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Curso: Letras Disciplina: Bases da Cultura Ocidental
Conteudista: André Alonso
AULA 15 – Nascer para saber ou saindo da caverna
META
Apresentar, utilizando a alegoria da caverna, de Platão, uma visão geral sobre diversos aspectos 
da filosofia, como a relação entre opinião e ciência, educação e ignorância, demostrando que 
existe no ser humano um desejo natural de conhecer a verdade. Mostrar como verdade, 
admiração e ócio são elementos que estão na origem do pensamento filosófico.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. estabelecer a relação entre opinião e ciência, educação e ignorância;
2. explicar a alegoria da caverna (Platão);
3. relacionar filosofia e natureza humana, explicando o significado de “desejo inato de saber”;
4. relacionar verdade, admiração e ócio com a filosofia.
PRÉ-REQUISITO
Leia o texto da “Alegoria da Caverna”, de Platão, que está na plataforma.
INTRODUÇÃO
Nossa última aula mostrou-nos o surgimento, na Grécia, de um novo tipo de saber: a filosofia. 
Vimos que as questões que serão exploradas pelos filósofos gregos já se encontram nos mitos e 
1
na poesia gnômica. Lemos um pequeno trecho da Metafísica de Aristóteles que aproximava o 
amante de mitos (philómythos) do amante da sabedoria (philósophos). O mito, com efeito, é 
uma tentativa de racionalização e de explicação das realidades que desconhecemos e que nos 
causam espanto, admiração ou mesmo temor. Vimos também que houve uma série de fatores, 
de diferentes ordens, que colaboraram para o nascimento da filosofia na Grécia. Exploramos, 
por fim, o conceito de filosofia, trabalhando, inicialmente, com o sentido etimológico do termo e 
analisando, em seguida, algumas definições que circulavam na Antiguidade e na Idade Média. 
Pudemos ver, também, que é entre os séculos VI e V a. C. que se desenvolve a prosa grega, 
utilizada, em sua origem, para tratar de assuntos mais técnicos ou científicos. Temos, então, 
uma série de campos do saber, alguns dos quais estavam apenas nascendo, que buscam na 
prosa um canal adequado para a expressão de seus conceitos e teorias: a filosofia, a história, as 
matemáticas, entre outros.
Em nossa aula de hoje, aprofundaremos certas questões relativas ao saber filosófico. 
Precisaremos o sentido da afirmação de que a filosofia é uma ciência e exploraremos o 
problema da origem da filosofia. Estudaremos a necessidade da filosofia para o ser humano e 
como ela está intimamente ligada à natureza humana, cuja curiosidade conduz à busca pela 
verdade. Em tempos como o nosso, em que o relativismo tornou-se absoluto, pode causar 
estranhamento falar em “busca da verdade”. Em nosso socorro vem Santo Agostinho, que, 
utilizando-se de uma experiência que é de todos nós, mostra-nos como o homem tem um desejo 
natural de conhecer a verdade, de fugir do erro e de evitar a mentira.
Teremos a oportunidade de conhecer um texto fundamental de Platão (a alegoria da caverna), 
que discute conceitos como opinião e ciência, educação e ignorância, ao mesmo tempo em que 
mostra que o caminho da cultura é árduo, mas conduz à verdadeira liberdade, e que a posse do 
conhecimento implica uma responsabilidade para com os demais seres humanos: revelar-lhes a 
verdade conhecida, que também os libertará.
Verbete
2
Platão (esquerda) e Aristóteles – detalhe de “Escola de Atenas”, famoso afresco de Rafael (séc. 
XV e XVI), localizado no Palácio Apostólico do Vaticano
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sanzio_01_Plato_Aristotle.jpg (autor: Jacobolus)
Aristóteles – Nasceu na cidade de Estagira, na Grécia, em 384 a. C., e por isso mesmo é 
chamado, por antonomásia, de Estagirita. Morreu em 322 a. C. Foi discípulo de Platão e mestre 
de Alexandre Magno. Aristóteles fundou o Liceu, uma escola filosófica situada em Atenas.
Compôs uma vasta obra dedicada não apenas aos diversos ramos da Filosofia (Física ou 
Filosofia da Natureza, Metafísica, Psicologia, Ética, Política), mas à Lógica, à Biologia, à Poética, 
à Retórica. Suas obras tiveram um impacto profundo não apenas na Antiguidade, mas também 
na Idade Média, tendo sido lidas e comentadas por diversos filósofos de língua grega, árabe e 
latina. De fato, alguns dos textos de Aristóteles foram traduzidos, ainda na Antiguidade, para o 
latim. Durante o Medievo, conheceram diferentes traduções para o árabe e o latim. Sua 
importância nas universidades europeias, a partir do séc. XIII, é tão grande e tão fundamental 
que ele era chamado simplesmente de “o Filósofo”. O currículo de filosofia das universidades 
medievais baseava-se, então, majoritariamente nas obras do Estagirita, que eram lidas e 
comentadas durante as aulas.
Averróis, filósofo árabe do séc. XII, comentador da obra de Aristóteles, diz o seguinte a respeito 
do Filósofo:
3
“Com efeito, eu creio que esse homem foi uma regra na Natureza e um modelo que a Natureza 
inventou para mostrar o último grau de perfeição humana no mundo material”. (Comm. 
Magnum in De Anima, III, comm. 14, 142-145)
Fim do Verbete
Box de Curiosidade
O nome Liceu vem do local onde se situava a escola, um ginásio esportivo situado em Atenas e 
consagrado a Apolo. Um dos epítetos de Apolo é “Liceu” ou “Lício”, do adjetivo grego λύκειος 
(lýkeios), que significa “de lobo”, “relativo a lobo”, seja porque a mãe de Apolo, a deusa Leto, 
teria se transformado em loba para fugir da ira de Hera, esposa de Zeus, seja porque Apolo, 
como pastor e protetor dos rebanhos, afugentava os lobos. O fato é que o termo “Liceu” 
significa “de lobo” e, por isso, o termo é, em certas regiões do Brasil, sinônimo de prostíbulo, já 
que, em latim, “loba” – lupa – podia designar a prostituta, como, em português, “piranha”, além 
de indicar um tipo de peixe, pode ser usado com o sentido de “meretriz”. O termo “lupanar”, 
em português, é sinônimo de prostíbulo, já que, em latim, lupanar, um composto de lupa, tinha 
exatamente esse sentido. Veja quão curiosos – e tortuosos – são os caminhos que as palavras 
percorrem, carregando, assim, diferentes matizes. Desde a Antiguidade, circula a história de 
que Aristóteles ensinava seus discípulos caminhando pelo Liceu. Como em grego “passeio”, 
“caminhada”, se diz “perípatos” (περίπατος), a escola filosófica do Estagirita ficou conhecida 
como “peripatética” e seus discípulos, como “peripatéticos”.
Dada a grande importância do ensino e da filosofia de Aristóteles, o nome de sua escola entrou 
para a história e passou a designar um estabelecimento de ensino, de estudo, assim como a 
Academia de Platão tornou-se um substantivo comum significando “local de ensino ou de 
pesquisa”. “Liceu” e “academia” são duas palavra que demonstram a importância 
incomensurável que Aristóteles e seu mestre Platão tiveram na cultura mundial, mormente 
ocidental.
4
Fim do Box de Curiosidade
1. OPINIÃO E CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E IGNORÂNCIA
No final de nossa aula anterior, ao definirmos a filosofia, dissemos que ela é uma ciência ou um 
conhecimento. Podemos, então, perguntar o que é ciência ou conhecimento. Santo Tomás de 
Aquino (séc. XIII d. C.) estabelece as características básicas do conceito de ciência em algumas 
passagens de sua vasta obra. Eis aqui duas ocorrências:
a) a ciência é um conhecimento certo (scientia est etiam certa cognitio rei – Expositio Posteriorum 
Analyticorum, lib. I, l. 4, n. 5);
b) a ciência implica uma certeza de conhecimento adquirida por meio de uma demonstração 
(scientia importat certitudinem cognitionis per demonstrationem acquisitam – Expositio Posteriorum 
Analyticorum, lib. I l. 44, n. 3).
Ciência seria, então, umconhecimento certo adquirido por meio de uma demonstração. A 
definição implica que:
a) a ciência é um conhecimento certo – ela distingue-se, assim, da opinião; esta pode definir-se 
como o assentimento que se dá a uma das possíveis soluções por parecer ela a mais provável, 
temendo-se que a solução oposta seja a verdadeira; a ciência implica na certeza do 
conhecimento, enquanto na opinião não há essa certeza, mas antes o temor, o medo de que a 
posição contrária seja a verdadeira; por isso, quando você tem ciência, você diz que “sabe”, 
quando tem opinião, diz que “acha”;
b) a ciência é um conhecimento adquirido por meio de uma demonstração – a ciência nos dá a 
conhecer as coisas por meio de suas causas; ter a ciência de alguma coisa significa ter um 
5
conhecimento perfeito, completo, o que supõe conhecer-lhe as causas; ciência, portanto, implica 
um conhecimento pelas causas.
Platão (séc. V e IV a. C.) assenta sua filosofia na distinção entre opinião (δόξα – dóxa) e a ciência 
(ἐπιστήμη – epistéme). Em sua República (479e-480a), ele estabelece a distinção entre filósofo, o 
amante da sabedoria e da ciência, e o filódoxo, o amante da opinião. A ciência e a opinião 
representam dois níveis distintos de conhecimento. Na mesma República, Platão constrói uma 
belíssima alegoria que nos permite compreender a diferença entre ciência e opinião e entre 
educação e ignorância. A passagem, situada no início do livro VII, é conhecida como alegoria ou 
mito da caverna.
Verbete
Platão – cópia romana de escultura grega do séc. IV a. C.
6
Fonte: 
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Head_Platon_Glyptothek_Munich_548.jpg 
(autor: Bibi Saint-Pol)
Platão – Nasceu por volta de 424 a. C., provavelmente em Atenas, e morreu em 348 a. C.. Foi 
discípulo de Sócrates, que aparece como personagem central em seus diálogos, e mestre de 
Aristóteles. Platão fundou a Academia, uma escola filosófica situada em Atenas. O nome 
“Academia” vem do fato de que Platão ensinava no lugar em que havia um jardim ou bosque 
que teria pertencido ao mítico herói ateniense Academo (Ἀκάδημος – Akádemos) e onde ele 
tinha sido sepultado. Por causa de Academo, o bosque era chamado Ἀκαδήμεια (Akadémeia) e 
a escola de Platão passou, assim, a ser conhecida como “Academia”, de onde deriva, 
obviamente, o termo em português (que indica um lugar para o cultivo do espírito ou do corpo 
– lembre-se das academias de ginástica).
Fim do Verbete
Box de Explicação
Platão emprega o diálogo como meio de investigação filosófica, levando o leitor/interlocutor a 
fazer um percurso filosófico sobre questões variadas. Os temas abordados pelo filósofo são 
bastante diversos e abrangem diferentes ramos da filosofia: política, ética, metafísica, teoria do 
conhecimento. Sua teoria das Formas ou das Ideias é bastante conhecida e teve grande 
importância desde a Antiguidade. As Formas ou Ideias são os verdadeiros seres, a verdadeira 
realidade e nosso mundo material é apenas um reflexo tosco, uma cópia, dessa realidade 
superior e imaterial. As Formas imateriais constituem um dos núcleos da filosofia de Platão. Por 
isso, em português, o adjetivo “platônico” pode ser sinônimo de “imaterial”, de “não-concreto”, 
de desligado do mundo material. Assim, falamos de “amor platônico”, isto é que não se 
concretiza em atos, mas que fica apenas na esfera imaterial, teórica, imaginada. Outro detalhe 
7
interessante é que Platão recorre várias vezes a exemplos tirados da Matemática e da Geometria 
para ilustrar o desenvolvimento de suas teorias.
Um de seus diálogos mais conhecidos e importantes é a “República”, no qual ele trata do tema 
da justiça e imagina uma cidade governada por reis-filósofos. Na obra, surgem questões 
relativas à educação e à formação dos cidadãos e nela encontramos a famosa passagem da 
alegoria da caverna, que descreve o estado da alma humana relativamente à educação ou à falta 
dela.
Papiro do séc. III a. C., no qual se pode ler um trecho do livro VI da “República” (476e 6 e ss.)
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:P._Oxy._LII_3679.jpg (autor: Bender235)
Fim do Box de Explicação
1.1. A ALEGORIA DA CAVERNA
Platão pede a seu interlocutor, Glauco, que imagine, para melhor compreender o estado de 
nossa natureza no que tange à educação ou à falta dela a seguinte alegoria. Há uma espécie de 
caverna subterrânea, com uma grande entrada pela qual entra luz. Aí moram, desde sua 
infância, homens que estão agrilhoados pelos pés e pelo pescoço, de modo que não podem, 
8
mesmo que queiram, nem se mover nem virar a cabeça e olhar para trás. São forçados, pelos 
grilhões, a ficar imóveis e olhar sempre para frente, o que, em seu caso, é o fundo da caverna. 
Atrás deles, ao longe, em uma posição superior, há um fogo que arde e que emite a luz que eles 
veem no fundo da caverna. Entre o fogo e os prisioneiros, há um caminho elevado, ao longo do 
qual está construído um pequeno muro. Há outros homens que estão por trás desse muro, 
carregando todo tipo de objetos que conhecemos, de modo que os homens estão encobertos 
pelo muro, mas os objetos que carregam aparecem por cima dele. Alguns desses outros homens 
falam, outros ficam em silêncio. A luz emitida pelo fogo projeta, no fundo da caverna, as 
sombras dos objetos que passam por sobre o muro, mas não a sombra dos que carregam esses 
objetos, pois eles não ultrapassam a altura do muro. Assim, os prisioneiros, imobilizados pelos 
grilhões desde sua infância, forçados a olhar sempre para o fundo da caverna e impedidos de 
virar-se para trás, podem apenas ver as sombras projetadas no fundo da caverna, ouvindo 
alguns sons que acompanham essas sombras e que provêm dos carregadores que eles não 
sabem que existem, pois estes estão protegidos pelo muro. Tudo o que os prisioneiros 
conseguem ver são as sombras dos objetos. Eles julgam, então, que essas sombras são a 
realidade, que elas são os próprios objetos, ignorando que, na verdade, elas são apenas 
representações grosseiras dos objetos. Os prisioneiros também não conseguem olhar para o lado 
e ver seus companheiros de infortúnio, podem apenas ver as sombras de seus companheiros 
projetadas no fundo da caverna. Como estão imobilizados pelo pescoço, não conseguem ver seu 
próprio corpo e tudo o que veem é a sombra de seus próprios corpos também projetada. Desde 
sempre, tudo o que conheceram foram apenas sombras e nada mais. Assim, tomam as sombras 
que veem pela própria realidade, não sabem que essas sombras são apenas representações 
toscas. As vozes dos carregadores ecoariam no fundo da caverna e os prisioneiros acreditariam 
que são as sombras que emitem os sons.
9
Figura 15.1 – Representação esquemática do mito da caverna, de Platão
ILUSTRADOR: por favor, faça um desenho representando a alegoria da caverna, de Platão. 
Um modelo é a imagem que está acima. Estou enviando, no final da aula, nas últimas 
páginas, uma série de imagens que podem ajudar na inspiração (elas não fazem parte da 
aula, servem apenas para você ter algumas ideias). Pediria que o desenho ficasse grande 
(eventualmente deitado, ocupando toda uma página). Quando o desenho estiver pronto, 
mande uma cópia para eu indicar em que partes você deve colocar umas legendas para ajudar 
na compreensão da alegoria.
Se algum prisioneiro fosse libertado de suas cadeias e fosse forçado a se virar e a subir em 
direção aos objetos e ao fogo, ele certamente experimentaria um grande desconforto, teria seus 
olhos turvados pela maior claridade e sentiria dores físicas,pois estaria realizando movimentos 
que até então nunca tinha feito. Se lhe mostrassem os objetos e pedissem que dissesse seus 
nomes, ele não conseguiria, pois não saberia reconhecê-los. Na verdade, ele pensaria que as 
sombras são mais reais do que os próprios objetos. Se o fizessem olhar para a luz do fogo, seu 
desconforto e a dor em seus olhos seria ainda maior e ele tentaria evitar a luz, fechando ou 
10
desviando seus olhos para o fundo da caverna, para aquilo que ele julga ser a própria realidade 
e que lhe traz conforto.
Se, entretanto, ele fosse forçado a sair da caverna, tendo de subir um caminho difícil e íngreme, 
e não o deixassem até que estivesse na superfície, sob a luz do sol, ele certamente sentiria dores 
ainda maiores em seus olhos e protestaria por estar sofrendo uma tal violência. Seus olhos 
estariam, em um primeiro momento, cegados pelo brilho do sol. Aos poucos, ele poderia abri-
los, mas não enxergaria nada corretamente, apenas manchas indistintas. Na medida em que se 
acostumasse à luz do sol, ele poderia ver melhor, contemplando, inicialmente, o reflexo dos 
objetos na água, depois os próprios objetos. Por fim, após um longo período de adaptação, ele 
poderia olhar o próprio sol.
Fruindo dessa nova vida, podendo conhecer coisas que nem imaginava que existiam, se ele se 
lembrasse de como vivia antes, da caverna e de seus antigos companheiros de infortúnio, 
pensaria o quão feliz ele era por ter sido libertado das cadeias e como infelizes eram os demais, 
que continuavam enterrados na escuridão. Se, por algum motivo, nosso liberto descesse 
novamente para a caverna, ele sentiria um grande desconforto causado pela escuridão. Ao 
reencontrar seus companheiros, ele olharia as sombras passando, mas não poderia distingui-las, 
pois estaria cegado pela escuridão e levaria um bom tempo para acostumar-se novamente a ela. 
Ao ver que ele voltara com a visão arruinada, seus companheiros ficariam chocados, dele 
debochariam e julgariam que sair da caverna seria algo com terríveis consequências. Se alguém 
os soltasse de seus grilhões e quisesse forçá-los a subir para fora da caverna, eles, se pudessem, 
o agarrariam e o matariam, com medo do sofrimento que encontrariam ao serem levados para 
fora da caverna.
Box multimídia
Para que você possa visualizar melhor o cenário descrito por Platão em sua alegoria, há 
algumas animações em vídeo que podem ajudá-lo.
11
Você pode ver uma delas em português. Ela possui algumas imprecisões em relação ao texto da 
Platão, mas nos permite ter uma ideia dos fatos descritos pelo filósofo. Veja o seguinte link: 
http://www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78&feature=related
Há um outro vídeo (desenho animado) que contém toda a alegoria em detalhes. É muito 
interessante e bem feito. A narrativa é feita por ninguém menos do que Orson Welles, cineasta e 
ator americano que dirigiu, entre outros filmes, “Cidadão Kane” (no qual é também o ator 
principal), indicado para 9 Oscar (ano: 1941) e ganhador de uma estatueta, na categoria de 
melhor roteiro original. O áudio está em inglês, mas as imagens falam por si e você, tendo lido o 
trecho da República que descreve a alegoria, não terá a menor dificuldade em compreender o 
que está se passando. Não deixe de assistir em: http://www.youtube.com/watch?
v=d2afuTvUzBQ
Por fim, você pode ver uma bem-humorada e atualíssima versão em quadrinhos da alegoria, 
feita por Maurício de Souza, o criador da Turma da Mônica (são cinco páginas; navegue, 
clicando em “capítulo”, no canto inferior direito da página): 
http://www.monica.com.br/comics/piteco/pag1.htm
ou
http://www.youtube.com/watch?v=faCphlZOoG0&feature=related
Fim do box multimídia
Eis o retrato de nossa própria situação. Nós somos os prisioneiros da caverna e tudo o que 
temos visto durante nossa vida são apenas sombras toscas e ilusórias. A caverna, com sua 
escuridão, é o símbolo da ignorância e nós estamos nela aprisionados desde nosso nascimento. 
Nem sequer sabemos que há algo fora da caverna. As cadeias que nos prendem são o sinal de 
nosso imobilismo, físico, em um certo sentido, mas sobretudo intelectual. Se nos livramos dos 
grilhões, precisamos ser levados à força para o caminho de subida. Quando nos deparamos com 
12
alguma luz, isto é, com algum conhecimento mais aprofundado, sentimos um incômodo, 
inicialmente. Nossa inteligência sofre, como sofreriam nossos olhos, se, na escuridão, tivessem 
de olhar para a luz. Ao sermos retirados da caverna (símbolo de nossa indigência intelectual), 
encontramos um mundo luminoso, que causa um grande desconforto a nossos olhos (símbolo 
de nossa inteligência), pois eles não estão habituados e preparados para olhar diretamente para 
objetos iluminados (como nossa inteligência, apenas liberta da escuridão da ignorância, não 
conseguiria compreender facilmente verdades mais elevadas). Com o passar do tempo, 
suportando o desconforto inicial, habituamo-nos à luz e podemos, finalmente, contemplar o 
próprio sol. Este, na alegoria, é o símbolo da Ideia de Bem, que ilumina tudo o mais e está na 
raiz da verdade. O quadro traçado por Platão mostra-nos o percurso para o alto que devemos 
fazer para nos libertar da caverna-ignorância e isso se faz com a educação, mais 
especificamente, segundo nosso filósofo, com uma educação filosófica. A filosofia é vista, 
portanto, como o meio de escaparmos da ignorância (=caverna) e de chegarmos a contemplar o 
Bem (=sol):
“Se tudo o que afirmamos estiver certo, prossegui, precisaremos chegar à seguinte 
conclusão: a educação não é o que muitos indevidamente proclamam, quando se dizem 
capazes de enfiar na alma o conhecimento que nela não existe, como poderiam dotar de vista 
a olhos privados de visão.
É realmente o que afirmam, respondeu.
No entanto, continuei, nosso argumento vem provar que essa faculdade é inata à alma, como 
também o órgão do conhecimento; e assim como o olho não pode virar-se da escuridão para 
a luz sem que todo o corpo o acompanhe, do mesmo modo esse órgão, juntamente com toda 
a alma, terá de virar-se das coisas perecíveis, até que se torne capaz de suportar a vista do ser 
e da parte mais brilhante do ser. A isso damos o nome de bem, não é verdade?
Certo.
Assim, prossegui, a educação não será mais do que a arte de fazer essa conversão, de 
encontrar a maneira mais fácil e eficiente de consegui-la; não é a arte de conferir vista à alma, 
pois vista ela já possui; mas, por estar mal dirigida e olhar para o que não deve, a educação 
promove aquela mudança de direção.
É mais do que claro, observou.” (Platão, República, 518b-d)
Todo o processo de libertação da ignorância e de ascensão até a contemplação das verdades 
mais elevadas e do próprio Bem é longo e bastante penoso. Por vezes, é preciso que sejamos 
forçados a continuar a ascensão, pois preferiríamos, certamente, voltar para o conforto da 
escuridão na qual crescemos.
13
Platão acrescenta, ainda, um detalhe interessante. Aquele que foi libertado dos grilhões e que 
pôde contemplar o Bem deve retornar à caverna para instruir seus antigos companheiros de 
infortúnio e mostrar-lhes que há um caminho que leva a uma realidade superior, muito mais 
luminosa e bela. O filósofo, portanto, tem esse papel fundamental de instruir os demais e levá-
los a conhecer as verdades que ignoram, de guiar os outros homens em seu caminho para fora 
da caverna.
A alegoria construída por Platão permite-nos compreender que o Bem é aquilo que buscamos 
conhecer e contemplar, que o caminho para sairmos de nossa ignorância é ascendentee difícil e 
que temos, uma vez libertos, a obrigação de voltar para libertar aqueles que ainda estão 
aprisionados na miséria de sua própria ignorância.
Atividade 1
Atende aos objetivos 1 e 2
1. Reconte a alegoria da caverna, partindo do texto de Platão (não utilize o resumo apresentado 
na aula). Em seguida, explique o seu significado.
DIAGRAMADOR: DEIXAR 40 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Compare seu texto com o de Platão. Não se preocupe com uma fidelidade absoluta. Atenha-se 
aos elementos centrais da alegoria. Quanto ao significado, trabalhe em torno dos grupos 
caverna-ignorância-opinião-mundo das sombras e região superior-educação-ciência-
mundo real. Essa é a chave para explicar a alegoria. Não deixe também de fazer um paralelo 
entre a dificuldade do caminho ascendente que leva para fora da caverna e o trabalho árduo 
que a educação demanda. Mostre também que você compreendeu que a alegoria ensina que a 
14
mera opinião e o conhecimento da verdade são duas coisas bem distintas e que estão em níveis 
muito afastados um do outro.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
2. NATUREZA HUMANA E FILOSOFIA
A alegoria da caverna diz que o prisioneiro, uma vez libertado, deve ser forçado a tomar o 
caminho ascendente que conduz para fora do antro. Poderíamos ser levados a pensar que a 
filosofia, portanto, é algo antinatural, que ela não se coaduna com a a natureza humana. Platão 
não fala aqui da filosofia em si mesma, mas de um processo de educação, que requer, em certos 
momentos, que o educando seja puxado para cima, para fora da caverna. A filosofia é um saber 
que tem raízes na natureza humana. Aristóteles (séc. IV a. C.) abre sua Metafísica com uma 
afirmação que se tornou uma das frases mais famosas da filosofia:
Todos os homens desejam, por natureza, saber.
O desejo de saber é algo inerente, inato a todo e qualquer ser humano. E Aristóteles apresenta 
como prova de sua afirmação o prazer que sentimos pelo conhecimento sensível, pelas 
sensações, mormente as visuais:
Um sinal [desse desejo universal e natural] é o amor pelas sensações, pois, 
independentemente de sua utilidade, elas são amadas por si mesmas e mais do que as outras 
a sensação da visão.
Aristóteles utiliza o conhecimento sensível, algo que é utilizado por todos os homens antes 
mesmo de nascerem, quando ainda no ventre materno, para mostrar que o desejo de conhecer e 
de saber é universal (=todos os homens o possuem) e natural. E, quando ele diz “por natureza”, 
quer significar que é inato ao homem, que este desejo está inscrito ou gravado na alma humana. 
Uma outra prova disso é a curiosidade, que todos nós demonstramos desde a mais tenra 
infância. Uma criança de menos de dois anos já pergunta “o que é isso?” inúmeras vezes, pois 
15
quer saber o nome das coisas que a cercam. Por volta de três anos, a criança muda a pergunta, 
mas o desejo de saber se manifesta sempre mais intensamente: é a fase dos porquês. A 
curiosidade infantil, com os seus insistentes o quês e porquês, mostra como Aristóteles estava 
certo: todos os homens desejam, por natureza, saber. As crianças manifestam uma inegável 
ebulição filosófica e estão sempre inquietas entre uma descoberta e outra e cada novo 
aprendizado abre inúmeras portas para que o desejo de saber se manifeste mais e mais.
Se o desejo de saber é universal e inato e se a filosofia é o amor à sabedoria, então, a inclinação à 
filosofia tem de ser universal e inata. A busca filosófica nasce com o homem, faz parte de sua 
natureza. O homem, por toda a sua vida, é chamado a filosofar, a buscar a sabedoria. Para 
provar a inexorabilidade da filosofia, Aristóteles apresenta um inteligentíssimo e 
interessantíssimo argumento que, para nós, soa quase como um enigma. O trecho é um 
fragmento de uma obra perdida de Aristóteles, citado por um autor do séc. VI da era cristã:
E Aristóteles em sua obra Protréptico (=Persuasivo), na qual exorta os jovens à filosofia, diz 
que, se não é preciso filosofar, é preciso filosofar e, se é preciso filosofar, é preciso filosofar; 
em todos os casos é preciso filosofar. (David Philosophus, Prolegomena, 9, 2-5)
O argumento de Aristóteles é:
Se não é preciso filosofar, é preciso filosofar.
Se é preciso filosofar, é preciso filosofar.
Logo, em todo e qualquer caso, é preciso filosofar.
Aristóteles está provando que a filosofia é algo natural ao ser humano, que todo ser humano é 
chamado à filosofia e que filosofa, ainda que de modo informal e sem saber que o está fazendo. 
Não vá adiante na leitura. Pare aqui e responda à pergunta seguinte, antes de prosseguir.
Atividade 2
Atende ao objetivo3
16
Como você pode explicar o argumento de Aristóteles, sobretudo no que tange à contradição “se 
não é preciso filosofar, é preciso filosofar”?
DIAGRAMADOR: DEIXAR 8 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Veja a sequência do texto, pois o argumento estará aí explicado.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
O argumento de Aristóteles tira sua força não só na concisão, mas também da aparente 
contradição expressa já na primeira frase: se não é preciso filosofar, é preciso filosofar. Qual o 
sentido de tal afirmação? Quem pretende demonstrar que não é preciso filosofar terá de 
apresentar argumentos e fornecer uma explicação que prove que está com a razão. Ao 
apresentar seus argumentos e construir um raciocínio que demonstre que sua afirmação está 
correta, ele já estará filosofando, pois é próprio da filosofia servir-se de argumentos, raciocínios 
e demonstrações. Para provar que não é preciso filosofar, é preciso que ele faça filosofia, que ele 
filosofe. Portanto, a simples tentativa de provar que não é preciso filosofar já constitui uma 
prova de que é preciso filosofar. Por outro lado, se o indivíduo quiser provar que é preciso 
filosofar, ele terá igualmente de apresentar seus argumentos e construir um raciocínio, ou seja, o 
próprio esforço de provar sua assertiva já é, em si mesmo, uma demostração de que é preciso 
filosofar. Conclusão de Aristóteles: em todo e qualquer caso, é preciso filosofar, isto é, queira 
você provar qualquer uma das duas proposições, será preciso filosofar para fazê-lo. Nosso 
filósofo, ao nos fazer pensar sobre o argumento, já prova que está certo, que o homem é, 
efetivamente, um ser filosófico.
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O argumento apresentado por Aristóteles serve-se de uma aparente contradição para dela tirar 
uma força expressiva. O uso da linguagem para jogar com contradições ou utilizar termos que 
impliquem em um resultado inesperado cria situações interessantes. Vejamos dois exemplos, 
tirados da cultura grega.
Tomemos a frase seguinte: “Eu ordeno que vocês não me obedeçam!”. Ele é, ao menos à 
primeira vista, contraditória. Se eu ordeno que não me obedeçam, a ordem jamais poderá ser 
cumprida. Com efeito, se não me obedecerem, estão acatando a ordem de não me obedecer e 
estão, assim, me obedecendo, quando eu havia mandado que não o fizessem. Em outras 
palavras: ao me desobedecerem, obedecem-me e desobedecem-me, o que é contraditório e 
impossível. Se me obedecerem, não estão obedecendo à ordem que os proibia de me obedecer. 
Em outros termos: ao me obedecerem, desobedecem-me e obedecem-me, o que não faz sentido. 
Como poderíamos sair desse impasse? A solução está no contexto. Tente agora imaginar uma 
situação em que essa ordem seria válida e não implicaria uma contradição. Pense com calma e 
procure achar uma resposta. Não vá adiante na leitura, antes de tentar encontrar uma 
circunstância que torne a ordem inteligível.Se você chegou a uma boa resposta ou ao menos tentou com afinco, vou-lhe dar uma boa 
possibilidade. Ela é tirada da literatura grega, mais especificamente, da Odisseia, de Homero. No 
canto XII, a feiticeira Circe fala sobre os perigos que aguardavam Odisseu e seus companheiros. 
Ela menciona as Sereias. Em algumas representações pictográficas, as Sereias aparecem como 
um misto de mulher e ave, por vezes com uma parte de peixe. Nossa moderna representação 
desses seres míticos os vê como parte mulher e parte peixe. Na Grécia antiga, eram parte 
mulher e parte ave (geralmente de rapina, o que era sinal de sua periculosidade). No que seria 
uma ilha, elas, sentadas em um prado, atraíam, com seu belíssimo canto, os marinheiros, que, 
enfeitiçados, conduziam o navio para o naufrágio e eram por elas devorados. Homero fala que 
“à sua volta estão amontoadas ossadas de homens decompostos e suas peles marcescentes”. Eis 
as palavras de Circe sobre as Sereias:
“'Todas estas coisas foram cumpridas; mas ouve agora
aquilo que te direi, e um deus to recordará.
Às Sereias chegarás em primeiro lugar, que todos
os homens enfeitiçam, que delas se aproximam.
Quem delas se acercar, insciente, e a voz ouvir das Sereias,
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ao lado desse homem nunca a mulher e os filhos
estarão para se regozijarem com o seu regresso;
mas as Sereias o enfeitiçam com seu límpido canto,
sentadas num prado, e à sua volta estão amontoadas
ossadas de homens decompostos e suas peles marcescentes.
Prossegue caminho, pondo nos ouvidos dos companheiros
cera doce, para que nenhum deles as oiça.
Mas se tu próprio quiseres ouvir o canto,
deixa que, na nau veloz, te amarrem as mãos e os pés
enquanto estás de pé contra o mastro; e que as cordas sejam
atadas ao mastro, para que te possas deleitar com a voz
das duas Sereias. E se a eles ordenares que te libertem,
então que te amarrem com mais cordas ainda.” (Odisseia, XII, vv. 37-54)
Figura 15.2 – Vaso grego do séc. V a. C.: Odisseu amarrado ao mastro, enquanto as Sereias 
cantam para seduzi-lo e atraí-lo para a morte. Pode-se ver que elas tem uma cabeça de mulher e 
um corpo de ave de rapina.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Odysseus_Sirens_BM_E440_n2.jpg
(autor: Jastrow)
Odisseu narra a seus companheiros o que lhe dissera a feiticeira:
“Falei então aos companheiros, com tristeza no coração:
'Amigos, não é justo que apenas um ou dois conheçam
os oráculos que proferiu Circe, divina entre as deusas.
Falarei, para que todos saibamos se morreremos
ou se, evitando a morte e o destino, conseguiremos fugir.
Primeiro foi o som das Sereias divinamente inspiradas
e seu prado florido que nos aconselhou a evitar.
Disse para ser só eu a ouvi-las: devereis amarrar-me
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com ásperas cordas, para que fique onde estou,
de pé junto ao mastro; e que as cordas sejam atadas ao mastro.
E se eu implorar e vos ordenar que me liberteis,
devereis amarrar-me com mais cordas ainda.'” (vv. 153-164)
A ordem de Odisseu é algo como: “Se ordenar que me libertem, amarrem-me com mais cordas 
ainda!”. No entanto, poderíamos imaginá-lo, nesse contexto, exprimindo a mesma coisa com 
outras palavras: “Se eu ordenar que vocês me libertem, eu ordeno que vocês não me 
obedeçam!”. Assim, nossa frase, aparentemente contraditória, faria todo sentido. Ele estaria 
ordenando agora que os marinheiros, no futuro, quando ele estivesse seduzido pelo canto das 
Sereias, não obedecessem às ordens que ele então daria, pois estaria fora de seu juízo normal.
Seguindo os conselhos de Circe, Odisseu pôde desfrutar do canto das Sereias sem perder a vida:
“Com o bronze afiado cortei pedaços de um grande círculo
de cera e amassei-os com as minhas mãos fortes.
Logo se aqueceu a cera por causa da grande pressão
e dos raios do soberano filho de Hiperíon, o Sol.
Besuntei depois com a cera os ouvidos dos companheiros.
Eles ataram-me na nau as mãos e os pés, estando eu de pé
contra o mastro; e ao próprio mastro ataram as cordas.
Sentaram-se e percutiram com os remos o mar cinzento.
Quando estávamos à distância de alguém, gritando, se poder
fazer ouvir, a rápida nau navegando depressa não passou
despercebida às Sereias, que entoaram o seu límpido canto:
'Vem até nós, famoso Ulisses, glória maior dos Aqueus!
Para a nau, para que nos possas ouvir! Pois nunca
por nós passou nenhum homem na sua escura nau
que não ouvisse primeiro o doce canto das nossas bocas;
depois de se deleitar, prossegue caminho, já mais sabedor.
Pois nós sabemos todas as coisas que na ampla Troia
Argivos e Troianos sofreram pela vontade dos deuses;
e sabemos todas as coisas que acontecerão na terra fértil.'
Assim disseram, projetando as suas belas vozes;
e desejou o meu coração ouvi-las: aos companheiros
ordenei que me soltassem, indicando com o sobrolho;
mas eles caíram sobre os remos com mais afinco.
De imediato Perimedes e Euriloco se levantaram
para me atar com mais cordas, ainda mais apertadas.
Depois que passamos a ilha, e já não ouvíamos
a voz, nem o canto, das Sereias, os fiéis companheiros
tiraram a cera com que os ouvidos lhes besuntara
e a mim libertaram-me das amarras.” (vv. 173-200)
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Ainda na Odisseia, temos uma outra passagem interessantíssima. No canto IX, Odisseu chega à 
terra dos Ciclopes. Ele vai, com doze de seus companheiros, a uma enorme gruta, na qual havia 
alimento em abundância. Era a morada de Polifemo, um dos Ciclopes. Este chega e fecha com 
uma enorme pedra a entrada da gruta. Ao acender um fogo, percebe a presença dos homens, 
que não podem escapar, já que a saída estava selada pela pedra. Devora, então, dois dos 
companheiros:
“Assim falei. Do seu coração impiedoso não veio qualquer resposta,
mas levantou-se de repente e lançou mãos aos meus companheiros.
Agarrou dois deles e atirou-os contra o chão como se fossem cãezinhos.
Os miolos espalharam-se pelo chão, molhando a terra.
Depois cortou-os aos bocados e preparou o seu jantar
Comeu-os como um leão criado na montanha: nada deixou,
mas comeu as vísceras, a carne, os ossos e o tutano.” (IX, vv. 287-293)
Para escapar, Odisseu serve-se de um ardil. Embebeda o Ciclope e o cega. Enquanto o 
embriagava, revela se nome: diz chamar-se “Ninguém”:
“Assim falou; e de novo lhe ofereci o vinho frisante.
Três vezes lho dei a beber; três vezes esvaziou a tigela,
na sua estupidez. Depois que o vinho deu a volta ao Ciclope,
assim lhe falei, socorrendo-me de palavras doces como mel:
'O Ciclope, perguntaste como é o meu nome famoso. Vou dizer-to,
e tu dá-me o presente de hospitalidade que prometeste.
Ninguém é como me chamo. Ninguém chamam-me
a minha mãe, o meu pai, e todos os meus companheiros.'
Assim falei; e ele respondeu logo, com coração impiedoso:
'Será então Ninguém o último que comerei entre os teus
companheiros: será esse o teu presente de hospitalidade.'” (vv. 360-370)
Embriagado, o Polifemo adormece. Odisseu e seus companheiros pegam, então, um tronco e 
colocam a ponta no fogo, até que fique em brasa. Em seguida, eles o cravam no único olho do 
Ciclope, que fica cego e grita terrivelmente de dor e pede ajuda aos outros Ciclopes, que 
acorrem e perguntam o que se passava. Polifemo responde que “Ninguém” o estava matando, o 
que faz com que os Ciclopes partam tranquilos:
“O Ciclope dava gritos lancinantes, e toda a rocha da caverna ressoou.
Recuamos, aterrorizados, enquanto ele arrancava o tronco
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do olho, imundo e coberto de abundante sangue.
Depois lançou o tronco para longe e, perdido de fúria,
chamou alto pelos Ciclopes que viviam ali ao pé,
em cavernas nos píncaros ventosos.
Eles ouviram os gritos e ali vieram ter de todas as direções:
em pé junto à gruta perguntavam-lhe que mal padecia:
'Que se passa, Polifemo, para gritares desse modo
na noite imortal, tirando-nos assim o sono?
Seráque algum homem mortal te leva os rebanhos,
ou te mata pelo dolo e pela violência?'
De dentro da gruta lhes deu resposta o forte Polifemo:
'Ó amigos, Ninguém me mata pelo dolo e pela violência!'
Então eles responderam com palavras apetrechadas de asas:
'Se na verdade ninguém te está a fazer mal e estás aí sozinho,
não há maneira de fugires à doença que vem de Zeus.
Reza antes ao nosso pai, ao soberano Posídon.'
Assim dizendo, foram-se embora. E ri-me no coração,
porque os enganara o nome e a irrepreensível artimanha.” (vv. 395-414)
A argúcia de Odisseu em jogar com o sentido da palavra “ninguém”, que ele tomou como seu 
nome (“Ninguém) salvou-o, bem como a seus companheiros. Para escapar da gruta, ele e seus 
companheiros encondem-se, agarrando-se, sob carneiros e ovelhas que o Ciclope levaria para 
apascentar. E assim conseguem fugir da morte.
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Figura 15.3 – Vaso grego do séc. VI-V a. C.: Odisseu, escondido sob um carneiro, escapa do 
Ciclope.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:KAMA_Ulysse_fuyant_Polyph
%C3%A8me.jpg
(autor: Marsyas)
Voltemos a Aristóteles. Seu argumento parte do fato de que o homem é um animal racional e a 
razão é o que o diferencia de tudo o mais. O ser humano compartilha muitas semelhanças com 
os animais, mas é o único a possuir a razão, que constitui, assim, sua diferença específica:
“Animal” é o gênero do homem e “racional” sua diferença constitutiva. (Sto. Tomás de 
Aquino, Compendium theologiae, I, cap. 91, co.)
Com efeito, nas coisas materiais que, existindo em um único gênero, são de diferentes 
espécies, a noção de gênero é tomada do princípio material, a diferença de espécie do 
princípio formal. De fato, a natureza sensitiva, da qual é tomada a noção de “animal”, é algo 
material no homem com relação à natureza intelectiva, da qual é tomada a diferençá 
específica do homem, ou seja, “racional”. (Sto. Tomás de Aquino, Contra Gentiles, II, cap. 95, 
n. 1)
A razão é aquilo de próprio ao homem, é o que faz com que ele seja distinto dos demais seres. 
Ele pode ser igualado ou mesmo superado nos demais aspectos, mas a razão faz dele algo 
único. E o reto cultivo da razão é que torna plena a felicidade humana, no dizer de Sêneca:
O que há de mais excelente no homem? A razão. Com ela, ele ultrapassa os animais e segue 
os deuses. Logo, a razão perfeita é o bem próprio do homem, as demais coisas são comuns a 
ele e aos animais e às plantas. O homem é forte: também o leão é. É belo: também o são os 
pavões. Ele é veloz: os cavalos também o são. Não digo que ele é superado em todas essas 
coisas. Não me importa saber o que ele tem em si de maior, mas o que lhe é próprio. O 
homem tem um corpo: também as árvores o têm. Ele tem impulso e movimento voluntário: 
os animais e os vermes também. Ele tem voz: mas quanto mais sonora é a voz dos cães, 
quanto mais penetrante a voz das águias, quanto mais forte a dos touros, quanto mais doce e 
ágil a dos rouxinóis? O que há de próprio no homem? A razão. A perfeita e reta razão tornou 
plena a felicidade do homem. Logo, se toda coisa, quando obteve seu bem, é louvável e 
alcançou o fim de sua natureza, o bem do homem é a razão e, se ele a aperfeiçoou, ele é 
louvável e atingiu o fim de sua natureza.
[…]
Idêntica é a condição dos homens e a das coisas. Não se diz que é bom o navio que foi 
pintado com cores ricas nem que tem o rostro de prata ou de ouro nem que tem o deus 
protetor cinzelado em mármore nem que está carregado de tesoures e riquezas dignos de um 
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rei, mas aquele que é estável e robusto e compacto, com junções que não deixam a água 
entrar, sólido para resistir ao choque do mar, dócil no timão, veloz e resistente ao vento…
Logo, também no homem não importa quanta riqueza agrária tenha, quantas aplicações 
financeiras, quantas pessoas o saúdem, em quão rico leito durma, em quão cintilante cálice 
bebe, mas, sim, o quão bom ele é. Ele é bom se sua razão é esclarecida, reta e conforme com a 
inclinação de sua natureza. Esta se chama virtude, este é o único bem nobre do homem. Com 
efeito, como apenas a razão torna o homem perfeito, apenas ela o faz perfeitamente feliz e 
este é o único bem que, sozinho, o torna feliz. (Sêneca, Epistulae Morales ad Lucilium, 76, 9-10, 
13, 15)
Se a razão é o que há de próprio ao homem, a filosofia, portanto, é um caminho para educá-la 
corretamente, como ficou claro pela alegoria da caverna, e “é também a excelência de vida”, 
como vimos, na Aula 14, na citação do De Dialectica de Alcuíno de York. A filosofia, no dizer de 
Sêneca, “torna plena a felicidade humana”, pois “todos os homens desejam, por natureza, 
saber”. Ora, como diz Santo Tomás de Aquino, “é impossível que um desejo natural seja inane, 
pois a natureza não faz nada em vão. Mas um desejo da natureza seria inane, se nunca pudesse 
ser satisfeito” (Contra Gentiles, III, cap. 48, n. 12). O homem, portanto, tem a capacidade e é 
chamado a preencher esse desejo natural de conhecimento e é na filosofia que ele encontra os 
melhores meios para fazê-lo.
3. O DESEJO DA VERDADE
Mas se o homem tem o desejo natural de conhecimento, podemos perguntar o que o homem 
quer conhecer. As definições de filosofia que vimos anteriormente nos permitem responder: 
tudo. De fato, a filosofia foi definida como ciência de todas as coisas por suas causas últimas. E 
ao conhecer “todas as coisas”, o que exatamente busca o filósofo? A resposta não poderia ser 
mais simples: a verdade. E essa constatação é imbuída de um sentido bastante profundo, pois, 
como se disse, citando as palavras do Cristo no Evangelho segundo São João (8, 32), 
“conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Não foi exatamente um processo de 
libertação que experimentou o prisioneiro da caverna de Platão, ao descobrir que vivia uma 
vida mergulhada na ilusão das sombras e que havia uma outra realidade, plena de verdade e de 
luz? E não sentia ele pena de seus antigos companheiros de infortúnio, por estarem imersos 
ainda na escuridão, no erro, no engano? É óbvio que a alegoria da caverna nos leva a pensar que 
a escuridão é o símbolo da ignorância, que as cadeias representam o erro, e que a luz é a 
24
imagem do bem e da verdade. O prisioneiro está agrilhoado pelo erro e sepultado na ignorância 
(caverna) e é a filosofia que o liberta das correntes e o força a percorrer um caminho ascendente 
e difícil, para poder, finalmente, chegar à verdade e ao bem.
O desejo de saber é inato ao homem, diz Aristóteles. E Santo Tomás de Aquino (séc. XIII d. C.) 
completa: de conhecer a verdade. Mas, para conhecer corretamente a verdade, é preciso 
aplainar o caminho e, portanto, refutar o erro, combatê-lo. Todos os homens têm um desejo 
natural de fugir do erro:
Assim como todos os homens desejam naturalmente saber a verdade, assim há nos homens 
um desejo natural de evitar os erros e de, havendo a possibilidade, refutá-los. (Santo Tomás 
de Aquino, De Unitate Intellectus, Pro.)
A mesma percepção teve Santo Agostinho (séc. IV e V d. C.), bispo de Hipona, ao identificar a 
vida feliz com a posse e a fruição da verdade. Com a sutileza psicológica que lhe é característica 
e debruçado sobre a concretude da vida, Agostinho mostra-nos que os homens fogem do erro, 
pois não querem ser enganados, e amam a verdade, pois é na fruição desta que consiste a vida 
feliz:
Com efeito, eu pergunto a todos os homens se preferem mais gozar da verdade a gozar da 
mentira. Eles não hesitam em dizer que preferem gozar da verdade, assim como não hesitam 
em dizer que querem ser felizes. De fato, a vida feliz consiste no gozo da verdade…Esta vida 
feliz todos querem, esta vida, que, ela só, é feliz, todos querem, o gozo da verdade todos 
querem. Conheci muitosque quisessem enganar, porém, que quisesse ser enganado eu não 
conheci ninguém. Onde, portanto, conheceram esta vida feliz, se não onde conheceram 
também a verdade? Com efeito, eles também amam a verdade, porque não querem ser 
enganados, e, como amam a vida feliz, o que não é outra coisa que o gozo da verdade, amam 
certamente também a verdade e não a amariam, se não houvesse, em sua memória, uma 
certa noção dela. Por que, então, não gozam da verdade? Por que não são felizes? Talvez 
porque estão ocupados em outras coisas que os fazem mais infelizes do que os faz felizes 
aquilo de que têm apenas uma tênue lembrança. Com efeito, há ainda um pouco de luz entre 
os homens; que eles andem, que andem, para que as trevas não os surpreendam. 
(Confessiones, X, 23, 33)
A frase final do texto, inspirada no Evangelho de São João (12, 35), pode ser relacionada à 
alegoria da caverna. O prisioneiro, em seu caminho de ascensão, sai, paulatinamente, das trevas 
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e, chegando ao fogo intermediário, tem ainda um caminho a percorrer até a saída. É preciso que 
ele avance, apesar do desconforto causado pela luz, e que escape das trevas.
A verdade é algo tão fundamental para o ser humano que ela deve se sobrepôr, inclusive, à 
amizade. Por mais que você ame alguém, que o tenha por amigo, não deve preferir sua opinião 
à verdade. A ideia foi condensada em uma sentença latina que atravessou os séculos: “Amicus 
Plato, sed magis amica ueritas” – Platão é meu amigo, mas a verdade é mais minha amiga. A 
frase parece ter origem em uma passagem da Ética a Nicômaco (1096a 14-17) de Aristóteles, na 
qual o filósofo, ao comentar a teoria das Ideias de Platão, diz o seguinte:
Poderia parecer talvez ser melhor e ser preciso, pela salvação da verdade, refutar inclusive os 
nossos próprios interesses, especialmente quando somos filósofos. Com efeito, quando 
ambos são nossos amigos, é uma obrigação sagrada preferir a verdade.
Ao comentar a passagem de Aristóteles, Santo Tomás de Aquino a explica da maneira seguinte 
(In Ethic., I, l. 6, n. 4-5):
Que seja preciso preferir a verdade aos amigos, ele mostra com este argumento. Porque se 
deve honrar mais aquele que é mais amigo. Visto que temos amizade para com ambos, ou 
seja, para com a verdade e para com o homem, devemos amar mais a verdade do que o 
homem, porque devemos amar o homem precipuamente por causa da verdade e da virtude, 
como se dirá no livro VIII da Ética. Mas a verdade é o amigo mais eminente ao qual se deve a 
reverência da honra. A verdade é também algo divino, pois é primeiramente e 
principalmente em Deus que é encontrada. E, por isso, conclui que é sagrado honrar a 
verdade mais do que os amigos. Diz, pois, Andrônico, o peripatético, que a piedade faz os 
homens fiéis e observadores do que é justo para com Deus. Esta também foi a opinião de 
Platão, que, reprovando uma opinião de seu mestre Sócrates, disse que é preciso preocupar-
se mais com a verdade do que com qualquer outra coisa. E disse alhures: Sócrates é, de fato, 
meu amigo, mas a verdade é mais minha amiga. E em outro lugar: deve-se, na verdade, 
preocupar pouco de Sócrates e muito da verdade.
Vemos que se faz menção a alguns ditos de Platão que seriam a fonte do ditado, sobretudo a 
segunda citação: Sócrates é, de fato, meu amigo, mas a verdade é mais minha amiga. E Platão, 
de fato, coloca nos lábios de seu Sócrates palavras que exprimem exatamente essa ideia. Assim, 
no Fédon, podemos ler a seguinte fala de Sócrates (91 b-c):
26
Então, assim preparado, ó Símias e Cebes, lanço-me no argumento. Mas vocês, se se 
deixarem convencer por mim, preocupando-se pouco de Sócrates e muito mais da verdade, 
se lhes parecer que digo algo verdadeiro, concordem comigo, mas, se não, oponham-se a 
mim com todo e qualquer argumento, cuidando para que eu, pela minha ânsia, enganando, 
ao mesmo tempo, a mim e a vocês, não parta, como uma abelha, deixando-lhes o ferrão.
Vemos, assim, que a preocupação com a verdade é algo natural ao ser humano e tão importante 
para ele, a ponto de fazê-lo honrar mais a verdade do que os amigos e seus próprios interesses. 
Ninguém, como disse Santo Agostinho, quer ser enganado. Mesmo aqueles que enganam os 
outros, que vivem de enganar, não querem ser enganados. Esse amor que temos pela verdade é 
a expressão da necessidade natural que temos de conhecê-la e que se exprime em nossa 
linguagem cotidiana. Quando queremos saber algo, por mais banal que seja, pedimos ao nosso 
interlocutor que nos diga a verdade: “Maria, quero que você me responda algo, mas, por favor, 
me diga a verdade: fiquei bonito com esse penteado?”. A expressão “me diga a verdade”, que 
usamos constantemente, sem nos darmos conta, é a prova de que o desejo de conhecer a 
verdade está tão intimamente gravado em nossa alma, que o exprimimos naturalmente, sem 
nele pensarmos. Mas, por que queremos conhecer a verdade? Porque ela é o objeto próprio de 
nossa inteligência, que foi criada para conhecer a verdade:
Com efeito, o bem do intelecto e seu fim natural é o conhecimento da verdade. (Sto. Tomás 
de Aquino, Suma contra os Gentios, III, c. 107, n.8)
O objeto próprio do intelecto é a verdade (idem, ibidem, n.9)
Vemos, assim, que o homem, para realizar a vocação natural de sua inteligência, deve buscar a 
verdade, ainda que o caminho possa ser árduo.
3. A ORIGEM DA FILOSOFIA: A ADMIRAÇÃO
Se todos os homens desejam, por natureza, saber, a filosofia é algo natural ao espírito humano. 
Sua semente habita, por assim dizer, nossa alma. E o que faz essa semente germinar? Segundo 
Aristóteles, a admiração (θαῦμα – thaûma). É ela que faz com que o homem comece a filosofar 
(repare nas ocorrências do radical θαυμ- / thaum-, ligado a “admiração”):
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De fato, os homens começaram a filosofar , agora como na origem, por causa da admiração 
(τὸ θαυμάζειν – tò thaumázein), na medida em que, inicialmente, ficavam perplexos 
(θαυμάσαντες – thaumásantes) diante das dificuldades mais simples; em seguida, 
progredindo pouco a pouco, chegaram a enfrentar problemas sempre maiores, por exemplo, 
os problemas relativos aos fenômenos da lua e aos do sol e dos astros, ou os problemas 
relativos à geração de todo o universo. Ora, quem experimenta uma sensação de dúvida e de 
admiração (θαυμάζων – thaumázon) reconhece que não sabe; e é por isso que também 
aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo: o mito, com efeito, é constituído por um 
conjunto de coisas admiráveis (θ αυμασίων – thaumasíon). De modo que, se os homens 
filosofaram para libertar-se da ignorância, é evidente que buscavam o conhecimento 
unicamente em vista do saber e não por alguma utilidade prática. E o modo como as coisas 
se desenvolveram o demonstra: quando já se possuía praticamente tudo o de que se 
necessitava para a vida e também para o conforto e para o bem-estar, então se começou a 
buscar essa forma de conhecimento. (Metafísica, I, 982b 12-24)
A admiração diante das dificuldades mais simples leva o homem a pensar. Surgem, então, ou 
explicações míticas, que procuram racionalizar, em um nível elementar, os fenômenos que nos 
causam espanto, ou explicações filosóficas, cujo intento é buscar as causas mais universais e 
últimas da realidade. A filosofia, em suas origens, começa a abordar problemas simples, ligados 
a fenômenos da natureza, e, gradativamente, avança em direção a fenômenos mais complexos, 
até chegar a questões que dizem respeito à condição humana, ao sentido da vida, às regras do 
bem viver e do interagir em sociedade, tratando também de questões bastante complexas, como 
a existência de Deus e os atributos divinos.
Ao comentar a passagem de Aristóteles, Santo Tomás de Aquino dizo seguinte: 
É certo que a dúvida e a admiração provêm da ignorância. Com efeito, quando nós vemos 
alguns efeitos manifestos cuja causa nos é desconhecida, nós nos admiramos (=interrogamos 
cheios de admiração) sobre qual é a sua causa. E pelo fato de que a admiração foi a causa que 
levou à filosofia, está claro que o filósofo é, de algum modo, filômito, isto é amante do mito, 
o que é próprio dos poetas. Donde, os primeiros que, servindo-se de uma certa abordagem 
mitológica, trataram dos princípios das coisas foram chamados de poetas teologizantes, 
como foi Perseu e alguns outros, que foram os Sete Sábios. Mas a causa pela qual o filósofo é 
comparado ao poeta é porque ambos ocupam-se das coisas admiráveis. Com efeito, os mitos, 
de que se ocupam os poetas, são constituídos de algumas coisas admiráveis. Também, os 
próprios filósofos foram levados a filosofar por causa da admiração. E porque a admiração 
provém da ignorância, está claro que eles foram levados a filosofar para espantar a 
ignorância. E assim está claro, além disso, que eles perseguiram a ciência, isto é buscaram 
com dedicação, apenas para conhecer e não por causa de algum uso, isto é, de alguma 
utilidade. (In Metaph., I, l. 3, n. 4)
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A admiração e a dúvida originam-se da ignorância. Quando o homem se depara com algo cuja 
causa desconhece, fica admirado, espantado e cheio de dúvidas a respeito desse algo. Suas 
dúvidas existem porque ele ignora a explicação do que está presenciando. A ignorância, 
portanto, é o que o faz admirar-se e encontrar-se em dúvida. O homem, vê-se, então, forçado a 
filosofar para pôr fim a sua própria ignorância. O saber que ele busca não é desejado por 
nenhum outro motivo que não fazer cessar a ignorância. É, assim, um saber que é buscado por 
si mesmo, e não em virtude de outra coisa, como a glória ou a riqueza. E aqui retornamos à 
imagem traçada por Pitágoras, que comparava a vida humana a um festival e os filósofos aos 
espectadores, que estão no teatro apenas para observar e aprender.
O homem, ao conhecer as causas que explicam aquilo que o põe em um estado de admiração ou 
perplexidade, encontra, então, uma certa paz de espírito. Isso podemos constatar em nossa 
própria vida: quando temos um problema, quando precisamos de uma resposta ou uma 
solução, estamos inquietos até que a encontremos. Ao encontrarmos solução para uma questão, 
avançamos mais, até que possamos, efetivamente, chegar ao conhecimento daquela causa que 
tudo explica, a causa primeira. E é exatamente o que Santo Tomás de Aquino diz em uma 
passagem de sua Suma contra os Gentios (III, c. 25, n. 11):
Há naturalmente em todos os homens um desejo de conhecer as causas daquelas coisas que 
se veem. Donde, por causa da admiração daquelas coisas que eram vistas, cujas causas eram 
desconhecidas, os homens começaram primeiramente a filosofar e, encontrando a causa, eles 
descansavam (=se tranquilizavam). Mas essa investigação não cessa até que se chegue à 
causa primeira. E, então, julgamos que sabemos com perfeição quando conhecemos a causa 
primeira. Portanto, o homem deseja naturalmente conhecer a causa primeira como seu fim 
último. Mas a causa primeira de tudo é Deus. Logo, o fim último do homem é conhecer a 
Deus.
Em uma outra passagem, tirada do Comentário ao Evangelho de São Mateus (c. 5, l. 2), ele reafirma 
o mesmo, mais sucintamente: 
Há um desejo natural de que o homem, ao ver um efeito, investigue a sua causa. Donde, 
também a admiração dos filósofos foi a origem da filosofia, porque eles, ao verem os efeitos, 
se admiravam e buscavam a causa. Logo, esse desejo não se aplacará até que ele chegue à 
Causa Primeira, que é Deus, ou seja, à própria essência divina.
29
Figura 15.1 – A ignorância é causa da admiração, a qual, por sua vez, é causa da filosofia (autor: 
André Alonso)
4. O ÓCIO: CONDIÇÃO PARA A FILOSOFIA
Na Aula 14, ao mencionarmos os diversos fatores que contribuíram para o aparecimento da 
filosofia na Grécia, citamos o ócio ou lazer. Chegou o momento de nos aprofundarmos sobre o 
tópico.
Em uma passagem da Metafísica (I, 982b 19-24), Aristóteles mostra que o homem só se dedicou à 
filosofia de modo mais direto e regular após ter conseguido reunir aquilo que era necessário não 
apenas para sobreviver, mas o que era essencial também para o seu conforto e bem-estar:
De modo que, se os homens filosofaram para libertar-se da ignorância, é evidente que 
buscavam o conhecimento unicamente em vista do saber e não por alguma utilidade prática. 
E o modo como as coisas se desenvolveram o demonstra: quando já se possuía praticamente 
tudo o de que se necessitava para a vida e também para o conforto e para o bem-estar, então 
se começou a buscar essa forma de conhecimento.
Comentando o trecho, diz Santo Tomás de Aquino (In Metaph., I, l. 3, n. 6):
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Em seguida, quando ele (=Aristóteles) diz “Mas demonstra”, ele prova a mesma coisa por 
meio de um indício. Ele diz que aquilo que foi dito ― ou seja que a sabedoria ou filosofia 
não é buscada por causa de nenhuma utilidade, mas por causa da ciência mesma ― o prova 
um ocorrido, isto é, um acontecimento que ocorre com aqueles que buscam a filosofia.
Com efeito, quando eles obtiveram quase tudo o que é necessário à vida e que é necessário 
ao ócio, isto é ao lazer, que consiste em uma certa tranquilidade de vida, e também o que é 
necessário à instrução, como é o caso das ciências da Lógica, que não são buscadas por si 
mesmas, mas como ciências introdutórias a outras artes, então (=depois de terem obtido tais 
coisas) é que se começou em primeiro lugar a buscar a prudência, isto é, a sabedoria. A partir 
disso está claro que ela não é buscada por causa de alguma outra necessidade diferente dela 
mesma, mas por causa dela mesma. Com efeito, ninguém busca o que já se possui. Donde, 
porque ela foi buscada depois que se obtiveram todas as demais coisas, está claro que ela não 
foi buscada por causa de alguma outra coisa, mas por causa de si mesma.
Para dedicar-se à filosofia, a humanidade teve de atingir um certo grau de conforto material, 
que, por sua vez, colaborava para a tranquilidade de espírito necessária para a investigação 
filosófica. Enquanto o homem precisava conseguir diariamente sua sobrevivência, buscando 
comida, caçando ou plantando, e obter proteção para seu corpo, fosse contra as condições 
climáticas – frio, calor – e as intempéries, fosse contra seus predadores, não lhe sobravam 
energias físicas nem mentais para investir na filosofia. Todas as suas forças eram direcionadas à 
árdua tarefa de sobreviver. Quando o ser humano conseguiu reunir os elementos básicos que 
lhe permitiam sobreviver, voltou seus esforços para alcançar um estado de vida melhor, no qual 
estivessem presentes não apenas as condições mínimas de sobrevivência, mas um nível 
satisfatório de conforto e bem-estar. Ao obter o que lhe garantiria a sobrevivência e o conforto, o 
homem viu-se um tanto livre e despreocupado. Por não mais precisar dedicar-se à aquisição de 
do que era uma vida satisfatória, o homem tinha tempo livre e o espírito despreocupado. Esse 
estado de lazer era chamado pelos gregos de σχολή (scholé) e pelo romanos de “otium”. O 
termo grego σχολή (scholé) deu o nosso “escola”. A razão é simples. O conceito geral de σχολή 
(scholé) era tempo livre, mas vai se especificando até significar um estado de liberdade material 
e espiritual que permitia à pessoa dedicar-se ao cultivo do espírito, à instrução. Apenas quem 
gozava da σχολή (scholé) podia enriquecer-se espiritual e intelectualmente. A “escola”, 
inicialmente, é essa circunstância material-temporal. Mas hoje, também, só vai à escola quem 
tem tempo livre econdições materiais mínimas que o permitam. Se o indivíduo tiver de 
trabalhar de sol a sol para ganhar seu sustento, não terá o tempo livre necessário – a σχολή 
31
(scholé) – para instruir-se e, mesmo que tenha um tempo mínimo, não poderá fazê-lo 
adequadamente.
O conceito grego foi absorvido pela noção de “otium” dos romanos. O “otium” era todo e 
qualquer tempo livre, mas mas vai se especificando, como a σχολή (scholé), para significar o 
tempo livre e a despreocupação que permitiam ao indivíduo dedicar-se a questões suas 
pessoais, bem como ao cultivo do espírito. O “otium” exprime, então, a condição do indivíduo 
que, afastado dos negócios públicos, pode dedicar-se a questões de foro privado. A ausência 
desse tempo livre era expressa pela negação “nec” e, assim, temos o não-tempo-livre, o “nec-
otium”, que dá o termo “negócio”. Negócio é, portanto, a negação ou ausência de ócio. Quando 
você tem negócios a tratar, não está ocioso e não pode dedicar-se à filosofia.
O ócio, como vemos, não é um conceito negativo para os gregos e os romanos, como é para o 
mundo moderno. A noção de ócio, para nós, é, geralmente, negativa. O termo “ocioso” é 
tomado como sinônimo de vagabundo, malandro ou mandrião. Nós, porque queremos ser 
produtivos, estamos sempre envolvidos em negócios e não temos, assim, tempo livre para 
dedicar à educação de nosso espírito. Talvez aqui esteja a raiz da futilidade de nossa sociedade 
moderna: nela não há espaço para o ócio e, portanto, para o crescimento interior. O único 
crescimento que nos ocupa é o exterior, o material, o financeiro. E, quando temos uma boa 
situação de vida, livramo-nos ao ócio no sentido moderno: não trabalhar, ficar ocioso, não 
formar nossa inteligência, dedicar-nos a coisas fúteis, perder o tempo precioso em ninharias. 
Precisamos, urgentemente, redescobrir o valor incalculável do ócio produtivo, do tempo para 
nos dedicarmos a nossa própria formação e enriquecimento interior.
Para termos uma ideia de como os antigos podiam valorizar o “otium”, vejamos um trecho de 
Santo Agostinho (séc. IV e V d. C.; Contra os Acadêmicos, II, 2, 4). O autor exprime como as 
ocupações prementes da vida quotidiana, a necessidade do trabalho para sobreviver e sustentar 
seus familiares, representavam um pesado fardo, que o impediam de dedicar-se à filosofia. Para 
ele, a única vida que lhe parecia feliz seria aquela que lhe proporcionaria o “otium 
philosophandi”, o tempo livre, isento de preocupações terrenas, para abraçar a filosofia:
32
Finalmente, tudo aquilo que agora eu gozo de meu ócio: o fato de que eu escapei dos 
grilhões dos desejos supérfluos, que, deixados de lado os fardos das preocupações mortais, 
eu respiro, recobro meus sentidos, volto a mim, que eu procuro com grande aplicação a 
verdade, que já estou começando a encontrá-la, que estou confiante de que chegarei a seu 
grau mais elevado – foste tu que mo inspiraste, estimulaste e obtiveste. Mas de quem foste 
servidor eu admiti ainda pela fé mais do que compreendi pela razão. Pois, quando eu te 
expus, face a face, os movimentos interiores de meu espírito, e veemente e frequentemente 
afirmei que nenhuma sorte me parecia próspera, exceto aquela que permitisse a dedicação à 
filosofia (=otium philosophandi), que nenhuma vida me parecia feliz, exceto aquela pela qual 
se poderia viver na filosofia, mas que eu era refreado pelo imenso peso dos meus familiares, 
cuja vida dependia de minha profissão, pelas muitas necessidades, seja da minha vergonha, 
seja da despropositada miséria de meus familiares, tu foste tomado de uma tão grande 
alegria, inflamado por um tão santo entusiasmo por esta vida, que disseste que haverias de 
romper, disponibilizando-me até teu patrimônio, com todos os meus grilhões, se, de algum 
modo, tu te livrasses dos grilhões daquelas lides inoportunas.
E Cícero (séc. I a. C.) vê no ócio letrado (“otium litteratum”) aquilo que há de mais doce na vida, 
sobretudo quando consagrado à investigação de temas filosóficos:
Com efeito, o que há de mais doce do que o ócio letrado, isto é, do que aqueles estudos pelos 
quais conhecemos a imensidão da realidade e da natureza e, neste mesmo mundo, o céu, a 
terra e os mares? (Tusculanae Disputationes, V, XXXVI, 105)
O “otium” é visto como um momento especial, no qual, afastados do tumulto da vida 
quotidiana e dos muitos afazeres que nos consomem a existência, encontramos a tranquilidade 
que nos serve de bálsamo para o espírito. É o que deixa transparecer uma carta de Plínio, o 
Jovem (séc. I e II d. C.), ao descrever a agitação da vida de Roma em oposição à paz de sua 
estância:
Plínio saúda seu querido Minício Fundano,
É impressionante como, em Roma, esteja ou pareça estar certo o cômputo de nossas 
atividades de cada dia, mas que não haja essa exatidão, se considerarmos conjunto de vários 
dias. Com efeito, se perguntares a alguém 'O que fizeste hoje?', ele responderá: 'Estive 
presente a uma cerimônia de recepção de toga viril, assisti a um noivado ou a um casamento, 
um me pediu para vir para a assinatura de um testamento, outro para representá-lo no 
tribunal, um terceiro, para ir a uma reunião'. No dia em que fizeste estas coisas, elas te 
parecem indispensáveis, mas, se pensares que as fazes todo santo dia, essas mesma coisas te 
parecem sem importância, especialmente quando estás longe de Roma. Com efeito, vem, 
então, a lembrança: 'Quantos dias eu desperdicei com coisas tão banais!' É o que me 
aconteceu, quando, em minha estância de Lourenço, estou lendo algo ou escrevendo, ou 
dedicando-me também a exercícios do corpo, por cujo fortalecimento meu espírito se recobra 
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as energias. Não ouço nada de que me arrependa de ter ouvido, não digo nada que me 
arrependa de ter dito. Ninguém vem me falar horrores de outrem, eu mesmo não censuro 
ninguém, exceto a mim mesmo, quando escrevo de modo pouco adequado. Não me 
atormento com nenhuma esperança, com nenhum temor, não me inquieto com quaisquer 
boatos. Converso apenas comigo mesmo e com os meus livros. Ó vida nobre e pura! Ó doce 
e honrado ócio, mais belo, por assim dizer, do que todo negócio (=ocupação)! Ó mar, ó praia, 
verdadeiro refúgio das Musas, quantas descobertas, quantas lições! Tu também, do mesmo 
modo, abandona esse barulho, essa vã agitação e essas tarefas mais que banais, e entrega-te a 
teus estudos ou ao ócio. Com efeito, como nosso querido Atílio disse muito erudita e 
divertidamente, vale mais estar ocioso do que não fazer nada. Adeus.
Repare no trecho final, no qual Plínio reproduz uma divertida frase de um seu amigo, Atílio, 
que contrapõe muito claramente o “otium” ao “não fazer nada”. São duas realidades bem 
diferentes. O “não fazer nada” é o nosso ócio moderno, o ócio, no sentido mais lamentável do 
termo. O ócio ou o estar ocioso, para o bom romano, é algo muito positivo, fonte de bens 
espirituais e intelectuais. Plínio critica abertamente o corre-corre quotidiano, as diversas tarefas 
profissionais e obrigações sociais que nos devoram o tempo. A conclusão não poderia ser mais 
severa: Quantos dias eu desperdicei com coisas tão banais! Portanto, estar muito ocupado, não 
significa estar bem ocupado. Em outras palavras: estar mergulhado em diversos negócios pode 
afastar o homem daquilo que há de mais fundamental: ocupar-se de seu espírito. O “otium”, a 
σχολή (scholé), é a ocasião que temos de reverter esse quadro lamentável de nossa vida e nos 
dedicarmos ao cultivo de nossa vida interior, à verdadeira cultura, à cura que nos traz a 
filosofia. E assim, poderemos também exclamar com Plínio: Ó doce e honradoócio, mais belo, 
por assim dizer, do que todo negócio!
A oposição entre o ócio letrado de que falou Cícero e o ócio como entendemos modernamente 
está magnificamente sintetizada em uma frase de uma das cartas de Sêneca. O filósofo mostra 
que a filosofia é como uma muralha que nos cerca e nos protege tão fortemente que contra ela 
nada pode a fortuna (ou seja, o destino) com todo o seu maquinário. Mas a filosofia só pode ser 
alcançada através de um grande esforço e, para isso, é preciso que o nosso ócio seja dedicado a 
nossa formação, seja um ócio letrado, pois viver no ócio sem dedicar-se ao aprimoramento de 
nosso espírito é como estar enterrado vivo:
O ócio sem as letras (=sem o estudo, sem a filosofia) é a sepultura de um homem vivo – 
otium sine litteris mors est et hominis uiui sepultura (Epistulae Morales ad Lucilium, 82, 3).
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A expressão de Sêneca é cheia de uma força expressiva, sem dúvida, mas seu vigor maior 
repousa na veracidade. O filósofo nos desvela um grande ensinamento. Uma parte importante 
da vida da maioria dos homens se passa imersa nas agruras do trabalho, no esforço da 
sobrevivência. Os momentos de ócio não podem ser desperdiçados em insignificâncias, em 
futilidades. O ócio de que desfrutamos deve ser letrado, estudioso, dedicado à formação de 
nosso espírito, de nossa inteligência. O homem que dispõe de tempo livre e não o emprega 
judiciosamente na busca da sabedoria é como um morto-vivo, alguém que, embora vivo, está 
sepultado, ou seja, alguém que, vivo, não vive uma vida verdadeira e digna. E a frase de Sêneca 
nos remete, sem sombra de dúvida, à alegoria da caverna de Platão. O ócio letrado é 
comparável à ascensão para fora da caverna. Os negócios diversos e a vacuidade do ócio sem 
estudos são assimiláveis aos grilhões que nos aprisionam na caverna e no mundo das sombras.
Os antigos ensinam-nos, uma vez mais, algo maravilhoso. Que é preciso nos libertarmos 
constantemente das amarras das diversas preocupações quotidianas para podermos nos dedicar 
à formação de nossa vida interior, ou seja, intelectual e moral. Você talvez não tenha se dado 
conta de que, como está cursando Letras, você está dispondo (ainda que de modo limitado, 
dependendo de suas circunstâncias) de ócio. E você não deve deixar que esse ócio – precioso 
para os gregos e os romanos – se torne um mero “nada fazer”, um simples desperdício de 
tempo. As diferentes disciplinas que você tem em seu curso são degraus no caminho ascendente 
de sua educação. Certamente, você terá momentos duros, penosos, em que vai preferir descer 
novamente para o fundo da caverna, que, como vimos, representa a ignorância. Tenha em 
mente que o caminho é íngreme, mas que, ao sair da caverna e contemplar a verdade e a 
realidade que você até então desconhecia, terá valido a pena o esforço. Sua obrigação será, 
então, libertar os outros do infortúnio que ainda os assombra e aprisiona.
Atividade final
Atende aos objetivos 1, 3 e 4
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Componha um pequeno texto no qual você explique como ignorância, admiração, ócio e 
verdade estão relacionados com a origem da filosofia.
DIAGRAMADOR: DEIXAR 25 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Retome aqui os trechos que citamos de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino sobre o desejo 
natural de saber, a admiração e o ócio. Aproveitando-se da citação de Santo Agostinho, mostre 
que o homem deseja conhecer a verdade e evitar o erro. Tente acrescentar algum exemplo seu 
nesse sentido, usando, inclusive, alguma experiência que você possa ter tido que ilustre esse 
fato.
Explique como o conhecimento da verdade põe fim à ignorância e, por conseguinte, à 
admiração que desta advém. Esses elementos são essenciais para o nascimento da filosofia, mas 
não são suficientes. Você deve acrescentar que, enquanto o homem estava mergulhado em 
múltiplas preocupações, procurando os meios para sobreviver, não tinha tempo livre para 
filosofar (explique a noção de ócio para os antigos e como ela é diferente da nossa ideia de ócio, 
que equivale a um simples “nada fazer” e que é, portanto, negativa). Somente quando uma 
parcela da sociedade conseguiu não apenas o necessário para sua sobrevivência, mas ainda 
conforto e bem-estar, é que teve o ócio para dedicar-se à busca da sabedoria, isto é, à filosofia.
É importante que você procure formular sua resposta com um bom encadeamento de ideias e 
com uma argumentação clara, ilustrada por exemplos que auxiliem o leitor a melhor 
acompanhar seu raciocínio.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
RESUMO
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Ao tomarmos a definição de filosofia que afirma que ela é uma ciência, precisamos 
compreender o significado de ciência. Esta pode ser definida como um conhecimento 
certo adquirido por meio de uma demonstração. Implica, portanto, a noção de certeza. 
Nesse sentido, a ciência distingue-se da opinião, que pode ser definida como o 
assentimento a uma solução acompanhado do temor de que o oposto seja verdadeiro. 
Na ciência, há certeza de conhecimento; na opinião, não.
No livro VII de sua República, Platão apresenta uma alegoria. Ele descreve uma caverna 
na qual pessoas estavam aprisionadas desde seu nascimento. Elas estavam agrilhoadas e 
eram forçadas pelas correntes a olhar sempre para o fundo da caverna, no qual eram 
projetadas as sobras de objetos que eram carregados em um desfile em um nível 
superior da caverna, atrás dos prisioneiros, e eram iluminados por um fogo. Tudo o que 
as pessoas conheciam eram as sombras e essa era sua realidade. O mundo das sombras 
era, para elas, o mundo real, a própria realidade. Um desses prisioneiros é, então, 
libertado e forçado a virar-se e dirigir-se para a entrada da caverna, passando por um 
caminho ascendente. À medida em que subia, a luz do fogo causava-lhe grande 
desconforto. Ele preferiria voltar para o fundo da caverna, mas era forçado a dela sair. 
Uma vez fora, seus olhos estariam completamente obnubilados pela luz do sol. Com o 
passar do tempo, ele poderia abrir seus olhos, que, aos poucos, iam se acostumando à 
grande claridade do sol. Ao fim de um longo processo, ele poderia contemplar os objetos 
desse mundo superior e conhecer realidades que, enquanto estava preso na caverna, 
nunca pensou que pudessem existir. Se descesse novamente à caverna e contasse o que 
viu, descobriu e aprendeu, seria humilhado por seus antigos companheiros de 
infortúnio, que acreditariam que sua ascensão ao mundo superior lhe havia arruinado 
os olhos. Se ele, por sua vez, soltasse os que ainda estavam acorrentados e os tentasse 
forçar a subir e sair da caverna, eles, assustados com o estado em que voltara seu 
companheiro, matariam-no, se possível fosse, para evitar a mesma desgraça.
Com essa alegoria, Platão descreve o estado de nossa alma quanto à educação e à 
ignorância e faz-nos compreender a diferença entre a opinião e a ciência. A caverna é 
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símbolo da vida de ignorância em que vivemos aprisionados. A ascensão para fora dela 
é a educação, que é árdua, difícil e mesmo dolorosa.
Por mais difícil que seja essa ascensão, não significa que nossa inclinação à filosofia seja 
antinatural. Aristóteles abre o texto de sua Metafísica com uma das frases mais famosas 
da história da cultura humana: Todos os homens desejam, por natureza, saber. A sede 
do conhecimento está enraizada em todos e em cada um dos seres humanos. Uma 
indicação disso é que as crianças, antes mesmo dos dois anos começam a perguntar 
insistentemente “o que é isso?”. Aos três, acrescentam os “porquês”. Essa curiosidade, 
observável nas

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