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Curso: Letras Disciplina: Bases da Cultura Ocidental
Conteudista: André Alonso
AULA 18 – Santo Agostinho: a nova descoberta do eu
META
Apresentar um panorama geral da vida e da obra de Santo Agostinho, com ênfase em suas 
Confissões.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. listar os principais fatos da vida de Santo Agostinho;
2. identificar as características essenciais das Confissões, de Santo Agostinho.
INTRODUÇÃO
Em nossa aula anterior, estudamos as origens do cristianismo e sua importância como um dos 
elementos fundamentais da cultura ocidental. Vimos a questão das fontes que tratam da vida e 
da pregação de Jesus, assim como um pouco sobre os primeiros contatos entre o cristianismo e o 
paganismo. Fizemos, também, a leitura de trechos de alguns dos primeiros escritos cristãos não 
canônicos e estudamos um pouco sobre os Padres da Igreja.
Na aula de hoje, vamos nos dedicar a um dos Padres latinos: Santo Agostinho, bispo de Hipona, 
doutor da Igreja, um dos escritores maiores do cristianismo, teólogo de suma importância, cuja 
obra exerceu, desde a Antiguidade e durante toda a Idade Média, uma enorme influência na 
cultura ocidental. Estudaremos, primeiramente, um pouco sobre Santo Ambrósio, bispo de 
Milão, doutor da Igreja e personalidade essencial no processo de conversão de Agostinho.
1
Apresentaremos um resumo da vida de Santo Agostinho e comentaremos brevemente algumas 
poucas de suas mais de cem obras. Daremos especial atenção às Confissões, lendo vários trechos 
que nos permitirão refazer o percurso dos principais fatos da vida de Agostinho até sua 
conversão.
1. SANTO AMBRÓSIO
Santo Ambrósio nasceu por volta de 340 d. C., em Trier, uma cidade da Gália, hoje situada no 
território alemão. Seu pai era um importante funcionário do Império e Ambrósio seguirá seus 
passos. Estudou em Roma, onde aprendeu grego e dedicou-se a disciplinas como Direito, 
Retórica e Literatura. Por volta do ano 370, foi indicado governador de uma província romana 
(Aemilia et Liguria) cuja sede ficava em Milão (norte da Itália). Ele exerceu essa função até 374 d. 
C., quando foi aclamado bispo pelo povo, embora sequer fosse batizado. Sua eleição teria 
ocorrido quando tentou resolver o problema da sucessão episcopal que agitava Milão, dividida 
entre católicos e hereges arianos. Foi, então, batizado, doou todos os seus bens aos pobres, 
dedicou-se aos estudos de Teologia e de exegese bíblica, ajudado por seu conhecimento de 
grego. Sua obra é vasta e variada, ocupando quatro volumes (14-17) da Patrologia Latina de 
Migne. Compôs textos exegéticos, ascéticos, dogmáticos, catequéticos, além de ter uma rica 
produção epistolar. Famosos são também os seus hinos. A ele foi tradicionalmente atribuído o 
Te Deum. Santo Agostinho menciona, em suas Confissões (IX, 7), a introdução de cânticos em 
Milão, sob o bispado de Santo Ambrósio, seguindo o costume da liturgia oriental:
“Não havia muito tempo que a Igreja de Milão começara a adotar essa prática consoladora e 
edificante do canto, com grande regozijo dos fiéis, que uniam em um só coro as vozes e o 
coração. Havia um ano, ou pouco mais, que Justina, mãe do imperador Valentiniano, ainda 
menor, seduzida pelos arianos, perseguia, por causa de sua heresia, teu servo Ambrósio. O 
povo fiel passava as noites na igreja, disposto a morrer com seu bispo. Nesse meio estava 
minha mãe, tua serva, uma das primeiras no zelo dessas inquietações e vigílias, não vivendo 
senão de orações. Nós, apensar de ainda frios, sem o calor de teu Espírito, nos sentíamos 
comovidos pela perturbação e consternação da cidade. Foi então que se fixou o costume de 
cantar hinos e salmos, como se faz no Oriente, para que os fiéis não se consumissem no tédio 
e na tristeza. Desde esse dia esse costume manteve-se, e no resto do mundo, quase todas as 
tuas comunidades de fiéis passaram a adotá-lo.”
2
Verbete
arianismo – É uma heresia que foi defendida por Ário (séc. III-IV) e que foi condenada pelo 
primeiro concílio de Niceia, em 325 d. C.. O cerne da questão era a Santíssima Trindade (Pai, 
Filho e Espírito Santo). Preconizava que o Filho, por ser “criado” pelo Pai, tinha uma natureza 
inferior, não podendo ser considerado Deus do mesmo modo que o Pai.
Fim do Verbete
Há uma outra passagem das Confissões (VI, 3) em que Santo Agostinho menciona o fato de Santo 
Ambrósio ler em silêncio, sem pronunciar as palavras em voz alta. O trecho mostra-nos a 
interessante tensão entre o ler em silêncio e o ler em voz alta, retrato da dualidade oral-escrito 
vigente em uma cultura na qual a oralidade era ainda importante:
“Quando [Ambrósio] lia, seus olhos percorriam as páginas e seu espírito penetrava-lhes o 
sentido, mas sua voz e sua língua repousavam. Muitas vezes, estando eu presente – pois 
ninguém estava proibido de entrar, nem era costume anunciar quem se apresentava – vi-o 
ler em silêncio, e nunca de outra maneira. E ali ficava eu por muito tempo calado – pois, 
quem se atreveria molestar um homem tão atento? – e por fim me afastava. Conjeturava eu 
que nos curtos momentos que encontrava para repousar o espírito, livre do tumulto dos 
negócios alheios, não queria que o ocupassem com outra coisa. Lia em silêncio, talvez para 
evitar que algum ouvinte, suspenso e atento à leitura, encontrando alguma passagem 
obscura, pedisse explicações, ou o obrigasse a dissertar sobre questões difíceis. Gastaria o 
tempo em tais coisas, e impedido de ler todos os livros que desejava, embora fosse mais 
provável que lesse em silêncio para poupar a voz, que facilmente lhe enrouquecia. Em todo 
caso, qualquer que fosse sua intenção, só poderia ser boa em um homem como ele.”
Dentre as inúmeras obras que Santo Ambrósio compôs está o Hexaemeron, coletânea de 
sermões que proferiu durante a Semana Santa do ano de 387 ou 388. Nele, Ambrósio expõe 
longa e literalmente o narrativa da criação feita no Gênesis, entremeando análises e conselhos 
morais. O santo bispo abre o texto apresentando as doutrinas de alguns filósofos – Platão e 
Aristóteles, precipuamente – sobre a origem do mundo. No trecho, pode-se perceber que ele 
não é avesso à cultura pagã – lembremo-nos que recebeu uma formação romana nela baseada – 
e ele recorrerá frequentemente aos antigos gregos e romanos para ilustrar seu texto e apoiar sua 
argumentação, ainda que tenha de, por vezes, apontar-lhes os erros. É o que ocorre na 
3
passagem em questão, na qual fica evidente que a revelação vem suprir as limitações da 
inteligência humana, inclusive em assuntos que estão na esfera da razão. Essa limitação está 
expressa nas contradições que encontramos nas teorias de grandes filósofos e, por isso, Santo 
Ambrósio pergunta: “Em meio às dissensões destes filósofos, como se pode reconhecer a 
verdade?”. Vamos à leitura:
Verbete
Hexaemeron – O termo é de origem grega, composto de ἕξ (hex-, como em hexacampeão, 
hexâmetro, hexágono) – seis – e ἡμέρα (heméra, como em hemerologia, hemeroteca) – dia. O 
Hexaemeron é, portanto, o período de seis dias durante os quais Deus criou o mundo e tudo 
que nele há, conforme está descrito no livro do Gênesis. São Basílio Magno (séc. IV), Padre 
grego, compôs homilias sobre o Hexaemeron antes de Santo Ambrósio, que delas tira 
inspiração. Durante a Idade Média, serão compostos inúmeros comentários à obra dos seis dias 
(Hexaemeron) ou ao Gênesis como um todo. Santo Agostinho (que vive antes da queda de 
Roma, portanto, ainda na Antiguidade) compõe 3 comentários ao Gênesis: um comentário 
literal, em 12 livros, um comentário em 2 livros, especialmente dirigido contra os maniqueus, eum outro curto texto, que ficou inacabado.
Fim do Verbete
“1. (1) Tantas têm sido as controvérsias entre os homens, que alguns deles, como Platão e 
seus discípulos, estabeleceram três princípios para todas as coisas: Deus, o modelo e a 
matéria. Afirmaram que estes princípios são incorruptíveis, incriados e sem início; que Deus 
não é propriamente o criador da matéria, mas o artífice em vista de um modelo. Quer dizer: 
atentando para a ideia, Deus fez o mundo da matéria que eles chamam ὕλη, a qual deu a 
todas as coisas as condições de gerar. Eles julgam também que o mundo em si mesmo é 
incorruptível, nem criado nem feito. Outros ainda, como pensava Aristóteles ao debater com 
seus discípulos, estabeleceram dois princípios: matéria e forma, e com estes um terceiro, 
chamado princípio eficiente, ao qual competia produzir convenientemente o que julgasse 
necessário. (2) Ora, o que pode ser tão inadequado como ligar a eternidade da obra com a 
eternidade do Deus onipotente, ou então dizer que a obra em si mesma é deus, e envolver 
céu, terra e mar com honras divinas? Daí resultou acreditarem que partes do mundo fossem 
deuses, embora o mundo em si mesmo não seja entre eles uma questão de pouca monta. (3) 
Com efeito, Pitágoras propõe um único mundo. Outros dizem que existem mundos 
inumeráveis, como escreve Demócrito, cujo antigo prestígio influenciou a maior parte dos 
4
filósofos naturalistas. Aristóteles chega a dizer que o mundo em si mesmo sempre existiu e 
existirá. Em contrapartida, Platão ousa afirmar que o mundo não existiu sempre, mas sempre 
existirá, embora muitos provem, com os escritos dele, que o mundo não existiu sempre, nem 
sempre existirá. (4) Em meio às dissensões destes filósofos, como se pode reconhecer a 
verdade? Pois uns dizem que o mundo é Deus, porque a seu ver a mente divina parece ser-
lhe imanente; outros, que partes do mundo são deuses, outros, tanto uma coisa como outra. 
E a propósito: não se pode compreender a forma dos deuses, nem seu número, nem lugar, 
vida ou cuidados. Pois em verdade, entendido como mundo, deve-se conceber um deus 
redondo, incandescente, a girar, impulsionado como que por movimentos sem sentido, 
impelido por movimento alheio, não próprio.
Por tudo isso, prevendo pelo Espírito divino que surgiriam estes erros dos homens, e talvez 
já tivessem começado a surgir, o santo Moisés assim diz no início de suas palavras: No 
princípio Deus fez o céu e a terra.” (Primeiro Dia, 1-2)
Figura 18.1 – Santo Ambrósio (mosaico da igreja de Santo Ambrósio, em Milão)
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9a/AmbroseOfMilan.jpg 
(autor: Irmgard)
Como dissemos, Santo Ambrósio entremeia análises e conselhos de ordem moral. Na sequência, 
temos um trecho em que ele admoesta os maridos a serem gentis e respeitosos para com suas 
esposas e a lutarem contra sua natural rudeza (Quinto Dia, 7, 19):
“Mas tu também, ó homem - podemos também entender assim -, abandona a arrogância do 
coração, a rudeza dos costumes, quando tua esposa solícita vem ao teu encontro; afasta de ti 
a irritação, quando tua esposa carinhosa te convida ao amor. Não és senhor, mas marido; não 
5
ganhaste uma escrava, mas uma esposa. Deus quis que tu fosses timoneiro do sexo mais 
frágil, não o todo-poderoso. Retribui ao zelo com a reciprocidade, retribui ao amor com a 
gratidão. A víbora expele seu veneno: tu não podes abandonar tua dureza de coração? É 
certo que tens uma rudeza natural: mas deves moderá-la pela contemplação de tua esposa e 
deixar de lado a grosseria do espírito em respeito à união conjugal. É possível também 
entender assim: não procureis, ó homens, outro leito, não fiqueis à espreita de outra esposa. 
O adultério é grave, é uma ofensa à natureza. Deus fez primeiramente dois, Adão e Eva, isto 
é, o marido e a mulher, e fez a mulher tirada do marido, isto é, da costela de Adão, e mandou 
que ambos se tornassem um único corpo e vivessem em um único espírito. Por que partes 
um corpo único, por que divides um espírito único? É um adultério contra a natureza.”
Por fim, vejamos um trecho em que Santo Ambrósio utiliza o polvo, com seu mimetismo, para 
precaver-nos daqueles que, com seus tentáculos, querem nos aprisionar em sua fraude (Quinto 
Dia, 8, 21):
“E já que começamos a tecer considerações sobre a astúcia com que cada um se esmera em 
assediar e enganar seu irmão, engendrando inusitadas fraudes para envolver com um 
engano e cobrir com uma espécie de disfarce artificioso a quem não possa apanhar pela 
força, não deixarei de falar sobre a arte de enganar que tem o polvo: encontrando uma pedra 
em litoral pouco profundo, nela se fixa, absorvendo-lhe a cor. Com sua arte de fingir, 
revestindo seu dorso de uma aparência semelhante à da pedra, prende nas redes de sua arte 
manhosa e fecha nas dobras de sua carne a muitos peixes que deslizam por ele, sem 
suspeitar de nenhum engano, desatentos aos sinais, pensando tratar-se de alguma pedra. 
Assim, a presa vem a ele espontaneamente e é apanhada por artifícios comparáveis aos 
daqueles que mudam muitas vezes seu modo de pensar e põem em ação diversas 
artimanhas maléficas, a fim de tentar as mentes e os sentimentos de cada um. Entre os castos, 
eles pregam a continência; no convívio com os intemperantes, desviam-se do zelo pela 
castidade e mergulham nos lamaçais da libertinagem; assim sendo, aqueles que os ouvem ou 
veem entregam-se a eles com incauta facilidade e caem muito depressa em seu engano; não 
sabem abster-se nem acautelar-se daquilo que causa dano, embora a improbidade disfarçada 
pelo véu da benignidade seja mais grave e mais nociva. Assim, pois, cuidado com aqueles 
que espalham ao longe e ao largo os pés e os braços de sua fraude e vestem-se de multiforme 
aparência. Efetivamente, estes são polvos que têm muitos braços e pés de astuciosas 
artimanhas, com os quais podem prender qualquer coisa que caia nos rochedos de sua 
fraude.”
2. SANTO AGOSTINHO (354-430 d. C.)
Vamos, agora, tratar de Santo Agostinho. Começaremos falando de sua vida e de suas obras. 
Em seguida, vamos explorar um de seus livros mais conhecidos, as Confissões.
2.1. VIDA E OBRAS
6
A vida de Santo Agostinho costuma ser dividida em três grandes fases:
1. a primeira é a narrada nas Confissões, indo do nascimento de Agostinho até sua conversão e 
a morte de sua mãe (354-386/387);
2. a segunda compreende o período que vai de sua conversão e da morte de Santa Mônica até 
sua sagração episcopal (386/387-ca. 396);
3. a terceira abarca o período de sua atividade como bispo de Hipona, até sua morte (ca. 396-
430).
Ele nasceu em 13 de novembro de 354 d. C., na cidade de Tagaste, na Numídia, uma das 
províncias romanas na África. Tagaste é hoje a cidade de Souk Ahras, na Argélia, quase 
fronteira com a Tunísia. Morreu em 28 de agosto de 430, na cidade de Hipona, a moderna 
Anaba argelina, não longe da fronteira da Tunísia.
A vida e obra de Santo Agostinho são muito bem documentadas em alguns de seus próprios 
escritos e em uma biografia – a Vita Augustini – escrita por Possídio, bispo de Calama e seu 
amigo pessoal. A Vita Augustini foi composta em algum momento entre julho de 431 (queda de 
Hipona) e outubro de 439 (queda de Cartago) – isto é, depois da morte de Agostinho – por 
alguém que o conhecia bem. Traz-nos, portanto, preciosas informações. No entanto, as 
informações que o próprio Agostinho nos fornece em seus escritos são muito mais completas e 
detalhadas. Podemos reunir em quatro grupos os escritos que contêm informações importantes 
sobre sua vida e obra:
1. As “primeiras confissões” – os diálogos de Cassicíaco, compostos entre novembro de 386 e 
marçode 387, antes do batismo de Agostinho:
1.1. Contra Academicos (Contra os Acadêmicos – novembro de 386);
1.2. De Beata Vita (A vida feliz);
1.3. De Ordine (A ordem – dezembro de 386);
2. Confissões – compostas entre 397 e 401;
7
3. As Retractationes (Revisões) – São as “últimas confissões” de Agostinho, compostas no 
período final de sua vida (em 426-427; Agostinho morre em 430). O termo retractationes não 
tem o sentido de retratações tal como entendemos hoje. O sentido próprio do termo é revisão, 
retoque e, por conseguinte, ocasião de apresentar as devidas correções. As Retractationes nos 
fornecem preciosas informações sobre os escritos de Agostinho e – dado importantíssimo – 
sobre a cronologia dos mesmos, conforme já anuncia o próprio Agostinho no prólogo: “Com 
efeito, descobrirá talvez como eu progredi enquanto escrevia aquele que ler as minhas obras 
na ordem em que foram escritas. Para que possa fazê-lo, eu cuidarei o quanto puder, no curso 
da presente obra, de que ele conheça a referida ordem”;
4. as Cartas e os Sermões – contêm por vezes informações sobre a vida pessoal e religiosa de 
Agostinho.
Verbete
Cassicíaco – Local situado ao norte de Milão (norte da Itália) pertencente a um amigo de 
Agostinho. Este, atormentado por dúvidas quanto à sua vida e à sua vocação, para aí se retira, 
no ano de 386, com alguns parentes e amigos, a fim de dedicar-se ao ócio (lembre-se do otium 
latino ou da σχολή (scholé) grega), meditar e escrever. Durante seu otium, compõe quatro obras: 
Contra os Acadêmicos, A vida feliz, A ordem e Solilóquios.
Verbete
A biografia de Santo Agostinho é a história da busca pela Verdade. É a trajetória das angústias 
humanas face à contingência de nossa vida e à aparente falta de sentido de nossa existência. É a 
tragédia de um homem que, mergulhado no erro, não tem paz e que, por isso mesmo, quer a 
Verdade e a busca, busca, busca, até que finalmente encontra. É o que constataremos, quando 
lermos trechos de suas Confissões e de outras obras. Por ora, contentemo-nos com um resumo 
dos principais fatos de sua vida.
8
Figura 18.2 – Santo Agostinho, afresco do pintor italiano Sandro Botticelli (séc. XIV)
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/Sandro_Botticelli_050.jpg
(autor: Mike.lifeguard)
Agostinho, como dissemos, nasceu em Tagaste, na província romana da Numída (norte da 
África, atual Argélia). Sua mãe, Santa Mônica, era cristã. Seu pai, Patrício, era de posses 
modestas, funcionário da magistratura municipal, que se fez catecúmeno (vá ao dicionário!) 
quando Agostinho tinha 16 anos (370 d. C.; Confissões, II, 3) e morreu no ano seguinte, quando 
ele tinha 17 anos (Conf., III, 4).
Quando criança, não foi batizado pelos pais, embora tenha recebido de sua mãe os rudimentos 
da fé cristã. Frequentou a escola, descurando dos estudos, conforme seu próprio relato, e passou 
a infância e a adolescência envolto em vícios: a gula, a preguiça, o orgulho, a inveja, a mentira, 
furto. Adolescente, foi estudar na cidade vizinha de Madaura, de onde voltou aos 16 anos (370 
d. C.), chamado pelo pai, “ mui cidadão modesto” (Conf., II, 3), que queria enviá-lo a Cartago, 
capital da África Proconsular e cidade de grande importância, situada hoje no território da 
Tunísia.
Aos dezessete anos, chega a Cartago para continuar seus estudos. Aí, com cerca de 18 anos, põe-
se a viver com uma mulher com quem não era casado (Conf., IV, 2). Dessa união, nascerá um 
filho, Adeodato, por volta de 373, quando Agostinho tinha 19 anos. É nessa época que ele lê 
9
uma obra de Cícero, o Hortensius, hoje perdida e da qual se conhecem apenas fragmentos. O 
livro era uma espécie de convite à filosofia e deixou um grande impacto no jovem Agostinho. 
Essa leitura desperta nele o desejo de buscar a Sabedoria. Lembrado do nome de Cristo, que 
“bebera com o leite materno” (Conf., III, 4), ele começa a dedicar-se ao estudo da Sagrada 
Escritura. A simplicidade desta comparada ao estilo ciceroniano faz com que ele desanime.
Verbete
Adeodato – Em latim, Adeodatus, que significa literalmente “dado por Deus”, ou seja, “um 
presente de Deus”.
Fim do Verbete
É, então, atraído pela seita dos maniqueus. É a sede intensa da Verdade que o faz cair no erro: 
“afastando-me da verdade, parecia-me encaminhar para ela” (Conf., III, 7). Ele é levado ao 
maniqueísmo por causa de um exacerbado racionalismo. Agostinho queria encontrar 
explicações racionais para tudo. Por isso, deixa-se seduzir por falsas promessas de um 
conhecimento racional que poderia tudo explicar, mesmo o que pertence ao domínio da fé. Ele é 
movido pelo sincero desejo da Verdade, mas também por soberba e fatuidade, como explica 
com clareza no início de sua obra A utilidade de crer (De utilitate credendi, 1, 2):
“Com efeito, tu sabes, ó Honorato, que nós não enredamos em tais pessoas [=os maniqueus] 
por nenhum outro motivo senão pelo fato de que eles diziam que, deixada de lado a 
assustadora autoridade, conduziriam a Deus e libertariam de todo erro, com a pura e 
simples razão, aqueles que quisessem ser seus discípulos. Com efeito, que outra coisa me 
forçou a, por quase nove anos, segui-los e ser de modo aplicado discípulo daquelas pessoas, 
após ter desprezado a religião que me tinha sido incutida pelos meus pais desde a mais tenra 
infância, senão o fato de que diziam que nós somos aterrorizados pela superstição e que a fé 
nos é impingida antes da razão, mas que eles não impelem ninguém à fé, se a verdade não 
tiver primeiramente sido discutida e esclarecida? Quem não seria seduzido por essas 
promessas, especialmente um adolescente cujo espírito era desejoso de verdade, mas 
também soberbo e gárrulo por causa das discussões na escola com alguns homens doutos? 
Foi assim que eles naquela ocasião me encontraram, desprezando, naturalmente, <as 
verdades de fé> como se fossem historinhas da vovozinha e desejoso de obter e sorver a 
verdade clara e límpida por eles prometida.”
10
Os maniqueus acusavam a fé cristã de ser um monte de fábulas boas para serem aceitas por 
velhinhas, mas sem nenhum sentido, que eram impingidas aos homens através do medo, de 
uma autoridade ameaçadora e terrível. Agostinho passará cerca de nove anos seguindo o 
maniqueísmo, ainda que não tenha integralmente a ele aderido. Ficou em um estágio que era 
qualificado de “ouvinte” (auditor), por ter percebido que eles eram muito dedicados a atacar as 
doutrinas alheias, mas pouco aptos a demonstrar as suas próprias (cf. De utilitate credendi, 1, 2).
Verbete
maniqueísmo – É uma religião gnóstica fundada por Mani (séc. III d. C.) na antiga Pérsia. Ela 
baseava-se em uma cosmologia que preconizava a luta entre o bem – o mundo espiritual da luz 
– e o mal – o mundo material da escuridão. O Bem e o Mal existem desde sempre, constituindo 
dois reinos separados. A religião organizava-se na forma de uma igreja e seus membros eram 
divididos entre os eleitos e os ouvintes, categoria em que ficou Santo Agostinho durante sua 
ligação com a seita. Seus adeptos seguiam uma série de práticas ascéticas visando à purificação 
e à salvação.
Fim do Verbete
Agostinho tinha várias dificuldades acerca de inconsistências da doutrina maniqueísta. Seus 
interlocutores diziam que Fausto, um célebre maniqueu, seria capaz de responder-lhe as 
dúvidas. Este chegou a Cartago quando Agostinho tinha 29 anos (383 d. C.). Era alguém que se 
expressava melhor, com uma linguagem bem cuidada. Mas tinha lacunas sérias em sua 
formação:
“Vi então que se tratava de homem completamente ignorante das artes liberais, comexceção 
da gramática, que conhecia de modo superficial. Contudo como havia lido alguns discursos 
de Cícero, e pouquíssimos livros de Sêneca, alguns poemas e livros da seita, escritos em bom 
latim e com arte, e como se exercitava todos os dias em falar, adquirira grande facilidade de 
expressão, que ele tornava mais agradável e sedutora com o bom emprego de seu talento e 
certa graça natural. […] Por isso, logo que reconheci sua ignorância naquelas ciências em que 
o julgava grande conhecedor, comecei a desesperar de que me pudesse esclarecer e resolver 
as dificuldades que me preocupavam.” (Conf., V, 6-7).
11
Ainda que suas convicções no maniqueísmo estivessem abaladas, ele não abandona a seita de 
imediato. Parte para Roma, onde ensina, mas, desiludido com os estudantes que aí encontrou, 
obtém uma cátedra de retórica em Milão, para onde vai no ano de 384, aos 29 anos. Em Milão, já 
desiludido com os maniqueus e invadido por uma sensação geral de ceticismo – quase 
perdendo a esperança de encontrar a verdade – ele procura por Ambrósio, o santo bispo, 
famoso por sua eloquência. E, por causa desta, Agostinho põe-se a ouvir os sermões de 
Ambrósio, mas, junto com as belas palavras, penetram-lhe os ouvidos as verdades pregadas 
pelo bispo (Conf., V, 14). E é então, no famoso episódio do tolle, lege – toma e lê – que veremos se 
operar sua conversão final (Conf., VIII, 12).
Em setembro de 386, ele parte para Cassicíaco com um grupo de amigos, sua mãe, Mônica, seu 
irmão, Navígio, e seu filho, Adeodato. Esse otium é essencial para a vocação de Agostinho. 
Durante sua estada, ele travará inúmeras conversas com seus acompanhantes e delas resultarão 
quatro textos: Contra os Acadêmicos, A vida feliz, A ordem e Solilóquios.
De retorna a Milão em 387, faz-se batizar por Santo Ambrósio, decidido a dedicar toda a sua 
vida a Deus. Parte para a África em companhia de sua mãe, Mônica. Eles foram para Óstia 
(próximo a Roma), onde deveriam embarcar. Enquanto esperavam o embarque, sua mãe adoece 
e morre. Ele desiste de partir para a África e vai para Roma, onde ficará por aproximadamente 
um ano, aprofundando-se em sua fé e no modo de vida dos monges. Em 388, retorna para sua 
Tagaste natal. Aí chegando, vende os seus bens e os distribui aos pobres. Vive em comunidade 
com alguns amigos e seu filho, Adeodato, dedicando-se ao estudo, à oração e à contemplação.
Em 391, vai à cidade de Hipona, onde acabaria ordenado sacerdote por Valério, o bispo local. Aí 
funda um mosteiro. Entre 395, Agostinho é sagrado por Valério seu bispo-auxiliar e, com a 
morte deste no ano seguinte (396), torna-se o titular, dedicando-se ao governo de sua diocese e 
ao combate às heresias, permanecendo na cátedra até sua morte, em 430, durante o cerco dos 
vândalos a Hipona.
12
Verbete
vândalos – Povo pertencente à categoria geral dos bárbaros. Conquistaram o Norte da África, 
inclusive Hipona e Cartago. Em 455 d. C., saquearam a cidade de Roma, razão pela qual se usa 
o termo “vândalo”, originalmente o nome do povo, para indicar alguém que destrói as coisas, 
os bens públicos ou privados, monumentos históricos etc. É desse termo que derivam também 
as palavras “vandalizar” e “vandalismo”.
Fim do Verbete
BOX MULTIMÍDIA
Roberto Rossellini, o diretor italiano de um filme sobre Sócrates (vimos trechos na Aula 16), 
também fez um longa metragem sobre Santo Agostinho (Agostino d'Ippona), em 1972. Vejamos a 
cena em que ele é escolhido e sagrado bispo auxiliar:
http://youtu.be/iY6COpzo_5w
FIM DO BOX MULTIMÍDIA
Tratemos, agora, da obra de Santo Agostinho. Ela é vastíssima, ocupando 14 volumes da 
Patrologia Latina de Migne (vol. 32-45). Há mais de uma centena de títulos. Os tipos de obra são 
variados. Se formos classificar sua produção, podemos facilmente encontrar escritos:
a) autobiográficos;
b) filosóficos;
c) exegéticos;
d) dogmáticos;
e) apologéticos;
f) ligados à linguagem (gramática, 
retórica);
g) além de sermões e centenas de cartas.
13
A influência de sua obra no pensamento e na cultura ocidentais é inegável. Agostinho é lido 
durante toda a Idade Média, marcando profundamente o pensamento filosófico e teológico, 
moldando a cristandade e representando um importante canal para a incorporação de 
elementos da cultura clássica ao cristianismo. Das suas mais de cem obras, algumas são 
verdadeiras obras-primas. Não podemos comentar todas, mas, ao menos, podemos mencionar 
algumas.
A Cidade de Deus (De ciuitate Dei), composta de 22 livros, levou cerca de 14 anos para ser escrita 
(de 413 a 426, aproximadamente). Nela, Agostinho defende o cristianismo das acusações que lhe 
eram imputadas pelos pagãos, em um contexto histórico e político delicado, marcado pela 
dissolução do Império Romano e pelas invasões bárbaras. De fato, os pagãos acusavam o 
cristianismo de ter destruído a sólida base cultural e moral do Império Romano, levando à sua 
fraqueza e dissolução. A Cidade de Deus surge, assim, como uma apologia do cristianismo, uma 
defesa da fé cristã diante dos ataques pagãos. E ela se funda na ideia de que há duas cidades 
que coexistem, como o joio e o trigo:
“Dois amores deram origem a duas cidades, ou seja, à terrena o amor de si mesmo até o 
desprezo de Deus, à celeste o amor de Deus até o desprezo de si mesmo” (De ciuitate Dei, 
XIV, 28)
A Trindade (De Trinitate) é outro livro de extrema importância e que exerceu enorme influência 
no desenvolvimento de questões teológicas ao longo de toda a Idade Média. A obra, dividida 
em 15 livros, levou por volta de uns 20 anos para ser escrita (399 – ca. 419; cf. BROWN, 2005, p. 
226). O escopo da obra é tratar do mistério da Santíssima Trindade (três Pessoas – Pai, Filho e 
Espírito Santo –, mas um só e único Deus), que, por sua natureza mesma, não pode ser 
plenamente compreendido pela razão, mas apenas crido, já que a razão não pode esgotar algo 
que está acima de suas forças. É provável que o De Trinitate esteja na origem de uma piedosa 
lenda a respeito de Santo Agostinho. Ei-la (Acta Sanctorum – Augusti – tomus sextus, p. 357-358):
Conta-se a respeito dele [=Agostinho] que, quando estava pensando em compor um livro 
sobre a Trindade, ao passar por uma praia, viu um menino que tinha cavado um pequeno 
buraco na praia e, com uma concha, nele colocava a água tirada do mar. E quando Agostinho 
perguntou ao menino o que estava fazendo, este respondeu que tinha decidido esvaziar o 
14
mar com uma concha e colocá-lo naquele buraco. E quando Agostinho disse que isto era 
impossível e riu da inocência do menino, este lhe disse que era mais possível que ele 
conseguisse isso do que Agostinho explicar em seu livro a menor parte dos mistérios da 
Trindade, comparando o buraco ao livro, o mar à Trindade e a concha à inteligência de 
Agostinho. Tendo dito isto, o menino desapareceu. Agostinho humilhou-se por isto e, 
fazendo antes uma oração, compôs como pôde o livro sobre a Trindade.
BOX MULTIMÍDIA
Após sua sagração como bispo auxiliar de Hipona, Agostinho prepara-se para deixar o mosteiro 
no qual vive e assumir suas novas funções. Separa, então, alguns livros que quer levar consigo – 
obras que escreveu ou que leu, como os escritos de Plotino. Relembra, também, fatos de sua 
vida pregressa. Repare no formato dos livros da época. Eram rolos. O leitor, na media em que 
lia, desenrolava um lado e enrolava o outro. O termo rolo, em latim, é uolumen, que deu a nossa 
palavra “volume”. E o livro, como tinha esse formato, era chamado de uolumen, ou seja, rolo. 
Vejamos agora a cena:
http://youtu.be/k-mk21tNdAw
FIM DO BOX MULTIMÍDIA
Os Solilóquios (váao dicionário!) constituem um obra em dois livros, mas que ficou inacabada. 
Trata-se de um diálogo, através de perguntas e respostas. Um detalhe interessantíssimo: 
Agostinho dialoga consigo mesmo, os dois personagens são Agostinho e a Razão. E por 
dialogar consigo mesmo é que chamou a obra de Solilóquios. Vejamos, por exemplo, uma 
passagem da parte em que trata da gramática e da dialética (II, 11, 19):
“Razão – Que te parece: a dialética, que é a arte de argumentar em diálogo, é verdadeira ou 
falsa?
Agostinho – Quem duvida que seja verdadeira? Mas também a gramática é verdadeira.
R. Tanto como aquela?
A. – Não vejo o que possa ser mais verdadeiro que a verdade.
R. – Sem dúvida aquilo que nada tem de falso. Há pouco, considerando isso, não gostaste 
daquelas coisas que, não sei como, não poderiam ser verdadeiras se não fossem falsas. 
Porventura ignoras que todas aquelas coisas mencionadas nas lendas e abertamente falsas 
pertencem à gramática?
15
A. – É claro que não ignoro. Mas, na minha opinião, não são falsas por causa da gramática, 
mas pela gramática elas são explicadas como o são. A fábula é uma criação literária 
composta para proveito e divertimento, ao passo que a gramática é uma disciplina que 
conserva e regula a voz articulada, a fim de coletar todas as coisas produzidas da linguagem 
humana, mesmo as ficções, conservadas pela memória ou consignadas por escrito, sem 
falsificá-las mas ensinando e deduzindo delas alguma instrução verdadeira.
R. – Correto. No momento não me preocupo se definiste e distinguiste bem essas coisas. Mas 
pergunto se é a própria gramática que demonstra isso, ou a arte de argumentar.
A. – Não nego que a força e perícia de definir, com que me empenhei agora em distinguir as 
coisas, se atribui à dialética.”
E, por fim, não poderíamos deixar de mencionar as Confissões. Mas a elas vamos dedicar uma 
atenção toda especial.
Atividade 1
Atende ao objetivo 1
1. Liste os principais fatos da vida de Santo Agostinho.
DIAGRAMADOR: DEIXAR 15 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Você pode redigir um texto, fazendo um resumo dos principais fatos, ou simplesmente elencá-
los, na forma de uma lista. Mas esteja seguro de que você seria capaz de contar para alguém, em 
linhas gerais, a vida de Santo Agostinho. Se preciso for, releia o tópico relativo a sua vida e 
obras e destaque os acontecimentos que lhe parecem relevantes.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
BOX MULTIMÍDIA
No filme de Rossellini sobre Santo Agostinho, há um trecho em que, no momento de uma 
refeição, é feita a leitura do relato do martírio de São Policarpo (do qual lemos alguns trechos 
na Aula 17). A prática, existente até hoje em certas comunidades monásticas, repousa no fato de 
16
que, além de alimentar o corpo, é essencial nutrir o espírito com ensinamentos e exemplos 
edificantes, que sirvam de modelo para a vida cristã e a santificação pessoal. Vejamos agora a 
passagem do filme na qual Santo Agostinho e seus companheiros ouvem a leitura do martírio:
http://youtu.be/O_1M9lQkwjE
FIM DO BOX MULTIMÍDIA
3. AS CONFISSÕES
As Confissões são, seguramente, uma das obras-primas da literatura cristã. É uma obra 
autobiográfica, sem dúvida, mas é, ao mesmo tempo, mais do que isso. Não se trata de um mero 
relato de datas e fatos de cunho pessoal. Agostinho coloca-se diante de Deus, que é onisciente, e 
em Sua presença relata as suas misérias e seus pecados. Ao mesmo tempo, relata como a graça 
de Deus o levou por caminhos tortuosos até encontrar o bem e a verdade e se converter. A 
escuridão de seus pecados contrasta com o brilho da graça e da misericórdia divinas. Sua sede 
de verdade e de felicidade é completada pela superabundância dos dons de Deus. As Confissões 
são um desnudamento do pecador diante de Deus, um louvor à misericórdia divina e uma 
profissão de fé. São também um reconhecimento da fraqueza humana, da indigência do homem 
que busca a felicidade e a verdade, mas que não pode alcançá-las apenas com suas próprias 
forças e necessita a graça de Deus.
O texto é riquíssimo do ponto de vista psicológico. Agostinho o escreve por volta de seus 43 ou 
44 anos. Já se tinha convertido há uns 10 anos e já era bispo. E, com as experiências que 
adquirira em sua vida e com uma agudeza de espírito que é toda sua, olha para o passado e 
para o presente, mostrando como este não se faz sem aquele, como um homem é fruto de seu 
passado e de suas escolhas. Agostinho fala de si, mas é como se falasse de nós, pois o que relata 
está enraizado na natureza humana da qual todos somos partícipes. É o que dirá Francesco 
Petrarca, célebre escritor e poeta italiano do séc. XIV. Ele compõe uma obra em forma de 
diálogo (Secretum) que é claramente inspirada nas Confissões de Santo Agostinho. E dessa 
17
inspiração não há qualquer dúvida, visto que o diálogo é entre Petrarca e o próprio Agostinho, 
ambos na presença de uma mulher, a Verdade, que permanece em silêncio, como testemunha e 
fiadora do que ali se dirá. No início do texto, a mulher aparece, belíssima e resplandescente, e 
fala brevemente com Petrarca, que compreende que se trata da Verdade. Ao lado dela está um 
homem idoso e venerável:
“Não foi preciso perguntar o nome. Seu aspecto religioso, seu semblante recatado, seus olhos 
circunspectos, seu andar sóbrio, a aparência africana, mas a eloquência romana, davam um 
sinal muito claro de que era o gloriosíssimo pai Agostinho.” (Secretum, Pref.)
E Petrarca, conversando com Agostinho, diz que todas as vezes que lê as Confissões tem a 
impressão de estar vendo a história de sua própria caminhada, mostrando que o que aí está 
narrado, ainda que tenha sido vivido por um indivíduo particular – Agostinho –, é a trajetória 
de muitos homens e, em última instância, poderia ser de cada um de nós:
Daí acontece que todas as vezes que leio os livros das tuas Confissões, entre dois sentimentos 
contrários, isto é a esperança e o medo – embora por vezes não sem lágrimas –, julgo que eu 
estou lendo não a história alheia, mas a da minha própria peregrinação. (Secretum, Dialogus 
I)
As Confissões são compostas de 13 livros e divididas claramente em duas grandes partes. Nos 9 
primeiros livros, o autor narra os fatos principais de sua vida passada. Nos 4 últimos (livros 10 
a 13), Agostinho está no tempo presente, mas não aborda fatos pura e simplesmente. Ele 
desenvolve reflexões diversas sobre o valor de suas Confissões, sobre o papel da memória, sobre 
inclinações de sua alma, sobre o livro do Gênesis, sobre o tempo etc.
A narrativa construída ao longo das Confissões não se limita a apresentar objetivamente os fatos. 
Existe um elemento subjetivo que é fundamental e que não consiste apenas no desnudamento 
do “eu” de Agostinho, mas na valoração dos acontecimentos e escolhas que ele faz, com um 
viés que não é apenas psicológico, mas também religioso. Nesse sentido, ele manifesta o papel 
da graça de Deus em sua vida, que o conduz dos erros até a descoberta da verdade. Dois 
elementos exercem uma função primordial na obra: a memória e o tempo linear. Aquela é a 
18
garantia da conservação dos fatos narrados, este, do encadeamento e da causalidade que existe 
nesses mesmos fatos.
Há um outro fator importante na obra. Agostinho não constrói a narrativa colocando-se no 
centro. Vem-nos naturalmente a ideia de que ele ocupa a posição central, por ser o narrador e 
relatar fatos e acontecimentos que são seus, que pertencem à sua vida. No entanto, existe um 
interlocutor. Diferentemente dos Solilóquios, onde este era a “Razão”, ou seja, a inteligência ou a 
alma de Agostinho, nas Confissões é Deusque ocupa essa função. As Confissões são um diálogo 
da alma do autor, de seu “eu”, com Deus. Claramente podemos ver isto na leitura do texto, 
onde o diálogo com o Criador está presente desde a primeira linha. Isto confere à narrativa um 
peso especial. Ao contar sua vida para Deus, que é onisciente (vá ao dicionário!) e, por 
definição, não pode ser enganado, para quem toda mentira é inócua, o autor reveste sua obra de 
uma aura de honestidade, verdade e transparência. É o desnudamento mais perfeito da alma, 
do “eu”, que pode haver. E existe um contraponto com Adão e Eva. Estes, ao incorrerem no 
pecado original, sentiram a culpa, o medo, a vergonha, viram que estavam nus e ocultaram as 
vergonhas (vá ao dicionário!). Agostinho, ao contrário, após uma vida de pecados, não se veste 
diante de Deus. Desnuda-se. Expõe suas misérias, suas chagas, sua torpeza.
Pensaríamos, então, que Deus é o destinatário da narrativa. Mas esbarramos aqui em um 
problema. Como Deus é onisciente, por que Agostinho teria de narrar-lhe tudo aquilo que Ele já 
sabe? Suas Confissões seriam, então, desprovidas de sentido. No entanto, Deus não é o 
destinatário do texto. Ele é o interlocutor de Agostinho e, ao mesmo tempo, o fiador de sua 
absoluta sinceridade, mas a narrativa é destinada ao gênero humano (Conf., II, 3):
“Mas, a quem conto eu estes fatos? Certamente, não a ti, meu Deus, mas em tua presença 
conto estas coisas aos da minha estirpe, ao gênero humano, ainda que estas páginas 
chegassem às mãos de poucos. E para que então? Para que eu, e quem me ler, pensemos na 
profundeza do abismo de onde temos de clamar por ti. E que há de mais próximo a teus 
ouvidos que o coração contrito e a vida que procede da fé?”
Façamos agora a leitura de trechos das Confissões, para que possamos ter uma melhor visão da 
obra.
19
Agostinho abre suas Confissões dirigindo-se a Deus. Na passagem, encontramos uma das mais 
famosas frases do santo doutor: fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto 
não repousa em ti – fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te (Conf., I, 1):
“'Grande és tu, Senhor, e sumamente louvável: grande a tua força, e a tua sabedoria não tem 
limite'. E quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação; o homem carregado com sua 
condição mortal, carregado com o testemunho de seu pecado e com o testemunho de que 
resistes aos soberbos; e, mesmo assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação. 
Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso 
coração, enquanto não repousa em ti. Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o 
primeiro: invocar-te ou louvar-te; conhecer-te ou invocar-te. Mas, quem te invocará sem te 
conhecer? Por ignorá-lo, poderá invocar alguém em lugar de outro. Ou será que é melhor 
seres invocado, para seres conhecido? 'Como, porém, invocarão aquele em quem não creem? 
E como terão fé sem ter quem anuncie? Louvarão o Senhor aqueles que o procuram'. Quem o 
procura o encontra, e, tendo-o encontrado, o louvará. Que eu te busque, Senhor, invocando-
te; e que eu te invoque, crendo em ti: tu nos foste anunciado. Invoca-te, Senhor, a minha fé, 
que me deste, que me inspiraste pela humanidade de teu Filho, pelo ministério de teu 
pregador [=Santo Ambrósio].”
Sempre continuando sua conversa com Deus, Agostinho fala de seu nascimento, de sua vida 
como bebê. E de como – e assim o fazem todas as crianças – se vingava dos adultos chorando, 
quando não obtinha o que desejava. Podemos, aqui, ver a capacidade de observação que o autor 
tem da realidade e a abordagem de temas de caráter psicológico, ao descrever o comportamento 
dos bebês (Conf., I, 6):
“Porque então as únicas coisas que fazia era sugar o leite, aquietar-me com os afagos e 
chorar as dores de minha carne. Depois também comecei a rir, primeiro dormindo, depois 
acordado. Isto disseram de mim, e o creio, porque o mesmo acontece com outros meninos, 
pois eu não tenho a menor lembrança dessas coisas. Pouco a pouco comecei a me dar conta 
de onde estava, e a querer dar a conhecer meus desejos a quem os podia satisfazer, embora 
realmente não o pudessem, porque meus desejos estavam dentro, e eles fora; e por nenhum 
sentido podiam entrar em minha alma. Assim, agitava os braços e dava gritos e sinais 
semelhantes a meus desejos, os poucos que podia e como podia, embora não fossem de fato 
sua expressão. Mas, se não era atendido, ou porque não me entendessem, ou porque o que 
desejava me fosse prejudicial, eu me indignava com os adultos, porque não me obedeciam, e 
sendo livres, por não quererem me servir; e deles me vingava chorando. Assim são as 
crianças que pude observar; e que eu também fosse assim, mais me ensinaram elas, sem o 
saber, do que os que me criaram, sabendo-o.”
20
Agostinho cresceu. Já não é mais um bebezinho. E começa a aprender a falar. Vejamos como ele 
nos descreve o processo de aprendizado da fala e da linguagem. Note a referência à linguagem 
corporal e à associação de padrões sonoros com objetos por eles representados (Conf., I, 8):
“Da infância, caminhando para o ponto onde estou, passei à meninice, ou melhor, ela chegou 
a mim em seguimento à infância. Esta não se afastou: para onde poderia ir? No entanto, não 
mais existia. De fato, eu não era mais uma criança, incapaz de falar, e sim, um menino muito 
conversador; disto eu me lembro. E compreendi mais tarde como aprendi a falar: não eram 
os adultos que me ensinavam as palavras segundo um método preciso, como o fizeram mais 
tarde para me ensinarem as letras, era eu por mim mesmo, graças à inteligência que tu, 
Senhor, me deste, era eu que procurava, através de gemidos, gritos diversos e gestos vários, 
manifestar os sentimentos do coração, para que fizessem minhas vontades. Eu só o que não 
conseguia era fazer-me entender de todo e por todos. Procurava guardar na memória os 
nomes que ouvia darem às coisas; e vendo que as pessoas, conforme esta ou aquela palavra, 
se dirigiam para este ou aquele objeto, eu observava e lembrava que a esse objeto 
correspondia o som que produzia quando queriam mostrar esse objeto. Então eu 
compreendia o que os outros queriam pelos movimentos do corpo, linguagem por assim 
dizer natural, comum a todos os povos e que se manifesta pela expressão do rosto, pelos 
movimentos dos olhos, pelos gestos dos demais membros e pela entonação da voz, 
indicadores dos estados de espírito, quando alguém pede determinada coisa ou quer possuí-
la, quando a rejeita ou quer evitá-la. Desse modo, à força de ouvir as mesmas palavras, pelo 
lugar que ocupavam nas frases, pouco a pouco eu chegava a compreender de que coisas elas 
eram os sinais, e ia acostumando a boca a pronunciá-las, servia-me delas para exprimir meus 
desejos. E assim comecei a comunicar, aos que me cercavam, os sinais que exprimiam os 
meus desejos, e desse modo entrei mais profundamente na tormentosa sociedade dos 
homens, sob a autoridade de meus pais e dos mais velhos.”
Santo Agostinho começa a aprender a ler e escrever. Mostra-nos a rigidez da disciplina então 
vigente e a contradição dos adultos que castigavam as crianças que se divertiam e descuravam 
dos estudos, enquanto eles próprios se divertiam com seus negócios, com resultados muito 
menos inocentes (Conf., I, 9):
“Ó Deus, meu Deus, que sofrimentos e desilusões padeci, quando ao menino que eu era 
propunham que o ideal da vida era obedecer aos mestres para prosperar neste mundo, para 
granjear, com a arte da palavra, o prestígio dos homens e as falsas riquezas! Fui enviado à 
escola para aprender as primeiras letras. Para minha infelicidade, não entendi a utilidade 
desse trabalho; mas,se me mostrava preguiçoso, era castigado a vara. Era um sistema 
recomendado pelos adultos, e muitas crianças antes de nós, que tiveram essa experiência, 
haviam aberto o doloroso caminho que agora éramos obrigados a percorrer, multiplicando 
os trabalhos e dores dos filhos de Adão.
[…]
Para mim, tais castigos não pareciam menos temíveis que as torturas, e não pedia com 
menos fervor que deles fôssemos poupados. No entanto, continuávamos a cometer faltas, 
21
escrevendo, lendo e estudando menos do que se exigia de nós. Não que nos faltasse memória 
ou inteligência, pois nos dotaste, Senhor, com o suficiente para a nossa idade. O fato é que 
gostávamos de nos divertir, e o mesmo faziam, é verdade, aqueles que nos castigavam. Mas 
as distrações dos adultos chamam-se negócios, enquanto as dos meninos, embora da mesma 
natureza, são punidas pelos adultos, sem que ninguém se compadeça da criança, nem do 
homem, nem de ambos. Poderia um juiz reto aprovar os castigos que me davam, porque eu, 
em pequeno, jogava bola, e o jogo era obstáculo ao rápido aproveitamento nos estudos, que 
mais tarde serviriam para folguedos bem menos inocentes? Agia porventura de modo 
diferente aquele que me batia? Se vencido por um colega de magistério em alguma discussão 
fútil, era roído pela raiva e pela inveja, mais do que eu quando derrotado por um 
companheiro num jogo de bola.”
Ele chega à adolescência, durante a qual vive uma vida desordenada (Conf., II, 1):
“Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupções de minha alma, não porque as 
ame, ao contrário, para te amar, ó meu Deus. É por amor do teu amor que retorno ao 
passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros. A recordação é amarga, 
mas espero sentir tua doçura, doçura que não engana, feliz e segura, e quero recompor 
minha unidade depois dos dilaceramentos interiores que sofri quando me perdi em tantas 
bagatelas, ao afastar-me de tua Unidade. Desde a adolescência, ardi em desejos de me 
satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores! 
Desgastou-me a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos, enquanto eu agradava a 
mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens.”
Aos 16 anos (370 d. C.), ele retorna de Madaura, onde estava estudando literatura e oratória, 
para Tagaste, sua cidade natal. Seu pai estava juntando dinheiro para enviá-lo a Cartago, para 
continuar os estudos. Ele vive, então, entregue às paixões e aos vícios, para não ser rejeitado e 
criticado pelos companheiros (Conf., II, 3):
“Nesse mesmo ano, no entanto, meus estudos foram interrompidos, tendo sido chamado de 
Madaura, cidade vizinha, para onde havia ido antes, a fim de estudar literatura e oratória, 
onde aguardava que se preparasse a quantia necessária para uma permanência mais longa, 
em Cartago, de acordo mais com a ambição do que com as possibilidades de meu pai, 
cidadão bem modesto de Tagaste.
[…]
Todos elogiavam muito meu pai, que gastava mais do que lhe permitia o patrimônio 
familiar, nas despesas necessárias para a permanência do seu filho longe de casa por motivo 
de estudos. Muitos outros cidadãos, bem mais ricos que ele, não se interessavam do mesmo 
modo pelos filhos. No entanto, meu pai não se preocupava em saber se eu crescia aos teus 
olhos, meu Deus, e se vivia castamente, desde que fosse eloquente; mas eu era vazio em 
relação à tua cultura, ó meu Deus, único e verdadeiro senhor do teu campo, que é o meu 
coração.
Mas, quando aos dezesseis anos, as necessidades domésticas me forçaram a interromper os 
estudos por algum tempo, e eu, livre de qualquer escola, passei a viver com meus pais, os 
espinhos das paixões me subiram à cabeça, sem que houvesse mão para os arrancar.
22
[…]
Mas eu o ignorava e caminhava para a minha perdição, com cegueira tal, que me 
envergonhava, diante de meus companheiros, de parecer menos depravado que os outros, 
quando os ouvia exaltando as próprias infâmias, tanto mais dignas de glória quanto mais 
infames eram; eu queria fazer o mesmo, não só pelo fato em si, mas pelo louvor que disso 
resultava.
Nada é tão digno de censura como o vício; no entanto, para não ser censurado, eu 
mergulhava ainda mais no vício; quando não me podia igualar a meus companheiros 
corruptos, fingia ter praticado o que não praticara, para não parecer desprezível pela 
inocência ou ridículo por ser casto.”
Agostinho narra o famoso episódio do roubo das peras e mostra-nos como o homem pratica o 
mal, por vezes, levado não pela necessidade (a fome etc.), mas pelo gosto do proibido (Conf., II, 
4):
“Tua lei, Senhor, condena certamente o furto, como também o faz a lei inscrita no coração 
humano, e que a própria iniquidade não consegue apagar. Nem mesmo um ladrão tolera ser 
roubado, ainda que seja rico e o outro cometa o furto obrigado pela miséria. E eu quis 
roubar, e o fiz, não por necessidade mas por falta de justiça e aversão a ela por excesso de 
maldade. Roubei de fato coisas que já possuía em abundância e da melhor qualidade; e não 
para desfrutar do que roubava, mas pelo gosto de roubar, pelo pecado em si. Havia, perto da 
nossa vinha, uma pereira carregada de frutos nada atraentes, nem pela beleza nem pelo 
sabor. Certa noite, depois de prolongados divertimentos pelas praças até altas horas, como 
de costume, fomos, jovens malvados que éramos, sacudir a árvore para lhe roubarmos os 
frutos. Colhemos quantidade considerável, não para nos banquetearmos, se bem que 
provamos algumas, mas para jogá-las aos porcos. Nosso prazer era apenas praticar o que era 
proibido.”
Analisando o furto das peras, mostra-nos o perigo das más companhias, pois não teria cometido 
tal ato se estivesse sozinho (Conf., II, 9):
“Qual era, pois, o sentimento do meu coração? Era sem dúvida um sentimento vergonhoso, e 
ai de mim que o trazia! Mas de que se tratava? Quem pode compreender os pecados? Era 
uma vontade de rir que nos acariciava o coração ao pensar que estávamos enganando os que 
não esperavam de nós semelhante ato e muito o detestariam. Por que eu me divertia ainda 
mais por não praticá-lo sozinho? Talvez porque seja mais difícil rir sozinho? Sim, é mais 
difícil. No entanto, acontece às vezes que rimos sozinhos, sem a presença de outros, se algo 
muito ridículo se apresenta aos nossos sentidos ou ao nosso pensamento. Ah! sozinho eu não 
teria praticado tal ação; absolutamente, não o faria! Meu Deus, eis diante de ti a lembrança 
viva de minha alma. Sozinho, eu não cometeria aquele furto, no qual não me comprazia na 
coisa que eu roubava, mas no ato de roubar; sozinho, não me teria atraído a ideia de roubar, 
nem sequer teria roubado. Oh amizade tão inimiga! Oh, sedução misteriosa da mente, 
vontade de fazer o mal por brincadeira ou diversão, gracejo, prazer de lesar os outros sem 
23
vantagem pessoal ou sede de vingança! Basta que alguém diga: "Vamos! Mãos à obra"! E 
temos vergonha de não ser despudorados.”
Ele dedicava-se com afinco aos estudos e era o melhor aluno, mas pagava o preço da vaidade 
(Conf., III, 3):
“Mesmo os estudos a que me entregava, chamados de liberais, tinham seu curso voltado 
para o foro litigioso, para se obter sucesso, e quanto mais fraude se comete, mais glória se 
granjeia. Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira! Eu era o 
primeiro nas aulas de retórica, o que me satisfazia o orgulho e me fazia inchar de vaidade.”
Santo Agostinho, em sua busca pela verdade, é atraído pelo erro do maniqueísmo, e afasta-se da 
verdade pensando dela aproximar-se (Conf., III, 6):
“Caí assim nas mãos de homens desvairados pela presunção, extremamente carnais e 
loquazes.
[…]
Repetiam: 'Verdade, verdade!' E mefalavam muito dela, mas não a possuíam; pelo contrário, 
ensinavam falsidades, não só a teu respeito, que és realmente a Verdade, mas também sobre 
a existência do mundo, criatura tua. Eu tinha fome de ti, e as iguarias que, ao invés de ti, me 
eram apresentadas, eram o sol e a lua, tuas belas criaturas, mas sempre criaturas, não tu 
mesmo, nem ao menos tuas principais criaturas, porque as obras espirituais precedem as 
materiais, ainda que luminosas e celestes. Eram-me apresentadas fantasias brilhantes; teria 
sido melhor amar o próprio sol, verdadeiro ao menos para os olhos, em lugar daquelas 
falsidades destinadas a enganar a inteligência através dos olhos.
[…]
Eu ignorava a outra realidade, a verdadeira, e era levado a aceitar o que me parecia o 
penetrante raciocínio de estúpidos impostores, quando me faziam perguntas sobre a origem 
do mal, se Deus se circunscreve a uma forma corpórea, se tem unhas e cabelos, se se devia 
considerar honesto quem tivesse ao mesmo tempo várias mulheres, quem assassinasse 
homens e quem sacrificasse animais. Na minha ignorância, ficava perturbado com tais 
perguntas, afastando-me da verdade enquanto acreditava aproximar-me dela. Pois eu não 
sabia que o mal é apenas privação do bem, privação esta que chega ao nada absoluto.”
Deixa-se seduzir pelas tolices maniqueístas (Conf., III, 10):
“[…] …aos poucos, me deixara induzir a crer em tolices, como, por exemplo, que o figo 
chora lágrimas de leite ao ser colhido, como também sua mãe a figueira. Mas se algum eleito 
comesse com naturalidade o figo, criminosamente colhido por outro e não por ele, desse figo 
macerado nas entranhas, através de orações, gemidos e soluços, sairiam anjos e até partículas 
de Deus, do soberano e verdadeiro Deus, que teriam ficado prisioneiras nesse fruto, caso não 
tivessem sido liberadas pelos dentes e pelo estômago do eleito. E eu, infeliz, julgava ser 
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necessário dispensar maior atenção aos frutos da terra do que aos homens a quem eles se 
destinam. E se um homem esfaimado, que não fosse maniqueísta, me pedisse de comer, o 
fato de dar-lhe migalhas me pareceria coisa digna de pena capital.”
Sua mãe, Santa Mônica, tem um sonho em que lhe é assegurada a conversão do filho ao 
cristianismo. Agostinho, em sua presunção, interpreta inicialmente que se tratava de um 
indicativo de que a mãe se converteria ao maniqueísmo (Conf., III, 11):
“Do alto estendeste a tua mão e 'arrancaste a minha alma' de um abismo de trevas, enquanto 
minha mãe, tua fiel serva, chorava por mim, mais do que as mães choram pela morte física 
dos filhos. É que ela, com o espírito de fé com que a dotaste, via a morte da minha alma, e tu, 
Senhor, lhe ouviste os pedidos. Ouviste-a, e não lhe desprezaste as lágrimas que, brotando-
lhe dos olhos, regavam a terra por toda parte em que orava. Sim, tu a ouviste. Porque, de 
quem senão de ti veio aquele sonho tão consolador, que ela aceitou tornar a viver comigo e 
ter-me à sua mesa, o que antes recusara fazer, por horror e aversão às blasfêmias do meu 
erro? Nesse sonho, viu-se de pé sobre uma régua de madeira, e um jovem luminoso e alegre 
lhe foi sorridente ao encontro, enquanto ela estava triste e amargurada. Perguntou-lhe os 
motivos da tristeza e das lágrimas cotidianas, não por curiosidade, mas para instruí-la, como 
acontece muitas vezes. E respondendo ela que chorava a minha perdição, ele a confortou, 
aconselhando-lhe que prestasse atenção e visse que onde ela se encontrava aí estava também 
eu. Ela olhou e me viu diante de si, de pé, na mesma régua. De onde viria tal sonho, senão do 
fato de teres ouvido a voz do seu coração, ó Bondade onipotente, que cuidas de cada um 
como se de um só cuidasses, e de todos como se fossem um só?
De onde vem ainda o seguinte fato? Quando ela me contou o sonho, tentei dizer-lhe que ela 
não devia perder a esperança de um dia vir a ser como eu. Mas ela me respondeu 
imediatamente, sem hesitação: "Não, não me foi dito: 'onde ele está, aí estarás tu'. Mas sim: 
'onde estás, aí estará também ele'."
[…]
Passaram-se de fato nove anos, durante os quais eu me revolvi 'no lodo desse profundo 
abismo' e nas trevas do erro, tentando levantar-me, mas afundando-me cada vez mais.”
Na mesma época, sua mãe conversa com um bispo, que tinha sido ele próprio maniqueu, e este 
lhe assegura que Agostinho acabará por abandonar o erro e se converter. Aqui, temos uma das 
mais famosas frases do santo doutor – “é impossível que pereça o filho de tantas lágrimas” 
(Conf., III, 12):
“Deste-me, pois, outra resposta por meio de um sacerdote teu, certo bispo formado na tua 
Igreja e perito nos teus livros. Instado por minha mãe para ter comigo uma conversa, para 
refutar meus erros, dissuadir-me do mal e ensinar-me a verdade, como fazia sempre que 
encontrava pessoas receptivas, ele se recusou muito prudentemente, como mais tarde 
percebi. Respondeu que eu ainda era indócil, por estar completamente enfatuado com a 
novidade da heresia e envaidecido por ter embaraçado, com algumas objeções, pessoas 
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despreparadas, como ela mesma havia dito. 'Deixe-o onde está, disse a ela. Limite-se a orar 
por ele ao Senhor: ele descobrirá por si mesmo, através da leitura, o erro e toda a impiedade 
dessa doutrina'. Ao mesmo tempo, contou que também ele, quando menino, fora confiado 
aos maniqueus pela mãe, enganada pelo erro; não somente havia lido, mas também copiara 
quase todos os livros deles. E, sem que ninguém discutisse para persuadi-lo, chegou à 
conclusão de quanto tal seita devia ser evitada, e de fato a abandonou. Minha mãe, porém, 
não se rendeu a essas palavras, mas insistiu, suplicando-lhe com muitas lágrimas, que me 
fosse ver e tivesse uma conversa comigo, até que o bispo, já um tanto aborrecido, respondeu-
lhe: 'Vá e viva em paz, pois é impossível que possa perecer um filho de tantas lágrimas'. 
Muitas vezes ela recordava, mais tarde, em suas conversas comigo, que recebera essas 
palavras como vindas do céu.”
Agostinho torna-se professor de retórica e passa a viver em concubinato com uma mulher, a 
quem, entretanto, permanece fiel. Experimenta, em sua própria carne, a diferença entre a 
verdadeira união conjugal e aquela baseada na paixão sensual (Conf., IV, 2):
“Naqueles anos eu ensinava retórica: vencido pelas paixões, eu vendia tagarelices para 
ensinar a ganhar causas. Todavia, Senhor, tu bem sabes que eu preferia ter bons discípulos; 
no verdadeiro sentido da palavra, e, sem artimanhas, eu lhes ensinava artifícios úteis, dos 
quais pudessem um dia usar, não contra a vida de um inocente, mas, quem sabe, para salvar 
a vida de um culpado. E tu, meu Deus, vias de longe meus tropeços nesse caminho 
escorregadio, vias também, no meio de densa fumaça, algumas centelhas de fidelidade que 
eu oferecia aos discípulos que, como eu, amavam a vaidade e buscavam o que é falso. 
Durante esses anos, eu vivia em companhia de uma mulher, a quem não estava unido por 
legítimo matrimônio, mas que a imprudência de uma paixão inquieta me fez encontrar. Era, 
porém, uma só, e eu lhe era fiel. Com esta união experimentei pessoalmente a diferença entre 
o laço conjugal instituído em vista da procriação, e uma ligação baseada apenas na paixão 
sensual, da qual podem nascer filhos sem serem desejados, embora uma vez nascidos se 
imponham ao amor dos pais.”
Vence um concurso de poesia e dedica-se ao estudo da astrologia, que é aconselhado a 
abandonar, por tratar-se de um engodo (Conf., IV, 2-3):
“Recordo-me também de que, tendo querido participar de um concurso de poesia teatral, 
não sei que adivinho mandou perguntar-me que recompensa estaria eu disposto a dar-lhe 
para me fazer sair vencedor. Eu lhe respondi que detestava edesprezava práticas tão 
abomináveis e que não deixaria imolar nem mesmo uma mosca pela minha vitória, ainda 
que a coroa fosse de ouro puro.
[…]
Ora, vivia nesse tempo um homem sagaz, ótimo e famoso médico (=Vindiciano). 
Substituindo o cônsul, mas não como médico, com suas próprias mãos colocou sobre minha 
cabeça insana a coroa pela qual eu lutara. Esse gênero de doença só tu és o médico que o 
curas, tu que resistes aos soberbos e dás a graça aos humildes. Contudo, mesmo através 
desse ancião, não me abandonaste nem deixaste de me curar a alma! À medida que 
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aumentava nossa intimidade eu me tornava mais assíduo e atento às conversas dele, 
destituídas de palavras rebuscadas, porém, ao mesmo tempo, agradáveis e profundas pela 
riqueza de pensamento. Quando ele soube pelas minhas conversas, que eu me dedicava ao 
estudo dos livros de horóscopo, com paternal bondade me aconselhou a lançá-los fora e não 
despender em coisas vãs o tempo e o trabalho necessários a coisas mais úteis. Contou-me 
que também ele fizera tais estudos e que na juventude chegara a pensar em fazer disso uma 
profissão; se havia entendido Hipócrates, poderia também entender esses livros. No entanto, 
decidiu abandonar tais estudos para seguir a medicina, por tê-los achado completamente 
falsos e não querer, como homem honesto, ganhar o pão à custa de enganar as pessoas. E 
acrescentou: 'Mas tu tens a retórica que te oferece uma posição social, e cultivas essas 
falsidades apenas por prazer e não por necessidade econômica! Com mais razão deves crer 
em quem as estudou a fundo com a intenção de fazer delas o seu único sustento'. Perguntei-
lhe então por qual motivo muitos presságios se realizavam. Respondeu-me, como pôde, que 
era pela força do acaso, presente por toda parte na natureza.”
O critério de verdade não é a beleza com que algo é afirmado. A verdade pode ser apresentada 
de modo deselegante e a falsidade, com extrema beleza. É preciso, portanto, estar atento aos 
embustes do erro, que se serve, muitas vezes, de uma casca elegante para encobrir sua torpeza 
(Conf., V, 6):
“Eu já havia aprendido de ti que uma coisa não deve ser aceita como verdade apenas pelo 
fato de ser afirmada em belo estilo, e não deve ser tida por falsa porque as palavras saem dos 
lábios de modo confuso; por outro lado, não deve ser julgada verdadeira porque expressa 
sem cuidado, ou falsa porque apresentada com elegância. A sabedoria e a ignorância são 
mais ou menos como os alimentos úteis ou nocivos: podem ser apresentadas através de 
palavras polidas ou rudes, como os bons e maus alimentos podem ser servidos em pratos 
finos ou grosseiros.”
Agostinho decide abandonar Cartago e ir para Roma. O motivo: procura estudantes melhores, 
que respeitem o professor e se dediquem ao estudo com disciplina e afinco, já que em Cartago, 
há alunos cujas ações estão no limite do crime. Podemos imaginar o que escreveria Agostinho, 
se tivesse de enfrentar a realidade de nosso sistema educacional. Eis seu desabafo (Conf., V, 8):
“Foi portanto por tua ação em mim que eu me deixei convencer em ir para Roma, preferindo 
ensinar aí o que ensinava em Cartago. Não hesitarei em confessar de onde me veio tal 
inspiração, porque é nessas ocasiões que se deve reconhecer e proclamar a profundidade dos 
teus desígnios e a tua misericórdia sempre pronta a nos ajudar. Não me decidi a ir a Roma 
porque os amigos que a isto me solicitavam prometiam maior lucro e mais prestígio, embora 
estes motivos também me atraíssem. A razão principal e quase única era o fato de ter ouvido 
dizer que aí os jovens se dedicavam ao estudo mais tranquilamente, refreados por uma 
disciplina mais severa. Não invadiam desordenada e atrevidamente a sala de aula de um 
mestre, do qual não eram alunos, nem eram aí admitidos sem sua licença. Em Cartago, a 
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liberdade dos estudantes é completamente desinibida; precipitam-se cinicamente salas a 
dentro, em atitude furiosa, perturbando a ordem que o professor procura estabelecer entre 
os alunos, para próprio benefício destes. Com insolência fazem frequentes provocações que 
seriam punidas por lei, se a tradição não os protegesse, o que revela miséria ainda maior, por 
praticarem, como se fossem lícitas, ações que, segundo tua lei, jamais o serão. Julgam agir 
impunemente, ao passo que a própria cegueira de seu comportamento já constitui um 
castigo. Sofrem assim dano muito maior do que o mal que cometem. Eu, como estudante, 
jamais assumira semelhantes atitudes; como professor era obrigado a suportá-las nos 
outros.”
Em Roma, os alunos são diferentes, mas têm outros vícios. Um deles era não pagar o professor 
(Conf., V, 12):
“Atirei-me com zelo à tarefa, que era a razão da minha ida a Roma, isto é, ao ensino da 
retórica. No princípio, reunia em casa alguns alunos, aos quais e pelos quais comecei a 
tornar-me conhecido. Percebi logo que em Roma havia certos hábitos que eu não toleraria na 
África. É verdade que não se verificavam as conhecidas desordens dos jovens depravados de 
Cartago, mas fui avisado de que muitos estudantes romanos, para não pagarem ao professor, 
entravam em acordo e passavam repentinamente para outro mestre, traindo a boa fé e 
menosprezando a justiça, por amor ao dinheiro.”
De Roma, ele vai para Milão, onde conhece Santo Ambrósio, peça fundamental em sua 
conversão (Conf., V, 13):
“Quando o prefeito de Roma recebeu de Milão o pedido de um professor de retórica para 
esta cidade, com a oferta de transporte público, eu mesmo solicitei o emprego através de 
amigos embriagados de ideias maniqueístas, sem saber que minha ida deveria separar-nos 
para sempre. O prefeito Símaco, após submeter-me à prova de um discurso, me fez partir. 
Assim que cheguei a Milão, encontrei o bispo Ambrósio, conhecido no mundo inteiro como 
um dos melhores, e teu fiel servidor.
[…]
Comecei a estimá-lo, a princípio não como mestre da verdade, pois não tinha esperança de 
encontrá-la em tua Igreja, mas como homem bondoso para comigo. Acompanhava 
assiduamente suas conversas com o povo, não com a intenção que deveria ter, mas para 
averiguar se sua eloquência merecia a fama de que gozava, se era superior ou inferior à sua 
reputação. Suas palavras me prendiam a atenção. Mas, o conteúdo não me preocupava, até o 
desprezava. Eu me encantava com a suavidade de seu modo de discursar […]”.
Encontrando um homem embriagado, Agostinho pensa que a busca por uma felicidade 
meramente humana que ele e outros empreendiam era mais penosa e com resultados mais 
incertos do que a embriaguez, que garantia mais facilmente a “alegria” de que desfrutava o 
bêbado (Conf., VI, 6):
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“Como eu era infeliz! E como agiste para que eu sentisse minha miséria, naquele dia em que 
me preparava para declamar um panegírico ao imperador! Aliás, um tecido de mentiras que 
seriam, no entanto, aplaudidas pelos ouvintes, que sabiam tratar-se de mentiras. Meu 
coração agitava-se com esses cuidados e ardia na febre de pensamentos indignos, quando, 
passando por uma viela de Milão, reparei num pobre mendigo que, talvez meio bêbado, 
estava alegre e de bom humor. Entristeci-me, e fiz notar aos amigos, que me acompanhavam, 
as angústias provocadas por nossas loucuras. Pois, com todos os nossos esforços (como eram 
então os meus, carregando sob o aguilhão das paixões o peso da miséria, peso que 
aumentava à medida que eu o arrastava), onde queríamos chegar, senão à alegria segura em 
que nos precedera o mendigo e onde talvez nunca chegaríamos? Ele, de fato, com aquelas 
poucas moedas recebidas de esmola, tinha alcançado a alegria da felicidade efêmera, que eu 
me esforçava para conseguir dando voltas por tantos caminhos tortuosos e cheios deangústias. É claro que a alegria dele não era a verdadeira; mas o objeto de minha ambição era 
bem mais falso. Ele, pelo menos, estava satisfeito com sua alegria, e eu, preocupado; ele era 
livre, estava tranquilo, e eu, cheio de inquietações.”
Depois de muitas angústias, entre lágrimas, Agostinho encontra o caminho da conversão. Ouve 
a voz de uma criança que lhe diz: Toma e lê! E abrindo um texto de São Paulo, descobre a fé que 
procurara durante anos (Conf., VIII, 12):
“Quando essas severas reflexões me fizeram emergir do íntimo e expuseram toda a minha 
miséria à contemplação do coração, desencadeou-se uma grande tempestade portadora de 
copiosa torrente de lágrimas. Para dar-lhes vazão com naturalidade, levantei-me e afastei-me 
de Alípio, o necessário para que sua presença não me perturbasse, pois a solidão me parecia 
mais apropriada ao pranto. Alípio percebeu o estado em que me encontrava: o tom da voz 
embargada pelas lágrimas, ao dizer-lhe alguma coisa, havia-me traído. Levantei-me; ele 
permaneceu atônito, onde estávamos sentados. Deixei-me, não sei como, cair debaixo de 
uma figueira e dei livre curso às lágrimas, que jorravam de meus olhos aos borbotões, como 
sacrifício agradável a ti. E muitas coisas eu te disse, não exatamente nestes termos, mas com 
o seguinte sentido: 'E tu, Senhor, até quando? Até quando continuarás irritado? Não te 
lembres de nossas culpas passadas!' Sentia-me ainda preso ao passado, e por isso gritava 
desesperadamente: 'Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda: amanhã, amanhã? Por 
que não agora? Por que não pôr fim agora à minha indignidade?' Assim falava e chorava, 
oprimido pela mais amarga dor do coração. Eis que, de repente, ouço uma voz vinda da casa 
vizinha. Parecia de um menino ou menina repetindo continuamente uma canção: 'Toma e lê, 
toma e lê' [=Tolle lege, tolle lege]. Mudei de semblante e comecei com a máxima atenção a 
observar se se tratava de alguma cantilena que as crianças gostam de repetir em seus jogos. 
Não me lembrava, porém, de tê-la ouvido antes. Reprimi o pranto e levantei-me. A única 
interpretação possível, para mim, era a de uma ordem divina para abrir o livro e ler as 
primeiras palavras que encontrasse. Tinha ouvido que Antão, assistindo por acaso a uma 
leitura evangélica, sentiu um chamado, como se a passagem lida fosse pessoalmente dirigida 
a ele: 'Vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e 
segue-me'. E logo, através dessa mensagem, converteu-se a ti. Apressado, voltei ao lugar 
onde Alípio ficara sentado, pois, ao levantar-me, havia deixado aí o livro do Apóstolo. 
Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar: 'Não em 
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orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-
vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne'. Não quis ler mais, 
nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim todas as 
trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de certeza.”
Convertido, Agostinho passa uma temporada em Cassicíaco, em companhia da mãe (Mônica), 
do filho (Adeodato), de seu irmão (Navígio) e de alguns amigos. De volta a Milão, é batizado, 
junto com seu filho Adeodato e seu amigo Alípio, por Santo Ambrósio, em 24 de abril de 387. 
Ela relata esses fatos em uma passagem das Confissões na qual também menciona sua obra De 
Magistro (O mestre), composta em 388 e que reproduz um diálogo com o filho Adeodato (Conf., 
IX, 6):
“Quando chegou o momento em que devia dar o meu nome para o batismo, deixando o 
campo, voltamos para Milão. Quis também Alípio renascer em ti, juntamente comigo, já 
revestido da humildade tão de acordo com teus mistérios, e senhor absoluto de seu corpo, a 
ponto de caminhar descalço, com rara coragem, sobre o enregelado solo da Itália. Juntamos 
também a nós Adeodato, filho do meu pecado, a quem tinhas dotado de grandes qualidades. 
Com quinze anos apenas, superava em talento muitas pessoas maduras e eruditas.
[…]
Escrevi um livro intitulado O mestre, no qual meu filho conversa comigo. Tu bem o sabes, 
todos os pensamentos aí manifestados por meu interlocutor são realmente dele, então com 
dezesseis anos. Nele encontrei muitas outras qualidades, ainda mais extraordinárias. Aquele 
talento causava-me admiração, pois quem, senão tu, poderia ser o autor de semelhantes 
maravilhas? Cedo o levaste desta terra [morto em 390, aos 17/18 anos?]; e com a recordação 
dele sinto maior segurança do que a teria com sua vida. Nada mais devo temer por sua 
infância, nem por sua adolescência ou puberdade. A nós o associamos pela mesma idade na 
tua graça. Queríamos educá-lo na tua lei. Fomos batizados, e desapareceu qualquer 
preocupação quanto à vida passada.”
Após o batismo, decide voltar para a África. Em Óstia, cidade vizinha a Roma, enquanto 
aguardava o navio para seu retorno, sua mãe, Mônica, falece ao 56 anos, quando Agostinho 
tinha 33 (Conf., IX, 8, 10, 11):
“'Tu, que preparaste uma casa para os corações unidos', associaste a nós também Evódio, um 
jovem de nosso município. Funcionário do Estado, tinha-se convertido antes de nós, fora 
batizado e, abandonando as ocupações mundanas, dedicara-se a teu serviço. Vivíamos juntos 
e nos dispúnhamos a morar sempre unidos em nosso santo propósito. Procurávamos 
justamente o lugar para melhor servir-te e voltávamos juntos para a África. Nessa ocasião, 
em Óstia, na foz do Tibre, faleceu minha mãe.
Ao aproximar-se o dia de sua morte — dia que só tu conhecias e nós ignorávamos — 
sucedeu, creio que por tua vontade e de modo misterioso como costumas fazer, que ela e eu 
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nos encontrássemos sozinhos, apoiados a uma janela, cuja vista dava para o jardim interno 
da casa onde morávamos, em Óstia Tiberina. Afastados da multidão, procurávamos, depois 
das fadigas de uma longa viagem, recuperar as forças, tendo em vista a travessia marítima. 
Falávamos a sós, muito suavemente, esquecendo o passado e avançando para o futuro.
[…]
Assim falávamos, se bem que de modo e com palavras diversas. No entanto, Senhor, tu 
sabes como nesse dia, durante esse colóquio, o mundo, com todos os seus prazeres, perdia 
para nós todo valor, e minha mãe me disse: 'Meu filho, nada mais me atrai nesta vida; não 
sei o que estou ainda fazendo aqui, nem por que estou ainda aqui. Já se acabou toda 
esperança terrena. Por um só motivo eu desejava prolongar a vida nesta terra: ver-te católico 
antes de eu morrer. Deus me satisfez amplamente, porque te vejo desprezar a felicidade 
terrena para servi-lo. Por isso, o que é que estou fazendo aqui'?
Não lembro bem o que foi que lhe respondi. Passados, porém, cinco dias ou pouco mais, ela 
caiu de cama com febre. Durante a doença, perdeu os sentidos, por alguns instantes não 
reconhecia os presentes. Acorremos logo, e ela imediatamente voltou a si. Olhou para meu 
irmão e para mim ao lado e, como se procurasse alguma coisa, perguntou-nos: "Onde é que 
eu estava'? Depois, notando nosso espanto e tristeza, acrescentou: "Enterrareis aqui a vossa 
mãe".
[…]
Pelo nono dia de doença, aos cinquenta e seis anos de idade, quando eu tinha trinta e três, 
essa alma fiel e piedosa libertou-se do corpo.”
Atividade Final
Atende ao objetivo 2
1. Em seu Livro do Desassossego, Fernando Pessoa tem um trecho em que fala da autobiografia (p. 
45):
Invejo — mas não sei se invejo — aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que 
podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro 
indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas 
Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer. Que há (de alguém) confessar 
que valha

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