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1 TEOREMA DE ROLLE Professor André Gustavo * O Teorema de Rolle foi publicado pela primeira vez em 1691 pelo matemático francês Michel Rolle. O Teorema de Rolle afirma que dada uma função contínua f que satisfaz as hipóteses: 1. f é contínua no intervalo fechado [a, b]. 2. f é diferenciável no intervalo aberto (a, b). 3. f (a) = f (b) Então existe um número c em (a; b) tal que f’ (c) = 0. Para uma idéia mais ilustrativa do que foi dito, vamos apresentar alguns gráficos de funções que satisfaçam as três hipóteses. Demonstração: Inicialmente, vamos separar a demonstração em três casos: CASO 1: f (x) = k, uma constante Então f’ (x) = 0, assim, o número c pode ser tomado como qualquer número em (a; b). CASO 2: f (x) > f(a) para algum x em (a, b) Pelo Teorema do Valor Extremo1, f tem um valor máximo em algum ponto de [a, b]. Uma vez que f (a) = f (b) ela deve assumir esse valor máximo em um número c no intervalo aberto (a, b). Então f tem um máximo local em c e, pela hipótese 2, f é diferenciável em c. Portanto, f’(c) = 0 pelo Teorema de Fermat. 1 Teorema do Valor Extremo: Se f for contínua em um intervalo [a, b], então f assume um valor máximo absoluto f(c) e um valor mínimo absoluto f(d) em algum número c e d em [a, b]. Este Teorema pode ser aplicado no caso 2 devido à primeira hipótese do Teorema de Rolle. 2 CASO 3: f (x) < f(a) para algum x em (a, b) Pelo Teorema do Valor Extremo f tem um valor mínimo em algum ponto de [a, b]. Como f (a) = f (b) ela deve assumir esse valor mínimo em um número c no intervalo aberto (a, b). Assim, f’(c) = 0 pelo Teorema de Fermat. Aplicações: Verifique se o Teorema de Rolle se aplica as funções 2 4 )( 2 − − = x xx xf e 2 4 )( 2 + − = x xx xg . Solução: Consideremos 2 4 )( 2 − − = x xx xf . Observemos que para x = 0 ou x = 4, f(x) = 0. Observemos também que f(x) é descontínua em x = 2, que é um ponto do intervalo 40 ≤≤ x , logo, não se pode aplicar o Teorema de Rolle. Consideremos agora 2 4 )( 2 + − = x xx xg , nesse caso a função é descontínua em x = - 2 que não pertence ao intervalo 40 ≤≤ x . Derivando g(x), temos: 2 2 2 2 2 22 2 2 2 22 )2( 842 )(' )2( 842 )2( 48442 )2( )4(1)2).(42( )2( )4)'.(2()2)'.(4( )(' + −+ =∴ + −+ = + +−−−+ = = + −−+− = + −+−+− = x xx xg x xx x xxxxx x xxxx x xxxxxx xg Podemos concluir que 2 2 )2( 842 )(' + −+ = x xx xg está definida em todos os pontos do intervalo, exceto x = - 2. Portanto, pode-se aplicar o Teorema de Rolle. Considerando o Teorema de Rolle como lema preliminar a outro teorema muito famoso da matemática, vamos inserir nesse contexto, um grande matemático ítalo-francês chamado Joseph – Louis Lagrange, que provou no século XVIII um teorema que ficou conhecido como Teorema do Valor Médio de Lagrange. O Teorema do Valor Médio possui um conteúdo geométrico muito sugestivo, que merece ser analisado antes mesmo de enunciá-lo. Para isso vamos considerar a função f e dois pontos sobre o seu gráfico: A = (a, f(a)) e B = (b, f(b)) 3 Figura 1 O declive da secante AB é dado por ab afbf − − )()( . Observemos que a figura sugere que entre A e B deve haver algum ponto C = (c, f(c)) sobre o gráfico, onde a reta tangente à curva seja paralela a secante AB. Mas então os declives dessas duas retas serão iguais. Como o declive da tangente em C é f(c), teremos )(' )()( cf ab afbf = − − ou ainda ))((')()( abcfafbf −=− . Observemos que o valor c entre a e b, satisfazendo a equação ))((')()( abcfafbf −=− pode não ser único. A figura abaixo ilustra uma situação em que há dois pontos C e D entre A e B, onde as tangentes são paralelas à secante AB. Figura 2 Portanto, nesse caso há duas abscissas c e d tais que ))(('))((')()( abdfabcfafbf −=−=− . Pode acontecer também, que não haja ponto algum nas condições citadas, como em ||)( xxf = . Isso mostra que para validade geral da equação ))((')()( abcfafbf −=− , é imprescindível que a função f seja derivável no intervalo (a, b). No caso particular em que f (a) = f (b), a equação ))((')()( abcfafbf −=− se reduz a f’(c) = 0. Esse fato é conhecido como o Teorema de Rolle, que já demonstramos acima. 4 Vamos enunciar então o Teorema do Valor Médio de Lagrange. Seja f: [a, b] → IR uma função que satisfaz as seguintes condições: 1. f é contínua no intervalo fechado [a, b]. 2. f é derivável no intervalo aberto (a, b). Então, existe um número c em (a, b) tal que ab afbf cf − − = )()( )(' Demonstração do Teorema do Valor Médio: A demonstração desse teorema consiste em síntese em duas etapas; 1o) Definir uma função F(x) no intervalo [a, b] que satisfaça as hipóteses do Teorema de Rolle. 2o) Aplicar a F(x) o Teorema de Rolle. Prova Vamos considerar a função F(x) igual à diferença entre as ordenadas f(x) da curva e Y da reta secante AB, ou seja, F(x) = f(x) – Y, para um mesmo valor x da abscissa. A secante AB• é a reta pelo ponto (a, f(a)) com declive ab afbf − − )()( ; Logo sua equação é dada por )( )()( )( ax ab afbf afY − − − =− ou )( )()( )( ax ab afbf afY − − − += Portanto a Função F(x) = f(x) – Y será dada por: )( )()( )()()( ax ab afbf afxfxF − − − −−= Daí podemos observar facilmente que F(a) = F(b) = 0, além do que F é derivável nos pontos internos ao intervalo [a, b]. Logo o Teorema de Rolle é aplicável a essa função: existe um ponto c, entre a e b, tal que F’(c) = 0. Mas ab afbf xfxF − − −= )()( )(')(' de sorte que F’(c) = 0 significa ab afbf cf − − = )()( )(' Ou ainda ))((')()( abcfafbf −=− . Isso completa a demonstração do Teorema. Agora, vamos ver como utilizar o Teorema do Valor Médio para elucidar o seguinte problema. • Observe a Figura 1 5 Dois corredores iniciaram uma corrida num mesmo instante e terminaram a corrida empatados. Prove que em algum instante durante a corrida eles têm a mesma velocidade. Solução: Consideremos inicialmente que tais corredores gastaram um tempo T para terminar a corrida, daí sejam S1 e S2 definidas no intervalo [0, T] É bastante razoável, do ponto de vista físico, que tais funções serão deriváveis satisfazendo S1(0) = S2(0), (pois os corredores partem da mesma posição inicial) e S1(T) = S2(T) (pois os mesmos terminam a corrida empatados). Com base em tais informações, consideremos a função F: [0, T] → IR definida por: F(t) = S1(T) - S2(T) Notemos também que a função F também é derivável, pois é a diferença entre duas funções deriváveis, e a mesma satisfaz que F(0) = F(T) = 0. Utilizando o Teorema do Valor Médio de Lagrange, observemos então que deve existir um tempo t ∈ (0, t) satisfazendo 0 0 )0()( )(' = − − = T FTF tF Usando a definição de F temos que S’1(T) – S’2(T) = 0 e lembrando-se que a derivada da posição é a velocidade, segue que no tempo t vale V1(t) - V2(t) Onde V1 e V2 são as respectivas velocidades, concluindo assim nossa demonstração. 6
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