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Concorrencia imperfeita e comercio internacional

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Economias de escala,
concorrencia imperfeita e
comercio internacional
No Capitulo 3,assinalamos que ha dois motivos pelos quais os paises se especializam e fazem comercio.
Primeiro, os pais~s diferem quanto~seus recursos ou tecnologia e se especializam nas coisas que fazem melhor;
~gundo, as economias de escala (ou retornos crescentes) tornam vantajoso para cada pais se especializar na
produc;:ao de uma gama restrita de bens e servic;:os.Os tres capitulos anteriores consideraram modelos nos
quais todo 0 comercio se baseia na vantagem comparativa - isto e, diferenc;:as entre os paises sac 0 unico
motivo para 0 comercio. Este capitulo apresenta 0 papel das economias de escala.
A analise do comercio baseado em economias de escala apresenta certos problemas que temos evita-
do por enquanto. Ate agora, supusemos que os mercados possuem concorrencia perfeita, assim todos os
lucros de monop6lio sac eliminados por meio da concorrencia. Quando ha retornos crescentes, contudo,
as empresas grandes costumam levar vantagem sobre as pequenas, de modo que os mercados tendem a
ser dominados por uma s6 empresa (monop6Iio) ou, mais frequentemente, por poucas delas (0Iigop6Iio).
Dessa forma, quando as retornos crescentes pass am a fazer parte do comercio, geralmente os mercados
comec;:am a ter concorrencia imperfeita.
Este capitulo comec;:a com um panorama geral do conceito de economias de escala e da economia da
concorrencia imperfeita. Em seguida, voltamo-nos para os dois modelos do comercio internacional em que
as economias de escala e a concorrencia imperfeita desempenham um papel fundamental: 0 modelo
de concorrencia monopolfstica e 0 modelo de discriminac;:ao internacional de prec;:os (dumping).' 0 res-
tante do capitulo e dedicado ao papel de um tipo diferente de retornos crescentes, na determinac;:ao dos
pad roes do comercio: as economias externas.
Ap6s ler este capitulo, voce sera capaz de:
Reconhecer por que 0 comercio internacional geralmente ocorre a partir de retornos crescentes de
escala e concorrencia imperfeita.
Compreender a origem do comercio intraindustria e como ele difere do comercio interindustria.
Detalhar os argumentos de dumping usados por setores locais como base a favor do protecionismo e
explicar a relac;:aoentre dumping e discriminac;:ao de prec;:o.
Discutir 0 papel das economias externas e os transbordamentos de conhecimento na modelagem da
vantagem comparativa e dos pad roes de comercio internacional.
, Nao hi entre os economistas uma tradw;ao de uso corrente pata 0 termo dumping, par is so cunhamos urn termo; mas 0 lei tor poderi, se
assim 0 desejat, utilizat 0 terrno original em ingles (N. de Tradu~ao.).
Economias de escala e comercio
internacional: uma introdu~ao
Os modelos de vantagem comparativa apresentados basea-
ram-se na hip6tese de retomos constantes de escala. Isto e, su-
pusemos que, se os insumos de urn setor fossem dobrados, sua
prodw;ao tambem dobraria. Na pnitica, porem, muitos setores
caracterizam-se par econornias de escala (tambem chamadas
de retomos crescentes), de modo que urn dado setor e tao mais
eficiente quanta maior a escala na qual ele ocorre. Onde h:i
econornias de escala, dobrar os insumos em urn dado setor
mais do que dobrara sua prodw;ao.
Urn exemplo simples pode nos ajudar a expressar 0 sig-
nificado das economias de escala para 0 comercio interna-
cional. A Tabela 6.1 mostra a rela<;ao entre os insumos e
a produ<;ao de urn setor hipotetico. A produ<;ao de urn bem
manufaturado utiliza somente urn insumo, 0 trabalho; a tabe-
la mostra como a quantidade de trabalho necessaria depende
do mimero de manufaturas produzidas. Para produzir 10 ma-
nufaturas, por exemplo, sao necessarias 15 horas de traba-
lho, enquanto para produzir 25 manufaturas sao necessarias
30 horas. A presen<;a de economias de escala pode ser vista
quando se nota que, ao dobrar 0 insumo trabalho de 15 para
30, mais do que dobra a produ<;ao do setor - na verdade, a
produ<;ao aumenta em urn fator de 2,5. De forma equivalente,
podemos ver a existencia de econornias de escala ao exarninar
a quantidade media de trabalho utilizada para produzir cada
unidade de produ<;ao: se esta for de apenas 5 manufaturas, a
media de insumo trabalho por manufatura sera de 2 horas, ao
passo que, se for de 25 unidades. a media de insumo trabalho
caira para 1,2 hora.
Com esse exemplo, podemos entender par que as econo-
rnias de escala estimulam 0 comercio intemacional. Imagine
urn mundo que consista em dois paises. Estados Unidos e
Gra-Bretanha, ambos com a mesma tecnologia para produzir
manufaturas, e suponha que inicialmente cada pais produ-
za 10 desses bens. De acordo com a Tabela 6.1. isso requer
15 horas de trabalho em cada pais, de modo que, no mundo
como urn todo, 30 horas de trabalho produzem 20 unidades
do produto. Mas agora suponha que concentremos a produ<;ao
Produ~ao
Total de insumo Media de insumo
trabalho trabalho
5 10 2
10 15 1,5
15 20 1,333333
20 25 1,25
25 30 1,2
30 35 1,166667
mundial de manufaturas em urn dos paises, digamos os Esta-
dos Unidos, e que os norte-americanos empreguem 30 horas
de trabalho nesse setor. Em urn unico pais, essas 30 horas de
trabalho podem produzir 25 unidades. Logo, ao concentrar a
produ<;ao de manufaturados nos Estados Unidos, a economia
mundial pode utilizar a mesma quantidade de trabalho para
produzir 25 por cento mais.
Mas onde os Estados Unidos encontram 0 trabalho adicio-
nal para produzir manufaturas? E 0 que acontece com 0 traba-
lho que estava empregado no setor britfurico de manufaturas?
Os Estados Unidos devem dirninuir ou abandonar a produ<;ao
de alguns bens, a fim de conseguir 0 trabalho para ampliar a
produ<;aode outros; esses bens serao, enta~, produzidos na Gra-
Bretanha, que absorve 0 trabalho inicialmente empregado nos
setores cuja produ<;ao se expandiu nos Estados Unidos. Imagi-
ne que haja muitos bens sujeitos a econornias de escala na pro-
du<;aoe numere-os: 1, 2, 3... Para tirar vantagem das econornias
de escala, cada mn dos paises deve concentrar-se em produzir
somente urn numero lirnitado de bens. Dessa forma, por exem-
plo, os Estados Unidos podem produzir os bens 1,3,5 e assim
por diante, enquanto a Gra-Bretanha produzira os bens 2, 4, 6
e assim por diante. Se cada pais produzir somente alguns bens,
cada bem podera ser produzido em uma escala maior do que no
caso de cada pais tentar produzir de tudo, e a econornia mundial
podera, portanto, produzir mais de cada bem.
Como 0 comercio intemacional entra nessa hist6ria? Os
consurnidores em cada pais continuarao desejando consumir
uma variedade de bens. Suponha que 0 setor 1 fique nos Estados
Unidos e 0 setor 2, na Gra-Bretanha; logo, os consmnidores nor-
te-americanos do bem 2 terao de imporffi-lo da Gra-Bretanha,
enquanto os consurnidores britanicos do bem 1 terao de irnpor-
m-lo dos Estados Unidos. 0 comercio intemacional desempe-
nha mn papel crucial: ele toma possivel que cada pais produza
urna gama restrita de bens e que se tire vantagem das econornias
de escala sem sacrificar a variedade no consumo. Por sua vez,
como veremos a seguir, 0 comercio intemacional normalmente
leva a urn aumento na variedade disponfvel de bens.
Nosso exemplo sugere, entao, que as econornias de esca-
la podem levar ao comercio mutuamente benefico. Cada pais
se especializa em produzir uma gama restrita de produtos, 0
que the possibilita produzir esses bens mais eficientemente
do que se tentasse produzir tudo por si mesmo; essas econo-
mias especializadas fazem, entao, comercio entre si para que
se possa consurnir a gama completa de bens.
Infelizmente, ir dessa hist6ria sugestiva para urn modelo
explfcito de comercio baseado em econornias de escala nao
e tao simples. 0 motivo consiste em que as economias de
escala normalmente levam a uma estrutura de mercado dife-
rente da concorrencia perfeita, e e necessario tomar cuidado
na analise dessaestrutura.
Economias de escala e estrutura
de mercado
No exemplo da Tabela 6.1, representamos as economias
de escala supondo que 0 insumo trabalho por unidade de pro-
.illl;ao sera menor quanta mais unidades forem produzidas.
~ao dissemos como esse aumento da prodm;ao foi atingido
- se as empresas existentes simplesmente produziram mais
0U se, em vez disso, houve urn aumento no mimero delas.
Para analisar os efeitos das economias de escala sobre a es-
rrumra de mercado, entretanto, deve-se explicitar que tipo
de aumento de prodm;;ao e necessario para reduzir 0 custo
medio. As economias de escala externas ocorrem quando 0
.:u.stopar unidade depende do tamanho do setor, mas nao neces-
5ariamente do tamanho de uma empresa qualquer. As econo-
mias de escala internas ocorrem quando 0 custo por unidade
depende do tamanho de uma empresa individual, mas nao
necessariamente do tamanho do setor.
A distin~ao entre economias extemas e intemas pode ser
ilustrada com urn exemplo hipotetico. Imagine urn setor com-
posto inicialmente por 10 empresas. Cada uma delas produz
100 unidades, totalizando uma produ~ao setorial de 1.000 uni-
dades. Agora considere dois casos. Primeiro, suponha que 0
;;etor dobre de tamanho, de modo que passe a ser composto
par 20 empresas, cada uma ainda produzindo 100 unidades.
E possivel que os custos de cada uma caiam, como resultado
do tamanho maior do setor; por exemplo, urn setor maior pode
passibilitar uma provisao mais eficiente de servi~os especia-
lizados ou de maquinaria. Nesse caso, 0 setor exibira econo-
mias de escala extemas. Em outras palavras, a eficiencia das
empresas aumenta quando se tern urn setor maior, mesmo que
cada uma delas continue do mesmo porte.
Segundo, suponha que a produ~ao setorial permanecesse
constante em 1.000 unidades, mas que 0 mimero de empresas
fosse cortado pela metade, de maneira que cada uma das cinco
remanescentes produzisse 200 unidades. Nesse caso, se os cus-
tos de produ~ao cafrem, teremos economias de escala intemas:
uma empresa sera mais eficiente, se sua produ~ao for maiar.
As economias de escala extemas e intemas tern impli-
ca~6es diferentes sobre a estrutura dos setores. Aquele em
que as economias de escala sao puramente extemas (isto e,
em que nao ha vantagens para as empresas grandes) sera
composto de muitas empresas pequenas e tera concorren-
cia perfeita. As economias de escala intemas, por sua vez,
dao as empresas grandes uma vantagem de custos sobre as
pequenas e levam a uma estrutura de mercado de concor-
renda imperfeita.
As economias de escala extemas e intemas sao causas
importantes do comercio intemacional. No entanto, como
elas tern diferentes implica~6es sobre a estrutura de merca-
do, e diffcil discutir os dois tipos de comercio baseados em
economias de escala no mesmo modelo. Trataremos, portan-
to, de cada urn separadamente.
Vamos come~ar com urn modelo baseado em econo-
mias de escala intemas. Mas, como acabamos de argumen-
tar, as economias de escala intemas levam a urn colapso
da concorrencia perfeita. Assim, antes de nos voltarmos a
analise do papel das economias de escala intemas no co-
mercio intemacional, precisamos recapitular 0 conceito de
concorrencia imperfeita.
Em urn mere ado com concorrencia perfeita - aquele em
que ha muitos compradores e vendedores e nenhum deles
representa uma grande parcela do mere ado -, as empresas
sao tomadoras de prer:;o. Isto e, os vendedores acreditam que
podem vender 0 quanta desejarem ao pre~o corrente e nao po-
dem influir no pre~o que se paga pelo produto. Por exemplo,
urn produtor de trigo pode vender tanto desse produto quanta
desejar, sem se preocupar com 0 fato de que, se quiser ven-
der mais, 0 pre~o de mercado diminuira. 0 motivo de tanta
tranquilidade e que cada produtor individual de trigo repre-
senta uma fra~ao muito pequena do mere ado mundial.
Todavia, quando apenas algumas empresas produzem
urn determinado bern, a coisa fica diferente. Tomemos tal-
vez 0 exemplo mais impression ante: a grande fabric ante de
avi6es Boeing, dos Estados Unidos, compartilha 0 mere ado
de grandes aeronaves a jato com apenas urn importante rival:
a europeia Airbus. Portanto, a Boeing sabe que, se produzir
mais avi6es, isso tera urn efeito significativo sobre a oferta
total desse produto no mundo e, por conseguinte, vai dirninuir
significativamente 0 pre~o deles. Ou, invertendo os termos,
a Boeing sabe que, se quiser vender mais avi6es, s6 podera
faze-lo reduzindo de forma drastic a seu pr~o. Assim, na con-
correncia imperfeita, as empresas estiio conscientes de que
podem influenciar os pre~os de seus produtos e de que podem
vender mais somente ao reduzir seu pre~o. Essa concorrencia
caracteriza dois tipos de setor: aqueles em que ha poucos pro-
dutores principais e aqueles em que 0 produto de cada produ-
tor e visto pe10s consumidores como bastante diferenciado dos
de seus concorrentes. Sob essas circunstancias, cada empresa
considera-se umaformadora de prer:;o, ao escolher 0 pre~o de
seu produto, em vez de uma tomadora de pre~o.
Quando as empresas nao sao tomadoras de pre~o, e ne-
cessario desenvolver ferramentas adicionais para descrever
como os pre~os e a produ~ao sao determinados. A estrutura
de mercado de concorrencia imperfeita mais simples de exa-
minar e a de monopolio puro, aquela em que urn neg6cio
nao tern concorrencia; as ferramentas que desenvolveremos
a partir dessa estrutura poderao, depois, ser utilizadas para
examinar outras mais complexas.
Monop6lio: uma breve revisao
A Figura 6.1 mostra a posi~ao de uma unica empresa
monopolista. Ela se defronta com uma curva de demanda
negativamente inclinada, mostrada na figura como D. A
declividade negativa de D indica que a empresa pode
vender mais unidades de sua produ~ao somente se 0 pre-
~o do produto cair. Como voce deve ter aprendido em
microeconomia basic a, uma curva de receita marginal
guarda uma rela~ao com a curva de demanda. A receita
marginal e a receita adicional ou marginal que a empre-
sa ganha par vender uma unidade adidonal. A receita
marginal para urn monopolista e sempre menor do que
o pre~o porque, para vender uma unidade adicional, ele
Uma empresa monopolista escolhe uma
produ9ao em que a receita marginal, °
aumento da receita pel a venda de uma
unidade adicional, seja igual ao custo
marginal, isto e, ° custo de produzir
uma unidade adicional. Essa produ9ao
que maximiza ° lucro e mostrada como
OM; ° pre90 ao qual essa produ9ao e
demandada e PM' A curva de receita
marginal RMg situa-se abaixo da curva
de demanda D, pois, no monop6lio, a
receita marginal e sempre menor que
° pre90. Os lucros de monop6lio sao
iguais a area do retangulo cinza, que
representa a diferen9a entre ° pre90 e °
custo medio multiplicada por OM'
Custo, C,
e pre90, P
deve baixar 0 pre<,;o de todas as unidades (e nao apenas
da unidade marginal). Portanto, para um monopolista
a curva de receita marginal, RMg, esta sempre situada
abaixo da curva de demanda.
Receita marginal e pre~o. Para a analise do modelo
de concorrencia monopolistic a que faremos nesta se<,;ao,e
importante determinar a rela<,;aoentre 0 pre<,;oque 0 mono-
polista recebe por unidade e a receita marginal. Sabemos que
a receita marginal e sempre menor do que 0 pre<,;o- mas
quanta menor? A rela<,;aoentre a receita marginal e 0 pre<,;o
depende de duas coisas. Em primeiro lugar, da quantidade
de produto que a empresa ja esta vendendo: aquela que nao
esteja vendendo muitas unidades nao perdera muito ao di-
minuir 0 pre<,;oque recebe por essas unidades. Em segundo
lugar, 0 hiato entre 0 pre<,;oe a receita marginal depende da
declividade da curva de demanda, que nos diz quanta 0 mo-
nopolista deve diminuir seu pre<,;opara vender uma unida-
de a mais da produ<,;ao. Se a curva for muito horizontal, ele
conseguira vender uma unidade adicional com apenas uma
pequena redu<,;ao do pre<,;oe, portanto,nao tera de baixar
muito 0 pre<,;oem re1a<,;aoao que tem vendido, de modo que
a receita marginal estara pr6xima do pre<,;opor unidade. Por
outro lado, se a curva de demanda for muito inclinada, para
vender uma unidade adicional sera precise reduzir bastante
o pre<,;o,0 que implicara uma receita marginal muito menor
do que 0 pre<,;o.
Podemos ser mais especfficos sobre a rela<,;aoentre pre<,;o
e receita marginal, se supusermos que a curva de demanda
com que a empresa se defronta e uma linha reta. Quando
isso ocorre, a dependencia das vend as totais do monopolista
em rela<,;aoao pre<,;oque ele cobra pode ser representada por
uma equa<,;aoda forma
onde Q e 0 numero de unidades que a empresa vende, P e 0
pre<,;oque ela cobra por unidade e A e B sao constantes. Mos-
tramos no apendice deste capitulo que, nesse caso, a receita
marginal e
A equa<,;ao(6-2) revela que 0 hiato entre 0 pre<,;oe a receita
marginal depende das vendas iniciais Q da empresa e do pa-
rametro da declividade B de sua curva de demanda. Quanto
maior a quantidade vendida, Q, menor a receita marginal, pois
a diminui<,;aono pre<,;onecessario para vender uma quantidade
maior custa mais para a empresa. Quanto maior for B, isto e,
quanta mais as vendas cairem por qualquer aumento de pre<,;o
dado, mais a receita marginal estara pr6xima do pre<,;odo bem.
A equa<,;ao(6-2) e crucial para nossa analise do modelo de
concorrencia monopolistica do comercio (p. 94-107).
Custo medio e custo marginal. Voltando it Figura 6.1,
CMe representa 0 custo medio de produ<,;aoda empresa, isto
e, seu custo total dividido por sua produ<,;ao.Sua declividade
negativa reflete nossa hip6tese de que h:i economias de escala,
de modo que, quanta maior a produ<,;ao, menores os custos
por unidade. CMg representa 0 custo marginal do neg6cio
(quanto custa a produ<,;aode uma unidade adicional). Apren-
demos em economia basica que, quando os custos medios
sac uma fun<,;aodecrescente da produ<,;ao,0 custo marginal e
sempre menor do que 0 custo medio. Portanto, CMg situa-se
abaixo de CMe.
A equa<;ao (6-2) relaciona 0 pre<;o e a receita marginal.
Ha uma f6rmula correspondente que relaciona 0 custo medio
e 0 custo marginal. Suponha que os custos de uma empresa
wmem a seguinte forma:
onde F e urn custo fixo que independe da produ<;ao da em-
presa, c e seu custo marginal e Q e novamente sua produ<;ao.
IEla e chamada de fun<;ao de custo linear.) 0 custo fixo em
Ulnafunc;ao de custo linear jaz surgir econamias de escala,
pais, quanta maior a produC;ao da empresa, menor 0 custo
Jim por unidade. Especificamente, 0 custo medio da empre-
sa (custo total dividido pela produ<;ao) e
Esse custo medio diminui conforme Q aumenta, pois 0
custo fixo se dilui em uma produ<;ao maior.
Se, por exemplo, F = 5 e c = 1,0 custo medio da produ-
cao de 10 unidades e 5110 + 1 = 1,5, ao passo que 0 custo
~edio da produ<;ao de 25 unidades e 5/25 + 1 = 1,2. Esses
numeros podem parecer familiares, pois foram utilizados
para construir a Tabela 6.1. A rela<;ao entre a produ<;ao, os
custos medios e os custos marginais dada nessa tabela e
mostrada graficamente na Figura 6.2. 0 custo medio apro-
xima-se do infinito na produ<;ao zero e do custo marginal
em uma produ<;ao muito grande.
A produ<;ao que maximiza 0 lucro de urn monopolista e
aquela em que a receita marginal (ganha pela venda de uma
unidade adicional) e igual ao custo marginal (0 custo de
produzir a unidade adicional), isto e, na interse<;ao entre as
curvas CMg e RMg. Na Figura 6.1 podemos ver que 0 pre<;o
ao qual e demandada a produ<;ao que maximiza 0 lucro QM e
P,p superior ao custo medio. Na medida em que P > CMe, 0
monopolista esta obtendo alguns lucros de monop6lio.2
Concorrencia monopolfstka
Os lucros de monop6lio sao bem discutiveis. Vma empresa
com lucros elevados normalmente atrai concorrentes. Assim,
na pratica, situa<;6es de monop6lio puro sao raras. Na verda-
de, a estrutura de mercado normal em setores caracterizados
por economias de escala intemas e a de oligopolio: divers as
empresas, cada uma delas grande 0 suficiente para afetar os
pre<;os,mas nenhuma com urn monop6lio incontestavel.
A analise geral do 0ligop6lio e urn assunto complexo e
controverso. Isso porque, em 0ligop6lios, as polfticas de for-
ma<;ao de pre<;o SaGinterdependentes: cada empresa, ao de-
terminar seu pre<;o, considera nao apenas as rea<;6es dos con-
A defini<;ao econ6mica de lucros nao e igual 11utilizada na contabilidade
convencional, em que qualquer receita acima dos custos de trabalho e
materiais e chamada luero. Uma empresa que recebe uma taxa de retor-
no sobre seu capital menor do que aquela que esse capital poderia ter
produzido em outros setores nao esta gerando lucros; do ponto de vista
econ6mico, a taxa de retorno normal sobre 0 capital representa parte dos
custos da empresa e somente retornos alem daquela taxa de retorno nor-
mal representam lucros.
sumidores, mas tambem aquelas esperadas dos concorrentes;
essas rea<;6es, por sua vez, dependem das expectativas da
concorrencia sobre 0 comportamento da empresa - estamos,
portanto, em urn jogo complexo em que as empresas tentam
preyer as estrategias umas das outras. A seguir, discutiremos
brevemente os problemas gerais na modelagem do oligop6-
lio. Contudo, ha urn caso especial, conhecido como concor-
rencia monopolfstica, que e relativamente facil de analisar.
Desde 1980, os modelos de concorrencia monopolfstica tern
sido amplamente aplicados ao comercio intemacional.
Duas hip6teses principais SaGlevantadas em modelos de
concorrencia monopollstica, para tratar 0 problema da in-
terdependencia. Primeiro, sup6e-se que cada empresa possa
diferenciar seu produto em rela<;ao ao de seus concorren-
tes. Isto e, se os clientes desejam comprar urn produto em
particular de determinada empresa, eles nao correrao para
comprar os de outras, mesmo que estas ofere<;am pre<;os urn
pouco mais baixos. A diferencia<;ao de produtos assegura
que cada neg6cio detenha 0 monop6lio em seu produto den-
tro de urn setor e esteja, portanto, de certa forma isolado da
concorrencia. Segundo, sup6e-se que cada empresa tome os
pre<;os cobrados por seus concorrentes como dados - isto e,
que ela ignore 0 impacto de seu pr6prio pre<;o sobre 0 de ou-
tras. Como resultado, 0 modelo de concorrencia monopolfs-
tica sup6e que, mesmo que cada empresa esteja na verdade
enfrentando a concorrencia de outras, ela se comporte como
se fosse monopolista, dai 0 nome do modelo.
No mundo real, ha setores em que ocorre concorrencia
monopolfstica? Alguns podem ser aproxima<;6es razoaveis.
Por exemplo, 0 setor automobilfstico na Europa, onde diver-
sos fabric antes muito importantes (Ford, General Motors,
Volkswagen, Renault, Peugeot, Fiat, Volvo e, mais recente-
mente, a Nissan) oferecern autom6veis bastante diferentes,
mas concorrentes, pode ser descrito razoavelmente bem pelas
hip6teses da concorrencia monopolfstica. A principal van-
tagem do modelo desse tipo de concorrencia nao e, porem,
seu realismo, mas sim sua simplicidade. Como veremos na
pr6xima se<;ao,0 modelo de concorrencia monopolfstica nos
da uma visao muito clara de como as economias de escala
podem propiciar urn comercio mutuamente benefico.
Entretanto, antes de dar inicio a analise, precisamos de-
senvolver urn modelo basico de concorrencia monopolfstica.
Vamos, portanto, imaginar urn setor composto de diversas
empresas. Estas fabric am produtos diferenciados - isto e,
bens que nao sao exatamente iguais, mas substituem uns aos
outros. Cada empresa e, entao, urn monopolista no sentido
de ser a unica a fabricar urn determinado bem. No entanto,
a demanda por esse bem especifico depende do numero de
outros produtos semelhantes disponiveis e dos pre<;os prati-
cados pe10s demais concorrentes do setor.
Hipoteses do modelo. Come<;amosdescrevendo a deman-
da com que se defronta uma empresa na concorrencia monopo-
lfstica. Emgera1, esperariamos que ela vendesse mais quanta
maior fosse a demanda total pelo produto em seu setor e quanta
maiores fossem os pre<;oscobrados por seus concorrentes. Por
Esta figura i1ustra 0 GUsto medio e 0
GUsto marginal Gorrespondentes a
funq8.o de Gusto total C = 5 + x. 0
Gusto marginal e sempre igual a 1;
o Gusto medio diminui Gonforme a
produq8.o aumenta.
Custo por unidade
6
outro lado, esperarfamos que ela vendesse menos quanta maior
fosse 0 mimero de empresas no setor e quanto maior fosse seu
pr6prio pre<;o.Para descobrir essa demanda, levando em conta
tais hip6teses, podemos usar a seguinte equa<;ao.3
onde Q representa as vendas da empresa, V as vendas totais
do setor, n 0 mimero de empresas que comp5em 0 setor, b
uma constante que representa a resposta das vendas de uma
empresa a seu pre<;o,P 0 pre<;ocobrado pela pr6pria empresa
e Po pre<;omedio cobrado pelos concorrentes. Pode-se dar a
seguinte justificativa intuitiva para a equa<;ao (6-5): se todas
as empresas cobrarem 0 mesmo pre<;o, cada uma ted uma
parcela de mercado igual a Un. Uma que cobre mais do que
a media ted uma parcela de mercado menor, enquanto outra
que cobre menos ted uma parcela maior.4
E aconselhavel supor que as vendas totais V de urn setor
nao sejam afetadas pelo pre<;o medio cobrado nesse setor.
Ou seja, pressupomos que as empresas possam ganhar clien-
tes apenas a custa das outras. Essa e uma hip6tese irrealista,
mas simplifica a analise e ajuda a enfatizar a concorrencia.
Em particular, significa que Ve uma medida do tamanho do
mercado e que, se todas as empresas cobram 0 mesmo pre<;o,
cada uma vende V/n unidades.
A seguir, voltaremos aos custos de uma empresa comum.
Por ora, suponhamos simplesmente que os custos total e medio
de uma delas sejam descritos pelas equa<;5es (6-3) e (6-4).
Equilibrio de mercado. Para descrever 0 comporta-
mento desse setor, marcado pela concorrencia monopolistic a,
3 A equa<;;ao(6-5) pode ser derivada de urn modelo em que os consumidores
possuem preferencias distintas e as empresas produzem variedades feitas
sob medida para segmentos particulares do mercado. Para saber mais
sobre esse enfoque, veja: SALOP, Stephen. "Monopolistic competition
with outside goods", Bell Journal of Economics, 10, 1979, p. 141-156.
4 A equa<;;ao(6-5) pode ser reescrita como Q = Vln - V X b X (P - Pl.
Se P = P, ela se reduz para Q = Vln; se P > P, entao Q < Vln, e, se
P < P, entao Q > Vln.
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Produq8.o
vamos supor que todas as empresas nele atuantes sejam sime-
tricas, isto e, a fun<;ao demanda e a fun<;ao custo sao identi-
cas para todas elas (mesmo que produzam e vendam produtos
com alguma diferencia<;ao). Quando as empresas individuais
sao simetricas, podemos descrever 0 estado do setor sem ter
de enumerar as caracterfsticas de todas as empresas em deta-
lhes: tudo 0 que realmente precisamos saber para descrever
o setor e quantas empresas existem equal 0 pre<;o que a em-
presa padrao cobra. Assim, para uma analise setorial- a fim
de, por exemplo, avaliar os efeitos do comercio intemacional
-, precisamos deterrninar 0 mimero de empresas n e 0 pre<;o
medio que elas cobram P.Uma vez que tenhamos urn metodo
para determinar essas variaveis, poderemos perguntar como
elas sao afetadas pelo comercio intemacional.
Nosso metodo para determinar n e P envolve tres etapas.
Em primeiro lugar, estabelecemos uma rela<;ao entre 0 mi-
mero de empresas e 0 custa media de uma empresa padrao.
Mostramos que essa rela<;ao e positivamente inclinada; isto
e, quanta mais empresas houver, menor sera a produ<;ao de
cada uma e, portanto, maior 0 custo por unidade de produ-
<;ao. Em seguida, mostramos a rela<;ao entre 0 mimero de
empresas e 0 pre<;o que cada uma cobra, que, em equilfbrio.
deve ser igual a P. Mostramos que essa rela<;ao e negativa-
mente inclinada: quanta mais empresas houver, mais intensa
sera a concorrencia entre elas e, assim, menores os pre<;os
por elas cobrados. Finalmente, argumentamos que, quando
o pre<;o exceder 0 custo medio, empresas adicionais ingres-
sarao no setor, ao passo que, quando 0 pre<;o for menor que
o custo medio, empresas deixarao 0 setor. Assim, no longo
prazo, 0 mimero de empresas sera determinado pel a interse-
<;aoda curva que fomece a rela<;ao entre custo medio e n com
a curva que fomece a rela<;ao entre pre<;o e n.
1. 0 numero de empresas e a custa media. 0 primeiro pas-
so para deterrninar n e P consiste em perguntar como 0
custo medio de uma empresa padrao depende do mimero
de concorrentes no seu setaroComo nesse modelo todas
as empresas sao sirnetricas, em equilibrio, todas cobra-
rao 0 mesmo pr~o. Mas, quando todas cobram 0 mesmo
prec,;o,de modo que P = P, a equac,;ao(6-5) nos diz que
Q = V/n; isto e, a produc,;aode cada empresa, Q, e uma
parcela l/n das vendas totais do setor, V. No entanto,
vimos na equac,;ao(6-4) que 0 custo medio se relaciona
inversamente a produc,;aode urna empresa. Conclufmos,
portanto, que 0 custo medio depende do tamanho do mer-
cado e do mimero de empresas que comp6em 0 setor:
A equac,;ao (6-6) nos diz que, permanecendo tudo 0 mais
constante, quanta mais empresas houver no setor, maior sera
o custo medio. Isso porque, nesse contexto, cada uma produzini
menos. Imagine, por exemplo, urn setor com vendas totais de
1milhao de unidades por ano. Se ele abranger cinco empresas,
.::adauma vendera 200 mil por ano. Se forem dez, cada uma
"endera apenas 100 mil e, portanto, cada qual tera urn custo
medio maior. A relac,;aopositivamente inclinada entre n e 0
custo medio e mostrada em CC na Figura 6.3.
2. 0 numero de empresas e 0prer;o.Enquanto isso, 0 prec,;o
que a empresa padrao cobra tambem depende do mimero
de empresas no setor. Em geral, poderiamos esperar que,
quanta mais delas houvesse, mais intensa seria a concor-
rencia entre elas e, portanto, menor 0 prec,;o.Descobre-se
que isso e verdadeiro nesse modelo, mas prova-lo demo-
ra urn pouco mais. 0 truque basico e irnaginar que cada
neg6cio se defronta com uma curva de demanda reta, da
forma mostrada na equac,;ao(6-1), e entao utilizar a equa-
c,;ao(6-2) para determinar os prec,;os.
Em primeiro lugar, lembre-se de que, no modelo de con-
correncia monopolistica, sup6e-se que as empresas tomem os
prec,;osdas demais como dados; isto e, cada uma ignora a pos-
sibilidade de que, se mudar seu prec,;o,as outras tambem mu-
darao os seus. Se cada empresa trata P como dado, podemos
reescrever a curva de demanda (6-5) da seguinte forma:
onde b e 0 parametro na equac,;ao (6-5) que mede a sensibili-
dade da parcela de mercado de cada empresa ao prec,;oque ela
cobra. Agora a equac,;aoesm na mesma forma que em (6-1),
com V/n + V X b X P no lugar do termo constante A e V X b
no lugar do coeficiente de declividade B. Se colocarmos esses
valores de volta na f6rmula da receita marginal (6-2), teremos
uma receita marginal para uma empresa padrao de
As empresas que maximizam os lucros farao a receita
marginal coincidir com seu custo marginal c, de modo que
que pode ser rearranjado para produzir a seguinte equac,;ao,
que nos fornece 0 prec,;ocobrado por uma empresa padrao:
Ja notamos, entretanto, que, se todas as empresas cobrarem
o mesmo prec,;o,cada uma vendera uma quantidade Q = V/n.
Colocando esse resultado de volta em (6-9), obtemos uma rela-
c,;aoentre 0 mimero de empresas e 0 prec,;oque cada urna cobra:
A equac,;ao (6-10) diz algebricamente que, quanta mais
empresas houver no setor, menor sera 0 prer;o que cada uma
cobrara. Na Figura 6.3, essa equac,;ao e representada pela
curva negativamente inclinada PP.
3. 0 numero de empresas no equilibrio. Vamos questionar
agora 0 que a Figura 6.3 significa. Resumirnos urn setor
em duas curvas. A negativamente inclinada PP mostra
que, quanta mais empresas houver no setor, menor sera
o prec,;oque cada uma cobrara. Isso faz sentido: quan-
to mais empresas houver, mais concorrenciacada uma
enfrentara. A curva positivamente inclinada CC nos
diz que, quanta mais empresas houver no setor, maior
o custo medio de cada uma. Isso tambem faz sentido:
se 0 mimero de empresas aumentar, cada uma vendera
menos, de modo que elas nao poderao se mover muito
para baixo sobre sua curva de custo medio.
As duas curvas interceptam-se no ponto E, que corres-
ponde ao mimero de empresas, nz. 0 que significa nz? E 0
mimero de empresas no setor com lucro zero. Quando ha nz
empresas no setor, 0 prec,;oque maximiza 0 lucro e Pz, que e
exatamente igual ao custo medio, CMez.
o que discutiremos agora e que, no longo prazo, 0 mime-
ro de empresas no setor tende a se mover para nz, de modo
que 0 ponto E descreve 0 equilibrio setorial de longo prazo.
Para compreender por que, suponha que n fosse menor
do que nz, por exemplo nt• Entao, 0 prec,;ocobrado pelas em-
presas seria Pj e seu custo medio, apenas CMej• Desse modo,
as empresas estariam tendo lucros de monop6lio. Inversa-
mente, suponha que n fosse maior do que nz, digamos n3• En-
tao, as empresas cobrariam apenas 0 prec,;oP3, enquanto seu
custo medio seria CMe3• Elas estariam sofrendo prejulzos.
Ao longo do tempo, as empresas entrarao nos setores lu-
crativos e sairao daqueles em que se perde dinheiro. Assim,
no decorrer do tempo, 0 mimero de empresas aumentara se
for menor do que nz e diminuira se for maior. Isso significa
que nz e 0 mimero de empresas que leva ao equilibrio seto-
rial, e P z e 0 prec,;ode equilibrio.5
5 Essa analise ignora urn pequeno problema: 0 numero de empresas no
setar deve, obviamente, ser urn numero inteiro, como 5 ou 8. E se desco-
brirmos que n, e igual a 6,37? A resposta e que havera seis empresas no
setar, todas tendo lucros de monop6lio pequenos, mas nao sendo desa-
fiadas pela entrada de novos concorrentes. Isso porque todos sabem que
urn setor com sete empresas deixaria de ser lucrativo. Na maioria dos
exemplos de concorrencia monopolfstica, descobre-se que 0 problema de
numeros inteiros ou de 'restri<;ao de inteiros' nao emuito importante, por
is so 0 ignoramos aqui.
I
I
I
I
I
I_____________ I __
I
I
I
I: ".-"-'/
'«--------------;7~
,~/ :----------7-----r----------------------------
I
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I
o numero de empresas em
um mercado com concorrencia
monopo\\s\\ca e os ple«as a;C.ee\a'i>
c.o'o'{am SaG o..e'\errn\nao.os ';)0"1: Qu:as
re)ayoes. 'POT urn '10.00, quan'to ma\s
empresas houver, mais intensa sera
a concorrencia entre elas e, portanto,
menor 0 pre<:;ono setor (essa rela<:;ao
e representada por Pp). Por outro,
quanta mais empresas houver, menos
cada uma vendera e, portanto, maior
seu custo medio (essa rela<:;aoe
representada por ee). 5e 0 pre<:;o
exceder 0 custo medio (se a curva
PP estiver acima da ee), 0 setor
apresentara lucros e mais empresas
entrarao nele; se 0 pre<:;ofor men or
que 0 custo medio, 0 setor incorrera
em perdas e empresas vao deixa-Io.
o pre<:;ode equilibrio e 0 numero de
empresas no equilibrio se dao quando
o pre<:;oe igual ao custo medio, na
interse<:;ao entre PP e ee.
Gusto, e, e
pre<:;o,P
Numero de
empresas, n
Desenvolvemos ate agora 0 modelo de urn setor de concor-
rencia monopolistica em que podemos determinar 0 mimero
de empresas no equilibrio e 0 prec,;omedio que elas cobram.
Podemos utiliza-lo para tirar algumas conclus6es irnportantes
sobre 0 papel das economias de escala no comercio intemacio-
nal. Mas, antes disso, devemos dedicar algum tempo notando
algumas lirnitac,;6esdo modelo de concorrencia monopolistica.
limita~oes do modelo de concorrenda
monopolistica
o modelo de concorrencia monopolistica captura certos
elementos irnportantes dos mercados em que ha economias de
escala e, desse modo, concorrencia irnperfeita. No entanto, pou-
cos setores saDdescritos adequadamente pela concorrencia mo-
nopolistica Na realidade, a estrutura de mercado mais comum
e 0 oligop6lio fonnado por pequenos grupos, em que apenas
algumas empresas estao engajadas ativamente na concorrencia.
Nessa situac,;ao,a hip6tese principal do modelo de concorrencia
monopolistica - cada empresa se comporta como se fosse um
monopolista verdadeiro - provavelmente nao se sustenta. Em
vez disso, as empresas estao cientes de que seus atos influenciam,
sim, os atos de outras e levam essa interdependencia em conta.
Dois tipos de comportamento que surgem no cenario do
oligop6lio em geral nao se encaixam, por definic,;ao, no mo-
delo de concorrencia monopolfstica. 0 primeiro e 0 com-
portamento de cartel. Nele, cada empresa mantem seu prec,;o
mais alto do que 0 nfvel que aparentemente maximiza 0 lu-
cro como parte de urn acordo informal em que as outras farao
o mesmo; como os lucros de cada empresa saDmais altos se
seus concorrentes cobram prec,;os altos, tal acordo informal
pode elevar os lucros de todas elas (a custa dos consumido-
res). 0 comportamento de cartel na determinac,;ao de prec,;os
pode ser administrado por meio de acordos expHcitos (ile-
gais na maioria dos pafses) ou por meio de estrategias tacitas
de coordenac,;ao, como a permissao para que uma empresa
aja como Hder de prec,;osno setoL
As empresas tambem podem engajar-se em comporta-
mentos estrategicos; isto e, podem fazer coisas que parecem
diminuir os lucros, mas que na verdade afetam 0 compor-
tamento dos concorrentes de uma maneira desejavel. Por
exemplo, uma empresa pode expandir sua capacidade nao
para utiliza-la, mas para impedir que concorrentes potenciais
entrem em seu setoL
Essas possibilidades de comportamento tomam a analise
do oligop6lio uma questao complexa. Nao ha urn modelo
aceito por todos para descrever 0 comportamento do oligo-
p6lio, 0 que toma problem<itico estabelecer urn modelo para
o comercio nos setores oligopolizados.
o enfoque da concorrencia monopoHstica para 0 comer-
cio e, portanto, atraente, porque evita essas complexidades.
Mesmo que possa deixar de lado algumas caracterfsticas
do mundo real, esse modelo de concorrencia e amplamen-
te aceito como modo de fomecer pelo menos uma primeira
aproximac,;ao sobre 0 papel das economias de escala no co-
mercio intemacional.
Concorrencia monopolfstica
e comercio
A ideia de que 0 comercio aumenta 0 tamanho do mercado
esta subjacente na aplicac,;aodo modelo de concorrencia mo-
nopolfstica. Nos setores em que ha economias de escala, tanto
a variedade de bens que urn pais pode produzir como a escala
de sua prodw;ao sao limitadas pelo tamanho do mercado. Ao
fazer comercio entre si e, portanto, formar urn mercado mun-
dial integrado que e maior do que qualquer mercado nacional
individual, as na96es podem afrouxar esses limites. Cada pafs
pode especializar-se na produ9ao de uma gama menor de pro-
dutos do que faria na ausencia do comercio; alem disso, ao
comprar de outros pafses bens que nao produz, cada na9ao
pode aumentar simultaneamente a variedade de bens disponf-
yeis a seus consumidores. Em consequencia, 0 comercio ofe-
rece uma oportunidade de ganhos mutuos, mesmo quando os
paises nao diferem em termos de recursos nem de tecnologia.
Suponha, por exemplo, que haja dois pafses, cada urn
com urn mercado anual de 1 milhao de autom6veis. Ao fa-
zer comercio entre si, esses pafses podem criar urn merca-
do combinado de 2 milh6es de autom6veis. Nesse mercado
combinado, mais variedades de autom6veis podem ser pro-
duzidas a custos medios mais baixos do que haveria em cada
mere ado isolado.
o modele de concorrencia monopolfstica pode ser utili-
zado para mostrar como 0 comercio melhora 0 dilema entre
escala e variedade com que as na96es individuais se defron-
t:lIIl. Para come9ar, vamos mostrar como urn mere ado maior
i.eYa,no modelo de concorrencia monopolfstica, tanto a urn
pr~o medio menor como a disponibilidade de uma varieda-
jc maior de bens. Aplicando esse resultado ao cenano in-
tcrnacional, observamos que 0 comercio cria urn mere ado
:nundialmaior que qualquer outro nacional nele compreen-
dido. Assim, a integra9ao dos mercados por meio do comer-
.:10 internacional surte os mesmos efeitos que 0 crescimento
.)umercado dentro de urn unico pafs.
Efeitos do aumento do tamanho do mercado
o numero de empresas em urn setor com concorrencia
:aonopolfstica e os pre90s que elas cobram sao afetados pelo
7:mlanho do mercado. Em mercados maiores, em geral, ha-
.era tanto mais empresas como mais vendas por empresa;
lL~ consumidores, serao oferecidos tanto pre90s mais baixos
.:omo uma variedade maior de produtos.
Para verificar isso no contexto de nosso modelo, examine
]IOyamente a curva CC na Figura 6.3, a qual mostrou que os
.:ustos medios por empresa serao mais altos quanta mais
=mpresas houver no setor. A defini9ao da curva CC e dada
;ela equa9ao (6-6):
CMe = F/Q + c = n X FIV + c
Examinando essa equa9ao, vemos que urn aumento nas
.~das totais V reduzira os custos medios para qualquer dado
nimero de empresas, n. 0 motivo e que, se 0 mere ado au-
:J::!entaenquanto 0 numero de empresas permanece constante,
~ \'endas por empresa aumentam e 0 custo medio de cada
IIJJ.a.dirninui. Desse modo, se compararmos dois mercados,
CJi com V maior do que 0 outro, a curva CC no mere ado
=..=lorestara abaixo daquela do mere ado menor.
Enquanto isso, a curva PP na Figura 6.3, a qual relaciona
o pre90 cobrado pelas empresas ao numero delas, nao se des-
loca. A defini9ao dessa curva e dada pela equa9ao (6-10):
o tamanho do mere ado nao entra nessa equa9ao, de modo
que urn aumento em V nao desloca a curva PP.
A Figura 6.4 utiliza essa informa9ao para mostrar 0 efeito
de urn aumento no tamanho do mercado sobre 0 equilibrio de
longo prazo. Inicialmente, 0 equilibrio esta no ponto 1, com
urn pre90 Pj e urn numero de empresas nj• Urn aumento no
tamanho do mercado, medido pelas vendas do setor V, des-
loca a curva CC para baixo, de CCj para CCz' embora nao
tenha nenhum efeito sobre a curva PP. 0 novo equilibrio
esta no ponto 2: 0 mimero de empresas aumenta, de n1 para
nz' enquanto 0 pre90 cai, de Pj para Pz.
Fica claro que os consumidores preferirao urn mere ado
grande a urn pequeno. Afinal de contas, no ponto 2, uma va-
riedade maior de produtos esta disponfvel a urn pre90 menor
do que no ponto 1.
Ganhos de um mercado integrado: um
exemplo numerico
o comercio internacional pode criar urn mere ado maior.
Podemos ilustrar os efeitos do comercio sobre os pre90s, a
escala e a variedade de bens disponfveis com urn exemplo
numerico especffico.
Imagine que autom6veis sejam fabric ados por urn setor
com concorrencia monopolfstica. A curva de demanda com
que se defronta qualquer fabric ante de autom6veis dado e
descrita pela equa9ao (6-5), com b = 1/30.000 (esse valor
nao tern nenhum significado em particular; ele foi escolhido
para fazer com que 0 exemplo se torne mais claro). Desse
modo, a demanda com que se defronta qualquer fabric ante
e dada por
onde Q e 0 mimero de autom6veis vendidos por empresa,
V as vendas totais do setor, n 0 lllimero de fabricantes, P
o pre90 que urn deles cobra e P 0 pre90 medio dos outros.
Vamos supor que a fun9ao custo para a fabrica<;ao de auto-
m6veis seja descrita pela equa9ao (6-3), com urn custo fixo
F = $750.000.000 e urn custo marginal c = $5.000 por au-
tom6vel (os valores sao novamente escolhidos para produzir
resultados 'arredondados'). 0 custo total e
Agora suponha que haja dois pafses, 0 Local e 0 Estran-
geiro. 0 Local possui vendas anuais de 900 mil autom6veis,
eo Estrangeiro, de 1,6 milhao. Suponha tambem que os dois
paises tenham, por enquanto, os mesmos custos de produ9ao.
II~Eig~Fa6.4
Um aumento no tamanho do
mercado permite que cada empresa,
permanecendo tudo 0 mais constante,
produza mais e, desse modo, tenha
um 'custo medio menor. Isso esta
representado por um deslocamento
para baixo de CC, para CC2• 0
resultado e que, simultaneamente,
ocorre um aumento no numero de
empresas (e, portanto, na variedade
de bens disponfveis) e uma queda no
pre90 de cada bem.
A Figura 6.5a mostra as curvas PP e CC para 0 setor
automobilistico do Local. Descobrimos que, na ausencia de
comercio, 0 Local teria seis fabricantes de automoveis, ven-
dendo ao prec;o de $10.000 cada. (Tambem e possIvel encon-
trar a soluc;ao para n e P algebricamente, conforme mostrado
no adendo matematico deste capItulo.) Para confirmar que
esse e 0 equilibrio de longo prazo, precisamos mostrar que a
equac;ao de formac;ao de prec;os (6-10) e satisfeita e que 0 pre-
C;O e igual ao custo medio.
Substituindo os valores verdadeiros do custo marginal c,
do parametro de demanda b e do mimero de empresas do
Local n na equac;ao (6-10), descobrimos que
Custo, C, e
pre90, P
P = $10.000 = c + 1/(b X n) = $5.000 + 1/[(1/30.000) X 6]
= $5.000 + $5.000
de modo que a condic;ao de maximizac;ao de lucro - de que
a receita marginal seja igual ao custo marginal- e satisfeita.
Cada empresa vende 900 mil unidades/6 empresas = 150
mil unidades/empresa. Seu custo medio e, portanto,
Como 0 custo medio de $10.000 por unidade e igual ao
prec;o, todos os lucros de monopolio foram eliminados pel a
concorrencia. Desse modo, seis empresas vendendo ao prec;o
de $10.000, e cada uma produzindo 150 mil carros, e 0 equi-
IIbrio de longo prazo do mercado do Local.
E quanta ao Estrangeiro? Ao desenhar as curvas PP e
CC (Figura 6.5b) descobrimos que, quando 0 mercado e de
1,6 milhao de automoveis, as curvas se interceptam em n = 8,
P = 8.750. Isto e, na ausencia de comercio, 0 mercado do
Numero de
empresas, n
Estrangeiro comportaria oito fabricantes, cada um produzin-
do 200 mil automoveis e vendendo-os ao prec;o de $8.750.
Podemos novamente confirmar que essa soluc;ao satisfaz as
condic;6es de equilIbrio:
P = $8.750 = c + 1/(b X n) = $5.000 + 1/[(1/30.000) X 8]
= $5.000 + $3.750
Agora suponha que seja possIvel para 0 Local e 0 Estran-
geiro fazer comercio de automoveis entre si sem custo. Isso
criaria urn mercado novo, integrado (Figura 6.5c), com vendas
totais de 2,5 milh6es. Ao desenhar as curvas PP e CC mais
urna vez, descobrimos que esse mercado integrado comportaria
dez fabricantes, cada urn produzindo 250 mil carros e vendendo-os
ao prec;o de $8.000. As condic;6es para maximizac;ao de lucros
e lucro zero sao novamente satisfeitas:
P = $8.000 = c + 1/(b X n) = $5.000 + 1/[(1/30.000) XlO]
= $5.000 + $3.000
Na Tabela 6.2, resumimos os resultados da criac;ao de urn
mercado integrado. A tabela compara cada mercado isolado
com 0 mercado integrado. 0 mercado integrado comporta
mais empresas, cada uma produzindo em uma escala maior e
vendendo a urn prec;o menor do que qualquer dos mercados
nacionais comportou por si so.
II
la) Mercado do Local:
com um mercado de
900 mil autom6veis,
o equilfbrio do Local,
determinado pela
interse<;:ao entre as curvas
PP e ee, ocone com seis
fabricantes e a um pre<;:o
setorial de $10.000 por
autom6vel. (b) Mercado
do Estrangeiro: com um
mercado de 1,6 milhao de
autom6veis, 0 equilibrio
do Estrangeiro ocone
com oito fabricantes e
a um pre<;:osetorial de
58.750 par autom6vel.
Ie) Mercado eombinado:
a integra<;:ao dos dois
mereados cria um
-nereado para 2,5 milh5es
de autom6veis. Esse
"'lereado com porta dez
'iabricantes, e 0 pre<;:ode
JIll autom6vel cai para
apenas $8.000.
Prego por autom6vel
em milhares de d61ares
36
34
32
30
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
1
Prego por autom6vel
em milhares de d61ares
36
34
32
30
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
1 2 3 4 5
cc-----
pp
6 7 8 9 10 11 12
Numero de
empresas, n
6 7 8 9 10 11 12
Numero de
empresas, n
Prego por autom6vel
em milhares de d61ares
36
34
32
30
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
1 2 3 4 6 7 8 9 10 11 12
Numero de
empresas, n
(e) Integrado
Fica claro que todos saem ganhando com a integra~ao.
~o mereado maior, os consumidores tern uma gama maior
jc escolhas; alem disso, cada empresa produz mais e pode,
portanto, oferecer seu produto a urn pre~o mais baixo.
Para desfrutar esses beneficios os paises devem engajar-se
no comercio intemacional e, para obter economias de escala,
cada empresa deve concentrar sua produ~ao em urn pais - no
Local ou no Estrangeiro. Contudo, a empresa deve vender seu
Mercado do Local, Mercado do Estrangeiro, Mercado integrado,
antes do comercio antes do comercio apos 0 comercio
Vendas tatais de autam6veis 900.000 1.600.000 2.500.000
~ umera de empresas 6 8 10
Vendas par empresa 150.000 200.000 250.000
Custa media $10.000 $8.750 $8.000
Pre<;a $10.000 $8.750 $8.000
produto aos clientes de ambos os mercados. Portanto, cada pro-
duto sera produzido em apenas urn pais e exportado ao outro.
Economias de escala e vantagem comparativa
Nosso exemplo de urn setor com concorrencia monopo-
lfstica diz pouco sobre 0 padrao do comercio que resulta das
economias de escala. 0 modelo sup5e que 0 custo de produ-
c,;aoseja igual em ambos os paises e que 0 comercio nao tenha
custos. Essas hip6teses significam que, embora saibamos que
o mercado integrado comportara dez empresas, nao podemos
dizer onde elas estarao localizadas. Por exemplo, quatro em-
pres as poderiam estar no Local e seis no Estrangeiro - mas
seria igualmente possivel, ate onde 0 exemplo vai, que todas
as dez empresas estivessem no Estrangeiro (ou no Local).
Para ir alem do conhecimento de que 0 mercado compor-
tara dez empresas, e necessario ir alem da estrutura de equilf-
brio parcial considerada ate aqui e refletir sobre como as eco-
nomias de escala interagem com a vantagem comparativa, a
fim de deterrninar 0 padrao do comercio intemacional.
Vamos, portanto, imaginar agora uma economia mundial
que consiste, como sempre, em nossos dois paises, Local e
Estrangeiro. Cada urn deles possui dois fatores de produc,;ao,
capital e trabalho. Suponhamos que 0 Local possua uma ra-
zao capital-trabalho total maior do que a do Estrangeiro, isto
e, que ele seja 0 pais capital-abundante. Vamos tambem ima-
ginar que haja dois setores, de tecidos e de alimentos, sendo
ode tecidos 0 mais capital-intensivo.
A diferen<;a entre esse modelo e 0 modelo das prop or-
c,;5esde fatores do Capitulo 4 e que, agora, estamos supondo
que 0 setor de tecidos nao tenha concorrencia perfeita, pois
nao fabrica mais urn produto homogeneo. Trata-se, isso sim,
de urn setor com concorrencia monopolfstica em que muitas
empresas produzem produtos diferenciados. Por causa das
economias de escala, nenhum pals pode produzir a gama
total de produtos manufaturados por si proprio; desse modo,
embora ambos os palses possam produzir algum tecido, eles
produziriio coisas diferentes. A natureza de concorrencia
monopolfstica do setor de tecidos faz uma diferen<;a impor-
tante para 0 padriio do comercio, a qual pode ser mais bem
apreciada se exarninarmos 0 que aconteceria caso esse setor
nao fosse de concorrencia monopolfstica.
Se 0 setor de tecidos niio fosse urn com produtos diferen-
ciados, sabemos, porque vimos no Capitulo 4, como seria 0
padrao do comercio. Vma vez que 0 Local e capital-abun-
dante e os tecidos sao capital-intensivos, 0 Local teria uma
oferta relativa maior desse produto e, portanto, 0 exportaria
e importaria alimentos. Esquematicamente, podemos repre-
sentar esse padriio do comercio com urn diagrama como 0 da
Figura 6.6. 0 tamanho das setas indica 0 valor do comercio
em cada sentido; a figura mostra que 0 Local exportaria teci-
dos em valor equivalente ao dos alimentos que importa.
Mesmo que suponhemos que os tecidos sejam urn setor
com concorrencia monopolfstica (os produtos de cada em-
presa sao diferenciados dos produtos das outras), 0 Local
ainda sera urn exportador lfquido de tecidos e urn importa-
dor de alimentos. Apesar disso, as empresas do Estrangeiro
nesse setor produzirao produtos diferentes daqueles que as
do Local fabricam. Como alguns consumidores do Local
preferirao as variedades do Estrangeiro, 0 Local, embora
tendo urn superavit comercial em tecidos, importara e ex-
portara dentro do seu setor. Com os tecidos apresentando
concorrencia monopolfstica, 0 padriio do comercio se pare-
cera com a Figura 6.7.
Em urn modelo de concorrencia monopolfstica, po-
demos pensar no comercio mundial como composto de
duas partes. Havera comercio nos dois sentidos dentro do
setor manufatureiro. Essa troca de tecidos por tecidos
e chamada comercio intraindtistria. 0 restante do co-
mercio e uma troca de tecidos por alimentos, chamada
comercio interindtistria.
Note estes quatro pontos sobre 0 padrao do comercio:
1. 0 comercio interindustria (tecidos por alimentos) re-
flete a vantagem comparativa. 0 padriio do comercio
interindustria e 0 seguinte: 0 Local, 0 pais capital-
-abundante, e urn exportador lfquido de tecidos, capi-
tal-intensivos, e urn importador lfquido de alimentos,
trabalho-intensivos. Logo, a vantagem comparativa
continua tendo papel fundamental no comercio.
Em um mundo sem economias de
escala, have ria uma simples troca de
tecidos por alimentos. Local
(capital-abundante)
Estrangeiro
(trabalho-abundante)
lI,i~iglJra6.7
5e 0 setor de tecidos
apresentar concorrencia
monopolfstica, 0 Local e
o Estrangeiro produzirao
bens diferenciados. Assim,
mesmo que 0 Local seja um
exportador Ifquido de tecidos,
ele tanto importara como
exportara esse
produto, gerando 0
comercio intraindustria.
Local
(capital-abundante)
I E","oge;ro
:trabalho-abundante)
Comercio
interindustria
Comercio
intraindustria
2. 0 comercio intraindustria (tecidos par tecidos) niio
reffete a vantagem comparativa. Mesmo se as paises
tivessem a mesma razao capital-trabalho total, suas
empresas continuariam a produzir bens diferenciados
e a demanda dos consumidares par produtos feitos no
exterior continuaria a gerar a comercio intraindustria.
Sao as economias de escala que evitam que cada pais
produza a gama total de produtos par si pr6prio; desse
modo, as economias de escala podem, par si s6, esti-
mu1ar a comercio internacional.
3. 0 padrao do comercio intraindustria em si e irnprevi-
siveL N6s nao dissemos qual pais produz quais bens
dentro do setor de tecidos parque nao ha nada no mo-
delo que nos indique isso. Tudo a que sabemos e que as
paises fabricarao produtos diferentes. Como a hist6ria e
a acaso determinam as detalhes do padrao do comercio,
sua irnprevisibilidade e uma caracteristica inevitavel em
urn mundo onde as economias de escala sao irnportan-
tes. Note, porem, que essa irnprevisibilidade nao e total.
Enquanto a padrao preciso do comercio intraindustria
dentro do setor de tecidos e arbitrario, a padrao do co-
mercia interindustria entre tecidos e alirnentos e deter-
minado par diferem;;assubjacentes entre as paises.
4. A importancia relativa do comercio intraindustria e do
comercio interindustria depende do grau de semelhan-
<;;aentre as paises. Se a Local e a Estrangeiro forem
semelhantes nas raz6es capital-trabalho, haven'i pouco
comercio interindustria e a comercio intraindustria, ba-
seado fundamentalmente nas economias de escala, sera
dominante. Por outro lado, se as raz6es capital-traba-
lho forem muito diferentes, de modo que, par exemplo,
a Estrangeiro se especialize completamente na produ-
<;;aode alimentos, nao haven'i comercio intraindustria
baseado em economias de esca1a. Todo a comercio vai
basear-se na vantagem comparativa.
Significado do comercio intraindustria
Cerca de urn quarto do comercio mundial consiste no mode-
10 intraindustria, isto e, trocas de bens nos dais sentidos dentro
ie classifica<;;6essetoriais padronizadas. Ele desempenha urn
papel particularmente importante no comercio de bens manufa-
turados entre na<;;6esavan<;;adas,a qual responde pela maioria do
comercio mundial. No decorrer do tempo, as paises industriali-zados tern se tornado cada vez mais semelhantes em termos de
tecnologia e disponibilidade de capital e trabalho qualificado.
Com isso, frequentemente nao ha nenhurna vantagem compara-
tiva clara dentro de urn setar, e muito do comercio internacional
toma, portanto, a forma de trocas nos dais sentidos dentro dos
setores - provavelmente em grande parte inffuenciadas pe1as
econornias de escala -, em vez da especializa<;;aointerindustria
determinada pela vantagem comparativa.
Na Tabela 6.3, constatamos a importancia do comercio
intraindustria para muitos setores manufatureiros dos Estados
Unidos em 1993. A medida usada - comercio intraindustrial
comercio total6 - varia de 0,99 para produtos qufrnicos inorga-
nicos (urn setor em que as exporta<;;6ese as importa<;;6esnorte-
-americanas sao aproximadamente iguais) a 0,00 para cal<;;ados
(urn setor em que as Estados Unidos importam muito e nao ex-
portam praticamente nada). Em suma: a fndice seria igual a zero
em urn setor no qual as Estados Unidos apenas exportassem au
importassem e igual a urn em urn setor no qual as exporta<;;6es
norte-americanas fossem exatamente iguais as importa<;;6es.
A Tabela 6.3 mostra que, em muitos setores, grande parte
do comercio e intraindustria (pr6ximo de urn), em vez de
interindustria (pr6ximo de zero). Os setores sao classificados
pe1a importancia relativa do comercio intraindustria. Aque-
6 Para ser rnais preciso, a formula padrao para 0 calculo da irnportancia do
cornercio intraindustria dentro de urn dado setor e
lexportal<oes - imp ortal<0es[
I = 1 - exportal<oes + irnportal<0es
onde a expressao lexportal<0es - irnportal<0es! significa 'valor absoluto
da balanl<a cornercial': se as exportal<0es sornarn $100 rnilhoes a rnais
do que as irnportal<oes, 0 nurnerador da fral<ao e 100; se as exportal<oes
sornam $100 rnilhoes a menos do que as irnportal<oes, 0 nurnerador da
fral<ao tarnbern e igual a 100. Nos rnodelos de cornercio intemacional
focados na vantagern comparativa, esperarnos que urn pais exporte ou
irnporte urn bern, mas nao que fal<aambas as coisas; naquele caso, I seria
sernpre igual a zero. Por outro lade, se as exportal<oes e as irnportal<0es
de urn pais dentro de urn setor sao iguais, encontrarnos I = 1.
Indices de corneroointraindUstriaem
.alguns setores norte:-ameritahoS em 1993 .
Produtos quimicos inorganicos
Maquinaria para gera~ao de energia
Maquinaria elt~trica
Produtos quimicos organicos
Produtos medicos e farmaceuticos
Equipamentos de escrit6rio
Equipamentos de te1ecomunica~6es
Veicu10s rodoviarios
0,99
0,97
0,96
0,91
0,86
0,81
0,69
0,65
0,43
0,27
0,00
Ferro e a~o
Vestwirio e acess6rios
les com altos niveis de comercio intraindustria tendem a ser
os de bens manufaturados sofisticados, como produtos qui-
micos, farmaceuticos e equipamentos de gera<;ao de energia.
Esses bens sao exportados sobretudo por na<;oes avan<;adas e,
provavelmente, sua produc;ao conta com economias de esca-
la importantes. No outro extremo da classifica<;ao, os setores
com muito pouco comercio intraindustria sao normalmente
os de produtos trabalho-intensivos, como cal<;ados e vestua-
rio. Os Estados Unidos importam esses produtos principal-
mente dos paises menos desenvolvidos, onde a vantagem
comparativa e clara e constitui 0 principal determinante do
comercio norte-americano com esses paises.7
Por que 0 cornercio intraindustria e irnportante
Na Tabela 6.3, vemos que uma parte consideravel do
comercio internacional e intraindustria, e nao interindus-
tria, como aquele que estudamos nos capitulos 3 a 5. Mas
a importancia do comercio intraindustria muda alguma de
nossas conclusoes?
Em primeiro lugar, 0 comercio intraindustria gera ganhos
adieionais do comercio internacional, alem daqueles propicia-
dos pela vantagem comparativa, pois permite que os paises
sejam beneficiados por mercados maiores. Como vimos, ao se
7 0 comercio crescente entre nac;:6es com baixos salarios e nac;:6es com
altos salarios as vezes produz urn comercio classificado como intrain-
dustria mesmo que ele seja, na verdade, impulsionado pela vantagem
comparativa. Suponba, par exemplo, que uma empresa norte-america-
na produza chips de computadar sofisticados na California, envie-os a
Asia - onde eles sao incorparados em computadores - e depois mande
os computadores com 0 chip de volta para casa. Provavelmente, tanto os
componentes exportados como 0 computador importado serao classifi-
cados como 'computadores e dispositivos correlatos', de modo que as
transac;:6es serao contadas como comercio intraindustria. Todavia, 0 que
realmente acontece e que os Estados Unidos estao exportando produtos
qualificac;:ao-intensivos (chips) e importando urn servic;:o trabalho-inten-
sivo (montagem do computador). Tal comercio 'pseudointraindustria' e
particularmente comum entre os Estados Unidos e 0 Mexico.
engajar no comercio intraindustria, urn pais pode ao mesmo
tempo reduzir 0 numero de produtos que fabric a e aumentar
a variedade de bens disponlveis para os consumidores domes-
tieos. Ao produzir uma variedade menor, pode produzir cada
uma em escala maior, com produtividade mais alta e custos
menores. Paralelamente a isso, os consumidores sao benefi-
ciados pela maior op<;ao de escolha. Em nos so exemplo nu-
merico dos ganhos gerados pela integra<;ao do mercado, os
consumidores do Local descobriram que 0 comercio intrain-
dustria expandiu sua op<;aode escolha de seis para dez mode-
los de autom6veis no exato momenta em que reduziu 0 pre<;o
dos autom6veis de $10.000 para $8.000. Como 0 estudo de
caso da industria automobilistica norte-americana indica
(p. 101), as vantagens de criar urn setor integrado em dois
paises podem ser substanciais tambem na prlitica.
Em nos sa discussao anterior sobre a distribui<;ao dos
ganhos do comercio (Capitulo 4), estavamos pessimistas
quanta as expectativas de que todos seriam beneficiados
pelo comercio, mesmo que 0 comercio internacional pu-
desse potencialmente elevar a renda de todos. Nos mode-
los discutidos anteriormente, todos os efeitos do comercio
nasceram de mudan<;as nos pre<;os relativos, que por sua
vez tern urn imp acto imenso sobre a distribui<;ao de renda.
Suponha, entretanto, que 0 comercio intraindustria seja
a origem dominante dos ganhos do comercio. Isso ocorrera
quando os paises forem semelhantes em termos de oferta rela-
tiva de fatores, de modo que nao haja muito comercio interin-
dustria, e quando as economias de escala e a diferencia<;ao de
produtos forem importantes, de modo que os ganhos da escala
maior e das possibilidades de escolha mais amplas sejam gran-
des. Nessas circunsmncias, os efeitos do comercio sobre a dis-
tribui<;ao de renda serao pequenos e 0 comercio intraindustria
gerara ganhos adicionais significativos. Como resultado, pode
ser que, apesar dos efeitos do comercio sobre a distribui<;ao
de renda, todos apresentem ganhos do comercio.
Em que circunstancias isso sera mais provavel? 0 co-
mercio intraindustria tende a prevalecer entre os paises se-
melhantes no que concerne a razao capital-trabalho, nivel
de qualifica<;ao e assim por diante. Desse modo, esse comer-
cio sera dominante entre os paises com grau semelhante de
desenvolvimento economico. Os ganhos do comercio serao
grandes quando as economias de escala forem fortes e os
produtos altamente diferenciados. Isso e mais caracteristico
dos bens manufaturados sofisticados do que das materias-
-primas ou dos setores mais tradicionais (como texteis ou
cal<;ados). Assim, 0 comercio sem efeitos marc antes sobre
a distribui<;ao de renda provavelmente ocorrera na transa<;ao
de tecidos entre os paises avan<;ados.
Essa conclusao e confirmada pela experiencia do p6s-guer-
ra, particularmente na Europa Ocidental. Em 1957, os princi-
pais paises europeus estabeleceram uma area de livre comercio
de bens manufaturados: 0 Mercado Comum ouComunidade
Economica Europeia (CEE). (0 Reino Unido entrou na CEE
posteriormente, em 1973.) 0 resultado foi urn crescimento rapi-
do do comercio. Durante a decada de 1960,0 comercio dentro
da CEE aumentou duas vezes mais nipido do que 0 comercio
mundial como urn todo. Esperava-se que esse crescimento ge-
rasse transtomos consideniveis e problemas politicos. A expan-
saDdo comercio, entretanto, foi quase toda intraindustria, e nao
interindustria. Por exemplo, em vez de os trabalhadores no setor
de maquinaria eletrica da Franc;a serem prejudicados enquanto
os da Alemanha ganhavam, os trabalhadores de ambos os pai-
ses ganharam com a eficiencia crescente do setor integrado em
todo 0 continente. Como resultado, 0 crescimento do comercio
dentro da Europa apresentou muito menos problemas sociais e
politicos do que 0 previsto.
Ha urn lado born e urn lado ruim nessa visao favoravel
do comercio intraindustria. 0 lado born e que, sob algumas
circunsHincias, toma-se relativamente facil conviver com 0
comercio e, portanto, apoia-lo em termos politicos. 0 lado
ruim e que 0 comercio entre paises muito diferentes ou nos
quais as economias de escala e a diferenciac;ao dos produtos
nao sejam importantes continua politicamente problem<iti-
co. Na verdade, a liberalizac;ao progressiva do comercio que
caracterizou urn periodo de tres decadas (de 1950 a 1980)
concentrou-se sobretudo no comercio de manufaturas en-
tre as nac;6es avanc;adas, como veremos no Capitulo 9. Se 0
progresso em outros tipos de comercio e importante, 0 que
ocorreu nao e exatamente encorajador.
Discriminac;ao internacional
de prec;os (dumping)
o modelo de concorrencia monopolistic a ajuda-nos a
compreender como os retomos crescentes promovem 0 co-
mercio intemacional. Mas, como notamos anteriormente,
esse modelo deixa de lado muitas das quest6es que podem
surgir quando as empresas vivem em concorrencia imper-
feita. Embora a analise da concorrencia monopolistica re-
conhec;a que a concorrencia imperfeita e uma consequencia
necessaria das economias de escala, ela nao se concentra nas
Comercio intraindustriaenla~i():C)pa¢to daindustria automobilistica na
America do Norte em 1964
Vamos conhecer agoraumexemplo claro e pouco co-
mum do papel das eeonomias de escala na gerac;ao de urn
comereio intemacional benefieo. Trata-se do ereseimento
do comereio de automoveis entre os Estados Unidos e 0
Canada durante a segunda metade da deeada de 1960.
Embora 0 easo nao se ajuste exatamente a nosso modelo,
ele nos mostra que os coneeitos basieos que desenvolve-
mos sao uteis no mundo real.
Ate 1964, as protec;6es tarifanas impdstas pelo Canada
e pelos Estados Unidos haviam feito da industria automo-
bilistica canadense urn setor em grande parte autossuficien-
fe, que nao importava nem exportava muito. Tal industria
era, na verdade, controlada pelas mesmas empresas nor-
te-americanas do setor - urn desvio de nosso modelo, ja
que nao examinamos ainda 0 pape1 das multinacionais -,
as quais· descobriram ser mais barato manter sistemas de
produc;ao separados por muitos quilometros do que pagar
tarifas. Desse modo, a industria automobilfstica canadense
era, na verdade, uma versao em miniatura da norte-ameri-
eana, com cerca de urn decimo de seu tamanho.
Logo as subsidiarias canadenses descobriram que
a pequena escala constituia uma des vanta gem subs-
tancial. Isso, em parte, porque as fabric as canadenses
tinham de ser menores que suas matrizes norte-ameri-
canas. Mas, talvez, 0 fato mais importante era que as
fabricas dos Estados Unidos podiam. ser 'especializa-
- voltadas para a produc;ao de urn unico modelo
componente -, enquanto as canadenses tinham de
produzir divers as coisas diferentes, 0 que as obrigava a
fechar periodicamente para passar da produc;aQ de urn
item a produc;ao de outro, manterestoques maiores,
utilizar maquinaria menos especializada e assim por
diante. A industria automobiHstica canadensetinha
uma produtividade de trabalho cerea de 30por centpu
menor que ados Estados Unidos. .•••<i<ii.«
Em urn esforc;opara eliminar esses problemas,eI1l1?~. .
os dois paises concordaram em estabelecer umaare~~e<~r
vre comercio de automoveis (sujeita a certasrestri~Ci~~J;I~~~.
perrnitiu que as empresas automobilisticas'
sua produc;ao. As subsidianas canade
cortaram drastieamente 0 mimerode
Canada. Por exemplo, a GeneraLN1~.«i.~elartletade
o numero de modelos montadoSlltss~ip~s'iOnfvel global
da produc;ao e do empregoeana~e~Stsfoi,contudo, manti-
do. Como isso foi possive1? Qi(3:J.Ilaclapassoua importar dos
Estados Unidos produtos ql:i~~~(i}fabricavamais e a expor-
tar aqueles que continl:ia\Ta~f~Tr.
Em 1962, 0 Canlldat}\'~0rt0U $16 milh5es dePf~d~-
tos automotivos aQs.l3s,t~dliJ$Unidos, enquanto i1llPOtt()~
$519 milh5es. Elll+9~S,ios numeros eram $2,4b,ilhgese
$2,9 bilh5es, resp~Rf.i~arnente. Em outrasral~vras'tm1to
as exportaC;6es(:QI1loas importac;5es aulllegtaramde fQr-
ma abrupta:.eQiclJ)lllercio intraindustri~elllaC;ao.
Os ganllQs~arecem ter sido sl:ibstanciais.NoinfciQda
decadadel~'70:,~jndlistria Cana~Kn$ef)ra COlTIParayel~
norte-1l1TIeri<:anaelTItermosdepJ:Qdl:itividade. .
consequencias possiveis da concorrencia imperfeita em si
para 0 comercio intemacional.
Na verdade, a concorrencia imperfeita exerce alguns
efeitos importantes para 0 comercio intemacional. 0 mais
notavel deles e que as empresas nao cobram necessariamente
o mesmo prec,;opara os bens que exportam e para aqueles que
vendem aos compradores domesticos.
A economia da discrimina~ao internacional
de pre~os
Nos mercados de concorrencia imperfeita, as empresas as
vezes cobram um deterrninado prec,;oquando exportam um
bem e outro diferente quando 0 vendem no mercado intemo.
Em geral, a pratica de cobrar prec,;osdiferentes de clientes di-
ferentes e chamada discrimina<;ao de pre<;os. A forma mais
comum de discriminac,;ao de prec,;osno comercio intemacional
e a discrimina<;ao intemacional de pre<;os (dumping), uma
pnitica de formac,;ao de prec,;osem que a empresa cobra um
prec,;omenor pelos bens exportados do que 0 cobrado pelos
mesmos bens vendidos domesticamente. A discriminac,;ao in-
temacional de prec,;os constitui uma questao controversa na
polftica comercial, na qual e amplamente considerada uma
pratica 'desleal' e esta sujeita a regras e penalidades especiais.
Discutiremos a controversia polftica que permeia a discrimi-
nac,;aointemacional de prec,;osno Capitulo 9. Por ora, faremos
apenas uma analise economic a basica do fenomeno.
A discriminac,;ao intemacional de prec,;os pode ocorrer
apenas se duas condic,;6es forem satisfeitas. Em primeiro lu-
gar, 0 setor deve ter concorrencia imperfeita, de modo que as
empresas deterrninem os prec,;os, em vez de os tomarem do
mercado como dados. Em segundo lugar, os mercados devem
ser segmentados, de modo que os residentes domesticos nao
comprem facilmente bens que se pretende exportar. Dadas es-
sas condic,;6es,uma empresa monopolista pode descobrir que e
lucrativo se engajar na discriminac,;ao intemacional de prec,;os.
Um exemplo ajudara a mostrar como a discriminac,;ao in-
temacional de prec,;ospode ser uma estrategia de maximizac,;ao
dos lucros. Imagine uma empresa que venda atualmente mil
unidades de um bem no mercado domestico e cem no estran-
geiro. No mercado domestico, 0 bem custa $20 por unidade e,
nas vendas de exportac,;ao, apenas $15 por unidade. Pode-se
imaginar que, para a empresa, as vendas domesticas adicionais
saDmuito mais lucrativas do que as exportac,;6es adicionais.
Suponha, porem, que para expandir as vendas em uma
unidade, em qualquer mercado, seja necessario reduzir 0 pre-
c,;oem $0,01. A reduc,;ao do prec,;odomestico em um centavo
aumentaria as vendas em uma unidade - adicionando dire-
tamente $19,99 a receita, mas reduzindo em $10 das receitas
sobre as mil unidades que teriam sido vendidas ao prec,;ode
$20. Logo, a receita marginal daunidade adicional vendida e
de apenas $9,99. Por sua vez, a reduc,;aodo prec,;ocobrado de
clientes estrangeiros e, por causa disso, a expansao das ex-
portac,;6es em uma unidade aumentariam diretamente a recei-
ta em apenas $14,99. 0 custo indireto da reduc,;aode receitas
sobre as cem unidades que teriam sido vendidas ao prec,;o
original, porem, seria de apenas $1, de modo que a receita
marginal sobre as vendas de exportac,;ao seria de $13,99. As-
sim, seria mais lucrativo nesse caso expandir as exportac,;6es
do que as vendas domesticas, mesmo que 0 prec,;orecebido
pelas exportac,;6es fosse menor.
Esse exemplo poderia ser invertido, com 0 incentivo volta-
do para a cobranc,;amenor nas vendas domesticas do que nas
estrangeiras. No entanto, a discrirninac,;aode prec,;osa favor das
exportac,;6ese mais comum. Como os mercados intemacionais
saD irnperfeitamente integrados, por causa tanto dos custos de
transporte como das barreiras comerciais protecionistas, as em-
presas domesticas normalmente detem uma parcela maior nos
mercados domesticos do que nos estrangeiros. Isso, por sua vez,
significa que suas vendas estrangeiras saDmais afetadas por sua
formac,;aode prec,;odo que as vendas domesticas. Uma empresa
com uma parcela de 20 por cento do mercado nao necessita redu-
zir tanto seu prec,;opara dobrar as vendas quanta outra com uma
parcela de 80 por cento. Logo, as empresas em geral percebem
que, no caso das vendas de exportac,;6es,possuem um poder de
monop6lio menor e encontram um incentivo maior para manter
seus prec,;osmais baixos do que nas vendas domesticas.
A Figura 6.8 apresenta um exemplo graftco da discrimi-
nac,;aointemacional de prec,;os.Ela mostra um setor em que ha
urna unica empresa domestica monopolista, que vende em dois
mercados: um mercado domestico, onde ela se defronta com
a curva de demanda DOOM' e urn mercado de exportac,;ao.No
mercado de exportac,;ao,consideramos no limite a hip6tese de
que as vendas respondem bem ao prec,;oque a empresa cobra,
supondo que ela possa vender tanto quanta deseja ao prec,;oPEST"
A linha horizontal PEST e, desse modo, a curva de demanda para
vendas no mercado estrangeiro. Supomos que os mercados se-
jam segmentados, de modo que a empresa possa cobrar um pre-
c,;omais alto pelos bens vendidos domesticamente do que pelas
exportac,;6es.CMg e a curva de custo marginal para a produc,;ao
total, que pode ser vendida em ambos os mercados.
Para maximizar os lucros, a empresa deve buscar uma
receita marginal igual ao custo marginal em cada mercado.
A receita marginal nas vendas domestic as e definida pela
curva RMgoOM' que se situa abaixo de DOOM' As vendas de
exportac,;ao ocorrem a um prec,;oconstante PEST' de modo que
a receita marginal para uma unidade adicional exportada e
de somente PEST' Para conseguir um custo marginal igual a
receita marginal em ambos os mercados, e necessario pro-
duzir a quantidade QMONOP6UO, para vender QOOM no mercado
domestico e exportar QMONOp6uo - QooM.8Nesse caso, 0 custo
de produzir uma unidade adicional e igual a PEST' a receita
marginal das exportac,;6es,que por sua vez e igual a receita mar-
ginal para as vend as domesticas.
A quantidade QOOM sera demandada domesticamente ao
prec,;o P OOM' que esta acima do prec,;o de exportac,;ao, PEST'
8 Pode parecer que 0 monopolista deveria fixar as vendas domestic as no
nivel onde CMg e RMgDoMse interceptam. Mas lembre-se de que 0 mono-
polista esta produzindo urn produto total QMONOp6uo; is so significa que 0
custo de produzir uma unidade adicional e igual a PEST' seja essa unidade
destinada ao mercado estrangeiro ou ao domestico. E e 0 custo efetivo da
produ~ao de uma unidade adicional que deve ser igual 11receita margi-
nal. Assim, a interse~ao entre CMg e RMgDOM deve ocorrer no ponto que
representa quanto a empresa produziria caso ela ndo tivesse a oPl;;dode
exportar, mas isso e irrelevante.
_figUra6.8
A figura mostra um monopolista
que se defronta com uma CUNa
de demanda DDDM para as vendas
domesticas, mas que tambem pode
vender quanta desejar ao pre<;:ode
exporta<;:aoPEST' Uma vez que uma
unidade adicional pode sempre
ser vendida por PEST' a empresa
aumenta sua produ<;:aoate que 0
custo marginal seja igual a PEST;
essa produ<;:aoque maximiza os
lucros e mostrada como QMONOPOUO'
Como 0 custo marginal da empresa
em QMONOPOUO e PEST' ela vende a
produ<;:aono mercado domestico ate
o ponto em que a receita marginal
e igual a PEST' e esse nivel de
maximiza<;:ao de lucros das vendas
domesticas e mostrado como
QDOM" 0 restante de sua produ<;:ao,
QMONOPOUO - QOOM' e exportado.
o pre<;:oao qual os consumidores
domesticos demand am QOOM e
PDOM' Como PDOM > PEST' a empresa
vende as exporta<;:oes a um
pre<;:oinferior ao que cobra dos
consumidores domesticos.
Custo, C, e
pre<;:o,P
Quantidades produzidas
e demandadas, Q
QOOM
~-~,,--A---~y----
Vendas domesticas Exporta<;:oes
\~-------y-------~
Produ<;:ao total
Desse modo, a empresa estani fazendo discrimina<;ao in-
ternacional de pre<;os, vendendo mais barato no exterior do
que no mercado local.
Tanto em nosso exemplo numerico como na Figura 6.8, a
empresa escolhe fazer discrimina<;ao internacional de pre<;os
porque os mercados de exporta<;ao e domestico reagem de ma-
neira diferente a altera<;6es de pre<;o.Na Figura 6.8, supomos
que a empresa possa aumentar as exporta<;6es sem reduzir seu
pre<;o; logo, a receita marginal e 0 pre<;o coincidem no mer-
cado de exporta<;ao. Domesticamente, em contrapartida, 0 au-
mento das vendas abaixa 0 pre<;o.Esse e urn exemplo extremo
da condi<;ao geral para discrimina<;ao de pre<;os apresentada
nos cursos de microeconomia: as empresas discriminarao os
pre<;os quando as vendas responderem mais ao pre<;o em urn
mercado do que em outro.9 (Nesse caso, supusemos que a de-
manda por exporta<;6es responde infinitamente ao pre<;o.)
No comercio internacional, a discrimina<;ao internacio-
nal de pre<;os e quase sempre tida como uma pnitica desleal.
Nao ha nenhuma justificativa econ6mica razoavel para que
a consideremos particularmente prejudicial, mas a legisla<;ao
comercial dos Estados Unidos, por exemplo, profbe que as
empresas estrangeiras fa<;amessa discrimina<;ao no mercado
norte-americano e, quando ela e descoberta, automatic amen-
te sao impostas tarifas.
A situa<;ao mostrada na Figura 6.8 e simplesmente uma
versao extrema de uma classe mais ampla de situa<;6es em
que as empresas encontram estimulos para vender no exte-
rior a urn pre<;o inferior ao cobrado dos clientes domesticos.
Disc:riminac;:ao internacional de pre~os
redpl"'Oca (dumping redproco)
A analise da discrimina<;ao internacional de pre<;os suge-
re que a discrimina<;ao de pre<;os pode, na verdade, estimular
o comercio internacional. Suponha que haja dois monop6-
lios e que cada urn produza 0 mesmo bern, urn no Local e
outro no Estrangeiro. Para simplificar a analise, suponha que
essas duas empresas tenham 0 mesmo custo marginal. Supo-
nha ainda que haja alguns custos de transporte entre os dois
mercados, de modo que, se as empresas cobrarem 0 mesmo
pre<;o,nao havera comercio. Na ausencia de comercio, 0 mo-
nop6lio de cada uma delas seria incontestavel.
Porem, se introduzirmos a possibilidade de discrimina-
<;aointernacional de pre<;os, 0 comercio podera surgir. Cada
empresa limitara a quantidade que vende no mercado local,
reconhecendo que, se tentar vender mais, derrubara 0 pre<;o
de suas vendas domesticas. Todavia, se essa empresa puder
vender urn pouco no outro mercado, ela aumentara seus lu-
cros mesmo que 0 pre<;o seja menor do que 0 praticado in-
ternamente, pois 0 efeito negativo sobre 0 pre<;o das vendas
preexistentes recaira sobre a outra empresa, nao sobre ela
mesma. Logo, cada qual encontra incentivo para 'roubar' 0
outro mercado, vendendo poucas unidades a urn pre<;o(liqui-
do dos custos de transporte) que e menor do que 0 pre<;o no
mercado local,

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