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CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 08 Olá, Pessoal! Estamos na oitava aula do curso de Administração Pública para ESAF. Veremos nela os seguintes itens: Aula 08 – 01/06: Novas formas de gestão de serviços públicos: formas de supervisão e contratualização de resultados; horizontalização; pluralismo institucional; prestação de serviços públicos e novas tecnologias. Instrumentos gerenciais contemporâneos: avaliação de desempenho e resultados; sistemas de incentivos e responsabilização; flexibilidade organizacional; trabalho em equipe; mecanismos de rede. Esses são itens dos concursos do MPOG. Muito do conteúdo dessa aula nós já vimos em aulas anteriores. Por exemplo, dos instrumentos de contratualização já vimos o contrato de gestão, o termo de parceria e a gestão por programas. Os mecanismos de rede nós vimos na aula passada, em gestão de redes organizacionais. O conteúdo desta aula não foi muito cobrado pela ESAF, por isso o número de questões comentadas é menor do que nas outras. Em virtude disso, estou comentando questões de outras bancas, casos vocês desejem treinar um pouco mais. Nesta aula estarei adotando um padrão de formatação estabelecido pelo Ponto, por isso vocês verão algumas diferenças, principalmente no tamanho da fonte, que é maior do que a que eu costumava usar. Boa aula! SUMÁRIO 1 NOVAS FORMAS DE GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS ........................................... 2 1.1 FORMAS DE SUPERVISÃO E CONTRATUALIZAÇÃO DE RESULTADOS ............................................. 2 1.2 PLURALISMO INSTITUCIONAL ........................................................................................ 8 1.3 PARCERIAS ESTADO E SOCIEDADE ............................................................................... 13 1.4 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS E NOVAS TECNOLOGIAS ................................................ 28 CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 2 2 INSTRUMENTOS GERENCIAIS CONTEMPORÂNEOS ............................................... 38 2.1 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ..................................................................................... 38 2.2 SISTEMAS DE INCENTIVO E RESPONSABILIZAÇÃO ............................................................... 52 2.3 FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL ................................................................................ 59 2.4 TRABALHO EM EQUIPE ............................................................................................. 62 3 QUESTÕES ........................................................................................................... 66 3.1 QUESTÕES DE OUTRAS BANCAS ................................................................................... 93 3.2 GABARITO ......................................................................................................... 104 3.3 LISTA DAS QUESTÕES ............................................................................................ 105 4 LEITURA SUGERIDA ........................................................................................... 120 5 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 120 1 Novas Formas de Gestão de Serviços Públicos 1.1 Formas de Supervisão e Contratualização de Resultados Vimos que a administração gerencial é caracterizada pela confiança limitada e pelo controle de resultados a posteriori, ao contrário da administração burocrática que se baseava na desconfiança total e no controle de processos a priori. A gestão por resultados é um dos grandes avanços trazidos pela Administração Gerencial. Ela surge em meio às críticas à administração burocrática, que ao mesmo tempo em que não conseguia gerar resultados satisfatórios, pois era ineficiente, também não conseguia proteger o patrimônio público dos interesses particulares, como vimos no caso do rent seeking. A ideia da Administração Gerencial foi mudar a forma do controle para permitir uma gestão mais flexível, sem as amarras da burocracia, para então cobrar resultados do gestor público. O fundamento básico da gestão por resultados é que, de um lado, a Administração confere autonomia ao gestor público na gestão de recursos financeiros, materiais e humanos, para, de outro cobrar resultados. A estratégia do controle de resultados foi desenvolvida nos anos 1950 por Peter Druker, como um corolário da política de descentralização da autoridade para as unidades de negócio das empresas. A descentralização implica dar maior CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 3 autonomia de gestão às unidades descentralizadas. Para isso, é necessário definir objetivos e metas precisos e estabelecer diretrizes claras que orientem os administradores no atingimento dos objetivos. Vamos ver o conceito de contratualização do Ministério do Planejamento: A contratualização de desempenho institucional na administração pública é um procedimento de ajuste de condições específicas no relacionamento entre órgãos e entidades públicos e privados, que envolve a pactuação de metas de desempenho para o exercício de atividade pública, orientadas ao alcance dos objetivos das políticas públicas. Em alguns casos, a contratualização pode proporcionar flexibilidades e autonomias de gestão que simplifiquem processos internos das instituições partícipes, em acordo com o estabelecido pelo art. 37, parágrafo 8º da Constituição Federal. Na contratualização, os instrumentos contratuais que podem ser utilizados, em sua maioria, são os mesmos já praticados pela Administração Pública, entretanto, o foco e a forma de se construir o instrumento é que muda, já que se passa de uma visão anterior focada no processo (meio), para uma nova visão focada nos resultados (fins). Desse modo, abandona-se a tradicional forma de se avaliar os contratos e a prestação dos serviços somente pela correta utilização dos recursos, através da tradicional prestação de contas financeira. Agora esse não é mais um critério de avaliação do Contrato e dos serviços prestados. Segundo Marcelo de Matos Ramos: Dentre as opções de reforma do serviço público que têm se verificado em todo o mundo, cresce, em popularidade, a experimentação em torno da assim chamada “contratualização”. Este movimento pode ser entendido como uma incorporação das críticas neoliberais em prol da necessidade de um comportamento empresarial autônomo em certas esferas de governo. De fato, a relação contratual estimula que as partes negociem um compromisso e assumam cada qual o seu papel sem demasiadas ambiguidades. Possivelmente a primeira manifestação da chamada “contratualização” tenha ocorrido, paradoxalmente, em um país de forte tradição burocrática: em 1967 o relatório Nora recomendou, como forma de se enfrentar o alto grau de CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 4 ineficiência das empresas públicas francesas, cada vez mais dependentes de subsídios governamentais, a “contratualização” das relações de supervisão entre Estado e empresa Na contratualização, avalia-se o cumprimento do contrato pela avaliação do alcance dos resultados pactuados, através da verificação quanto ao atingimento das metas previstas para os indicadores de desempenho. A contratualização é uma prática importante na Administração Pública pós- Reforma do Estado, pois possibilita instituir práticas de planejamento, avaliação e monitoramento da execução por parte do Estado (órgão contratante) e o terceiroou órgão público contratado. Os Contratos de Resultados podem ser firmados com qualquer natureza de instituição, seja ela estatal (pública), do terceiro setor (associações e fundações) e mesmo privadas (empresas e consórcios). Segundo Abrucio a criação de relações contratuais origina-se de três pressupostos. O primeiro é de que numa situação de falta de recursos, como a atual, a melhor forma de aumentar a qualidade é introduzir relações contratuais de competição e de controle. O segundo, quase como consequência do primeiro, é de que a forma contratual evita a situação de monopólio. Por fim, o último pressuposto refere-se à maior possibilidade que os consumidores têm de controlar e avaliar o andamento dos serviços públicos a partir de um marco contratual. Há registros do uso de instrumentos de contratualização de desempenho institucional em alguns estados da Federação, como São Paulo, Minas Gerais e Bahia, para regular as relações dos governos com entidades prestadoras de serviços públicos, especialmente nas áreas da saúde e do transporte. Os nomes utilizados para o instrumento contratual nesse caso têm variado conforme o Estado ou Governo. Alguns têm adotado o nome geral de Contratos de Gestão e outros têm utilizado o Acordo de Resultados, embora ambos tenham as mesmas características, natureza e alcance. Na esfera federal, a aplicação é recente entre ministérios, agências reguladoras e executivas e organizações sociais, a partir da criação dessas novas figuras jurídicas do direito público, embora haja registros de uso anterior de mecanismos de contratualização de desempenho, pelo Ministério da Saúde e a CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 5 Associação das Pioneiras Sociais e pelo Ministério da Fazenda, a Petrobrás e a Companhia Vale do Rio Doce. Segundo Flávio Carneiro, no processo de contratualização de resultados, existem três fases importantes que são imprescindíveis ao bom resultado da prática e não podem deixar de existir: Negociação – esta fase inicia com a intenção de contratar os serviços por um órgão estatal e a elaboração do rol de atividades a serem contratadas. A partir daí, identifica-se o outro órgão ou entidade a ser contratada e se inicia o processo de negociação, que vai da identificação dos indicadores de desempenho, estipulação das metas e a respectiva orçamentação, que é a parte financeira do Contrato de Resultados e contém as despesas e receitas da organização contratada, refletindo as obrigações de parte a parte. Construção do Instrumento – esta fase consiste na formalização de tudo o que foi negociado, aperfeiçoando-se e aferindo-se todos os pontos acordados. Um passo importante para a construção do instrumento é estabelecer as sanções e métodos de fiscalização e prestação de contas dos resultados do instrumento contratual. Gerenciamento – esta fase é permanente, após a assinatura do instrumento contratual, compreendendo todas as atividades de supervisão da entidade, monitoramento dos indicadores de desempenho pactuados e avaliação dos resultados alcançados Não basta que se assine o contrato, é preciso gerenciá-lo, monitorando os indicadores de desempenho durante a vigência do contrato. Os marcos legais do procedimento de contratualização e, em particular os que estabeleceram o uso do contrato de gestão, no âmbito do Governo Federal, não dispõem de regulamentação orientadora, que fixe diretrizes gerais a serem observadas no processo de negociação, implementação, acompanhamento e avaliação do instrumento. Um seminário realizado pelo MPOG identificou as seguintes fragilidades na contratualização: Ausência de uma conceituação clara e objetiva a respeito de contratualização de desempenho institucional que estabeleça seus objetivos, instrumentos e as situações em que sua aplicação é recomendável; CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 6 Falta de clareza quanto ao papel de cada partícipe da contratualização de desempenho institucional e à natureza das relações jurídicas entre eles; Falta de orientação técnica para a etapa de planejamento da contratualização de desempenho institucional, o que afeta: o alinhamento das metas à missão da instituição contratada e aos objetivos e diretrizes setoriais do ministério e das macro-orientações de governo; a qualidade das metas quanto à sua natureza desafiadora (mas factível); e a geração de indicadores pertinentes; Preparo técnico insuficiente dos órgãos e entidades contratados para a implantação do modelo de gestão por resultados, do qual a contratualização de desempenho institucional é apenas instrumento; Falta de orientação técnica aos órgãos supervisores para aplicação de metodologias adequadas à condução da etapa de avaliação do desempenho bem como dos resultados obtidos pela contratada e sua relação com as metas acordadas; Falta de orientação técnica aos órgãos supervisores para as etapas de fiscalização e de relacionamento com os órgãos de controle interno e externo. Como problemas mais frequentes no gerenciamento dos contratos, foram citados: metas pouco ambiciosas; indicadores mal elaborados; falhas na supervisão do cumprimento de metas; não inclusão de atividades importantes da organização contratada no instrumento de contratualização; objetivos vagos; inexistência de sanções para metas não cumpridas; maior influência na elaboração dos contratos de resultados das organizações contratadas do que de seus órgãos supervisores (ou a persistência da assimetria de informações, entre a entidade prestadora de serviços e o órgão responsável pela política pública perante a sociedade). CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 7 A contratualização de resultados no âmbito de agências públicas recebeu o nome de agencificação. O contrato de resultados (ou acordo-quadro, contrato de gestão) é um instrumento de gestão, que relaciona ministérios (ou secretarias responsáveis pela formulação de políticas públicas) e entidades a eles vinculadas, prestadoras de serviços públicos (genericamente denominadas ‘agências’). Tem por objetivos promover mais flexibilidade, transparência de custos, melhor desempenho, aumento da qualidade, produtividade, eficiência e efetividade na prestação de serviços públicos. Promove um par de atributos inseparáveis, à luz das reformas gerenciais: autonomia de gestão em troca de compromisso prévio com resultados. Por meio de metas pré-acordadas entre as partes, a serem alcançadas pela entidade em troca de algum grau maior de flexibilidade ou apenas de previsibilidade, a contratualização de resultados no setor público substitui o controle clássico político (pela hierarquia) e burocrático (pelo cumprimento de normas). Contudo, o termo agencificação também adquiriu uma carga negativa, na medida em que um dos problemas geralmente associados às novas formas de contratos é o risco da atomização excessiva da ação governamental e dificuldades para lidar com problemas e ações interministeriais. Dois casos paradigmáticos - Nova Zelândia e Reino Unido - levaram analistas a apontar os riscos de aumento da fragmentação, advindos da agencificação; nos dois casos, as reformas foram iniciadas por governos conservadores, com forte orientação para analogia com a gestão de negócios e com o mercado. Mais recentemente, nos dois países, governos buscam corrigir excessos (e preservar avanços) - o governo Blair com o slogan ‘joined up government’, buscando promover a articulação das entidades prestadoras de serviços a partir das necessidades do público-alvo(e não da ‘missão’ de cada entidade), e a coalizão de centro-esquerda que assumiu o governo neozelandês em 1999 buscando enfatizar a contratação de outcomes (e não mais de outputs) e a colaboração intragovernamental. Tipicamente, a relação contratual ocorre entre umainstância do governo central, que será o órgão supervisor do contrato, euma agência governamental (em geral uma empresa, mas também pas-sível de ocorrer com outras instâncias equivalentes à nossa administra-ção autárquica e fundacional). Em geral, o contrato estipula objetivos emetas que devem ser atingidos pela agência: as autonomias a ela conce-didas; os direitos e obrigações de cada parte; bem como as chamadascondicionalidades, ou seja, as situações ou cenários que instruíram a ex-pectativa de realização e atingimento dos objetivos e metas e CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 8 que se nãose concretizarem extinguem a obrigação de cumprimento do contrato. Nós já vimos os instrumentos de contratualização em aulas anteriores. Na aula 03 vimos o contrato de gestão e o termo de parceria, e na aula passada vimos a gestão por programas. 1.2 Pluralismo Institucional Já vimos que o modelo pós-burocrático provoca uma grande mudança na forma de se prestar serviços públicos. Vimos que a burocracia entra em crise junto com o Estado de Bem-Estar, surgindo novas ideias no que se refere ao atendimento das necessidades dos cidadãos. Fernando Luiz Abrucio, analisando a contratualização no consumerism inglês, observa que ela apresenta três dimensões: a) Extensão das relações contratuais no fornecimento de serviços públicos entre o setor público, o setor privado e o voluntário/não lucrativo, criando uma nova estrutura de pluralismo institucional, contraposta ao antigo modelo de monopólio estatal; b) Extensão das relações contratuais para dentro do setor público, envolvendo descentralização, delegação e mecanismos de quasi market; c) Desenvolvimento de contratos de qualidade entre os provedores de serviço e os consumidores/clientes. Podemos observar, na primeira dimensão, que uma das mudanças mais significativas é a criação de uma estrutura de pluralismo institucional. Já vimos que, na Nova Administração Pública, o Estado se retira da execução dos serviços públicos, passando a atuar como catalisador, como regulador. Será dada preferência sempre para as iniciativas fora da esfera estatal. A prestação dos serviços públicos não será mais um monopólio estatal. Haverá uma ampla gama de instituições atuando em conjunto em benefício do interesse público. Além do Estado, teremos a iniciativa privada e também o que Bresser Pereira gosta de chamar de setor público não-estatal. Vamos dar uma olhada em uma questão da ESAF: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 9 1. (ESAF/MPOG/2005) A partir da década de 80 e sobretudo a partir da década de 90, desenvolveu-se internacionalmente um amplo processo de reforma do Estado. Independentemente das especificidades nacionais, esse processo tem algumas características comuns. Uma série de características são apontadas a seguir: II - A dicotomia estatal/privado, predominante até então, abre espaço para formas intermediárias com a emergência de parcerias e de organizações públicas não-estatais. A afirmação II é verdadeira. Além do Estado e da esfera privada, podemos falar agora numa série de entidades que não se inserem no aparelho do Estado e também não se enquadram na lógica da esfera privada, marcada pela busca do interessa particular, do lucro. Bresser Pereira descreve o setor público não- estatal da seguinte forma: O setor produtivo público não-estatal é também conhecido por “terceiro setor”, “setor não-governamental”, ou “setor sem fins lucrativos”. Por outro lado, o espaço público não-estatal é também o espaço da democracia participativa ou direta, ou seja, é relativo à participação cidadã nos assuntos públicos. Neste trabalho se utilizará a expressão “público não-estatal” que define com maior precisão do que se trata: são organizações ou formas de controle “públicas” porque estão voltadas ao interesse geral; são “nãoestatais” porque não fazem parte do aparato do Estado, seja porque não utilizam servidores públicos ou porque não coincidem com os agentes políticos tradicionais. Portanto, podemos considerar que tais organizações são “públicas” porque buscam a satisfação do interesse coletivo, e não de um interesse particular; e são não-estatais porque não estão dentro do Estado. Trata-se de um setor que busca permitir uma maior participação da sociedade gestão e no controle dos serviços públicos. Fernando Henrique Cardoso, assim definiu o Terceiro Setor: A reestruturação das relações do poder público com a sociedade põe foco no chamado terceiro setor, que não é estatal nem privado. Hoje, todo um segmento de organizações não- governamentais se mobiliza em torno de questões voltadas à promoção do bem-comum. O terceiro setor permite que novas alternativas surjam, a partir de esforços colaborativos entre CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 10 Estado e sociedade civil, em que o interesse público seja o objetivo final. Essas iniciativas não são incompatíveis com políticas públicas eficientes e responsáveis. Ao contrário, partem delas as ações que permitem refletir de modo mais abrangente os objetivos comuns entre iniciativa privada, Estado e sociedade. Potyara Pereira nos traz a ideia da subordinação dos interesses econômicos aos imperativos das necessidades sociais e apresenta como estratégia a ser defendida aquela em que o Estado não foge de seus deveres e responsabilidades, embora acate parcerias estratégicas com iniciativas privadas. Esse sentido ela denomina de pluralismo institucional Segundo Bresser Pereira: É previsível que no século XXI o espaço público se amplie sob a consciência de que a produção de bens públicos não pode ser um monopólio do Estado nem do mercado, atendendo tanto aos próprios limites de ambos como às crescentes exigências de auto-organização social. O autor coloca três grandes vantagens no ponto de vista da produção social: Pluralização da oferta de serviços sociais. Frente à provisão monopolista e autoritária que caracteriza a oferta de serviços públicos do âmbito estatal, a esfera da produção social oferece a oportunidade de desenvolver o principio da competição. Com isso não só se possibilita que os usuários exercitem o direito à "saída", mas sim que em forma imediata se estimula uma maior qualidade e eficiência das prestações. A qualidade é também favorecida pela ênfase na dedicação, a vocação de serviço e a solidariedade que tendem a aflorar nos entidades não mercantis. Outro resultado previsível é também uma maior economia no gasto, ao concorrer - eventualmente - distintas fontes de financiamento, inclusive, o trabalho voluntário. Flexibilização e desburocratização da gestão social. A produção não- estatal de serviços sociais oferece a possibilidade de obter prestações adaptadas aos públicos envolvidos, em oposição às prestações uniformes que tendem a caracterizar a oferta pública estatal. Outro benefício, que tem uma expressão mais micro-organizativa é o desenvolvimento de um estilo de gestão "pós-burocrático". A autonomia financeira e administrativa e seu correlato na discrecionalidade, criam condições para organizações menos piramidais e fragmentadas. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 11 Responsabilidade dos dirigentes e participantes pela organização.Não contando com a certeza do apoio financeiro do Estado, e dispondo de uma autonomia muito maior que a existente nas organizações estatais, os integrantes das entidades de serviços públicos não estatais tendem a ser mais responsáveis pelos destinos de suas organizações. Eles não podem transferir esta responsabilidade para fora da organização - em especial para “o governo” que não garante recursos suficientes. Finalmente, dado que a responsabilidade do governo é por um orçamento global, permanece na própria organização o poder e a responsabilidade de utilizar adequadamente estes ou outros recursos para alcançar os objetivos propostos Dentro desta nova lógica na prestação dos serviços públicos, o Estado não se retira totalmente. Vimos que a administração gerencial surge muito próxima ao neoliberalismo. No entanto, quando o Estado Mínimo se revela algo irreal, torna-se dominante o movimento em direção à reforma, ou reconstrução do Estado. Muitos autores dividem as reformas do Estado no final do século passado em duas gerações. A primeira, ocorrida nos anos 1980 e 90, teria uma orientação essencialmente econômica e fiscal, voltada para a minimização do Estado e o fortalecimento do mercado. Já a segunda geração, que surgiu no início deste Século, tem como foco a promoção do desenvolvimento, por meio do fortalecimento do Estado, do mercado e do terceiro setor. A participação estatal é reduzida no campo social, mas não abandonada totalmente, atuando indiretamente através de fomento e de incentivos, deixando a cargo dos entes intermediários – entre o mercado e o Estado –, a missão de zelar por serviços sociais (saúde, tecnologia, educação) pressupondo que a sociedade civil seja mais eficiente na prestação de serviços ao cidadão- consumidor. Os entes da sociedade civil que prestam serviços não-exclusivos do Estado necessitam da atuação do Estado mediante a ação administrativa de fomento. É justamente a atividade de fomento que caracteriza o Estado subsidiário. A boa governança social depende de um equilíbrio (de capacidade e poder) entre as esferas do Estado, do mercado e do terceiro setor. Humberto Falcão Martins e Caio Marini apresentam as vantagens e desvantagens no predomínio de cada um dos setores: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 12 O Estado promove equidade, mas é menos eficiente. Enfraquecê- lo em detrimento das demais esferas pode levar à baixa capacidade de governo, fortalecê-lo pode levar ao estatismo dirigista e formas autoritárias perversas. O mercado é virtuoso em eficiência, mas insensível em equidade. enfraquecê-lo em detrimento das demais esferas pode levar à ineficiência e perda de competitividade, fortalecê-lo pode levar a formas perversas de “mercado livre”, concentração e “capitalismo selvagem”. O terceiro setor é virtuoso porque é o domínio do valor, da causa, provendo meio de expressão de iniciativas comunitárias e cidadãs essenciais à afirmação da identidade cívica, mas sua natureza não é a regra de direito. Fortalecê-lo em detrimento das demais esferas pode gerar formas anômicas de atuação paroquial ou formas perversas de comunitarismo excessivo, enfraquecê-lo pode levar a negligência de comunidades e identidades. Surge aqui o conceito de governança social. Vimos que a governança está associada com a capacidade de gestão, de implementar políticas públicas. Porém, vimos também na Aula 04, na parte dos processos participativos, que o conceito de governança está cada vez mais próximo do de governabilidade, considerando questões mais amplas relativas a padrões de coordenação e cooperação entre atores sociais. Ou seja, as formulações mais recentes do conceito de governança englobam não só aspectos operacionais das ações governamentais como também aspectos políticos que dão sustentação a essas ações. Assim, a governança passa a ser entendida como a capacidade dos diversos atores atuarem de forma coordenada, dentro das “redes de governança”, que vimos aula passada. Segundo Caio Marini e Humberto Falcão Martins: A ideia de Governo Matricial se posiciona na perspectiva de implementação de um modelo de governança social baseado em redes, na perspectiva intra e extragovernamental. O Governo Matricial é um modelo de gestão governamental voltado para resultados de desenvolvimento que se baseia na definição e gerenciamento intensivo de pontos nodais entre programas (desdobrados de um projeto de desenvolvimento) e organizações (ou parte delas) necessárias a sua implementação. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 13 Essa nova forma de atuação conjunta entre os três setores promove uma horizontalização das relações entre eles. Ao invés de uma primazia do Estado, eles atuam de forma igualitária. 1.3 Parcerias Estado e Sociedade A descentralização pode ser entendida em três dimensões: Na dimensão política, a descentralização é uma estratégia para redistribuição do poder político do Estado, do nível central para os níveis periféricos. Baseia-se na concepção de que a descentralização afeta as relações de poder e introduz novos conflitos nas relações entre esferas de governo e na distribuição de poder e bens entre diferentes grupos na sociedade. Esse entendimento fundamenta-se no conceito de descentralização como estratégia para democratização do poder, através da ampliação dos níveis de participação cidadã e da multiplicação de estruturas de poder, com vistas à melhoria da eficiência da gestão pública. Na dimensão administrativa, a descentralização refere-se à delegação, ou seja, à transferência de competências e de funções entre unidades, entre esferas de governo ou entre órgãos. Esta concepção de descentralização é justificada em função da necessidade de se buscar maior eficácia na gestão pública, eliminação de intermediações burocráticas e possibilidade de um contato mais próximo com o cidadão, o que geraria maior fidelidade às demandas sociais e melhor adequação da administração ao cumprimento de seus objetivos. Assim, a descentralização facilita a relação do usuário com o Estado, simplificando a tramitação burocrática e permitindo canalizar cada demanda de forma mais singularizada e mais adequada às suas especificidades. Na dimensão social, a descentralização traduz-se como participação social na gestão pública. Trata-se de transferência de parcelas de poder, competências e funções da administração pública para a sociedade civil. Pode ocorrer sob diversas formas e com diversas combinações. Desse modo, a descentralização é tratada como estratégia de capacitação de grupos sociais para decidirem sobre problemas da gestão pública local, seja estruturando formas institucionais capazes de expressar a vontade coletiva nas instâncias de tomada de decisão, seja como forma de possibilitar à população exercer funções de fiscalização e controle sobre a gestão dos serviços públicos. Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que a descentralização administrativa seria dividida em três modalidades: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 14 Territorial ou Geográfica: verifica-se quando uma entidade local é dotada de personalidade jurídica própria, de direito público, com capacidade administrativa genérica. É própria dos Estados unitários, constituídos por Departamentos, Regiões, Províncias, etc. A capacidade administrativa genérica é a capacidade de exercer a totalidade ou a maior parte dos encargos públicos de interesse da coletividade. No entanto, é importante realçar que a descentralização administrativa territorial mantém a sujeição a controle pelo poder central. Ela nem sempreimpede a capacidade legislativa, só que esta é exercida sem autonomia, porque subordinada às normas emanadas do poder central. Por Serviços, Funcional ou Técnica: ocorre quando o poder público cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público. No Brasil, esta criação somente pode dar-se por meio de lei e corresponde, basicamente, à figura de autarquia, mas abrange também as fundações governamentais, sociedades de economia mista e empresas públicas, que exerçam serviços públicos. Por Colaboração: ocorre quando se transfere a execução de determinado serviços público a pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, conservando o Poder Público a titularidade do serviço. Ocorre por meio da concessão, permissão ou autorização de serviço público. Quando falamos em parceria entre governo e sociedade, estamos nos referindo a esta terceira modalidade de descentralização administrativa, a por colaboração. Zanella usa o termo parceria para se referir a “todas as formas de sociedade que, sem formar uma nova pessoa jurídica, são organizadas entre os setores público e privado, para a consecução de fins de interesse público”. A natureza econômica e a ideia de lucro não são essenciais para caracterizar a parceria. A autora afirma que ela pode ser utilizada como: Forma de delegação da execução de serviços públicos a particulares pelos instrumentos de concessão e permissão de serviços públicos. Meio de fomento à iniciativa privada de interesse público, efetivando-se por meio de convênio ou de contrato de gestão; Forma de cooperação do particular na execução de atividades próprias da Administração Pública, pelo instrumento da terceirização; Instrumentos de desburocratização e de instauração da chamada administração pública gerencial, por meio de contratos de gestão. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 15 Já estudamos as Organizações Sociais e as OSCIPs. Vamos dar uma olhada nos instrumentos de delegação da execução de serviços públicos: concessão, permissão e autorização, e também as Parcerias Público Privadas. A três primeiras veremos de forma bastante sucinta, sem entrar nos detalhes que são vistos pelo Direito Administrativo. O nosso objetivo aqui é entender estes instrumentos dentro da reforma do Estado e também como surgiram as PPP. 1.3.1 Concessão, Permissão e Autorização Segundo a CF/88: Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Os conceitos de permissão e concessão de serviços públicos estão na Lei 8.987/95, art. 2º: II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; III - concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado; IV - permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante licitação da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco. A concessão e a permissão de serviços públicos são institutos muito próximos. Uma diferença é que a segunda é uma modalidade menos complexa de delegação, adequada para os serviços públicos de porte médio, isto é, que CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 16 exijam investimentos menores. Bandeira de Mello afirma que a permissão seria utilizada quando: o permissionário não necessitasse alocar grandes capitais para o desempenho do serviço ou quando pode mobilizar, para diversa destinação e sem maiores transtornos, o equipamento utilizado o serviço não envolvesse implantação física de aparelhamento que adere ao solo, os riscos da precariedade assumidos pelo permissionário fossem compensáveis seja pela rentabilidade do serviço, seja pelo curto prazo em que se realizaria satisfação econômica almejada. O conceito de permissão na Lei 9.897/95 é complementado pelo art. 40 da mesma lei: Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada mediante contrato de adesão, que observará os termos desta lei, das demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder concedente. A maior parte da doutrina critica o fato de a lei considerar a permissão como um contrato e ao mesmo tempo afirmar que trata-se de um ato precário. Os contratos servem justamente para afastar a precariedade das relações jurídicas. A precariedade significa que a permissão poderá ser revogada pela Administração a qualquer momento, sem que o particular tenha direito à indenização. É um absurdo se falar em “revogabilidade unilateral do contrato”, já que contratos não são revogados, mas sim rescindidos. Atos é que são revogados. Zanella Di Pietro afirma que a permissão tem natureza de outorga sem prazo, mas que a doutrina tem admitido a possibilidade de fixação de prazo, hipótese em que a revogação antes do termo estabelecido dará ao permissionário direito à indenização. Esta seria chamada de permissão condicionada ou permissão qualificada. Vamos ver outras diferenças entre a concessão e a permissão. apesar de ambas exigirem licitação, apenas para a primeira foi estabelecido que deve ser por meio de concorrência. Para a permissão não foi fixada nenhuma modalidade específica. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 17 como podemos observar nos conceitos da Lei 8.987/95, a concessão poder ser feita apenas para pessoas jurídicas, enquanto a permissão é permitida também para pessoas físicas. O art. 175 da CF/88 faz referência apenas à concessão e à permissão como formas de prestação de serviços públicos. Mas o art. 21, fala também em autorização: Art. 21. Compete à União: XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; Segundo Zanella Di Pietro, coloca-se, assim, a autorização ao lado da permissão e da concessão de serviço público como forma de delegação daexecução de serviço público ao particular. Segundo a doutrina, a autorização é uma modalidade de delegação de serviços públicos adequada para satisfazer interesses coletivos instáveis ou situações de emergência transitória, quando não é necessária grande especialização do prestador de serviços nem grandes investimentos para sua implantação. Trata-se de um ato administrativo unilateral, discricionário e precário, passível de revogação a qualquer tempo sem qualquer direito á indenização para o administrado. Não se aplica à autorização a exigência de licitação, admitindo-se, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 18 também, que ela seja concedida por prazo indeterminado, ressalvando-se, sempre, a possibilidade de sua revogação a todo momento pela Administração, sem qualquer indenização. Zanella Di Pietro coloca que a autorização não aparece no art. 175 talvez porque os chamados serviços públicos autorizados não sejam prestados a terceiros, mas aos próprios particulares beneficiários da autorização. São chamados de serviços públicos porque atribuídos a titularidade exclusiva do Estado, que, ao permitir que o particular os execute em benefício próprio, está exercendo seu poder de polícia. Na autorização não há outorga de prerrogativas públicas, como ocorre com o permissionário e o concessionário. Isto porque a autorização de serviço público é dada no interesse exclusivo do particular que a obtém. Ele não exerce uma atividade que será usufruída por terceiros, mas apenas por ele mesmo. Alguns exemplos estão na Lei 9.074/95: Art. 7º São objeto de autorização: I - a implantação de usinas termelétricas, de potência superior a 5.000 kW, destinada a uso exclusivo do autoprodutor; II - o aproveitamento de potenciais hidráulicos, de potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 10.000 kW, destinados a uso exclusivo do autoprodutor. 1.3.2 Parcerias Público Privadas A Lei 11.079/04 criou um nova espécie de concessão de serviço ou obra pública. José dos Santos Carvalho Filho afirma que a PPP se trata de uma concessão especial, já que a própria lei coloca que: Art. 2º Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. A exposição de motivos do projeto de Lei das PPP afirmava que: A parceria público-privada constitui modalidade de contratação em que os entes públicos e as organizações privadas, mediante o compartilhamento de riscos e com financiamento obtido pelo setor privado, assumem a realização de serviços ou empreendimentos públicos. Tal procedimento, em pouco tempo alcançou grande sucesso em diversos países, como a Inglaterra, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 19 Irlanda, Portugal, Espanha e África do Sul, como sistema de contratação pelo Poder Público ante a falta de disponibilidade de recursos financeiros e aproveitamento da eficiência de gestão do setor privado. As PPP têm como objetivo atrair o setor privado, seja nacional ou estrangeiro, para investimentos em infraestrutura, necessários ao desenvolvimento do país, cujos recursos envolvidos excedem a capacidade financeira do setor público. Segundo a exposição de motivos: No caso do Brasil, representa uma alternativa indispensável para o crescimento econômico, em face das enormes carências sociais e econômicas do país, a serem supridas mediante a colaboração positiva do setor público e privado. A PPP foi criada na Inglaterra, no governo de Margareth Thatcher, que, como vimos na Aula 01, foi um dos precursores na implantação da administração pública gerencial. Por este vínculo com governos de cunho neoliberal, ela é criticada por alguns autores. Segundo Bandeira de Mello, “este instituto constitui-se na ‘creme de La creme’ do neoliberalismo, pelo seu apaixonado desvelo na proteção do grande capital e das empresas financeiras”. “Creme de La creme pode ser traduzido como “o melhor do melhor”, usado por Mello de uma forma irônica. Já Zanella Di Pietro afirma que um dos objetivos das PPPs, “menos declarado, mas também verdadeiro, é o de privatizar a Administração Pública, transferindo para a iniciativa privada grande parte das funções administrativas do Estado, sejam ou não passíveis de cobrança de tarifas dos usuários”. Seria uma forma de fugir da rigidez do Direito Administrativo, permitindo que a prestação de serviços públicos ocorre de forma mais flexível. A principal diferença entre a PPP e a concessão comum está na contraprestação pecuniária que cabe à Administração Pública na PPP. Segundo a Lei 11.079/04: § 3º Não constitui parceria público-privada a concessão comum, assim entendida a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando não envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. Como podemos observar no art. 2º da Lei 11.079/04, existem dois tipos de PPP: a patrocinada e a administrativa. A concessão patrocinada é definida pela lei da seguinte forma: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 20 § 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. Segundo Bandeira de Mello, concessão patrocinada é a própria concessão de serviço ou de obra pública de que trata a Lei 8.987, quando, adicionalmente a tarifa cobrada dos usuários, envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. A concessão patrocinada se caracteriza pelo fato de o concessionário perceber recursos de duas fontes, uma decorrente do pagamento das respectivas tarifas dos usuários e outra, de caráter adicional, oriunda de pagamento pelo poder concedente. Já a concessão administrativa é conceituada como: § 2º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens. A diferença neste caso é que haverá apenas uma fonte de remuneração do particular, que será o Poder Público. Isto se deve ao fato de a Administração Pública ser a usuária direta ou indireta da prestação do serviço. Outra diferença é que a patrocinada refere-se apenas a serviços públicos, enquanto a administrativa fala apenas em prestação de serviços. Bandeira de Mello afirma que o objetivo da lei, na verdade, por meios transversos, não confessados, é o de realizar um simples contrato de prestação de serviços segundo um regime diferenciado e muito mais vantajoso para o contratado que o regime geral de contratos. Já José dos Santos Carvalho Filho afirma que a diferença entre a concessão administrativa e o contrato normal é que neste o particular contratado limita-se a prestação do serviço, cabendo a administração pagar o respectivo preço em dinheiro; naquela, o concessionário presta o serviço, mas se exige que faça investimento na atividade, obrigando a Administração a uma contraprestação pecuniária que pode variar de espécie. O autor menciona que alguns autores consideram que o objeto da concessão administrativa é complexo, envolvendo necessariamente a prestação de um CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 21 serviço e a execução de uma obra (ou uma concessão de uso). Outros sustentam inexistir necessidade do objeto complexo, podendo o contrato alvejarapenas a prestação do serviço. Esta corrente seria a dominante. Zanella Di Pietro defende que a lei fala em “usuária indireta” para se referir ao fato de o parceiro privado, na concessão administrativa, prestar um serviço público em que não é possível a cobrança de tarifas dos usuários. A autora se baseia no seguinte trecho da exposição de motivos: As Parcerias Público-Privadas permitem um amplo leque de investimentos, suprindo demandas desde as áreas de segurança pública, habitação, saneamento básico até as de infraestrutura viária ou elétrica. Podemos observar que o trecho cita alguns serviços públicos que não são cobrados da sociedade. Nestes casos, a prestação do serviço ficaria a cago do particular, que receberia sua remuneração apenas da Administração. Em relação à contraprestação pecuniária que cabe ao Poder Público, a Lei 11.079/04 estabelece que: Art. 6º A contraprestação da Administração Pública nos contratos de parceria público-privada poderá ser feita por: I – ordem bancária; II – cessão de créditos não tributários; III – outorga de direitos em face da Administração Pública; IV – outorga de direitos sobre bens públicos dominicais; V – outros meios admitidos em lei. O contrato poderá prever o pagamento ao parceiro privado de remuneração variável vinculada ao seu desempenho, conforme metas e padrões de qualidade e disponibilidade definidos no contrato. É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada: cujo valor do contrato seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais); cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 22 Antes da celebração do contrato, deverá ser constituída sociedade de propósito específico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria, isto é, deverá ser criada uma pessoa jurídica que terá como único objeto social a execução do contrato de parceria público privada. Essa pessoa jurídica poderá ser criada sob a forma de companhia aberta, com valores mobiliários passíveis de negociação no mercado. 1.3.3 Parcerias com o terceiro setor Segundo o dicionário parceria significa a reunião de pessoas que visam a interesse comum. Segundo Valarelli parceria: É a designação de certas formas de cooperação entre organizações que indica uma ação conjunta, motivada pela existência de interesses e objetivos comuns, na qual cada um aporta e mobiliza os recursos que dispõe para atingir estes objetivos. Pode-se dizer que o foco dessa parceria se consistirá na qualidade da relação, na forma em que as organizações com interesses distintos, poderes, recursos e atribuições constroem um espaço onde se comportam como iguais na definição dos objetivos comuns, dos papeis e da contribuição de cada uma. Essa relação vai além da troca e da satisfação de interesses mútuos é buscar no outro os recursos e capacidades de que não se dispõe, mas que são necessárias para atingir seus propósitos. Corroborando com essa ideia, Noleto coloca que parceria significa uma associação em que à soma das partes representa mais que o somatório individual de seus membros, pois por meio da parceria, há um fortalecimento mutuo para atingir um determinado fim. Os objetivos da parceria tendem a ser relativo a um impacto mais profundo na realidade na qual as organizações envolvidas atuam. Dessa forma a parceria se propõe não apenas em suprir as necessidades, mas em ampliar e irradiar os efeitos de um trabalho quanto em sensibilizar, mobilizar e co-reponsabilizar outros sujeitos em torno de ações voltadas para os problemas sociais. Valarelli afirma que: a parceria é o encontro de organizações autônomas, com identidades e posições claras. Mesmo tendo recursos e poderes distintos, elas devem se reconhecer como iguais nem determinado momento, além de conhecer e valorizar mutuamente a contribuição que cada uma pode dar. E CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 23 devem adotar um comportamento como tendo igual poder de relação, tanto para estabelecer os objetivos como para definir os recursos necessários, os papeis e responsabilidades. James Austin estudou as parcerias realizadas entre as empresas e identificou um “continuum da colaboração”, que mostra diferentes tipos ou estágios do relacionamento entre empresas e organizações sem fins lucrativos. Estágio Filantrópico. É o tipo tradicional e mais comum de relação entre organizações sem fins lucrativos e empresas. Em termos simples consiste, essencialmente, na doação, pelas empresas, de dinheiro ou produtos ou bens, em resposta às solicitações das organizações sem fins lucrativos. O grau de engajamento e recursos é relativamente baixo, esporádico, administrativamente simples e não estratégico. A empresa doadora tem uma postura benemerente, e a organização sem fins lucrativos beneficiária, uma atitude agradecida. A relação é valiosa para as organizações sem fins lucrativos como uma fonte de fundos, conceito que a maioria dessas organizações tem das empresas. Para a empresa, esse valor se traduz em um meio para promover uma imagem e honrar os valores corporativos como uma instituição zelosa e responsável. Estágio Transacional. Um número significativo de empresas e organizações sem fins lucrativos está migrando para esse segundo estágio, no qual a interação tende a focalizar atividades mais específicas, com compartilhamento de valores. Os benefícios são sentidos por todas as organizações parceiras, embora não sejam necessariamente os mesmos; na realidade, são quase sempre diferentes. As duas organizações passam a mobilizar suas competências essenciais; não se trata mais de uma simples transferência de fundos. A parceria ganha maior importância para as missões e estratégias de ambas. Esse estágio abrangeria atividades como programas de marketing relacionado a uma causa, patrocínios de eventos, projetos especiais e atividades voluntárias dos empregados. As atividades de marketing relacionado a uma causa, em especial, cresceram rapidamente, tornando-se elemento de destaque no mix de marketing de muitas empresas, gerando cerca de US$1,5 bilhão ao ano para as organizações sem fins lucrativos. Estágio Integrativo. Um número menor – embora crescente – de colaborações evolui para alianças estratégicas que envolvem convergência de missões, sincronização de estratégias e compatibilização de valores. As organizações passam a interagir com mais frequência e assumem um número bem maior de atividades conjuntas. Os tipos e os volumes de CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 24 recursos institucionais empregados se multiplicam. As competências essenciais não são simplesmente mobilizadas, mas unidas para criar combinações singulares e de alto valor. O grau de integração organizacional assume a aparência de joint venture e não de uma simples transação. Em alguns casos, os parceiros efetivamente criam entidades novas, administradas em conjunto, para materializar sua aliança. Abaixo temos a representação dos três estágios: Segundo Austin "a cooperação eficaz envolve, em última instância, fazer uma roupa sob medida que se amolde perfeitamente bem às características e necessidades dos parceiros". Em termos gerais, quanto mais as colaborações se ajustam às missões, aos valores e às estratégias organizacionais, maiores são as chances de sucesso. Conceitualmente, o grau de alinhamento entre duas organizações podeser entendido em termos de duas dimensões: amplitude e profundidade. A amplitude contempla algumas variáveis críticas para qualquer organização – missão, valores e estratégia – e examina quantas dessas variáveis estão relacionadas com a colaboração, determinando, assim, se o alinhamento será amplo ou restrito. A profundidade está relacionada com a força do alinhamento entre parceiros em qualquer dimensão, a qual poderá ser superficial ou intensa.Todas as organizações têm uma missão que capta seu objetivo central, valores que orientam seu comportamento e uma estratégia para fazer com que tudo isso aconteça. Alinhamento não significa ter necessidades e objetivos idênticos, mas, sim, algum grau de ajuste entre metas distintas, embora CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 25 complementares. O alinhamento é um atributo relacional: ele resultará daquilo que os parceiros têm em comum e será determinado pelo mínimo denominador comum que compartilham. Abaixo temos um gráfico que demonstra o grau de alinhamento em função da amplitude: Ao analisar colaborações, podemos nos sentir tentados a adotar uma lógica matemática simples e acreditar que três vínculos valem mais do que um. Essa lógica racional seria ardilosa: essas dimensões não são unidades de valor constante, que permitem comparações aritméticas simples. Uma conexão única, porém forte em qualquer dimensão, pode estruturar uma parceria sólida e estável. É por esse motivo que precisamos analisar também a profundidade da conexão. As características organizacionais dos parceiros podem ser alinhadas em graus diferentes. A conexão pode ser tal que as missões, as estratégias ou os valores de ambos os parceiros venham a coexistir de maneira confortável – em outras palavras, poderiam ser meramente compatíveis. Poderiam, até mesmo, reforçar-se mutuamente, o que as tornaria convergentes; por fim, se o ajuste for absoluto, poderiam ser congruentes. O ideal seria que o ajuste com um parceiro potencial fosse total e irrestrito, apresentando níveis de alinhamento tanto amplos quanto profundos. No mundo CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 26 real, entretanto, é improvável que uma organização seja afortunada o bastante para envolver-se em uma parceria com “alinhamento total” Em princípio seria aconselhável buscar a conexão em todas as três dimensões já que, quanto mais amplo o ajuste, mais rico o valor que o relacionamento irá criar. Ao mesmo tempo, é importante ter-se em mente que a profundidade do alinhamento é crucial, uma vez que pode compensar a falta de amplitude. Uma conexão profunda em qualquer das três dimensões organizacionais pode ser a pedra angular de um relacionamento frutífero e sólido – como exemplificado na figura abaixo (a). Por outro lado, uma colaboração construída em torno de uma conexão fraca em todas as três dimensões – como mostra a Figura (b) – provavelmente será instável. Mesmo que parcerias futuras a princípio invistam tempo e energia na busca de uma base comum, frequentemente o alinhamento de colaborações intersetoriais evolui durante seu ciclo de vida. Vários fatores podem contribuir para acrescentar amplitude à conexão entre os valores, as estratégias ou as missões dos parceiros, ou para aumentar sua profundidade. Isso pode acontecer como resultado de: Aprendizagem unilateral: É bastante frequente que uma das organizações “descubra” que a relação com seu parceiro oferece mais elos de conexão do que inicialmente previra. Entender melhor os parceiros leva à CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 27 descoberta de novos alinhamentos, que podem enriquecer as colaborações; quando isso acontece, o alinhamento ganha em termos de amplitude. Fertilização cruzada: Por meio de interação e descoberta mútuas, a aprendizagem pode ser aprofundada, a ponto de influenciar a própria identidade organizacional dos parceiros. Se as comunicações forem intensas e profundas, a colaboração poderá alterar a forma pela qual cada parceiro se vê e define seus interesses, dando, assim, um novo formato às missões, aos valores ou às estratégias. Nesse processo, as identidades organizacionais dos parceiros assumem novos contornos: elas se tornam mais parecidas. Maior congruência em missões, valores ou estratégias determina que o alinhamento da colaboração ganhe em profundidade e se torne mais intenso. Mudanças na estratégia: Em alguns casos, o alinhamento aumenta como resultado de ajustes feitos na estratégia de um dos parceiros. Por exemplo, as exigências cada vez maiores relacionadas à responsabilidade social e ambiental fazem com que as organizações busquem mudar duas estratégias e a colaboração é uma forma de facilitar esta mudança. Pressões competitivas: Em outros casos, o aumento de alinhamento não resulta da dinâmica interna da empresa, mas, sim, de mudanças em seu contexto. Quando o ambiente na empresa fica mais competitivo, tende a se tornar mais receptivo às exigências do mercado. Essa mudança cria novos incentivos para que as empresas alinhem suas colaborações intersetoriais à sua estratégia competitiva. As parcerias podem trazer inúmeros benefícios para as partes, mas é importante ter em mente que sua gestão não é uma tarefa fácil: quanto maior o potencial de criação de valor, mais complexa a gestão da aliança. Vamos ver algumas medidas que são utilizadas nessa gestão; As colaborações dificilmente se tornarão um propulsor de crescimento para as organizações participantes se os parceiros presumirem que elas podem se desenvolver no piloto automático. A atenção focalizada por parte dos líderes aptos a tomar decisões, alocar recursos e comprometer suas organizações com a parceria é um insumo vital para a gestão bem-sucedida das colaborações. A gestão da aliança também fica facilitada quando suas operações diárias são claramente definidas e atribuídas a indivíduos específicos em cada organização. À medida que as colaborações percorrem os estágios do continuum da CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 28 colaboração, a gestão da aliança se torna mais complexa. Eventualmente, os parceiros poderão considerar a criação de estruturas conjuntas de gestão. A institucionalização da parceria também é importante. As parcerias intersetoriais nascem de líderes, mas crescem e se consolidam por meio das instituições. As colaborações serão sólidas se estiverem profundamente enraizadas em parceiros institucionalmente sólidos e estáveis. Quando as colaborações estão excessivamente associadas a indivíduos específicos, o risco de interrupção aumenta. A ideia de colaboração pressupõe comunicação, uma vez que, obviamente, uma não pode existir sem a outra. Parcerias bem-sucedidas requerem comunicação eficaz em cada segmento de sua cadeia de valor, durante todo o seu ciclo de vida. A comunicação está no cerne do processo de institucionalização, e também é fundamental no processo de construção de confiança, que é condição sine qua non para qualquer colaboração. A confiança é um ativo intangível essencial em colaborações intersetoriais; sem confiança, as partes não seriam capazes de explorar, descobrir e aproveitar oportunidades de criação de valor de forma eficaz, e o relacionamento estagnaria. A transparência na gestão de fundos e a prestação de contas são importantes para que ambas as partes tenham seus interesses atendidos. Meras suspeitas em contrário podem ter um efeito devastador na reputação das organizações participantes. 1.4 Prestação de Serviços Públicos e NovasTecnologias Uma administração pública mais transparente, eficaz e voltada para a prestação de informações e serviços à população: essa a grande contribuição que as tecnologias de informação e comunicação podem dar ao relacionamento do governo com os cidadãos. Emissão de documentos, prestação de informações ligadas aos serviços públicos, acompanhamento das ações de governo e condução dos negócios públicos, acesso aos governantes e representantes eleitos são exemplos das possibilidades do uso das tecnologias de informação e comunicação pela máquina administrativa pública. A tecnologia pode ainda ser largamente aplicada para aperfeiçoar a própria gestão do governo – coordenação, planejamento, execução e controle de ações, contabilidade pública etc. – e suas transações comerciais com o setor privado. A possibilidade de acesso aos serviços, de participação nas decisões e acompanhamento dos atos governamentais por parte de todos os cidadãos, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 29 portanto, impõe a adoção de meios e métodos digitais por parte do governo, em todos os poderes constituídos e níveis governamentais, do emprego das tecnologias de informação e comunicação em benefício da eficácia, responsividade, transparência e governança A governança eletrônica ou e-governança (e-gov) pode ser entendida como a aplicação dos recursos da TI na gestão pública. Os termos “governança e democracia eletrônica” têm foco no uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) aplicadas às atividades e ações de governo, seja de governo para governo ou em especial, de governo para com a sociedade e seus cidadãos. Pela implementação continuada de redes de computadores, softwares e bancos de dados, web browsers, e portais os cidadãos obtém informações que podem ser compartilhadas de forma oportuna. As aplicações ou serviços real-time se tornam mais operáveis e consistentes, estabelecendo uma maior conectividade entre os cidadãos e o governo e resultando na melhoria da responsabilidade e transparência da gestão urbana. A governança na Sociedade da Informação deve basear-se nas redes e no acesso fácil de todos, a tudo, em qualquer lugar e a qualquer hora, criando condições de universalidade e democraticidade, por meio da prestação de serviços de forma integrada, em múltiplos canais, de forma autônoma ou intermediada por funcionários públicos capazes de servir como mediadores entre os serviços eletrônicos e os cidadãos mais excluídos das oportunidades do mundo digital. Segundo Luís Vidigal, a Administração Pública Eletrônica é assim um esforço coletivo caracterizado por: Uma forte ênfase no fornecimento de informação de cidadania e na prestação de serviços úteis a toda a Sociedade; Uma profunda transformação da organização e funcionamento da administração pública; Diferentes soluções e formas de implementação; Uso intensivo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), mas não só; Convergência, integração, sofisticação e maturidade dos processos centrados no Cidadão; Passou a ser um fenômeno à escala global de implicações políticas, cívicas e econômicas. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 30 Histórico da Informática na Gestão Pública Brasileira A história da informática na gestão pública brasileira seguiu a mesma trajetória que a sua inserção no setor privado. Teve início, na década de 70, fundamentado na gestão das receitas e despesas e prosseguiu até as experiências mais recentes, com foco na entrega de serviços ao cidadão, Nesses 30 anos, o que se convencionou chamar de informática pública - o uso intensivo das tecnologias da informação e comunicação pelas administrações públicas – experimentou as mais diversas tecnologias, alguns modelos de gestão da informação e não ficou indiferente às dezenas de siglas que surgiram como ondas nesse período (downsizing, engenharia reversa, ERP, CRM, free software). Em nada foi diferente da trajetória do setor privado, a não ser no espaço de tempo maior para a adoção da tecnologia, tanto para decidir quanto para implementá-la. A evolução do uso da tecnologia da informação na gestão pública brasileira pode ser percebida em três fases organizadas segundo os focos predominantes nas aplicações desenvolvidas. Em cada fase, novas prioridades foram dominando a cena de acordo com as políticas em vigor ou em decorrência de um amadurecimento de uma determinada tecnologia: De 1970 a 1992 – gestão interna: Foco na gestão interna: aplicações voltadas para a melhoria da gestão interna e mais eficiência dos processos administrativos financeiros. A iniciativa mais simbólica e de maior expressão dessa primeira fase é a aplicação da Receita Federal, órgão do Ministério da Fazenda responsável para execução das ações relativas à arrecadação dos impostos e tributos de natureza federal, que implementou a Declaração de Imposto de Renda por meios eletrônicos. Muito embora ela tenha surgido no início da década de 90, ela é até hoje uma das referências mundiais por suas características de eficiência, volume e confiabilidade. Muito embora sejam evidentes as vantagens para o cidadão contribuinte, mais relevantes são os benefícios para a maior eficiência dos processos do órgão público. A declaração eletrônica do Imposto de Renda substituiu todo o processo de digitação de cerca de 15 milhões de declarações feitas manualmente, atividade consumidora de tempo e de potencial acréscimo de erros no processo como um todo. Ela também reduziu a quase zero as necessidades de recursos CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 31 humanos e físicos nas agências bancárias e nos órgãos da Receita Federal somente para realizar a recepção da declaração. E, finalmente, criou melhores condições para introduzir inteligência na análise das declarações entregues. De 1993 a 1998 – serviços e informações: Foco no serviço e informações ao cidadão: aplicações e processos voltados para apoiar a prestação de serviços ao cidadão pessoalmente ou via telefone. A experiência mais relevante desse período foram os SACs – Serviço de Atendimento ao Cidadão. Uma iniciativa pioneira foi o SAC do Estado da Bahia, que caracteriza-se por reunir em um único lugar físico os mais diversos serviços públicos. Até então, cada órgão público cuidava do atendimento ao cidadão em seus mais diferentes endereços, na sua especificidade tão somente. A fragmentação dos serviços de atendimento em cada órgão gerava um grande número de deslocamentos dos usuários dos serviços e falta de integração das informações quando estas eram geradas por órgãos diferentes. O surgimento dos SACs trouxe novos conceitos no atendimento ao cidadão: reunião dos serviços em um único local; integração dos serviços e processos; pessoal especializado no atendimento ao público; espaço físico adequado e confortável para o público. Tais iniciativas levaram os serviços públicos, mediados pelo uso da tecnologia, para mais perto do cidadão. Proximidade identificada pelo atendimento personalizado e qualificado, rápido e eficiente. A expressão mais aprimorada dessa iniciativa é o Programa Poupatempo do Governo do Estado de São Paulo. São vários postos de atendimento ao cidadão espalhados pelo Estado, que usam intensivamente a tecnologia da informação. De 1999 a 2004 – serviços via Internet: Foco na entrega de serviços via Internet: aprendizado e domínio das tecnologias da Internet como ferramenta e canal de entrega de serviços. O programa de Governo Eletrônico do Governo do Estado de São Paulo é a iniciativa que melhor representaa era dos portais de serviços públicos via Internet. Esse programa consolidou um conjunto de iniciativas do Governo do Estado que usa Internet CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 32 como canal de prestação de serviços. São dezenas de serviços, dos quais destacam-se: - “Plantão Eletrônico” – essa aplicação permite o registro, via Internet, de ocorrências policiais, de natureza não complexa (furtos simples, desaparecimentos, denúncias) sem a intermediação policial. Os registros das ocorrências acontecem em ambiente seguro e autenticado, oferecendo aos cidadãos o documento oficial necessário para esses casos e ao órgão de segurança pública as informações necessárias para eventual ação policial. - Veículos – um conjunto de aplicações destinadas ao acompanhamento e regularização da situação de automóveis e motoristas. Por meio delas é possível verificar a situação de regularidade do veículo perante a autoridade competente (registro e multas), fazer pagamentos de licenças e multas, em ação conjunta com a rede bancária e a verificação da situação de regularidade do motorista (registro e pontuação). Todos estes serviços estão disponíveis em seu ciclo completo, via Internet. - “Pregão eletrônico” – aplicação que permite ao Governo do Estado de São Paulo a realização de compras eletrônicas completamente via Internet. O processo é simples e eficiente: as unidades compradoras tornam pública a sua intenção de compra. No prazo determinado, os fornecedores cadastrados podem registrar a sua intenção de participação no leilão. Em dia publicamente divulgado e ajustado, os fornecedores participantes do pregão eletrônico entregam as suas propostas. E de acordo com regras de um leilão reverso, os fornecedores podem oferecer lances cujos preços sejam menores que o menor oferecido. Dessa forma, a disputa pública em um pregão eletrônico aumentou a competição entre fornecedores e gerou economia nos gastos do Governo do Estado de São Paulo próximo de 20%. As novas tecnologias da Internet, o aumento do poder de computação dos micro computadores e a nova Lei de Responsabilidade Fiscal fizeram crescer enormemente o número de portais de órgãos públicos. A nova Lei obriga os governos a publicarem na Internet suas receitas e despesas mensais como prestação de contas aos cidadãos. Muito embora a maioria dos sítios existentes ainda esteja restrita a fornecer apenas informações e poucos serviços completos, há sem dúvida um grande crescimento no uso desse canal de comunicação para melhorar a qualidade e o acesso às informações e serviços dos governos. Por outro lado, os cidadãos mais conhecedores e exigentes dos seus direitos têm pressionado os governos a disponibilizarem serviços da mesma forma que estão disponíveis serviços semelhantes pelo setor privado. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 33 As experiências de modelo de gestão da informática pública Diversos modelos de gestão das tecnologias da informação e comunicação foram experimentados ao longo desse período. Desde um modelo centralizado e monopolista até um modelo de completa terceirização dos serviços. A grande preocupação do regime militar com controle do aparelho do Estado na década de 70 levou a área financeira (Ministério e Secretarias da Fazenda) a ter um papel relevante na definição do modelo da gestão da informação, que em larga medida perdura até hoje, baseado em empresas públicas prestadoras de serviços, detentoras do monopólio dos serviços de tecnologia da informação para o setor público. Esse modelo criou um corpo de funcionários altamente especializados nos processos missão-crítica (um ambiente tecnológico construído para evitar a paralisação de serviços computacionais e a perda de dados importantes a um negócio. Para isso, uma série de equipamentos e tecnologias é aplicada ao ambiente) e nas tecnologias baseadas totalmente em ambientes mainframes (computador de grande porte, dedicado normalmente ao processamento de um volume grande de informações). Formou uma elite de base tecnológica, concentradora da produção de conhecimento de informática para o setor público. Com o modelo monopolista e concentrador e a redução da capacidade de investimento do Estado na década de 80, essas empresas não receberam os investimentos necessários à incorporação das tecnologias que determinaram os novos rumos que se delinearam na década de 80 para o setor privado. A defasagem entre o que se tinha no privado e no público foi se tornando um forte motivo para questionamentos da existência dessas instituições diante de um mercado efervescente recheado de soluções inovadoras e práticas de baixo custo comparativo. As empresas públicas desse modelo foram criadas como prestadoras de serviços de tecnologia da informação e comunicação, geralmente subordinadas a um órgão da área financeira. Eram remuneradas pelos serviços prestados aos seus clientes, porém, detentoras do monopólio da prestação de serviços, não tinham compromissos com prazos, preço e qualidade de seus produtos. Com a redução dos investimentos no setor, as empresas não conseguiram acompanhar a velocidade das mudanças tecnológicas, as novas exigências dos CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 34 clientes públicos, agora sob a égide da computação pessoal. Esse modelo começou, então, apresentar sinais de esgotamento, no início da década de 90. No governo federal, a saída foi abandonar a concentração da gestão e execução dos serviços de informática em duas empresas públicas – SERPRO e DATAPREV – para a descentralizar a gestão e execução dos serviços de informática para cada órgão, propiciando a terceirização dos serviços em larga escala. Tendências A convergência das tecnologias de voz, dados e imagem abriu um campo vasto para os serviços públicos móveis, também conhecido como M-Gov (Móbile Government). A quantidade cada vez maior de aparelhos que acompanham o cidadão para qualquer lugar (telefones celulares, handhelds, notebooks) é um estímulo para a implementação de novos serviços ou serviços complementares aos já existentes. Por outro lado, a eficiência do uso de diversos canais de comunicação com o cidadão exige a construção de uma plataforma comum de integração dos serviços e aplicações. As iniciativas conhecidas como Plataformas de Interoperabilidade, que buscam a padronização de um ambiente comum de troca de informação e de entrega de serviços, independente dos sistemas que processam as informações, são vitais para tornar viáveis as iniciativas de Governo Eletrônico. Os governos já passaram a etapa da sensibilização sobre a importância de investimentos em tecnologia da informação em seus processos de modernização da gestão e de entrega de serviços. Também já passaram a etapa de exposição às mais recentes tecnologias. Os fornecedores fazem permanente plantão nos órgãos públicos apresentando a mais nova solução para todos os problemas. É chegada a hora de determinar indicadores e métricas que possam permitir governar a utilização dos recursos já existentes e orientar os novos investimentos. E como um guarda-chuva protetor desses novos caminhos a serem percorridos, a certificação digital é um elemento de segurança necessário para garantir a confiabilidade das transações, a privacidade do cidadão e a legitimidade do ato público. Diante de tanta vulnerabilidade da Internet espera-se um “boom” no uso dos certificados digitais. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 35 E, finalmente, o software livre, tema de discussões
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