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Aula 8 - Hedley Bull

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HEDLEY BULL
PROF. FERNANDA KOTZIAS
A SOCIEDADE ANÁRQUICA
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A Sociedade Anárquica
Tema central é sobre a natureza da ordem na política internacional
Principais questões da obra:
O que é a ordem internacional?
Como ela é mantida no atual sistema de Estados soberanos?
Este sistema ainda sustenta uma ordem mundial?
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Ordem Internacional
 “um padrão de atividade que sustenta os objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade internacional” (p. 13)
A ordem não é simplesmente uma aspiração para o futuro, mas algo que tem existido historicamente.
Os estados modernos constituíram e continuam a constituir não apenas um sistema, mas uma sociedade de Estados
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Ordem Internacional
Há nas RI uma ordem oposta à desordem e com intensidade variável
Não é o único nem supremo valor na política internacional
 A ordem pode ser inconstante, mas sustenta a manutenção da organização mundial em forma de sistema internacional, a garantia da soberania externa dos Estados, a transformação da paz em norma afastando a guerra do cotidiano, a limitação da violência dentro dos princípios de monopólio legítimo estatal, a diplomacia, o pacta sunt servanda e a guerra justa (p.23-26).
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Ordem Internacional
Sistema x Sociedade Internacional
Sistema: suficiente impacto e contato entre os Estados (guerra e comércio) que se conduzem como partes de um todo 
Sociedade: A consciência de interesses, valores, regras e instituições comuns (direito e OIs, diplomacia, guerra, o papel das grandes potências) caracteriza a emergência de uma sociedade internacional
  
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Sociedade e Anarquia
Conciliação de dois conceitos tradicionalmente excludentes
Sociedade pressupõe o compartilhamento de valores e regras 
Não significa negar a anarquia, em especial dentro da argumentação hobbesiana de “estado de natureza”
Para Bull, o sistema internacional é uma mistura dos dois conceitos
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Sociedade Internacional
Bull analisa como as regras (DI, moral, costume) e as instituições “exercem funções ou desempenham papéis positivos com relação à ordem internacional” (p.89)
Ausência de uma autoridade central
Estados exibem certos padrões de comportamento que estão sujeitos a, e constituídos por, restrições legais e morais. 
As RIs não podem ser entendidas apenas a partir de manifestações de política de poder 
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Sociedade Internacional
Existe uma sociedade internacional que surge quando os Estados, conscientes de interesses comuns, se consideram ligados a um conjunto de regras no seu inter-relacionamento
Exemplos: Respeito à independência de cada um, aos acordos firmados, e à limitação do uso recíproco da força
Cooperam para o funcionamento de instuições, como o direito internacional (DI), a diplomacia, os costumes e convenções de guerra, essenciais à ordem internacional
As RIs se apresentam como uma arena social na qual os Estados soberanos se relacionam não apenas por poder e riqueza, mas também como detentores de direitos, autoridade e obrigações .
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Sociedade Internacional
Prova da existência da sociedade internacional está no Direito Internacional
Toda sociedade possui um direito, e este é uma ordem social na medida em que busca obter determinada conduta daqueles a que lhe estão submetidos, fazendo com que se omitam certas ações consideradas socialmente prejudiciais
Aqueles que não acreditam na sociedade internacional, começam suas críticas pelo direito 
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Críticas ao Direito Internacional
Aplicabilidade/ Respeito
Como em qualquer sistema jurídico, existem violações de normas, caso contrário, elas não seriam necessárias
Validade depende dos interesses dos Estados
A importância do DI está não na disposição dos Estados em seguir tais princípios em detrimento de seus interesses, mas no fato que eles freqüentemente consideram como de seu interesse se comportar de acordo com as normas internacionais (p.161)
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Direito Internacional
Funções na ordem internacional:
Identificar a sociedade de Estados soberanos como princípio normativo supremo da organização da política mundial. 
Exprime regras elementares de coexistência dos Estados e de outros atores da sociedade internacional, que dizem respeito a três áreas: à limitação da violência, aos acordos entre os atores e à soberania e independência dos Estados. 
Mobiliza a aceitação das regras da sociedade internacional, relacionadas à já mencionada coexistência, à cooperação, etc.
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Direito Internacional x Direito Interno
Falta de autoridade coatora
Não tem como objetivo principal restringir as condutas dos Estados
Cumprimento das obrigações é pautado no interesse (seja por benefícios, seja para manter a reputação)
Direito Internacional não institui a ordem internacional, mas ajuda a mantê-la
Interdependência gera maior proximidade entre Estados, seja para cooperação, seja para o confronto. O DI contribui para que estes assuntos não sejam ameaças a ordem internacional
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Guerra
A guerra é tratada por Bull como uma instituição da sociedade internacional, sendo entendida como a violência organizada entre Estados soberanos
As funções da guerra em relação à ordem internacional podem ser consideradas a partir de três perspectivas:
 Estado: para o qual a guerra é um instrumento da política, utilizado para alcançar os objetivos do estado;
Sistema internacional: a guerra também é determinante na forma a ser assumida por esse sistema em qualquer época, na medida em que estabelece quais os estados sobrevivem e quais são eliminados, seu crescimento e declínio, alteração de fronteiras, etc.; 
Sociedade internacional: a guerra é a manifestação da desordem, uma ameaça à existência da mesma; mas também, um mecanismo para alcançar outros objetivos internacionais, como o equilíbrio de poder, fazer cumprir o direito internacional, promover alterações justas na lei (papel positivo na manutenção da ordem internacional)
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Guerra
O direito de fazer a guerra na sociedade internacional restringe-se aos seguintes aspectos: 
 
a guerra só pode ser levada a cabo por estados soberanos;
regras tradicionais impõem limitações ao modo como a guerra pode ser conduzida – ex: o Direito Humanitário; 
restrição dos limites geográficos das hostilidades pelas leis de neutralidade; 
apenas uma causa justa e aquelas preconizadas por instrumentos legais (como a Carta da ONU) constituem razões legítimas para se recorrer à guerra
Bull destaca que a guerra praticada por outras unidades políticas, que não o Estado, ampliou-se: “facções civis emergiram como atores mundiais violentos, desafiando o monopólio internacional da violência há muito pretendido pelos Estados soberanos, e violando as regras aplicadas aos Estados” (p.227) – terrorismo internacional
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As Grandes Potências
Também são consideradas como instituição da sociedade internacional, 
Impõem certas diretrizes às RI, exercendo um papel positivo sobre a ordem internacional. 
Segundo o autor, ao se falar em grandes potências infere-se, em primeiro lugar, a existência de duas ou mais potências de status comparável (p. 229)
A ocupação por essas potências do primeiro plano em termos de poder militar, não havendo outra categoria de países poderosos que lhe seja superior
Gozam de direitos e possuem obrigações especiais concebidos por seus povos e por sua liderança, que são reconhecidos pelos outros Estados  
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As Grandes Potências
A contribuição das grandes potências para a ordem internacional deriva da desigualdade de poder entre os Estados que participam do sistema internacional
 
 “A desigualdade dos estados em termos de poder tem o efeito de simplificar o padrão das relações internacionais, garantindo que a opinião de certos estados prevaleça sobre a de outros e que determinados conflitos constituirão a temática fundamental da política internacional, enquanto outros serão marginalizados.” p.236) 
Administram
suas relações bilaterais de acordo com os interesses da ordem internacional quando buscam preservar o equilíbrio geral de poder, agem para evitar ou controlar as crises no seu relacionamento recíproco que contenham o perigo de deflagrar uma guerra, ou adotam medidas para evitar a guerra ou limitá-la. 
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As Grandes Potências
No entanto, exploram sua preponderância em relação aos demais integrantes da sociedade internacional, podendo assumir a forma de dominância, primazia ou hegemonia; ao respeitar mutuamente suas respectivas esferas de influência; ao concordar com a união de esforços para promover políticas comuns no conjunto do sistema internacional, o que está implícito na idéia de condomínio, concerto, ou co-império de grandes potências. 
Havendo uma ordem internacional, ela beneficia particularmente as grandes potências.
A ordem internacional sustentada pelas grandes potências não proporciona justiça de forma igualitária para todos os Estados, mas nem por isso ela deve ser considerada intolerável.
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As Grandes Potências
Somente podem exercer suas funções de gerenciamento da sociedade internacional se estas gozarem de legitimidade. Para tanto, as grandes potências não podem formalizar e explicitar inteiramente a sua posição especial, pois a sociedade internacional rejeita o ordenamento hierárquico dos estados em favor de uma igualdade. 
Devem tentar evitar a sua responsabilização por atos que sejam evidentemente contrários à ordem, pois quando estas parecem estar infringindo a ordem e, por tabela, contrariando a justiça, a legitimidade de sua posição vai se deteriorando. 
Precisam satisfazer algumas das demandas por mudanças justas, não podendo negligenciá-las – “sua liberdade de manobra é circunscrita pela ‘responsabilidade’ que lhes cabe” (p. 261). 
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As Grandes Potências
Na regiões do mundo onde a posição política das grandes potências é limitada pela presença de potências secundárias, aquelas devem buscar uma acomodação com estas, tornando-as parceiras na administração do equilíbrio regional em questão.
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Equilíbrio de Poder
Vale-se da definição de Vattel, para quem o equilíbrio de poder consiste em uma situação em que “nenhuma potência possui posição de preponderância absoluta e em condições de determinar a lei para as outras” (p. 117)
Como a humanidade, em sua diversidade, reage contra um governo mundial ou uma monarquia universal, sempre que um país se torna poderoso demais, os outros tendem a se aliar para contrabalançar este poderio. 
Tal instituto desempenha três funções no sistema de Estados: 
Impedir que esse sistema se torne, pela conquista, um império universal;
Proteger a independência dos estados, impedindo que os mesmos sejam absorvidos ou dominados por uma potência localmente preponderante;
Prover as condições para o funcionamento de outras instituições das quais dependem a ordem internacional, com o DI, a diplomacia, a guerra, a administração pelas grandes potências. 
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Equilíbrio do Poder
A administração do equilíbrio ocorre por diversos meios, como a guerra, a ameaça de guerra e a força militar desempenhada pelas grandes potências
A diplomacia, enquanto instituição que contribui para a manutenção da ordem internacional, pode ser entendida como a “gestão das relações entre Estados e outras entidades da política mundial, por meios pacíficos e com o uso de agentes oficiais” (p. 187). 
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Diplomacia
Funções:
Facilitar a comunicação entre os líderes políticos dos Estados e de outras entidades que participam da política mundial;
Negociar acordos, na medida em que possibilite aos Estados visualizarem a política exterior como a busca racional de seus interesses, que podem ter áreas de coincidência com os interesses de outros Estados; 
Reunir informações a respeito de países estrangeiros, que servirão de base para a política externa de cada Estado; 
Minimizar os efeitos dos atritos nas relações internacionais;
Simbolizar a existência da sociedade de Estados, enquanto manifestação visível da existência de regras pelas quais os Estados e outras entidades do sistema mundial têm um certo respeito 
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Considerações
Ao analisar as diversas instituições que contribuem para a ordem internacional, Bull não atribui a elas o mesmo peso. 
É dada menor ênfase à organização e ao direito internacional em sua análise sobre a manutenção da ordem
Ao mesmo tempo o autor afirma que o relevante papel desempenhado pelas OIs é menos produto de suas “aspirações e objetivos oficiais” e mais uma contribuição para o funcionamento de instituições mais essenciais como o equilíbrio de poder e a administração pelas grandes potências
Metodologicamente, Bull é cauteloso ao identificar suas hipóteses, fornecer definições claras dos termos que emprega, e explicar as questões e as respostas dadas às mesmas.
Bull define e analisa as questões fundamentais que os internacionalistas devem buscar compreender para lidar com o problema da ordem mundial moderna
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