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Priscilla Silva de Abreu Doutoranda em Ciência dos Alimentos Lavras - 2014 Avaliação de Risco Segurança Alimentar x Inocuidade “Segurança Alimentar e Nutricional consiste em condições de acesso físico e econômico de todos aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes”. “Inocuidade Alimentar é a garantia da qualidade higiênico sanitária dos alimentos. Este aspecto não só interessa a indústria, mas também aos organismos governamentais”. Introdução Inocuidade dos Alimentos Países Signatários da OMC Medidas Sanitárias e Fitossanitárias ANÁLISE DE RISCO Análise de risco FAO/WHO, 2006 • A análise de risco é um processo interativo e contínuo, formado por 3 componentes: Avaliação de risco Caracterização qualitativa e/ou quantitativa e a estimativa do potencial do efeito adverso a saúde associado a exposição de indivíduos ou de uma população a um perigo. A avaliação de risco consiste na tentativa de responder as seguintes questões fundamentais: • O que pode ocorrer e por que? (pela identificação do risco) • Quais são as consequências? • Qual a probabilidade de ocorrências futuras? • Existe algum fator que atenue a consequência do risco ou que reduza a probabilidade do risco? Avaliação de risco Avaliação de risco Fornecer Evidências Científicas Informações Necessárias Medidas de controle sejam tomadas, bem como conduzir a análise diante das opções de controle disponíveis. De que trata? • Do controle de um perigo Agente biológico, químico ou físico Propriedade do alimento Desencadear um efeito adverso a saúde do consumidor De que trata? • Do controle do risco do perigo Função da probabilidade de um efeito nocivo para a saúde e da gravidade deste efeito, como consequência de um perigo ou perigos nos alimentos. Grau de toxicidade da substância e quantidade à qual a população foi exposta Princípios da AR • 1º PRINCÍPIO: Formulação clara da questão da avaliação de risco; • 2º PRINCÍPIO: Base científica, objetividade e transparência; • 3º PRINCÍPIO: Trabalho colaborativo e multidisciplinar; • 4º PRINCÍPIO: Inclusão de todos os riscos relevantes; • 5º PRINCÍPIO: Obtenção e análise de dados de qualidade; • 6º PRINCÍPIO: Documentação completa do processo; • 7º PRINCÍPIO: Reavaliação. Componentes da AR Diagrama Esquemático da Avaliação de Risco Quem faz a AR? Governo Indústria Consumidor Cientistas AR Qualitativa ou Quantitativa • A avaliação de risco qualitativa produz resultados expressos em termos descritivos. • É aplicada quando os dados disponíveis não permitem uma estimativa numérica. Risco Alto - Risco Médio - Risco Baixo AR Qualitativa ou Quantitativa? • Na avaliação de risco quantitativa a estimativa do risco é numérica, mediante o emprego de técnicas estatísticas. Método Determinista / Método Probabilístico Por que o processo de AR é necessário? • Para renovar o sistema tradicional de Segurança de Alimentos; • Estabelecer base científica para as respostas necessárias às variedades e diversidades dos desafios que aparecem relativos à segurança dos alimentos; • Criar um sistema moderno e eficiente de Segurança de Alimentos. Sistemas de Segurança de Alimentos Tradicional Moderno •Visão reativa •Responsabilidade maior com o governo •Análise de riscos não estruturada •Base na inspeção e análise do produto final Nível de redução do Risco: quase nunca satisfatório •Visão preventiva •Responsabilidade compartilhada •Envolve toda a cadeia de produção •Base na ciência •Uso de análise de risco estruturada •Estabelece prioridades •Controle integrado •Base no controle do processo Implementação do Nível de redução do risco • A OMS estima que anualmente ocorrem 1,2 bilhões de episódios de diarréia e cerca de 2,2 milhões de óbitos atribuídos ao consumo de alimentos contaminados, sendo que 1,8 milhões dessas mortes são de crianças menores de 5 anos de idade. Avaliação de Risco Microbiológico WHO, 2005 Finalidade da AR Microbiológico Redução de Doenças Transmitidas por Alimentos Conhecimentos sobre os agentes (perigos) Características do Risco Adoção de Intervenções Microrganismos patogênicos Micro-organismo Sintomas/Patologia Aeromonas hydrophyla e outras spp. Gastroenterite, septicemia, infecções. Bacillus cereus Diarréia, vômito. Campylobacter jejuni Infecções, artrite reativa, síndrome hemolítico-urêmica, septicemia. Clostridium botulinum Botulismo. Clostridium perfringens Diarréia, náuseas. Escherichia coli 0157:H7 Colite hemorrágica. Listeria monocytogenes Septicemia, meningite, encefalite, endocardite, lesões hepáticas. Salmonella typhi Febre tifóide. Salmonella enteritidis Salmonelose. Staphylococcus aureus Náusea, vômitos e cólicas, prostração, pressão baixa e temperatura subnormal. Vibrio cholerae Cólera. Foi formado em 2000 e visa aperfeiçoar o uso da avaliação de risco microbiológico como uma ferramenta que forneça informações e base para decisões na área de segurança alimentar. Avaliação de Risco Microbiológico JEMRA - Grupo FAO/OMS de Especialistas em Avaliação de Risco Microbiológico Etapas da Avaliação de Risco Microbiológico: • Identificação do perigo microbiológico; • Caracterização deste perigo; • Avaliação da exposição; • Caracterização do risco. Avaliação de Risco Microbiológico CODEX, 1999 • Dados sobre patogenicidade e virulência do agente • Espectro de manifestações da doença e • Mecanismo de resposta do hospedeiro. Avaliação de Risco Microbiológico Identificação do Perigo Microbiológico • Aplicação de funções matemáticas para estimar a relação dose-resposta. • Devem ser incluídas todas as rotas de transmissão naturais (ingestão direta, inalação, contato), bem como exposições múltiplas. Avaliação de Risco Microbiológico Caracterização do Perigo • Nível Adequado de Proteção (NAP), valor julgado apropriado para a aplicação de medidas sanitárias para proteger a saúde humana, animal e vegetal. • FSO é a frequência e/ou concentração máxima do perigo no momento do consumo que ainda mantém o nível adequado de proteção. Avaliação de Risco Microbiológico Caracterização do Perigo • Fontes de contaminação de um microrganismo; • Rotas de exposição desde a fonte até o contato com a população exposta, incluindo as rotas de transmissão. Avaliação de Risco Microbiológico Avaliação da Exposição O nível de exposição depende de fatores como: • Extensão da contaminação do alimento cru; • Características do alimento e do seu processamento; • Padrões de transmissão (contaminação cruzada). Avaliação de Risco Microbiológico Avaliação da Exposição • Probabilidade e severidade de efeitos adversos que podem acometer determinada população, considerando a dinâmica do crescimento do agente, a sobrevivência no alimento e a complexidade da interação entre o agente e o hospedeiro, de acordo com o consumo. Avaliação de Risco Microbiológico Caracterização do Risco Tipos de Avaliação de Risco Problema de saúde pública a ser estudado Questões da gestão de riscos a serem respondidas Disponibilidade de dados. • Coloca diferentes riscos em uma ordem crescente de gravidade. • Permite identificar a combinação patógeno/alimento que representa maior risco à saúde pública. Tipos de Avaliação de Risco AR Tipo “Ranqueamento” Salmonelose associada a diferentes alimentos, como ovos, carne bovina, carne suína ou aves. • Avalia-se quais fatores durante a produção e consumo de um alimento têm maior impacto no risco associadoa esse alimento. • O impacto de diferentes estratégias de redução de risco pode também ser avaliado Tipos de Avaliação de Risco AR Tipo “Cadeia Produtiva” Combinação Listeria monocytogenes/queijo • A medida preventiva de um risco acaba gerando outro risco. • É necessário decidir qual risco será aceitável e quais são as alternativas de gestão possíveis. Tipos de Avaliação de Risco AR Tipo “Risco-Risco” Cozimento e adição de nitrito em produtos cárneos curados • Analisa-se o risco da introdução de um patógeno novo em uma região onde a ocorrência de doença relacionada ainda não tenha sido relatada. • Neste caso, a avaliação de risco depende de muitas informações, como sistemas de criação e alimentação dos animais, medidas de controle e prevenção adotadas, etc. Tipos de Avaliação de Risco AR Tipo “Geográfico” Síndrome Espongiforme Bovina Importância da Avaliação de Risco • Garante a segurança do produto final; • Identifica os pontos críticos dando os subsídios necessários para a organização de medidas necessárias para controlar e reduzir os riscos associados a um alimento específico; • A avaliação de risco microbiológico permite avaliar a equivalência de diferentes processos tecnológicos para a inativação de um perigo em alimento. Limitações da Avaliação de Risco • Decisões baseadas em informações incompletas ou de má qualidade comprometem a utilidade do estudo devido à incerteza dos resultados; • Os resultados de uma avaliação de risco nunca são definitivos e devem ser atualizados sempre que novas informações sejam disponibilizadas; • Cientistas ligados à segurança de alimentos têm pouca familiaridade com a técnica de modelagem de riscos; Limitações da Avaliação de Risco • A avaliação de risco não pode predizer riscos associados com patógenos para os quais não há dados epidemiológicos, clínicos e microbiológicos; • Modelos de risco são, na maioria das vezes, construídos a partir de dados de modelagem preditiva (sobrevivência, inativação e/ou multiplicação) obtidos quando os patógenos não estão na presença da microbiota competidora naturalmente presente na maioria dos alimentos. • Palmito em Conserva 3 SURTOS DE BOTULISMO 1997: Surto de botulismo associado ao consumo de palmito nacional. 1998: Surto de botulismo associado ao consumo de palmito importado. 1999: Surto de botulismo associado ao consumo de palmito importado. A Análise de Risco se iniciou com a formação de Grupo Técnico abrangendo as diversas partes interessadas (ITAL, IAL, ABIA, IBAMA, VISA’s, IDEC) . Aplicações da Avaliação de Risco Comunicação do Risco: Foi deflagrado o seguinte alerta à população que deveria ser veiculado na rotulagem do produto. Aplicações da Avaliação de Risco “Para sua segurança, este produto só deverá ser consumido após fervido no líquido de conserva ou em água durante 15 minutos” Avaliação do Risco: Como o perigo estava muito bem identificado e caracterizado, os avaliadores de risco se concentraram no estudo do processo produtivo do palmito em conserva considerando as etapas críticas para o controle do C. botulinum. Construção da curva de acidificação; Acidificação do produto; Tratamento térmico. Aplicações da Avaliação de Risco Gerenciamento do Risco: As inspeções sanitárias passarem a ser realizadas por técnicos devidamente capacitados; • Só poderiam ser aprovadas na inspeção sanitária as indústrias que controlassem os pontos críticos do processo produtivo definidos pelos avaliadores de risco. A operacionalização do Programa ficou sob responsabilidade da vigilância sanitária. Aplicações da Avaliação de Risco Algumas informações adicionais: As empresas que se adequaram aos requisitos do Programa Nacional ficaram liberadas do uso da etiqueta informativa na rotulagem de seus produtos. As empresas que não se adequaram tiveram seus registros no Ministério da Saúde cancelados. Aplicações da Avaliação de Risco • Dioxina Comunicação na Imprensa (27/05/99) • Dioxinas: contaminação de produtos cárneos e ovos em 10 empresas na Bélgica, uma empresa na França e uma na Holanda. • Como medida de emergência a União Européia, em 28/05/99, mandou recolher os produtos do mercado. Aplicações da Avaliação de Risco Avaliação de Risco: – A OMS recomenda como dose tolerável de dioxina por dia de 1 a 4 pg/Kg de peso corpóreo. Comunidade Européia • Como o perigo foi deflagrado e identificado, os avaliadores de risco se concentraram em avaliar a exposição e caracterizar o risco. • Um informe do governo Belga comunicou que os casos positivos dos frangos pesquisados alcançaram níveis de 700 a 1000 pg/g de gordura. Aplicações da Avaliação de Risco • Estabeleceu-se como origem da contaminação uma empresa belga de processamento de óleos e gorduras. • As gorduras produzidas por esta empresa foram utilizadas para produção de ração para estes animais. • Na segunda semana de junho as autoridades belgas informaram que 98 toneladas de gordura contaminada foi utilizada para produzir 1.060 toneladas de ração para frangos, suínos e bovinos. • Brasil • A ANVISA acompanhou a avaliação de risco feita pela UE e os seus resultados. Aplicações da Avaliação de Risco Gerenciamento de Risco: Internacional: • A resposta internacional foi imediata ao proibir importações de carne de frango, suínos, ovos e produtos cárneos da Bélgica. Brasil • A ANVISA publicou Resolução n. 178/99 proibindo como medida cautelar a entrada de produtos de origem animal da Bélgica. • Foi elaborado um Programa Piloto de Controle de dioxina em leite com o objetivo de levantar dados de exposição nacional pela população. Aplicações da Avaliação de Risco Avaliação de Risco/Brasil: • Foram avaliados o leite tipo longa vida consumido nas capitais do país. • Os resultados obtidos não foram alarmantes, variando de 0,01 a 0,43 picogramas/grama de gordura. O maior valor foi encontrado em região industrial, o que já era esperado. • Não houve a necessidade de proceder nenhuma medida de emergência. Aplicações da Avaliação de Risco Cloropropanol • Dados Preliminares • Alerta Sanitário emitido pela Agência Inglesa – pesquisa de 100 amostras de molho Shoyu recolhidos do mercado, 22 estavam contaminados com duas substâncias: 3-Monocloropropane-1,2-diol (3-MCPD) e 1,3-dicloro-2- propanal (1,3-DCP) pertencentes ao grupo dos Cloropropanóis. Aplicações da Avaliação de Risco • Estas substâncias podem ser formadas nos alimentos como resultado de certas condições de processamento. • Ácido clorídrico e ou a Proteína vegetal hidrolisada com ácido clorídrico. Aplicações da Avaliação de Risco O processo de fermentação natural do molho shoyu não produz estas substâncias. • Medidas Tomadas – Gerenciamento de Risco • Alerta interno para os fiscais de Portos, Aeroportos e Fronteiras de forma a não permitir a entrada dos 22 produtos suspeitos; • Verificação da existência de exposição do consumidor brasileiro a estes compostos químicos; • Verificação do processo de produção do molho shoyu fabricado no país junto ao setor produtivo; • Mudança na legislação. Aplicações da Avaliação de Risco Obrigada!