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Conteu´do 1 Ca´lculo integral 1 1.1 Integral de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Fo´rmula fundamental do ca´lculo integral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Aplicac¸o˜es do ca´lculo integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.4 Integrac¸a˜o por partes e por substituic¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.5 Teorema da me´dia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.6 Integral indefinido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.7 Integral impro´prio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Os apontamentos Lic¸o˜es de Matema´tica tiveram origem nas mate´rias leccionadas aos alunos de Matema´tica II (Lic. em Biologia) ao longo do ano lectivo de 2004-05. Uma parte do conteu´do aqui apresentado foi inspirado nos apontamentos manuscritos da Isabel Faria para a disciplina de Ana´lise Matema´tica I e uma parte dos exerc´ıcios prove´m dos exerc´ıcios dessa mesma disciplina. Estes apontamentos foram realizados com recurso a software livre, como o Tex, GnuPlot e XFig. Na˜o posso deixar de agradecer os preciosos conselhos dos meus colegas das disciplinas de Ana´lise Matema´tica I, Ana´lise Matema´tica II e Matema´tica I, a quem recorri por diversas vezes. Um agradecimento tambe´m a`s alunas que disponibilizaram a sua resoluc¸a˜o dos exerc´ıcios para serem colocados na pa´gina web da disciplina. Um agradecimento muito especial a` Isabel Faria, que ainda leu algumas das Lic¸o˜es de Matema´tica, detectando va´rias gralhas e alguns erros e sugerindo diversas melhorias ao texto. i CONTEU´DO ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 ii Cap´ıtulo 1 Ca´lculo integral 1.1 Integral de Riemann Seja f : I = [a, b] → R uma func¸a˜o cont´ınua tal que f(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]. Pretendemos determinar a a´rea da regia˜o delimitada pelo eixo dos xx e o gra´fico de f, que designamos por A. Comecemos por calcular a a´rea aproximada utlizando regio˜es cujas a´reas conhecemos. Pelo teorema de Weierstrass, toda a func¸a˜o cont´ınua num intervalo fechado e limitado tem ma´ximo e mı´nimo nesse intervalo. Seja m = min{f(x) : x ∈ [a, b]} e M = max{f(x) : x ∈ [a, b]}. Claramente a a´rea A e´ limitada inferiormente por S0 = m(b − a) e superiormente por S0 =M(b− a), i.e., S0 = m(b− a) ≤ A ≤ S0 =M(b− a). y a b x M y a b x y a b x m Podemos tentar melhorar a aproximac¸a˜o ao valor de A, subdividindo o intervalo [a, b] em dois sub-intervalos [a, c] e [c, b] onde c ∈]a, b[ e´ um ponto arbitra´rio. Designamos por m1 = min{f(x) : x ∈ [a, c]}, m2 = min{f(x) : x ∈ [c, b]}, M1 = max{f(x) : x ∈ [a, c]} M2 = max{f(x) : x ∈ [c, b]}. Claramente temos S0 ≤ S1 = m1(c− a) +m2(b− c) ≤ A´rea ≤ S1 =M1(c− a) +M2(b− c) ≤ S0, conforme esta´ representado na seguinte figura. 1 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL a b x M2 y a b x m2 a b x yy S1(f) c cc S1(f) M1 ≤ ≤m1 Continuando este processo podemos determinar duas sucesso˜es, uma crescente, Sn(f), designada por sucessa˜o das somas inferiores de Darboux de f , e outra decrescente, Sn(f), designada por sucessa˜o das somas superiores superiores de Darboux de f , tais que S0(f) ≤ S1(f) ≤ · · · ≤ Sn(f) ≤ · · · ≤ A ≤ · · · ≤ Sn(f) ≤ · · · ≤ S1(f) ≤ S0(f). Intuitivamente o valor da a´rea A sera´ o valor dos limites de ambas estas sucesso˜es. Neste caso dizemos que a func¸a˜o e´ integra´vel a` Riemann e escrevemos ∫ I f = b∫ a f(x)dx = a´rea A. Exemplo Pretendemos calcular 1∫ 0 x dx. Calculando as somas inferiores e superiores de Darboux associadas a`s partic¸o˜es representadas na seguinte figura e que foram obtidas dividindo sucessivamente a meio cada um dos sub-intervalos anteriores obtemos a sucessa˜o crescente S0 = 0, S1 = 1 4 , S2 = 3 8 , S3 = 7 16 , . . . , Sn = 2n − 1 2n+1 , . . . e a sucessa˜o decrescente S0 = 1, S1 = 3 4 , S2 = 5 8 , S3 = 9 16 , . . . , Sn = 2n + 1 2n+1 , . . . Daqui resulta que 1∫ 0 x dx = lim n→∞ Sn = limn→∞ Sn = 1 2 . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 2 1.1. INTEGRAL DE RIEMANN x x x y y yy S2 = 3 8 S2 = 5 8 S4 = 7 16 S4 = 9 16 S1 = 1 4 S1 = 3 4 S1 = 1 4 S1 = 3 4 S0 = 0 S0 = 1 x 1 1 y = x 1 1 y = x 1 1 y = x 1 1 y = x Vamos agora dar a definic¸a˜o formal de somas inferiores e superiores de Darboux e definir func¸a˜o integra´vel a` Riemann. Seja f : [a, b] → R uma func¸a˜o limitada. Chamamos partic¸a˜o de I = [a, b] a uma colecc¸a˜o P = {x0, x1, . . . , xn} tal que a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b. Associada a uma partic¸a˜o P temos uma subdivisa˜o do intervalo I em n sub-intervalos I1 = [x0, x1], I2 = [x1, x2], . . . , In = [xn−1, xn]. Cada sub-intervalo Ij = [xj−1, xj ] tem amplitude ∆j = xj − xj−1. Como f e´ uma func¸a˜o limitada va˜o existir mj = inf{f(x) : x ∈ Ij}1 e Mj = sup{f(x) : x ∈ Ij}2. Definic¸a˜o 1 Chamamos soma inferior de Darboux de f relativamente a P a SP(f) = ∑n j=1∆jmj e soma superior de Darboux de f relativamente a P a SP(f) = ∑n j=1∆jMj . Tal como anteriormente tem-se, SP(f) ≤ A ≤ SP(f). Definic¸a˜o 2 Seja f uma func¸a˜o limitada em [a, b]. Dizemos que f e´ uma func¸a˜o integra´vel a` Riemann em [a, b] se ∀ε > 0 ∃P partic¸a˜o tal que SP(f)− SP(f) < ε. 1Dizemos que um elemento de R e´ um minorante de f em Ij se for inferior ou igual a f(x) para todo o x ∈ Ij . Ao maior dos minorantes chamamos ı´nfimo. Se o ı´nfimo for atingido por algum valor de f(x) designa-se por mı´nimo em Ij . 2Dizemos que um elemento de R e´ um majorante de f em Ij se for superior ou igual a f(x) para todo o x ∈ Ij . Ao menor dos majorantes chamamos supremo. Se o supremo for atingido por algum valor de f(x) designa-se por ma´ximo em Ij . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 3 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Se f e´ integra´vel chama-se integral de f e denota-se ∫ I f = b∫ a f(x) dx, ao u´nico nu´mero real que verifica SP(f) ≤ b∫ a f(x) dx ≤ SP(f) para toda a partic¸a˜o P. Vejamos algumas propriedades do integral de Riemann. Proposic¸a˜o 1.1.1 Sejam f, g : I = [a, b] → R duas func¸o˜es integra´veis, λ ∈ R e c ∈ [a, b]. Tem-se: (i) f + g e´ uma func¸a˜o integra´vel e tem-se b∫ a (f(x) + g(x))dx = b∫ a f(x)dx+ b∫ a g(x)dx. (ii) λ f e´ uma func¸a˜o integra´vel e tem-se b∫ a λ f(x) dx = λ b∫ a f(x)dx. (iii) f(x) ≥ g(x) para todo o x ∈ I tem-se b∫ a f(x) dx ≥ b∫ a g(x)dx. (iv) b∫ a f(x) dx = c∫ a f(x) dx+ b∫ c f(x) dx. As propriedades (i) e (ii) costumam designar-se por linearidade do integral, (iii) por monotonia do integral e (iv) por aditividade do integral. Vamos ainda denotar a∫ a f(x) dx = 0 e a∫ b f(x) dx = − b∫ a f(x)dx. Vejamos dois exemplos que ilustram as propriedades anteriores. Exemplo Sabendo que 1∫ 0 x dx = 1 2 e que 1∫ 0 x2 dx = 1 3 , ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 4 1.1. INTEGRAL DE RIEMANN obtemos pelas propriedades anteriores 1∫ 0 (x+ 5x2) dx = 1∫ 0 x dx+ 1∫ 0 5x2 dx = 1∫ 0 x dx+ 5 1∫ 0 x2 dx = 1 2 + 5 3 = 13 6 . O integral de uma func¸a˜o representa a a´rea da regia˜o delimitada pelo eixo dos xx e pelo gra´fico de f , se a func¸a˜o f tomar valores na˜o negativos. No caso de a func¸a˜o tomar valores negativos o integral representa o sime´trico da a´rea dessa regia˜o. Vejamos um exemplo. Exemplo Consideremos a func¸a˜o f(x) = sinx em [0, 2pi]. No intervalo [0, pi] temos f(x) ≥ 0 e no intervalo [pi, 2pi] temos f(x) ≤ 0. As a´reas em cada um dos sub-intervalos sa˜o iguais mas os integraisteˆm sinais contra´rios. Assim, 2pi∫ 0 sinx dx = pi∫ 0 sinx dx+ 2pi∫ pi sinx dx = 0. 2pipi0 1 -1 y = sinx X y + - Exerc´ıcios 1. Seja f : [a, b]→ R a func¸a˜o constante de valor k. (a) Determine as somas inferiores e superiores de Darboux de f . (b) Justifique que f e´ integra´vel em [a, b] e calcule b∫ a f(x) dx. 2. Justifique, sem calcular, qual dos seguintes integrais e´ maior: (a) 1∫ 0 √ x dx e 1∫ 0 x3 dx. (b) e∫ 1 x dx e e∫ 1 log x dx. 3. Sabendo que b∫ a 1 dx = b− a e que b∫ a x dx = b2 − a2 2 determine 2∫ −1 |3x− 1| dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 5 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1.2 Fo´rmula fundamental do ca´lculo integral. O pro´ximo resultado vai-nos dar uma classe muito importante de func¸o˜es integra´veis em inter- valos fechados e limitados, a saber, as func¸o˜es cont´ınuas. Esta classe engloba ja´ a maior parte das func¸o˜es com que vamos trabalhar. Teorema 1.2.1 Seja f : I = [a, b]→ R uma func¸a˜o cont´ınua. Enta˜o f e´ integra´vel a` Riemann em [a, b]. Observac¸o˜es 1. Na˜o e´ necessa´rio adicionar a hipo´tese de f ser uma func¸a˜o limitada uma vez que toda a func¸a˜o cont´ınua num intervalo fechado e limitado tem ma´ximo e mı´nimo nesse intervalo (Teorema de Weierstrass). 2. O teorema anterior tambe´m e´ valido para func¸o˜es que sejam cont´ınuas em todos os pontos de [a, b] com a poss´ıvel excepc¸a˜o de um nu´mero finito de pontos. Mas nessa altura temos que adicionar a hipo´tese de f ser uma func¸a˜o limitada. 3. Uma outra classe de func¸o˜es integra´veis em intervalos fechados e limitados que podemos considerar sa˜o as func¸o˜es mono´tonas. O pro´ximo resultado e´ conhecido por fo´rmula fundamental do ca´lculo integral (ou fo´rmula de Barrow) e relaciona dois conceitos aparentemente desconexos, a saber, o conceito de integral que foi motivado pelo problema de determinar uma a´rea, e o conceito de primitiva que envolve a noc¸a˜o de derivada. Teorema 1.2.2 Seja f : I = [a, b] → R uma func¸a˜o limitada, integra´vel e primitiva´vel. Seja F : I = [a, b]→ R uma primitiva de f . Enta˜o b∫ a f(x)dx = [ F (x) ]b a = F (b)− F (a). A demonstrac¸a˜o deste resultado no caso particular em que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua sera´ obtida mais adiante como corola´rio das propriedades do integral indefinido (ver o corola´rio 1.6.2). Exerc´ıcios resolvidos Vejamos uma se´rie de exerc´ıcios resolvidos onde podemos aplicar a fo´rmula de Barrow. Estes exerc´ıcios pretendem ser tambe´m uma revisa˜o sobre primitivas e func¸o˜es trignome´tricas inversas. 1. b∫ a kdx com k ∈ R uma constante. 2. 1∫ 0 x dx ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 6 1.2. FO´RMULA FUNDAMENTAL DO CA´LCULO INTEGRAL. 3. 6∫ 2 √ x+ 1 dx. 4. 3∫ 1 e−x dx. 5. 3∫ 1 |2− x| dx. 6. e∫ 1 log x dx. 7. 1∫ 0 arctan x 1 + x2 dx. 8. √ 3∫ 0 dx (1 + x2)arctan x . 9. √ 2 2∫ − √ 2 2 x dx√ 1− x4 . 10. 1∫ −1 dx x2 − 4. 11. 0∫ −2 x+ 10 (x− 1)2 dx. 12. √ 2∫ 0 2x+ 3 x2 + 2 dx. 13. 2∫ −2 3x3 + 2 x+ 3 dx. 14. 1∫ 0 e2x ex + 4 dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 7 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 15. pi2∫ 0 cos √ x dx. 16. 1 3∫ 0 2 dx√ 4− 9x2 . Resoluc¸a˜o 1. b∫ a k dx = k b∫ a 1 dx = k[x]ba = k(b− a). 2. 1∫ 0 x dx = [ x2 2 ]1 0 = 1 2 . 3. Recordemos que P f ′fα = fα+1 α+ 1 + Cte (α 6= −1). Assim, 6∫ 2 √ x+ 1 dx = 6∫ 2 (x+ 1) 1 2 dx = [ (x+ 1) 3 2 3 2 ]6 2 = 2 3 [ (x+ 1) 3 2 ]6 2 = 2 3 (7 3 2 − 3 32 ). 4. Recordemos que P (f ′ef ) = ef + Cte. Assim, 3∫ 1 e−xdx = − 3∫ 1 −e−xdx = − [e−x]3 1 = −(e−3 − e−1) = e−1 − e−3. 5. Tem-se f(x) = |2− x| = { 2− x, 2− x ≥ 0 x− 2, 2− x ≤ 0 = { 2− x, 1 ≤ x ≤ 2 x− 2, 2 ≤ x ≤ 3 . Assim 3∫ 1 |2− x| dx = 2∫ 1 (2− x) dx+ 3∫ 2 (x− 2) dx = [ 2x− x 2 2 ]2 1 + [ x2 2 − 2x ]3 2 = (4− 2)− ( 2− 1 2 ) + (9 2 − 6 ) − (2− 4) = 1, como podemos constatar imediatamente analisando o gra´fico da func¸a˜o. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 8 1.2. FO´RMULA FUNDAMENTAL DO CA´LCULO INTEGRAL. 31 y = x− 2 y = 2− x x y 1 −2 2 2 6. Recordemos a fo´rmula de primitivac¸a˜o por partes P (u′v) = u v−P (u v′). Tomando u′ = 1 e v = log x obtemos P 1 · log x = x log x− P x 1 x = x log x− x = x(log x− 1). Assim, e∫ 1 log x dx = [x(log x− 1)]e1 = e(1 − 1)− (−1) = 1. 7. A func¸a˜o f(x) = arctg x e´ a func¸a˜o trignome´trica inversa da tangente. Esta func¸a˜o esta´ definida em todo o R e tem como contradomı´nio ] − pi2 , pi2 [. O seu gra´fico encontra-se representado na seguinte figura. -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -4 -2 0 2 4 atan(x) pi 2 √ 3 − √ 3 3 1 √ 3 3 −1− √ 3 pi 6 −pi 6 −pi 4 −pi 3 pi 3 pi 4 −pi 2 Tem-se (arctg x)′ = 11+x2 . Como P f ′ f = 1 2 f2 obtemos P arctg x 1 + x2 = P 1 1 + x2 arctg x = 1 2 arctg2x. Assim, 1∫ 0 arctg x 1 + x2 dx = 1 2 [ arctg2x ]1 0 = 1 2 (arctg21− arctg20) = 1 2 (pi 4 )2 = pi2 32 . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 9 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 8. Recordemos que P f ′ f = log |f |+ Cte. Assim P 1 arctg x(1 + x2) = P 1 1+x2 arctg x = log |arctg x|, e portanto, √ 3∫ 1 dx arctg x(1 + x2) = [ log |arctg x| ]√3 1 = log |arctg √ 3| − log |arctg 1| = log pi 3 − log pi 4 = log 4 3 . 9. A func¸a˜o f(x) = arcsen x e´ a func¸a˜o trignome´trica inversa de seno x. Esta func¸a˜o esta´ definida em [−1, 1] e tem como contradomı´nio [−pi2 , pi2 ]. O seu gra´fico encontra-se repre- sentado na seguinte figura. -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 asin(x) − √ 3 2 pi 2 −pi 2 pi 3 pi 6 −pi 3 −pi 6 1 2 √ 3 2 − 1 2 Tem-se y = (arcsen x)′ = 1√ 1−x2 , logo (arcsen f)′ = 1√ 1− f2 f ′ = f ′√ 1− f2 . Assim P x√ 1− x4 = 1 2 P 2x√ 1− (x2)2 = 1 2 arcsen x2, e √ 2 2∫ − √ 2 2 x dx√ 1− x4 = 1 2 [ arcsen x2 ]√2 2 − √ 2 2 = 1 2 ( arcsen 1 2 − arcsen 1 2 ) = 0. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 10 1.2. FO´RMULA FUNDAMENTAL DO CA´LCULO INTEGRAL. 10. A func¸a˜o R(x) = 1 x2−4 e´ uma func¸a˜o racional pro´pria pois e´ um quociente de dois polino´mios, sendo que o grau do denominador e´ superior ao do numerador. O polino´mio x2−4 tem duas ra´ızes simples −2, 2 e portanto admite a factorizac¸a˜o x2−4 = (x+2)(x−2). Vamos empregar o me´todo dos coeficientes indeterminados para decompoˆr R(x): 1 x2 − 4 = 1 (x− 2)(x+ 2) = A x− 2 + B x+ 2 = A(x+ 2) +B(x− 2) (x− 2)(x+ 2) = (A+B)x+ 2(A−B) x2 − 4 . Daqui resultam as igualdades{ A+B = 0 2(A−B) = 1 ⇔ { B = −A 4A = 1 ⇔ { B = −14 A = 14 . Assim 1 x2 − 4 = 1 4(x− 2) − 1 4(x+ 2) e portanto 1∫ −1 dx x2 − 4 = 1∫ −1 [ 1 4(x− 2) − 1 4(x+ 2) ] dx = 1 4 1∫ −1 dx x− 2 − 1 4 1∫ −1 dx x+ 2 = 1 4 [ log |x− 2| − log |x+ 2| ]1 −1 = 1 4 (log 1− log 3− log 3 + log 1) = − log 3 2 . 11. A func¸a˜o R(x) = x+10 (x−1)2 e´ uma func¸a˜o racional pro´pria cujo denominador admite a ra´ız dupla x = 1. Nestes casos procuramos decompoˆr R(x) da seguinte forma: x+ 10 (x− 1)2 = A x− 1 + B (x− 1)2 = A(x− 1) +B (x− 1)2 = Ax+B −A (x− 1)2 . Daqui resultam as igualdades{ A = 1B −A = 10 ⇔ { A = 1 B = 11. Assim x+ 10 (x− 1)2 = 1 x− 1 − 11 (x− 1)2 . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 11 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Uma vez que P 1 (x−1)2 = P (x− 1)−2 = −(x− 1)−1 obtemos 0∫ −2 x+ 10 (x− 1)2 dx = 0∫ −2 ( 1 x− 1 − 11 (x− 1)2 ) dx = [ log |x− 1| − 11 x− 1 ]0 −2 = log 1 + 11− log 3− 11 3 = 22 3 − log 3. 12. A func¸a˜o R(x) = 2x+3x2+2 e´ uma func¸a˜o racional pro´pria cujo denominador na˜o admite ra´ızes reais (apenas tem ra´ızes complexas simples). Nestes casos decompomos R(x) da seguinte forma: 2x+ 3 x2 + 2 = 2x x2 + 2 + 3 x2 + 2 . A primeira parcela tem primitiva imediata P 2x x2+2 = log |x2 + 2| uma vez que e´ da forma P f ′ f = log |f |. Quanto a` segunda parcela tem primitiva (quase) imediata. Sena˜o vejamos: P 3 x2 + 2 = P 3 2 ( x2 2 + 1 ) = 3 √ 2 2 P 1√ 2( x√ 2 )2 + 1 = 3 √ 2 2 arctg x√ 2 , pois e´ da forma P f ′ 1+f2 = arctg f com f(x) = x√ 2 . Donde √ 2∫ 0 2x+ 3 x2 + 2 dx = √ 2∫ 0 2x dx x2 + 2 + √ 2∫ 0 3 dx x2 + 2 = [ log |x2 + 2| ]√2 0 + 3 √ 2 2 [ arctg x√ 2 ]√2 0 = log 4− log 2 + 3 √ 2 2 [ arctg √ 2√ 2 − arctg 0 ] = log 2 + 3 √ 2pi 8 . 13. A func¸a˜o R(x) = 3x 3+2 x+3 . Trata-se de uma func¸a˜o racional impro´pria pois o grau do denominador e´ inferior ao grau do numerador. Dividindo os polino´mios podemos escrever R(x) como uma soma de um polino´mio com uma func¸a˜o racional pro´pria (outro processo seria utilizando a regra de Ruffini com a ra´ız x = −3): ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 12 1.2. FO´RMULA FUNDAMENTAL DO CA´LCULO INTEGRAL. − 3x3 + 0x2 + 0x x+ 3 3x3 − 9x2 + 0x 9x2 + 27x 9x2 27x + 2 2+ 27x − 81 − 79 3x2 − 9x+ 27 − − Donde resulta que 3x 3+2 x+3 = 3x 2 − 9x+ 27− 79x+3 . Assim 2∫ −2 3x3 + 2 x+ 3 dx = 2∫ −2 [ 3x2 − 9x+ 27− 79 x+ 3 ] dx = [ x3 − 9 2 x2 + 27x− 79 log |x+ 3| ]2 −2 = 8− 18 + 54− 79 log 5− (−8− 18− 54− 79 log 1) = 132 − 79 log 5. 14. Recordemos a fo´rmula de primitivac¸a˜o por substituic¸a˜o. Seja x = x(t) uma func¸a˜o de- riva´vel e invert´ıvel, e t = t(x) a correspondente inversa. Enta˜o Pf(x) = Pf(x(t)).x′(t)|t=t(x). Vamos fazer a substituic¸a˜o t = ex. Enta˜o x = log t e x′ = 1t . Assim P e2x ex + 4 = P t2 t+ 4 . 1 t ∣∣∣∣ t=ex = P t t+ 4 ∣∣∣∣ t=ex = P t+ 4− 4 t+ 4 ∣∣∣∣ t=ex = P ( 1− 4 t+ 4 )∣∣∣∣ t=ex = ( t− 4 log |t+ 4| )∣∣∣ t=ex = ex − 4 log(ex + 4). 15. Vamos fazer a substituic¸a˜o t = √ x. Enta˜o x = t2 e x′ = 2t. Assim P cos √ x = P cos t.2t|t=√x por partes = sin t . 2t− 2P sin t|t=√x = 2t sin t+ 2 cos t|t=√x = 2 √ x sin √ x+ 2 cos √ x. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 13 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Assim, pi2∫ 0 cos √ x dx = [ 2 √ x sin √ x+ 2 cos √ x ]pi2 0 = 2pi sinpi + 2cos pi − (0 + 2 cos 0) = −4. 16. Finalmente consideremos a func¸a˜o 1√ 4−9x2 . A primitiva desta func¸a˜o e´ uma primitiva (quase) imediata envolvendo a func¸a˜o arcsinx. Alternativamente podemos tentar calcular a primitiva efectuando uma mudanc¸a de varia´vel conveniente. Mais precisamente, 1√ 4−9x2 e´ uma func¸a˜o “racional” em x e √ 4− 9x2, ou seja, do tipo R(x,√a2 − b2x2) com a = 2 e b = 3. Para este tipo de func¸o˜es efectuamos a mudanc¸a de varia´vel x = ab sin t = 2 3 sin t. Logo x′ = 23 cos t e t = arcsin 3x 2 . Portanto P 1√ 4− 9x2 = P 1√ 4− 9 (23)2 sin2 t 2 3 cos t ∣∣∣∣∣∣ t=arcsin 3x 2 = 2 3 P cos t√ 4(1− sin2 t) ∣∣∣∣∣ t=arcsin 3x 2 = 2 3 P cos t√ 4 cos2 t ∣∣∣∣ t=arcsin 3x 2 = 2 3 P cos t 2 cos t ∣∣∣∣ t=arcsin 3x 2 = 1 3 P 1|t=arcsin x = 1 3 t|t=arcsin 3x 2 = 1 3 arcsin 3x 2 . Assim, 1 3∫ 0 2 dx√ 4− 9x2 = 2 3 [ arcsin 3x 2 ] 1 3 0 = 2 3 ( arcsin 1 2 − arcsin 0 ) = 2 3 pi 6 = pi 9 . Exerc´ıcios Calcule os seguintes integrais usando a fo´rmula fundamental do ca´lculo integral. 1. 2∫ 0 f(x)dx com f(x) = { x2 + 1, 0 ≤ x ≤ 1 x+3 2 , 1 ≤ x ≤ 2 . 2. 5∫ −1 √ 2 + x dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 14 1.2. FO´RMULA FUNDAMENTAL DO CA´LCULO INTEGRAL. 3. √ pi∫ 0 x cos(x2 − pi) dx. 4. e∫ 0 x2ex 3−4 dx. 5. pi/6∫ 0 cos x esinx dx. 6. pi 2∫ −pi (x+ cos x) sin x dx. 7. √ pi∫ 0 x cos(x2 − pi) dx. 8. e∫ 1 2 dx x log x . 9. e∫ 1 2 dx x log2 x . 10. 1∫ 0 x2ex (Sug:2x por partes). 11. 1∫ −1 arctg x dx (Sug: por partes). 12. 1∫ − 1 2 arcsin x dx (Sug: por partes). 13. 1∫ 0 x3 √ 1− x2 dx (Sug: por partes). 14. 1∫ 0 x2arctg x 1 + x2 dx (Sug: decomp+al´ınea (k)). ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 15 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 15. 2∫ 1 dx x(x+ 4) . 16. 2∫ 1 dx x(x+ 4)2 . 17. 2∫ 1 dx x(x2 + 4) . 18. 1∫ 1 2 x2 − 2 x3 + x . 19. 3∫ 1 dx ex + 1 (Sug: fazer t = ex). 20. 1∫ 0 e2x + e3x 1 + e2x dx. 21. pi 4∫ 0 tgx sec2x etg x (Sug: por partes). 22. pi∫ 0 sinx ex (Sug: 2 x por partes ... ). ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 16 1.3. APLICAC¸O˜ES DO CA´LCULO INTEGRAL 1.3 Aplicac¸o˜es do ca´lculo integral • Ca´lculo de a´reas. • Ca´lculo de volumes de so´lidos de revoluc¸a˜o. • Ca´lculo de comprimentos de arco. Teorema 1.3.1 Se f, g : I = [a, b] → R sa˜o duas func¸o˜es integra´veis tais que f(x) ≥ g(x) para todo o x ∈ [a, b], b∫ a (f(x)− g(x))dx representa a a´rea da regia˜o {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, g(x) ≤ y ≤ f(x)} (ver a seguinte figura). y a g f b x R b a (f(x)− g(x))dx Observac¸o˜es Se o sinal de f − g na˜o for constante no intervalo [a, b] temos que determinar os pontos onde os gra´ficos de ambas as func¸o˜es se intersectam e decompoˆr o intervalo em subintervalos onde esse sinal se mantenha constante. O valor da a´rea sera´ a soma das a´reas em cada um desses subintervalos. No exemplo descrito na seguinte figura a a´rea da regia˜o assinalada vem dada pelo integral c∫ a (g(x) − f(x)) dx+ d∫ c (f(x)− g(x)) dx + b∫ d (g(x) − f(x)) dx. a b g f x y c d Vejamos dois exemplos de ca´lculos de a´reas. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 17 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1. Calcular a a´rea da regia˜o delimitada por |x| e 2− x2. y x y = 2− x2 y = |x| −1 1 2 A´rea = 1∫ −1 ((2− x2)− |x|)dx = 0∫ −1 ((2− x2)− (−x))dx+ 1∫ 0 ((2− x2)− x)dx = [ 2x− x 3 3 + x2 2 ]0 −1 + [ 2x− x 3 3 − x 2 2 ]1 0 = −(2(−1)− (−1) 3 3 + (−1)2 2 ) + (2− 1 3 + 1 2 ) = 10 3 . 2. Pretende-se calcular a a´rea da regia˜o (representada na pro´xima figura){ (x, y) : 0 ≤ y ≤ 1 x , x 4 ≤ y ≤ 2x, } . y x y = 2x y = x 4 y = 1 x 2 2 √ 2 1 2 √ 2 2 1 Para isso necessitamos de determinar os pontos de intersecc¸a˜o dos gra´ficos de cada uma das func¸o˜es. Ora, a intersecc¸a˜o da hipe´rbole y = 1x com a recta y = 2x obtem-se resolvendo o sistema y = 1x y = 2x ⇔ y = 1x 1 x = 2x ⇔ y = 1x x2 = 2. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 18 1.3. APLICAC¸O˜ES DO CA´LCULO INTEGRAL Como y ≥ 0 obtemos o ponto ( √ 2 2 , √ 2). Analogamente a intersecc¸a˜o da hipe´rbole y = 1x com a recta y = x4 obtem-se resolvendo o sistema y = 1x y = x2 ⇔ y = 1x 1 x =x 2 ⇔ y = 1x x2 = 4. Como y ≥ 0 obtemos o ponto (2, 12 ). Assim, A´rea = √ 2 2∫ 0 ( 2x− x 4 ) dx+ 2∫ √ 2 2 ( 1 x − x 4 ) dx = 7 4 [ x2 2 ]√2 2 0 + [ log |x| − x 2 8 ]2 √ 2 2 = · · · Vejamos agora como calcular o volume de so´lidos de revoluc¸a˜o usando o integral definido. Seja f : [a, b] → R e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Seja V o so´lido de revoluc¸a˜o em torno do eixo do xx com geratriz definida pelo gra´fico f , ou seja, V e´ o so´lido obtido rodando o gra´fico de f em torno do eixo do xx como ilustrado na seguinte figura. f(x) z x y ba Teorema 1.3.2 O volume do so´lido de revoluc¸a˜o anterior e´ dado por V = b∫ a pi f2(x) dx. Exemplo Pretende-se calcular o volume do cone de altura h = 1 e cuja base e´ uma disco de raio R = 1. O cone e´ um so´lido de revoluc¸a˜o em torno do eixo dos xx, cuja geratriz e´ a func¸a˜o f : [0, 1]→ R definida por f(x) = x. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 19 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1 1 f(x) x z y O volume do cone e´ enta˜o dado por V = 1∫ 0 pi x2 dx = pi [ x3 3 ]1 0 = pi 3 . Vejamos por u´ltimo como calcular o comprimento de arco (ou comprimento de linha) para curvas definidas como gra´ficos de func¸o˜es. Intuitivamente o comprimento de arco de uma func¸a˜o f : [a, b]→ R representa de o comprimento de uma linha de expessura nula sobreposta ao gra´fico de f entre os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)) que posteriormente foi rectificada. Teorema 1.3.3 Se f : [a, b]→ R e´ uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] e com derivada cont´ınua em ]a, b[, o comprimento de arco de f(x) entre os pontos (a, f(a)) e (b, f(b)) e´ dado por l(f) = b∫ a √ 1 + [f ′(x)]2 dx. Exemplo Pretende-se calcular o per´ımetro de uma circunfereˆncia de raio r. Uma equac¸a˜o da circun- fereˆncia centrada na origem e raio um e´ x2 + y2 = r2. Esta circunfereˆncia determina duas semi-circunfereˆncias, uma situada no semi-plano superior de equac¸a˜o y = √ r2 − x2 e outra situ- ada no semi-plano inferior de equac¸a˜o y = −√r2 − x2. O per´ımetro da cirunfereˆncia obte´m-se duplicando o comprimento de arco de y = √ r2 − x2 (por exemplo) entre os pontos (−r, 0) e (r, 0) (ver a seguinte figura). y = −√r2 − x2 r r−r x y y = √ r2 − x2 ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 20 1.3. APLICAC¸O˜ES DO CA´LCULO INTEGRAL O per´ımetro da semi-circunfereˆncia e´ dado por r∫ −r √ 1 + [y′]2 dx = r∫ −r √ 1 + ( −x√ r2 − x2 )2 dx = r∫ −r √ 1 + x2 r2 − x2 dx = r∫ −r √ r2 − x2 + x2 r2 − x2 dx = r r∫ −r 1√ r2 − x2 dx = r [ arcsin x r ]r −r = r [pi 2 − ( −pi 2 )] = pir. Logo o per´ımetro da circunfereˆncia e´ dado pela fo´rmula bem conhecida 2pir. Para calcular uma primitiva de 1√ r2−x2 efectua´mos a mudanc¸a de varia´vel x = r sin t. Enta˜o x′ = r cos t e t = arcsin xr . Assim P 1√ r2 − x2 = P r cos t√ r2 − r2 sin2 t ∣∣∣∣∣ t=arcsin x r = P r cos t r cos t ∣∣∣∣ t=arcsin x r = P 1 |t=arcsin x r = t |t=arcsin x r = arcsin x r . Exerc´ıcios 1. Represente graficamente e calcule a a´rea das seguintes regio˜es do plano: (a) { (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 2, −x2 ≤ y ≤ √x}. (b) { (x, y) ∈ R2 : −1 ≤ x ≤ 1, x2 − 1 ≤ y ≤ arccos x}. 2. Represente graficamente e calcule a a´rea da regia˜o do plano delimitada por y = |x|, y = −x2 + 6 e y + x2 = 2. 3. Calcular o volume do so´lido de revoluc¸a˜o obtido rodando y = x2, 0 ≤ x ≤ 2, em torno do eixo dos xx. 4. Calcular o volume do so´lido obtido rodando a a´rea delimitada pelas curvas y = √ x e y = x2 . 5. Calcule o volume da esfera de raio r. 6. Calcular o comprimento de arco do gra´fico de f(x) = x 2 4 − 12 log x entre x = 1 e x = 2. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 21 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1.4 Integrac¸a˜o por partes e por substituic¸a˜o Vimos nas secc¸o˜es anteriores que para calcular os integrais necessita´vamos muitas vezes de primitivar a func¸a˜o integranda recorrendo a` primitivac¸a˜o por partes e/ou por substituic¸a˜o. Estas te´cnicas podem ser aplicadas directamente no integral a calcular passando a designar-se por integrac¸a˜o por partes e por substituic¸a˜o. Teorema 1.4.1 (Integrac¸a˜o por partes) Sejam f,G : [a, b] → R duas func¸o˜es integra´veis com f primitiva´vel e G deriva´vel. Seja F : [a, b]→ R uma primitiva de f . Enta˜o e´ va´lida a fo´rmula b∫ a f(x)G(x) dx = [ F (x)G(x) ]b a − b∫ a F (x)G′(x) dx. Dem: Temos (FG)′ = F ′G+ F G′ = f G+ F G′, ou seja, F G e´ uma primitiva de f G+ F G′. Logo pela fo´rmula fundamental do ca´lculo integral, [ F (x)G(x) ]b a = b∫ a (f(x)G(x) + F (x)G′(x))dx = b∫ a f(x)G(x) dx + b∫ a F (x)G′(x) dx, ou seja, b∫ a f(x)G(x) dx = [F (x)G(x)]ba − b∫ a F (x)G′(x) dx. � Exemplo Pretende-se calcular 1∫ −1 arctgx dx. Ora, 1∫ −1 1︸︷︷︸ f . arctg x︸ ︷︷ ︸ G dx = [ x︸︷︷︸ F . arctgx︸ ︷︷ ︸ G ]1 −1 − 1∫ −1 x︸︷︷︸ F . 1 1 + x2︸ ︷︷ ︸ G′ dx = [ x arctgx ]1 −1 − 1 2 1∫ −1 2x 1 + x2 dx = arctg 1− (−1)arctg(−1)− 1 2 [ log(1 + x2) ]1 −1 = pi 4 − pi 4 − 1 2 (log 2− log 2) = 0. Teorema 1.4.2 (Integrac¸a˜o por substituic¸a˜o) Seja f : [a, b]→ R uma func¸a˜o cont´ınua e prim- itiva´vel. Seja ψ : J → [a, b] uma func¸a˜o invert´ıvel e deriva´vel num intervalo J de extremos t0 ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 22 1.4. INTEGRAC¸A˜O POR PARTES E POR SUBSTITUIC¸A˜O e t1 (ou seja, J = [t0, t1] ou J = [t1, t0] consoante t0 < t1 ou t1 < t0) e tal que ψ(t0) = a e ψ(t1) = b. Enta˜o b∫ a f(x) dx = t1∫ t0 f(ψ(t))ψ′(t) dt. Dem: Seja F = P f . Pelo teorema da derivada da func¸a˜o composta, (F ◦ ψ)′(t) = F ′(ψ(t)) · ψ′(t) = f(ψ(t)) · ψ′(t). Pela fo´rmula fundamental do ca´lculo integral temos, t1∫ t0 f(ψ(t))ψ′(t) dt = [ (F ◦ ψ)(t) ]t1 t0 = (F ◦ ψ)(t1)− (F ◦ ψ)(t0) = F (ψ(t1))− F (ψ(t0)) = F (b)− F (a) = b∫ a f(x) dx. � Observac¸o˜es 1. Muitas vezes escreveremos x = x(t) no lugar de ψ(t). 2. Na maior parte das situac¸o˜es podemos optar por integrar uma func¸a˜o por substituic¸a˜o ou primitivar essa func¸a˜o por substituic¸a˜o e calcular o valor da primitiva encontrada nos extremos do domı´nio de integrac¸a˜o. No entanto ha´ situac¸o˜es em que podemos calcular o integral sem ser necessa´rio primitivar a func¸a˜o integranda (que ate´ podemos na˜o conhecer!). E´ o caso, por exemplo, do integral de func¸o˜es ı´mpares em certo tipo de domı´nios como veremos mais adiante. Exemplo Pretende-se calcular 1∫ 0 dx 1 + ex . Vamos efectuar a substituic¸a˜o t = ex. Enta˜o x(t) = ψ(t) = log t e x′(t) = ψ′(t) = 1t . Quanto aos novos extremos de integrac¸a˜o temos { x(t0) = a = 0 x(t1) = b = 1 ⇔ { log t0 = 0 log t1 = 1 ⇔ { t0 = 1 t1 = e ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 23 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Assim 1∫ 0 1 1 + ex︸ ︷︷ ︸ f(x) dx = e∫ 1 1 1 + t︸ ︷︷ ︸ f(x(t)) · 1 t︸︷︷︸ x′(t) dt = e∫ 1 [ −1 1 + t + 1 t ] dt = [ − log |1 + t|+ log |t| ]e 1 = − log(1 + e) + log e− (− log 2 + log 1) = 1 + log 2 1 + e . Para decompoˆr a func¸a˜o racional 1(1+t)t emprega´mos o me´todo dos coeficientes indeterminados: 1 (1 + t)t = A 1 + t + B t = At+B(t+ 1) (t+ 1)t = (A+B)t+B (t+ 1)t Daqui resultam as igualdades B = 1 e A+B = 0, ou seja, A = −1. Definic¸a˜o 3 Uma func¸a˜o f : [−a, a] → R (ou f : R → R) diz-se ı´mpar [resp. par] se f(x) = −f(−x) [resp. f(x) = f(−x)] para todo o x. Observac¸o˜es O gra´fico de uma func¸a˜o ı´mpar e´ sime´trico relativamente a` origem do referencial (ver a figura abaixo).Como exemplos de func¸o˜es ı´mpares temos sin x, arcsinx, arctg x, x + 3x3, qualquer polino´mio formado apenas por mono´mios de grau ı´mpar, etc,. . . O gra´fico de uma func¸a˜o par e´ sime´trico relativamente ao eixo dos yy, i.e., relativamente a` recta x = 0 (ver a figura abaixo). Como exemplos de func¸o˜es pares temos cos x, |x|, x2 + 1, qualquer polino´mio formado apenas por mono´mios de grau par, etc,. . . Temos as seguintes propriedades (ver a pro´xima figura). Proposic¸a˜o 1.4.3 Consideremos uma func¸a˜o integra´vel f : [−a, a]→ R com a > 0. Entao: (i) Se f e´ ı´mpar, a∫ −a f(x) dx = 0. (ii) Se f e´ par, a∫ −a f(x) dx = 2 a∫ 0 f(x) dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 24 1.4. INTEGRAC¸A˜O POR PARTES E POR SUBSTITUIC¸A˜O x y y = x + As a´reas sa˜o iguais mas de sinais contra´rios −a (i) a− x y + As a´reas sa˜o iguais e de sinais iguais + a−a (ii) Dem: Vamos provar apenas (i). O ponto (ii) demonstra-se de forma ana´loga e fica como exerc´ıcio. Pela aditividade do integral temos a∫ −a f(x) dx = 0∫ −a f(x) dx+ a∫ 0 f(x) dx. Portanto basta mostrar que 0∫ −a f(x) dx = − a∫ 0 f(x) dx. Vamos efectuar no primeiro integral a mudanc¸a de varia´vel t = −x, ou seja, x(t) = −t. Enta˜o x′ = x′(t) = −1. Quanto aos novos extremos de integrac¸a˜o temos { x(t0) = −a x(t1) = 0 ⇔ { −t0 = −a −t1 = 0 ⇔ { t0 = a t1 = 0 Assim 0∫ −a f(x) dx = 0∫ a f(−t)(−1) dt = − 0∫ a f(−t) dt = 0∫ a f(t) dt = − a∫ 0 f(t)dt = − a∫ 0 f(x)dx (a varia´vel t e´ muda). Na 3a igualdade usa´mos o facto de f ser uma func¸a˜o ı´mpar e portanto de termos f(−t) = −f(t) para todo o t. Na 4a igualdade troca´mos os extremos de integrac¸a˜o e usa´mos a propriedade d∫ c f = − c∫ d f . � ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 25 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Exerc´ıcios 1. Sejam f, g : [−a, a]→ R duas func¸o˜es. Mostre que: (a) Se f, g sa˜o func¸o˜es ı´mpares [resp. pares] enta˜o f + g e´ tambe´m uma func¸a˜o ı´mpar [resp. par]. (b) Indique, justificando, se f g (e f/g) e´ uma func¸a˜o par ou ı´mpar em cada um dos casos descritos no seguinte quadro: f g f impar f par g impar g par 2. Demonstre a fo´rmula (ii) da proposic¸a˜o 1.4.3. 3. Aplique a proposic¸a˜o 1.4.3 (e o exerc´ıcio 1b) para calcular: (a) 1∫ −1 |x| dx. (b) 1 2∫ − 1 2 cos x log 1+x1−x dx. (c) 2∫ −2 sinx 1+x8 dx. 4. O integral b∫ a f(x) dx e´ transformado pela mudanc¸a de varia´vel x = sin t no integral pi 2∫ 0 cos t 1+cos t dt. Determine a, b e f(x). 5. Mostre, sem calcular os integrais, que 1∫ 0 x5(1− x)7 dx = 1∫ 0 x7(1− x)5 dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 26 1.5. TEOREMA DA ME´DIA. 1.5 Teorema da me´dia. Consideremos uma varia´vel X = X(t) que depende continuamente de t num dado intervalo [a, b]. Durante o per´ıodo de tempo compreendido entre t = a e t = b efectuamos n observac¸o˜es que registamos na varia´vel da seguinte forma: dividimos o intervalo [a, b] em n sub-intervalos de igual amplitude ∆ = b−an , I1 = [a, a+∆], · · · , Ij = [a+ (j − 1)∆, a+ j∆], · · · , In = [a+ (n− 1)∆, a+ n∆]. Para cada um destes sub-intervalos Ij = [a+(j−1)∆, a+ j∆], tomamos o ponto me´dio tj = a+ (j−1)∆+ ∆2 e registamos o valor: Xj = X(tj). Obtivemos assim n observac¸o˜es X1,X2, . . . ,Xn, que representamos como um gra´fico de n colunas de amplitude ∆ e alturas X1, . . . ,Xn. A´rea = ∆Xj t X(t) a b t1 t2 tj tn ∆ X1X1 X2 X3 Xj Xn X A a´rea de cada coluna de altura Xj e´ obviamente Xj ·∆. Soma das a´reas de todas as colunas da´-nos um valor aproximado da a´rea abaixo do gra´fico de X, ou seja, ∆ · n∑ i=1 Xj = n∑ i=1 Xj ·∆ ∼ b∫ a X(t) dt. Como ∆ = b−an obtemos b− a n n∑ j=1 Xj, ∼ b∫ a X(t) dt. Dividindo ambos os membros da igualdade anterior por b− a obtemos 1 n n∑ j=1 Xj , ∼ 1 b− a b∫ a X(t) dt. Ora o primeiro membro representa a me´dia das n observac¸o˜es, que vamos notar Xn, ou seja, Xn = X1 +X2 + · · ·+Xn n = ∑n j=1Xj n . Portanto Xn ∼ 1 b− a b∫ a X(t) dt. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 27 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Como X(t) e´ uma func¸a˜o cont´ınua podemos mostrar que lim n→∞ Xn = Xmed = 1 b− a b∫ a X(t) dt. Por esta raza˜o designamos Xmed o valor me´dio da varia´vel X em [a, b] e que corresponde a` noc¸a˜o intuitiva de me´dia quando passamos do caso discreto de n observac¸o˜es para o caso de uma observac¸a˜o X(t) a depender continuamente de t. O teorema da me´dia, enunciado a seguir, vai garantir que existe pelo menos um instante t0 tal que X(t0) foi igual ao valor me´dio Xmed. Note que no caso discreto este resultado e´ falso, ou seja, a me´dia de n observac¸o˜es na˜o corresponde necessariamente a nenhum dos valores observados. Definic¸a˜o 4 Seja f : [a, b]→ R uma func¸a˜o integra´vel. Chamamos valor me´dio de f em [a, b] a fmed = 1 b− a b∫ a f(x)dx. Teorema 1.5.1 (Teorema da me´dia) Se f : [a, b] → R e´ uma func¸a˜o cont´ınua, existe c ∈ [a, b] tal que f(c) = fmed, ou seja, b∫ a f(x)dx = f(c)(b− a). Poss´ıveis valores de c f(c) y x ba f(x) y x a b f(x) f(c) Dem: Como f e´ cont´ınua em [a, b] existem t0, t1 ∈ [a, b] tais que m = min f = f(t0) e M = max f = f(t1) (teorema de Weierstrass). Como m ≤ f(x) ≤M, ∀x ∈ [a, b] temos m(b− a) = b∫ a mdx ≤ b∫ a f(x) dx ≤ b∫ a M dx =M(b− a). Dividindo por b− a e atendendo ao facto que fmed = 1 b− a b∫ a f(x)dx vem m ≤ fmed ≤ M. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 28 1.5. TEOREMA DA ME´DIA. Como f e´ cont´ınua vai existir, pelo teorema de Bolzano, c ∈ [t0, t1] (ou, c ∈ [t1, t0]) tal que f(c) = fmed, ou seja, f(c) = 1 b− a b∫ a f(x) dx. � Exemplo Considere f(x) = x2 + 2x, x ∈ [0, 3]. 1. Determine o valor me´dio de f(x). 2. Determine c ∈ [0, 3] tal que f(c) = fmed. Interprete geometricamente o resultado. Resoluc¸a˜o 1. Por definic¸a˜o temos fmed = 1 3− 0 3∫ 0 (x2 + 2x) dx = 1 3 [ x3 3 + x2 ]3 0 = 6. 2. Queremos c ∈ [0, 3] tal que f(c) = fmed = 6, ou seja, c2+2c = 6. Resolvendo esta equac¸a˜o do 2o grau obtemos as duas soluc¸o˜es c = −1−√7 ou c = −1+√7. Como c ∈ [0, 3] a u´nica soluc¸a˜o do problema e´ c = −1 +√7. 15 15 fmed = 6 −1 + √ 7 3 x fmed = 6 −1 + √ 7 3 x y y Estas a´reas sa˜o iguaisy = x2 + 2x y = x2 + 2x ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 29 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1.6 Integral indefinido Definic¸a˜o 5 Seja f : [a, b] → R uma func¸a˜o integra´vel. Chama-se integral indefinido de f a` func¸a˜o F (x) = x∫ a f(t) dt, x ∈ [a, b]. f(x) A´rea=F (x) y a b x x Exemplos 1. Se f(x) = x, x ∈ [0, 1], enta˜o F (x) = x∫ 0 t dt = [ t2 2 ]x 0 = x2 2 . 2. Seja f(x) = { x− 1, 1 ≤ x ≤ 2, 3, 2 < x ≤ 4 . Enta˜o F (x) = x∫ 1 f(t) dt = x∫ 1 (t− 1) dt, 1 ≤ x ≤ 2, 2∫ 1 (t− 1) dt + x∫ 2 3 dt, 2 < x ≤ 4, = [ t2 2 − t ]x 1 , 1 ≤ x ≤ 2, [ t2 2 − t ]2 1 + 3 [ t ]x 2 , 2 < x ≤ 4, = x2 2 − x+ 12 , 1 ≤ x ≤ 2, 1 2 + 3x− 6 = 3x− 112 , 2 < x ≤ 4. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 30 1.6. INTEGRAL INDEFINIDO F (x) 3 321 1 2 11 2 F(x) x x f(x) x x y y 11 2 No u´ltimo exemplo pode-se constatar que o integral indefinido e´ uma func¸a˜o cont´ınua, embora f(x) na˜o o seja. De facto, esta e outras propriedades, muito importantes sa˜o verificadas pelo integral indefinido como vamos ver agora. Teorema 1.6.1 Seja f : [a, b] → R uma func¸a˜o integra´vel e seja F(x) = x∫ a f(t) dt, x ∈ [a, b], o respectivo integral indefinido. Enta˜o sa˜o verificadas as seguintes propriedades: (i) O integral indefinido e´ uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b]. (ii) Se f(x) ≥ 0 [resp. f(x) ≤ 0] para todo o x enta˜o F (x) e´ uma func¸a˜o crescente [resp. decrescente]. (iii) Se f(x) e´ uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] enta˜o F (x) e´ uma func¸a˜o deriva´vel em [a, b] e tem-se F ′(x) = f(x) para todo o x. Observac¸o˜es 1. A propriedade (iii) significa que F (x) e´ uma primitiva de f(x) sempre que f(x) foˆr uma func¸a˜o cont´ınua. De facto, F (x) e´ a u´nica primitiva de f(x) que se anula no ponto x = a (pois F (a) = a∫ a f(t) dt = 0). 2. E´ va´lida a seguinte propriedade mais forte que (iii): Se f(x) e´ uma func¸a˜o cont´ınua em x0 ∈ [a, b] enta˜o F (x) e´ uma func¸a˜o deriva´vel em x0 e tem-se F ′(x0) = f(x0). Dem: Vejamos (i): seja x0 ∈ [a, b] um ponto arbitra´rio. Temos que mostrar que limx→x0 F (x) = F (x0), ou seja, que limx→x0 F (x)− F (x0) = 0. Vamos mostrar que limx→x+0 F (x)− F (x0) = 0. O caso limx→x−0 F (x) − F (x0) = 0 prova-se de maneira ana´loga. Ora, tem-se por definic¸a˜o de ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 31 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL F (x) e pela aditividade do integral as relac¸o˜es F (x)− F (x0) = x∫ a f(t) dt− x0∫ a f(t) dt = x0∫ a f(t) dt + x∫ x0 f(t) dt − x0∫ a f(t) dt = x∫ x0 f(t) dt. Como f uma func¸a˜o integra´vel, e´ limitada, ou seja, existe M > 0 tal que −M ≤ f(t) ≤M para todo o t ∈ [a, b]. Em particular −M ≤ f(t) ≤M para todo o t ∈ [x0, x]. Assim, −M(x− x0) = x∫ x0 (−M) dt ≤ x∫ x0 f(t) dt ≤ x∫ x0 M dt =M(x− x0). Quando x→ x0, M(x− x0)→ 0 o que implica que x∫ x0 f(t) dt→ 0 como quer´ıamos provar. Vejamos (ii): sejam x1, x2 ∈ [a, b] tais que x1 ≤ x2. Temos que mostrar que F (x1) ≤ F (x2). Ora, temos novamente pela aditividade do integral, F (x2) = x2∫ a f(t) dt = x1∫ a f(t) dt+ x2∫ x1 f(t) dt. Como x2 ≥ x1 e f(t) ≥ 0 para todo o t, x2∫ x1 f(t) dt ≥ 0. Portanto F (x2) = x2∫ a f(t) dt ≥ x1∫ a f(t) dt = F (x1). Finalmente verifiquemos (iii): seja x0 ∈ [a, b] um ponto arbitra´rio. Temos que mostrar que ∃F ′(x0) = f(x0), ou seja, que existe lim x→x0 F (x)− F (x0) x− x0 = f(x0). Vimos na demonstrac¸a˜o do ponto (i) que F (x)− F (x0) = x∫ x0 f(t) dt. Assim lim x→x0 F (x)− F (x0) x− x0 = limx→x0 x∫ x0 f(t) dt x− x0 . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 32 1.6. INTEGRAL INDEFINIDO O valor 1 x− x0 x∫ x0 f(t) dt corresponde ao valor me´dio de f(x) em [x0, x] (estamos a supor que x > x0. O caso x < x0 e´ ana´logo). Como f e´ cont´ınua em [x0, x] (uma vez que e´ uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b]), o teorema da me´dia garante que podemos encontrar cx ∈ [x0, x] tal que f(cx) = 1 x− x0 x∫ x0 f(t) dt. Quando x → x+0 , cx → x0 uma vez que x0 ≤ cx ≤ x. Como f e´ uma func¸a˜o cont´ınua, limx→x0 f(cx) = f(limx→x0 cx) = f(x0). � Como consequeˆncia deste resultado obtemos imediatamente a fo´rmula fundamental do ca´lculo integral. Corola´rio 1.6.2 Se f : I = [a, b] → R e´ uma func¸a˜o cont´ınua enta˜o f e´ primitiva´vel e tem-se b∫ a f(t) dt = F (b)− F (a) onde F = P f . Corola´rio 1.6.3 Seja f : I → R uma func¸a˜o cont´ınua num intervalo aberto I. Seja x0 ∈ I. Consideremos a func¸a˜o F (x) = x∫ x0 f(t) dt. Enta˜o F (x) e´ uma func¸a˜o deriva´vel em I e tem-se F ′(x) = f(x) para todo o x em I, ou seja, F (x) e´ a u´nica primitiva de f(x) de I que se anula em x = x0. Dem: Temos 2 casos: x ≥ x0 ou x < x0. Suponhamos que x ≥ x0. Como o intervalo I e´ aberto, podemos encontrar em I um ponto x1 > x0 tal que x0 ≤ x ≤ x1 e podemos considerar que a restric¸a˜o de F ao subintervalo [x0, x1] e´ o integral indefinido determinado pela restric¸a˜o de f a [x0, x1], ou seja, F (x) = x∫ x0 f(t) dt, x ∈ [x0, x1]. Pela propriedade do integral indefinido conclu´ımos que F ′(x) = f(x) para todo o x ∈ [x0, x1]. Suponhamos agora que x < x0. Como o intervalo I e´ aberto, podemos encontrar em I um ponto x1 < x0 tal que x1 ≤ x ≤ x0. Pela aditividade do integral temos, para x ∈ [x1, x0], F (x) = x∫ x0 f(t) dt = x1∫ x0 f(t) dt + x∫ x1 f(t) dt = x∫ x1 f(t) dt − x0∫ x1 f(t) dt = G(x) +K ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 33 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL com K uma constante. Pela propriedade do integral indefinido em [x1, x0] sabemos que G ′(x) = f(x) para todo o x ∈ [x1, x0]. Logo F ′(x) = G′(x) = f(x) para todo o x ∈ [x1, x0]. � Exerc´ıcios resolvidos 1. Considere a func¸a˜o f(x) = 2, 0 ≤ x < 1, 0, 1 ≤ x < 3, −1, 3 ≤ x ≤ 4. (a) Seja F (x) o integral indefinido de f(x). Determine uma expressa˜o anal´ıtica para F (x). (b) Determine F ′(x). 2. Seja F (x) = x2+pi 2∫ 0 sin2(t) dt, x ∈ R. (a) Determine F ( √ pi). (b) Justifique que F e´ deriva´vel em R e determine F ′(x) para todo o x ∈ R. Resoluc¸a˜o 1. (a) Por definic¸a˜o temos F (x) = x∫ 0 f(t) dt, x ∈ [0, 4], ou seja, F (x) = x∫ 0 2 dt, 0 ≤ x < 1, 1∫ 0 2 dt + x∫ 1 0 dt, 1 ≤ x < 3 1∫ 0 2 dt + 3∫ 1 0 dt + x∫ 3 (−1) dt, 3 ≤ x ≤ 4, = 2x, 0 ≤ x < 1, 2 + 0, 1 ≤ x < 3, 2 + 0 + (−x+ 3), 3 ≤ x ≤ 4. Assim, F (x) = 2x, 0 ≤ x < 1, 2, 1 ≤ x < 3, −x+ 5, 3 ≤ x ≤ 4. (b) A func¸a˜o f(x) e´ cont´ınua em cada um dos sub-intervalos [0, 1[, ]1, 3[ e ]3, 4] uma vez que e´ constante nesses intervalos. Pela observac¸a˜o ao teorema 2, F (x) e´ deriva´vel ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 34 1.6. INTEGRAL INDEFINIDO em todos os pontos onde f(x) e´ cont´ınua e tem-se F ′(x) = f(x). Portanto F (x) e´ deriva´vel em cada um dos intervalos3 [0, 1[, ]1, 3[ e ]3, 4]. Resta analisar se F e´ deriva´vel em x = 1 e x = 3. Tem-se, F ′e(1) = lim x→1− f(x)− f(1) x− 1 = 2x− 2 x− 1 = 2. F ′d(1) = lim x→1+ f(x)− f(1) x− 1 = 2− 2 x− 1 = 0. Como F ′e(1) 6= F ′d(1), na˜o existe F ′(1). Analogamente tem-se, F ′e(3) = lim x→3− f(x)− f(3) x− 1 = 2− 2 x− 3 = 0. F ′d(3) = lim x→3+ f(x)− f(3) x− 3 = −x+ 5− 2 x− 3 = −1. Como F ′e(3) 6= F ′d(3), tambe´m na˜o existe F ′(3). Em resumo, F ′(x) = 2, 0 ≤ x < 1, 0, 1 < x < 3, −1, 3 < x ≤ 4. A situac¸a˜o descrita atra´s pode ser facilmente constatada na seguinte figura. Nestes pontos F (x) na˜o e´ deriva´vel 41 3 4 Pontos de descontinuidade de f(x) 3 2 2 1 f(x) F(x) y y x x 1 2. (a) Tem-se F ( √ pi) = ( √ pi)2+pi 2∫ 0 sin2 t dt = 3 2 pi∫ 0 sin2 t dt. Usando a fo´rmula trignome´trica no 12 da tabela das primitivas, sin2 x = 1 2 (1− 2 cos 2x), 3Recordemos que F (x) e´ deriva´vel nos extremos x = 0 x = 3 pois existem F ′d(0) = f(0) = 2 e F ′ e(3) = f(3) = 1. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 35 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL obtemos 3 2 pi∫ 0 sin2(t)dt = 3 2 pi∫ 0 1 2 (1− 2 cos 2t) dt = 1 2 [ t− sin 2t ] 3 2 pi 0 = 3 4 pi. (b) Tomamos y = x2 + pi2 . Podemos considerar F (x) como uma func¸a˜o composta, F (x) = G(y(x)) onde G(y) = y∫ 0 sin2(t) dt, y ∈ R. Pelas propriedades do integral indefinido, corola´rio 1.6.3, como a func¸a˜o integranda sin2 t e´ cont´ınua em I = R, G(y) = y∫ 0 sin2(t) dt e´ deriva´vel em R e tem-se G′(y) = sin2(y) para todo o y ∈ R. Ora, pelo teorema da derivada da func¸a˜o composta temos F ′(x) = (G ◦ y)′(x) = G′(y(x)) · y′(x) = sin2 ( x2 + pi 2 ) · ( x2 + pi 2 )′ = 2x sin2 ( x2 + pi 2 ) . Exerc´ıcios 1. Considere a func¸a˜o f(x) = 1− x, 0 ≤ x < 1, 0, 1 ≤ x < 2, (2− x)2, 2 ≤ x ≤ 3. (a) Determine uma expressa˜o anal´ıtica paraF (x) = x∫ 0 f(t) dt (b) Indique o valor me´dio de f(x) em [0, 3] e determine o(s) ponto(s) onde f(x) atinge esse valor. 2. Seja f uma func¸a˜o cont´ınua em [1,+∞[ tal que x∫ 1 f(t) dt = e √ x( √ x− 1). (a) Determine, justificando, f(x). (b) Mostre sem calcular o integral que 9∫ 4 f(t) dt = 2e3 − e2. 3. Considere a func¸a˜o ϕ :]0,+∞[→ R definida por ϕ(x) = x∫ 1 t log t (1 + t2)2 dt. (a) Determine ϕ(2). (b) Justifique que ϕ e´ deriva´vel e calcule ϕ′(x), x > 0. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 36 1.6. INTEGRAL INDEFINIDO 4. Considere a func¸a˜o F (x) = x2∫ −1 f(t) dt onde f(t) = { 1− t, t < 0 2 (t+1)(t+2) , t ≥ 0. . (a) Determine F (1). (b) Justifique que F e´ deriva´vel em R e calcule F ′(x). (Sug: estude o exerc´ıcio resolvido 3.) 5. Considere a func¸a˜o f(x) = k log x∫ x2 e−t 2 dt. Determine k de modo a que f ′(1) = 0. (Sug: justifique que se pode decompor k log x∫ x2 e−t 2 dt = k log x∫ 0 e−t 2 dt− x2∫ 0 e−t 2 dt, e proceda como no exerc´ıcio resolvido 3.) 6. Seja f uma func¸a˜o cont´ınua em R. Seja F (x) = x∫ 0 tf(t) dt, x ∈ R. Prove que se f(x) < 0 em R, F (x) atinge um ma´ximo (absoluto) em x = 0. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 37 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL 1.7 Integral impro´prio O integral impro´prio pretende estender a noc¸a˜o de integral a domı´nios na˜o limitados e/ou de func¸o˜es na˜o limitadas. Por exemplo, o que e´ que podemos dizer sobre os integrais +∞∫ 0 e−x dx e 1∫ 0 dx x ? O primeiro destes integrais corresponde a` a´rea abaixo do gra´fico de e−x definida no intervalo na˜o limitado [0,+∞[, e o segundo corresponde a` a´rea abaixo do gra´fico da func¸a˜o na˜o limitada 1 x , definida no intervalo ]0, 1]. R 1 0 dx x R∞ 0 e−x dx 1 x x y y y = 1 x y = e−x Vamos abordar em primeiro lugar o integral de func¸o˜es limitadas em domı´nios na˜o limitados. Para estudar o integral +∞∫ 0 e−x dx vamos considerar o integral no intervalo [0, z] e investigar se existe o limite deste integral quando z → +∞. Ora, lim z→+∞ A(z) = lim z→+∞ z∫ 0 e−xdx = lim z→+∞ [−e−x]z 0 = lim z→+∞ −e−z − (−1) = 1. Uma vez que este limite existe e e´ finito vamos dizer que +∞∫ 0 e−x dx e´ um integral convergente de valor 1. A definic¸a˜o de integral impro´prio no caso geral vai ser ana´loga. Definic¸a˜o 6 Seja f : [a,+∞[→ R uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo da forma [a, z] com z > a. Dizemos que +∞∫ a f(x) dx e´ convergente se existe e e´ finito lim z→+∞ z∫ a f(x) dx. Nessa altura tomamos +∞∫ a f(x) dx = lim z→+∞ z∫ a f(x) dx. Se o integral na˜o e´ convergente, dizemos que e´ divergente. Estudar a natureza de um integral impro´prio consiste em saber se ele e´ convergente ou divergente. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 38 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Analogamente, se f :]−∞, a]→ R e´ uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo da forma [z, a] com z < a tomamos a∫ −∞ f(x) dx = lim z→−∞ a∫ z f(x) dx (se este limite existir!). Se f : R → R e´ uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo fechado e limitado de R, tambe´m se define +∞∫ −∞ f(x) dx = a∫ −∞ f(x) dx+ +∞∫ a f(x) dx, se a∫ −∞ f(x) dx e +∞∫ a f(x) dx forem ambos integrais convergentes para algum a ∈ R (o ponto a na˜o e´ relevante como veremos no teorema 1.7.2). Vamos agora estudar uma famı´lia muito importante de integrais impro´prios, designados por integrais de Dirichelet, e que sa˜o da forma +∞∫ 1 dx xα , α ∈ R. O estudo da natureza destes integrais e´ bastante fa´cil, uma vez que a func¸a˜o integranda admite uma primitiva conhecida. Teorema 1.7.1 O integral de Dirichelet +∞∫ 1 dx xα e´ convergente se e somente se α > 1, e nesse caso temos +∞∫ 1 dx xα = 1 α− 1 . Intuitivamente se α > 1 “o gra´fico de 1 xα vai decrescer suficientemente ra´pido para zero quando x→ +∞” o que vai permitir que a a´rea abaixo do gra´fico seja finita. y x 1 1 xα , α > 1 1 xα , α < 1 1 x 1 ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 39 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Dem: Por definic¸a˜o +∞∫ 1 dx xα e´ convergente se e somente se existir e for finito o limite lim z→+∞ z∫ 1 dx xα . Para estudar este limite vamos considerar separadamente os casos α = 1, α > 1 e α < 1. α = 1: neste caso a func¸a˜o integranda e´ 1 x , que admite a primitiva log x. Assim lim z→+∞ z∫ 1 dx x = lim z→∞ [ log x ]z 1 = lim z→∞(log z − log 1) = +∞, e portanto +∞∫ 1 dx x (α = 1) e´ divergente. α > 1: a func¸a˜o integranda e´ 1 xα = x−α que admite a primitiva x−α+1 −α+ 1. Assim lim z→+∞ z∫ 1 dx xα = lim z→∞ [ x−α+1 −α+ 1 ]z 1 = lim z→∞ { z−α+1 −α+ 1 − 1 −α+ 1 } = 1 α− 1 . Note que lim z→+∞ z1−α = 0 uma vez que 1− α < 0. α < 1: este caso e´ ana´logo ao anterior com a diferenc¸a que lim z→+∞ z1−α = +∞, pois 1− α > 0. Assim lim z→+∞ z∫ 1 dx xα = lim z→∞ [ x−α+1 −α+ 1 ]z 1 = lim z→∞ { z−α+1 −α+ 1 − 1 −α+ 1 } = +∞, e portanto o integral e´ divergente neste caso. �. Vamos agora enunciar va´rios resultados para integrais impro´prios da forma +∞∫ a f(x) dx. Estes resultados sa˜o ainda verdadeiros, com as devidas alterac¸o˜es, para integrais impro´prios da forma a∫ −∞ f(x) dx. Os alunos sa˜o incentivados a reescrever os resultados com essas alterac¸o˜es. O seguinte resultado vai-nos dizer essencialmente que a natureza de um integral impro´prio na˜o se altera por adic¸a˜o de um integral definido. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 40 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Teorema 1.7.2 Seja f : [a,+∞[→ R uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo da forma [a, z], z > a. Seja b > a. Enta˜o, +∞∫ a f(x) dx e +∞∫ b f(x) dx, teˆm ambos a mesma natureza (ou seja, sa˜o ambos convergentes ou sa˜o ambos divergentes). A seguinte figura pretende ilustrar esta propriedade. f(x) f(x) y y x x Estas a´reas sa˜o ambas finitas ou sa˜o ambas infinitas a b ba Dem: Pela aditividade do integral podemos escrever z∫ a f(x) dx = b∫ a f(x) dx ︸ ︷︷ ︸ finito + z∫ b f(x) dx. Assim, lim z→+∞ z∫ a f(x) dx = lim z→+∞ z∫ b f(x) dx + Cte. Logo se um dos limites existir e for finito o mesmo acontece ao outro. � Exemplo Pretende-se determinar a natureza do integral +∞∫ 5 dx x2 . Ora pelo teorema anterior o integral +∞∫ 5 dx x2 tem a mesma natureza que o integral de Dirichelet +∞∫ 1 dx x2 . Como α = 2 > 1, +∞∫ 1 dx x2 e´ um integral convergente, e portanto o integral +∞∫ 5 dx x2 tambe´m e´ convergente. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 41 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL A demonstrac¸a˜o das seguintes propriedades e´ consequeˆncia imediata das correspondentes pro- priedades do integral definido, das propriedades dos limites e da definic¸a˜o de integral impro´prio. Proposic¸a˜o 1.7.3 Sejam f, g : [a,+∞[→ R duas func¸o˜es integra´veis em qualquer intervalo da forma [a, z], z > a, tais que +∞∫ a f(x) dx e +∞∫ a g(x) dx sa˜o ambos integrais convergentes. Enta˜o: (i) +∞∫ a [f(x) + g(x)] dx e´ convergente e tem-se +∞∫ a [f(x) + g(x)] dx = +∞∫ a f(x) dx+ +∞∫ a g(x) dx. (ii) Para ∀k ∈ R, +∞∫ a [k f(x)] dx e´ convergente e tem-se +∞∫ a [k f(x)] dx = k +∞∫ a f(x) dx. Exemplo Pretende-se determinar a natureza do integral +∞∫ 1 [ 1 x2 + e−x 2 ] dx, e se este for convergente calcular o seu valor. Res: Podemos considerar dois integrais separadamente:+∞∫ 1 dx x2 , +∞∫ 1 e−x 2 dx. O primeiro e´ um integral de Dirichelet com α = 2 > 1 logo convergente. Ale´m disso, +∞∫ 1 dx x2 = 1 α− 1 = 1 2− 1 = 1. (ver o teorema 1.7.7) Quanto ao segundo integral vamos determina´-lo por definic¸a˜o: +∞∫ 1 e−x 2 dx = lim z→+∞ z∫ 1 e−x 2 dx = lim z→+∞ 1 2 [−e−x]z 1 = lim z→+∞ 1 2 (−e−z − (−e−1)) = e−1 2 ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 42 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Como ambos os integrais sa˜o convergentes conclu´ımos que +∞∫ 1 [ 1 x2 + e−x 2 ] dx e´ tambe´m con- vergente e tem-se +∞∫ 1 [ 1 x2 + e−x 2 ] dx = +∞∫ 1 dx x2 + +∞∫ 1 e−x 2 dx = 1 + e−1 2 . Proposic¸a˜o 1.7.4 Sejam f, g : [a,+∞[→ R duas func¸o˜es integra´veis em qualquer intervalo da forma [a, z], z > a, tais que +∞∫ a f(x) dx e´ convergente e +∞∫ a g(x) dx e´ divergente. Enta˜o +∞∫ a [f(x) + g(x)] dx e´ divergente. Exemplo Pretende-se determinar a natureza do integral +∞∫ 1 [ 1 + x x2 ] dx. Ora este integral e´ obtido como a soma de dois integrais de Dirichelet, um divergente +∞∫ 1 dx x dx (α = 1) e outro convergente +∞∫ 1 dx x2 dx (α = 2 > 1). Logo e´ divergente. Vamos agora enunciar dois crite´rios muito importantes no estudo da natureza de integrais impro´prios da forma +∞∫ a f(x) dx em que f(x) apenas toma valores na˜o negativos. O objec- tivo e´ comparar o integral que pretendemos estudar com um integral impro´prio cuja natureza seja conhecida (normalmente os integrais de Dirichelet) ou que seja fa´cil de determinar. Teorema 1.7.5 (1o Crite´rio de comparac¸a˜o) Sejam f, g : [a,+∞[→ R duas func¸o˜es integra´veis em qualquer intervalo da forma [a, z], z > a, tais que 0 ≤ f(x) ≤ g(x) para todo o x ∈ [a,+∞[4. Tem-se: (i) Se +∞∫ a g(x) dx e´ convergente enta˜o +∞∫ a f(x) dx e´ convergente. (ii) Se +∞∫ a f(x) dx e´ divergente enta˜o +∞∫ a g(x) dx e´ divergente. 4De facto, basta que estas desigualdades sejam verifcadas para todo x ∈ [b,+∞[ para algum b ≥ a. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 43 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL y g(x) f(x) R +∞ a g(x)dx R +∞ a f(x) dx x a A demonstrac¸a˜o do resultado anterior baseia-se no facto de os integrais indefinidos F (z) = z∫ a f(x) dx e G(z) = z∫ a g(x) dx definirem func¸o˜es crescentes em [a,+∞[ (pois f(x), g(x) ≥ 0 para todo o x) e portanto que admitirem limite em +∞ se e so´ se forem limitados. Exemplos Pretende-se determinar a natureza dos seguintes integrais 1. +∞∫ 1 dx x3 + 2x+ 1 . 2. +∞∫ 1 2 x+ √ x dx. Resoluc¸a˜o: 1. Como x ≥ 0, x3 + 2x+ 1︸ ︷︷ ︸ ≥0 ≥ x3 e portanto 0 ≤ 1 x3 + 2x+ 1 ≤ 1 x3 . Como o integral +∞∫ 1 dx x3 e´ um integral de Dirichelet convergente (α = 3 > 1) conclu´ımos pelo 1o crite´rio de com- parac¸a˜o (i), que +∞∫ 1 dx x3 + 2x+ 1 e´ tambe´m convergente. 2. Como x ≥ 1, √x ≤ x e portanto x + √x ≤ 2x. Portanto 0 ≤ 1 2x ≤ 1 x+ √ x . Como o integral +∞∫ 1 dx x e´ um integral de Dirichelet divergente, +∞∫ 1 dx 2x e´ tambe´m divergente. Logo resulta do 1o crite´rio de comparac¸a˜o (ii), que +∞∫ 1 dx x+ √ x e´ tambe´m divergente. Muitas vezes na˜o e´ fa´cil majorar ou minorar uma func¸a˜o por forma a podermos aplicar o 1o crite´rio de comparac¸a˜o. Nessas alturas podemos tentar aplicar o seguinte crite´rio de comparac¸a˜o. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 44 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Teorema 1.7.6 (2o Crite´rio de comparac¸a˜o) Sejam f, g : [a,+∞[→ R duas func¸o˜es integra´veis em qualquer intervalo da forma [a, z], z > a, tais que f(x), g(x) ≥ 0 para todo o x ∈ [a,+∞[. Suponhamos ainda que ∃ lim x→+∞ f(x) g(x) = λ 6= 0,+∞. Enta˜o +∞∫ a f(x) dx e +∞∫ a g(x) dx teˆm ambos a mesma natureza. Exemplo Pretende-se determinar a natureza de +∞∫ 1 sin 1 x dx. Vamos tentar comparar +∞∫ 1 sin 1 x dx com o integral de Dirichelet +∞∫ 1 dx x , que sabemos ser di- vergente (α = 1). Note que sin 1x > 0, uma vez que 1 x < pi, para todo o x ≥ 1. Ora, pelas propriedades do limite, temos lim x→+∞ sin 1x 1 x = lim y= 1 x →0+ sin y y = 1 = λ 6= 0,+∞. Logo resulta do 2o crite´rio de comparac¸a˜o que +∞∫ 1 sin 1 x dx e +∞∫ 1 dx x teˆm a mesma natureza e portanto que +∞∫ 1 sin 1 x dx e´ tambe´m divergente. Exerc´ıcios 1. Calcule os seguintes integrais impro´prios: (a) +∞∫ 0 x e−x dx. (b) 0∫ −∞ dx (x− 1)2 . 2. Estude a natureza dos seguintes integrais: (a) +∞∫ 1 x+ 4 ex dx. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 45 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL (b) +∞∫ 1 dx x √ x+ x dx. (c) +∞∫ 1 log(x2 + 1) x dx. (d) +∞∫ 2 e−x x2 − 1 dx. (e) +∞∫ 1 √ x 1 + x2 dx. (f) +∞∫ √ 3 dx x(1 + x2) dx. (g) +∞∫ −∞ 2x 1 + x2 dx. Vamos agora considerar rapidamente o caso dos integrais impro´prios de func¸o˜es na˜o limitadas. A maior parte das propriedades enunciadas para o integral de func¸o˜es em intervalos na˜o limitados sa˜o ainda verificadas neste contexto, com as devidas adaptac¸o˜es. Por essa raza˜o apenas iremos enunciar algumas dessas propriedades e calcular alguns exemplos. Definic¸a˜o 7 Seja f :]a, b] → R, b > a, uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo da forma [z, b] com z > a. Dizemos que b∫ a f(x) dx e´ convergente se existir e for finito lim z→a+ b∫ z f(x) dx. Nessa altura tomamos b∫ a f(x) dx = limz→a+ b∫ z f(x) dx. Se o integral na˜o for convergente, dizemos que e´ divergente. Analogamente, se f : [a, b[→ R e´ uma func¸a˜o integra´vel em qualquer intervalo da forma [a, z] com z < b tomamos b∫ a f(x) dx = lim z→b− z∫ a f(x) dx (se este limite existir!). ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 46 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO R b z f(x)dx R z a f(x)dx f(x) b a x x y y f(x) f(x) tem uma ass´ımptota vertical em x = a+ f(x) tem uma ass´ımptota vertical em x = b− a← z z → b Analogamente ao caso dos integrais definidos em intervalos na˜o limitados, tambe´m aqui vamos considerar uma famı´lia muito importante de integrais impro´prios5, designados novamente por integrais de Dirichelet, e que sa˜o da forma 1∫ 0 dx xα , α ∈ R Temos o resultado ana´logo ao teorema 1 da lic¸a˜o anterior, cuja demonstrac¸a˜o se deixa ao cuidado do aluno mais entusiasta. Teorema 1.7.7 O integral de Dirichelet 1∫ 0 dx xα e´ convergente se e somente se α < 1, e nesse caso temos 1∫ 0 dx xα = 1 1− α. Intuitivamente se α < 1 “o gra´fico de 1 xα vai se aproximar suficientemente ra´pido do eixo dos yy quando x→ 0+” de modo a que a a´rea da regia˜o delimitada pelo eixo dos yy e pelo gra´fico de f seja finita (confrontar com o integral de Dirichelet +∞∫ 1 dx xα ). 5Note que se α ≤ 0, a func¸a˜o 1 x−α na˜o tem ass´ımptota em x = 0 + e em rigor o integral abaixo deve ser considerado um integral definido. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 47 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL x y 1 xα , α < 1 1 1 1 xα , α > 1 1 x Vamos agora ver alguns exemplos onde essas propriedades sa˜o utilizadas. Exerc´ıcios resolvidos Pretende-se determinar a natureza dos integrais impro´prios: 1. 2∫ 1 dx√ x− 1. 2. 1∫ 0 dx√ x+ 2x . 3. 2∫ 1 dx x √ x− 1. 4. pi∫ 0 dx sinx dx. 5. 1∫ 0 dx√ x(1− x) . Resoluc¸a˜o 1. A func¸a˜o 1√ x− 1 tem apenas uma ass´ımptota vertical em x = 1 + (i.e. tem uma ass´ımptota vertical a` direita em x = 1).Por definic¸a˜o o integral impro´prio 2∫ 1 dx√ x− 1 e´ convergente ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 48 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO se e somente se existir e for finito o limite lim z→1+ 2∫ z dx√ x− 1 . Ora, lim z→1+ 2∫ z dx√ x− 1 = limz→1+ 2∫ z (x− 1)− 12 dx = lim z→1+ [ (x− 1) 12 1 2 ]2 z = 2 lim z→1+ [1−√z − 1] = 2. Assim o integral 2∫ 1 dx√ x− 1 e´ convergente de valor 2. 2. Vamos aplicar o 1o crite´rio de comparac¸a˜o, (i). A func¸a˜o 1√ x+2x tem uma ass´ımptota vertical no ponto x = 0+. Como 0 < x, temos a desigualdade √ x + 2x > √ x e portanto 1√ x+2x < 1√ x . Como o integral 1∫ 0 dx√ x e´ um integral de Dirichelet convergente (pois α = 1 2 < 1), tambe´m o integral 1∫ 0 dx√ x+ 2x e´ convergente. 3. Vamos aplicar o 2o crite´rio de comparac¸a˜o. No intervalo ]1, 2] a func¸a˜o 1 x √ x−1 tem apenas uma ass´ımptota vertical no ponto x = 1+. Ora lim x→1+ 1 x √ x−1 1√ x−1 = lim x→1+ 1 x = 1 = λ 6= 0, 1. Logo pelo 2o crite´rio de comparac¸a˜o os integrais 2∫ 1 dx x √ x− 1 e 2∫ 1 dx√ x− 1 teˆm a mesma natureza e portanto sa˜o ambos convergentes (ver o exemplo 1.). 4. No intervalo ]0, pi[ a func¸a˜o 1sinx e´ positiva e tem duas ass´ımptotas verticais, uma no ponto x = 0+ e outra em x = pi− . Por definic¸a˜o o integral pi∫ 0 dx sinx e´ convergente se e somente ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 49 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL se forem convergentes ambos os integrais a∫ 0 dx sinx e pi∫ a dx sinx , com a ∈]0, pi[ um ponto arbitra´rio. Podemos tomar, por exemplo, a = pi2 . Temos enta˜o que estudar a natureza dos integrais pi 2∫ 0 dx sinx e pi∫ pi 2 dx sinx . Vamos aplicar o 2o crite´rio de comparac¸a˜o no estudo do primeiro destes integrais. Tem-se, lim x→0+ 1 sinx 1 x = lim x→0+ x sinx = 1 = λ 6= 0, 1. Logo o integral pi 2∫ 0 dx sinx tem a mesma natureza que o integral pi 2∫ 0 dx x . Este u´ltimo integral tem a mesma natureza que o integral de Dirichelet divergente (pois α = 1), 1∫ 0 dx x , pois difere deste por um integral definido. De facto, pi 2∫ 0 dx x = 1∫ 0 dx x + pi 2∫ 1 dx x . Daqui resulta que finalmente que pi∫ 0 dx sinx e´ divergente. 5. No intervalo ]0, 1[ a func¸a˜o 1√ x(1−x) e´ positiva e tem duas ass´ımptotas verticais, uma no ponto x = 0+ e outra em x = 1− . Por definic¸a˜o o integral 1∫ 0 dx√ x(1− x) e´ convergente se e somente se forem convergentes ambos os integrais a∫ 0 dx√ x(1− x) e 1∫ a dx√ x(1− x) , com a ∈]0, 1[ um ponto arbitra´rio. Podemos tomar, por exemplo, a = 12 . Temos enta˜o que estudar a natureza dos integrais 1 2∫ 0 dx√ x(1− x) e 1∫ 1 2 dx√ x(1− x) . Vamos aplicar o 2o crite´rio de comparac¸a˜o. Tem-se, lim x→0+ 1√ x(1−x) 1√ x = lim x→0+ √ x√ x √ 1− x = limx→0+ 1√ 1− x = 1 = λ 6= 0, 1. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 50 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Logo o integral 1 2∫ 0 dx√ x(1− x) tem a mesma natureza que o integral 1 2∫ 0 dx√ x . Este u´ltimo integral tem a mesma natureza que o integral de Dirichelet convergente (pois α = 12 < 1), 1∫ 0 dx√ x , pois difere deste por um integral definido. Daqui resulta que finalmente que 1 2∫ 0 dx√ x(1− x) e´ convergente. Analogamente se mostra que o integral 1∫ 1 2 dx√ x(1− x) tem a mesma natureza que o inte- gral convergente (ver a resoluc¸a˜o do exerc´ıcio 1.) 1∫ 0 dx√ 1− x , e portanto que tambe´m e´ convergente. Como ambos os integrais 1 2∫ 0 dx√ x(1− x) e 1∫ 1 2 dx√ x(1− x) , sa˜o convergentes, tambe´m 1∫ 0 dx√ x(1− x) e´ convergente. Exerc´ıcios 1. Determine a natureza dos seguintes integrais impro´prios (a) 1∫ 0 dx (2− x)√x . (b) pi 2∫ 0 dx cos x . (c) 6∫ 2 dx (4− x) 23 . (d) 2∫ 1 dx x 1 3 − 1 . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 51 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL (e) pi 2∫ −pi 2 dx 1− cos x . (f) 3∫ −3 x2√ 9− x2 dx. 2. Prove o seguinte resultado: dados a, b, α ∈ R, 0 < a < b, b∫ a dx (x− a)α converge ⇔ α < 1, e indique o valor deste integral para α < 1. 3. Calcule os seguintes limites: (a) lim x→0 1 x x∫ 0 e2 t dt. (b) lim x→0 x2 1− ex2 x∫ 0 et 2 dt. ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 52 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Apeˆndice: A regra de Cauchy Um resultado “maravilhoso” no ca´lculo de limites e´ a chamada regra de Cauchy enunciada a seguir: Teorema 1.7.8 Sejam f, g duas func¸o˜es deriva´veis num intervalo aberto I de extremidade a (a pode ser −∞ ou +∞) tal que g′(x) 6= 0 para todo o x ∈ I. Admitamos ainda que ∃ lim x→a f(x) = limx→a g(x) = 0 (ou ∞) e que ∃ limx→a f ′(x) g′(x) . Enta˜o lim x→a f(x) g(x) = lim x→a f ′(x) g′(x) . Exemplos 1. A maior parte dos limites nota´veis pode ser recuperada com recurso a` regra de Cauchy: (a) lim x→0 sinx x 0 0= lim x→0 cos x 1 = 1. (b) lim x→0 ex − 1 x 0 0= lim x→0 ex 1 = 1. (c) lim x→0 cos x− 1 x 0 0= lim x→0 − sinx x = −1. (d) Queremos calcular lim x→+∞ ex xp com p um nu´mero inteiro positivo. Aplicando sucessive- mente a regra de Cauchy obtemos lim x→+∞ ex xp 0 0= lim x→+∞ ex p xp−1 0 0= lim x→+∞ ex p(p− 1)xp−2 0 0= · · · 0 0= lim x→+∞ ex p! = +∞. 2. lim x→1 arctg x− pi4 x2 − 1 0 0= lim x→1 1 1+x2 2x = 1 4 . 3. lim x→+∞ log x x ∞ ∞= lim x→+∞ 1 x 1 = lim x→+∞ 1 x = 0. 4. Se a indeterminac¸a˜o na˜o for do tipo 00 ou ∞ ∞ , e´ poss´ıvel transforma´-la numa indeterminac¸a˜o de um daqueles dois tipos: (a) Indeterminac¸a˜o do tipo ∞ · 0: transformamos numa indeterminac¸a˜o 00 (ou ∞∞) usando uma relac¸a˜o do tipo f · g = f1 g . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 53 CAPI´TULO 1. CA´LCULO INTEGRAL Vejamos um exemplo: lim x→−∞ x ex ∞·0 = lim x→−∞ x e−x ∞ ∞= lim x→−∞ 1 −e−x = limx→−∞−e x = 0. (b) Indeterminac¸o˜es do tipo 00, 1∞ e ∞0: transformamos em 0 · ∞ usando uma relac¸a˜o do tipo f g = elog f g = e g log f e posteriormente numa indeterminac¸a˜o do tipo 00 ou ∞ ∞ como atra´s. Vejamos alguns exemplos: i. limx→0+ xx 0 0 = limx→0+ ex logx = e0 = 1. C.A. : lim x→0+ x log x 0·∞ = lim x→0+ log x 1 x ∞ ∞= lim x→0+ 1 x − 1 x2 = lim x→0+ −x = 0. ii. lim x→+∞ ( 1 + 1 x )x 1∞ = lim x→+∞ elog(1+ 1 x) x = lim x→+∞ ex log(1+ 1 x) = e. Note que este limite e´ a “versa˜o cont´ınua” do limite bem conhecido para sucesso˜es: lim n→+∞ ( 1 + 1 n )n = e. Ca´lculos auxiliares: lim x→+∞ x log ( 1 + 1 x ) ∞·0 = lim x→+∞ log ( 1 + 1x ) 1 x 0 0= lim x→+∞ (1+ 1x) ′ 1+ 1 x − 1x2 = lim x→+∞ − 1 x2 1+ 1 x − 1 x2 = lim x→+∞ 1 1 + 1x = 1. iii. lim x→+∞ x 1 x ∞0 = lim x→+∞ e 1 x log x = e0 = 1 (ver o exemplo 3.) (c) Indeterminac¸a˜o do tipo +∞−∞: transformamos em 00 (ou ∞∞) usando uma relac¸a˜o do tipo f − g = 1 g − 1f 1 f ·g , ou do tipo f − g = log(ef−g) = log ( ef eg ) . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 54 1.7. INTEGRAL IMPRO´PRIO Vejamos um exemplo: lim x→+∞ [log x− x] +∞−∞= lim x→+∞ log elog x−x = log ( elog x ex ) 0 0= lim x→+∞ log ( x ex ) = −∞, pois lim x→∞ x ex = 0+ uma vez que lim x→∞ ex x = +∞ (cf. exemplo 1(d)).Exerc´ıcios Calcule os seguintes limites: 1. lim x→4 x2 − 16 x− 4 . 2. lim x→pi 2 − tgx sec2 x . 3. lim x→0 sinx cos x− 1. 4. lim x→+∞ √ x ex . 5. lim x→0+ √ x log x. 6. lim x→+∞ x (pi 2 − arctgx ) . 7. lim x→0+ xsinx. 8. lim x→1+ xlog x. 9. lim x→pi 2 − [tgx− sec x]. 10. lim x→pi 2 − tgx sec2 x . 11. lim x→+∞ [ x2 − √ x4 + 3x ] . ISA/UTL – Lico˜es de Matema´tica – 2005 55
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