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Behaviorismo: Estudo do Comportamento

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0 behaviorismo: uma proposta de estudo do comportamento 
Organização Ana Maria Jacó-Vilela Arfhur Arruda Leal Ferreira Francisco Teixeira Portugal 
História da Psicologia: rumos e percursos 
0 behaviorismo: uma proposta de estudo do comportamento 
JAMES MARK BALDWIN (1861-1934). Seus principais estudos sobre, psicologia foram realizados a partir da última década do século XIX. Baldwin foi uma figura importante no estudo do desenvolvimento mental de crianças, tendo realizado ele mesmo, pela primeira vez na história da psicologia, experimentos utilizando crianças como sujeitos. Também foi um dos primeiros psicólogos a aplicar a teoria da evolução de Darwin às suas teorias do desenvolvimento
Thorndike formula a "Lei do Efeito". 
das várias respostas emitidas para a mesma situação, aquelas que forem concomitantes ou acompanhadas por satisfação para o animal irão, mantidas as mesmas condições, se tornar mais firmemente conectadas a esta situação, dessa forma, quando essa ocorrer novamente, [as respostas] terão mais chance de ocorrer novamente; aquelas que são concomitantes ou acompanhadas por desconforto para o animal irão, mantidas as mesmas condições, ter as suas conexões com esta situação enfraquecida, dessa forma, quando ela ocorrer novamente, (as respostas)terão menos chances de ocorrer novamente (Thorndike, 1911: 244). 
O "manifesto behaviorista" os 6 primórdios de uma ciência do comportamento 
O que precisamos fazer é começar a trabalhar na psicologia fazendo do comportamento, e não da consciência, o ponto objetivo do nosso ataque. (Watson* 1913 ).
O interesse, de Watson era o estudo do comportamento. Ele propõe que a psicologia seja uma ciência empírica e que leve a generalizações amplas sobre o comportamento humano, mantendo-se a uniformidade do procedimento experimental, para que os experimentos dos psicólogos possam, assim como os dos físicos e químicos, ser replicados em qualquer laboratório.
 Para Watson, conceitos como imaginação, julgamento e raciocínio não deveriam ser tomados como objetos de estudo pela ciência da psicologia. Da mesma forma, tais conceitos já vinham servindo de base explicativa por cientistas das tradicionais abordagens de psicologia até então.
A primeira fase do trabalho de Watson é marcada por um grande interesse na psicologia animal. Defendendo o uso de sujeitos animais no estudo do comportamento, ele enfatizava as vantagens de sua utilização em detrimento do uso de sujeitos humanos. O trabalho com animais visa responder a perguntas (hipóteses) que poderiam ser GENERALIZADAS ao comportamento humano. Neste aspecto, a psicologia animal se torna o modelo para os estudos do comportamento
GENERALIZAÇÃO
O conceito de GENERALIZAÇÃO implica na realização do mesmo procedimento empírico com outros sujeitos da espécie em questão ou com sujeitos de outras espécies. Só quando existe a replicação dos resultados - pela realização do mesmo procedimento metodológico experimental ou de procedimento análogo - com sujeitos da mesma espécie (replicação direta) ou com sujeitos de outras espécies (replicação sistemática) pode-se falar em generalização dos resultados
 Watson estende seus estudos aos sujeitos humanos, apresentando no livro A psicologia do ponto de vista de um behaviorista, talvez o mais importante de sua carreira, sua proposta de psicologia como uma ciência natural independente. 
Mais tarde, na década de 1920, o interesse do autor muda para o estudo de crianças. Watson propôs que, ao nascer, a criança conta com apenas três reações básicas: amor, raiva e medo. Por meio dessas reações, o ambiente seria responsável pela formação dos hábitos. Segundo o autor, as pessoas, ao entrarem em contato com o ambiente que as cerca tanto o ambiente interno (músculos, glândulas etc.) quanto o externo (os objetos do mundo exterior) —, aprendem a responder aos estímulos particulares do mesmo. Quando exposta à mesma situação novamente, a pessoa realiza as mesmas ações de forma mais rápida e com a necessidade de menos movimentos diz-se que a pessoa formou um hábito para lidar com essa situação (Watson, 1924: 200)
Em Os cuidados psicológicos com a criança, de 1928 - um livro de estrondoso sucesso, Watson apresentava um sistema para a criação de filhos baseado no comportamentalismo. Ele aconselha os pais a incentivarem os filhos desde cedo a superarem as pequenas dificuldades do ambiente sem a ajuda de adultos. De acordo com o método de criação apresentado por Watson, os pais deveriam dispensar aos filhos apenas poucas demonstrações de afeto, no sentido de controlar o comportamento da criança. Essa postura, segundo Skinner (1959), levou a que Watson se arrependesse publicamente do livro, pois "ele alertava os pais sobre a demonstração incondicional de afeto". 
Mesmo dedicando a maior parte de seu tempo ao estudo da propaganda, Watson não deixou de escrever sobre psicologia. Em seu livro de 1924, Behaviorismo, o autor contextualiza e define o behaviorismo não como um sistema de psicologia, mas como uma aproximação metodológica aos problemas da mesma. Watson considerava o comportamento como um campo de estudo muito novo, e que concepções como "mente" e "consciência" ainda não haviam sido abolidas de outros campos do saber, como a filosofia, por exemplo. Além disso, apresenta conceitos como "estímulo" e "resposta", mostrando como uma resposta pode ser condicionada a um estímulo específico, que tipos de resposta que podemos apresentar, e dedica algumas páginas para tratar dos reflexos condicionados, estudados por Ivan P. Pavlov, que foi um dos maiores influenciadores de seu trabalho a partir de 1916. Em 1957, foi homenageado pela Associação Americana de Psicologia (APA) como um dos autores mais importantes da história da psicologia moderna. No ano seguinte Watson falece, aos 80 anos. 
Uma abordagem funcional do comportamento: o conceito de operante 
Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de suas ações. (Skinner, 1957)
Até o início da década de 1930, em parte da psicologia estadunidense, a ênfase explicativa dada ao comportamento dos organismos ora era feita com base na concepção mentalista da psicologia - ou seja, fazendo-se referência àquilo que estaria ocorrendo em sua mente, ora utilizando-se a noção de reflexos, esta última proposta por Pavlov e apropriada pela psicologia behaviorista de Watson. Da mesma forma, a Lei do Efeito elaborada por Thorndike influía na compreensão dos atos do indivíduo, embora tal proposta teórica tenha sido criticada por Watson por referir-se a sentimentos e estados mentais quando da explicação do comportamento. 
O contexto acadêmico da época foi marcado por uma fase conhecida como a "crise da física clássica", que alterou a maneira de pensar a ciência em todas as suas formas. O sistema determinista, que atribuía relações estritas entre as causas e os efeitos nos fenômenos naturais, sofria várias críticas desde muito antes da crise. Ernst Mach (1838-1916), físico austríaco, defendia o abandono das explicações de causalidade mecânica utilizadas pela física newtoniana, em favor da adoção de RELAÇÕES FUNCIONAIS entre os fatos. 
Dessa forma, concepção funcional de Mach, propunha um sistema no qual as explicações dadas para o comportamento do organismo em termos de causa e efeito são substituídas por descrições de relações funcionais entre as alterações ambientais e o comportamento. Esse sistema englobava dois tipos de condicionamento: o que chamou tipo Sy ou condicionamento reflexo já estudado por Pavlov e Watson, e o que chamou tipo R, no qual se torna uma consequência contingente a uma resposta, o que já havia sido trabalhado por Thorndike, como vimos acima, os resultados de Skinner em suas pesquisas sobre o comportamento reordenavam as considerações feitas sobre esse objeto de estudo até então. O comportamento dos organismos não seria influenciado apenas por alterações ambientais antecedentes, como proposto pela psicologia estímulo- resposta, baseada no paradigma reflexo. Grande parte do
comportamento seria influenciada por suas consequências. Um organismo, ao comportar-se, produz modificações no ambiente que, por sua vez, alteram a forma como o indivíduo se comporta. É neste sentido que, na perspectiva skinneriana, pode- se dizer que o organismo produz o meio que o determina. 
Proposto formalmente no ano de 1937, quando Skinner publica o artigo "Dois tipos de reflexo condicionado: uma resposta a Konorski e Miller", o conceito de OPERANTE marca a distinção de uma psicologia proponente de teorias estímulo-resposta diretamente ligadas à noção de causalidade. Considerando o significado dado às ações do organismo pelo operante, sobretudo ao fazer do organismo humano, esse conceito proporciona uma ampliação do comportamento como objeto de estudo até então não atingida no âmbito da análise do comportamento reflexo. 
OPERANTE
"O termo OPERANTE designa uma classe de respostas. A característica comum a estas respostas e que elas presumem a propriedade à qual a consequência é contingente. Um operante, portanto, uma categoria cujas instâncias concretas são respostas do organismo, ou seja, ocorrências discretas de comportamento. Essas respostas não são definidas por sua forma, mas por sua relação com a consequência" (de Rose, 1982: 73). 
A noção de comportamento operante descreve a ação do organismo sobre o meio do qual emergem as consequências últimas de seu comportamento. No entanto, quando se trata de sujeitos humanos, deve-se considerar uma forma de comportamento operante distintiva, que age indiretamente sobre o meio, ou seja, que age inicialmente sobre outros seres humanos. Denomina-se esse tipo de operante COMPORTAMENTO VERBAL
Comportamento Verbal
comportamento verbal "é. qualquer comportamento que envolva palavras, independente da modalidade (falada, escrita, gestual); que é adquirido e mantido pelas práticas de reforçamento de uma comunidade verbal, isto é, uma comunidade de falantes e ouvintes". linguagem, segundo o mesmo autor, seriam as práticas de reforçamento partilhadas pelos membros de uma comunidade verbal, levando-se em conta as "consistências de vocabulário e de gramática" (1999: 409). 
O organismo humano, portanto, quando se comporta verbalmente, tem as consequências de suas ações providas por outros seres humanos, e não imediatamente pelo ambiente físico que o cerca. A medida que o comportamento verbal começa a ser estudado, aproximadamente a partir de 1934, abre-se a possibilidade de uma análise funcional dos diversos níveis da ação humana: a linguagem, o pensamento, a moral, a alienação, os propósitos, dentre outros.
 Ressalta-se que, para Skinner, a linguagem é um comportamento operante e, portanto, é selecionada e mantida pelo contato do organismo com contingências de reforçamento específicas. 
Durante a década de 1970 e início dos a nos 1980, Skinner esboça mais claramente seu interesse nas influências biológicas que atuam sobre o comportamento. A obra Origem das espécies, de Charles Darwin, é utilizada por ele para traçar um paralelo entre os princípios da seleção natural e o comportamento dos organismos. Skinner amplia, assim, a visão de Mach sobre as relações funcionais com fatos tomando como modelo de causalidade a proposta darwiniana de seleção por consequências. O fenômeno da seleção natural, desenvolvido por Darwin para a explicação da evolução das espécies, aplica-se também à análise do comportamento do indivíduo, bem como ao estudo do processo de evolução das culturas. 
Reforçamento
Assim como características genéticas levam a mutações fisiológicas que podem ser selecionadas conforme suas consequências, isto é, segundo proporcionem maior adaptação do organismo a determinado ambiente, os comportamentos são selecionadas pelo processo de REFORÇAMENTO, OU seja, são determinados pelas consequências que forem contingentes às respostas dadas pelo organismo
Segundo Skinner, o comportamento humano é selecionado não apenas para atender a necessidades de sobrevivência imediata - sendo esta apenas um tipo de consequência seletiva como também para se adaptar a situações futuras. Os diversos tipos de ambientes com os quais nos deparamos ao longo da vida exigiriam que nosso comportamento também esteja em constante mutação, fazendo com que cada pessoa, entrando em contato com CONTINGÊNCIAS específicas, se torne única, comportando-se de forma distinta das outras pessoas. Duas pessoas, mesmo que possuam idêntico dote genético, não teriam a mesma história de relação com o ambiente, simplesmente pelo fato de ocuparem locais diferentes no ESPAÇO
Filogenético, Ontogenético, cultural
Skinner define, dessa forma, três níveis de atuação das contingências: o filogenético, o ontogenético e o cultural. O comportamento humano é fruto da ação integrada e inseparável destes três níveis. O primeiro refere-se à seleção de comportamentos característicos da espécie ao longo do processo evolutivo da mesma. O segundo diz respeito à história de reforçamento, ou seja, é relativo aos comportamentos selecionados ao longo da vida de um indivíduo, considerando-se a interação deste com seu ambiente. O terceiro, o nível cultural, é relativo aos comportamentos selecionados pela interação do organismo humano com seu ambiente social específico, caracterizado por determinadas práticas sociais (Skinner, 1981). Algo de extrema importância a ser ressaltado c que a susceptibilidade do organismo às consequências do comportamento - ou seja, a capacidade de ser influenciado pelas consequências de suas ações —, é uma característica que foi selecionada filogeneticamente
Segundo Skinner. a humanidade deu um grande passo em termos sociais quando a musculatura vocal passou a ficar sob controle operante, isto é, quando as emissões vocais passaram a ser influenciadas por suas consequências. A emergência do comportamento verbal teria permitido que a cooperação entre os seres humanos fosse mais bem-sucedida. Da mesma forma, as pessoas passaram a aprender a partir daquilo que outros haviam aprendido, por exemplo, seguindo REGRAS socialmente estabelecidas e conselhos dados por outrem. O alfabeto e a escrita desempenham um papel preponderante nesse aspecto, uma vez que possibilitam a disseminação de determinados avanços obtidos por uma comunidade humana por diversos locais e, sobretudo, ao longo do tempo.
SKINNER
Para o Behavionsmo de Skinner, comportar-se verbalmente, por sua vez, permite outro passo importante, que é o processo de evolução cultural. Uma maneira diferente de resolver determinado problema, como, por exemplo, cultivar grãos, desenvolver um novo método de navegação ou mesmo escrever um poema, é selecionada por suas consequências: o cultivo de determinado tipo de grãos, um melhor barco e um poema escrito. Tais processos surgiriam em níveis individuais e poderiam ser passados a outros seres humanos. Contribuirão para a evolução da cultura aqueles desenvolvimentos de determinado grupo que se mostrarem úteis na solução de QUESTÕES SOCIAIS.
Análise do comportamento
A análise do comportamento, denominação dada à forma de ciência proposta por Skinner, considera o comportamento dos organismos como sendo fruto desses três níveis de atuação das contingências que, por sua vez, são indissociáveis. Os seres humanos são parte de uma espécie e possuem uma relação única, com seu ambiente, que é social e também histórica. Filogeneticamente seria selecionado um organismo da espécie humana enquanto a ontogenia e a cultura selecionariam, respectivamente, uma pessoa e um eu. Os conceitos de "pessoa" e "eu" não descrevem o indivíduo como portador ou possuidor de uma personalidade, enquanto conceito explicativo ou estrutura determinante de seus comportamentos. Um organismo, uma pessoa ou um eu são denominações que descrevem os comportamentos do organismo procurando fazer referência, respectivamente, às contingências filogenéticas, ontogenéticas ou culturais nas quais a explicação deve ser buscada
Aspectos filosóficos da análise do comportamento 
O behaviorismo, segundo Skinner, não é a ciência do comportamento
humano, mas sua filosofia. Diferentemente do behaviorismo watsoniano, o BEHAVIORISMO RADICAL rejeita o critério de consenso público isto é, consenso entre dois ou mais observadores acerca de um fenômeno - como central na definição de um objeto de estudo. Da mesma forma, não ignora a capacidade de auto-observação, mas questiona a natureza daquilo que é observado, em suma, daquilo que é conhecido
Behaviorismo Radical
A designação BEHAVIORISMO RADICAL foi cunhada por Skinner para se referir à filosofia da análise experimental do comportamento. O termo "radical" vem da raiz, no sentido em que designaria uma proposta que se atem ao estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, sem o recurso explicativo a qualquer outra entidade. 
Segundo Skinner, a introspecção proposta pelas tradicionais escolas de pensamento psicológico enfatiza apenas o interno, o mental. Ao contrário, o behaviorismo metodológico, rejeitando o estudo dos eventos mentais - pois não haveria sobre eles consenso entre observadores, enfatiza a análise dos eventos externos determinantes do comportamento. 
O behaviorismo radical estabeleceria um equilíbrio, na medida em que admite a CAPACIDADE DE AUTO-ORSERVAÇÂO e que foca também os determinantes ambientais do comportamento. Aqueles comportamentos emitidos de maneira inobservável não são tomados como especiais apenas porque ocorrem no interior do organismo. 
"O behaviorismo radical não nega a possibilidade da AUTO-OBSERVAÇÃO ou do autoconhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido e observado. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os psicólogos introspectivos acreditavam 'esperar', e suscita o problema de quanto de nosso corpo podemos realmente observar" (Skinner, 2000 [19741: 19). 
Assim corno comportamentos diretamente observáveis, os eventos privados são também comportamentos, são frutos da interação de um organismo com seu ambiente. O fato de ocorrerem no interior do organismo não lhes atribui uma natureza especial (seja uma natureza não física, seja uma natureza explicativa de comportamentos públicos). Como ressaltado por Skinner, o que observamos é nosso próprio organismo, nosso comportamento. A proposta behaviorista radical parte do estudo do comportamento tomando-se como objeto o próprio comportamento, isto, sem buscar referências explicativas de outra natureza, sejam elas mentais ou fisiológicas

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