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aula 1 a 6 dimensão metodológica

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Aula 1 dimensão metodológica
Caro(a) aluno(a), damos início agora à nossa aula sobre “Métodos e técnicas na gênese do Serviço Social”.
Trataremos das expressões do fazer profissional do Serviço Social na sua origem, que difere bastante do que se observou ao longo da história da profissão e do que se aplica na contemporaneidade. Assim, trata-se de um estudo de métodos e técnicas, de acordo com um dado momento histórico e toda a compreensão de conteúdo deve levar este fator em consideração. Temos como objetivos desta aula:
Conhecer e aplicar o conceito de metodologia;
Reconhecer o papel da perspectiva de ajuda na construção da metodologia da profissão;
Compreender a influência da Igreja Católica nos métodos adotados pelo Serviço Social, por meio das ações baseadas na experiência de São Vicente de Paulo;
Compreender a influência da Igreja Católica nos métodos adotados pelo Serviço Social, por meio das ações baseadas no método “ver, julgar e agir”; desenvolvido pelo Movimento de Ação Católica;
Correlacionar aspectos metodológicos das primeiras práticas do Serviço Social com a formação obtida nas primeiras escolas da área.
Quando iniciamos como alunos em um curso de Serviço Social, são muitas as nossas motivações e curiosidades. Queremos conhecer mais sobre essa profissão, tirar dúvidas, saber em que lugares os Assistentes Sociais atuam e como procedem e temos muito interesse pela prática do Serviço Social.
Quais são as suas curiosidades e interesses sobre o curso de Serviço Social? Já conseguiu fazer novas descobertas desde o início do curso até este momento? Certamente, você ainda tem muito a descobrir! Mas trazemos uma problematização neste momento: você sabe como se originou a profissão do Serviço Social e como atuavam os primeiros Assistentes Sociais? Será vamos responder a estas questões agora!
Podemos adiantar que desde sua origem até os tempos atuais, o Serviço Social passou por diferentes influências teóricas e adotou também distintas formas de intervenção. Com esta aula, pretendemos conhecer melhor sobre este processo histórico e conseguir responder com clareza as questões aqui apresentadas. Vamos aos estudos e boa aula!
Tema 1 dimensão metodológica
Neste momento queremos discutir sobre o significado da dimensão metodológica para o Serviço Social. Desde sua origem, o Serviço Social esteve muito ligado ao fazer, ao executar. Foi e é considerado uma profissão interventiva. Contudo, ao longo da história existiram avanços na perspectiva de sustentar teórica, ética, política e cientificamente esta ação.
Num momento inicial, o Serviço Social mostrava-se mais como o executor de teorias desenvolvidas pela psicologia, medicina, sociologia ou mesmo pela doutrina social da Igreja Católica. Sob essa perspectiva, houve grande busca para se qualificar a intervenção, com amplo enfoque na qualidade das técnicas a serem utilizadas (LIMA,1978). Ao amadurecer da profissão, foi identificada a necessidade de se produzir conhecimento em Serviço Social. A vivência prática dos profissionais desta área permite a realização de reflexões fundamentadas teoricamente, capazes de questionar a própria técnica.
Quando pretendemos tratar dos fundamentos histórico, teóricos e metodológicos do Serviço Social sob a dimensão metodológica, estamos propondo um conhecimento, reflexão e análise sobre os métodos adotados histórica e contemporaneamente pela profissão. Cabe, neste sentido, destacar a diferenciação dos conceitos de “método” e “metodologia”, segundo nos apresenta o autor Boris Alexis Lima (1978, p. 20):
Método: um conjunto de procedimentos estruturados, formais, sistematizados, cientificamente fundamentados, característicos da profissão e/ou da investigação. Os métodos variarão de acordo com os propósitos a que se destinem e segundo a estratégia social que prevaleça.
Metodologia: estudo dos métodos objetivando conhecimento. Circunscreve o aprendizado da teoria dos métodos que ordenam as operações cognoscitivas e práticas na ação profissional racional.
Assim, a opção pelo estudo de uma dimensão metodológica compreende conhecer e discutir os diferentes métodos desenvolvidos, adotados e empregados pelo Serviço Social ao longo de seu percurso enquanto profissão. Demanda correlacionar tais métodos com seus contextos históricos e políticos e compreender para quais objetivos foram criados e implementados.
Importante destacar que o Serviço Social contou, ao longo de sua história, com diferentes propostas de métodos, bem como com diferentes matrizes teóricas que referenciaram sua produção e respaldaram sua avaliação. Assim, o estudo contemporâneo da metodologia do Serviço Social requer compreender a conjuntura teórico-política em que se desenvolveu cada método. Deve considerar também a análise crítica fundamentada nas literaturas convergentes com o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social, na atualidade.
Por isso, recomendamos, para seu melhor aproveitamento, que o estudo dos Fundamentos Histórico, Teórico e Metodológicos do Serviço Social realize-se de maneira integrada entre as disciplinas que tratam destas diferentes dimensões: histórica, teórica (positivismo), teórica (marxismo) e metodológica.
Tema 2- ajuda como motivador da ação
Em sua gênese, ou seja, em suas origens, a profissão do Serviço Social contou com um forte motivador de sua intervenção: a relação de ajuda. Tratava-se de uma atitude motivada por ideários religiosos, com forte influência da Igreja Católica, e mesmo políticos, na intenção da manutenção da ordem.
É importante destacar que a origem do Serviço Social se dá no contexto histórico de avanço do capitalismo, no período de intensa industrialização e de transformações no Estado que asseguravam a ascensão da burguesia ao poder. Neste período, era crescente o empobrecimento dos trabalhadores e suas péssimas condições de sobrevivência (MARTINELLI, 2011).
A relação de ajuda proposta pelo Serviço Social nos Estados Unidos possuía características vinculadas a um apoio terapêutico, na lógica do tratamento. Tinha como referenciais teóricos os conhecimentos desenvolvidos pela medicina e pela psicologia (LIMA, 1978).
A ajuda que motivou a criação do Serviço Social na Europa tinha base na doutrina social da Igreja Católica. Possuía caráter de missão pessoal, de vocação, de doação de vida em favor de uma causa. Assim, o Serviço Social surgia com características de “profissionalização da ajuda”. Neste caso, o amparo teórico para a ação encontrava-se na filosofia e mesmo na explicação religiosa da vida e da sociedade, segundo a doutrina católica.
A ajuda realizada por motivações religiosas era conduzida com estratégias do trabalho pastoral da Igreja Católica. Foi marcante nesse processo o Movimento de Ação Católica, que compreendia grupos de reflexão sobre a situação social, ações de evangelização de intelectuais e iniciativas de apoio aos fiéis empobrecidos. Dentro deste Movimento, era designado um grupo específico para o atendimento de indivíduos e pequenas comunidades com suporte material e aconselhamentos. Esse grupo era formado em geral por mulheres da alta sociedade da época e deu origem às primeiras iniciativas de formalização do Serviço Social na Europa (AGUIAR, 1982).
A atitude do Serviço Social, neste período, confundia-se facilmente com um processo de prática religiosa católica. A intervenção era pontual, com características de assistencialismo. O fundamento da ação era a crença, o amor a Deus e o ensinamento sobre a prática da caridade como socorro aos mais necessitados.
Tanto na experiência norte-americana quanto na experiência europeia, com grande influência católica, não havia uma intenção crítica de questionar a conjuntura social em que o indivíduo estava localizado e mesmo de pretender mudanças estruturais. Entendia-se a novidade do capitalismo como um modelo insuperável e definitivo, dentro do qual os indivíduos deveriam ajustar-se. Conforme apresentados por Aguiar (1982, p. 32), escritos do ano de 1949, que registram a Sessão Internacional de Estudos, promovidapelo Secretariado Latino-Americano da União Católica Internacional de Serviço Social, apresentam o seguinte conceito para o Serviço Social católico:
uma forma de ação social que, por métodos técnicos apropriados, baseados em dados científicos, quer contribuir para a instauração ou manutenção da ordem social cristã favorecendo, a criação ou o bom funcionamento dos quadros sociais necessários ou úteis ao homem.
Tema 3- experiência baseado em São Vicente de Paulo 
A prática inicial do Serviço Social não contava ainda com uma metodologia consistente, construída por seus profissionais. Era pautada nos ensinamentos filosóficos, sociais e morais da Igreja Católica. Contudo, contava com um conjunto de estratégias de organização. Destacou-se neste processo São Vicente de Paulo.
São Vicente (1576-1660), um sacerdote católico, assumiu a missão de cuidado dos pobres de sua época. Uniam-se à sua causa, homens e mulheres que desejavam colaborar nesta ação. Assim, São Vicente de Paulo destacou-se por organizar a caridade. Desta forma, administrava recursos materiais e humanos disponíveis para realizar a ajuda aos empobrecidos. Para conhecer sobre os métodos de trabalho e organização desenvolvidos por São Vicente e sua influência no Serviço Social, contaremos com a produção de Balbina Ottoni Vieira (1984), denominada “Serviço Social: precursores e pioneiros”.
São Vicente destacou-se por sua forma de intervenção junto aos pobres, doentes, crianças e mendigos da época. Enquanto religioso, abraçou o serviço aos pobres como missão pessoal e influenciou muitos fiéis católicos a colaborarem neste processo. Incentivou famílias católicas da burguesia a desenvolverem ações de caridade junto às famílias pobres. Tais ações eram organizadas por ele. Em princípio, as mulheres eram incentivadas a visitar duas ou três famílias pobres e ofertar ajuda em suas necessidades.
As mulheres que aderiam a esta prática eram de famílias nobres e consideradas damas da sociedade da época. São Vicente desenvolveu um programa de orientação para que essas damas realizassem as visitas domiciliares. Compreendia a formação de que deveriam visitar e orientar as pessoas doentes, e prestar esclarecimentos a estas para que buscassem ajuda médica sempre que necessário.
Ainda considerava indicações de que as famílias deveriam ser assistidas materialmente com alimentos e não com dinheiro, de uma forma integral quando não tinham condições de se sustentar, e de forma complementar quando desenvolviam atividades cuja remuneração era insuficiente para a sobrevivência. Os grupos de damas que desenvolviam suas ações sob as orientações de São Vicente foram chamados de Confrarias da Caridade (VIEIRA, 1984).
Um segundo tipo de grupo dedicado à ação junto aos pobres foi composto por jovens camponesas que tinham a intenção de dedicar-se às funções religiosas. Estas distinguiam-se das damas por possuírem personalidades mais simples e menos competitivas, bem como possuíam maior disposição de convívio com as pessoas pobres, o que se tornara um problema para algumas damas.
Essas jovens, contudo, precisavam passar antes por processos educativos. Recebiam então formação em conhecimentos básicos de linguagem e cálculo e no catecismo. Estas foram consideradas as Filhas da Caridade. Para sua formação e organização do trabalho realizado pelas Filhas da Caridade, São Vicente contou com a ajuda de Luísa de Marillac, mulher da nobreza, viúva e religiosa dedicada. Luísa acompanhava a prática das jovens e orientava como deveriam ser suas atitudes em relação às famílias pobres. Mantinha-se a estratégia das visitas domiciliares, da orientação aos doentes e do apoio material. As ações organizadas por São Vicente compreendiam também a oferta de apoio espiritual e ensinamento doutrinário às famílias visitadas (VIEIRA, 1984
Luísa de Marillac também apoiou São Vicente na organização de ações de apoio às crianças abandonadas de sua época. O fenômeno era comum e contava com o agravante de que tais crianças eram vistas com grande preconceito pela sociedade.
Este preconceito se originava no fato de que muitas eram abandonadas por terem sido concebidas em relações fora do casamento, o que lhes atribuía um estigma de “produtos do pecado”. São Vicente e Luísa de Marillac assumiram o cuidado de abrigos para crianças abandonas e organizavam ações educativas para estas. Foram pioneiros nas orientações de educação das crianças evitando o recurso ao castigo físico, que era aceito na época (VIEIRA, 1984).Outro público alcançado pelas ações de São Vicente foram os mendigos. Para organizar as ações de caridade a estes, foram organizados grupos de voluntários homens, denominados Servos de Deus. Para ação junto aos mendigos, São Vicente os classificou em três diferentes perfis, conforme nos descreve Vieira (1984, p. 41):
“As categorias de mendigos eram em número de três: 1) os pobres ‘impotentes’, que não tinham meios de subsistência e, portanto, tinham direito a ‘esmolas’ e podiam ser admitidos no ‘Hôtel-Dieu’, o único hospital existente naquele tempo. Até 1665, todos os hospitais criados depois do Hotel-Dieu eram encarregados da triagem dos pobres verdadeiros ou falso; para serem reconhecidos, os pobres verdadeiros levavam uma cruz amarela pregada no ombro direito; 2) os pobres ‘válidos’, que podiam trabalhar e que a municipalidade empregava em trabalhos públicos. A situação destes era revista duas vezes por ano; 3) os ‘capazes’ de trabalhar, que eram encaminhados a empregos e, se continuassem a mendigar, eram presos por vagabundagem”.Esta é uma síntese sobre a forma de trabalho de São Vicente de Paulo que tanto influenciou a prática de religiosos e fiéis católicos junto aos pobres. Tais estratégias tiveram forte impacto sobre a formação e a condução das atividades do Serviço Social que surgia na Europa, bem como nas características do trabalho dos primeiros assistentes sociais do Brasil e outros países da América Latina (CASTRO, 2008).
As ações dos assistentes sociais, em seus primeiros anos, reproduziam a prática vicentina das visitas domiciliares, do aconselhamento moral e espiritual, da dispensação de donativos materiais e da gestão da caridade.
Conheça mais sobre as características do Serviço Social brasileiro, em suas origens, influenciadas pelo trabalho e ensinamentos de São Vicente de Paulo, assistindo ao vídeo a seguir!
Tema 4- método ver julgar e agir
As ações realizadas pelo Serviço Social, em suas origens, na Europa, estavam diretamente vinculadas ao Movimento de Ação Católica. Este movimento compreendia, para além das intervenções realizadas pelo Serviços Social, a realização de “círculos de estudos”. Nesses círculos eram discutidas as possibilidades estratégicas e metodológicas para se promover uma maior reflexão pelo público atendido. Pretendiam contribuir para “desenvolver o raciocínio e despertar o sentido social”. Como via de realização deste objetivo o Movimento de Ação Católica desenvolve e lança mão de um método específico: o método “ver, julgar e agir” (AGUIAR, 1982).
O método ver, julgar e agir, adotado pela Ação Católica foi recomendado a toda a Igreja Católica pelo Concílio Vaticano II, em 1965. No Brasil, foi adotado inicialmente pela Juventude Universitária Católica, ligada ao Movimento de Ação Católica, em 1935, e teve expansão de seu alcance com a evidência deste mesmo movimento e posteriormente do Movimento Católico de Teologia da Libertação (MAFRA e BARROS, 2008; MORAES, 2012).
A organização do método propunha a intervenção em três etapas:
VerApreciação da realidade vivenciada pela comunidade ou grupo, explorando as diferentes características do problema, principalmente suas causas e consequências. Compreendia o uso de instrumentais de apoio à reflexão como filmes, dinâmicas de grupo, documentários e outros (MAFRA e BARROS, 2008). Esta etapa propunha-se avançar no conhecimento dos problemas para além do imediato, do superficial. Era considerado necessário compreender quais as principais causas de origem das situações vivenciadas, a partir do entendimentoque se a solução é definida apenas sobre os elementos superficiais, não ocorre significativa mudança (MORAES, 2012).
Julgar Tratava-se da avaliação do problema à luz de textos bíblicos ou outros referenciais teóricos que permitissem a concepção de objetivos a serem alcançado, de mudanças frente às realidades anteriormente discutidas (MAFRA e BARROS, 2008).
Agir ratava-se do planejamento e execução de ações capazes de transformar a realidade identificada na etapa “ver”, nas realidades desejadas pela etapa “julgar” (MAFRA e BARROS, 2008). Esta etapa pode ocorrer em curto, médio ou longo prazo, como vemos a seguir.
Após o julgar, é preciso conduzir as discussões para o Agir, para a ação transformadora, seja ela imediata, a médio ou a longo prazo. Isso se dá com a organização de um plano. As ações imediatas podem ser resolvidas desta forma, mas, as ações de longo prazo são atingidas de forma parcial e indireta. O enfrentamento e a resolução dos pequenos problemas encorajam as pessoas para os desafios maiores. As mudanças são realizadas nos processos (MORAES, 2012, p.149).
Sobre este método, é possível dizer que foi uma alternativa possível ao Serviço Social que se originou dentro do contexto do Movimento de Ação Católica e continuou sendo um método próximo de todos os profissionais que, ao longo dos anos, desenvolveram sua prática profissional vinculada a instituições religiosas católicas, pois este foi um método difundido entre as mais diferentes expressões da ação social católica.
Contudo, observa-se a distinção das bases teóricas que subsidiavam o método durante o período de expansão da Ação Católica, com características mais conservadoras, das referências que sustentam o método a partir da evidência do Movimento da Teologia da Libertação. Este último conta com influências teóricas críticas que compreendem o questionamento do sistema e do capital (MORAES, 2012).
Tema 5- a formação nas primeiras escolas de serviço social
As primeiras escolas de Serviço Social na Europa contavam com explícita influência da Igreja Católica, pois o Serviço Social era entendido como uma expressão prática da ação social desta. Assim, a formação na área do Serviço Social era constituída tendo os valores, princípios e objetivos católicos como principais balizadores de seus currículos e metodologias.
No Brasil, as primeiras escolas de Serviço Social possuíam forte influência das escolas europeias da França e Bélgica. Seguia-se, portanto, o mesmo modelo de formação. Primeiras escolas no Brasil:
Escola de Serviço Social de São Paulo, criada em 1936;
Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro, criada em 1937.
Segundo apresentado por Antonio Geraldo de Aguiar (1982), em sua obra “Serviço Social e Filosofia: das origens a Araxá”, as principais características da formação nas primeiras escolas de Serviço Social no Brasil são:
Sustentação teórica na visão de mundo desenvolvida pelo neotomismo;
Primazia da formação doutrinária e moral sobre a formação técnica;
Visava à reconstrução da sociedade em bases cristãs;
Reforma, mas com respeito às autoridades;
Formação compreendida em quatro pontos: científica, técnica, prática e pessoal.
A dimensão metodológica da formação do Serviço Social, neste período, era essencialmente voltada à formação moral e religiosa. O corpo docente precisava comprovar coerência com os valores, saberes e práticas propostas pelo catolicismo, assim como competência para transmitir tais ensinamentos.
O corpo discente deveria ser formado nesta coerência e comprovar possuir vocação para o exercício do Serviço Social. Neste período, a escolha pela profissão era concebida como uma resposta a uma missão pessoal dada por Deus (AGUIAR, 1982).
Na prática profissional, as ações limitavam-se basicamente em atendimentos individuais pontuais e nas visitas domiciliares às famílias empobrecidas. A orientação teórica para aprimoramento da técnica era de cunho moral, com recomendações de não envolvimento com questões de caráter econômico ou com ideologias políticas (AGUIAR, 1982).
Caro(a) aluno(a), iniciamos o nosso conhecimento sobre a metodologia do Serviço Social, fazendo um resgate histórico sobre as ações, formação e práticas nos primeiros anos da profissão. Certamente eram muito diferentes da atuação profissional desenvolvida atualmente. Conhecer a história da profissão que desejamos seguir é sempre muito interessante e mesmo fundamental!
Tratamos, nesta aula, dos seguintes itens: “ajuda como motivador da ação”; “experiências de São Vicente”; “método ver, julgar e agir”; e “formação nas primeiras escolas”. Qual destes temas te chamou mais a atenção? Por quê? Compartilhe com seus colegas no fórum desta disciplina e saiba também o que os demais alunos consideraram como interessante. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem!
Agora vamos exercitar nosso aprendizado usando nosso conhecimento e nossa imaginação.
Neste momento, coloque-se no lugar de uma Assistente Social formada em uma das primeiras escolas de Serviço Social do Brasil. Você foi contratada para atuar num bairro, junto a famílias pobres e soube que deverá atender uma família em que convivem o casal e seus três filhos. Os adultos estão sem trabalho e por isso procuraram ajuda para o sustento familiar. Seguindo as orientações que eram dadas nas primeiras escolas de Serviço Social, como você deveria fazer este atendimento? Quais técnicas poderia utilizar? O que deveria fazer e dizer? Apresente detalhadamente a descrição de quais seriam suas atitudes profissionais neste contexto.
Protocolo de resposta
Os alunos deverão indicar que realizarão visitas domiciliares; que providenciarão doação material para a família, prioritariamente em forma de alimentos; que incentivarão os adultos, principalmente o homem a conseguir um trabalho; que levarão orientações morais e doutrinárias para que a família viva bem a fé cristã; que serão um exemplo de caridade e de vivência da fé católica.
Caro(a) aluno(a), nesta aula nós estudamos sobre a metodologia do Serviço Social em sua gênese, ou seja, em suas origens. Compreendemos que metodologia é o estudo dos métodos. E conhecemos as primeiras expressões de método incorporadas pelo Serviço Social, principalmente por influência dos ensinamentos e práticas da Igreja Católica.
Entendemos que um dos principais motivadores da atuação do Serviço Social, em seus primeiros anos, foi a ajuda. A atuação dos primeiros assistentes sociais na Europa e no Brasil teve grande influência das práticas de São Vicente de Paulo, voltadas às visitas domiciliares, aconselhamentos e apoio material e espiritual. Outro método católico presente no período inicial da profissão ficou conhecido como “ver, julgar e agir”.
Tais práticas e influências católicas estiveram explícitas na formação dos profissionais em suas primeiras escolas. Assim, avançamos no conhecimento da história da profissão do Serviço Social, sob a ótica de análise de sua dimensão metodológica.
Em nossa problematização inicial refletimos sobre a origem da profissão do Serviço Social e como atuavam os primeiros Assistentes Sociais. Nos perguntamos se as formas de atuação praticadas no início da profissão perduram até os dias de hoje. Conhecemos estas diferentes formas de atuação e pudemos entender que foram práticas específicas daquele momento histórico e que já foram superadas pelo desenvolvimento da profissão ao longo da história. Saberemos ainda mais sobre isso, seguindo com as próximas aulas.
Até a próxima aula!
Aula 2 dimensão metodológica
Conversa Inicial
Caro aluno, nesta aula continuaremos abordando os fundamentos da profissão do Serviço Social a partir de uma perspectiva de análise metodológica.
Estudaremos agora o desenvolvimento dos métodos dentro da lógica do Serviço Social norte-americano, cuja sustentação teórica predominante era o Positivismo. Vamos tratar de um período cuja prática do Serviço Social é caracterizada como Tecnicista.
Temos como objetivos desta aula:
Contextualizar o desenvolvimento da metodologia do Serviço Social no reconhecimentoda necessidade de aprimorar a técnica;
Reconhecer a conjuntura socioeconômica que influenciou o avanço do tecnicismo dentro da profissão;
Conhecer e analisar as principais características do método Serviço Social de Caso;
Conhecer e analisar as principais características do método Serviço Social de Grupo;
Conhecer e analisar as principais características do método Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade.
Para alcançar esses objetivos, contaremos com diferentes recursos educativos, como textos explicativos; videoaulas, indicações de leituras e atividades. Aproveite de todos estes meios para enriquecer seu conhecimento!
Contextualizando
Estamos avançando em nosso conhecimento sobre o Serviço Social. Na última aula desta disciplina, vimos a influência da Igreja Católica, de seus métodos e práticas, sobre o exercício profissional dos primeiros assistentes sociais. Vimos também que um forte motivador de ação era o conceito de ajuda.
Conhecendo mais sobre o início da história da profissão, podemos nos perguntar sobre como foi a evolução dessa mesma história. Quais outras influências se apresentaram para os profissionais do Serviço Social ao longo dos anos? Quais delas marcaram o desenvolvimento de seus métodos? Em que contexto isso ocorreu?
São muitas perguntas. Não temos todas as respostas neste momento, mas certamente as teremos ao final desta aula. Vamos aos estudos e avancemos um passo no conhecimento sobre a profissão do Serviço Social!
Tema 1- necessidade de qualificar a técnica
Os primeiros anos do Serviço Social no Brasil (década de 1930 e início da década de 1940) foram marcados pela influência das escolas europeias. Naquele período, era priorizada a formação moral sobre a formação técnica. Contudo, a partir da segunda metade da década de 1940, uma nova influência teórica ganha espaço diante da formação dos assistentes sociais brasileiros.
Inicia-se um período de adoção de referências das escolas norte-americanas, que vai ampliando sua influência de forma crescente ao longo dos anos seguintes. Nas décadas de 1940 e 1950, o Serviço Social estabelece uma formação e atuação que concilia os princípios filosóficos católicos e as orientações técnicas norte-americanas (AGUIAR, 1982).
Um marco característico da formação norte-americana é a qualificação da técnica, o que responde a uma necessidade da prática profissional do Serviço Social brasileiro naquele momento.
A orientação filosófica e sociológica do Serviço Social norte-americano era a Teoria Positivista, desenvolvida por Auguste Comte.
Quer saber o que é a Teoria Positivista? Procure seu significado no dicionário disponível no botão a seguir:
A integração de conteúdos das escolas norte-americanas ocorreu principalmente após a implementação da proposta de oferta de bolsas de estudo para assistentes sociais latino-americanos para realizarem especializações em escolas norte-americanas (AGUIAR, 1982).
Em resumo, as técnicas de maior evidência adotadas neste período foram denominadas Serviço Social de Caso, de grupo e de desenvolvimento de comunidade, as quais serão aprofundadas ainda nesta aula!
A incorporação das práticas norte-americanas inaugura um período reconhecido como Tecnicista, pois prescindia de maior aprofundamento e debate teórico em favor da aplicação das técnicas pré-formuladas. Questiona-se a atitude tecnicista adotada pelo Serviço Social dos países latino-americanos a partir da influência norte-americana, tal qual podemos ver no texto de Lima (1978, p. 52-53):
A privaticidade do Serviço Social com a tendência pragmatista norte-americana representou uma barreira à sua elaboração teórica, conduzindo-o à simples aplicação de princípios, leis e teorias criadas à margem de seu campo de ação. O positivismo concebia o Serviço Social como uma técnica de intervenção, prescindindo de teorizações próprias, por dispor das descobertas das ciências sociais, as quais precisavam do técnico que atuasse sobre a realidade, levando a campo suas ideias sobre a sociedade e seus problemas.
Tal questionamento ganhou evidência e contou com proposições claras para sua superação a partir das ações que configuraram o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, que se desenvolveu a partir da década de 1960.
Tema 2- desenvolvimentismo e serviço social
Uma característica histórica importante do Brasil na década de 1950 foi a expansão das ações práticas e políticas com vistas ao desenvolvimento do país, marcando o que se pode chamar de desenvolvimentismo.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o continente americano passa por uma nova organização nas relações entre os países. Neste período, os Estados Unidos reforçam iniciativas de alianças e apoio aos países latino-americanos. Tais relações continham os interesses norte-americanos de avanço do capital e de fortalecimento de sua economia, eram também suporte para o desenvolvimento dos demais países.
É criada neste período (1948) a Organização dos Estados Americanos (OEA). As relações estabelecidas entre os Estados na OEA favorecem o fortalecimento do poder dos EUA sobre os países em desenvolvimento e potencializam a relação de dependência destes em relação a esta nação norte-americana (CASTRO, 2008).
Para além das Américas, o desenvolvimento das nações pobres para viabilizar o avanço do capital era estratégia também do conjunto de nações que veio a compor a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945.
A criação da ONU se deu com o objetivo de reconstruir os países devastados pela Segunda Guerra Mundial. Havia a tarefa de retomar fluxos de abastecimento nestes países e revitalizar o sistema econômico internacional. Em seguida, surgiram demandas de atenção aos países subdesenvolvidos.
As nações empobrecidas eram vistas como passíveis de maior adesão às teorias comunistas, o que exigia um investimento em ações e decisões capazes de compreendê-las como parceiras no programa de expansão do capital. Propunham-se, então, ações de “melhoria do capital” (AGUIAR, 1982).
Neste contexto, o Brasil é beneficiado com investimentos financeiros e técnicos tanto de países europeus quanto dos Estados Unidos, com vistas ao seu desenvolvimento. Tratava-se de uma proposta de fortalecimento nacional estritamente ligada a interesses internacionais.
Surgem assim iniciativas de investimento na industrialização, no avanço econômico e na infraestrutura, além de melhorias na saúde e no bem-estar da população.
Neste contexto, o Serviço Social é convocado a participar desta dinâmica, à medida que são implementadas ações do chamado “Desenvolvimento de Comunidade”, marcadas por estratégias de intervenção intersetorial em territórios pré-definidos, com a motivação de fortalecer iniciativas e potencialidades locais e resolver, local e comunitariamente, problemas que afetem a população daquele espaço.
Há investimento na contratação e qualificação de profissionais de diferentes áreas, entre os quais estavam compreendidos os assistentes sociais. Dentro deste momento histórico é que se estabelecem as iniciativas de parceria com bolsas de estudos para assistentes sociais brasileiros realizarem cursos de especialização nos Estados Unidos.
Cabe destacar a contextualização feita por Castro (2008, p. 134-135), ao avaliar este momento histórico:
Este estímulo ao planejamento, ao desenvolvimento da comunidade e à renovação das equipes técnicas e dos quadros profissionais não deve ser visto como uma proposta singular ou dirigida fundamentalmente para orientar a prática profissional dos assistentes sociais. Ao contrário: tudo isto deve ser visualizado como integrante de ampla estratégia com a qual os países desenvolvidos — e especialmente os Estados Unidos — procuravam criar as condições (políticas, administrativas e culturais) mais propícias para integrar e dinamizar o desenvolvimento do capitalismo e o mercado latino-americano sob a sua hegemonia financeira. No que toca às condições administrativas requeridas por esta empreitada, tornava-se necessário renovar o aparelho tecnocrático dos Estados, tecnificando-oe dotando-o de um corpo de profissionais mais funcional ao sistema.
Tendo como referencial o Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade realizado nos Estados Unidos e legitimado como um método de intervenção profissional, os assistentes sociais brasileiros foram atores importantes no processo desenvolvimentista no país (CASTRO, 2008).
Percebe-se neste período uma mudança no perfil do assistente social que vai deixando suas características de agente de apostolado católico e assume características de um agente de transformação comunitária (CASTRO, 2008). Contudo, mantinha-se ainda uma visão conservadora e de ajuste dos indivíduos aos padrões da sociedade.
A influência norte-americana na condução do Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade era marcadamente tecnicista, com desdobramentos de métodos e processos para a prática junto às comunidades. Ainda nesta aula vamos conhecer melhor sobre este método e suas características.
Tema 3- serviço social de caso
A técnica reconhecida como Serviço Social de Caso é a expressão da atuação do Serviço Social norte-americano, em sua origem. Desenvolvendo-se com apoio da classe dominante — burguesia/capitalista —, visava contribuir para a diminuição dos conflitos sociais que poderiam dificultar o avanço do modelo capitalista em seu país.
Tendo como referencial sociológico o Positivismo, não questionava as estruturas do sistema, mas procurava ajustar “cada peça em sua engrenagem”. Pautado em conhecimentos científicos do campo da saúde, como a Psicologia e a Medicina, propunha uma ação terapêutica, de solução dos problemas sociais, que deveria ocorrer individualmente. Tal olhar de individualização pode ser entendido como resultante da forte influência da Psicologia, como também como uma estratégia para evitar a mobilização e a ação coletiva das classes empobrecidas (LIMA, 1978).
Partindo de uma compreensão do Serviço Social enquanto executor do saber acumulado por outras ciências, foi feito investimento na produção teórica acerca das técnicas de intervenção. Assim, foram sistematizadas estratégias e formas de ação e compreensão de mundo que subsidiassem o fazer cotidiano dos profissionais.
Destacou-se, neste sentido, a produção da assistente social americana Mary Richmond, em 1917, denominada Social Diagnosis, que apontando uma sistematização completa sobre o Serviço Social de Caso.
Na citada obra, Mary Richmond apresenta as orientações técnicas para atuação dos assistentes sociais:
[Mary Richmond] sustenta a necessidade de se individualizar a assistência tanto no diagnóstico como no tratamento, avançando determinações sobre as etapas que o Serviço Social deve compreender, mediante um processo de seleção e aplicação de alguns aspectos operativos da medicina vigente na época. Seu método abrangia o estudo de caso, seu diagnóstico e tratamento, procurando através destas fases metodológicas individualizar o cliente em função de uma assistência mais sistemática e técnica (LIMA, 1978, p. 53).
O ponto de partida do atendimento no modelo de Serviço Social de Caso era individualizar o atendimento. Tinha-se em vista que cada ser humano é diferente e reage distintamente às experiências vividas em seu ambiente. Propunha-se, enquanto avanço técnico, a não imposição de normas morais, mas o respeito à liberdade de escolha de cada um (CARNEIRO, 1982).
Neste período, a pessoa atendida pelo Serviço Social era considerada “cliente”Destacamos aqui que esta nomenclatura foi superada na área do Serviço Social. Atualmente, as pessoas atendidas pelos assistentes sociais são denominadas “usuários”.. Cabia ao assistente social realizar um diagnóstico junto ao cliente e identificar a “situação social problema”. Então, ambos deveriam estabelecer uma relação de cooperação, também denominada como relação de ajuda, em que juntos buscariam alternativas para a solução de tal problemática.
Podemos ver tais orientações na produção da assistente social Gordon HamiltonA publicação da primeira edição do livro de Gordon Hamilton, intitulada “Theoryandpracticeof social case work”, ocorreu no ano de 1940., que abordava a realização do atendimento no Serviço Social de Caso: “a angústia, a miséria e a incapacidade são fatores pessoais e podem melhor ser compreendidos através das relações humanas. Qualquer relacionamento deve ser individualizado, a fim de se tornar útil” (HAMILTON, 1982, p. 19).
Destaque-se, contudo, que o olhar sobre a realidade era fundamentado na crença de que o capitalismo era o melhor e definitivo modelo de produção e que caracterizava a evolução das relações sociais. Logo, a atuação junto ao “cliente” deveria promover o ajuste deste ao sistema.
Mesmo quando defende a liberdade e a participação do “cliente”, tais conceitos limitavam-se a um uso de liberdade dentro de um contexto socioeconômico já estabelecido, inquestionável e imutável. Tratavam-se, portanto, de liberdade e participação relativas
Um dos postulados de orientação do Serviço Social de Caso era a crença no progresso do ser humano. Acreditava-se que o “cliente” poderia evoluir e assumir uma forma diferente de vida, adequada ao seu contexto e, assim, deixaria de sofrer as consequências da incompatibilidade entre situação pessoal e relações com o meio externo.
A atitude de mudança era, portanto, uma atribuição do indivíduo, que deveria tomar com os devidos suportes materiais e emocionais subsidiados pelo Serviço Social.
De acordo com as orientações da assistente social norte americana Henry S. Maas (1972) sobre as bases da prática do Serviço Social de Caso, podem ser sistematizados os seguintes aspectos:
Os clientes do Serviço Social de Caso são pessoas que se encontram em situação de tensão e não conseguem realizar satisfatória adaptação pessoal ou social ao meio;
Se a pessoa encontra-se nesta situação de tensão, mas nega tal condição, pode ser interpretada como uma pessoa com “problemas”;
Os problemas são necessidades que não estão sendo devidamente assistidas pelos órgãos competentes;
Tais problemas podem ser originados da falta de articulação ou mesmo de acesso aos recursos disponíveis na comunidade (família, igreja, instituições de saúde, instituições educacionais e outros);
O apoio às pessoas que enfrentam estes problemas deve contar com suporte científico e colaboração de profissionais de diversas áreas, tais como médicos, psicólogos e assistentes sociais;
As pessoas não se colocam voluntariamente em situação de tensão;
Para existir o suporte profissional adequado, deve-se estabelecer uma relação positiva entre assistente social e cliente;
Os relacionamentos entre cliente e assistente social são, no método do Serviço Social de Caso, o meio de obter mudança.
Assim, o Serviço Social de Caso era entendido como uma importante estratégia de intervenção social, na qual se estabelecia uma relação de ajuda entre o assistente social e o cliente. Esta relação visava oportunizar mudanças, que tinham como finalidade o ajuste da pessoa ao meio.
Tema 4- serviço social de grupo
Também com origem nos EUA, sob a matriz de pensamento positivista, surgiu uma nova proposta metodológica de intervenção, denominada Serviço Social de Grupo. O modelo diferencia-se do Serviço Social de Caso pelas suas técnicas e pelo perfil dos “clientes” atendidos. Era voltado para ambientes que agregavam pessoas com objetivos semelhantes, tais como centros comunitários para jovens ou idosos ou mesmo instituições fechadas, como hospitais e penitenciárias.
Segundo Lima (1978), foi em 1930 que cresceu o interesse e ganhou evidência nos EUA a abordagem em grupo do Serviço Social. No período entre 1930 e 1936 há uma diferenciação significativa do método, que até então possuía caráter recreativo e passa a propor uma intervenção terapêutica. No Brasil, a prática passou a ser adotada somente a partir da segunda metade da década de 1940.
O Serviço Social em Grupo é produto de uma articulação de saberes e práticas de várias ciências e profissões, tais como a Psicologia, a Sociologia, a Economia, a História e outras. Tais conhecimentossustentaram a construção de um método específico de atendimento pelo Serviço Social.
Nestes grupos, o assistente social tinha o objetivo de promover mudanças diante de uma problemática específica, comum a todos, ou mesmo diante da situação de uma pessoa do grupo, relacionada com todos.
Permanecia também nesta metodologia a perspectiva de ajuste e adaptação, bem como um dever do assistente social de cumprir com os objetivos da instituição a qual estava vinculado. Assim, o profissional de Serviço Social precisava articular os interesses e as possibilidades do grupo aos interesses determinados pelo seu empregador. Destaca-se, assim, uma lógica de trabalho tecnicamente exigente, porém voltada para a manutenção do sistema.
Gisela Konopka foi uma das assistentes sociais que se destacou na proposição do método, tanto por atribuir um caráter terapêutico a uma ação que até então era reconhecida como recreativa quanto por vislumbrar a possibilidade de mudanças estruturais a partir de ações de interação grupal (LIMA, 1978).
[Gisela Konopka] preconiza uma mudança a nível de estruturas sociais como resposta viável às crises econômicas. Segundo a autora, essas crises podem ser superadas pela mudança dos indivíduos em interação grupal (LIMA, 1978, p. 56).
Contudo, o foco do trabalho em grupo ainda não tinha como objetivo transformações coletivas, mas mudanças de caráter individual.
Konopka (1972) afirmava que os objetivos do indivíduo eram influenciados pelo grupo ao qual pertencia. A autora também propunha a superação do atendimento do Serviço Social voltado apenas a necessidades econômicas, além da compreensão de demandas de caráter individual e relacional, tais como as necessidades de afeto, segurança, valorização e outras (KONOPKA, 1972).
Neste método, o Assistente Social era motivado a conhecer-se e questionar-se antes de julgar os interesses e motivações do grupo. Deveria ser capaz de abrir mão de suas próprias experiências e valores, para apreender as potencialidades das pessoas que compunham o grupo. Contudo, mantinha-se com a missão de apresentar e proporcionar o desenvolvimento de novos valores, coerentes com a necessidade de desenvolvimento de toda a sociedade ou, como podemos dizer, de valores morais que assegurassem a manutenção da ordem e o desenvolvimento do sistema.
O grupo era entendido como um espaço rico em possibilidades para a promoção de valores, os quais traziam em si um objetivo de ajustamento.
Konopka (1972) tratava o Serviço Social de Grupo como uma alternativa para o dilema da Democracia, que se caracterizava em harmonizar interesses individuais e coletivos.
Com a metodologia do Serviço Social de Grupo, o assistente social deveria promover também a capacidade do indivíduo de resolver seus próprios problemas. Tal como se vê na afirmação de Konopka (1972, p. 161): “em todos os casos, o objetivo do assistente social de grupo é fazer com que os indivíduos e o grupo como um todo realizem o seu potencial de serem capazes dirigir sozinhos seus próprios assuntos”.
Assim, havia uma intenção de promoção da autonomia aos participantes, destacando-se evidentemente que tal autonomia deveria estar condicionada às exigências do meio.
Este método contou com forte influência da Psicologia. Um profissional desta área que contribuiu com suas teorias para este processo foi Otto Rank, o qual afirmava que o indivíduo possuía, em si, potenciais de desenvolvimento e superação, que bastavam ser direcionados para que evoluísse. Sob esta perspectiva, o assistente social de grupos possuía como responsabilidades: promover a integração dos membros dentro do grupo; oportunizar escolhas e colaborar no processo de construção de mudanças individuais e sociais (RYDER, 1984).
A abordagem em grupo diferenciava-se segundo as demandas, podendo tratar de questões preventivas, como atuar em casos mais complexos, de pacientes em clínicas psiquiátricas e grupos de pessoas com deficiência, por exemplo. Nos casos complexos, recomendava-se a atuação multidisciplinar, contando com profissionais de Medicina, Psicologia, Direito ou outras áreas cabíveis.
Tema 5- serviço social e desenvolvimento de comunidade
Sob a mesma orientação positivista e tecnicista norte-americana, desenvolveu-se além dos Métodos de Serviço Social de Caso e Serviço Social de Grupo, o chamado Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade.
Para conhecer melhor este método, contaremos principalmente com a contribuição teórica de Genevieve W. Carter, disponível no livro “ConceptsandMethodsof Social Work” — “Conceitos e métodos de serviço social”—, no capítulo IV, intitulado “Métodos e processos do Serviço Social de Organização de Comunidade”. Esta obra foi organizada por Walter Friedlander, traduzida para o português por Evangelina Leiva e publicado em 1972.
Segundo Carter (1972), o método de desenvolvimento de comunidade não era específico do Serviço Social, mas podia ser apropriado por uma série de categorias profissionais voltadas à promoção do bem-estar. A ação ocorria de maneira integrada, em comunidades estabelecidas, articulando diferentes organismos e profissionais às pessoas que compunham aquela comunidade.
Podiam ser identificados objetivos de ação vinculados à saúde, educação, recreação, bem-estar e outros. Ações relacionadas a decisões econômicas e políticas amplas, relacionadas àquela comunidade, eram consideradas fora do campo de abrangência do Serviço Social.
Clique no botão a seguir e leia parte do texto da autora, em que ela identifica características específicas das ações de Desenvolvimento de Comunidade para que fossem consideradas ações profissionais do Serviço Social:
“Para que as atividades (...) [de desenvolvimento de comunidade] possam ser rotuladas de profissionais, devem representar uma consciente decisão de ação, orientada pelo emprego da teoria e da prática. Deve existir um conjunto de conhecimentos, um sistema de valores, um código de ética, uma grande variedade de conceitos teóricos e um conjunto de métodos; técnicas e habilidades comuns à profissão que são passíveis de serem transmitidas a outros pela educação formal. O assistente social profissional serve-se de si mesmo para intervir nos processos ativos de grupos ou indivíduos com a finalidade de desencadear processos organizacionais que visem ao bem-estar social da comunidade. Pode utilizar seu preparo relativo a vários papéis para ajudar a identificação de problemas sociais, para diagnóstico, para estabelecer estruturas de solução de problemas, para realizar pesquisa ou reunir fatos, para analisar fatos, opiniões, atitudes que sirvam de base para as decisões comunitárias, para ajudar a estabelecer conclusões e indicar modos alternativos de ação de sua implantação” (CARTER, 1972, p. 250).
Carter (1972) classificou os tipos de atividades dos assistentes sociais de Desenvolvimento de Comunidade:
Organização das atividades: envolve estabelecer canais de comunicação com todos os setores e atores envolvidos e organizar as ações a serem realizadas;
Liderança e atividades promocionais: compreende a percepção do assistente social sobre a realidade e o potencial de identificar situações a serem melhoradas, bem como envolver os diferentes interessados na solução de tais situações;
Atividades de coordenação: representam aspectos de gestão de horários, atividades e recursos;
Atividades de relações públicas: envolvem dedicação no estabelecimento de contatos e manutenção de relações com as pessoas da comunidade, organismos envolvidos e mesmo atores externos;
Atividades educacionais: ações sistemáticas de curto, médio ou longo prazo, com o objetivo de mudar comportamentos e influenciar atitudes e valores;
Atividades orçamentárias: compreendem administração dos recursos financeiros disponíveis e providências para ampliar as fontes de financiamento;
Atividades administrativas e confecção de relatórios: registro das atividades realizadas e vias formais de comunicação escrita;
Atividades de pesquisa e de reunião de dados: construção de conhecimento a partirdo registro e análise das demais ações realizadas.
Manuel Manrique Castro (2008) desenvolve uma análise crítica sobre o Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade, na perspectiva do desenvolvimentismo e do funcionalismo. É interessante conhecer esta discussão.
Para isso, recomendamos que assista ao vídeo da professora Neiva:
Para estabelecer um conceito sobre o Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade, mais uma vez recorremos às definições de Carter (1972):
Se observarmos a expressão “Serviço Social de Organização de Comunidade” para ser usada como um método básico do Serviço Social, ele deverá reter as qualidades fundamentais comuns a todos os três métodos. Este método é um sistema ordenado de atividades que se aplica a um problema adequado ao Serviço Social, por um profissional que se identifica com a profissão do Serviço Social. Este método conserva sua essência de processo de solução de problema, que é comum ao Serviço Social de Grupo e ao Serviço Social de Caso. Tem uma fase inicial e uma fase final. Existe uma condição específica ou problema, existe intervenção por parte do assistente social, há um processo de mudança e há procura de uma determinada condição (CARTER, 1972, Lembremos que os métodos que estão sendo estudados nesta aula foram adotados pelo Serviço Social, em sua história. Atualmente, a profissão conta com novas perspectivas teóricas e metodológicas, que serão conhecidas nas próximas aulas!
Gostou deste assunto? Gostaria de conhecer mais sobre o que o Serviço Social atualmente tem discutido sobre essas técnicas aplicadas na profissão há décadas? Para isso, recomendamos a leitura do artigo “Desenvolvimento de Comunidade e o Serviço Social: entre o conformismo e a crítica”, de RosilaineCoradini Guilherme:
p. 270-271).
Trocando Ideias
Vamos agora fazer um exercício comparativo. Na aula anterior, vimos características da atuação do Serviço Social, tendo como influência ensinamentos e práticas católicas. Nesta aula, abordamos características ligadas a uma influência positivista, que impacta no desenvolvimento de métodos específicos por assistentes sociais norte-americanos.
Apresente no fórum suas percepções sobre semelhanças e diferenças entre as práticas e os métodos do Serviço Social nestes dois diferentes modelos.
Poste sua opinião, seja ela semelhante ou diferente dos demais colegas! Assim construiremos o conhecimento de forma coletiva e colaborativa!
Na Prática
Vamos exercitar nosso aprendizado! Conhecemos nesta aula três diferentes tipos de métodos desenvolvidos nos Estado Unidos e adotados pelo Serviço Social brasileiro a partir da década de 1950.
Vamos neste momento nos colocar no lugar de um assistente social que realizava seu trabalho na década de 1950, no Brasil, no contexto do desenvolvimentismo. Este profissional passa a conhecer e adotar os métodos norte-americanos de Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Desenvolvimento de Comunidade.
Colocando-se no lugar deste profissional, classifique as demandas de atendimento abaixo, com o tipo de método que você acredita que deveria ser utilizado e justifique o motivo da escolha. Na primeira linha você tem um exemplo. Resolva as demais situações!Retome o conteúdo da aula, principalmente dos temas 3, 4 e 5, antes de prosseguir com o exercício!
Depois de resolver a atividade proposta, clique na imagem a seguir e veja a resolução da professora Neiva:
Síntese
Nesta aula, estudamos o desenvolvimento da metodologia do Serviço Social num período que ficou conhecido como Tecnicista. Vimos que o Serviço Social no Brasil sentiu a necessidade de avançar nas técnicas e, na década de 1950, dentro de um contexto desenvolvimentista, contou com forte influência das escolas norte-americanas.
Pudemos saber que os principais métodos de intervenção desenvolvidos nos Estados Unidos e apropriados no Brasil foram o Serviço Social de Caso, o Serviço Social de Grupo e o Serviço Social de Comunidade. Todos eles desenvolvidos a partir de um referencial teórico positivista.
Iniciamos nossa aula com algumas perguntas sobre o avanço dos métodos do Serviço Social ao longo da história e sobre as influências teóricas e os contextos históricos em que isso ocorreu. Agora já podemos responder àquelas questões, conhecedores de mais uma etapa da história da profissão do Serviço Social, a partir de uma perspectiva de análise metodológica!
Aula 3- dimensão metodológica
Conversa Inicial
Nessa aula, trataremos dos aspectos metodológicos presentes no Movimento de Reconceituação do Serviço Social, que perdurou durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 e influenciou a concepção atual que temos sobre o Serviço Social. Temos como objetivos desta aula:
Conhecer o conjunto metodológico compreendido no período de realização do Seminário de Araxá;
Conhecer o conjunto metodológico compreendido no período de realização do Seminário de Teresópolis;
Conhecer e analisar as principais características do Método BH;
Compreender os aspectos teóricos e metodológicos que compreendem a fenomenologia;
Relacionar a intervenção profissional com o conjunto de iniciativas da sociedade civil caracterizadas como movimentos sociais.
Contextualizando
A história e o desenvolvimento de toda profissão deve ser entendida dentro de um contexto maior, compreendendo a história de seu país e a história mundial.
Assim acontece também com o Serviço Social, que no Brasil tem seu início marcado na década de 1930, com forte influência das orientações teóricas e morais da Igreja católica. Segue seu curso adotando bases teóricas e metodológicas de caráter positivistas, sob influência do Serviço Social norte-americano. Esta última influência foi contextualizada num período de investimento internacional no Brasil para a promoção do seu “desenvolvimento”.
A categoria profissional avança em seu exercício, situada em cada contexto social. São marcos das décadas de 1960 a 1980 os movimentos dos profissionais em questionar as práticas e os fundamentos teóricos e metodológicos da profissão.
Contudo, neste mesmo período, o país passou por um momento político singular e limitador de direitos, a Ditadura Militar, que perdurou de 1964 a 1985. Identificamos, assim, a contradição em que se encontrava a profissão, que por um lado apresentava-se interessada em questionar e superar padrões tradicionais de sua prática, mas por outro se desenvolvia dentro de um contexto sociopolítico de significativas restrições.
Uma pergunta que fica para nossa reflexão neste momento é a seguinte:
O contexto sociopolítico das décadas de 1960 a 1980, no Brasil, influenciou a dimensão metodológica do Serviço Social?
Não se preocupe em responder agora. Vamos avançar em nossos estudos e voltaremos a discutir esta questão ao final da aula.
Tema 1- metodologia do documento de Araxá
O Documento de Araxá faz parte de um conjunto de iniciativas compreendidas como seminários de teorização, que fazem parte do início do Movimento de Reconceituação do Serviço Social.
No início dos anos 1960, a categoria profissional do Serviço Social passa a se organizar e questionar a sua contribuição na sociedade. Temos, então, o início do Movimento de Reconceituação, que perdurou até a década de 1980. Grande parte desta articulação se deu durante o período da Ditadura, o que limitou o avanço da teoria crítica nas primeiras décadas.
A forte característica do período inicial deste movimento foi a discussão teórica e metodológica desenvolvida em seminários. Quatro importantes seminários fizeram parte deste processo: Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista. Nesta e na próxima aula, dedicaremos uma atenção especial à dimensão metodológica, que foi ponto forte dos Seminários de Araxá e Teresópolis (NETTO, 2015; CBCISS, 1986).
O Seminário de Araxá realizou-se de 19 a 26 de março de 1967 na cidade mineira de Araxá. As produções dos profissionais durante o encontro foram compiladas em um documento com o mesmo nome. A análise do documento nos permite observar um cuidado importante em sistematizara prática, refletindo a atuação da profissão diante do contexto social em que estava inserida. Observamos isso no texto a seguir, compreendido na abertura do Documento de Araxá:
Um esforço de teorização do Serviço Social era imperativo inadiável, nesta fase da sua evolução no Brasil. Este esforço compreenderia a busca de análise e síntese dos seus componentes universais, dos seus elementos de especificidade e de sua adequação ao contexto econômico-social da realidade brasileira. O Comitê Brasileiro da Conferência Internacional de Serviço Social (CBCISS) deliberou convocar um grupo de assistentes sociais, representativo das várias regiões do país, vinculados aos diferentes campos e níveis de atuação, portadores das mais variadas experiências profissionais para solidariamente tentar responder àquele imperativo (CBCISS, 1986, p. 19).
O Seminário de Araxá contou com três importantes discussões: a teorização, a metodologia e a contextualização do Serviço Social na conjuntura social em que se encontrava. É fato que todas as três possuem inter-relação e por isso estão compreendidas ao longo de todo o documento. Cabe-nos, nesta disciplina, uma especial atenção às discussões sobre metodologia.
A dimensão da teorização apresenta uma provocação no sentido da necessária reflexão sobre a prática. Critica as ações pontuais e imediatistas reproduzidas pelos profissionais, que decorriam em reforço ao assistencialismo. Propõe uma intervenção pensada e capaz de fortalecer as dimensões da prevenção e promoção, em detrimento da correção.
Na pauta do Seminário, foram estudados e mesmo questionados os métodos então adotados de forma ampla pelo Serviço Social brasileiro: o serviço social de caso, grupo ou desenvolvimento de comunidade:
As exigências do processo de desenvolvimento mundial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países ou regiões subdesenvolvidas, o desempenho de novos papéis. Estes papéis, em sua evolução histórica, constituem forma de inserção da profissão na realidade econômico-social dos mesmos países ou regiões.
A partir desse novo enfoque, o Serviço Social deverá romper o condicionamento de sua atuação ao uso exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever seus elementos constitutivos, elaborando e incorporando novos métodos e processos (CBCISS, 1986, p. 26).
As reflexões do Seminário concorrem para reconhecer o profissional em seu papel de executor de ações públicas, focando também na sua contribuição com o planejamento e avaliação. No capítulo do Documento de Araxá dedicado exclusivamente para a questão da metodologia, é feita inicialmente a afirmação dos “princípios básicos da ação profissional”. São eles:
Autodeterminação;
Individualização;
Não julgamento;
Aceitação.
Os trabalhos realizados no Seminário conduziram a uma classificação destes princípios em postulados, no que se referia à dimensão ética da ação, e em princípios operacionais, quando são norteadores da prática (CBCISS, 1986).
Observe os postulados e princípios operacionais elencados no Documento de Araxá no quadro a seguir:
	Postulados
	a
	Postulado da dignidade da pessoa humana: que se entende como uma concepção do ser humano numa posição de eminência ontológica na ordem universal e ao qual todas as coisas devem ser referidas;
	
	
	b
	Postulado da sociabilidade essencial da pessoa humana: que é o reconhecimento da dimensão social intrínseca à natureza humana, e, em decorrência do que se afirma, o direito de a pessoa humana encontrar, na sociedade, as condições para a sua autorrealização;
	
	
	c
	Postulado da perfectibilidade humana: compreende-se como o reconhecimento de que o homem é, na ordem ontológica, um ser que se autorrealiza no plano da historicidade humana, em decorrência do que se admite a capacidade e potencialidades naturais dos indivíduos, grupos, comunidades e populações para progredirem e se autoproverem.
	
	
	Princípios operacionais
	a
	Estímulo ao exercício da livre escolha e da responsabilidade das decisões;
	
	
	b
	Respeito aos valores, padrões e pautas culturais;
	
	
	c
	Ensejo à mudança no sentido da autopromoção e do enriquecimento do indivíduo, do grupo, da comunidade, das populações;
	
	
	d
	Atuação dentro de uma perspectiva de globalidade na realidade social.
	
	
O documento apresenta que a intervenção com indivíduos, grupos, comunidades e populações não é uma ação exclusiva do Serviço Social. Refere que a peculiaridade própria da profissão é “o enfoque orientado por uma visão global do homem, integrado em seu sistema social” (CBCISS, 1986).
Esta dimensão de globalidade, contudo, não esclareceu suficientemente a especificidade da profissão, nem os motivos de sua escolha como elemento diferencial do Serviço Social frente às outras profissões (NETTO, 2015).
É possível, ao analisar a referência à globalidade, compreender o deslocamento da ética neotomista para o referencial estrutural-funcionalista norte-americano, tal como discutido por José Paulo Netto (2015, p. 219-220):
Ainda que o documento não clarifique com rigor esta noção, percebe-se que ela é utilizada como um traço pertinente da ultrapassagem do tradicionalismo — à intervenção profissional que toma os 'problemas sociais' de forma estanque deve substituir-se a 'perspectiva da globalidade'. (...)
À primeira vista, a determinação pode parecer somente uma extensão, para a angulação profissional, do princípio genérico que denota a 'integralidade' do desenvolvimento; contudo, o dado distintivo é a menção ao sistema social: sai-se aqui do campo ético do neotomismo para o terreno teórico do estrutural-funcionalismo — a 'globalidade' é a perspectiva das relações sistêmico-integrativas de indivíduo e sociedade. O deslocamento é significativo porque, no texto, ele interdita o questionamento da especificidade profissional.
A organização da metodologia no Documento de Araxá segue a partir da classificação das funções desenvolvidas pelo Serviço Social, as quais foram subdivididas em dois níveis de atuação:
Microatuação: ações de caráter administrativo e prestação de serviços diretos (característica operacional);
Macroatuação: ações voltadas à política e ao planejamento (característica ampla de planejamento e administração). Compreende ações integradas de planejamento, implantação e otimização de infraestruturas sociais, como serviços de saúde, educação, habitação, comunicação e outros.
Tema 2- metodologia do documento de Teresópolis
A dimensão metodológica ganha ampla discussão pela categoria profissional durante o Movimento de Reconceituação. Um dos momentos mais significativos neste processo foi a realização do Seminário de Teresópolis/RJ, entre 10 e 17 de janeiro de 1970.
Assim como o Seminário de Araxá, foi promovido pelo CBCISS (Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de Serviços Sociais). Clique no botão a seguir e confira a introdução do Documento de Teresópolis, a respeito da motivação e objetivo deste segundo Seminário:
Em 1967, trinta e oito assistentes sociais brasileiros, a convite do CBCISS, reuniram-se em Araxá com o objetivo de teorizar sobre Serviço Social face à realidade brasileira. Nesse encontro foi elaborado um relatório amplamente divulgado sob o título: DOCUMENTO DE ARAXÁ.
Sete encontros regionais foram realizados em 1968 para levantar opiniões sobre a validade teórica do Documento de Araxá e recolher subsídios sobre os aspectos nele omissos e as reformulações cabíveis. Setecentos e quarenta e um assistentes sociais opinaram sobre a matéria nos encontros regionais realizados em Goiânia, Fortaleza, Manaus, Belo Horizonte, Campinas, Porto Alegre e Rio de Janeiro (GB). Os resultados desses encontros foram divulgados no ‘Suplemento de debates sociais’ nº 03, agosto de 1969: ‘Análise do Documento de Araxá – Síntese dos 7 encontros regionais’. Os depoimentos recebidos revelaram, com bastante clareza, a necessidade de um estudo sobre a Metodologia do Serviço Social face à realidade brasileira.
Em resposta a essa necessidade, o CBCISS programou novoencontro para estudo do tema proposto (CBCISS, 1986, p. 53).
O Seminário de Teresópolis contou com a fase preparatória, em que 103 assistentes sociais foram convidados a contribuir com documentos de análise temática. O seminário contou com 11 documentos elaborados na fase preparatória e com a participação de 33 assistentes sociais durante os dias do evento. A pauta que motivou a elaboração dos documentos prévios compreendia a discussão da intervenção em Serviço Social e do diagnóstico social aplicados às diferentes frentes de trabalho (CBCISS, 1986).
Entre os documentos prévios, ganhou destaque a proposta de José Lucena Dantas, que segundo Netto (2015) é aquele que mais influencia os trabalhos realizados no Seminário, bem como os relatórios que compõem o documento final. Dantas elaborou o ensaio “A teoria metodológica do Serviço Social. Uma abordagem sistemática”.
Sua produção compreendeu a discussão da metodologia do Serviço Social, pautada em referenciais de uma perspectiva modernizadora. Essa correlação da metodologia com a proposta modernizadora própria daquela conjuntura social e política está clara não somente em seu texto, como também no próprio Documento de Teresópolis (NETTO, 2015).
Leia a observação de José Paulo Netto sobre o assunto, comparando os documentos de Araxá e Teresópolis:
No Documento de Teresópolis, o dado relevante é que a perspectiva modernizadora se afirma não apenas como concepção profissional geral, mas sobretudo como pauta interventiva. Há mais que continuidade entre os dois documentos: no de Teresópolis, ‘o moderno’ se revela como a consequente instrumentalização da programática (desenvolvimentista) que o texto de 1967 avançava (NETTO, 2015, p. 230).
O seminário contou com a produção de trabalhos em dois grupos distintos que discutiram e elaboraram propostas a partir dos temas “Concepção científica da prática do Serviço Social” e “Aplicação da metodologia do Serviço Social”. Ambos deveriam ser tratados a partir da discussão sobre os fundamentos da metodologia do Serviço Social.
Um dos destaques do relatório de Teresópolis é a proposição da realização de pesquisa sobre o Serviço Social no Brasil.
Pela diversidade do conteúdo final dos trabalhos dos dois grupos, seus resultados não foram compilados em relatório único, mas apontados separadamente.
O primeiro grupo orientou sua proposta de análise sobre a concepção científica da prática do Serviço Social, em cinco etapas. A subdivisão foi utilizada de forma didática, sendo que o grupo destacou o compromisso com a integralidade.
As cinco etapas definidas pelo grupo A compreendiam:
Levantamento de fenômenos significativos observados na prática do Serviço Social: neste caso, foram levantadas as demandas que se apresentavam à profissão, que foram classificadas em necessidades básicas e sociais e subdivididas em níveis: “biológico e de equipamento sanitário”, “doméstico e familiar”, “educacional”, “residencial”, “cívico-municipal”, “sociocultural” e “de segurança”;
Identificação das variáveis significativas para o Serviço Social, nos fenômenos observados:tratou de aprofundar a primeira etapa, avaliando as diferentes configurações em que se apresentam as demandas à profissão;
Identificação das funções correspondentes às variáveis inventariadas: tratava-se do conjunto de ações possíveis do Serviço Social para atenção às demandas identificadas;
Redução das funções: proposta de agrupamento das funções elencadas na terceira etapa em funções mais abrangentes;
Classificação das funções: processo de classificação das funções delimitadas na etapa 4 (CBCISS, 1986).
Entenda melhor: o conceito utilizado no Seminário de Teresópolis para definir as funções do Serviço Social foi “a resposta dada pela intervenção do serviço social a uma determinada necessidade humana, detectada nas variáveis observadas” (CBCISS, 1986, p. 63).Seguindo este processo, por etapas, o grupo levantou detalhada e organizadamente um rol de funções exercidas pelo Serviço Social frente às demandas que se apresentavam naquele momento.
Clicando no botão a seguir, você confere um quadro (adaptado de CBCISS, 1986, p. 68 e 69), no qual é possível observar um exemplo de tal sistematização:
Seguindo este processo, por etapas, o grupo levantou detalhada e organizadamente um rol de funções exercidas pelo Serviço Social frente às demandas que se apresentavam naquele momento.
Clicando no botão a seguir, você confere um quadro (adaptado de CBCISS, 1986, p. 68 e 69), no qual é possível observar um exemplo de tal sistematização:
Para conhecer todos os quadros elaborados pelo grupo, como os Documentos de Araxá e de Teresópolis na íntegra, busque pelo livro: “Teorização do Serviço Social: Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços Sociais”.
Seguindo a organização metodológica a partir das funções, o grupo lançou mão da classificação anteriormente delineada pelo documento de Araxá em níveis de atuação e compilou as correlações apresentadas no quadro que você confere clicando no botão a seguir:
O segundo grupo classificou as demandas para atuação do Serviço Social em diferentes “níveis de vida” (saúde, alimentação, habitação, educação, segurança social e lazer) e “sistemas de relações sociais” (renda, integração social, mudança cultural, transformação institucional e comunicação social).
Clique na imagem a seguir e observe o quadro com um exemplo desta classificação:
Os encaminhamentos do segundo grupo voltaram-se à análise dos fundamentos teóricos que poderiam ser utilizados para sustentar a prática diante das demandas levantadas. Assim, foram consideradas diferentes áreas do saber, aplicáveis à atuação do Serviço Social nos níveis “prestação direta de serviços”, “administração de serviços sociais” e “planejamento de serviços sociais”. São exemplos destes diferentes campos do saber: Economia, Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Legislação Social, Estatística, Teoria de Administração, Urbanismo e outras.
O relatório apresenta a discussão que se desenvolve sobre a produção de conhecimento pela categoria do Serviço Social, para além da adoção do conhecimento produzido pelas outras áreas. Ficam subdivididos os tipos de conhecimento em “para”, “em” e “sobre” Serviço Social.
No que se refere à intervenção, foram enumeradas as operações comumente desempenhadas pelos assistentes sociais no seu exercício profissional. Clique no botão a seguir e veja quais são elas:
Enumerar e descrever;
Comparar e distinguir;
Classificar e conceituar;
Relacionar as variáveis;
Sistematizar;
Singularizar;
Indicar a viabilidade ou prever tendências;
Preparar as ações;
Executar;
Avaliar.
(CBCISS, 1986, p. 87)
Sobre a aplicação da metodologia do Serviço Social, há destaque para a colaboração da categoria em ações de administração e planejamento, para além das ações de execução. A metodologia sistematizada é caracterizada como:
Aplicável ao nível de planejamento: desenvolvido em caráter interdisciplinar. Foi delineado de maneira abrangente, envolvendo a definição de políticas, elaboração e implantação de planos e também ações de controle e avaliação;
Aplicável ao nível de administração em Serviço Social: compreendendo as ações de diagnóstico e as ações administrativas voltadas à intervenção;
Aplicável ao nível de prestação de serviços diretos: diversidade de ações relacionadas à aplicação dos métodos “caso”, “grupo” e “desenvolvimento de comunidade”. Feito destaque, neste item, de que a análise destes modelos então vigentes não se propunha a reafirmá-los ou identifica-los como únicas formas de intervenção do Serviço Social (CBCISS, 1986).
Numa análise comparativa entre os relatórios dos dois grupos, respeitadas as distinções que impediram a formulação de um relatório único, é possível observar complementariedade e pontos em comum. José Paulo Netto (2015) contribui com esta apreciação, destacando as principais convergências, conforme vemos a seguir:
Nosdois relatórios, malgrado as suas diferenças, há um denominador comum: a ‘concepção científica da prática do Serviço Social’ é assumida como uma intervenção: (1) sobre elementos intelectualmente categorizados da empiria social; (2) ordenada a partir de variáveis de constatação imediata, e (3) direcionada para generalizar a integração na modernização (entendida como já era posta em Araxá: como sinônimo de superação do subdesenvolvimento) (NETTO, 2015, p. 242
Para compreender melhor, clique no botão a seguir e leia um trecho do livro “Teorização do Serviço Social: Seminários de Araxá, Teresópolis e Sumaré”, organizado pelo CBCISS — Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviços Sociais”:
Tema 3- método BH
O Método BH também está compreendido dentro das expressões do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. É reconhecido como pioneiro na proposta de superação do Serviço Social tradicional e conservador, para avançar na adoção de teorias, metodologias e posicionamentos políticos de vertente crítica.
Dentro do Movimento de Reconceituação está compreendido como um dos grandes avanços do momento, caracterizado como “intenção de ruptura”. Segundo Netto (2015), frente às constantes reflexões e mesmo ao avanço das teorias de superação do Serviço Social tradicional, ao longo dos anos 1960 e 1970, surgem em meados da década de 1970 dois diferentes movimentos dentro da categoria profissional, um deles buscava a promoção de mudanças, mas reafirmava o conservadorismo, e foi classificado como “reatualização do conservadorismo”; o outro propunha o avanço para a adoção das teorias críticas, sendo denominado como “intenção de ruptura”
O Método BH levou este nome por ter sido elaborado em Belo Horizonte/MG, por uma equipe de professores da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Teve como influências a educação popular de Paulo Freire; a teologia da libertação, movimento de caráter progressista dentro da Igreja Católica e as teorias críticas marxistas (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; REVISTA EM PAUTA, 2007).
Seu principal objetivo era formular uma base de atuação capaz de implementar uma nova concepção teórica e política à atuação dos assistentes sociais.
Clique no botão a seguir e veja a explicação dada por Leila Lima Santos, uma das professoras da PUC-MG e precursoras do Método BH:
Nossa proposta na Escola era romper com o esquema ‘tradicional’ do Serviço Social, mudar os elementos teóricos da formação profissional, enriquecê-los com as Ciências Sociais e dar muita ênfase na busca de novos campos de trabalho e práticas profissionais que ampliassem os horizontes até então demarcados pela visão e prática tradicionais e assistencialistas da profissão.
Quando falávamos do esquema tradicional do Serviço Social, referíamos ao legado europeu de assistência e beneficência aos necessitados como parte de uma nobre atitude cristã frente à dor humana. E também aludíamos à corrente norte-americana que considerava que os problemas e os desajustes dos indivíduos, grupos ou comunidades eram desvios de conduta e de comportamento, em que as pessoas eram os únicos e principais responsáveis, já que se assumia que o sistema capitalista dava iguais oportunidades a todos.
Estas perspectivas estavam orientadas por um novo ‘marco teórico-metodológico’, cuja dimensão metodológica foi conhecida como Método BH. O Método BH se referia à relação intrínseca entre conhecimento, processo de pesquisa e intervenção direta com instituições ou grupos de população. O Serviço Social tradicional, como já foi dito, ignorava a ‘gênese da questão social’, porque se centrava em teorias behavioristas e psicologistas dos problemas sociais. Além do mais, a sua abordagem de investigação era apenas pragmática: diagnóstico, estudo e tratamento corretivo, feitos em compartimentos estanques do caso, grupo, comunidade.
Em contraste, o Método BH partia do pressuposto de que os indivíduos agiam em função do seu momento histórico e das grandes variáveis econômicas e sociais, e que estavam condicionadas pelas relações de classe e relações externas (em função da natureza dos nossos Estados Nacionais). Assim mesmo, pensava-se que a pesquisa era construída através de aproximações permanentes e sucessivas entre conhecimento e prática, entre indivíduo e sociedade. Privilegia-se a influência sobre as políticas sociais estatais ou sobre as estruturas socioeconômicas que sobre as pessoas em particular. O Método BH congregava na pesquisa, professores de Serviço Social e cientistas sociais, supervisores, estudantes que conformavam as Equipes de Prática da Escola de Serviço Social (REVISTA EM PAUTA, 2007, p. 166).
O Método BH é reconhecido como a primeira iniciativa capaz de viabilizar uma perspectiva crítica à atuação do Serviço Social. Contudo, possuía falhas em sua proposição, dado seu ecletismo teórico e mesmo no que se refere ao estabelecimento dos objetivos de atuação do Serviço Social (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 2015).
Certa fragilidade do método refere-se à adoção de referenciais marxistas secundários e não da própria produção de Marx, o que conduziu a uma resistência à via institucional que desconsiderava as determinações sócio-históricas da profissão (YASBEK, 2009).
Questionam-se seus objetivos-meios, caracterizados como a “conscientização, a capacitação e a organização” e seus objetivos-fins, a “transformação da sociedade e do homem”, por sua amplitude. Questiona-se ainda o objeto de estudo definido por este método: a “ação social da classe oprimida” (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014; NETTO, 2015).
Cabe dizer que, se o objeto de atuação da profissão fosse mesmo a ‘ação social da classe oprimida’, como pensavam os formuladores do ‘método BH’, os resultados da nossa intervenção ficariam totalmente submetidos à ação social dessa classe. Com isso, entendia-se que, se tal classe não agisse, a profissão de Serviço Social era a responsável por tal imobilismo, o que significa que naquela época a profissão abarcava uma responsabilidade enorme pela transformação social, quando, na verdade, profissão nenhuma pode assumir tamanha tarefa, pois a transformação da sociedade advém da luta de classes e não da luta de uma única profissão. Ademais, ainda que a educação popular contribua com o processo de conscientização dos sujeitos sociais, se esses sujeitos, por meio da práxis, não se dispuserem a transformar o mundo, nada muda. Daí o Serviço Social não poder tomar a ‘ação social da classe oprimida’ como seu objeto de atuação” (MACHADO, SANTOS e SOARES, 2014, p. 340-341).
É possível identificar a valorização deste método no percurso histórico do Serviço Social a partir da afirmação de José Paulo Netto (2015, p. 350):
Quaisquer que sejam os progressos da investigação acerca do desenvolvimento do Serviço Social no Brasil a partir da década de 1960, a elaboração do grupo de Belo Horizonte permanecerá como um marco — e, cremos nós, sua importância histórica tenderá a crescer. Com equívocos maiores ou menores, aquele trabalho configurou a primeira elaboração cuidadosa, no país, sob a autocracia burguesa, de uma proposta profissional alternativa ao tradicionalismo preocupada em atender a critérios teóricos, metodológicos e interventivos capazes de aportar ao Serviço Social uma fundamentação orgânica e sistemática, articuladas a partir de uma angulação que pretendia expressar os interesses históricos das classes e camadas exploradas e subalternas. É absolutamente impossível abstrair a elaboração belo-horizontina da fundação do projeto de ruptura no Brasil.
É possível identificar a valorização deste método no percurso histórico do Serviço Social a partir da afirmação de José Paulo Netto (2015, p. 350):
Quaisquer que sejam os progressos da investigação acerca do desenvolvimento do Serviço Social no Brasil a partir da década de 1960, a elaboração do grupo de Belo Horizonte permanecerá como um marco — e, cremos nós, sua importância histórica tenderá a crescer. Com equívocos maiores ou menores, aquele trabalho configurou a primeira elaboração

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