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APOSTILA DE DIREITO PENAL I (UNIDADE I) Prof. Lúcio Mendes Cavalcante (2014) DIREITO PENAL I (Aula 1)– FUNDAMENTOS BÁSICOS – Conceito. Estrutura da legislação penal. Relação com as ciências penais. Caracteres. 1.Conceito – Sob o aspecto formal, Direito Penal é um conjunto de normas e princípios que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem aplicadas. É o mais severo de todos os ramos do Direito, visto que é o único que pode aplicar a pena privativa de liberdade. Sob o aspecto sociológico, é mais um instrumento de controle social de comportamentos nocivos à convivência, visando assegurar a disciplina social (missão ou função social). Tal conceito sociológico é compartilhado por uma grande linha do pensamento penal: o funcionalismo. Os funcionalistas tentam identificar a real função do Direito Penal. Para os funcionalistas teleológicos (Roxin e outros), tal função é assegurar a proteção dos bens jurídicos. Para os funcionalistas sistêmicos, a função do Direito Penal é a de resguardar a norma e, por conseguinte, o próprio sistema penal. 2. Estrutura da legislação penal – O Direito Penal se exterioriza através de sua legislação, que basicamente consiste no Código Penal e na legislação especial, esparsa ou extravagante, que são as leis que não estão contidas no Código Penal, a exemplo da lei de crimes ambientais (lei 9608/95) e na lei de armas (lei 10.826/2003). O Código Penal é dividido em duas partes. Na parte geral (art. 1º a 120) o legislador estabelece princípios, institutos e regras gerais sobre aplicação da pena . Na parte especial (art. 121 a 361) são descritas as condutas criminosas e as penas respectivas 3. Relação do Direito Penal com as Ciências Penais em geral – O Direito Penal é uma espécie do gênero Ciências Penais. Estas são formadas, além do Direto Penal, pela Criminologia e pela Política Criminal. Enquanto o objeto do Direito Penal é sobretudo a norma, a Criminologia estuda o comportamento do delinquente e da vítima, os fatores criminógenos e outros temas correlatos, sob a ótica da interdisciplinaridade, colhendo contribuições da Sociologia, da Psicologia, etc. A Política Criminal, por sua vez, dedica-se a buscar melhorar o Direito Penal, fazendo uma análise crítica e propositiva deste, a partir da observação da realidade social e da efetividade do sistema penal, propondo, de forma pragmática, mudanças destinadas a melhorar a legislação e as políticas públicas no campo criminal. 4. Caracteres do Direito Penal – De acordo com a doutrina, o que distingue o Direito Penal dos outros ramos do Direito são basicamente dois caracteres: o caráter predominantemente sancionador (Direito Penal em geral não cria bens jurídicos, mas protege bens dos outros ramos do Direito) e a fragmentariedade ( o campo de ação do Direito Penal deve ser um fragmento, evitando-se, com isso, a maximização de sua atuação e a criação de um Estado totalitário). DIREITO PENAL I (Aula 2)– Evolução histórica dos sistemas punitivos e evolução científica do Direito Penal (Escolas Penais). Pensamento penal na atualidade. 1 – Evolução histórica dos sistemas punitivos – Mesmo antes da estruturação do Direito Penal enquanto ciência, a humanidade já dispunha de sistemas punitivos destinados a garantir o mínimo de ordem social. Tais sistemas atravessaram três períodos, abaixo discriminados: 1.1 Vingança divina - Nos primórdios da humanidade, o homem possuía uma visão mítica e mágica do mundo, de modo que os acontecimentos eram interpretados sempre sob uma ótica religiosa. Deste modo, a violação das regras (tabus) era interpretada como ofensa à(s) divindade(s) de modo que as penas tinham caráter expiatório, visando aplacar a ira divina. As penas mais comuns eram a expulsão do grupo (desterro) e a morte. 1.2 Vingança privada – Neste período, os fortes laços comunitários faziam com que a ofensa ao bem jurídico da vítima representasse uma ofensa ao grupo social desta. Assim, a consequência era a “vingança de sangue”, onde o grupo do atingido poderia atacar o grupo do ofensor, de forma violenta. Ainda neste período, dois fatos marcam uma evolução neste sistema: a lei de Talião, que trouxe uma noção de proporcionalidade, e o sistema de composição, que permitia a conciliação entre vítima e ofensor, mediante reparação pecuniária do dano. 1.3 Vingança pública – Com a evolução política da sociedade, o Estado passa a titularizar o direito de punir e as infrações eram interpretadas como ofensa ao soberano e à sua autoridade. As penas eram cruéis neste período. 1.4 Período humanitário – Reagindo às arbitrariedades e desumanidades do absolutismo, surge, sob a influência do iluminismo, o período humanitário. A obra representativa deste período é o livro dos delitos e das penas, de Beccaria. Este livro prenuncia o Direito Penal moderno ao anunciar princípios clássicos, como a legalidade, a proporcionalidade e precisão e das penas, a vedação da tortura, entre outros. Tal período coincide com o início da escola clássica do Direito Penal, a seguir examinada. 2. Evolução científica do Direito Penal (Escolas penais) – A partir do período humanitário, começou-se a delinear um modelo racional de sistema penal, surgindo, assim, as escolas penais paulatinamente, a partir do final do final século XVIII, início do século XIX. Tais correntes de pensamento visavam explicar a legitimidade do direito de punir, a natureza do delito e a finalidade da pena. 2.1 Escola clássica (Carrara, Beccaria) - Defendia que havia um sistema de normas anteriores ao Estado, ditadas pela razão ou pelo contrato social, que servia como contraponto para conter a tirania deste. Sofreu forte influência do iluminismo. Baseava-se na noção de livre arbítrio como fundamento da punibilidade e defendia o estabelecimento de uma série de ideias liberais no campo penal, a exemplo do princípio da reserva legal. 2.2 Escola positiva (Lombroso, Ferri, Garofalo) – Seu surgimento , no Sec. XIX, coincide com o nascimento dos estudos da sociologia e antropologia, sofrendo influência das ideias de Darwin. Ao apontar a ineficiência da escola clássica para conter a criminalidade, a escola positiva resolve aplicar o método experimental ao Direito Penal (relação causa e efeito). Inspirou a criação da criminologia. 2.3 Escola correcionalista (Roeder, Concepcion Arenal, Dorado Montero, Jiménez de Asúa) - Surgiu na Alemanha, por volta de 1839, com a publicação de um trabalho do professor Roeder. Defendia que como a pena visa corrigir a injusta vontade do criminoso, não poderia ter prazo fixo. Para Arenal, “não existem criminosos incorrigíveis, mas incorrigidos, de modo que a pena teria fim terapêutico. 2.3 Tecnicismo jurídico penal (Rocco) – Surge na Itália, em 1910, a partir de uma aula do professor Rocco. Para ele, o estudo do Direito Penal se restringe à análise das leis vigentes (direito positivo), através do método técnico jurídico, utilizando a exegese para encontrar o sentido das normas, embora não exclua a necessidade de análise crítica das normas. 3- Panorama penal na atualidade e princípios do Direito Penal O Direito Penal contemporâneo está em crise, gravitando entre teorias diversas elaborada no âmbito das Ciências Penais. As principais linhas de pensamento que orientam as reformas penais e as interpretações das normas são: a) Garantismo – Corrente de pensamento lançada por Luigi Ferrajoli (autor de Direito e razão). Baseia-se na ideia de que devem ser criadas barreiras ao exercício do poder punitivo do Estado, garantindo-se um Direito Penal mínimo, posto que este, na concepção dos garantistas, traz mais problemas do que soluções. Seu livro traz os 10 axiomas ou regras do sistema garantista,que está alicerçado na ideia de maximização das garantias constitucionais, na descriminalização de condutas sem lesividade (exs: crimes de sedução e adultério) e descarcerização (evitar a aplicação de pena prisional). b) Funcionalismo – Surgiu na Alemanha, por volta de 1970, como alternativa destinada a alcançar a real missão do Direito Penal, que é buscar o normal funcionamento da sociedade, mantendo a ordem e a paz social. Divide-se em duas linhas: para o funcionalismo teleológico ou moderado, de Claus Roxin, deve-se buscar a proteção efetiva dos bens jurídicos (ex: liberdade, vida, etc). Não se opõe, desta forma ao garantismo. Para o funcionalismo sistêmico (Ghünter Jakobs) a função do Direito Penal é aplicar a norma, pois somente a sua exemplar aplicação confere autoridade ao sistema. Uma das propostas mais polêmicas de Jakobs é a do chamado direito penal do inimigo, que sustenta que o Direito penal clássico não resolve os problemas da criminalidade moderna, a exemplo do terrorismo e dos crimes que põem em risco a segurança e a vida de toda a coletividade. Deste modo, este jurista defende um Direito Penal com flexibilização de garantias dos acusados (inimigos) e a antecipação das ações aos riscos(punição de atos preparatórios), para possibilitar a proteção eficaz da sociedade. c) Abolicionismo – Iniciada na Holanda com Louk Hulsman e na Noruega com Nils Christie e Thomas Mathiesen. Sustentam a abolição total do sistema penal, já que este representa um mal em si mesmo, não resolvendo os conflitos sociais mas, ao revés, causando outros conflitos e ainda mais sofrimento. Os conflitos deveriam ser solucionados pela própria comunidade. É uma ideia utópica no atual estágio da humanidade e tem poucos adeptos. DIREITO PENAL I (Aula 3)–Princípios básicos do Direito Penal 1. Princípios – Princípios são vetores ou normas de conteúdo amplo e dotada de superior positividade, dirigidos à criação, interpretação e aplicação das demais normas. Podem ser explícitos ou implícitos. Dentre os princípios básicos do Direito Penal destacam-se: a)Intervenção mínima – Norteia-se pelas características da subsidiariedade e fragmentariedade, limitando a atuação do Direito Penal, que só deve intervir em último caso. b)Principio da exteriorização do fato – O Direito Penal tem de se preocupar com o fato exteriorizado em ações, não com o ser, com o estilo de vida do cidadão. O art. 2º do CP dá a entender apenas os fatos são objeto do Direito Penal. c)Responsabilidade subjetiva – Só o agente que atua com dolo ou culpa pode ser punido. DIREITO PENAL I (Aula 4)–Fontes do Direito Penal. Lei penal e sua interpretação. As fontes do Direito Penal podem ser materiais, ou fontes de produção, que geram ou criam tal sistema normativo e formais, que são formas de manifestação ou exteriorização do Direito Penal, ou seja, elementos através dos quais é possível conhecer o Direito Penal. Como regra, a única fonte material, produtora de Direito Penal, é a União (ler art. 22, I da CF). Excepcionalmente, o Estado poderá ser autorizado a legislar sobre questões específicas desta matéria, desde que haja lei complementar neste sentido (art. 22, parágrafo único). A fonte formal pode ser imediata ou direta, (direta), a qual revela o Direito vigente de forma direta ou mediata (indireta), que ajuda a compreender ou interpretar as fontes formais imediatas. As fontes formais imediatas do Direito penal em geral são: a lei, Constituição, os tratados internacionais em matéria de Direitos Humanos, súmula vinculante e costume. As fontes formais mediatas são a doutrina e a jurisprudência. DIREITO PENAL I (Aula 5) – Princípios da legalidade e da anterioridade. Tempo do crime. Conflito de leis no tempo. 1.Princípios básicos em relação à aplicação da lei penal (art. 1º do CP)– Dois princípios explicitados na CF e no CP orientam a aplicação da lei penal. São eles: a) Estrita legalidade ou reserva legal – Não existe pena sem lei definidora. Tal princípio é cláusula pétrea (art. 1° e 5°, XXXIX da CF). Frise-se que só lei federal pode definir crimes e cominar penas; b) Anterioridade – A pena deve ser prevista anteriormente à prática do fato que se pretenda punir (art. 1° e 5°, XXXIX da CF) 2 –Tempo do crime (art. 4º do CP) – Para se determinar o momento do crime, importa identificar o momento da ação ou omissão, não importando o momento do resultado. Assim, se um menor de 17 anos dispara contra a vítima na véspera de completar 18 anos, sendo esta conduzida ao hospital e falecendo uma semana depois, não responde por homicídio, mas sim pela prática de ato infracional. Obs: para a doutrina, o horário de verão é ficção, não se aplicando ao Direito Penal. 3. Retroatividade e ultratividade – Por força do disposto no art. 1º do CP, em regra a lei só regula fatos ocorridos na sua vigência. Em alguns casos, contudo, ela pode ser extra-ativa, ou seja, regular fatos anteriores ou posteriores à sua vigência. Vejamos a explicação de de SANCHES: “Temos, portanto, a extra-atividade como gênero, de onde seriam espécie a “ultra-atividade” e a “retroatividade”. De acordo com GRECO, “Fala-se em ultra-atividade quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante sua vigência; retroatividade seria a possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.” É o que nos mostra o art. 2º do CP. Quando uma lei nova surge (sucessão de leis) podem ocorrer dúvidas quanto à aplicação da lei penal (conflito de leis no tempo) em relação a fatos ocorridos neste período. Quatro situações podem surgir: a)Abolitio Criminis – Lei nova descriminaliza conduta que era tida como criminosa, a exemplo da alteração do CP que eliminou os delitos de sedução e adultério. Neste caso, de acordo com o art. 2°, a lei pode retroagir para beneficiar o réu, mesmo que haja decisão transitada em julgado. b) Novatio legis in mellius (Lex mitior) – Lei nova melhora de algum modo a situação do réu. Não se trata de extinção do crime, mas de melhoria da situação penal, a exemplo de lei que reduz a pena ou cria benefício penal. Neste caso, a lei também pode retroagir para atingir situações anteriores à sua vigência, mesmo havendo decisão transitada em julgado. c) Novatio legis in pejus (Lex gravior) – Lei nova piora de algum modo a situação do réu, a exemplo de imposição de aumento de pena. Não retroage, aplicando-se apenas aos fatos ocorridos em sua vigência. d) Novatio legis incriminadora – Nova lei estabelece que conduta anteriormente lícita passa a ser crime. A lei não retroage. Obs1: No caso do crime continuado (art. 71 do CP) e do crime permanente, aplica-se a súmula 711 do STF, que estabelece que a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência. Obs2: Questão controvertida é a de saber se, no caso de conflito de leis no tempo, seria possível a combinação de leis, utilizando-se a parte mais benéfica de uma lei e combinando com a parte mais benéfica de outra para resolver uma situação concreta. Há duas correntes sobre o tema. Para a primeira, tal prática é proibida, pois o magistrado passa a criar lei, atuando como legislador, criando uma terceira lei( Nelson Hungria e outros). Esse é o entendimento do STJ, consubstanciado na Súmula 501, que estabelece não ser possível combinar a pena da lei 6369/76 (antiga lei de drogas) com os novos benefícios para réus primários e de bons antecedentes da lei 11.343/2006 (nova lei de drogas) a fim de favorecer réus. Para uma segunda corrente é possível, pois se o magistrado pode o mais ( ignorar uma lei e aplicar outra), ele pode o menos (aplicar em parte uma e outra).(Greco, Bitencourt e outros).O STF chegou a decidir deste modo (HC 97.128 de 08/09/2009) , contudo, posteriormente foi publicada decisão na linha da primeira corrente (Recurso Ordinário em HC 101278 RJ. Rel. Carmem Lúcia). 4. Leis excpecionais e temporárias – São leis autorevogáveis, produzidas para gerar efeitos por tempo mais ou menos determinado.Na lei temporária, o texto já traz a indicação do prazo de validade (Ex: lei da copa, arts. 31,32 33). Na lei excepcional, a validade está condicionada a uma situação de anormalidade (Ex: conflito civil, catástrofe natural, etc). Tais lei produzem ultratividade, fazendo com que aqueles que cometeram crime durante sua vigência continuem a responder por eles mesmo após a expiração de sua validade (art. 3° do CP) DIREITO PENAL I (Aula 6)– Lei penal no espaço 1.Considerações preliminares – A lei penal tem um âmbito territorial de validade, ou seja, não é aplicável em todo lugar, visto que cada Estado é dotado de soberania para regulamentar os fatos ocorridos em seu território. Desse modo, como regra os países adotam o princípio da territorialidade, sendo esta a regra do nosso CP (art. 5°). Excepcionalmente, contudo, admite-se a aplicação de nossa lei aos casos ocorridos no estrangeiro (art. 7° do CP). 2. Princípio da territorialidade – Estabelece que a lei brasileira aplica-se aos crimes cometidos em nosso território (soberania). 2.1Conceito de território – Espaço onde Estado exerce sua soberania. Compreende o espaço territorial delimitado pelas fronteiras (mesmo rios, lagos, mares interiores e seu subsolo); mar territorial ao longo da costa, com 12 milhas marítimas de largura (lei 8617/93); plataforma continental, medindo 200 milhas a partir do litoral (zona econômica exclusiva); espaço aéreo equivalente; navios e aeronaves particulares em alto mar ou no espaço aéreo correspondente; navios públicos onde se encontrem; rios e lagos internacionais (cortam dois ou mais países sem separá-los), no trecho que passa pelo Brasil. 2.2 Território brasileiro por extensão – É aquele indicado no art. 5°,§1° do CP. 2.3 Princípio adotado pelo CP - Nosso Código adotada o princípio da territorialidade mitigada. Vejamos as exceções à territorialidade, em que a lei brasileira se aplica a crimes no estrangeiro (hipóteses de extraterritorialidade indicadas no art. 7° do CP): a) Princípio da personalidade ou do nacionalidade – No princípio da nacionalidade ativa (art. 7°, I, d e II, b do CP) o agente é punido pela lei brasileira independente na nacionalidade do sujeito passivo e do bem violado. No princípio da nacionalidade passiva, aplica-se a lei brasileira quando a vitima é brasileira (7°, §3°) b)Princípio do domicílio –O agente deve ser julgado de acordo com a lei do pais em que é domiciliado (art. 7°, I,d) c) Princípio da defesa ou proteção- Aplica-se a lei brasileira mesmo a crimes praticados no estrangeiros, desde que ofendam bens brasileiros (art. 7°, I, a,b,c) d) Princípio da Justiça Universal – Característico da cooperação penal internacional. Visa assegurar a corresponsabilidade das nações no combate a certos crimes, como na repressão a crimes como tráfico e genocídio (art. 7°, II,a). e) Princípio da representação, pavilhão ou bandeira – Descrito no art. 7°, II, c do CP. 3. Lugar do crime- Em relação ao lugar do crime, o CP adota a teoria da ubiquidade, considerando praticado o crime tanto onde foi praticada, como onde se produziu o deveria produzir o resultado (art. 6° do CP).Serve para regular os crimes à distância. Ex: alguém atira contra a vítima em solo brasileiro, esta atravessa fronteira do Paraguai e lá morre. Lugar do crime é tanto lá quanto aqui. Basta tocar nosso território para despertar nossa soberania. 4-Extraterritorialidade – A aplicação da lei brasileira a crimes ocorridos no estrangeiro pode se submeter a determinadas condições (extraterritorialidade condicionada) ou estar isenta de qualquer condição (extraterritorialidade incondicionada). 4.1 Extraterritorialidade incondicionada - Art. 7°, I – a, b, c, d, §1 4.2 Extraterritorialidade condicionada - Art. 7°, II e §3° §2°. Ressalte-se que todas as condições são cumulativas, exigindo-se todas para a aplicação da lei brasileira. DIREITO PENAL I (Aula 7)– Disposições gerais sobre cumprimento de pena, contagem de prazo e aplicação das normas do Código Penal 1.Considerações gerais – Os arts. 8°, 9°, 10, 11 e 12 do Código Penal trazem regras gerais referentes à aplicação da legislação penal. O art. 8° esclarece que sempre que o réu venha a ser punido no Brasil e no estrangeiro por um mesmo fato ( o que é possível, tendo em vista eventual conflito normativo entre subprincípios extraterritoriais adotados no Brasil e subprincípios territoriais adotados em outro país), deve-se abater a penal cumprida no estrangeiro do cálculo da aplicada no Brasil. O art. 9° deixa claro que, em virtude da soberania nacional, a decisão de autoridade judiciária estrangeira só pode produzirá efeitos no Brasil se for homologada pelo Judiciário brasileiro, ou, mais precisamente, pelo STJ (art. 105, I, i, da CF). O art. 10 estabelece regras referentes à contagem do prazo penal. Pela regra ali exposta, se alguém é condenado a 30 dias de prisão e for preso no dia 10 de outubro, deverá ser solto no dia 09 de novembro (conta-se o dia de início). Por sua vez, os meses e os anos contam-se. Ex: A é condenado a um ano de prisão, sendo detido em 10 de março de 2011. Terá cumprido sua pena em 09 de março de 2012. O art. 11, complementa a regra anterior, estabelecendo que as frações de pena devem ser desprezadas, de modo que não importa a hora em que o sujeito foi preso, contando-se o dia da prisão por completo. Por fim, o art. 12 deixa claro que o Código Penal se aplica como norma geral em relação à legislação extravagante, exceto quando esta dispuser de modo diverso.Ex: as regras referentes à prescrição (art. 109) se aplicam à lei de crimes ambientais. DIREITO PENAL I (Aula 7)– Interpretação das normas penais e conflito aparente de normas 1.Interpretação e aplicação das normas penais – Interpretar é buscar o sentido e o alcance de uma norma, aplicar é concretizar, em um dado caso concreto, os elementos fornecidos pelo processo hermenêutico ou interpretativo. Com relação à interpretação, o Direito Penal utiliza as mesmas técnicas e métodos hermenêuticos aplicáveis aos demais ramos do Direito, a exemplo dos métodos gramatical, teleológico, lógico, sistemático, etc. Contudo, uma observação deve ser feita: havendo lacuna normativa em uma determinada situação, esta só poderá ser suprida pela analogia in bona partem (a favor do réu), não se admitindo, portanto, a analogia em normas penais incriminadoras (princípios da legalidade e da anterioridade. Obs: Não se deve confundir analogia (aplicação de norma semelhante em caso de omissão normativa sobre determinado caso) com interpretação analógica (busca do sentido de expressões genéricas em normas já existentes). Exemplo de interpretação analógica pode ser observado na parte final do art. 121, §2°, I, III e IV). 2. Conflito aparente de normas – O conflito aparente de normas é um fenômeno que exige um esforço interpretativo para evitar a imposição de dupla penalidade a agentes que praticam um único fato delituoso, ou que visam a um único objetivo ilícito, ou seja, para um dado fato, aparentemente existem duas ou mais normas aplicáveis.São seus requisitos: unidade de fato, pluralidade de normas, aplicabilidade aparente das várias normas, aplicabilidade real de apenas uma das normas. Tal conflito não é real e pode ser resolvido através da utilização dos seguintes princípios: 2.1Princípio da especialidade – Aplica-se a norma especial ao invés da geral. A normaé espacial quando contém todos os elementos da geral e mais os especializantes (elementos que detalham mais a conduta). Ex: Homicídio e infanticídio (art. 121 e art. 123 do CP), contrabando e tráfico de drogas (art. 334 do CP e lei 11343/06). 2.2Princípio da subsidiariedade – Aplica-se a norma primária ao invés da subsidiária, A subsidiária é soldado de reserva, aplicando-se quando não couber a primária. A subsidiariedade pode ser expressa (art. 132, 238, 239, 249 e 307 do CP) e tácita (a lei não diz, mas a norma mais grave afasta a reserva. Ex: art 311 do CTB. Se o agente matar alguém incide no art. 302 da mesma lei. Para Greco tal princípio é dispensável, posto que ele entende que o conflito poderia ser resolvido apenas utilizando o princípio da especialidade. Para ele, se a norma subsidiária é aplicada, não pode ser aplicada a mais grave, o que decorre, no fim das contas, da especialidade. 2.3Princípio da consunção – Dá-se quando um crime é meio necessário ou fase de preparação ou execução de outro crime. Aqui a relação é entre a parte e o todo.Assim, a consumação absorve a tentativa e o homicídio absorve a lesão, o furto em casa habitada absorve a violação de domicílio. 2.3.1Antefato impunível – Ato delituoso antecedente praticado pelo agente a fim de realizar conduta delituosa efetivamente desejada. Neste caso, por medida de política criminal o fato anterior é absorvido pelo posterior, efetivamente visado pelo agente. Ex: Assinatura falsa em cheque é absorvido pelo estelionato posterior, posto que o que o agente pretendia era obter a vantagem (súmula 17 do STJ), porte de arma de fogo destinada a matar um desafeto é absorvido pelo homicídio. 2.3.2Pós-fato impunível – Ato praticado pelo agente após a consumação do crime, considerado impunível por medida de política criminal. Ex: Destruição da coisa pelo agente após havê-la furtado. Neste caso, o agente só responde por furto (art. 155 do CP) e não pelo dano (art. 163 do CP). 2.3.3Crime progressivo – Espécie de crime caracterizado pelo fato do agente ter de passar necessariamente por um “crime meio” para alcançar o “crime fim”. Por exemplo, não se pode matar alguém sem lesioná-lo antes. Assim, o homicídio é crime progressivo e absorve a lesão, 2.3.4Progressão criminosa – Neste caso, o dolo inicial era dirigido a certo resultado e durante a execução é alterado, passando o autor a desejar resultado mais grave. Ex: agente quer lesionar, e em certo momento, após começar a agredir, resolve matar. A solução é a mesma do crime progressivo e o agente responderá por delito único de homicídio. 2.4Princípio da alternatividade - Nos crimes de ação múltipla ou conteúdo variado, o agente responde por um só crime. Ex: se o agente importou, guardou em depósito e depois vendeu drogas, responde por crime único (art. 33 da lei 11.343/06) 2.5 Conflito aparente de normas na jurisprudência – Seguem alguns exemplos práticos em que os Tribunais aplicaram os princípios do conflito aparente de normas: STF. Crimes de trânsito. Concurso aparente de normas e ação penal. CTB, arts. 303, parágrafo único, e 309. CP, art. 101. O crime de perigo - a exemplo daquele de dirigir veículo sem permissão ou habilitação (CTB, art. 309) - é absorvido, conforme o princípio da subsidiariedade, pela ocorrência do crime de dano qual o de lesões corporais culposas na direção de veículo (CTB, art. 303) -, convertendo-se então a falta de habilitação do agente em simples causa especial de aumento da pena (CTB, art. 303, parágrafo único): por isso, nessa hipótese - que não se confunde com a do crime complexo prevista no art. 101, CP - f (...)(Doc. LEGJUR 103.1674.7283.8600) STJ. Crime contra a fé pública. Falsificação de documento público. Petrechos de falsificação. Concurso aparente de normas. Ant factum impunível. Não há Concurso material de crimes na hipótese em que o agente fabrica, adquire, fornece, possui ou guarda objetos destinados à falsificação de papéis públicos, pois a segunda consubstancia mero ato preparatório ou ant factum impunível. (...) (Doc. LEGJUR 103.1674.7263.7900)
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