Buscar

IED - Direito e Política

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

�
CURSO: Direito	
DISCIPLINA:	Introdução ao Estudo do Direito
PERÍODO MINISTRADO/SEMESTRE/ANO:	2º/2014
PROFESSOR:	Juliano Vieira Alves
DIREITO E POLÍTICA
�
�
DIREITO E POLÍTICA
POLÍTICA
Substantivo: “o termo política geralmente designa a ação política propriamente dita”;
Adjetivo: “político(a) serve para qualificar um conteúdo (poder político, instituições políticas, etc)”
SIGNIFICADO CLÁSSICO
Deriva do adjetivo originado de polis (politikós) (BOBBIO, 2000, p. 159)
	Tudo o que se refere à
	Cidade
	
	Urbano
	
	Civil
	
	Público
	
	Sociável/social
POLÍTICA – ARISTÓTELES
	Primeiro tratado sobre
	Natureza/função e divisão de poderes
	
	Formas de governo
“o termos política foi usado durante séculos para designar principalmente obras dedicadas ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere de algum modo às coisas do Estado” (BOBBIO, 1991, p. 954)
	O termo “política” foi substituído por outras expressões
	Ciência do Estado
	
	Doutrina do Estado
	
	Ciência política
	
	Filosofia política
A professora Maria Francisca Pinheiro Coelho, em um texto em que demonstra o gosto dos brasileiros pela política “e o desgosto com os políticos” possui ideia semelhante ao assinalar: “Mudanças semânticas ocorreram no termo e hoje se identifica política quase que exclusivamente com a ação do Estado” (COELHO, 2000, p. 62).
Em seu texto, sugere “que, embora haja uma tendência natural de identificar a política com a ação do Estado, há uma enorme diferença entre a política como uma atividade profissional e a política como aquilo que se refere à polis, isto é, a política como uma atividade que envolve o processo de formação de opinião sobre o que é comum a todos na sociedade” (COELHO, 2000, p. 67 – grifo no original).
Eurico Santos, igualmente, entende por política “aquela dimensão da vida social em que são travadas as discussões e as disputas em torno de decisões capazes de afetar o ‘bem viver’ de uma sociedade e dos indivíduos membros dessa sociedade. Trata-se da ‘preocupação com o mundo’ como sentido último da política, conforme pretende Hannah Arendt. Sociologicamente falando, isso engloba instituições, leis, fatores históricos e econômicos, bem como valores, crenças das mais variadas naturezas, costumes irrefletidos e hábitos arraigados” (SANTOS, 2000, p. 89).
Os principais atores do processo político – Estado, governos e partidos –, exatamente para manter um estilo de dominação viciosa – a sociedade esperando um Estado protetor e os governantes atuando nesse papel – reforçam a representação “de uma sociedade acomodada e a visão da política como proteção e assistência, retirando-lhe o seu conteúdo de persuasão e de convencimento. Com a produção e a reprodução dessa imagem, quando o Estado não é protetor, gera frustração e descrença. O significado da política foi substituído pelo de assistencialismo. A política como ação plural está na sociedade, mas, não, no Estado. Nele a noção de política foi identificada com a questão social, que envolve a satisfação de necessidades básicas” (PINHEIRO, 2000, p. 68 – grifo no original).
CARACTERÍSTICAS (SÁNCHEZ AGESTA, 1987, p. 922).
	Considerada a política como forma de conduta humana livre e polêmica que se projeta como poder sobre a ordem vinculadora de uma comunidade para realizar o bem público, podem ser identificadas as seguintes características:
	a) é uma atividade livre, não sujeita a normas jurídicas. Na vida social há atos cuja realização e eficácia estão previstos em uma norma jurídica. A ação política, ao contrário, não se desenvolve de acordo com uma norma; ela é criadora, fonte de mudanças, de inovações e de imprevisto. O cidadão que vota, a imprensa que comenta, os grupos que pressionam, o governante que propõe uma lei realizam, neste sentido, uma atividade política – ATENÇÃO - objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil!!
	b) É uma atividade polêmica, ou uma decisão que concilia posições conflitantes. Esse caráter decorre da mesma liberdade com que se realiza a atividade política. A ordem jurídica é o já decidido. A ação política pugna por novas decisões, ou as impõe.
	c) É união que se manifesta como poder normativo. Quando se apresenta como uma ação interna do poder organizado, possui um valor de configuração da ordem que se chama vinculadora; quando se traduz numa ação externa, em relação ao poder organizado que aspira a influir sobre a ordem, ela cria, desenvolve e exerce um poder social para exercer influência nas decisões desse poder.
	d) Essa atividade política se projeta como poder sobre uma ordem vinculadora que se formaliza através das normas jurídicas. É essencial a essa ordem uma distribuição de bens e valores, ao mesmo tempo em que ela define situações jurídicas ou de poder dentro da comunidade. Como ordem distributiva fundamenta-se em princípios que lhes servem de critérios. Um liberal e um socialista têm conceitos diferentes de ordem, pois partem de critérios diversos para realizar essa distribuição de bens e valores
	e) Orientação para a realização de fins e para a seleção dos meios adequados. Os anglo-saxões denominam esse conteúdo específico de policy, diferençando-o de politics, que compreende a ação polêmica do poder, ou sobre o poder, para a tomada de uma decisão relativa à ordem
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE – POLICY E POLITICS
“O uso político e social mais comum do termo política (policy, em inglês) refere-se a um curso de ação, real ou pretendido, concebido e deliberadamente selecionado após uma revisão das alternativas possíveis, adotadas ou que se pretenda adotar” (HARRISON, 1987, p. 921 – grifo no original)
“Política é a projeção de um programa de metas que incluem valores e práticas: o processo de geração de políticas se constitui na formulação, promulgação e aplicação de identificações, demandas e expectativas” (H. D. Lasswell e A. Kaplan, apud HARRISON, 1987, p. 921)
Tradutor do Dworkin: “Policy – traduzimos na maior parte dos casos por ‘política’ (e eventualmente por ‘política pública’). Refere-se tanto aos princípios gerais que orientam um governo na condução dos assuntos públicos, como aos programas e ações governamentais orientadas por esses princípios. Neste último caso, fala-se, por exemplo, de política econômica, social, trabalhista, etc” (DWORKIN, 2007, p. XVI, nota de rodapé).
O próprio Dworkin: “Denomino ‘política’ aquele tipo de padrão que estabelece um objetivo a ser alcançado, em geral uma melhoria em algum aspecto econômico, político ou social da comunidade (ainda que certos objetivos sejam negativos pelo fato de estipularem que algum estado atual deve ser protegido contra mudanças adversas)” (DWORKIN, 2007, p. 36).
Ex: "...o padrão que estabelece que os acidentes automobilísticos devem ser reduzidos é uma política..." (DWORKIN, 2007, p. 36)
	Seja qual for a concepção, indicava “a atividade ou conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis, ou seja, o Estado” (BOBBIO, 1991, p. 954)
	pólis enquanto SUJEITO – atos como
	- ordenar ou proibir alguma coisa com efeitos vinculadores para todos os membros de um determinado grupo social
	
	- exercício de um domínio exclusivo sobre um determinado território
	
	- legislar através de normas válidas erga omnes
	
	- tirar e transferir recursos de um setor da sociedade para outros
	pólis enquando objeto – ações como
	Conquista
	Do poder estatal
	
	Manutenção
	
	
	Defesa
	
	
	Ampliação
	
	
	Robustecimento
	
	
	Derrubada
	
	
	Destruição
	
“O conceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligado ao de poder” (BOBBIO, 1991, p. 954).
	PODER
	Hobbes: meios adequados à obtenção de qualquer vantagem
	
	Russel: conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados
PODER POLÍTICO
	 - a possibilidade de recorrer à força é o elemento que distingue o poder político das outras formasde poder
	Nesse sentido é o conceito de Estado para Max Weber: “Hoje, o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte da qualidade característica –, reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima, pois o específico da atualidade é que a todas as demais associações ou pessoas individuais somente se atribui o direito de exercer coação física na medida em que o Estado o permita. Este é considerado a única fonte do ‘direito’ de exercer coação” (WEBER, 1999, pp. 525-526).
	Esse conceito weberiano é comumente aceito pela literatura: “Estamos de acordo com Max Weber em que é a força física legítima que constitui o fio condutor da ação do sistema político, ou seja, lhe confere sua particular qualidade e importância, assim como sua coerência como sistema. As autoridades políticas, e somente elas, possuem o direito, tido como predominante, de usar a coerção e de impor a obediência apoiados nela... quando falamos de sistema político, referimo-nos também a todas as interações respeitantes ao uso ou à ameaça de uso de coerção física legítima” (G. A. Almond e G. B. Powell, apud BOBBIO, 1991, p. 957).
	- o uso da força é condição necessária, mas não suficiente para a existência do poder político
	“O que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos que atuam num determinado contexto social, exclusividade que é o resultado de um processo que se desenvolve em toda sociedade organizada, no sentido da monopolização da posse uso dos meios com que se pode exercer a coação física. Este processo de monopolização acompanha pari passu o processo de incriminação e punição de todos os atos de violência que não sejam executados por pessoas autorizadas pelos detentores e beneficiários de tal monopólio” (BOBBIO, 1991, p. 956).
	Código Penal - Exercício arbitrário das próprias razões
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
	Constituição Federal - princípio da inafastabilidade da jurisdição
Art. 5º XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
A hipótese hobbesiana que serve de fundamento à teoria moderna de Estado
“...os indivíduos renunciam ao direito de usar cada um a própria força, que os tornava iguais no estado de natureza, para o confiar a uma única pessoa, ou a único corpo, que doravante será o único autorizado a usar a força contra eles” (BOBBIO, 1991, p. 956).
	Como consequência dessa monopolização, são citadas algumas características do poder político que o distinguem de outras formas de poder (BOBBIO, 1991, p. 957)
	Exclusividade
	tendência revelada pelos detentores do poder político ao não permitirem, no âmbito de seu domínio, a formação de grupos armados independentes e ao debelarem ou dispersarem os que porventura se vierem formando, assim como ao iludirem as infiltrações, as ingerências ou as agressões de grupos políticos do exterior
	Universalidade
	capacidade que têm os detentores do poder político, e eles sós, de tomar decisões legítimas e verdadeiramente eficazes para toda a coletividade, no concernente à distribuição e destinação dos recursos (não apenas econômicos)
	Inclusividade
	possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas possíveis da atividade dos membros do grupo e de encaminhar tal atividade ao fim desejado ou de a desviar de um fim não desejado, por meio de instrumentos de ordenamento jurídico, isto é, de um conjunto de normas primária destinadas aos membros do grupo e de normas secundárias destinadas a funcionários especializados, com autoridade para intervir em caso de violação daquelas
Uma definição geral: “pode-se definir como políticos os processos, atos ou instituições que definem polemicamente uma ordem vinculadora da convivência que realize o bem público”
	O que caracteriza a política são três ideias fundamentais. Esses elementos devem ser vistos em equilíbrio
	a) sentido finalista do bem público ou comum, que implica uma distribuição dos bens da comunidade
	b) caráter polêmico ou conflituoso dos atos que visam a realização do bem comum – implica liberdade na decisão
	c) poder, que pressupõe a qualificação dessa ordem como vinculadora, isto é, como uma ordem que o poder público vai promover e respaldar
	UMA TENTATIVA DE CONCLUSÃO (MIGUEL, 2007, p. 7)
“Como costuma acontecer com categorias tão básicas, é difícil produzir um conceito conciso, inequívoco e satisfatório de política. Ela envolve a obtenção e a distribuição de poder e de autoridade, a produção e a imposição das normas que regem a vida em sociedade e também as decisões vinculadas ao futuro comum de seus integrantes”
	TÁTICA PARA A PROVA
“Apesar da multiplicidade de facetas a que se aplica a palavra ‘política’, uma delas goza de indiscutível unanimidade: a referência ao poder político, à esfera da política institucional” (MAAR, 1994, p. 9)
A imprescindível comunicação entre as disciplinas tratada por Cândido Rangel Dinamarco: “Sociólogos e politicólogos pouco ou nada se interessam pelo processo jurisdicional e não têm o hábito de enquadrá-lo no contexto do exercício do poder; aliás, não têm a inteira percepção das diferenças entre o poder, em si mesmo, e o exercício organizado. Por outro lado, os processualistas, juristas que são, permanecem habitualmente mais ou menos presos à dogmática jurídica e, ainda que implicitamente, negam-se a ir além do círculo do direito” (DINAMARCO, 2008, p. 163).
Entretanto, em um texto de 1997, Marcos Faro de Castro afirma que uma das abordagens das Ciências Sociais da dimensão política da atuação das cortes judiciais “procura avaliar especificamente como (A) o processo judicial interage com o sistema político democrático, especialmente os poderes executivo e legislativo, e (B) quais os seus efeitos em termos de formulação e implementação de políticas públicas” (CASTRO, 1997). Especificamente para a Ciência Política, o autor afirma, no tocante ao funcionamento das cortes judiciais e seu papel na democracia: “é fácil perceber que a atuação de juízes, advogados privados e do setor público (procuradores e promotores) é um componente essencial do processo político da democracia” (CASTRO, 1997).
Portanto, a aula será dividida segundo a sugestão do Professor Marcos Faro de Castro.
a) Como se dá a interação da atividade jurisdicional com o sistema político democrático?
b) Qual o efeito dessa relação na formulação e na implementação de políticas públicas?
ATIVISMO JUDICIAL
RELAÇÃO ENTRE POLÍTICA E DIREITO – CONCEPÇÃO TRADICIONAL
	Luís Roberto Barroso descreve uma divisão tradicional entre o espaço da política e o espaço do direito:
	A) No plano de sua criação, não há como o direito ser separado da política, na medida em que é produto do processo constituinte ou do processo legislativo, isto é, da vontade das maiorias. O direito é, na verdade, um dos principais produtos da política, o troféu pelo qual muitas batalhas são disputadas. Em um Estado de direito, a Constituição e as leis, a um só tempo, legitimam e limitam o poder político.
	B) Já no plano da aplicação do direito, sua separação da política é tida como possível e desejável. Tal pretensão se realiza, sobretudo, por mecanismos destinados a evitar a ingerência do poder político sobre a atuação judicial. Isso inclui limitações ao próprio legislador, que não pode editar leis retroativas, destinadas a atingir situações concretas. Essa separação é potencializada por uma visão tradicional e formalista do fenômeno jurídico. Nela se cultivam crenças como a da neutralidade científica, da completude do direito e a da interpretação judicial como um processo puramente mecânico de concretização das normas jurídicas, em valorações estritamente técnicas (BARROSO, 2010, p. 17)
Sílviode Salvo Venosa também ajuda a esclarecer a relação entre Direito e Política: “O aplicador do Direito utiliza-se de leis elaboradas pelo Poder Legislativo e, por vezes, excepcionalmente, no Estado de Direito, pelo Poder Executivo. Nesse sentido, não pode ser esquecido que o Direito é um produto da Política. O operador do Direito também exerce uma função política. O Direito é, na verdade, um limitador da vontade política, pois, ao ser aplicado ao caso concreto, cerceia e limita a atividade política” (VENOSA, 2008, p. 235)
Mais adiante menciona: “O Direito é um instrumento da Política. No Direito existe uma área técnica e uma área política. A Política escolhe um caminho e o Direito instrumentaliza esse caminho possibilitando a consecução das diretrizes políticas. Nesse sentido, é possível dizer que existe o Direito da Política. A Política vale-se do Direito para a consecução de seus fins” (VENOSA, 2008, p. 235)
No mesmo sentido, Jose Eduardo Faria: “Talvez tenha sido Weber que nos conduziu àquela ideia de mandato que, se de um lado permite passar do nível externo da violência para o nível interno da obediência, de outro assenta-se na probabilidade de encontrar os meios necessários de imposição, que torne possível não apenas a transição entre a Ciência Política clássica e a contemporânea, como, igualmente, a preocupação em reaproximar a análise conjunta da Política e do Direito. Afinal, como se verá ao longo da unidade, o que é a norma se não a integração de fatos e valores, que encontra seu momento culminante num ato de escolha e prescrição, no qual se insere o poder político? Assim, se a política é a luta que os diferentes segmentos sociais desenvolvem com o objetivo de participar do poder, e se os sistemas políticos são aqueles que, graças ao monopólio da violência, impõem autoritariamente valores, o conteúdo dos textos normativos está condicionado à pauta política dos grupos que estão nos cargos de comando” (FARIA, José Eduardo. Legalidade e legitimidade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1979, p. 14 – sem o destaque no original).
RELAÇÃO ENTRE POLÍTICA E DIREITO – CONCEPÇÃO ATUAL
CONCEITUAÇÕES IMPORTANTES:
A) Segundo Tate e Vallinder, o ativismo judicial constitui uma atitude ou comportamento dos juízes no sentido de “participar da elaboração de políticas que poderiam ser deixadas ao arbítrio de outras instituições mais ou menos hábeis [...] e, por vezes, substituir decisões políticas deles derivadas por aquelas derivadas de outras instituições” (GARRIDO, 2008c, p. 104).
B) “Utiliza-se a expressão ‘ativismo judicial’ em um sentido amplo: compreende o papel ativo do STF na determinação do significado do texto constitucional e a sua atuação não puramente técnica, mas também política, que envolve, em outras palavras, a judicialização da política”. (GARAPON, A. O juiz e a democracia: o guardião das promessas. Rio de Janeiro: Revan, 1999).
OUTRAS TENTATIVAS CONCEITUAIS:
“O ativismo judicial é, então, percebido como uma atitude – entenda-se uma decisão, um comportamento – dos magistrados para revisar temas e questões prima facie, de competência de outras instituições. Por sua vez, a judicialização da política, mais ampla e estrutural, cuidaria de condições jurídicas, políticas e institucionais que favoreceriam a transferência decisória do eixo Poder Legislativo – Poder Executivo para o Judiciário” (GARRIDO et al., 2008c, p. 104).
“Na ciência política, os estudos sobre as relações das instituições judiciais com as instituições políticas têm utilizado uma expressão que determina o enfoque e orienta o debate: a judicialização da política” (MACIEL; KOERNER, 2002, p. 113).
Uma primeira acepção: o ativismo judicial será medido pela frequência com que um determinado magistrado ou tribunal invalida as ações (normas e atos normativos) de outros poderes de Estado, especialmente do Poder Legislativo. Em outros termos: com que frequência os tribunais “retiram a decisão das mãos dos eleitores” (SUNSTEIN, Cass. Radicals in robes: why extreme right-wing courts are wrong for America. New York: Basic Books, 2005, p. 41-44).
judicialização da política, “concebida, em breve síntese, como um processo de expansão decisória do Poder Judiciário em direção a áreas de competência tradicionalmente exercidas pelo Poder Executivo e Legislativo” (GARRIDO, 2008b, p. 38).
É também considerado ativista o magistrado ou tribunal que procura suprir omissões (reais ou aparentes) dos demais poderes com suas decisões, como, por exemplo, no tocante à definição ou concretização de políticas públicas ou regulamentação das regras do jogo democrático.
OBS: Especificamente sobre a omissão inconstitucional, confira a lista de decisões em que se declarou a mora do Poder Legislativo e cuja matéria ainda se encontra pendentes de disciplina - aqui
“De acordo com José Eisenberg (2002), a judicialização da política é um processo complexo composto por dois movimentos distintos: ‘1) refere-se a um processo de expansão dos poderes de legislar e executar leis do sistema judiciário, representando uma transferência do poder decisório do Poder Executivo e do Poder Legislativo para os juízes e tribunais – isto é, uma politização do judiciário; 2) a disseminação de métodos de tomada de decisão típicos do Poder Judiciário nos outros Poderes. Em nosso juízo, este segundo movimento é mais bem descrito como uma tribunalização da política, em oposição à judicialização representada pelo primeiro movimento’ (EISENBERG, J. Pragmatismo, direito reflexivo e judicialização da política. In: VIANNA, L. W. (Org.). A democracia e os três poderes no Brasil. 2002, p. 47)” (GARRIDO et al., 2008, p. 52, nota nº 38).
Ran Hirschl (2004) define esse processo como “juristocracia (juristocracy), ou seja, a progressiva transferência de poderes decisórios das instituições representativas para o Judiciário” (HIRSCHL, R. Towards juristocracy: the origins and consequences of the new constitutionalism. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2004, apud GARRIDO et al., 2008b, p. 52, notas nºs 36 e 39).
Para Marcos Faro de Castro, a literatura expõe dois componentes do conceito JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA:
um novo “ativismo judicial”, isto é, uma nova disposição de tribunais judiciais no sentido de expandir o escopo das questões sobre as quais eles devem formar juízos jurisprudenciais (muitas dessas questões até recentemente ficavam reservadas ao tratamento dado pelo Legislativo ou pelo Executivo);
o interesse de políticos é autoridades administrativas em adotar
procedimentos semelhantes aos processo judicial e 
parâmetros jurisprudenciais em suas deliberações (muitas vezes, o judiciário é politicamente provocado a fornecer esses parâmetros).
	seis diferentes dimensões para explicar a estrutura geral do conceito “ativismo judicial” segundo Bradley C. Canon:
	“(1) Majoritarianismo - o grau pelo qual políticas adotadas através de processos democráticos são judicialmente negadas.
	(2) Estabilidade interpretativa - o grau pelo qual recentes decisões das Cortes, doutrinas ou interpretações são alteradas.
	(3) Fidelidade interpretativa - o grau pelo qual provisões constitucionais são interpretadas contrariamente à clara intenção dos seus elaboradores ou à clara implicação da linguagem usada.
	(4) Distinção do processo substantivo/democrático - o grau pelo qual decisões judiciais fazem políticas substantivas mais do que afetam a preservação do processo político democrático.
	(5) Especificidade da política - o grau pelo qual uma decisão judicial estabelece a política ela mesma, em oposição à discrição permitida de outras agências ou indivíduos.
	(6) Avaliação de um produtor de política alternativo - o grau pelo qual uma decisão judicial ultrapassa sérias considerações do mesmo problema por outras agências governamentais” – Canon, Bradley C. Defining the dimensions of judicial activism. Judicature. s. I. n. 6. vol. 66. p. 237. 1983, p. 239.
ESQUEMA
	COMPORTAMENTO DECISÓRIO – JUSTIÇA EDA POLÍTICA
Tate e Vallinder apud GARRIDO, 2008c, p. 104
	MAGISTRATURA
	LEGISLATURA
	1. presença de duas partes e um juiz;
	1. presença de várias partes;
	2. audição aberta e balanço dos argumentos;
	2. barganhas e compromissos a portas fechadas;
	3. decisão de um juiz imparcial;
	3. princípio da maioria;
	4. sentenças de casos individuais (conforme precedentes, especialmente nos casos de revisão judicial);
	4. regras gerais, como as leis e orçamentos que orientam a policy making;
	5. verificação de fatos e de regra relevante (aplicada como a “única solução correta”).
	5. alocação de valores econômicos e políticos para a “solução política possível”.
CONDIÇÕES DA JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA
A “expansão” do poder das cortes judiciais é o resultado de diversas características do desenvolvimento histórico de instituições e de renovação conceitual em disciplinas acadêmicas.
Esse conjunto de condições estruturais tornam mais claro o conceito de judicialização da política em suas diferentes manifestações.
	FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA - Vallinder�
	a) a reação democrática em favor da proteção de direitos e contra as práticas populistas e totalitárias da II Guerra Mundial na Europa, que deu origem, por exemplo, à adoção de uma ampla carta de direitos na Grundgesetz alemã;
	b) a preocupação das esquerdas com a defesa de “direitos” contra “oligopolistas e oligarcas”, como no caso do trabalhismo inglês (anos 50) ou sueco (anos 70);
	c) o resgate intelectual e acadêmico de teorias de “direitos liberais”, presente em autores como Kant, Locke, Rawls e Dworkin e o concomitante desprestígio de autores como Hume e Bentham;
	d) a influência da atuação da Suprema Corte americana (especialmente a chamada Warren Court, nos anos 50-60) – para maiores informações clique aqui;
	e) a tradição européia (kelseniana) de controle da constitucionalidade das leis;
	f) os esforços de organizações internacionais de proteção de direitos humanos, sobretudo a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948;
	g) Marcos Faro acrescenta ainda outro fator determinante da judicialização da política, qual seja: o declínio da eficácia da política macroeconômica a partir do final dos anos 60.
Uma primeira conclusão a partir das considerações acima: o fenômeno não é invenção ou privilégio nacional.
Oscar Vilhena Vieira, em artigo denominado SUPREMOCRACIA, afirma: “A expansão da autoridade do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais em geral não é, no entanto, um fenômeno estritamente brasileiro. Há, hoje, uma vasta literatura que busca compreender este fenômeno de avanço do direito em detrimento da política e consequente ampliação da esfera de autoridade dos tribunais em detrimento dos parlamentos” (VIEIRA, 2008, 442).
O caso brasileiro
Alexandre Garrido, et. al., entretanto, defendem que, no Brasil há um fenômeno inverso que merece atenção especial por sua singularidade:
“As condições estruturais estão presentes formalmente no nosso sistema político-jurídico desde a promulgação da Constituição de 1988, mas apenas recentemente a temática ganhou o destaque dos meios de comunicação de massas e o interesse generalizado de juristas e cientistas sociais. Tal fato revela a precedência, no caso brasileiro, do ativismo judicial do STF [veja o questionamento abaixo] sobre o fenômeno de judicialização da política, revelando-se como condição subjetiva – ou seja, como uma atitude assumida pelos magistrados em relação às decisões e omissões dos demais poderes – indispensável para se identificar o processo de judicialização da política no sistema político brasileiro” (GARRIDO, et al., 2008c, p. 105).
Ernani Rodrigues de Carvalho possui uma proposta apontando para a necessidade de “estruturarem-se melhor os indícios de uma possível judicialização da política no Brasil" (CARVALHO, 2004, p. 115).
	PARA O CASO BRASILEIRO:
CONDIÇÕES POLÍTICAS PARA SURGIMENTO DA JUDICIALIZAÇÃO
(CARVALHO, 2004)
	DEMOCRACIA
	Condição necessária, porém não suficiente para o surgimento da judicialização.
	Não é possível compatibilizar governos autoritários e a expansão do poder judicial.
	No caso do Brasil, a história do STF está repleta de exemplos que comprovam a impossibilidade de existir um processo de expansão do poder judicial na fase autoritária.
	Um tema paralelo pode ser mencionado aqui. Ao tratar das mudanças importantes associadas ao neoconstitucionalismo, Daniel Sarmento afirma: “Estas novas ideias já reverberam fortemente na jurisprudência nacional, sobretudo do Supremo Tribunal Federal, que, nos últimos tempos, tem cada vez mais invocado princípios abertos nos seus julgamentos, recorrido à ponderação de interesses e ao princípio da proporcionalidade com frequência e até se valido de referências filosóficas na fundamentação de decisões. Aliás, é digna de nota a influência da doutrina constitucional na atuação do Supremo Tribunal Federal. O fenômeno é relativamente recente, uma vez que, logo após a promulgação da Constituição de 88, havia um profundo hiato entre o campo doutrinário, que cobrava a efetivação da Constituição pela via judicial, e a jurisprudência do STF, tímida e reticente diante dos valores e das inovações da nova Carta - v.g. orientação então adotada pela Corte em relação ao mandado de injunção e ao controle judicial das medidas provisórias. Aquele quadro podia em parte ser debitado à duvidosa opção do constituinte originário de manter no STF os ministros nomeados durante o governo militar, que não tinham sintonia político-ideológica nem boa vontade diante do novo sistema constitucional, e que por isso se apegavam a visões e interpretações assentadas durante o regime pretérito, muitas delas francamente incompatíveis com a nova ordem. Mas hoje, após a completa renovação do STF, constata-se um quadro radicalmente diferente: a maioria dos ministros do STF é composta por professores de Direito Constitucional, de grande reputação acadêmica, que, até pela origem, têm mais contato com a produção intelectual de ponta na área e são mais suscetíveis à influência das novas correntes de pensamento” (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais - RBEC, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009 – grifei).
	SEPARAÇÃO DOS PODERES
	A liberdade política, para Montesquieu, somente pode existir quando não se abusa do poder. Diz ele: "... a experiência eterna mostra que todo homem que tem poder é tentado a abusar dele; vai até onde encontra limites. Quem diria! A própria virtude tem necessidade de limites" (MONTESQUIEU, 1995, p. 118 - LIVRO XI, CAPÍTULO IV).
	Ele menciona que "Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos" (MONTESQUIEU, 1995, p. 119 - LIVRO XI, CAPÍTULO VI). O ideal, portanto, é distribuir os "três poderes e daí calcular os graus de liberdade que cada um pode fruir" (MONTESQUIEU, 1995, p. 138 - LIVRO XI, CAPÍTULO XX).
	A história do Brasil mostra que o dispositivo constitucional da separação dos poderes, tal qual a democracia brasileira, pouco ou de nada valeu antes da Constituição de 1988.
	Depois do golpe de 1964, o Legislativo e o Judiciário sofreram profundas alterações.
	Apesar da assimetria entre os poderes persistir ainda hoje, após a Constituição de 1988 as competências dos três ramos de poder parecem estar mais cristalizadas do que antes.
	DIREITOS POLÍTICOS
	A existência de direitos políticos formalmente reconhecidos por uma Constituição
	Advertência: muitas vezes a existência de direitos formalmente estabelecidos não significa sua aplicação pelas autoridades competentes.
	Entretanto, desde 1988, pode-se detectar um nível aceitável de obediência à lei por parte da alta hierarquiagovernamental, pelo menos no que diz respeito aos direitos individuais.
	UM DEBATE JURÍDICO DECORRENTE
	Para a professora Gisele Cittadino, existem algumas consequencias para o ativismo judicial:
a) transforma em questão problemática os princípios da separação dos poderes e da neutralidade política do Poder Judiciário;
b) inaugura um tipo inédito de espaço público, desvinculado das clássicas instituições político-representativas.
	Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
	Oswaldo Canela Junior: "Para o Estado social atingir esses objetivos, faz-se necessária a realização de metas, ou programas, que implicam o estabelecimento de funções aos Poderes Públicos, para a consecução dos objetivos predeterminados pelas Constituições e pelas leis. Desse modo, formulado o comando constitucional ou legal, impõe-se ao Estado promover as ações necessárias para a implementação dos objetivos fundamentais. E o poder do Estado, embora uno, é exercido segundo especialização de atividades: a estrutura normativa da Constituição dispõe sobre suas três formas de expressão: a atividade legislativa, executiva e judiciária" (apud GRINOVER, 2010, pp. 12-13)
	A separação de poderes ganha outra feição (ver aula de fontes do direito)
	"o Estado é uno e uno é seu poder. Exerce ele seu poder por meio de formas de expressão (ou Poderes). Para racionalização da atividade estatal, cada forma de expressão do poder estatal exerce atividade específica, destacada pela Constituição. No exercício de tais funções é vedada às formas de expressão do poder estatal interferência recíproca: é este o sentido da independência dos poderes" (Oswaldo Canela Junior, apud GRINOVER, 2010, p. 13)
	A harmonia entre os poderes deve ocorrer para que os objetivos fundamentais do Estado sejam alcançados
	Considerada essa premissa, o Poder Judiciário fica autorizado a analisar o fundamento de todos os atos estatais a partir dos objetivos fundamentais inseridos na Constituição
	O controle constitucional de políticas públicas por parte do Judiciário não ocorre somente diante de violação frontal à Constituição, mas também quando os atos do Poder Público não respeitam os fins do Estado: "...contando com o juiz como co-autor das políticas públicas, fica claro que sempre que os demais poderes comprometerem a integridade e a eficácia dos fins do Estado - incluindo as dos direitos fundamentais, individuais ou coletivos - o Poder Judiciário deve atuar na sua função de controle" (Oswaldo Canela Junior, apud GRINOVER, 2010, p. 14)
	Nesse espírito (mas referindo-se especificamente ao controle de constitucionalidade), Humberto Ávila o argumento “simplista” de que o Poder Judiciário não poderia controlar outro Poder em razão do princípio da separação de Poderes: “O princípio democrático só será realizado se o Poder Legislativo escolher premissas concretas que levem à realização dos direitos fundamentais e das finalidades estatais. Os direitos fundamentais, quanto mais forem restringidos e mais importantes forem na ordem constitucional, mais devem ter sua realização controlada. A tese da insindicabilidade das decisões do Poder Legislativo, sustentada de modo simplista, é uma monstruosidade que viola a função de guardião da Constituição atribuída ao Supremo Tribunal Federal, a plena realização do princípio democrático e dos direitos fundamentais bem como a concretização do princípio da universalidade da jurisdição” (ÁVILA, 2011, p. 189).
	passsagem do Estado liberal para o estado democrático de direito
	DECISÃO EMBLEMÁTICA
PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF) - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO À SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA.
O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar - políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar. - O direito à saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas - representa conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional.
A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE.
O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro - não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES.
O reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos fundamentais da Constituição da República (arts. 5º, caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência de sua própria humanidade e de sua essencial dignidade - RE 271286 AgR, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12/09/2000 - LINK.
	Nesse sentido, Gisele Cittadino menciona que o processo de “judicialização da política” não pode ser compreendido fora do movimento de decadência do constitucionalismo liberal, marcado pelo positivismo: “O crescente processo de ‘juridificação’ das diversas esferas da vida social só é compatível com uma filosofia constitucional comprometida com o ideal da igualdade-dignidade humanas e com a participação político-jurídica da comunidade” (CITTADINO, 2004, p. 106).
	O USO DOS TRIBUNAIS PELOS GRUPOS DE INTERESSE
	“A politização desta esfera de jurisdição do Tribunal foi expandida em relação ao período constitucional anterior, na medida em que a legitimidade para a proposição de ações diretas foi conferida a novos atores políticos e sociais, conforme disposto pelo artigo 103 da Constituição Federal superando a fase em que as chaves de acesso ao controle direto de constitucionalidade pelo Supremo só eram conferidas ao Procurador Geral da República” (VIEIRA, 2008, pp. 447/448).
	A judicialização da política é um processo que se alimenta dos interesses econômicos e sociais centrais, que por sua vez estruturam o sistema político.
	O desenvolvimento e a expansão dos direitos em geral, até mesmo dos direitos políticos, foram mais propriamente obra de pressões e lutas das organizações sociais, sejam elas movimentos sociais ou grupos de interesse, do que obra de devoção de atores altruístas.
	“À medida que os grupos descobrem a utilidadedos tribunais para alcançar os seus objetivos, eles progressivamente ampliam a concepção de direito, eis que seus interesses passam a fazer parte de uma espécie de carta formal de direitos” (TATE e VALINDER, apud PEREIRA, 2011, p. 31)
	Daniel Sarmento afirma que a sistemática de jurisdição constitucional de 88 "favoreceu, em larga medida, o processo de judicialização da política, na medida em que conferiu a qualquer partido político com representação no Congresso, às representações nacionais da sociedade civil organizada e às principais instituições dos Estados-membros, dentre outras entidades, o poder de provocar o STF" (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009).
	Tomando como base analítica as Ações Diretas de Inconstitucionalidade, o estudo constata que, das 2.813 ações diretas impetradas até 26.06.2003, um total de 740 (ou 26,31%) foram impetradas por confederações sindicais ou entidades de classe.
	INTERESSE LEGÍTIMO – A esse respeito, confira os votos sobre o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar: Ayres Britto, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio - ADI 4277, Relator: Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011
	UM USO ESTRATÉGICO/POLÍTICO: O caso do Mandado de Segurança da tramitação das MPs: Veja decisão cautelar, de 27.03.2009�, do Ministro Celso de Mello Relator do Mandado de Segurança nº 27.931, a respeito do art. 62, §6º, da Constituição, na redação dada pela EC 32/2001: “Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
TRECHO: “Trata-se de mandado de segurança preventivo, com pedido de liminar, impetrado por ilustres membros do Congresso Nacional contra decisão do Senhor Presidente da Câmara dos Deputados que ‘(...) formalizou, perante o Plenário da Câmara dos Deputados, seu entendimento no sentido de que o sobrestamento das deliberações legislativas - previsto no §6º do art. 62 da Constituição Federal - só se aplicaria, supostamente, aos projetos de lei ordinária’. (...) Mais do que isso, a decisão em causa teria a virtude de devolver, à Câmara dos Deputados, o poder de agenda, que representa prerrogativa institucional das mais relevantes, capaz de permitir, a essa Casa do Parlamento brasileiro, o poder de selecionar e de apreciar, de modo inteiramente autônomo, as matérias que considere revestidas de importância política, social, cultural, econômica e jurídica para a vida do País, o que ensejará – na visão e na perspectiva do Poder Legislativo (e não nas do Presidente da República) – a formulação e a concretização, pela instância parlamentar, de uma pauta temática própria, sem prejuízo da observância do bloqueio procedimental a que se refere o §6º do art. 62 da Constituição, considerada, quanto a essa obstrução ritual, a interpretação que lhe deu o Senhor Presidente da Câmara dos Deputados”.
	O USO DOS TRIBUNAIS PELA OPOSIÇÃO
	Os partidos de oposição, quando não conseguem barrar as alterações realizadas pela maioria, utilizam-se dos tribunais para frear, obstaculizar e até mesmo inviabilizar as alterações em curso.
	A abertura do Supremo Tribunal Federal a outros atores políticos “...tem transformado o Tribunal, em muitas circunstâncias, em uma câmara de revisão de decisões majoritárias, a partir da reclamação daqueles que foram derrotados na arena representativa” (VIEIRA, 2008, p. 448).
Sobre o crescimento da importância política do Poder Judiciário, prescreve Daniel Sarmento: “Com frequência cada vez maior, questões polêmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por magistrados, e sobretudo por cortes constitucionais, muitas vezes em razão de ações propostas pelo grupo político ou social que fora perdedor na arena legislativa (Cf. Martin Shapiro; Alec Stone Sweet. On Law, Politics and Judicialization. New York: Oxford University Press. p. 136-208). De poder quase "nulo", mera "boca que pronuncia as palavras da lei", como lhe chamara Montesquieu, o Poder Judiciário se viu alçado a uma posição muito mais importante no desenho institucional do Estado contemporâneo” (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais - RBEC, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009).
	A utilização das ADINs como instrumento de contestação de políticas tornou-se um recurso freqüente.
	Os trabalhos de Werneck Vianna� e Carvalho� demonstram, com clareza, que a maioria das ações foram propostas por partidos de oposição. De 1988 até 1998, tivemos 74% das ADINs impetradas oriundas de partidos de oposição.
	Esses dados demonstram que o uso dos tribunais pela oposição é um fato consumado no Brasil. Mesmo, mais recentemente: “...é curioso notar que o partido político que mais trazia casos ao Supremo no período Fernando Henrique Cardoso era o Partido dos Trabalhadores (PT) e, agora, na gestão Lula, o Partido dos Democratas (DEM) passou a ocupar a primeira posição entre os usuários do Tribunal, seguido de perto pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)” (VIEIRA, 2008, p. 448).
DIAGNÓSTICO FEITO PELOS MINISTROS:
Min. Gilmar Mendes: “Assim, alternando momentos de maior e menor ativismo judicial, o STF, ao longo de sua história, tem entendido que a discricionariedade das medidas políticas não impede o seu controle judicial, desde que haja violação a direitos assegurados pela Constituição. Mantendo essa postura, o STF, na última década, tem atuado ativamente no tocante ao controle judicial das questões políticas, nas quais observa violação à Constituição. Os diversos casos levados recentemente ao Tribunal envolvendo atos das Comissões Parlamentares de Inquérito corroboram essa afirmação” MEDIDA CAUTELAR NO MANDADO DE SEGURANÇA 26915 - ofensa ao devido processo legislativo constitucional: escolha de relator de PEC.
Min. Celso de Mello asseverou que: “A colmatação de omissões inconstitucionais: um gesto de respeito pela autoridade da Constituição da República. Nem se alegue, finalmente, no caso ora em exame, a ocorrência de eventual ativismo judicial exercido pelo STF, especialmente porque, dentre as inúmeras causas que justificam esse comportamento afirmativo do Poder Judiciário, de que resulta uma positiva criação jurisprudencial do direito, inclui-se a necessidade de fazer prevalecer a primazia da Constituição da República, muitas vezes transgredida e desrespeitada, como na espécie, por pura e simples omissão dos poderes públicos. Na realidade, o STF, ao suprir omissões inconstitucionais dos órgãos estatais e ao adotar medidas que objetivem restaurar a Constituição violada pela inércia dos Poderes do Estado, nada mais faz senão cumprir sua missão constitucional e demonstrar, com esse gesto, o respeito incondicional que tem pela autoridade da Lei Fundamental da República” (ADI 4277, Relator: Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011 - O caso da UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO)
Gilmar Mendes fez constar em seu voto: “Assim, alternando momentos de maior e menor ativismo judicial, o STF, ao longo de sua história, tem entendido que a discricionariedade das medidas políticas não impede o seu controle judicial, desde que haja violação a direitos assegurados pela Constituição. Mantendo essa postura, o STF, na última década, tem atuado ativamente no tocante ao controle judicial das questões políticas, nas quais observa violação à Constituição. Os diversos casos levados recentemente ao Tribunal envolvendo atos das Comissões Parlamentares de Inquérito corroboram essa afirmação” (MS 26915 MC, Relator: Min. GILMAR MENDES, julgado em 08/10/2007)
EXEMPLOS(SARMENTO, 2009).
	Mudança de paradigma refletida na jurisprudência do STF:
	a alteração da posição da Corte em relação aos direitos sociais, antes tratados como "normas programáticas", e hoje submetidos a uma intensa proteção judicial:
	Petição 1.246 MS/SC, julgada em 31/01/1997 (obrigação do Estado de realizar transplante de células mioblásticas para salvar a vida de criança);
	Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinário 271.286/RS, DJU, 24 nov. 2000 (entrega de medicamentos para portadores de HIV);
	Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinário nº 410.715-5, julgado em 22/11/2005 (obrigação de fornecimento de vagas para educação infantil pelo município, com atendimento em creches e pré-escola).
	reconhecimento da eficácia horizontal dos direitos fundamentais: Recursos Extraordinários nºs. 158.215-4/RS, 161.243-6/DF, 201.819/RJ
	mutação do entendimento do Tribunal em relação às potencialidades do mandado de injunção: Cf. Mandado de Injunção 670/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25.10.2007, em que o STF, revendo orientação anterior, deu eficácia normativa à sentença proferida no mandado de injunção. No caso, decidiu-se que, até o advento de lei regulamentadora sobre a greve no serviço público, o direito de greve poderia ser exercido, obedecendo-se os limites impostos pela Lei 7.783/89, que trata dos movimentos paredistas em serviços essenciais no setor privado.
	progressiva superação da visão clássica kelseniana da jurisdição constitucional, que a equiparava ao "legislador negativo", com a admissão de técnicas decisórias mais heterodoxas,94 como as declarações de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade e as sentenças aditivas.
	E para completar o quadro, deve-se acrescentar as mudanças acarretadas por algumas inovações processuais recentes na nossa jurisdição constitucional, que permitiram a participação dos amici curiae, bem como a realização de audiências públicas no âmbito do processo constitucional, ampliando a possibilidade de atuação da sociedade civil organizada no STF.
	A MODIFICAÇÃO DA AGENDA
	a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forças sociais a procurá-lo com mais frequência e contribui para uma significativa alteração na agenda da Corte. Atualmente, ao lado das questões mais tradicionais de Direito Público, o STF tem se defrontado com novos temas fortemente impregnados de conteúdo moral, como:
	as discussões sobre a validade de pesquisa em células-tronco embrionárias: ADIN 3.510/DF, Relator Ministro Carlos Ayres Britto. A ação, proposta contra o art. 5º da Lei de Biossegurança, impugnava a autorização de pesquisas com embriões humanos resultantes de fertilização in vitro que fossem inviáveis ou estivessem congelados há mais de três anos. A ação foi julgada totalmente improcedente, por 6 votos a 5.
	aborto de feto anencefálico: ADPF 54
	união entre pessoas do mesmo sexo: ADPF 132
	NOVA CONFIGURAÇÃO DA RELAÇAO ENTRE OS PODERES
	o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no processo político, adotando decisões que se refletem de forma direta e profunda sobre a atuação dos demais poderes do Estado. Para citar apenas alguns casos, pode-se falar:
	da decisão que assentou que a mudança de partido implica, salvo determinadas exceções, perda de mandato parlamentar: Mandados de Segurança 26.602/DF, 26.603/DF e 26.604/DF. Informativo STF, n. 482.
	da que estabeleceu critérios rígidos para a fixação do número de vereadores de acordo com a respectiva população: Recurso Extraordinário 197.917/SP, Rel. p/ acórdão, Min. César Peluso, DJU, 18 fev. 2005.
	da intensificação do controle jurisdicional dos atos das CPIs, bem como dos pressupostos de edição das medidas provisórias.
IMPORTANTE
Convém perguntar se o movimento inverso é possível, ou seja:
SE É POSSÍVEL A PASSAGEM DA ARENA REPRESENTATIVA PARA A JUDICIÁRIA, DADO O ESPECTRO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, EXISTE ALGUMA POSSIBILIDADE DE O LEGISLATIVO CORRIGIR A JURISPRUDÊNCIA?
A respeito do tema veja o texto de Gustavo da Gama Vital de Oliveira.
O trabalho investiga as alternativas legislativas que o Congresso pode adotar com a intenção de corrigir as decisões do STF. Sua hipótese é: “A correção legislativa da jurisprudência pode preencher importante papel na democracia, pois representa a possibilidade de uma troca de experiências entre os poderes do Estado e permite que interesses derrotados na esfera judicial possam apresentar novos argumentos em esfera diversa”.
	EMENDAS CONSTITUCIONAIS COM PROPÓSITO DE SUPERAR A JURISPRUDÊNCIA
	CASO 1 - RE 197917, Relator: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 06.06.2002 – “Inconstitucionalidade, incidenter tantun, da lei local que fixou em 11 (onze) o número de Vereadores, dado que sua população de pouco mais de 2600 habitantes somente comporta 09 representantes. 8. Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade”.
RESOLUÇÃO TSE Nº 21.702, de 02.04.2004 - PETIÇÃO Nº 1.442 - Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. “Art. 1º Nas eleições municipais deste ano, a fixação do número de vereadores a eleger observará os critérios declarados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nº 197.917, conforme as tabelas anexas".
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 58, DE 23.09.2009: O inciso IV do caput do art. 29 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 29.(...) IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite máximo de:(...) b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes;
	CASO 2: RE 166.772, Relator: Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 12/05/1994: “A relação jurídica mantida com administradores e autônomos não resulta de contrato de trabalho e, portanto, de ajuste formalizado à luz da Consolidação das Leis do Trabalho. Daí a impossibilidade de se dizer que o tomador dos serviços qualifica-se como empregador e que a satisfação do que devido ocorra via folha de salários. Afastado o enquadramento no inciso I do artigo 195 da Constituição Federal, exsurge a desvalia constitucional da norma ordinária disciplinadora da matéria. A referencia contida no §4º do artigo 195 da Constituição Federal ao inciso I do artigo 154 nela insculpido, impõe a observância de veículo próprio - a lei complementar. Inconstitucionalidade do inciso I do artigo 3º da Lei nº 7.787/89, no que abrangido o que pago a administradores e autônomos. Declaração de inconstitucionalidade limitada pela controvérsia dos autos, no que não envolvidos pagamentos a avulsos”.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15.12.1998: A Constituição Federal passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 195 - A seguridade social será financiada por toda a sociedade, (...) mediante recursos provenientes (...) das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;"
	CASO 3: RESOLUÇÃO TSE N° 21.002, de 26.02.2002 CONSULTA N° 715 Relator: Ministro Garcia Vieira: “Os partidos políticos que ajustarem coligação para eleição de presidente da República não poderão formar coligações para eleição de governador de estado ou do Distrito Federal, senador, deputado federal e deputado estadual ou distrital com outros partidos políticos que tenham, isoladamente ou em aliança diversa, lançado candidato à eleição presidencial”.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 52, de 08.03.2006: o Art. 1º O § 1º do art. 17 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: “§1º É asseguradaaos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária”.
OBS: Na ADI 3685 (Relatora a Min. ELLEN GRACIE), julgado em 22.03.2006, o STF declarou que as regras da EC 52/2006 somente podem ser aplicadas “após decorrido um ano da data de sua vigência”.
	Caso 4: ADI 2240, Relator: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 09/05/2007: O CASO DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES: “Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade, mas não pronunciar a nulidade pelo prazo de 24 meses, da Lei n. 7.619, de 30 de março de 2000, do Estado da Bahia” e ADI 3689, Relator: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2007: O CASO DO MUNICIPIO DE OURILÂNDIA DO NORTE/PA: “Declaração de inconstitucionalidade da lei estadual sem pronúncia de sua nulidade 13. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade, mas não pronunciar a nulidade pelo prazo de 24 meses, da Lei n. 6.066, de 14 de agosto de 1.997, do Estado do Pará”.
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 57, DE 18.12.2008: O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte art. 96: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação”.
A QUESTÃO QUE SE COLOCA É A SEGUINTE: É possível concluir que uma vertente é melhor que a outra??
RESPOSTA DO PODER JUDICIÁRIO:
1 - O ministro Moreira Alves no Mandado de Segurança 20257 – caso de controle de constitucionalidade preventivo feito pelo Judiciário –, julgado em 8 de outubro de 1980, afirmou que o Poder Judiciário encontra-se “acima dos demais Poderes, não havendo, pois, que falar-se, a esse respeito, em independência de Poderes”.
2 – “Confirma-se hoje que a Constituição Federal é o que o Supremo diz que ela é” Voto Ministro Marco Aurélio, MS 26602 - caso da fidelidade partidária.
3 – Ministro Gilmar Ferreira Mendes, quando do julgamento da ação proposta pela AMB sobre os candidatos ficha suja, afirmou: “cada vez nós sabemos mais que o Direito deve ser achado na lei e não na rua”�
	INDAGAÇÕES SÃO FEITAS POR ANA PAULA DE BARCELLOS:
	Não seria paternalista e presunçoso imaginar que os juristas, e os juízes, tomariam melhores decisões em matéria de políticas públicas que os agentes públicos encarregados dessa função?
	Seriam os juristas mais sábios, teriam um acesso diferenciado ao conhecimento do que é bom ou adequado nesse particular?
	Seriam mais éticos ou mais comprometidos com o interesse público?
“A prática jurídica mostra que magistrados ativistas podem tanto adotar um posicionamento progressista quanto uma decisão conservadora. Ao mesmo tempo, não é possível afirmar, de antemão, que uma atitude ativista seja sempre a atitude correta ou incorreta diante de todos os casos jurídicos possíveis, especialmente em casos difíceis” (GARRIDO, 2008b, pp. 54/55).
EXEMPLO HISTÓRICO
A professora de ciência política, Ingeborg Maus, no clássico texto “Judiciário como superego da sociedade” examinou “a tradição da jurisprudência constitucional alemã a fim de demonstrar que por trás de generosas ideias de garantia judicial de liberdades e da principiologia da interpretação constitucional podem esconder-se a vontade de domínio, a irracionalidade e o arbítrio cerceador da autonomia dos indivíduos e da soberania popular, constituindo-se como obstáculo a uma política constitucional libertadora” (MAUS, Ingeborg. Judiciário como superego da sociedade: o papel da atividade jurisprudencial na ‘sociedade orfã’. Tradução do alemão: Martonio Lima e Paulo Albuquerque. Novos Estudos Cebrap. n. 58, p. 183-202, nov. 2000, p. 183).
RESPOSTAS CIENTÍFICAS:
DANIEL SARMENTO: “...vejo com reticências a sedimentação, na nossa cultura jurídica, da visão de que o grande – senão o único – intérprete da Constituição seria o Poder Judiciário�. Esta leitura descarta a autocontenção judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam travados construtivos diálogos interinstitucionais entre diversos órgãos estatais para a definição da melhor interpretação dos ditames constitucionais�” (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais. v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009).
MARCELO NEVES: “os diversos procedimentos estruturados circularmente, permitem que os valores e interesses presentes na esfera pública, assim como as exigências de esferas autônomas da sociedade, tenham sempre meios de acesso ao Estado de Direito. O controle recíproco entre os procedimentos impede uma decisão definitiva excludente. Seja em outro momento procedimental ou em outro tipo de procedimento (por exemplo, a declaração de inconstitucionalidade proposta por uma minoria parlamentar), os interesses, valores e exigências provisoriamente excluídos podem ressurgir como vitoriosos, exceto nos casos em que se pretende destruir a própria ordem da pluralidade procedimental” (NEVES, Marcelo. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 195/196, apud OLIVEIRA, 2010, p.164).
GUSTAVO DA GAMA VITAL DE OLIVEIRA comenta esse trecho de Marcelo Neves: “A noção desenvolvida por Marcelo Neves nos parece plenamente aplicável ao figurino da correção legislativa da jurisprudência, que se caracteriza perfeitamente como um dos instrumentos do processo de circularidade dos procedimentos democráticos no âmbito do Estado de Direito mencionado pelo autor, impedindo a configuração de uma decisão definitiva excludente. Em outros termos, determinado interesse que tenha sido contrariado pela formação de entendimento jurisprudencial (procedimento jurisdicional) pode buscar sua afirmação no âmbito de outro procedimento – no caso, a correção legislativa da jurisprudência, por meio do procedimento legislativo-parlamentar” (OLIVEIRA, 2010, p. 164).
UM OUTRO ENFOQUE SOBRE A FOSSILIZAÇÃO
	O problema da limitação do legislador atual pelas decisões do constituinte, adotadas no passado, envolve a problemática da partilha intergeracional de poder, bem explicitada na fala de Jefferson, que defendia que, a cada 19 anos, deveria ser elaborada uma nova Constituição nos Estados Unidos, para que a Lei Maior daquele país não se tornasse um mecanismo de "governo dos mortos sobre os vivos". Em síntese apertada, há, na teoria política contemporânea, duas linhas principais de justificativa para a legitimidade destas restrições.
Uma é a teoria da democracia dualista, defendida por Bruce Ackerman, que sustenta que as decisões adotadas pelo próprio povo, em contextos de grande mobilização cívica, devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo, formada em momentos em que a cidadania não esteja intensamente envolvida. Esta teoria distingue a política extraordinária, correspondente àqueles "momentos constitucionais", da política ordinária, que se realiza através das deliberações do dia a dia dos órgãos representativos. Para a perspectiva ackermaniana, a política extraordinária - que não exige, necessariamente, formalização procedimental através de assembleia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior à política ordinária, e pode legitimamente impor limites a esta (cf. Bruce Ackerman. We the people: Foundations. Cambridge: The Belknap Press, 1991. p. 03-33).
Outra teoria é a do pré-compromisso, que já foi advogada por Jon Elster. Segundo ela, é legítimo subtrair do alcance das maiorias determinadas questões fundamentais, que expressam princípios fundamentais de justiça política, ou garantam os pressupostos da própria democracia,tendo em vista o risco de que, no processo político majoritário, em momentos de irracionalidade, o povo possa ser vítima de suas próprias fraquezas ou paixões momentâneas, atentando contra tais princípios (cf. Ulisses and Sirens. Cambridge: Cambridge University Press, 1979).
Ambas as concepções – a primeira mais próxima ao republicanismo e a segunda de viés mais liberal –, têm a sua dose de procedência, mas ensejam críticas importantes. Todavia, foge a escopo do presente trabalho analisar esta questão, que é uma das mais complexas da Filosofia Política moderna e contemporânea. Para uma visão geral sobre o tema na literatura em língua portuguesa, veja-se Oscar Vilhena Vieira. A Constituição e sua reserva de justiça. Op. cit; Miguel Nogueira de Brito. A Constituição constituinte: ensaio sobre o poder de revisão da Constituição. Coimbra: Coimbra, 2000; Samantha Chantal Dobrowolski. Op. cit; p. 265-312; Rodrigo Brandão. Direitos fundamentais, democracia e cláusulas pétreas. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 59-112.
(SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais. v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009, nota de rodapé nº 107).
	Nessa análise, É “POLITICAMENTE CORRETA” A SÚMULA VINCULANTE
Constituição Federal, art. 103-A: “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
	Lei nº 11.417, DE 19.12.2006 – Regulamenta o art. 103-A da Constituição Federal
Art. 2º O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, editar enunciado de súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma prevista nesta Lei.
(...)
Art. 5º Revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o Supremo Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.
Outros casos de correção legislativa ou tentativas:
	O Supremo Tribunal Federal editou, em 24.09.03, a Súmula nº 622/STF, vedando a interposição do recurso para o combate de decisão monocrática do relator que concede ou indefere medida liminar em Mandado de Segurança de competência originária: “não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandado de segurança”.
LEI Nº 12.016, DE 07.08.2009 (nova disciplina do mandado de segurança), art. 16, Parágrafo único: “Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre”.
“A nova lei do mandado de segurança - Lei nº 12.016/2009, art. 16, parágrafo único - derrogou o enunciado da Súmula nº 622/STF (“não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandado de segurança”) – STF: MS 28177 MC-AgR. Logo, é adequada a interposição agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandado de segurança” - 20100020001696MSG, Relator FLAVIO ROSTIROLA, Conselho Especial, julgado em 02/02/2010.
	PROJETO DE LEI 4367/2008�, da Deputada Elcione Barbalho – PMDB/PA – Estabelece que o namoro configura relação íntima de afeto para os efeitos da Lei 11.340, de 7 de Agosto de 2006 – Lei Maria da Penha.
“...a despeito de sua inequívoca importância para o enfrentamento da violência doméstica, a Lei Maria da Penha não tem sido aplicada pelo Poder Judiciário de acordo com a vontade do Legislador. A jurisprudência tem entendido que as agressões cometidas por ex-namorado não se enquadram na lei Maria da Penha.
Desafortunadamente, o julgador não percebeu a realidade que cerca as mulheres brasileiras. A leitura da decisão do Conflito de Competência 91.980-MG do STJ revela uma grave forma de discriminação contra a mulher:
(...)
Ora, o Legislativo não pode se quedar inerte diante dessa interpretação da lei, que beneficia determinado grupo de agressores, qual seja: namorados e ex-namorados. Não há razões nem premissas que justifiquem tal hermenêutica.
Portanto, em razão desse contexto, apresento esta proposição cujo desiderato é garantir a aplicação da Lei Maria da Penha aos casos de agressões contra mulheres perpetradas por namorados e ex-namorados”.
	Lei Distrital nº 540, DE 21.09.1993: Art. 1º Fica criada a Gratificação de Ensino Especial – GATE destinada aos servidores das Carreiras Magistério Público e Assistência à Educação da Fundação Educacional do Distrito Federal que atendam a alunos portadores de necessidades educativas ou situação de risco e vulnerabilidade, em unidades especializadas de ensino da rede pública ou conveniadas.
“A legislação até a entrada em vigor da Lei n.º 4.075/2007, não limita a concessão da GATE aos professores que lecionem em instituições destinadas unicamente a educar alunos especiais ou em classe composta exclusivamente de referidos alunos. Classe especial é aquela que possui em seus quadros alunos com necessidades especiais, em qualquer número” - 20080111195164EIC, Relator CARMELITA BRASIL, 2ª Câmara Cível, julgado em 08/08/2011.
Lei Distrital nº 4.075, DE 28.12.2007 - art. 21, §3º, I: “A Gratificação de Atividade de Ensino Especial concedida aos professores do DF que atendam exclusivamente a alunos portadores de necessidades educativas ou em situações de risco e vulnerabilidade...”.
O ATIVISMO USADO COMO AVANÇO SOCIAL:
"...o ativismo judicial pode, em certos contextos, atuar em sinergia com a mobilização social na esfera pública. Isto ocorreu, por exemplo, no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60, que foi aquecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte, no período da Corte de Warren (Cf. Charles R. Epp. The Rights Revolution. Chicago: The University of Chicago Press, 1998. p. 26-70; Owen Fiss. The Law as It Could Be. New York: New York University Press, 2003. p. 244-249)" (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais - RBEC, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009).
O ATIVISMO É SEMPRE PROGRESSISTA?
NÃO!!:
1 – “...Muitas vezes, o Poder Judiciário pode atuar bloqueando mudanças importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos excluídos, defendendo o statu quo. E esta defesa pode ocorrer inclusive através do uso da retórica dos direitos fundamentais. Isso se deu, por exemplo, nos Estados Unidos nas primeiras décadas do século passado, em período que ficou conhecido como Era de Lochner, quando a Suprema Corte impediu sistematicamente a edição de legislação trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferência na esfera econômica em proveito das classes desfavorecidas, com base numa leitura substantiva da cláusula do devido processo legal. No cenário contemporâneo, Ran Hirshl sustenta que o processo de judicialização da política que vem ocorrendo nos últimos anos em diversos países do mundo - ele fez um atento, ainda que controvertido, estudo dos casos do Canadá, Israel, África do Sul e Nova Zelândia -, teria como pano de fundo uma tentativa das elites econômicas e culturais, que perderam espaço na política majoritária, de manterem o seu poder, reforçando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciário, no qual elas ainda têm hegemonia. E, aqui no Brasil, será que a proteção absoluta que vem sendo conferida ao direito adquirido – inclusive o de furar teto salarialdo funcionalismo fixado por emenda à Constituição – e o "ultra-garantismo" penal nos crimes do colarinho branco não seriam exemplos deste mesmo fenômeno?" (SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais - RBEC, v. 3, n. 9, p. 95-133, jan./mar. 2009).
VER O CASO DO RESP 911802 – UM DOS PRECEDENTES USADOS NA FORMULAÇÃO DA SÚMULA 356 STJ – AULA DE JURISPRUDÊNCIA
2 – “Não esqueçamos (...) que ativismo judicial nos Estados Unidos foi feito às avessas num primeiro momento (de modo que não se pode considerar que o ativismo seja sempre algo positivo). O típico caso de um ativismo às avessas foi a postura da Suprema Corte estadunidense com relação ao new deal, que, aferrada aos postulados de um liberalismo económico do tipo laissez faire, barrava, por inconstitucional idade, as medidas intervencionistas estabelecidas pelo governo Roosevelt. As atitudes intervencionistas a favor dos direitos humanos fundamentais ocorrem em um contexto que dependia muito mais da ação individual de uma maioria estabelecida, do que pelo resultado de um imaginário propriamente ativista. O caso da Corte Warren, por exemplo, foi resultante da concepção pessoal de certo número de juízes e não o resultado de um sentimento constitucional acerca desta problemática. E essas circunstâncias não podem ser ignoradas" (STRECK, 2010, p. 23)
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL É ATIVISTA?
Débora Alves Maciel e Andrei Koerner declaram que a pretensão dos primeiros autores de dar estatuto conceitual à expressão “judicialização da política” foi questionada: “Em suas análises de ações de insconstitucionalidade no STF eles já apontavam a inadequação do conceito, dado o pouco ativismo dos ministros” (MACIEL e KOERNER, 2002 – grifei).
A esse respeito, confira um trecho dos comentários finais de Marcos Faro�:
“O STF tem feito uso parcimonioso de garantias constitucionais de amplo alcance, limitando as medidas de impacto político mais visível a decisões liminares. Contudo, a análise dos acórdãos do tribunal revela que também a produção jurisprudencial rotineira do STF tem uma direção marcante na proteção de interesses privados e, portanto, de impacto negativo sobre a implementação de políticas públicas. Isso se dá, porém, de maneira concentrada nos processos em que se discute o pagamento de exações fiscais (tributos e contribuições).
Portanto, uma conclusão feral que se pode extrair das análises acima, é que, com exceção da política tributária, o STF preponderantemente não tem desenvolvido jurisprudência em proteção a direitos individuais e em contraposição às políticas governamentais” (CASTRO, 1997).
Em trabalhos mais atuais, ao que tudo indica, o quadro não se modificou. O grupo de pesquisa “ativismo judicial”: verso e reverso: a judicialização da política e o ativismo judicial no Brasil, após definir os vetores de judicialização da política e sua distinção em referência do ativismo judicial, a reflexão desenvolvida pontua para a especificidade do caso brasileiro: “encontra-se um verso de ativismo de natureza formal ou jurisdicional (Marshall) por parte do Supremo Tribunal Federal e um reverso devido às fortes demandas sociais na primeira instância” (Fórum..., 2009, p. 60).
SE O SUPREMO É (FOSSE) ATIVISTA, É POSSÍVEL DIZER EM QUE SENTIDO?
Um comentário acadêmico sobre os trabalhos organizados por Neal Tate e T. Vallinder: O Cientista Político Ernani Rodrigues de Carvalho aborda os motivos da chamada “expansão do poder judicial” – ver abaixo – e ele diz que os livros/textos de Tate e Vallinder “introduzido[s] no Brasil por Castro (1997)” teriam norteado “o debate acadêmico na Ciência Política em torno da judicialização no Brasil” (CARVALHO, 2004, p. 116). Entretanto, para Ernani Rodrigues de Carvalho, o uso desse modelos na explicação do comportamento julgador não elucida algumas questões, entre elas:
Quais as forças políticas envolvidas ou em disputa?
Em que condições as decisões são tomadas (conjuntura política)?
Ocorre influência e/ou pressão externa?
Essa pressão surtiu efeito?
Os juízes atuam ideologicamente?
Ocorreu interferência na aplicação de políticas públicas?
Ao que tudo indica, portanto, não existe um estudo conclusivo que vislumbre interesses corporativos ou particulares inscritos em uma opção por um arranjo legal-institucional mais ou menos favorável à “juristocracia” ou à “supremocracia”. Existem, entretanto, teses conspiratórias (???) a esse respeito. Esta é a hipótese explicativa desenvolvida por Ran Hirschl:
“O poder judicial não cai do céu; ele é politicamente construído. Acredito que a constitucionalização dos direitos e o fortalecimento do controle de constitucionalidade das leis resultam de um pacto estratégico liderado por elites políticas hegemônicas continuamente ameaçadas, que buscam isolar suas preferências políticas contra mudanças em razão da política democrática, em associação com elites econômicas e jurídicas que possuem interesses compatíveis” HIRSCHL, R. Towards juristocracy: the origins and consequences of the new constitutionalism. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2004, p. 49.
POLÍTICAS PÚBLICAS
POLÍTICA ESTATAL
“Por política estatal - ou políticas públicas - entende-se o conjunto de atividades do Estado tendentes a seus fins, de acordo com metas a serem atingidas. Trata-se de um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos (Poder Executivo) e decisões (Poder Judiciário) que visam à realização dos fins primordiais do Estado.
Como toda atividade política (políticas públicas) exercida pelo Legislativo e pelo Executivo deve compatibilizar-se com a Constituição, cabe ao Poder Judiciário analisar, em qualquer situação e desde que provocado, o que se convencionou chamar de 'atos de governo' ou 'questões políticas', sob o prisma do atendimento aos fins do Estado (art. 3º da CF), ou seja, em última análise à sua constitucionalidade” (Oswaldo Canela Junior, apud GRINOVER, 2010, p. 14)
	CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE POLÍTICA PÚBLICA (HOWLETT, 2000)
	CONSTRUÇÃO DA AGENDA
	Processo pelo qual os problemas chegam à atenção do governo
	É a compreensão de como
	Surgem as demandas por uma política
	
	Elas são articuladas por atores específicos
	
	Emergem na agenda do governo
	Exemplos
	Campanha de petições
	
	Redações de cartas
	
	Grupo de trabalho sobre questões específicas
	
	Mobilização de piquetes protestos
	
	Outras formas de desobediência civil pacífica ou violenta
O tema central para entender a representação política é entender a relação entre o comportamento da elite política e preferências gerais da população
Após as modernas pesquisas de opinião, o político pode identificar o desejo popular e responder
Quem comanda o processo?
	1) o interesse público define a agenda?
	2) a opinião pública é o reflexo de ações anteriores?
	3) pode-se considerar um feedback recíproco?
De outra forma: quais as interrelações causais entre a ação do executivo, comportamento do legislativo e opinião pública?
Conclusão de Howlett: “...quaisquer que sejam os efeitos da opinião pública sobre as políticas públicas, eles não são diretos” (HOWLETT, 2000, p. 172)
Em um estudo (PEREIRA, POWER e RENNO, 2005), sugere-se a conclusão de “que a opinião da população parece ser mais reativa do que proativa” (p. 418)
Em um excelente texto, Michael Howlett (A dialética da Opinião Pública) critica os trabalhos acadêmicos que consideram a relação entre a opinião pública e a formação de políticas públicas como simples, direta e linear
Desde Rousseau se discute a dificuldade de agregar o murmúrio da vontade coletiva em prescrições políticas universalmente endossadas
	PROBLEMAS
	O caminho que sentimentos públicos trilham para chegar de forma consistente ao formador de políticas
	
	Processos que estabelecem as agendas governamentais e as opções para formular políticas
“Frustração democrática”: o sistema de políticas não

Outros materiais