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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL RS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS DANIELA MADEIRA KICH JOSIANE SALETE FEDESKI ROSANE PEREIRA BITTENCOURT ESCOLA CULTURAL APLICADA AO CASO IBM PORTO ALEGRE, RS. 2012 1. Escola cultural 1.1 Conceito e caracterização O poder toma a entidade denominada organização e a fragmenta; a cultura junta uma coleção de indivíduos em uma entidade chamada organização. O primeiro focaliza o interesse próprio, a segunda o interesse comum. Cultura não é uma idéia nova. Do ponto de vista da antropologia, a cultura está em tudo que nos cerca, naquilo que bebemos, na música que ouvimos, na maneira pela qual nos comunicamos. Ao mesmo tempo, cultura é aquilo que é único, que diferencia uma organização de outra, uma nação de outra. Portanto, seu caráter universal, mas único, tem se refletido também em sua aplicação à administração estratégica. A cultura foi “descoberta” em administração nos anos 80, graças ao sucesso das corporações japonesas. Elas pareciam fazer as coisas de maneira diferente das americanas e, ao mesmo tempo, imitando descaradamente a tecnologia dos Estados Unidos. Todos os dedos apontavam para a cultura japonesa e, em especial, para como esta se havia manifestado nas grandes corporações japonesas. A cultura pode ser estudada do ponto de vista de uma pessoa de fora ou do nativo de dentro. O primeiro assume uma posição objetiva sobre as razões pelas quais as pessoas se comportam como o fazem, as quais são explicadas pelo caráter único dos relacionamentos sociais e econômicos. O segundo considera a cultura como um processo subjetivo de interpretação, não baseado em qualquer lógica abstrata universal. A cultura é essencialmente composta de interpretações de um mundo e das atividades e artefatos que refletem as mesmas. Além da cognição, essas interpretações são compartilhadas coletivamente, em um processo social. Não há culturas particulares. Algumas atividades podem ser individuais, mas sua importância é coletiva. Assim, associamos cultura organizacional com cognição coletiva. Ela passa a ser a “mente” da organização, se você preferir, as crenças comuns que se refletem nas tradições e nos hábitos, bem como em manifestações mais tangíveis – histórias, símbolos, ou mesmo edifícios e produtos. A cultura organizacional pode ser vista como um “tecido social expressivo”, e como, o tecido humano, une os ossos da estrutura organizacional aos músculos dos seus processos. Em certo sentido, a cultura representa a força vital da organização, a alma do seu corpo físico. 1.2 Premissas: a) A formação de estratégia é um processo de interação social, baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização. b) Um indivíduo adquire essas crenças através de um processo de aculturação ou socialização, o qual é em grande parte tácito e não verbal, embora, seja às vezes reforçado por uma doutrinação mais formal. c) Portanto, os membros de uma organização podem descrever apenas parcialmente as crenças que sustentam sua cultura, ao passo que as origens e explicações podem permanecer obscuras. d) Em consequência disso, a estratégia assume a forma de uma perspectiva, acima de tudo, enraizada em intenções coletivas (não necessariamente explicadas) e refletida nos padrões pelos quais os recursos ou capacidades da organização são protegidos e usados para sua vantagem competitiva. Portanto, a estratégia é melhor descrita como deliberada (mesmo que não seja plenamente consciente). e) A cultura e, em especial, a ideologia não encorajam tanto as mudanças estratégicas quanto a perpetuação da estratégia existente, na melhor das hipóteses, elas tendem a promover mudanças de posição dentro da perspectiva estratégica global da organização. 2. Caso IBM A IBM (International Business Machines) desenvolveu uma cultura organizacional bastante forte, pautada em três credos básicos, sendo eles: respeito ao indivíduo, prestar o melhor serviço ao cliente e a busca pela excelência. Esses credos são concretizados através de programas e políticas organizacionais. O estudo de caso que escolhemos preocupou-se em analisar as mudanças ocorridas na empresa devido à implementação da política Market Driven Quality (Qualidade impulsionada pelo mercado). A proposta de mudança organizacional se deu pela desaceleração do crescimento da empresa em 1991. As estratégias de mudança seguiram os credos básicos da organização, fazendo uma releitura dos mesmos. Além disso, com essas mudanças os gestores da empresa pretendiam que a IBM determinasse efeitos no mercado e não apenas reagisse a eles, e, dessa forma, voltasse a assumir a liderança mundial. Para isso, acreditava-se que cada um deveria se sentir intimamente ligado e comprometido com suas atividades e com a obtenção dos resultados, e, ainda, que antes de se sentir fazendo parte da IBM, deveria pertencer a um setor da organização. Dessa forma, houve um processo de re-socialização dentro da empresa. O presidente da época, Jonh Akers, tinha como estratégia fazer de pessoas que tiveram iniciativas “heróis” dentro da empresa, difundindo suas histórias a fim de criar um “clima” propício à aceitação de novos valores, incentivando a mudança de comportamento e a internalização da cultura. A IBM Brasil tinha problemas com as restrições impostas pela legislação brasileira na produção de computadores, com o fim da lei de informática, implementa mudanças para atuar no mercado brasileiro que passa a ter novas oportunidades de negócio. Na unidade brasileira identificou-se sub-grupos, que incorporam as mudanças de modos diferentes; alguns são mais avessos, outros mais tolerantes. Esses sub-grupos são classificados em cinco divisões: estagiários, contratados temporários, efetivos, “subcontratados” (são os funcionários de empresas contratados pela IBM; serviço terceirizado) e vendors (executam trabalho especializado e permanece na empresa apenas para sua execução). A identificação desses sub-grupos propicia que sejam criadas estratégias de mudanças que atinjam a todos os envolvidos na empresa. As mudanças na organização são difundidas através de cursos e treinamentos. Nesses cursos, além de apresentar técnicas para a melhoria do trabalho, é feito o processo de internalização da nova cultura. Além disso, são utilizadas publicações internas para seja feita a divulgação dessa cultura, por meio da criação de prêmios, de símbolos de qualidade, da comunicação verbal e visual. Também são consideradas as sub-culturas, que pertencem aos sub- grupos. Estas podem ser incorporadas, caso não afrontem aos paradigmas da cultura organizacional imposta pela empresa. No entanto, aquelas que afrontarem essa cultura, poderão ser eliminadas. Como estratégia de mudança a IBM buscou ser uma empresa menos fechada, comparando seus resultados com concorrentes, e com uma gestão mais participativa, a qual contribui para a verificação e a introdução de mudanças necessárias. 3. Considerações Finais Nesse processo de mudança, os valores e significados que compõem a “Nova IBM” são difundidos, pela alta direção, para serem compartilhados por toda a organização e deverão nortear os rumos da empresa, possibilitando a coordenação de atividades conjuntas. Nesse estudo de caso, podemos verificar que a formação da estratégia é um processo coletivo e que a cultura influencia na manutenção da estabilidade da estratégia. Portanto, a cultura não encoraja mudanças estratégicas, mas promovem mudanças de posição dentro da perspectivaestratégica global da organização. Assim, a escola cultural promove a compreensão de um período de recomposição em uma organização. Período no qual uma nova perspectiva é desenvolvida. Auxilia a organização em um período de revolução cultural, acompanhando as reformulações estratégicas. Referências Bibliográficas: MINZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce; LAMPEL, Joseph. Safári de Estratégia. Um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Segunda Edição, Editora Bookman, 2010. http://www.strategia.com.br/Casos/casos_corpo_ibm.htm > acessado em 01/12/12 às 10h45min.
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