 
modo a levar a cabo soluções para certos proble-
mas coletivos - e.g. subsidiar um sistema coletivo de 
saúde. A mudança institucional (ou o estabelecimen-
to de uma instituição onde inexiste uma) vai bulir com 
um estado de coisas em que as pessoas se julgam 
estar bem ou mal.
 Vê-se, por isso, que o conflito de interesses é algo 
potencialmente comum. Para evitar que o confli-
to prevaleça, faz-se preciso algum tipo de coorde-
nação de ações. Isso pode ser obtido por meio da 
constituição de instituições formais ou informais. E, a 
depender da instituição que se estabelecer, diferen-
tes resultados estáveis podem surgir, cada qual com 
efeitos distributivos peculiares.
Isso sugere que a mudança institucional não é um 
processo sem custos. Além dos custos de oportunida-
de de qualquer esforço despendido na sua constru-
ção, a mudança institucional se sujeita a problemas 
característicos de ação coletiva, como falhas de 
coordenação e free-riding. Os custos de uma mu-
dança institucional vêm de pelo menos três frentes.
Uma dessas frentes envolve a mobilização e per-
suasão coletiva. Isso se aplica, por exemplo, a:
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- grupos de pressão, como lobbies políticos, entidades de defesa de direitos específicos, associações 
classistas ou patronais, ou usuários/ produtores de certo produto;
- grupos vistos como legítimos para conduzir a mudança, como uma Câmara Legislativa, o quadro gestor 
de uma entidade, líderes de grupos sociais, ou conselhos populares;
- indivíduos influentes em certas esferas sociais de interesse.
A segunda frente envolveos gastos de negociação com as demais partes envolvidas (e.g. reuniões, 
concessões e batalhas jurídicas). Essa frente pode envolver os esforços em se dissolver, quebrar ou neutralizar 
a cooperação indesejável entre certas partes e que oblitera a mudança (e.g. máfias, cartéis, mobilizações 
sociais ou lobbies políticos contrários, etc.). A terceira frente envolve os custos de confecção de uma alterna-
tiva à forma institucional vigente. Pode-se imaginar, como exemplos aqui, a instituição de um Banco Central, 
a remodelagem de um sistema nacional de inovação, a reestruturação das rotinas ou dos departamentos 
de uma empresa, a condução de estudos científicos e sua divulgação em mídias diversas para convencer as 
pessoas a mudar um hábito de consumo, ou mesmo a construção de um aparato de governança paralelo 
ao existente para evitar os custos da mudança institucional no aparato já existente.
O aspecto distributivo dos custos da mudança institucional é também um condicionante importante. 
Quando se coloca a questão sobre quem vai arcar com tais custos e quem vai obter os benefícios, não é raro 
encontrar, por exemplo, o problema do carona. Se os custos totais da mudança recaem sobre alguns dos in-
teressados enquanto outros se isentam, a mudança pode encontrar certos obstáculos. Ao analisar a reforma 
do sistema portuário brasileiro defendida pelos setores exportadores, registrou as dificuldades de coordena-
ção entre os vários entes interessados e a carona pega por alguns deles quando se fez necessário despender 
recursos e usar capital político.
Vê-se, assim, que as mudanças institucionais se condicionam em algum grau às instituições prévias. Muitas 
vezes, porém, tais condicionantes se mostram um pesado fardo, e os problemas de coordenação se fazem 
intransponíveis pelo simples problema de insuficiência de recursos à disposição dos novos interesses. Ou seja, 
há situações em que o crescimento ou a redistribuição da riqueza (mesmo que limitada a certos grupos) é 
condição prévia necessária à mudança institucional. A tentativa de construir instituições propícias ao cresci-
mento econômico e a uma melhor distribuição de seus frutos pode não vingar se não houver um aumento 
prévio ou concomitante da riqueza, ou mesmo seu redirecionamento ostensivo para que tais instituições 
possam ser mantidas por um período infante.
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O delineamento teórico dos conflitos envol-vendo crescimento econômico, desen-volvimento social e sustentabilidade dos 
recursos naturais começaram a ser vislumbrado de 
forma mais efetiva na segunda metade do século XX, 
entre o final da década de 1960 e início da de 1970, 
no contexto da criação do Clube de Roma (1968) e 
da realização da I Conferência da Organização das 
Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano - Con-
ferência de Estocolmo (1972), a partir desses eventos 
houve a inserção definitiva das análises dos conflitos 
socioambientais na agenda mundial.
 Aliada aos eventos, as catástrofes ambientais 
que estavam ocorrendo em escala planetária con-
tribuíram para a necessidade de promover ações e 
políticas internacionais e nacionais com o objetivo 
de preservação e conservação dos recursos ambien-
tais. Entretanto, as proposições clássicas disponíveis 
no arcabouço teórico das ciências econômicas não 
apresentavam alternativas capazes de associar, de-
senvolvimento socioeconômico e preservação dos 
recursos naturais. Analisando o modelo clássico da 
economia é possível concluir que este se tornou in-
sustentável, não exclusivamente do ponto de vista 
econômico e ambiental, mas, sobretudo ao que se 
refere à justiça social e as características culturais das 
populações, especialmente, as consideradas tradi-
cionais. 
Tornou-se indispensável, então, à elaboração de 
uma matriz econômica que viabilizasse a sustentabi-
lidade ambiental, econômica e social. A alternativa 
encontrada foi à formulação, na década de oitenta, 
de uma nova concepção de desenvolvimento para 
a humanidade, denominada desenvolvimento sus-
tentável. Com a estruturação teórica do novo mode-
lo foi possível a percepção da coexistência de duas 
realidades contrapostas no mundo. De um lado, a 
promoção do clássico crescimento econômico a 
qualquer custo, e de outro, a proposição de um de-
senvolvimento com sustentabilidade, não somente 
dos recursos naturais, mas da própria humanidade. 
Na década de 1990 o termo desenvolvimento susten-
tável se consagrou como um campo de reconheci-
mento da crise socioambiental mundial. 
A proposta do modelo baseado na sustentabili-
dade surge a partir de intensos debates e críticas ao 
predominante modelo econômico ortodoxo. O novo 
paradigma é balizado na sustentabilidade ambiental 
e vislumbra um desenvolvimento que permite harmo-
nizar o progresso humano com os limites que os recur-
sos naturais determinam. Ou seja, procura conciliar 
a relação do homem com a natureza e as inter-re-
lações sociais. O desenvolvimento sustentável expôs 
um novo estilo de compreender e solucionar os pro-
blemas socioeconômicos mundiais, considerando o 
ambiente natural, mas também, as dimensões cultu-
rais, política e sociais. 
O novo paradigma econômico se constituiu viá-
vel com aplicabilidade em várias comunidades, pas-
sando a provocar, com maior evidência e frequên-
cia, os conflitos socioambientais. Estes se constituem 
a partir das diversas lógicas para a gestão dos bens 
coletivos de uso comum (exploração da natureza) 
e surgem em função de superposição de usos e de 
percepções diferentes, inclusive antagônicas, de um 
determinado espaço geográfico ou recurso natural. 
Neste contexto ocorrem disputas que envolvem ato-
res sociais com perspectivas distintas em relação à 
natureza, aparecendo às zonas de tensão que dão 
origem aos conflitos socioambientais. Estes passaram 
a ser ponderados como uma questão importante e 
se configuraram como elementos que permite dis-
putas, argumentações e negociações entre grupos 
sociais e Estado. 
A partir da estruturação do modelo de desenvol-
vimento sustentável e melhor visualização dos confli-
tos envolvendo recursos naturais houve a necessida-
de de definir teoricamente essa tipologia de conflito, 
que embora não determinados, se disseminavam em 
todos os espaços, exigindo urgência no seu entendi-
mento. Assim, passou a ser imperativo conhecer, de-
limitar, analisar e avaliar os conflitos socioambientais 
e sua delimitação teórica é ponto fundamental para 
o avanço do desenvolvimento sustentável. O con-
flito socioambiental se caracteriza por uma grande 
diversidade de definições, de âmbito internacional e 
nacional e as mais conhecidas serão examinadas a 
seguir.
Teorias sobre os conflitos socioambientais no 
mundo 
A definição proposta pelos estudiosos envolve a 
noção de escassez de recursos naturais. Ou seja, os 
conflitos têm suas raízes no desequilíbrio entre a ex-
ploração e a reposição dos recursos naturais, ou seja, 
como o estoque de recursos naturais se apresenta. 
Os conflitos socioambientais têm como caracte-
rísticas comuns, o fato de serem induzidos pela escas-
sez de um recurso, determinado por distúrbio na sua 
H15 –AVALIAR CRITICAMENTE CONFLITOS CULTURAIS, SOCIAIS, POLÍTICOS, 
ECONÔMICOS OU AMBIENTAIS AO LONGO DA HISTÓRIA.
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taxa normal de regeneração, provocada pela ação 
econômica. Deste modo, os efeitos sociais adversos, 
como: redução da produção agrícola, migração 
populacional, declínio econômico, enfraquecimento 
das instituições e relações sociais, dentre outros, só 
se configurariam em conflitos socioambientais quan-
do surgem dos desequilíbrios ambientais, em conse-
quência de atividadesantrópicas. 
Portanto, a partir desta concepção, não se pode 
assumir que todas as tensões que envolvam recursos 
naturais resultem em conflitos socioambientais. O au-
tor considera que para determinar se um conflito é 
socioambiental, é impreterível, que este tenha cau-
sas sociais e ambientais. 
Outra análise que procura dar conta da defini-
ção de conflitos socioambientais está associado à 
segurança ambiental. Baseada no desequilíbrio en-
tre a oferta e a procura de bens naturais e tem como 
causas a ação predadora das atividades humanas. 
O estresse ambiental associado a competições por 
recursos naturais escassos tem capacidade de pro-
vocar, inclusive, conflitos armados. O autor conside-
ra que os conflitos socioambientais têm suas origens, 
não somente a partir da escassez dos recursos, mas 
também, pelo uso destes. 
Assim, não associa, exclusivamente, os conflitos 
socioambientais a carência de bens naturais. Essa 
visão mais ampla se aproxima da realidade amazô-
nica, onde há grande estoque de recursos naturais, 
porém intensamente e predatoriamente explorados. 
A ecologia política é um importante campo do 
conhecimento para avaliar os conflitos socioam-
bientais, pois os pressupostos desta ciência permitem 
desvelar as estruturas de poder e os verdadeiros in-
teresses dos conflitos. Assim, a análise dos conflitos 
socioambientais por meio da identificação dos inte-
resses, estratégias, poderes e vulnerabilidades dos di-
versos grupos sociais envolvidos, é fundamental para 
a compreensão e configuração de sua possível tra-
jetória. 
A definição de conflitos socioambientais é mais 
abrangente, envolve além dos aspectos materiais, 
os imateriais. Esta característica é avaliada como 
incompatibilidade de interesses sobre o uso do mes-
mo território ou pela utilização dos recursos naturais 
entre, indivíduos ou grupos independentes. Quando 
acontecem as disputas pelos recursos ambientais, as 
partes envolvidas, ao perseguir estratégias para al-
cançar seus objetivos, podem procurar atrapalhar as 
atividades de seus oponentes. 
Em geral, para esses autores, os conflitos so-
cioambientais que ocorrem no mundo são ocasio-
nados pela escassez dos recursos naturais, provoca-
dos pelas atividades socioeconômicas que causam 
degradação ao ambiente natural. Isto é, a escassez 
e a forma de utilização da natureza determinam os 
desequilíbrios social, econômico e ambiental. Neste 
desequilíbrio estão envolvidos os aspectos materiais 
e simbólicos do ambiente natural.
Resolução dos conflitos socioambientais 
Na década de 1970, em decorrência da Con-
ferência de Estocolmo, os conflitos socioambientais 
ganharam notoriedade, havendo poucas diferen-
ciações entre países desenvolvidos e em desenvol-
vimento. Nos primeiros (Estados Unidos, França, Ho-
landa e Alemanha) as atividades produtivas ou os 
empreendimentos públicos que ocasionam impac-
tos ou danos ambientais são alvos de embates entre 
as organizações de base comunitária, movimento 
ecológico, empresários, industriais, agências de re-
gulação governamental e o governo enquanto em-
preendedor. 
Nestes países, desde a década de 1980, se bus-
cam soluções conjuntas, como estruturação legal e 
parcerias que visam solucionar ou amenizar os con-
flitos socioambientais. Entretanto, ainda hoje os ins-
trumentos de informação e negociação precisam 
ser aprimorados e adequados a gestão dos recursos 
naturais.
 Nos países em desenvolvimento (nações latino
-americanas, asiáticas e africanas), os conflitos so-
cioambientais são comuns, tanto nos espaços urba-
nizados quanto nas zonas rurais. Nas áreas urbanas 
são conflitos semelhantes aos que ocorrem nos paí-
ses desenvolvidos, com maior destaque para a ques-
tão da equidade social. No espaço rural, os conflitos 
socioambientais se referem à apropriação dos recur-
sos naturais, como terra, floresta e água, ou a preser-
vação de culturas envolvendo as populações tradi-
cionais, como os povos indígenas, remanescentes de 
quilombos, ribeirinhos, povos da floresta e outros. 
A bibliografia referente aos conflitos socioambien-
tais vem se materializando nos países em desenvol-
vimento, entretanto, voltada principalmente para o 
diagnóstico dos conflitos e não para a sua negocia-
ção ou resolução. Nestas nações os conflitos envol-
vendo os recursos naturais são resolvidos nas arenas 
jurídica, administrativa e política, em detrimento das 
técnicas, metodologias e ferramentas utilizadas na 
negociação que ocorrem nos países desenvolvidos. 
A tentativa de resolução do conflito socioam-
biental fora da mediação, conciliação ou negocia-
ção se apresenta prejudicial à sociedade e ao pró-
prio ambiente, pois não garante igual peso aos dife-
rentes interesses, não apenas em relação ao poder 
entre as partes, que é inteiramente desproporcional, 
mas, sobretudo, porque os empreendedores têm ob-
jetivos definidos e claros e os representantes comu-
nitários têm interesses heterogêneos e geralmente 
não possuem técnica, conhecimento ou habilidade 
administrativa, jurídica e política. Texto adaptado de 
BRITO, D. M. C et al
Com a percepção dos abusos cometidos em 
nome do crescimento econômico, amplia-se a no-
ção de desenvolvimento, indo além da acumulação 
de recursos materiais. Conduz-se à noção de manu-
tenção dos ecossistemas da Terra e ao conceito de 
desenvolvimento sustentável, com sua multiplicida-
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de de interpretações. Para tanto, faz-se necessário 
que o homem se reconheça como produto do meio, 
como parte integrante do mundo e do ambiente, 
dotado de capacidade transformadora, mas que é 
afetado e depende do meio que o cerca.
Em função dos paradigmas produtivos, o concei-
to de desenvolvimento permaneceu durante muito 
tempo associado ao crescimento econômico sem 
considerar as várias formas dos sistemas sociais, po-
líticos e econômicos. Era suposto que o aumento de 
riquezas poderia melhorar as condições de vida da 
população, embora conceitualmente, desenvolvi-
mento e crescimento não tenham o mesmo significa-
do, podendo, inclusive, serem conduzidos de forma 
oposta. De certo modo, esta visão dissocia-se da rea-
lidade, pois nela é enfatizada apenas a geração de 
riquezas, não havendo condução de ordem social, 
cultural ou ambiental, em que a premissa básica es-
tava na tentativa de aumentar o bem estar social por 
meio de processo de industrialização que objetiva a 
produção de bens e serviços para atender às neces-
sidades da sociedade. 
Esta relação conflitava com o uso de recursos 
naturais, cujas externalidades negativas pouco ou 
nunca eram avaliadas. Sob esta ótica, a marcha do 
desenvolvimento correspondia a um ritmo acelerado 
de crescimento econômico, difusão de tecnologia, 
acumulação de capital, exploração do trabalho e 
desejo por incrementar o consumo per capita. Neste 
contexto, percebeu-se que o desenvolvimento deve-
ria ter conotação que ultrapassasse o aspecto eco-
nômico, incluindo o governo, além dos atores sociais 
e privados. Tal enfoque também não foi suficiente, 
pois nem sempre respeitava as particularidades lo-
cais e outras dimensões como indispensáveis para se 
atingir ao desenvolvimento, devido às características 
centralizadoras do planejamento realizado pelos go-
vernos. Assim, inicia-se a reflexão em diversos cam-
pos da ciência sobre um novo conceito de desenvol-
vimento, o desenvolvimento sustentável e dimensões 
que o compõem.
Conceitos de desenvolvimento sustentável
O Desenvolvimento Sustentável surgiu nas últimas 
décadas do século XX, para traduzir várias ideias e 
preocupações devido à gravidade dos problemas 
que causam riscos às condições de vida no planeta. 
Uma das primeiras organizações a apontar os riscos 
do crescimento econômico contínuo foi o Clube de 
Roma em 1972. No mesmo ano,a Organização das 
Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência de Es-
tocolmo, que abordou problemas ambientais decor-
rentes da poluição atmosférica, crescimento popu-
lacional e crescimento versus desenvolvimento. Em 
1974, surge a proposta do e com desenvolvimento, 
formulada por intelectuais como Sachs, Leff e Strong, 
que incorpora, além das questões econômicas e so-
ciais; as questões culturais, políticas e ambientais, à 
noção de desenvolvimento. Todavia, o termo ‘sus-
tentável’ aparece pela primeira vez no informe das 
Nações Unidas: Nosso Futuro Comum (Comissão 
Mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento, 
1991), conhecido como informe Brundtland em 1987. 
No entanto, a falta de precisão no conceito de 
sustentabilidade traz consigo deficiências nas refe-
rencias teóricas, e estas, por sua vez, poderiam con-
tribuir para diversos campos de conhecimentos eco-
nômicos, sociais, culturais, políticos e ambientais. O 
conceito de sustentabilidade vai muito além de expli-
car a realidade, pois exige aplicações práticas. Esta 
discussão teórica apenas revela uma luta disfarçada 
pelo poder entre os atores sociais. Para aprofundar-
se no conceito é necessário ter uma visão mais am-
pla, analisando o passado, o presente e o futuro.
Dimensão ambiental ou ecológica
A dimensão ecológica é a mais defendida pela 
maioria dos autores que tratam do tema e foi ampla-
mente difundida com as conferências dos anos 70. 
Para buscar a sustentabilidade ambiental deve-se 
compreender e respeitar as dinâmicas do meio am-
biente, entender que o ser humano é apenas uma 
das partes deste ambiente e depende do meio que 
o cerca. A sustentabilidade ecológica é a que sus-
cita menos controvérsias, uma vez que se refere a 
certo equilíbrio e à manutenção dos ecossistemas, 
conservação e manutenção genética, incluindo, 
também, a manutenção dos recursos abióticos e a 
integridade climática.
 Este conceito aborda a natureza externa ao ser 
humano e a concepção de que quanto mais modi-
ficações realizadas pelo homem na natureza menor 
sua sustentabilidade ecológica e quanto menor a in-
terferência humana na natureza, maior sua sustentabi-
lidade. Desta forma, seus defensores acreditam na ne-
cessidade de melhorar e controlar o uso dos recursos 
naturais, respeitando sua capacidade de renovação.
Amparam-se nesta concepção e elaboram 
ações para conseguir a sustentabilidade ecológica: 
intensificação do uso dos recursos potenciais dos vá-
rios ecossistemas, com um mínimo de dano aos siste-
mas de sustentação da vida; limitação do consumo 
de combustíveis fósseis e de outros recursos e produ-
tos facilmente esgotáveis ou ambientalmente preju-
diciais, substituindo-os por recursos ou produtos reno-
váveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensi-
vos; redução do volume de resíduos e de poluição, 
por meio da conservação e reciclagem de energia 
e recursos; auto-limitação do consumo material pelos 
países ricos e pelas camadas sociais privilegiadas em 
todo o mundo; intensificação da pesquisa de tecno-
logias limpas, com eficiente utilização dos recursos 
para promoção do desenvolvimento urbano, rural e 
industrial; definição de regras para proteção ambien-
tal, concepção da máquina institucional, bem como 
escolha do conjunto de instrumentos econômicos, 
legais e administrativos necessários para assegurar o 
cumprimento destas regras estabelecidas.
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Dimensão econômica
Essa dimensão foi amplamente difundida na so-
ciedade ocidental embora não sob a perspectiva 
da sustentabilidade e nem de desenvolvimento, pois 
a sustentabilidade econômica extrapola o acúmulo 
de riquezas, bem como o crescimento econômico e 
engloba a geração de trabalho de forma digna, pos-
sibilitando uma distribuição de renda, promovendo o 
desenvolvimento das potencialidades locais e da di-
versificação de setores. 
Ela é possibilitada por alocação e gestão mais 
efetivas dos recursos e por um fluxo regular do in-
vestimento público e privado nos quais a eficiência 
econômica deve ser avaliada com o objetivo de 
diminuir a dicotomia entre os critérios microeconô-
micos e macroeconômicos. O argumento de eco-
nomistas a favor da sustentabilidade gira em torno 
de saber usar os recursos do planeta, com alocação 
eficiente de recursos naturais em um mercado com-
petitivo, no qual haveria distorções no mercado que 
poderiam ser corrigidas pela internacionalização de 
custos ambientais e/ou reformas fiscais. Assim, a sus-
tentabilidade seria alcançada pela racionalização 
econômica local, nacional e planetária. Para o autor 
a implementação da sustentabilidade seria alcança-
da pela racionalização econômica local, nacional 
e planetária e depende de uma autoridade nacio-
nal. A sustentabilidade econômica apresenta uma 
análise mais complicada do que a ambiental, pois 
o conceito restringe o crescimento econômico e a 
eficiência produtiva. Tal concepção admite que o 
crescimento não pode ser ilimitado (como prega o 
capitalismo) pois não é congruente com a dimensão 
ambiental preferencialmente com crescimento nulo. 
Para o mesmo autor a insustentabilidade do cresci-
mento atual é que traz a urgência do desenvolvi-
mento sustentável, desta forma, afirmou que para 
todo crescimento há um limite que ultrapassado não 
o torna sustentável. Defendendo a ideia de conce-
ber-se uma escala ótima de crescimento, argumen-
tou que a economia pode crescer até o momento 
em que não mais interfira na renovação dos sistemas 
naturais, bem como que a exploração dos recursos 
finitos deveria ser parcimoniosa.
Dimensão Social
Na dimensão social reside a grande polêmica, 
pois é a dimensão que sofreu mais mutações por 
conta do conceito de desenvolvimento social. Há 
algum tempo, a sustentabilidade social era utilizada 
para encobrir o interesse sobre a sustentabilidade 
ecológica, sustentando que a pobreza seria a cau-
sadora da agressão à natureza, causada por falta de 
recursos em adquirir técnicas preservacionistas. Ou-
tro problema seria o crescimento populacional entre 
os extratos mais pobres, argumentou sobre o círculo 
vicioso da pobreza. Neste sentido, uma região com 
fraca dotação de recursos, baixo nível de formação 
e sem capital disponível, gera pobreza que, por sua 
vez, se traduz em capacidade de poupança limita-
da que levaria novamente a um pequeno nível de 
investimento e de formação. Nesta visão, a pobreza 
está relacionada com a má distribuição de renda, 
de formação e de oportunidades resultando em uma 
exploração equivocada dos recursos naturais ques-
tiona este círculo vicioso da pobreza, pois considera 
que mobilização e ação social podem proporcionar 
desenvolvimento. Todavia, a pobreza e o desempre-
go não estavam em discussão, mas sim suas conse-
quências negativas em relação ao meio-ambiente. 
Assim, por trás de um discurso de sustentabilidade 
social, está escondida a dimensão ecológica como 
finalidade maior. Neste sentido a dimensão social ob-
jetiva garantir que todas as pessoas tenham condi-
ções iguais de acesso a bens, serviços de boa quali-
dade necessários para uma vida digna, pautando-se 
no desenvolvimento como liberdade, no qual o de-
senvolvimento deve ser visto como forma de expan-
são de liberdades substantivas, para tanto, “requer 
que se removam as principais fontes de privação de 
liberdade: pobreza e tirania, carência de oportuni-
dades econômicas e destituição social sistemática, 
negligência dos serviços públicos e intolerância ou 
interferência excessiva de Estados repressivos. 
Sob esta ótica, a dimensão social pode ser en-
tendida como a consolidação de um processo de 
desenvolvimento orientado por outra visão, a da 
boa sociedade. O objetivo é construir uma civiliza-ção do “ser”, em que exista maior equidade na dis-
tribuição do “ter” (renda), de modo a melhorar subs-
tancialmente os direitos e as condições de amplas 
massas de população e a reduzir a distância entre 
os padrões de vida de abastados e não-abastados, 
resultando na diminuição do índice de Gini. Na mes-
ma linha de pensamento, sobre a sustentabilidade 
pautado nas dimensões social e econômica, cujo 
problema encontra-se na pobreza e no conceito de 
desenvolvimento local integrado e sustentável como 
meio de superar o distanciamento entre política so-
cial e de combate à fome, à miséria, à pobreza. Tal 
combate, frente à complexidade brasileira, só seria 
possível com o desenvolvimento, que não necessa-
riamente necessita de crescimento econômico, ape-
sar de ser desejável. Para tanto, há que se considerar 
a vulnerabilidade e exclusão, heranças históricas de 
desigualdades sociais e regionais brasileiras e carac-
terísticas de concentração de renda, riqueza, conhe-
cimento e poder. 
Cabe ressaltar que a pobreza, como causadora 
e vítima da degradação ambiental, é uma concep-
ção que perdeu força a partir da segunda metade 
dos anos 90 do século XX. Reconheceram-se vários 
aspectos que conduzem à degradação, inclusive os 
baixos investimentos governamentais. Neste sentido, 
percebe-se que o paradigma atual se vincula no 
aumento das capacidades humanas para se atingir 
melhor qualidade de vida.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
67
Dimensão espacial ou territorial
Ao perceber-se o desequilíbrio provocado pela 
concentração das pessoas morando nas cidades, o 
crescimento demográfico no espaço urbano ocor-
ria de forma a desconfigurar a paisagem e super-
lotar espaços do território despontaram a preocu-
pação com relação à dimensão espacial. A forma-
ção das megalópoles tem origem nos crescentes 
índices de urbanização, consequência do êxodo 
rural ocasionado pela industrialização e pela era da 
informação. Estas concentrações geraram diversos 
problemas pela impossibilidade de governabilida-
de em um ambiente com crescimento explosivo e 
exponencial. Desta forma, o autor se referiu a uma 
escolha entre uma megalópole versus região urba-
na. Nesta visão, a região urbana busca articular de-
zenas de cidades intermediárias, ou vários centros 
que conservam seus atributos de núcleos intensos, 
associativos, diversificados, mas com população e 
superfície pequenas, como ocorre, por exemplo, no 
vale do Rio Pó, Itália. Para evitar a insustentabilidade 
esta conformação múltipla segue um modelo rural
-urbano que evita a conurbação das grandes cida-
des, deixando a região mais ágil, potencializando 
as energias rurais, ao contrário de uma megalópole 
que é lenta em suas articulações. 
A sustentabilidade urbana também leva em 
conta a descentralização, procurando evitar o in-
chaço das grandes cidades e suas periferias insus-
tentáveis para recuperar a escala humana em seus 
bairros e núcleos urbanos. A sustentabilidade espa-
cial abrange a organização do espaço e obede-
ce a critérios superpostos de ocupação territorial e 
entrelaçados em uma rede natural duradoura para 
tentar recuperar, com esta complexa e diversifica-
da trama, a qualidade de vida, a biodiversidade e 
a escala humana em cada fragmento, em cada 
bairro do sistema.
Dimensão Cultural
A dimensão cultural em muitos aspectos confun-
de-se com a social, tendo em vista que cultura e 
sociedade são, muitas vezes, elementos indissociá-
veis. Fazem parte desta concepção: promover, pre-
servar e divulgar a história, tradições e valores regio-
nais, bem como acompanhar suas transformações. 
Para buscar essa dimensão é um caminho válido o 
de valorizar culturas tradicionais, divulgar a história 
da cidade, garantir oportunidades de acesso a in-
formação e ao conhecimento a todos e investir na 
construção, reforma ou restauração de equipa-
mentos culturais. Esta dimensão da sustentabilidade 
direciona-se às raízes endógenas dos modelos de 
modernização e dos sistemas rurais integrados de 
produção, privilegiando processos de mudança no 
seio da continuidade cultural e traduzindo o con-
ceito normativo de ecodesenvolvimento em uma 
pluralidade de soluções particulares, que respeitem 
as especificidades de cada ecossistema, cultura e 
local. Neste ambiente de transição paradigmáti-
ca, traz propostas alternativas ao desenvolvimen-
to sustentável que apontam para novos projetos 
civilizatórios, como as sociedades sustentáveis e o 
ecossocialismo. Os padrões de produção e consu-
mo e de bem-estar a partir da cultura, do desenvol-
vimento histórico e do ambiente natural de um in-
divíduo como sociedades sustentáveis. O conceito 
de ecossocialismo afere-se pela maneira como as 
necessidades humanas fundamentais são satisfeitas 
e pela concepção de que as três formas principais 
de propriedade individual, comunitária e estatal se 
inter-relacionam com equilíbrio e com o mínimo de 
interferência. 
Nesta visão, o desenvolvimento sustentável bus-
ca um novo projeto civilizatório, com mecanismos 
adequados de educação, por meio da cooperação 
e parceria na busca do desenvolvimento individual, 
tendo como fundamento o ambiente, o interesse 
social, o respeito à cultura de cada povo, à política 
e à democracia. Para que este novo projeto de sus-
tentabilidade se desenvolva, defende-se o entendi-
mento sobre diversos condicionantes complexos tais 
como: sustentabilidade institucional; capacidade 
de investimento público; bem-estar social/desenvol-
vimento humano; afirmação da identidade cultural; 
sustentabilidade econômica; integração regional, 
nacional e internacional; sustentabilidade espacial; 
meios materiais de governabilidade e segurança.
Dimensão Política
Sensibilizar, motivar e mobilizar a participação 
ativa das pessoas, favorecer o acesso às informa-
ções permitindo maior compreensão dos problemas 
e oportunidades, superar as práticas e políticas de 
exclusão e buscar o consenso nas decisões coleti-
vas são elementos que compõem esta dimensão. 
As fórmulas utilizadas em alguns discursos político 
“economicamente viável, socialmente equitativo 
e ecologicamente sustentável”, distanciam-se de 
suas metas e valores derivados dos processos téc-
nicos e produtivos existentes, gerando, assim, mani-
festações da sociedade nas questões ambientais e 
no abuso do poder político e econômico dos gover-
nantes. 
Esta manifestação de democratização na to-
mada de decisões mostra a luta dos cidadãos con-
tra algumas práticas insustentáveis. Todavia, demo-
cratizar não deve ser apenas um “clichê”. Transmitir 
o poder das mãos de poucos (governantes) para 
todos (sociedade) é uma ideia dicotômica, ao con-
siderar que a sociedade capitalista baseia-se nas re-
lações de poder para garantir a “ordem” do sistema. 
Realizar tal transmissão significa transpor o paradig-
ma atual para outro, para o qual nem se tem conhe-
cimento se a sociedade está preparada para rumar. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Cabe ressaltar que a sustentabilidade política deve apresentar a contribuição não somente da comu-
nidade local como enfatizada pelos conceitos apresentados, mas é preciso mobilizar a sociedade como 
um todo englobando o papel do governo, das instituições e do empresariado e abrangendo o que muitos 
autores chamam de sustentabilidade institucional nesta dimensão. A necessidade de democracia e susten-
tabilidade nas estratégias políticas e administrativas que devem adequar-se para superar os entraves rela-
cionados ao controle pelo cidadão e a participação ativa do mesmo na gestão pública. Relembrando que 
modelo de desenvolvimento sustentável está baseado na concepção da parceria e da colaboraçãoefetiva 
entre os setores público, privado, voluntário e comunitário. Neste contexto, exige-se um mínimo de consenso 
e de solidariedade entre os membros da sociedade que transcendem aos interesses particulares e que só 
podem ser produzidos em um processo dialógico e interativo de troca de argumentos e posições. Torna-se, 
portanto, imprescindível que os governos adequem atitudes e estratégias em prol do bem comum. Esta per-
seguição do desenvolvimento sustentável dentro de uma perspectiva democrática exige um Estado ativo e 
facilitador. Cabe em particular aos municípios estimular a participação e o engajamento cívico, sendo este 
imprescindível para avançar no fortalecimento da consciência ecológica, e promover a implementação de 
um outro modelo de desenvolvimento consentâneo com as necessidades de uma sociedade sustentável. 
Texto adaptado de MENDES, J. M. G
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69
A globalização e as novas tecnologias de tele-
comunicação e suas consequências econômicas, 
políticas e sociais. (conteúdo sugerido pela Matriz de 
Referência do ENEM)
A nova divisão internacional do trabalho, que se estabeleceu a partir do desencadea-mento dos fenômenos da globalização, 
associada a uma nova economia política favorável 
ao mercado, mudou a organização do sistema inte-
restatal – “a forma política do sistema mundial mo-
derno” (SANTOS, 2002, p. 35). O autor comenta que, 
por um lado, os Estados hegemônicos – por meio de-
les mesmos ou de instituições financeiras multilaterais 
controladas por eles – comprimiram a autonomia po-
lítica e a soberania dos Estados periféricos, ainda que 
com variadas formas de resistência e capacidade 
de negociação ente os periféricos e semiperiféricos. 
“Por outro lado, acentuou-se a tendência para os 
acordos políticos interestatais (União Europeia, NAF-
TA, Mercosul)” (SANTOS, 2002, p. 36).
As novas formas de “associação” do Estado, com 
entidades e organizações governamentais e não go-
vernamentais, em níveis subnacionais ou supranacio-
nais, redefiniram as escalas dos fenômenos políticos 
no território. Segundo Castro (2005, p. 83): “[...] é pre-
ciso acrescentar e discutir que a complexidade do 
processo de globalização reside justamente na arti-
culação entre as múltiplas escalas de ocorrência dos 
fenômenos políticos”, assim como, “o modo como 
cada um se reflete em escalas territoriais diferencia-
das”.
A globalização também tornou ainda mais acir-
rada as assimetrias de poder transnacional entre o 
“centro” e a “periferia” do modo de produção ca-
pitalista – entre os países do Norte e do Sul. A ‘no-
vidade’ é que a soberania dos Estados periféricos 
está ameaçada não necessariamente pelos Estados 
mais fortes, centrais, mas, sobretudo, por agências 
financeiras internacionais e atores transnacionais do 
setor privado – empresas multinacionais –, principal-
mente. “A pressão é, assim, apoiada por uma coli-
gação transnacional relativamente coesa, utilizando 
recursos poderosos e mundiais (SANTOS, 2002, p. 37). 
Se comparado aos processos precedentes de ‘trans-
nacionalização’, na atualidade, as pressões para a 
regulação estatal da economia em países centrais 
e também em periféricos e semiperiféricos foram in-
tensificadas. O neoliberalismo instituiu “uma destrui-
ção normativa de tal modo massiva que afeta, muito 
para além do papel do Estado na economia, a legi-
timidade global do Estado para organizar a socieda-
de” (SANTOS, 2002, p. 37).
Contudo, Harvey (2005), alerta para o fato de 
que o Estado-Nação ainda é o principal regulador 
em relação ao trabalho. Na concepção do autor, a 
ideia de que na globalização o Estado-Nação está 
deixando de ser o centro de poder e autoridade é 
uma inverdade. “De fato, desvia-se a atenção do 
fato de que o Estado-Nação está agora mais dedi-
cado do que nunca a criar um adequado ambiente 
de negócios para os investimentos [...]” – controlando 
e reprimindo os movimentos trabalhistas, extinguindo 
os benefícios sociais, regulando e até mesmo proibin-
do os fluxos migratórios. “O Estado está muitíssimo ati-
vo no domínio das relações entre capital e trabalho”. 
Porém, Harvey (2005) indica que em relação aos ca-
pitais a situação do Estado na globalização assumiu 
uma outra condição. “Nesse caso, o Estado perdeu, 
de fato, o poder para regular os mecanismos de 
alocação ou competição, conforme os fluxos finan-
ceiros globais escapavam de alcance de qualquer 
regulação estritamente nacional” (HARVEY, 2005, p. 
29).
O Estado parece fortalecer o controle da força 
de trabalho, principalmente no que se refere a sua 
mobilidade. Embora as fronteiras dos Estados estejam 
cada vez mais permeáveis a outros fluxos, as frontei-
ras que “foram reforçadas é o do controle da mobili-
dade da população, sobretudo, mas não apenas, a 
população enquanto força de trabalho (HAESBAERT, 
2013, p. 25).
De acordo com Milton Santos (2000), o discurso 
dominante quer fazer parecer que há “menos” Es-
tado, “vale-se dessa mencionada porosidade, mas 
sua base essencial é o fato de que os condutores da 
globalização necessitam de um Estado flexível a seus 
interesses”. Os capitais globalizados necessitam que 
o território se adapte a uma crescente necessidade 
de fluidez, para isso, investem pesadamente para 
COMPETÊNCIA DE ÁREA 4 – ENTENDER AS TRANSFORMAÇÕES TÉCNICAS 
E TECNOLÓGICAS E SEU IMPACTO NOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO, 
NO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO E NA VIDA SOCIAL. 
H16 –IDENTIFICAR REGISTROS SOBRE O PAPEL DAS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS 
NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E/OU DA VIDA SOCIAL.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
71
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
70
alterar as características geográficas dos lugares es-
colhidos. Milton Santos (2000, p. 33), adverte: “Não é 
que o Estado se ausente ou se torne menor. Ele ape-
nas se omite quanto ao interesse das populações e se 
torna mais forte, mais ágil, mais presente, ao serviço 
da economia dominante”.
Milton Santos (2000) esclarece que a partir da 
globalização, “o que temos é um território nacional 
da economia internacional”, ou seja, o território não 
deixa de existir, as normas são elaboradas pelo Esta-
do em escala nacional, ainda que sofra influências 
internacionais. O Estado detém o controle sobre as 
normas – “sem as quais os poderosos fatores externos 
perdem eficácia”. É necessário, contudo, rever a no-
ção de soberania, uma vez que o alcance dos fluxos 
financeiros globais acentuou a porosidade das fron-
teiras. Porém, “ao contrário do que se repete impune-
mente, o Estado continua forte e a prova disso é que 
nem as empresas transnacionais, nem as instituições 
supranacionais dispõem de força normativa para im-
por, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade 
política ou econômica”. (SANTOS, 2000, p. 38).
É o Estado nacional o responsável por regular o 
mundo financeiro e dotar o território com infraestru-
turas, atribuindo às empresas de sua escolha a exe-
cução de seus projetos. As instituições de caráter su-
pranacional, como o FMI, o Bando Mundial, Nações 
Unidades, entre outras, dependem das decisões in-
ternas do Estado-nação para a adoção ou negação 
de suas recomendações. “Mas a cessão de sobera-
nia não é algo natural, inelutável, automático, pois 
depende da forma como o governo de cada país 
decide fazer sua inserção no mundo da chamada 
globalização” (SANTOS, 2000, p. 38).
Para Rogério Haesbart (2013) é possível dizer que 
se de fato não houve uma “perda de poder” do Es-
tado tradicional, é fato consumado a “delegação ou 
partilha de poder a/com outras esferas/escalas, tanto 
acima quanto abaixo de sua jurisdição”. A montante, 
(acima), estão os grandes blocos supranacionais, cujo 
maior ícone é a União Europeia. Ajusante, (abaixo), 
estão as entidades políticas em escala internacional 
com os “‘novos regionalismos’ e/ou ‘localismos’ em 
diversas áreas do planeta, alguns incentivando o diá-
logo diretamente dos níveis “regional” e/ou “local” 
ao global [...]” (HAESBART, 2013, p. 24).
O modelo neoliberal e as dinâmicas dos proces-
sos de privatização atingiram não somente o setor 
econômico, mas também uma esfera bastante tra-
dicional do Estado: o setor militar. Nas palavras de 
Haesbaert (2013, p. 26), trata-se do enfraquecimento 
do “monopólio de violência legítima”. Há uma perda 
de poder do Estado no que se refere ao controle terri-
torial, uma vez que há uma propagação de territórios 
que possuem segurança privada – “como a difusão, 
externa, de grupos privados que lutam não mais dire-
tamente em nome de um Estado, mas em função de 
empresas às quais encontram- se subordinados e que 
vendem seus serviços no mercado de conflitos e de 
violência globais”. É o caso das milícias, por exemplo. 
Iná Elias de Castro (2005) defende que houve 
uma reformulação do papel desempenhado pelo 
Estado-nação no processo de globalização atual, so-
bretudo, a perda de poder na articulação do capital 
financeiro, porém faz uma ressalva: 
[...] as dimensões políticas e culturais que são 
afetadas pela globalização, paralelamente, fazem 
surgir novas pressões que emergem das identidades 
culturais em várias partes do mundo e estimulam 
movimentos sociais e políticos por autonomia local, 
mas que têm também propiciado a revalorização 
das identidades culturais. É importante ter em mente 
que o processo de globalização não homogeneizou 
o mundo, mas requalificou as escalas de identidades. 
Por esta razão, a globalização não pode ser pen-
sada apenas a partir da determinação estrutural dos 
grandes sistemas, por exemplo, a ordem financeira 
mundial. “Na realidade, o processo não é singular, 
mas, ao contrário, reúne um conjunto contraditório 
de processos de operam de maneira contraditória 
ou antagônica e afetam o sistema político e o territó-
rio (CASTRO, 2006, p. 223).
Referências Bibliográficas
CASTRO, Iná Elias de. Geografia e política: terri-
tório, escalas de ação e instituições. Bertrand Brasil, 
2005.
DE SOUSA SANTOS, Boaventura. A globalização e 
as ciências sociais. Cortez Editora, 2002.
HAESBAERT, Rogério. Globalização e fragmenta-
ção no mundo contemporâneo. Editora da UFF; Rio 
de Janeiro: Bertrand-Brasil, 2013. 
HARVEY, David. O problema da globalização. Re-
vista Novos Rumos, v.50, n.2, 1996. p. 125-140. Disponí-
vel em: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.
php/novosrumos/article/view/1954/1607. Acesso em: 
15 out. 2017 
HARVEY, David. A Produção Capitalista do Espa-
ço. Annablume, 2005.
ROSEIRA, Antonio Marcos. Nova ordem sul-ameri-
cana: reorganização geopolítica do espaço mundial 
e projeção internacional do Brasil. 2011. Tese de Dou-
torado. Universidade de São Paulo.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio 
de janeiro: Record, 2000. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
71
A sociedade atual habita um novo tipo de mundo, urbanizado e globalizado. É uma sociedade que está, pela primeira vez, tra-
duzindo em termos reais a grande guinada de uma 
antiga economia de produção que se transfigura 
agora numa economia de consumo. 
Caracterizada pela revolução tecnológica, pela 
formação de uma nova economia e pelo surgimento 
de uma forma informacional de produção econômi-
ca e gestão, esse momento do capitalismo provoca 
profundas modificações na estrutura das cidades, 
condicionando sua dinâmica de crescimento. Soma-
se a isso a globalização das metrópoles e a verda-
deira reestruturação produtiva, que implicaram em 
desconcentração industrial e no crescimento do se-
tor terciário.
 As cidades ocidentais saem, assim, do industrialis-
mo (conjunto de atividades econômicas que explo-
ram matérias primas, fontes de energia e sua trans-
formação, produtos semi-elaborados e bens de pro-
dução e de consumo) e entram na nova economia, 
que, trata-se da produção, apropriação, venda e uso 
de conhecimentos, informações e procedimentos. A 
indústria, mesmo não desaparecendo por completo, 
vai depender cada vez mais desse tipo econômico. 
Tais modificações no aparato produtivo e no mer-
cado de trabalho alteraram o paradigma fordista e 
deram início ao regime de acumulação flexível.
 A redução da capacidade produtiva dessas em-
presas, agravada pela crise econômica e o surgimen-
to dos processos de automação que modernizaram 
a indústria, fizeram-nas buscar, em cidades vizinhas 
àqueles grandes centros em que se encontravam 
melhores vantagens fiscais, menores restrições legais, 
bem como terra e mão de obra mais baratas. Quan-
to as que optaram por permanecer em seus locais 
de origem, viram-se obrigadas a reduzir seu pessoal 
e a operar com planta reduzida, gerando espaços 
ociosos em suas unidades. 
Espaços residuais atualmente sem uso ou subutili-
zados desde fábricas, depósitos, armazéns, galpões, 
terrenos e até bairros, compõem os atuais vazios 
urbanos, espaços improdutivos que promovem a 
fragmentação das cidades contemporâneas, hoje 
composta por uma rede desconexa de enclaves ter-
ritoriais. As cidades passam então a ser reconhecidas 
pela subutilização de suas estruturas centrais, novas 
fronteiras dentro do tecido urbano, suas periferias ra-
refeitas e distantes, seus territórios desarticulados. 
Essa desarticulação pode ser percebida nos bair-
ros que se margeiam sem limites claros e nas estrutu-
ras urbanas que se cruzam sem definir espaços ho-
mogêneos. 
Quanto à obsolescência das áreas produtivas, 
há também aquelas referentes às zonas portuárias. 
Lugares extremamente importantes para o desenvol-
vimento de suas cidades durante séculos tiveram seu 
esvaziamento amparado, fundamentalmente, na di-
ficuldade de acomodar as novas logísticas, necessi-
dades e estruturas da nova economia, fazendo com 
que atividades que antes ali se desenvolviam passas-
sem a ocorrer em novos grandes portos mais afasta-
dos, tecnológica e fisicamente preparados para os 
novos tempos. 
Fatores econômicos 
A crescente mudança de paradigma na econo-
mia mundial tem sua origem no final dos anos 1970, 
quando a produção tradicionalmente industrial, for-
dista, começa a transferir-se em direção ao setor de 
serviços. Os sistemas produtivos de serviços avançam 
com mudanças aceleradas, calcadas em inovações 
continuas e rápidas, tanto no aperfeiçoamento cons-
tante dos serviços, como em sua reinvenção e no de-
senvolvimento de novos advindos da produção digi-
tal e da internet, que possibilitam a existência do fluxo 
de informações. 
O Fordismo é o modelo de desenvolvimento do-
minante do pós-guerra que se irradiou a partir dos 
Estados Unidos. É a resposta que surge das contra-
dições suscitadas pelas revoluções, introduzidas na 
primeira metade do século XX, no paradigma tec-
nológico e que se manifesta através de adaptações 
nas formas de produção, introduzindo o taylorismo e 
a mecanização. A produção fordista destacava a 
concorrência de preço e o barateamento do custo 
unitário de produção, através da padronização de 
produtos e de técnicas repetitivas de produção em 
série que aumentaram a produtividade e se dirigiam 
a mercados de massa. 
Implicava em estabilidade nas relações de tra-
balho; regularidade dos salários; apoio financeiro às 
empresas permitindo que estas absorvam a contínua 
transformação do aparelho técnico sem maiores 
prejuízos; surgimento de firmas multissetoriais, sub-
contratação de pequenas e médias empresas para 
tarefas menos qualificadas; criação da moeda de 
H17 –ANALISAR FATORES QUE EXPLICAM O IMPACTO DAS NOVAS 
TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIASHUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
72
crédito sob o controle do Banco Central e amplia-
ção do papel do Estado na regulação econômica. 
Caracterizava-se pela hegemonia norte-americana, 
que permitia aos Estados Unidos impor as regras de li-
vre troca e fazer valer a sua própria moeda de troca, 
o dólar, como moeda internacional. 
O modo de produção fordista, permitiu a ocor-
rência de uma crescente divisão espacial do traba-
lho, incluindo a desintegração geográfica em escala 
internacional e a descentralização da produção em 
direção aos países de baixos salários. Estes, até en-
tão, eram reduzidos à categoria de fontes de maté-
rias-primas e de imigração. 
Quanto à decadência do desenvolvimento for-
dista, os anos de 1970 apenas trouxeram à tona uma 
crise que já se esboçava desde 1960, quando os ga-
nhos de produtividade começaram a desacelerar, 
em decorrência de problemas internos (a crise do 
modelo em si, principalmente do lado da oferta) e 
de problemas externos (a internacionalização eco-
nômica, que comprometeu a gestão nacional da 
demanda). Porém no Brasil, a reestruturação produti-
va iniciou-se somente em 1980, de forma lenta e sele-
tiva, vindo a se ampliar e difundir apenas na década 
seguinte com a sucessão de governos democráticos 
e com o início do processo de liberalização do co-
mércio e investimentos estrangeiros. O Plano Real e a 
relativa estabilização da economia, viriam contribuir 
com um quadro macroeconômico propício à rees-
truturação. 
Os princípios da organização industrial, baseados 
na produção em massa, passaram então a ser ques-
tionados e se faziam urgentes transformações produ-
tivas e no mercado de trabalho. A partir daí firma-
ram-se duas orientações distintas quanto à solução 
da crise da oferta: 
Uma delas, mais conservadora, foi adotada por 
países como Estados Unidos (indústria automobilís-
tica), França, Inglaterra, Espanha e Portugal que, 
acreditando no poder de continuidade do sistema 
onde as grandes cidades têm um papel de concen-
tradoras de empresas de ponta - deixando as de 
menor qualificação produtiva se dispersarem pelo 
restante do território -, criaram novas relações entre 
mercados de países desenvolvidos e países em de-
senvolvimento, reconstituíram os lucros e anularam a 
inflação, atacando inclusive o estatuto e as conquis-
tas dos assalariados. Essa é a origem das empresas 
multinacionais que se proliferaram em países em de-
senvolvimento, como o Brasil. 
A outra solução, adotada por países como Japão 
e Coréia, combinou a revolução eletrônica ao ques-
tionamento do taylorismo, que, conforme acreditam 
Danielle Leborgne e Alain Lipietz (1990), acabou de-
monstrando-se como o caminho mais competitivo 
(toyotismo). Através da especialização flexível, onde 
a inovação, a mão de obra qualificada e equipa-
mentos flexíveis são uma busca permanente, inicia-se 
o processo de abandono do taylorismo e a inserção 
das indústrias em regiões onde hajam comunidades 
industriais desenvolvidas por meio de políticas que 
restrinjam a competição “selvagem” e favoreçam a 
inovação e a cooperação entre as empresas. Tal fe-
nômeno favoreceu os chamados distritos industriais, 
como os da Alemanha, Itália, Japão, com destaque 
para o Vale do Silício (EUA) e a Terceira Itália. 
Em suma, o fordismo entrou em crise a partir do 
momento em que a produtividade atingiu seus limi-
tes. As receitas keynesianas tornaram-se contrapro-
ducentes em economias mais abertas e as interven-
ções do Estado do bem-estar, além de terem tor-
nado-se muito custosas, geraram efeitos perversos. 
Soma-se a isso a globalização e a aceleração dos 
movimentos de capitais, que ampliaram o quadro de 
incertezas, mas criaram as bases para o surgimento 
de um novo formato de economia de mercado e de 
modelo de acumulação. 
As características principais desse novo modelo, 
pós-fordista, são a flexibilidade, a adaptação às no-
vas tecnologias e a geração de uma tendência de 
reaglomeração da atividade econômica, que aca-
ba constituindo-se como a base para o surgimento 
de distritos economicamente efervescentes, os novos 
espaços industriais. 
A flexibilidade se manifesta de várias formas: em 
termos tecnológicos, na organização da produção 
e das estruturas institucionais, no uso cada vez maior 
da subempreitada, na colaboração entre produto-
res complementares, na flexibilização do mercado 
de trabalho, das qualificações e das práticas labo-
rais. Elevam-se as taxas de rotatividade de mão de 
obra (cada vez mais globalmente qualificada, exer-
cendo tarefas menos repetitivas), adere-se ao expe-
diente de trabalho de meio período e ao trabalho 
temporário (horários de trabalho flexíveis e assíncro-
nos), e cresce a proporção de trabalhadores politi-
camente marginalizados, tais como imigrantes, mu-
lheres e adolescentes que passam a integrar a força 
de trabalho.
 A base de concorrência transfere-se dos preços 
para a diferenciação do produto. O consumo, não 
mais voltado aos mercados de massa, exige da pro-
dução cada vez mais diversificação e as empresas 
tornam-se especializadas, vindo a desenvolverem-se 
dentro de sistemas integrados de subcontratação, 
interdependência e intercâmbio. Torna-se frequente 
a prática de empresa-rede, onde se observa a proli-
feração de pequenas e médias empresas, refletindo 
as tendências de desintegração vertical, a descen-
tralização em unidades de gestão semiautônomas 
e a formação de redes de cooperação entre todas 
estas. 
Pode-se dizer, conforme sugerem Jordi Borja e 
Manuel Castells (1998), que a economia resultante 
é uma economia informacional, ou seja, uma eco-
nomia em que o incremento da produtividade não 
depende do incremento quantitativo e, sim, da apli-
cação de conhecimento e informação à gestão, à 
produção e à distribuição, tanto em processos como 
em produtos. 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
73
A nova economia pode ser chamada de econo-
mia cognitiva, já que tem o desafio de conhecer os 
mercados, mobilizar ciências e técnicas, inventar res-
postas rápidas para enfrentar incertezas e escolhas 
complexas, desenvolver métodos de gestão e ca-
pacidades criadoras, organizar processos, lidar com 
ativos intangíveis, analisar custos e coordenar ações. 
Para o autor chegam ao fim os futuros previsíveis e 
planejados do sistema fordista, que se fundamenta-
va em uma sociedade otimista e em uma previsibi-
lidade bastante grande do futuro, onde o planeja-
mento era um dos instrumentos chaves. Alerta, por-
tanto, que se deve ter cuidado para não confundir o 
fim do industrialismo com o fim do capitalismo, já que 
as leis econômicas não são novas, apenas aplicam-
se a um contexto diferente. 
Porém o termo mais recorrentemente utiliza-
do para se referir à economia atual é economia 
do conhecimento, uma vez que, em seu nível mais 
básico, refere-se à junção de pessoas criativas que 
adicionam valor ao trabalho através da troca de 
informações, gerando, assim, novas ideias. Essa de-
nominação, utilizada por Leite supõe que, enquanto 
o consumo era a força motriz na economia fordista-
keynesiana, atualmente são as ideias as forças mo-
tores do futuro, pois permitem avanços tecnológicos 
e inovadores. A mente humana deixa de ser apenas 
um elemento de decisão dentro do sistema produti-
vo e passa a ser força direta da produção. 
Enquanto a riqueza industrial dependia de mate-
riais sólidos como ferro e carvão, a massa cinzenta é 
a riqueza sustentável da qual a sociedade pós-indus-
trial vai depender.
Um dos mais importantes elementos associados 
ao novo paradigma econômico é a formação de 
uma economia global como unidade econômica 
operativa. Aqui não se está falando de uma econo-
mia mundial, que existe desde o séculoXVI, nem se-
quer de uma economia submetida a processos de 
internacionalização da atividade.
Como também articulam-se, globalmente, a pro-
dução industrial, os serviços avançados, os mercados 
(seja através de empresas multinacionais, de redes 
de empresas ou de mecanismos de intercâmbio) e o 
trabalho altamente qualificado.
 O crescimento concentrado em torno de alguns 
setores industriais, como o da alta tecnologia e da 
eletrônica, bem como de indústrias que usam inten-
sivamente o design e a habilidade artística, de servi-
ços empresariais, financeiros e pessoais e de alguns 
setores da indústria de produção em série mais anti-
ga, incluindo confecções, móveis e joalheria. 
Os impactos territoriais da nova economia são 
diversos. Uma vez que parte crescente da produ-
ção passa a acontecer fora das indústrias, a cidade, 
como um todo, torna-se um território produtivo. O de-
senvolvimento econômico repousa cada vez mais na 
acessibilidade e na conexão com grandes redes de 
transportes.
 Porém, ao mesmo tempo em que as funções 
industriais e empresariais descentralizam-se e se tor-
nam independentes permitindo que suas unidades 
produtivas espalhem-se pelo território, expandindo 
os limites urbanos e até ultrapassando tais limites em 
direção a outras cidades que ofereçam melhores 
condições elas não acontecem de forma isolada: 
surgem novos complexos concentrados de produ-
ção, decorrentes de inter-relações transacionais e do 
estabelecimento de fluxos de bens e de informações. 
É a dependência geográfica da estrutura de custos 
dessas articulações um dos principais fatores que le-
vam à aglomeração.
 Há ainda outros motivos para as empresas e in-
dústrias aglomerarem-se, como a busca de proximi-
dade com determinadas fontes de mão de obra e 
de qualificações, a necessidade de contornar bar-
reiras tarifárias, proteger-se de organizações sindicais 
e atingir economias de escalas importantes. É o do-
mínio do conhecimento em todas as suas dimensões 
que, na medida em que passa a ser o principal de-
terminante da competitividade entre as empresas 
(não apenas para sua expansão, mas também para 
garantir a sua sobrevivência) impacta os territórios e 
ambientes das cidades de forma mais profunda, pro-
duzindo, dentre outras novidades, os novos arranjos 
espaciais ou “habitats de inovação”. 
Nesse sentido, atrair camadas médias e superio-
res, mediante a necessidade de concentrar em seus 
territórios o mercado de conhecimento através de 
setores inovadores e dinâmicos, passa a ser o ele-
mento central das políticas das cidades, que priori-
zam agora a qualidade de vida. Para tanto são feitos 
investimentos em equipamentos educativos, de lazer 
e cultura, e inicia-se um processo de venda da ima-
gem da cidade, na tentativa de agregar vantagens 
competitivas e de se sobressair no novo paradigma 
industrial. Isto fez com que as cidades tornassem-se 
também um “empreendimento”, fazendo necessá-
rias novas formas de planejamento, de projetos de 
regeneração urbana de centros históricos e de ges-
tão urbana. Nos países desenvolvidos a produção 
chega a ser delegada para o resto do mundo, en-
quanto dedicam-se às novas tecnologias e à atra-
ção de capitais e pessoas qualificadas. 
Na tentativa de espacializar o atual momento 
econômico, faz-se uma interessante comparação 
entre a forma urbana do capitalismo industrial e do 
atual capitalismo tardio. Observa que, no passado, os 
assentamentos humanos possuíam uma forma bem 
definida, com uma diferenciação clara entre cam-
po e cidade, onde a forma fenomênica era a fábri-
ca. Sob esse regime de acumulação gerou-se uma 
forma espacial: a cidade industrial, abruptamente 
partida entre capital e trabalho, com limites bem de-
marcados do seu entorno. Já no capitalismo tardio o 
espaço no entorno das áreas urbanas atinge formas 
diferentes e é a empresa multinacional que se desta-
ca como forma fenomênica, com diversas unidades 
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de produção e produtos diversificados, diferenciada 
vertical e horizontalmente daquelas do capitalismo 
industrial. A nova forma espacial resultante tornou-se 
a região metropolitana espalhada, com vários cen-
tros e esferas de influência, gerada por um processo 
de desconcentração, levada a cabo especialmente 
pelos Estados Unidos. 
A nova configuração é representada “por um 
mosaico de regiões e cidades – megaregiões e me-
gacidades com graus bastante distintos de capaci-
dade de gerar inovação e novas tecnologias. A dis-
tribuição espacial dos novos fatores de desenvolvi-
mento e riqueza (pesquisa, inovação, atividades de 
alta tecnologia, patentes) que apresenta maiores 
desigualdades do que a distribuição do PIB ou de 
emprego. Outro impacto importante das mudanças 
advindas da reestruturação produtiva é a destruição 
e/ou precarização da força de trabalho e a cres-
cente degradação do meio ambiente, agravados 
pelo acelerado processo global de migração. 
Enfim, a nova economia provocou diversas trans-
formações na estrutura urbana e no papel desem-
penhado pelas cidades. O setor de serviços con-
centrou-se, em locais diferentes daqueles ocupados 
pela antiga produção e os impactos multiplicam-se 
no que diz respeito aos meios de transporte, de co-
municação, de serviços pessoais, de entretenimento 
e cultura, inserindo as cidades em um processo de 
intensa competição. 
Ao mesmo tempo em que inclui aquilo que cria 
valor ou que se valora em qualquer país, exclui o que 
se desvaloriza ou se subestima. É, portanto, um sis-
tema dinâmico, expansivo, mas fragmentador tanto 
de setores sociais, como de setores territoriais. Exem-
plo disso são a criação de valor e o consumo intensi-
vo que se concentram em alguns segmentos conec-
tados à escala mundial, enquanto que em outros 
amplos setores da população, se produza apenas 
uma transição da anterior situação de exploração 
a uma nova irrelevância estrutural, do ponto de vista 
da lógica do sistema.
 No caso do Brasil, muitas das cidades e regiões 
metropolitanas até então consolidadas sofreram, 
com o processo de reestruturação produtiva, o des-
locamento das indústrias e o surgimento de áreas 
ociosas, que foram, ao longo do tempo, tornando-se 
cada vez mais degradadas uma vez que não foram 
sendo reutilizadas. O problema é duplamente com-
plicado, pois, à medida que a indústria transforma-
dora vai encolhendo, os serviços locais que giravam 
em torno dela marketing, empresas de publicidade, 
empresas de consultoria e advocacia também dimi-
nuem. 
A Revolução Tecnológica
 Muitas das mudanças nas dinâmicas territoriais 
devem-se pela infiltração dos fluxos informacionais 
nos diferentes níveis da vida (pessoal, empresarial, 
política) e das esferas sociais. Convergem em torno 
da internet e são absorvidas de forma intensa e vo-
luntária, permeando todas as atividades humanas, 
sem que os usuários a percebam, assim como a ele-
tricidade.
As tecnologias estão transformando nossas eco-
nomias, nossas formas de aprender, nossos métodos 
de trabalho, nossa capacidade de alterar ambien-
tes e até mesmo nossas tarefas e prazeres cotidia-
nos. Estão reformulando nossas vidas. Mas também 
estão no centro de um novo e fundamental meca-
nismo da mente humana: o poder intelectual. As no-
vas tecnologias nos capacitam a expandir o uso do 
recurso humano mais valioso: a imaginação criativa, 
ou poder intelectual. 
O consumo crescente ou mesmo prolífico deste 
recurso não está sujeito a qualquer fator de limita-
ção. É sociável e respeita o meio ambiente.
Ainda que os elementos científicos dessa revolu-
ção tecnológica sejam ambíguos e alguns existam 
desde os anos 1940, foi a partir de 1970, e partindo 
de centros tecnológico-industriaisnorte-americanos, 
que se constituíram como um sistema. Sua difusão 
teve lugar, primeiro na tecnologia militar e nas finan-
ças internacionais, chegando às fábricas industriais 
em princípio dos anos 1980, estendendo-se então 
aos escritórios no final da mesma década. Hoje che-
ga aos nossos lares através das autopistas, ou info-
vias, de informação. 
Seus efeitos variam segundos países, culturas, ins-
tituições, níveis e formas de desenvolvimento, mas 
podem ser observadas algumas características co-
muns que afetam a sociedade com intensidades di-
ferentes e segundo diversas modalidades, como são 
os avanços da tecnologia de informação e conhe-
cimento (TICs), dos meios de transporte, da indústria 
e das ciências, onde as inovações passam a ser o 
elemento crucial.
 Hoje o “não lugar” formado pelos computado-
res interligados em redes e estas, por sua vez, interli-
gadas pela internet ocupa um espaço muito signifi-
cativo em nosso cotidiano, onde as funções urbanas 
são exercidas virtualmente e onde são centralizadas 
atividades fundamentais para o funcionamento da 
economia global e que resultam em ações no espa-
ço físico. 
Dessa forma é possível dizer que as TICs têm força 
catalisadora de transformações espaciais e viven-
ciais das cidades, e que, alteram as territorialidades 
urbanas contemporâneas. Participam das dinâmicas 
de racionalização, individualização e diferenciação 
da sociedade, e modificam a produtividade, bem 
como a acumulação e a circulação da informação. 
Inicia-se um processo de deslocação, represen-
tado pelo enfraquecimento das comunidades lo-
cais, consequência da flexibilidade de horários de 
trabalho, da possibilidade de escolher o momento e 
local das atividades, de optar por um deslocamen-
to ou dessincronização. Com isso as distâncias físicas 
não significam mais tempos físicos de deslocamento, 
Ciências Humanas e suas Tecnologias
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dependentes de transporte e horários. Neste contex-
to alguns sistemas como o de transportes públicos, 
concebidos segundo o modelo fordista, tornam-se 
inadequados à cidade contemporânea, já que as 
pessoas não se deslocam da mesma forma que an-
tes, em horários e percursos fixos, apesar de o trans-
porte público coletivo continuar sendo uma opção 
“ecológica”, nas zonas densas e grandes eixos. 
O local a que se pertence, ou onde se estabele-
ce, também não é mais herdado ou imposto e sim 
resultado de lógicas reflexivas. Assim se forma o espa-
ço-tempo individual, um dos principais aspectos da 
revolução urbana moderna.
A escala da cidade já não pode mais ser medida 
pela escala corporal. Os limites físicos da cidade não 
compreendem todas as dinâmicas políticas, sociais, 
econômicas e culturais que resultam na conforma-
ção urbana. Fenômenos distantes passam a ter in-
fluência direta sobre a hierarquia de lugares internos 
de uma cidade, onde as distâncias geográficas per-
dem seus valores. É o mercado globalizado. 
As TICs também implicam em quebra de para-
digma quanto aos processos de concepção, desen-
volvimento e fabricação de novos produtos. A busca 
por padrões e normativas que embasassem proces-
sos de repetição e reprodução que caracterizaram 
a Era Mecânica da Industrialização, vem sendo subs-
tituída pela capacidade das novas tecnologias de 
proporem alternativas significativas ao processo cria-
tivo. 
Enquanto a obsessão pela modulação repetitiva 
refletiu a busca por um ambiente de estabilidade, a 
produção contemporânea representa um mundo di-
nâmico, em constante mudança, materializado na 
metrópole moderna que, trata-se de uma rede, ou 
um sistema, de geometria variável, articuladas por 
nós, pontos fortes de centralidades, definidos por sua 
acessibilidade, diferentemente da cidade moderna 
resultante da soma de malhas e traçados urbanos e 
viários, setorizada em zonas pré-definidas. 
Vivemos o paradoxo de habitarmos, ao mesmo 
tempo, o espaço de fluxos informacionais globais, 
instantâneos e imateriais e os lugares materializados 
nas cidades, acessíveis em percursos lentos (frente 
à velocidade instantânea dos meios de comunica-
ção). Presenciamos a coexistência de espaços físicos 
e virtuais, de elementos urbanos tradicionais e ele-
trônicos. O espaço, um produto social, deve agora 
incorporar a complexidade das interações virtuais, 
remotas e distantes. 
O entendimento desse novo paradigma tecnoló-
gico, que molda a sociedade e a cidade contempo-
râneas, torna-se importante aos pensadores e cons-
trutores da cidade, uma vez que se constata que, 
apesar de os lugares apresentarem novas configura-
ções, continuamos utilizando métodos, conceitos e 
instrumentos ultrapassados, desenvolvidos durante e 
para o período das cidades industriais e do modernis-
mo. Temos uma nova cidade, mas não temos novos 
métodos para intervir nessa cidade. 
Quanto aos efeitos da introdução de novas tec-
nologias no sistema de transportes, os impactos na ci-
dade dependeram, em sua maioria, da adaptação 
de empresários às novas infraestruturas. 
Os aeroportos tornam-se os maiores atrativos 
das novas atividades e a “conteinerização” reo-
rienta as atividades portuárias, oferecendo à cida-
de extensas áreas disponíveis como as Docklans de 
Londres e MissionBay em São Francisco.
 Uma das grandes inovações no sistema de 
transportes foi o surgimento dos trens de alta veloci-
dade (TAVs), que acabaram por exercer a função 
de grandes corredores de urbanização nas regiões 
de altas densidades. Este sistema beneficiou as ci-
dades periféricas, em especial as grandes e deu 
suporte ao desenvolvimento dos mercados das de 
menor porte situadas próximas às regiões metropoli-
tanas, como é o caso de Paris e Lyon. Porém, quan-
do dentro dos territórios urbanos, ao mesmo tempo 
em que alavancaram intenso desenvolvimento, 
territorialmente costumaram representar uma frag-
mentação significativa do território ao segregar o 
tecido urbano adjacente às suas linhas, em função 
da dificuldade de transposição das mesmas. 
Os impactos da tecnologia nos diversos meios 
de transporte são identificados, frequentemente, 
como fatores de dispersão do território. De fato, 
provocaram o aumento da acessibilidade a no-
vas regiões e a exploração dos territórios urbanos, 
possibilitando o desenvolvimento dos subúrbios e o 
crescimento de novos centros de atividades e ser-
viços. 
No que diz respeito à aplicação de novas tec-
nologias no setor industrial, é o avanço tecnológico 
aplicado não apenas à produção, mas ao proces-
so de produção que, juntamente com as tecnolo-
gias de transporte e comunicação, permitem que 
a economia atual se dirija à individualização das 
tarefas e à fragmentação do processo de trabalho 
(reconstruindo a unidade do processo mediante 
redes de comunicação).
 O novo paradigma tecnológico, por si só, não 
destrói o emprego, mas modifica profundamente 
as condições de emprego e a forma de organiza-
ção do trabalho.
Por outro lado as novas tecnologias permitem 
articular formas arcaicas de exploração local com 
redes produtivas modernas (orientadas até a com-
petição global), principalmente nos países em de-
senvolvimento, onde o trabalho produz-se median-
te a formação de redes de produção e de serviços 
sem a estabilidade e controle social do modelo 
anterior, e através da extensão do trabalho casual 
e informal. Para os autores, a economia informal, 
velha e nova ao mesmo tempo, é a forma extrema 
da flexibilidade que caracteriza as novas relações 
produtivas em uma economia informacional, glo-
balizada e polarizada. 
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Como vimos às novas tecnologias aplicadas à 
indústria, em princípio, contribuem para a descen-tralização produtiva no território e para a expansão 
das cidades. Porém já se discute que (assim como 
os impactos da economia do conhecimento) ao 
mesmo tempo em que promoveram o aumento das 
cidades também criaram a necessidade de proximi-
dade. 
A era das telecomunicações não dilui os centros 
urbanos, como argumentaram os deterministas tec-
nológicos. Ao contrário disso, ao permitir a gestão e 
a comunicação entre si de sistemas urbanos e rurais 
distantes, tende a concentrar a população em aglo-
merações territoriais, parcialmente descontínuas, de 
gigantescas dimensões e de características sócio es-
paciais historicamente novas. 
Nesta última década, o desenvolvimento de tec-
nologias com base na micro-eletrônica permitiu a 
criação e o aperfeiçoamento de equipamentos que 
podem desempenhar várias tarefas envolvendo pro-
cessamento, controle e transmissão de informações. 
Muitos acreditam que esta tecnologia represente 
uma descontinuidade no progresso técnico. Em pri-
meiro lugar, porque implica a transferência de certas 
habilidades intelectuais e sensoriais à máquina, e, em 
segundo lugar, devido à facilidade de aplicá-la a vá-
rios equipamentos e processos. Algumas vantagens 
desta tecnologia como, por exemplo, tamanho, cus-
to, rapidez e baixo consumo de energia permitiram 
sua aplicação às mais diferentes situações, desde fá-
bricas, escritórios e até à medicina.
A difusão e a multiplicação das aplicações des-
ta tecnologia cresceram, com uma rapidez assusta-
dora, no setor industrial, e de forma ainda mais sur-
preendente no setor de serviços. No comércio, os 
supermercados e as grandes lojas de departamentos 
estão utilizando EPOS (pontos eletrônicos de vendas) 
ligados ao computador central da loja, que pode ser 
interligado a um ou mais bancos, de tal forma que o 
valor da compra do cliente pode ser imediatamente 
transferido do seu banco creditado à loja. Nos ban-
cos, as tecnologias para transferência automática 
de fundos, como as ATMs (Automated Teller Machi-
nes) podem desempenhar uma série de operações 
ao input de um cartão magnético, como a produ-
ção do saldo, realização de depósitos e pagamen-
tos. Nos escritórios, tecnologias como processadores 
de palavras realizam automaticamente uma série de 
operações, como correções e margem, economi-
zando até 80% do tempo das secretárias. 
Os exemplos de aplicação em hospitais mostram 
como a tecnologia da informação pode realizar ta-
refas humanas anteriormente impossíveis de serem 
realizadas por máquinas, Pacientes, em Centros de 
Tratamento Intensivo, são monitorizados via VDU e 
equipamentos que transmitem sinais e administram 
automaticamente medicamentos e sinais de alte-
ração do organismo. O uso do computador, para 
propósito de diagnósticos, já vem sendo utilizado no 
Logan Field Aiport, Boston, onde existe uma câmara 
de TV para descrição dos sintomas do.cliente, pres-
são sanguínea etc. A unidade médica, entretanto, 
fica localizada a longa distância, no Massachusetts 
General Hospital, onde o médico pode utilizar o es-
tetoscópio para ouvir o paciente e examinar o eletro 
enviado através de fios.
Nos EUA, o mercado de processamento de da-
dos, que inclui computadores e periféricos, dobra 
a cada cinco anos. Neste país, onde praticamente 
para cada secretária existe um computador pessoal, 
a expansão de equipamentos de escritório é ainda 
maior, principalmente para o processador de pala-
vras, cujo mercado dobrou em quatro anos, mesmo 
a um custo entre US$7.500 a US$15.000. O crescimen-
to no número de ATMs em uso nos EUA foi de em mé-
dia 34,78% ao ano entre 1973 e 1981. Em 1983 havia 
20 mil ATMs em operação e a estimativa para final de 
1985 era de 54.200, e de 71.000 para 1990. Na Europa 
Ocidental, o mercado de microcomputadores cres-
ceu de US$69 milhões em 1977 para US$800 milhões 
em 1985, numa média anual de crescimento de 32%.
Poder-se-ia argumentar, no entanto, que essas 
tecnologias estão longe de atingir a nós, brasileiros, 
pois a maioria das nossas fábricas e instituições de 
serviços se utilizam ainda de tecnologias convencio-
nais. Não obstante, é necessário lembrar que na área 
industrial o Brasil já conta com 680 MFCN, máquinas-
ferramenta de controle numérico, 50 robôs e 15 siste-
mas CAD, projeto assistido por computador. Segundo 
Ivan Alves, a difusão da automação em países em 
desenvolvimento é mais lenta, ocorrendo numa base 
de 10% ao ano e estima-se, portanto, que o Brasil al-
cance duas mil MFCN em 1990.
No setor de serviços, embora a inovação tecno-
lógica ainda seja inicipiente nos escritórios, os ban-
cos, ao contrário, têm acompanhado mais de perto 
o ritmo dos países industrializados. Na expansão do 
dinheiro eletrônico estima-se que o Bradesço tenha 
cerca de 109 ATMs, o Itaú 109 e a Tecnologia Bancá-
ria, que compreende um consórcio de vários bancos, 
80. Embora os números sejam pequenos à primeira 
vista, comparando-se com as estatísticas para os 
EUA, pois só o Citibank em Nova Iorque dispõe de 500 
ATMs, é importante mencionar que, no Brasil, os pla-
nos dessas instituições quanto à implantação de tec-
nologias transferência eletrônica de fundos são bas-
tante ambiciosos. Já fizeram opção pela automação 
das agências 90% dos maiores bancos brasileiros, o 
que é significativo, considerando que representam 
78,6% dos depósitos no País.
Quanto à área comercial, também aqui, as gran-
des lojas de departamento e supermercados já co-
meçaram a implantar sistemas integrados de con-
trole de estoques e caixas eletrônicos. Segundo uma 
pesquisa da Associação Brasileira de Automação 
Comercial (ABAC), 63% dos comerciantes preten-
dem, num prazo de cinco anos, substituir suas caixas 
por terminais (EPOS), o que representa um mercado 
potencial de, no mínimo, 60 mil máquinas até 1990.
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Uma das principais vantagens tecnológicas da 
microeletrônica reside no aumento da produtividade 
de fatores como capital, trabalho e recursos mate-
riais. Entretanto, a questão que se tem levantado 
após 20 anos, a partir da invenção dos microproces-
sadores, é que o aumento da produtividade vem 
ocorrendo a expensas de certas consequências ad-
versas que essa tecnologia gera para o trabalho e 
o trabalhador. Argumenta-se, por exemplo, que o 
aumento da produtividade vem ocorrendo à cus-
ta da maior industrialização dos serviços, isto é, a 
tecnologia contribui para maior segmentação das 
tarefas e proporciona meios mais eficientes de con-
trole do trabalho, da mesma maneira que nas linhas 
de montagem.
Há várias indicações de que o emprego de tec-
nologias microeletrônicas nos serviços pode levar à 
desqualificação de, certa categoria de trabalha-
dores, mudando a configuração da mão de obra, 
chegando à consequência última de expeli-los do 
mercado interno de trabalho. De fato, há alguns da-
dos sobre o setor que reforçam os temores quanto 
aos impactos da microeletrônica na disponibilidade 
de empregos.
Alguns observadores afirmam que os ganhos de 
produtividade do processador de palavras podem 
reduzir o número de datilógrafos pela metade, o que 
se confirma pela experiência de um banco ameri-
cano que reduziu o número de secretárias de 200 
para 100 com a criação de um centro de edição, 
através de processadores de palavras, formado por 
100 datilógrafas.Na Inglaterra, o emprego bancário 
caiu em 50 mil de 1971 para 1976, enquanto que 
o volume de transações cresceu de L$27 milhões 
para L$60 milhões, no mesmo período. Esta mesma 
tendência se observa no Brasil. Embora tenha havi-
do um crescimento no funcionalismo bancário de 
24,3%, entre 1979 e 1982, este crescimento ainda 
foi inferior ao volume de cheques compensados e 
a poupança bruta, indicando que essa tecnologia 
tende a reproduzir no setor de serviços os mesmos 
impactosque nos setores primário e secundário, ou 
seja, crescimento sem emprego.
No processo de deslocamento de mão de obra, 
provocado pela automação dos serviços, a cate-
goria feminina será a mais atingida, uma vez que 
grande parte das ocupações do setor é preenchida 
por mulheres. Nos EUA, 1/3 das mulheres trabalha-
doras estão no setor de serviços. Para o Brasil, não 
dispomos de estatísticas equivalentes, mas sabemos 
que um dos setores mais suscetíveis à automação 
é o comercial, no qual predomina a categoria fe-
minina. Este setor emprega cerca de 2,2 milhões de 
pessoas, representando 12,2% dos empregos formais 
da economia.
 
Tese do determinismo tecnológico
A crescente rotinização e fragmentação do tra-
balho no setor de serviços têm levado alguns obser-
vadores a comparar o processo de trabalho nestas 
organizações com o processo de trabalho de produ-
ção nas fábricas. As companhias de seguros como 
fábricas de papelório, nas quais os envegados dis-
põem das mesmas “regalias” que na indústria: pouco 
prestígio, baixo salário, impessoalidade das relações 
e vigilância. A autora relata algumas modificações 
que ocorreram na empresa durante os últimos 15 
anos, devido à introdução de tecnologias microele-
trônicas e também em decorrência do crescimento 
da empresa. A divisão do trabalho tornou-se mais 
fragmentada, ao mesmo tempo que algumas fun-
ções relevantes perderam sua posição estratégica 
como a de agente de seguros, que de função-cha-
ve passou a função periférica.
Certas características que antes distinguiam o 
trabalho nos escritórios do da linha de montagem, 
como, por exemplo, o esforço mental, necessidade 
de julgamento, quantidade de interação social e 
controle sobre a execução, já não mais se aplicam 
ao escritório moderno. As máquinas on Une tornam 
certas tarefas, como estenografia e registro redun-
dantes, enquanto que aquelas que criadas pelo 
computador são mais mecânicas e têm menos con-
teúdo. Além disso, as novas tecnologias são menos 
exigentes no conhecimento e criatividade.
Tomando como base o trabalho de Braverman, 
estes autores sugerem que a proletarização do tra-
balho no setor de serviços deve-se à face conspirató-
ria da administração, que, ao separar os elementos 
do controle do processo de produção, transfere-os à 
máquina. A tecnologia aliada ao taylorismo provoca 
a desqualificação na medida em que conhecimen-
to, julgamento e responsabilidade são usurpados do 
empregado e tornam-se passíveis de rotinização e 
programação. Aí, a transformação que vem ocorren-
do nos escritórios compara-se, portanto, à que vem 
ocorrendo nas fábricas, primeiro com a mecaniza-
ção e depois com a automação. Assim, a evolução 
do trabalho nos escritórios segue caminho semelhan-
te; como o artesão, o guarda-livros, além de ter sido 
despojado de suas qualificações técnicas, perdeu 
também o componente administrativo que lhe dava 
prestígio e controle, no século passado: o conheci-
mento das incertezas do trabalho e de como lidar 
com as mesmas.
Esta ideia de que existe um determinismo entre 
tecnologia e trabalho e que a introdução de novas 
tecnologias é uma estratégia consciente de desqua-
lificação da mão de obra parece encontrar substân-
cia na propaganda dos fabricantes - que comumen-
te se valem da simplicidade de operação das novas 
máquinas e reforçam o potencial de economia de 
mão de obra - e têm por base algumas experiências 
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na indústria e nos serviços com essas tecnologias. Por 
exemplo, Herley Shaiken, ex-maquinista, descreve 
sua experiência como operário e pesquisador nas 
linhas de montagem americanas. Sistemas de pro-
dução mais sofisticados como MFCN, robôs e CADs 
constituem-se, no seu ponto de vista, em formas de 
se reduzir a dependência da empresa dos trabalha-
dores mais qualificados que possuem maior poder 
de barganha e, além disso, fornecem os meios mais 
efetivos de controle de desempenho operário. Por 
outro lado, argumenta a autor, se há vantagens 
para a administração, para o operário a tecnologia 
implica mais monotonia, mais stress e em um ritmo 
de trabalho mais intenso.
As evidências sobre a transformação do traba-
lho na indústria, com a automação, são inúmeras. 
Mas, voltando ao setor de serviços, observa-se que 
as mesmas condições repetem-se, apesar de que, 
aqui, estamos falando de tecnologias distintas e 
ambientes diferentes. O uso do processador de pa-
lavras, por exemplo, permite nova organização do 
trabalho de escritório de tal forma que as tarefas 
administrativas podem ser separadas das de da-
tilografia. Nos EUA, vários escritórios possuem salas 
separadas para funcionárias que trabalham com 
edição e datilografia. As funcionárias que operam 
os processadores de palavras reclamam que em 
comparação com a datilografia tradicional, o novo 
trabalho é mais cansativo e exige mais do ponto de 
vista físico e mental. Certas tecnologias nem mes-
mo produzem um feedback imediato do trabalho, 
como acontece com as máquinas de escrever con-
vencionais. A impressora pode estar em outra sala 
e o output comumente não é reproduzido imedia-
tamente.
Outros exemplos, no setor de serviços, reforçam 
a tese da desqualificação. Nos bancos, observa-se 
aumento de regulamentos, menos oportunidade de 
o empregado ter seu próprio método de trabalho 
e sequência na qual realiza as tarefas. Nos bancos 
brasileiros, o perfil do bancário mudou gradualmen-
te com a introdução das centrais de processamento 
de dados. Anteriormente, o bancário era, em ge-
ral, um contador e dispunha de mais status. Hoje, a 
natureza do trabalho mais padronizado e repetitivo 
determina sua execução, principalmente, por indiví-
duos em início de carreira e atribui caráter de tran-
sitoriedade à categoria.Com a automação dos ser-
viços ao cliente, pressupõe-se outras modificações 
no papel do bancário. O trabalho do caixa deve ter 
dois componentes mais e menos rotineiros. Uma par-
te que se destina ao processamento de pequenas 
transações e verificações e outra parte que tem por 
objetivo dar informações e captar clientes.
Esta questão da desqualificação está estreita-
mente ligada à segmentação do mercado interno 
de trabalho, à tese de polarização e à problemática 
do desemprego. É fácil chegarmos a essa relação na 
medida em que entendemos que as organizações 
possuem um mercado de trabalho que se distingue 
do externo pelo conteúdo das tarefas, habilidades 
exigidas e padrões de promoção. O mercado inter-
no, por sua vez, subdivide-se nos segmentos primário 
e secundário. O primeiro constitui-se dos cargos que 
requerem certas habilidades e conhecimentos espe-
cializados, gozam de autonomia, boas condições de 
trabalho, bons salários e status. Os cargos que com-
põem o segundo segmento são menos estáveis, re-
querem menos habilidades, são mais controlados, 
provêm salários mais baixos, e a satisfação com o 
trabalho é mais baixa. Comumente, o acesso do se-
gundo segmento para o primeiro dá-se através das 
ocupações intermediárias, semiqualificadas, isto é, 
geralmente neste nível, as ocupações requerem um 
nível básico de treinamento, o grau de satisfação no 
trabalho é baixo, mas, em geral, elas caracterizam-se 
por alto grau de mobilidade interna.
Um dos efeitos da microeletrônica, dizem, reside 
no seu potencial em dividir o trabalho em pequenas 
partes, de tal forma que os indivíduos venham a ser 
expelidos do primeiro segmento para o segundo e 
finalmente para fora do mercado interno e externo. 
Isto é possível acontecer na medida em que a nova 
tecnologia pode dispensar a aprendizagem adqui-
rida durante o treinamento e permitir a substituição 
do trabalhador por outros menos qualificados.
 Exemplos naárea financeira, onde há grande 
difusão de tecnologias da in formação, podem ilus-
trar este ponto. Na indústria de seguros, o papel do 
agente foi gradualmente reduzido. Anteriormente 
à tecnologia de escritórios, este cargo era o cora-
ção dos negócios, pois o bom andamento da firma 
dependia de seus julgamentos e decisões quanto 
aos riscos que poderiam ser assumidos pela empre-
sa. Para exercê-lo era necessário um treinamento 
mínimo de quatro meses, durante o qual o técnico 
aprendia a tomar decisões sobre a concessão ou 
não de seguros a determinado cliente.
 A introdução dos computadores na indústria fa-
cilitou de tal forma a tarefa que atualmente o trei-
namento pode ser feito no local de trabalho e em 
apenas duas semanas. A função foi dividida de tal 
maneira que ao agente restaram apenas os casos 
mais rotineiros, cuja solução depende apenas de 
consulta aos manuais e ao computador. As exce-
ções que dependem de julgamento foram transfe-
ridas à gerência e a outros funcionários mais gra-
duados. Como as responsabilidades do agente de 
seguros foram reduzidas, as exigências para o exer-
cício do cargo também mudaram; atualmente, as 
habilidades são mais mecânicas e técnicas. Nesse 
caso, a mudança tecnológica gerou um proces-
so de simplificação da tarefa que veio a facilitar a 
transferência dos elementos da função que envol-
viam conhecimento e julgamento - portanto, justa-
mente daqueles que poderiam estimular a satisfação 
e o interesse pelo trabalho - à máquina ou então à 
elite administrativa.
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Portanto, é neste sentido que a tecnologia pode atuar como veículo para empurrar um grupo de tra-
balhadores qualificados ou semiqualificados para os segmentos inferiores ou mesmo para fora do mercado 
de trabalho, criando uma situação de polarização entre os segmentos internos. Na indústria, por exemplo, 
prevê-se que tecnologias como MFCN robôs, CAD/CAM tendem a reduzir as oportunidades para o trabalho 
semiqualificado de controle e operação das máquinas, ao mesmo tempo em que criam oportunidades para 
as qualificadas como programação e manutenção.
 A consequência do processo de segmentação e desqualificação do trabalho é o aprofundamento 
do gap entre o mercado secundário e o primário, de tal forma que as chances de mobilidade para o último 
tornam-se reduzidas pela ausência de ocupações no nível intermediário. Nos serviços, contudo, prevê-se 
outro tipo de polarização, ou seja, ao contrário da indústria em que os trabalhadores do shop floor devem ser 
os mais afetados, neste setor, o segmento mais antigo deve ser o administrativo em geral, isto é, arquivistas e 
datilógrafas. Até mesmo os digitadores, quando se empregam tecnologias baseadas em fibras óticas ou on 
line. Surpreendentemente, nem os gerentes devem ficar isentos, devido à centralização de informações e à 
redução da necessidade de supervisão direta.
Alguns argumentos que neste processo de deslocamento de trabalho as mulheres são as mais atingidas, 
pois raramente são transferidas às posições administrativas. Isto se explica na medida em que as tecnologias 
de informação tendem a restringir o emprego feminino dentro das posições periféricas do mercado de tra-
balho.
O setor de informações, como os demais na economia, não é homogêneo, ou seja, é também dividido 
nas ocupações que exigem maior qualificação como as de criação, análise, interpretação de informações 
e nas que exibem menos habilidades - atividades destinadas à manipulação de informações. É justamente 
neste tipo de atividades que se concentra o emprego feminino, ou seja, datilógrafas, secretárias, digitadores, 
caixas. Já nos escalões mais altos das profissões relacionadas com a informação estão as ocupações mascu-
linas, profissionais, gerentes programadores e analistas. 
A microeletrônica é, certamente, um instrumento destinado a assistir o trabalho do último grupo e, para 
tanto, exige-se do primeiro rapidez e produtividade no processamento de informações. Texto adaptado de 
TITTON, C. P
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As peculiaridades de uma nova ordem co-mercial colocam o dinamismo, a flexibilida-de e a celeridade das relações negociais 
como condições essenciais ao crescimento e desen-
volvimento econômico. Percebe-se, um processo de 
“mobilização e desmaterialização da riqueza”, ocor-
rido nas sociedades pós-industrializadas, no qual a 
propriedade material perde sua hegemonia como 
ícone do capitalismo, para ser superada pelo contra-
to, como ferramenta de circulação de valores, bens 
e direitos.
Este novo capitalismo dinâmico, baseado em 
uma realidade negocial marcada pela velocidade 
e volatilidade de transações, urge pela quebra de 
burocracias, tributações excessivas, formalismos e 
barreiras protecionistas, que geram entraves à plena 
circulação de riquezas. É fundamental lembrar que 
todo desenvolvimento humano, prosperidade e me-
lhoria da condição social dos mais pobres dependem 
diretamente do aumento de eficiência dessa maximi-
zação e circulação de riquezas na sociedade.
Quanto mais liberdade econômica, mais produ-
tividade e também mais concorrência, o que gera 
não só mais empregos e oportunidades de empreen-
der, como também disputa entre as empresas pela 
melhor mão de obra e, consequentemente, aumento 
dos salários dos empregados. O aumento da concor-
rência é igualmente responsável pela oferta de pro-
dutos e serviços de melhor qualidade a preços mais 
baixos.
Não existe desenvolvimento social sem desenvol-
vimento econômico, e este último, por sua vez, de-
manda um ambiente altamente propício para a rea-
lização de negócios e investimentos. O contemporâ-
neo mundo dos negócios (junto com todo o progresso 
e prosperidade que vêm com ele) está em ebulição 
e a liberdade econômica é seu agente catalisador.
A dominação imensurável da qual a classe traba-
lhadora é acometida, resulta dos novos padrões de 
acumulação, inspirados na mundialização da econo-
mia, e na globalização, operada, pelo capital trans-
nacional e investimentos financeiros. Após a Guerra 
Fria e no alvorecer do século XXI, a economia sob a 
hegemonia do império norte-americano sofre pro-
fundas mutações. Mudanças estas acionadas pelos 
grandes grupos das industriais transnacionais, passan-
do a operar com o capital que rende juros, bancos, 
companhias de seguro, fundos de pensão, fundos 
mútuos e sociedades financeiras de investimentos.
H18 –ANALISAR DIFERENTES PROCESSOS DE PRODUÇÃO OU 
CIRCULAÇÃO DE RIQUEZAS E SUAS IMPLICAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS.
Todo esse processo recebe respaldo dos Estados 
nacionais e são fortemente consolidados por meio 
da força de trabalho, ou seja, cria-se a acumulação 
do capital por meio dos únicos que não o desfrutam 
e que ainda são chamados a participar deste acú-
mulo pagando os impostos e vendendo seu único 
meio de subsistência, sua força de trabalho. Sendo 
que, a cada dia é negado, a milhares de pessoas, 
até o acesso a esta venda de força de trabalho, pois 
o avanço tecnológico acarreta a redução de postos 
de trabalho para a produção do capital, uma marca 
indelével do processo de consolidação dos monopó-
lios e do desenvolvimento tecnológico, que favorece 
apenas ao capital.
Neste sentido, com relação à classe trabalhado-
ra, o exército industrial de reserva descrito na década 
de 1930, assume nova roupagem no cenário atual, 
sendo que as relações sociais de produção são cons-
tituintes de uma sociedade marcada por novos pro-
tagonistas, mas necessariamente combinada com a 
estrutura que fundou o país, acrescida das “transfor-
mações que vem operando na esfera do Estado e 
nas políticas sociais públicas, condizentes com o or-
ganismo

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