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ob jet ivo s Meta da aula Apresentar uma visão geral sobre o mito e a mitologia grega. Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 1. identificar alguns dos principais mitos gregos e suas características; 2. identificar quem foi Hesíodo; 3. comparar alguns mitos gregos com passagens bíblicas; 4. explicar a visão grega de divindade. A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte 1) André Alonso 6AULA Bases da Cultura Ocidental | A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte 1) 1 2 4 C E D E R J Trabalhamos até agora com Homero, a cultura que ele descreve em seus poe- mas, isto é, a civilização micênica, e abordamos também o tema da oralidade, tópico fundamental para a reta compreensão da cultura e da literatura gregas. A aula de hoje traz um tema novo: o mundo do maravilhoso, do fantástico, na cultura grega. Trabalharemos nesta e nas próximas aulas com o mito e a mitologia. Nesta aula, exploraremos alguns vídeos que nos darão um panora- ma sobre a mitologia grega. Veremos os principais mitos gregos relativos aos deuses e ao homem. Através dos vídeos, teremos também a noção básica de que o mito tem uma razão de ser, de que ele tem algumas funções específicas. Nossa aula apresenta-nos ainda um novo autor: Hesíodo. Este é citado algu- mas vezes e comparado com Homero. Hesíodo é um autor grego fundamental para o tema da mitologia. Nós o estudaremos com mais vagar em uma das próximas aulas, mas já teremos aqui uma amostra do que ele aborda em seus poemas. Você agora deverá ver os vídeos abaixo na ordem em que estão apresentados e responder às perguntas de compreensão que a eles se referem. VÍDEO 1 Assista ao vídeo 1: vídeo 1: http://www.youtube.com/watch?v=YrONKp0zROA INTRODUÇÃO Atende aos Objetivos 1, 2 e 3 Agora responda às perguntas seguintes: 1. O vídeo nos diz que as histórias dos deuses e de seus feitos eram trans- mitidas de geração em geração por contadores de histórias. Essa é uma característica que o mito tem em comum com os poemas homéricos, como vimos. Qual seria essa característica? 2. O vídeo menciona o mito dos dois jarros de Zeus. Uma alusão a ele aparece no canto XXIV da Ilíada (v. 525-533): ATIVIDADE C E D E R J 1 2 5 Foi isto que fiaram os deuses para os pobres mortais: que vivessem no sofrimento. Mas eles próprios vivem sem cuidados. Pois dois são os jarros que foram depostos no chão de Zeus, jarros de dons: de um deles, ele dá os males; do outro, as bênçãos. Àquele a quem Zeus que com o trovão se deleita mistura a dádiva, esse homem encontra tanto o que é mau como o que é bom. Mas àquele a quem dá só males, fá-lo amaldiçoado, e a terrível demência o arrasta pela terra divina e vagueia sem ser honrado quer por deuses, quer por mortais. O que esse mito tenta explicar? 3. Comente a seguinte assertiva: os deuses gregos são um amálgama de muitas culturas. 4. Em que época a mitologia grega se organiza e se cristaliza? 5. Como se chama a obra que Hesíodo compõe sobre os deuses? 6. Hesíodo nos conta a origem do universo utilizando-se de uma divindade: o caos. Que paralelo existe em nossa cultura judaico-cristã? RESPOSTA COMENTADA 1. Os poemas homéricos têm sua origem em uma longa e mul- tissecular tradição oral. Os episódios narrados por Homero foram sendo transmitidos durante séculos através da arte da poesia oral. A U LA 6 Bases da Cultura Ocidental | A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte 1) 1 2 6 C E D E R J Assista, agora, aos seguintes vídeos: vídeo 2: http://www.youtube.com/watch?v=JJahpeZk1Xw vídeo 3: http://www.youtube.com/watch?v=gRMpy5RrTkA Assim também ocorre com os mitos. Eles são criados e transmiti- dos oralmente e, por isso mesmo, vários deles estão naturalmente incorporados nos poemas homéricos. A poesia épica e a mitologia têm uma origem oral comum. 2. Esse mito é uma alegoria moral, uma tentativa de explicar o sofri- mento na vida humana. Nenhum homem está livre do sofrimento, do infortúnio, de alguma infelicidade ao longo de sua vida. Zeus tem dois jarros: em um há males, em outro, bençãos. Cada homem receberá sua quota de males misturados a bens. A proporção da mistura varia de pessoa para pessoa. Isso explica a situação geral da vida humana: todos nós temos nossa parte de sofrimento, uns mais, outros menos. A alguns porém está reservada uma sorte diversa: a seu quinhão Zeus não mistura nenhum bem e por isso eles são desgraçados, vivendo uma vida miserável na qual há apenas males. O mito explica, assim, a diversidade de bens e males na vida humana e também a aparente desgraça de algumas pessoas. 3. A natureza e a história dos deuses gregos sofreram modificações pelo contato da cultura helênica com outros povos que invadiram ou migraram para o território grego. Esse contato com outras culturas fez com que novos elementos fossem se incorporando à mitologia grega e que os deuses evoluíssem paulatinamente, adquirindo novas características ou modificando as originais. 4. No período homérico, por volta do século VIII a.C. 5. Teogonia. 6. Na bíblia, temos a criação do mundo por Deus descrita no Gênesis. Encontramos os mesmos elementos utilizado por Hesíodo: o ceú (Urano), a terra (Gaia), o vazio/o abismo (Caos). C E D E R J 1 2 7 Atende aos Objetivos 1, 3 e 4 Agora responda às perguntas seguintes: 1. Qual característica fundamental os deuses gregos têm que contrasta com divindades de outras culturas antigas e que os aproxima da imagem de Deus judaico-cristã? 2. Segundo uma das versões do mito de Prometeu (que aparece na Biblio- teca da mitologia grega de Apolodoro), ele cria o homem do barro. Que paralelo temos na cultura judaico-cristã? 3. O mito grego da criação da mulher contrasta com o judaico-cristão. Comente. 4. No mito de Pandora, ela é criada como um castigo para a humanidade. Ela recebe um jarro repleto de males. Pandora abre o jarro e os males espalham-se pelo mundo. Ela termina por fechar o jarro antes que ele se esvazie, mas apenas a esperança fica presa. Como poderíamos entender o fato de que um jarro repleto de males contivesse, também, a esperança, algo que, para nós é um bem? ATIVIDADE A U LA 6 Bases da Cultura Ocidental | A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte 1) 1 2 8 C E D E R J 5. Qual poderia ser uma das funções do mito? Como o mito de Perséfone exemplifica isso? RESPOSTA COMENTADA 1. O antropomorfismo. Os deuses gregos têm forma humana, o que não ocorre em outras culturas antigas, por exemplo a egíp- cia. Os deuses egípcios têm frequentemente cabeça ou corpo de animais. Os deuses gregos têm um aspecto, uma imagem que os faz semelhantes ao ser humano. Na cultura judaico-cristão, Deus não tem a forma de um homem no sentido próprio, mas apenas figurativamente. Por diversas vezes fala-se de Deus como se ele tivesse uma forma humana, com braços, com mãos, com rosto etc. 2. Prometeu cria o homem de uma mistura de terra e água. Encontramos a mesma descrição da criação do homem no livro do Gênesis. Deus forma o homem da terra e sopra-lhe as narinas para lhe dar a vida. 3. Eva é criada para ser companheira e esposa de Adão, pois ele se sentia só. Ela é, portanto, criada como algo bom, para que este não fique só. Ela é, portanto, um apoio, um auxílio para as fraquezas do homem. Na versão grega da criação da mulher, Pandora é criada como um castigo, como uma punição para o gênero humano, que recebera de Prometeu o fogo que este roubara dos deuses. Sua beleza pode ser um caminho de perdição para o homem, que se C E D E R J 1 2 9 vê ameaçado pelo desejo e em vias de perder o controle de sua vida. A mulher é necessária, por exemplo, para a procriação, masé também uma ameaça à primazia do masculino. Na vertente judaico-cristã, a mulher é também aquela que faz o homem cair no pecado original, mas primeiramente ela é criada como um bem, para ser companheira, para formar com o homem um todo e ajudá-lo. 4. A esperança, no mito, parece ser vista como um mal e não como um bem. Ela seria, então, algo enganador. Nós encaramos a esperança como algo bom, pois ela nos mantém abertos para a chegada de um bem, apesar de todas as dificuldades e de toda improbabilidade. No mito, ela pode ser vista como um mal, por alimentar ilusoriamente a ideia de que temos algum controle em relação ao futuro, de que podemos modificar nosso destino. Ela seria, então, algo terrível, pois nos cegaria e nos impediria de ver aquilo que está diante de nossos olhos: o destino que nos aguarda e que para nós está reservado. A esperança seria apenas uma ilusão. 5. O mito se parece com o sonho e poderia ter um papel de incons- ciente coletivo de uma determinada civilização. No caso grego, os deuses estavam presentes no quotidiano. Os elementos da natureza seriam controlados pelos deuses, cada parte da natureza – monta- nhas, rios, lagos, bosques etc. – estaria sob a responsabilidade de um deus. O sagrado é visto em todas as partes. O mundo parece estar cheio do sagrado. O mito serviria assim para explicar o mundo, suas dificuldades, sua imprevisibilidade, suas contradições. O mito de Perséfone procura explicar a realidade do inverno. Durante o inverno, a natureza parece estar morta, triste. O mito tenta nos fazer entender essa "tristeza da natureza". Perséfone, filha de Deméter, a deusa da agricultura (que faz as plantas brotarem etc.) é sequestrada por Hades. Deméter, em sua aflição, parte em busca da filha e assim, as colheitas não crescem mais. Perséfone acaba sendo libertada e volta para sua mãe, mas deve passar três meses por ano com Hades. Durante esse período, Deméter, deusa da agricultura, fica inconsolável e os campos ficam desolados e nada produzem. Assim, o inverno, um fenômeno da natureza, é explicado através do mito. Por fim, assista ao vídeo abaixo: vídeo 4: http://www.youtube.com/watch?v=NR22EZhOPXI A U LA 6 Bases da Cultura Ocidental | A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte 1) 1 3 0 C E D E R J Atende aos Objetivos 1 e 3 Agora responda à pergunta: 1. Frequentemente, nos mitos, os deuses aparecem comportando-se de maneira inadequada, de modo imoral mesmo, com ódio, inveja, vingança. Como poderíamos explicar isso? 2. Por que os gregos poderiam aceitar facilmente a mensagem cristã? 3. Por que o mito de Édipo interessa a Freud? RESPOSTA COMENTADA 1. Os gregos aparentemente viram, durante séculos, esse compor- tamento dos deuses como algo normal. Os deuses eram antropo- morfizados. Deviam, portanto, ter os mesmos comportamentos e sentimentos dos homens, mas de um modo mais intenso, mais forte. Natural, portanto, que sentissem inveja, ódio, que seduzissem, que enganassem, pois esses são comportamentos que encontramos nos seres humanos. Além disso, os deuses não tinham a fragilidade da condição humana e, por conseguinte, não deveriam sofrer, como os homens, a consequência de seus atos. ATIVIDADE C E D E R J 1 3 1 INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Em nossa próxima aula, abordaremos com mais detalhes o mito, sua origem, sua natureza e sua função. 2. O fato de um deus tomar forma humana e ficar entre os humanos era algo totalmente aceitável e ocorria com frequência nos mitos. Há também o paralelo do mito de Héracles (Hércules), um mortal que sofre uma série de provações, que passa por uma longa paixão até finalmente ser divinizado, imortalizado, e elevado ao monte Olimpo, onde mora com seu pai Zeus. As semelhanças com a figura de Cristo são fortes. Este é Deus que se fez homem, sofreu uma paixão, morreu, ressuscitou e subiu aos céus, onde está com seu Pai, que é Deus-Pai. 3. Esse mito trata da relação entre pais e filhos, mais especificamente do conflito pai-filho. Na história de Édipo, esse mata um homem, que era seu verdadeiro pai – o que ele não sabia – e casa-se com uma mulher, que era sua mãe, o que ele também ignorava. Ao saber do que fizera, Édipo fura os próprios olhos. Freud vê nesse mito a pos- sibilidade de formular a expressão do desejo que o menino, durante uma fase de sua infância, tem por sua mãe, com o consequente ódio ou repulsa ao pai, que é aquele que faz com que a mãe não lhe dê, supostamente, a devida atenção. A U LA 6
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