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Além do principio do prazer (1920) Dentro da teoria psicanalítica, Freud através de seus estudos nos revela suas suposições a respeito dos processos psíquicos, nos fazendo supor junto a ele, que o funcionamento do processo psíquico é regido regularmente pelo princípio do prazer, que refere se a evitar o desprazer, busca por satisfação gerando o prazer. Tomando o princípio do prazer como um modo primário do funcionamento do aparelho psíquico para auto-afirmação frente ao mundo externo, todavia inútil mediante a circunstância que lhe coloca em perigo, influenciado pela auto-conservação do Eu, é então substituído pelo princípio da realidade, que mesmo não abandonando o desejo de satisfazer o prazer, o adia temporariamente aceitando o desprazer, percorrendo outros caminhos, dando voltas por assim dizer em um longo rodeio para então satisfazer- se, chegando ao prazer. Freud introduz neste texto, o ponto de vista econômico dos processos psíquicos juntamente ao fator topológico e ao dinâmico, correlacionando o princípio do prazer ao princípio de Constância, cuja função é dirigida a manter em baixa a quantidade de excitação de energia, todavia tudo aquilo que é demandado ou propício ao aumento de energia se torna disfuncional sendo reconhecido como desprazer. Esta descrição apresentada toma a designação de metapsicológica. Contudo, não é correto afirmar que o princípio do prazer seja dominante sobre os processos psíquicos. Partindo de observações em relação às neuroses traumáticas, aos sonhos, ás transferências em análise que apontavam para a repetição dos traumas infantis, o autor se questiona quanto ao papel exercido pelo princípio do prazer. O que se passa que o sujeito repete o que te causa desprazer, escapando do princípio do prazer? Questão esta que nos apontou para uma direção determinante em sua obra, Freud nos faz pensar que ainda que o aparelho psíquico esteja sobre a influência do princípio do prazer, há tendências instaladas para além dele, para além do princípio do prazer, sendo estas mais originais e independentes dele. É perceptível então ao autor que neste momento se instala uma compulsão á repetição do desprazer “na medida em que os impulsos conscientes sempre se acham em relação com o prazer ou desprazer, pode-se também pensar o prazer ou desprazer em relação psicofísica com situações de estabilidade e instabilidade [...]” (p.164). Ao observar a brincadeira de um garoto de dezoito meses ( seu neto), com um carretel, onde a criança lançava o brinquedo para longe de si fazendo-o desaparecer e depois o puxava trazendo-o para si, ao jogar entoava um sonoro o-o-o-o-o, que tinha o significado de “fort” [ “foi embora”] e ao retorno do brinquedo saudava-o com alegria com um “da” [‘está aqui”], “ FORTDA” Freud confirma sua opinião sobre aquela criança, em estar encenado sua renúncia pulsional pela ausência da mãe através do objeto, o que lhe permitia uma precondição para que o retorno dela fosse agradável, com isso a criança assumia um papel ativo atribuindo a si uma pulsão de apoderamento. “o lançamento do objeto, de modo que desapareça, poderia constituir a satisfação de uma pulsão, suprimido na vida, de vingar-se da mãe por ter desaparecido para ele,[...]” (p.174). Ao que se refere às neuroses traumáticas, onde os sonhos dos pacientes os remetem a reviver as cenas do trauma, Freud se questiona quanto sua teoria sabendo se que o sonho neste caso não desempenha sua função que seria estar a serviço da realização do desejo. Neste caso se encontram a favor de outra tarefa, lidando com a retrospecção de estímulos que servirão ao desenvolvimento da angústia. Freud nos diz que “se existe um além do princípio do prazer, é coerente admitir que também houve uma época anterior à tendência dos sonhos a realizar desejos.” (p.196). No texto o autor ainda nos ilustra a importância acometida pela sobrecarga da energia psíquica (hipercatexia), quando descrever o sofrimento de uma violência mecânica sem a preparação para a angústia, e seu efeito traumático a serviço da proteção contra um distúrbio. “ É também conhecido, embora não suficientemente utilizado na teoria da libido, que severos distúrbios na distribuição da libido, como o da melancolia, são temporariamente eliminados por uma doença orgânica intercorrente, e mesmo um estado plenamente desenvolvido de dementia praecox é capaz de remissão, e igual circunstância.” (p.198). Ao desvelar da leitura tomamos ciência de que o autor retoma suas considerações do texto de Recordar, Repetir e Elaborar, levando em consideração o fato em que o paciente repete ao em vez de lembrar, na condição de resistência, tudo o que foi recalcado se encontra inferido, inscrito no seu ser, “ [...] torna-se claro que a compulsão de repetir na transferência episódios da sua infância desconsidera de todo modo o princípio do prazer.” (p. 201). Surge diante aos questionamentos a relação entre o caráter compulsivo e a compulsão à repetição, que ampliou o conceito de pulsão. “uma pulsão seria um impulso presente em todo o organismo vivo, tendente à restauração de um estado anterior, que esse ser vivo teve que abandonar por influência de perturbadoras forças externas, uma espécie de elasticidade orgânica ou, se quiserem, a expressão de inércia da vida orgânica.” (p.202). Desse modo Freud nos apresenta a pulsão de morte, rompendo com o dualismo entre pulsões sexuais e pulsões de autoconservação do Eu. Com a tese da libido narcísica, onde o Eu passa a ser objeto de investimento, se converte em EROS, desempenhando a pulsão de vida desde o início da vida se opondo à pulsão de morte, que por sua vez se apresenta pela via da compulsão e repetição, gerando o desprazer que está ligado ao princípio do prazer, envolto pela questão econômica dos processos psíquicos. “[...] então só podemos dizer que o objetivo de toda vida é a morte, e, retrospectivamente, que o inanimado existia antes que o vivente.” (p.204). Bibliografia: Freud, S. (1920) Além do Princípio do Prazer. Obras completas, volume 14, companhia das letras.
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