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Resumo: “A GRAMÁTICA FUNCIONAL – Maria Helena de Moura Neves” (Cap.6)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
	
Resumo: “A GRAMÁTICA FUNCIONAL – Maria Helena de Moura Neves”
Docente: Luciana Beatriz Ávila
Discentes: Sara Fernandes, 78752
Raquel Lopes, 78708
Yasmin Lana, 78715
6.1 Conceituações e limites
Gramaticalização é um termo que não se define num sentido exatamente igual nos diversos estudiosos. Entretanto, segundo Traugott e Heine (1991) pode-se dizer que a parte da teoria da linguagem tem por objetivo a interdependência entre langue e parole, entre o categorial e o menos categorial, entre o fixo e o menos fixo na língua. O estudo da gramaticalização, portanto, põe em evidência a tensão entre a expressão lexical, relativamente livre de restrições, e a codificação morfossintática, mas sujeita a restrições, salientando a indeterminação relativa da língua e o caráter não discreto de suas categorias.
Na própria cunhagem do termo que designa esse tipo de fenômeno há divergências. A primeira delas na consideração da gramaticalização diz respeito, exatamente, à avaliação do campo primário no qual o fenômeno tem de ser colocado: diacronia ou sincronia?
Uma questão de grande pertinência nos estudos de gramática funcional é essa oposição entre sincronia e diacronia. É obvio que ver a língua em seu funcionamento implica vê-la a serviço das necessidades dos usuários e, a partir daí, em constante adaptação. Com isso, não há necessidade de se isolar uma sociolinguística que coloque os fatos de evolução em dependência da estruturação econômico-cultural.
Dizem Heine et alii (1991) a gramaticalização foi vista principalmente como parte da linguística diacrônica, como um meio da analisar a evolução linguística e reconstruir a história de uma determinada língua ou grupo de línguas, ou, ainda, de relacionar as estruturas linguísticas do momento com os padrões anteriores do uso linguísticos.
Hopper & Traugott (1993) indicam duas “perspectivas” de estudo da gramaticalização: a “histórica”, que estuda as origens das formas gramaticais, bem como as mudanças típicas que as afetam, e a ‘’mais sincrônica”, que estuda o fenômeno do ponto de vista de padrões fluidos de uso linguístico.
Heine et ali tratam a gramaticalização defendendo que é injustificável e impraticável uma separação rígida entre diacronia e sincronia, já que uma não pode ser entendida sem a outra.
Explicando a gramaticalização vista na diacronia Givón (1991) aponta que deve haver uma distinção rigorosa, de um lado, a semântica e a pragmática, ligadas à extensão analógica funcional, e, de outro, a fonologia e a morfossintaxe, ligadas ao ajustamento linguístico estrutural. Na primeira perspectiva – a mudança diacrônica -, diferentemente, o ajustamento estrutural tende a ligar-se a uma reanálise funcional elaborativo-funcional: o ajustamento no nível do código vem após – às vezes bem após – alterações anteriores ao nível funcional.
É fácil mostrar a existência de palavras funcionais originadas em palavras de conteúdo lexical e que constituem, pois, o que se poderia considerar como as instâncias prototípicas da “gramaticalização”. São casos por exemplo, como o das preposições durante e mediante, das locuções prepositivas apesar de, a par de.
A intervenção da pragmática na consideração do processo de gramaticalização, defendida por Givón (1979), configura a visão do processo como uma reanálise não apenas do material lexical, mas também dos padrões discursivos.
Heine et alii (1991) abrigam sob o termo gramaticalização tanto o percurso de um morfema do estatuto lexical para o gramatical, como o percurso do estatuto menos gramatical para o mais gramatical. Do mesmo modo, Lichtenberk (1991) afirma que o fenômeno abriga não apenas a evolução de um morfema lexical para um morfema gramatical, como também a aquisição de novas propriedades por um elemento gramatical.
Heine & Reh (1984) mostram que os três níveis da estrutura linguística afetados pela gramaticalização – o funcional, o morfossintático e o fonético – em geral se arranjam, na gramaticalização.
Diz Hopper (1991) que a definição de gramaticalização é mais problemática se se tem como objeto de investigação uma única língua, vista isoladamente, e que, de uma perspectiva que leve em conta o estudo de mais de um língua , é possível chegar-se a regularidades emergentes que têm potencial para instâncias de gramaticalização.
6.2- Princípios e efeitos
Hopper (1991) afirma que a gramática de uma língua é sempre emergente, ou seja, estão sempre surgindo novas funções, valores e usos para formas já existentes. Com isso, nesse processo de emergência, é possível reconhecer graus variados de gramaticalização que uma nova forma vem a assumir nas novas funções que passa a executar, sendo necessário, então, identificar os primeiros estágios do processo de mudança. Assim, os princípios em questão identificam o processo em seu estado incipiente, ou seja, em seu estágio inicial. Hopper propõe cinco princípios que, segundo o autor, atuam nos estágios iniciais de gramaticalização. Os cinco princípios de gramaticalização discutidos por Hopper são: estratificação, divergência, especialização, persistência e descategorização. Vamos a eles: a) Estratificação: a estratificação não surge com o intuito de eliminar as formas antigas e substituí-las pelas novas formas, mas surge justamente para acumular em um mesmo domínio funcional, as formas sutilmente diferenciadas, ou seja, formas novas e antigas coexistem. Esse princípio nos mostra a utilização de uma forma que desempenha mais de uma função; b) Divergência: esse princípio dita que a unidade lexical que dá origem ao processo de gramaticalização pode manter suas propriedades originais, preservando-se como item autônomo, e, assim, estar sujeita a quaisquer mudanças inerentes a sua classe; c) Especialização: este princípio tem relação direta com a questão do estreitamento da escolha de formas pertencentes a um mesmo domínio, isto é, relaciona-se com o número menor de opções para se codificar determinada função, à medida que uma dessas opções começa a ocupar mais espaço, porque é a gramaticalizada; d) Persistência: este é o princípio que prevê a manutenção de alguns traços semânticos da forma-fonte na forma gramaticalizada, o que pode ocasionar restrições sintáticas para esse novo uso; e) Descategorização: esse princípio remete à perda dos marcadores opcionais de categorialidade e autonomia discursiva. 
Já Lehmann (1985) define a gramaticalização como um processo que transforma lexemas em formativos gramaticais e formativos gramaticais em mais gramaticais ainda. Lehmann propõe três aspectos que medem a autonomia de um signo, que são peso, coesão e variabilidade, e que, juntos, verificam o grau de autonomia ou não autonomia de um signo, o que acaba medindo também o seu grau de gramaticalidade. Lehmann propõe cinco princípios: a) paradigmatização: tendência das formas gramaticais de se organizarem em um paradigma; b) Obrigatoriedade: tendência de formas opcionais a se tornarem obrigatórias; c) Condensação: encurtamento das formas;
d) Coalescência: justaposição do item independente, ou seja, colapso conjunto de formas adjacentes; e) Fixação: ordem linear livre, que se torna fixa.
	Na contraparte, a gramaticalização pode ser vista do ponto de vista de seus efeitos – ou seja, da emergência de novas categorias – mais do que do ponto de vista do processo em sim. As gramáticas das línguas naturais, afinal, são “produtos de desenvolvimento históricos, entre eles a gramaticalização”, afirma Lichtenberk (1991), que aponta três consequências prototípicas decorrentes do processo histórico da gramaticalização: a) Emergência de uma nova categoria gramatical; b) Perda de uma categoria existente; c) Mudança no conjunto de membros que pertencem a uma categoria gramatical.
Esses três tipos são historicamente ligados: quando elementos linguísticos adquirem novas propriedades, eles se tornam membros de novas categorias, isto é, ocorre uma reanálisecategorial; essa reanálise é, necessariamente, abrupta, já que um mesmo elemento não pode ser simultaneamente membro de duas categorias gramaticais distintas, embora diferentes ocorrências de um morfema possam exibir propriedades características de diferentes categorias, ou seja, propriedades da categoria velha e propriedades da categoria nova. 
O termo gramaticalização pode ser interpretado como “criação de uma nova gramática”, uma variação que afeta uma unidade linguística só é considerada gramaticalização se se faz na direção de uma sujeição maior dessa unidade às regras da gramática. Três questões estão aí implicadas, segundo o autor: 1) há passagem de um elemento menos gramatica para um elemento mais gramatical; 2) há perda de substância tanto fonológica como semântica, pois as restrições de seleção se afrouxam; 3) há diminuição de liberdade de manipulação do elemento; ele se se integra num paradigma, torna-se cada vez mais obrigatório em certas construções e ocupa uma posição fixa.
Craig (1991) afirma que “a gramaticalização é o processo evolutivo pelo qual surgem morfemas gramaticais”. Entretanto, o processo não se restringe ao campo da morfologia, atingindo, também, a sintaxe. O termo sintaticização de Givón (1979) denomina o processo envolvido nos casos estudados por Heine e Reh (1991), processos nos quais uma ordem de palavras pragmaticamente motivada se fixa em construções sintáticas e em padrões de concordância abrigados na gramática.
A noção de gramaticalização tem relação direta com a noção de que as gramáticas fornecem os mecanismos de codificação mais econômicos para aquelas funções da linguagem que os falantes mais frequentemente precisam cumprir. A motivação para a gramaticalização, por outro lado, está tanto nas necessidades comunicativas não satisfeitas pelas formas existentes, como na existência de conteúdos cognitivos para os quais não existem designações linguísticas adequadas. 
Quanto à questão da mudança semântica que acompanha a gramaticalização, uma das maneiras de se tentar obter a caracterização é focalizar a transição da forma fonte para a forma de chegada com base na distinção lógica entre intenção e extensão: na gramaticalização, o conteúdo intencional do conceito é reduzido, enquanto a extensão é ampliada. O processo de gramaticalização implica uma mudança semântica e para tentar explicar tal fenômeno, Willet (1988) defende três hipóteses: 1) A Extensão Metafórica - O significado mais concreto de uma expressão é usado para descrever uma expressão mais abstrata. 2) A Inclusão - Os significados gramaticais são parte da estrutura semântica interna presente na origem lexical. 3) Implicatura – O meio para se criar significados secundários, que passam gradualmente a significados primários é a convencionalização das implicaturas.
Com base na investigação do comportamento de diferentes línguas, Willet conclui que a hipótese da extensão metafórica é a mais plausível. 
 
6.3- A abstratização, a metáfora.
Na gramaticalização, sempre se afirma que o processo envolve a abstratização. Na discussão sobre processos cognitivos, o que está na base da gramaticalização é a abstração metafórica, que serve para relacionar conceitos mais abstratos a conceitos mais concretos por meio dos domínios conceptuais. A gramatização já foi considerada um subtipo da metáfora, porém, essa vinculação não é necessária.
O princípio da gramaticalização são os conceitos concretos empregados para entender, explicar ou descrever fenômenos menos concretos, e entidades claramente delineadas. Experiências não físicas são entendidas em termos de experiências físicas, tempo em termos de espaço, causa em termos de tempo, relações em termos de processos cinéticos ou de relações espaciais, etc. É nesse sentido que a gramaticalização é um processo de base metafórica, já que sua função primária é a conceptuação obtida na expressão de uma coisa por outra.
A análise das mudanças semânticas pode ser feita numa leitura metafórica, segundo o arranjo linear das categorias conceptuais. Indica-se, nesse esquema, que qualquer elemento da escala pode conceptualizar um elemento à sua direita: pessoa> objeto> tempo> processo> qualidade. Não se restringem a gramaticalização à metaforização. A gramaticalização é explicada, então, não como uma transição que se faz com entidades discretas, mas como uma extensão gradual do uso de uma entidade original. Dois mecanismos ai envolvidos: transferência conceptual (que é metafórica e se relaciona com diferentes domínios cognitivos) e reinterpretação induzida pelo contexto (que é metonímica e resulta em conceitos interseccionados).
Ocorre que, em determinados contextos, as expressões metafóricas podem ser entendidas no sentido não transferido, e o resultado é uma ambiguidade, ou seja, é a homonímia entre o significado literal e o transferido. Vê-se então, que as transferências ocorridas são mais obviamente entendidas em termos de metáfora, mas há outros fatores intervenientes no processo de gramaticalização, entre eles a metonímia.
Pode-se afirmar que a mudança semântica de base metafórica se relaciona com o problema da representação, enquanto a mudança de base metonímica se associa com a resolução do problema de ser informativo e relevante na comunicação. Metáfora e metonímia são, assim, componentes do mesmo processo (a gramaticalização), que leva dos conceitos gramaticais concretos para os abstratos. metonimicamente, o processo é construído numa escala de entidades contíguas que são metonimicamente relacionadas; metaforicamente, o processo contém categorias descontínuas, como espaço, tempo ou qualidade.
 Não se pode entender a gramaticalização como dessemantização, ou descoramento semântico, já que nela pode estar envolvida uma acentuação do significado pragmático, especialmente uma acentuação do envolvimento do falante, uma subjetivação. Se a gramaticalização, de um lado, pode ser vista como generalização, e, portanto, como perda de alguns traços semânticos, de outro envolve algum ganho, com novos itens gramaticais representando funções não totalmente encontradas em seus antecessores. Ou seja, traços semânticos podem não desaparecer, simplesmente, mas ser substituídos por traços pragmáticos.
O conceito de protótipo liga-se à teoria da categorização. Ele resulta de testes experimentais pelos quais informantes postos diante de uma categoria de objetos e de diversos possíveis membros dessa categoria, escolheram o que consideraram o representante exemplar da categoria, escolheram o que consideraram o representante exemplar da categoria, o protótipo, e a seguir, classificaram os demais pelo grau de distância desse objeto. A teoria da categorização postula que as categorias não são completamente homogêneas, já que não há propriedades comuns a todos os membros que integram cada uma delas. 
Há duas maneiras de entender o termo protótipo. Alternativamente, podemos entender o protótipo como uma representação esquemática do núcleo conceptual de uma categoria, e nesse caso, não se diz que uma entidade particular é o protótipo, mas que ela exemplifica o protótipo. Mesmo no primeiro modo de entender, é necessária uma representação mental do protótipo, para que o falante seja capaz de identifica-lo em diferentes ocasiões. A proposição de protótipos dentro da linguística entende que o que determina uma categoria natural não é necessariamente um traço particular, mas um bloco e traços característicos. Próximo dos protótipos está os membros da categoria que apresentam grande número de traços característicos, e mais distantes estão os membros que apresentam menor número desses traços. A mudança metafórica dos protótipos é, a essência da gramaticalização, o processo pelo qual a morfologia gramatical se desenvolve a partir dos itens lexicais.

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