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Luciana de Oliveira Marques Médica Psiquiatra Professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina UFPEL Professora responsável pelas disciplinas de Psicologia Médica IV e Psicologia Jurídica O uso sem consentimento, de uma pessoa para suprir as necessidades de outra é um desvio da sexualidade humana, que pode se manifestar sob as formas de incesto, abuso, assédio e estupro. O Perpetrador vale-se da posição de superioridade, tornando a vítima incapaz de expressar anuência ou defesa em razão de fragilidade física ou psíquica. Coerção se instalará em oposição a reciprocidade e consenso que são as características fundamentais da sexualidade humana normal. 12 milhões de pessoas no mundo/ano No Brasil 1 ofensa sexual a crianças e adolescentes a cada 8 minutos. Pode ocorrer com ou sem violência. Meninas e mulheres são as vítimas mais frequentes. Em geral ocorre dentro de suas próprias casas. Com ou sem características incestuosas. Vítimas buscam os serviços de saúde com sintomas incongruentes e um PESADO SEGREDO A REVELAR. OMS adotou termo abuso sexual desde 1999 referindo-se à violência sexual contra crianças. OFENSA SEXUAL termo geral para nomear delitos de natureza sexual, desde aproximação, assédio, exibicionismo, obscenidade escrita ou oral, pornografia, indução a prostituição, manipulação até a violação e consumação do ato sexual com cópula e/ou coito anal, em que uma das partes não compreende completamente, é incapaz de consentir, ou para a qual em função de seu desenvolvimento não está preparada, ou que viole as leis ou tabus da sociedade. Relação de ofensa implica em ASSIMETRIA DE PODER entre os envolvidos. VIOLAÇÃO OU TRANSGRESSÃO de direitos com fins de DOMINAÇÃO, EXPLORAÇÃO e OPRESSÃO que se efetiva na passividade e no silêncio. AMEAÇAS E CHANTAGENS são frequentes elementos de convencimento na sedução e no incesto. INCESTO é a ofensa sexual intrafamiliar. Promiscuidade primitiva, sem seleção sexual, baseando o sexo apenas no instinto. Família com comportamento incestuoso mostram tendência ao ISOLAMENTO. Pode haver USO DE ÁLCOOL associado. Ofensores tendem a ser rígidos, extremamente POSSESSIVOS, PROTETORES e ZELOSOS das crianças e adolescentes ofendidas, causando SURPRESA A REVELAÇÃO DO ABUSO e dúvida na veracidade do relato das vítimas. Pai tendência a pedofilia, regredido, encara seu papel de protetor de forma sexual. Relação incestuosa é a única forma de afeto. Comportamento sedutor e insinuante especialmente com a faixa etária eleita na ofensa sexual. DESQUALIFICAM A VÍTIMA e chegam a acusar de promiscuidade e sedução. NEGAM A OFENSA, temem a revelação e suas consequências. AMEAÇAM A INTEGRIDADE FÍSICA, EMOCIONAL E ECONÔMICA DA VÍTIMA E SUA FAMÍLIA. Geralmente TAMBÉM FOI VÍTIMA de algum tipo de abuso. Mulheres abusadoras(3-5%). Mães simbióticas, comportamento mais sádico, função de professoras de adolescentes. Incesto mais raro e patológico. Prática de violência sexual não é sinônimo de doença mental, mas existem pessoas que apresentam complicações psiquiátricas graves e cometem violência sexual e são divididos em 3 grupos: 1. Psicóticos 2. Transtorno de Personalidade antissocial 3. Parafílicos Deficientes mentais, demenciados e alcoolistas também se envolvem eventualmente em tais delitos. Na linguagem psiquiátrica as PERVERSÕES são chamadas de PARAFILIAS. Transtornos sexuais caracterizados por fantasias, anseios sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, em geral envolvendo objetos não humanos, sofrimento ou humilhação, próprio e de parceiras, ou crianças, ou outras pessoas sem o seu consentimento, ocorrendo durante um período mínimo de 6 meses. Pedofilia é uma parafilia com preferência sexual por crianças.Começa em geral na adolescência ou meia idade, crônica. Imputabilidade é mantida para os pedófilos na maior parte dos países, excetuando-se os casos de alguma comorbidade com psicose ou retardo mental. Podem não reconhecer como violência Irritabilidade e impulsividade Atitudes sexuais impróprias para a idade( conhecimento sobre atividades e práticas sexuais), masturbação frequente e /ou compulsiva independente do ambiente, desvio frequente de brincadeiras para possibilitar contatos íntimos, manipulação de genitais, repetição de atitudes do ofensor. Infecções urinárias de repetição Distúrbios nutricionais Distúrbios do sono Não parecem vítimas, são pessoas comuns, especialmente as crianças pequenas, pois percebem os contatos sexuais incestuosos como formas de amor e carinho, enquanto adolescentes começam a perceber que há algo estranho ou errado. Histórico de OS, vem de lares problemáticos, sofreu privação materna. Deprimida, passividade e tendência a se isolarem socialmente. Facilita o incesto inconscientemente através da dúvida, negação. Quando a situação aflora apresenta culpa e responsabilidade de não ter protegido e contribuído para ruína do núcleo familiar. Prevenção da OS passa pela ruptura do ciclo de violência que leva a vítima a ser ofensora em algum momento de sua vida. Mecanismo proeminente na relação familiar. Mãe evita para não perturbar a relação com o marido. Medo de cometer uma injustiça e o desejo que isto não seja verdade. Pai encara o abuso como educação sexual dos filhos. A criança protege-se da vergonha e da culpa e tenta preservar a integridade da família. Os cuidados paternos quando apropriados organizam o arsenal instintivo da criança. Ao final do terceiro ano de vida, excitação sexual e agressão existem dentro da criança. A tarefa é discriminar quando os desejos podem ser atendidos, reprimidos, adiados, canalizados em diferentes direções no interesse da proteção e da socialização. O desenvolvimento implica na montagem de um mundo interno que deve culminar no respeito a si próprio e ao outro. Por isso diz-se que “ A criança vítima de abuso permanecerá vulnerável como objeto sexual de outro adulto, poderá desenvolver transtornos da sexualidade ou poderá replicar a experiência como futuro abusador”. Relatam culpa, vergonha, reações descontroladas de medo, pensamentos e tentativas de suicídio, confusão mental, abuso de substâncias, disfunções sexuais, queixas somáticas medicamente inexplicáveis, isolamento social... Orgasmo involuntário pode ocorrer na OS, provocando sentimentos ambivalentes constrangedores. Explicar sempre, de forma gentil que ofensa e estupro são responsabilidade do perpetrador e nunca erro da vítima. Reafirme que ela não merece o que ocorreu. Não faça julgamentos morais sobre a vítima. Atenção as famílias que podem estar desorganizadas , especialmente se o ofensor pertence ao grupo familiar. NÃO CAUSAR DANO Deixar que a vítima descreva o incidente, em seu ritmo, sem interrupções, reassegurando a ela CONFIDENCIABILIDADE. NÃO se deve PRESSIONAR A VÍTIMA a dividir suas experiências além do que ela deseja, isto pode POTENCIALIZAR OS EFEITOS DA MEMÓRIA DO TRAUMA. Quando a vítima é CRIANÇA ao se apresentar o examinador deve dizer que está segura e iniciar com perguntas neutras e depois perguntas abertas sobre o porquê da sua vinda e também sobre a ofensa. MONITORAMENTO, SUPORTE. Maioria vai se recuperar com auxilio e proteção das pessoas nas quais confia. AVALIAR RISCOS podem encadear medidas protetivas ( risco suicídio, assassinato, uso de drogas, maus tratos, ...) ATENÇÃO ao risco de REVITIMIZAÇÃO. Perguntese tem um lugar seguro para ir.Orientar serviços comunitários e autoridades legais se apropriado a proteção da vítima. NOTIFICAÇÃO : Políticas de proteção necessitam da notificação para ter dimensão do problema e planejar ações. OBRIGATORIEDADE de COMUNICAR EVIDÊNCIAS ou suspeitas de ofensa sexual contra CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Contato com conselho tutelar, especialmente se risco grave para vítima ou acompanhante. Disque 100, 180 ou 0800(código de área) 1119. ATESTADO MÉDICO deve ser entregue a vítima, prova que pode ser usada até 20 anos após o evento caso busque a justiça. NÃO É RESPONSABILIDADE do serviço de saúde determinar se houve OS e sim cuidar adequadamente(lesões, prevenção doenças, contracepção...), descrever e documentar os dados de história, do exame físico e outras observações de relevância. COLETA cuidadosa de EVIDÊNCIAS que podem ter utilidade posterior deve ser autorizada pelo ofendido ou responsável. Independente do genêro, idade e status social a maioria JAMAIS revela o ocorrido. Revelar é sinal de confiança e esperança no profissional que a atende. O abuso é uma experiência que predispõe a dificuldades na área educacional, sexual e laboral, depressão e transtorno de estresse pós-traumático . Tratamentos psicoterápicos, mesmo após anos da ocorrência da OS funcionam como alívio de sintomas e prevenção da repetição de comportamentos abusivos ativos ou passivos. TODA VÍTIMA TEM MEDO DE DENUNCIAR As respostas adaptativas como o acréscimo de atividade adrenérgica aumenta a chance de sobrevivência ao melhorar o desempenho em situações de luta e fuga e ajuda a memorizar o risco, o que melhora a esquiva em situações semelhantes futuras. Pesquisas OS na infância e adolescência apontam para disfunções límbicas, hipocampais e na amígdala. Sintomas de medo, terror, irritabilidade, hostilidade e depressão devido as alterações no eixo hipófise- hipotalámo- adrenal com hiperativação noradrenérgica e inibição serotoninérgica.Hiperatividade glutamatérgica relacionada a respostas e memórias prolongadas ao trauma, além do efeito neurotóxico reduzindo volume do hipocampo. •REAÇÃO AGUDA AO ESTRESSE 2 DIAS •TRANSTORNO DE ESTRESSE AGUDO(TEA) 4 SEMANAS •TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO MAIS DE 4 SEMANAS 1) REEXPERIMENTAÇÃO(1 ou mais): Memórias intrusivas e desagradáveis Pesadelos relacionados aos eventos Agir ou sentir como se o evento ocorresse novamente. 2) ESQUIVA/ENTORPECIMENTO (3 ou mais): Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas relacionadas. Esforços para evitar atividades, locais ou pessoas que recordem Incapacidade para lembrar algum aspecto do trauma Redução acentuada dos interesses Sensação de distanciamento ou afastamento em relação as pessoas Incapacidade persistente de sentir emoções positivas Crenças negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo. 3) HIPEREXCITABILIDADE (2 ou mais) Perturbação do sono Irritabilidade ou surtos de raiva Problemas de concentração Resposta de sobressalto exagerada Comportamento imprudente ou autodestrutivo Fonte: adaptada do DSMV Vítima com sintomas mais de 2 semanas que não melhorem com apoio e intervenção psicológica. O USO DE BENZODIAZEPÍNICOS TEM DEMONSTRADO AGRAVAR SINTOMAS POSTERIORES DE TEPT. ISRS (paroxetina, sertralina aprovadas FDA TEPT), Venlafaxina e ADT trazem alívio aos sintomas da tríade pós-traumática e da depressão comórbida.Aguardar resposta pelo menos 12 semanas. Sintomas psicóticos= AA(olanzapina, risperidona, quetiapina) Difícil resposta pode trocar antidepressivo ou associar AA, Anticonvulsivantes(Divalproato, CBZ, topiramato e lamotrigina), Clonidina, Prazosina(alfa 1 adrenergico) uso experimental porque inibe na amigdala a consolidação de memórias traumáticas. Zolpidem para insônia e pesadelos. NA PERSISTÊNCIA DE SINTOMAS, SEMPRE REAVALIAR PERSISTÊNCIA DA OS. Diehl, A; Vieira, DN. Sexualidade do Prazer ao Sofrer. Roca 2013 Constantino, M; Gentil, V; Gattaz, WF. Clínica psiquiátrica. Manole 2011. Valadares, GC et all.Cuidado as vítimas de ofensa sexual. Revista Debates em Psiquiatria (revista ABP). Edições de nov/dez de 2013 e jan/fev 2014. Santos, BR. Guia escolar: Identificação de sinais de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Secretaria especial dos direitos humanos.Edur 2011 Souza, CAC; Cardoso, RG. Psiquiatria Forense: 80 anos de prática institucional. 2006
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