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O ESTADO DE DIREITO BRASILEIRO E AS LIBERDADES PÚBLICAS – 
REFLEXÕES SOB A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO DE 19881 
 
THE BRAZILIAN STATE OF LAW AND THE PUBLIC LIBERTIES – 
REFLECTIONS FROM THE CONSTITUTION OF 1988. 
 
André Furtado de Oliveira 
Gabriel Capristo Stecca 
 
RESUMO: O tema Estado de Direito brasileiro e liberdades públicas entrelaça autoridade 
versus liberdade, Estado versus indivíduo, permeia o direito administrativo, constitucional e 
principalmente crítico-filosófico, revelando-se muito sensível à natureza do Estado de Direito 
e às características históricas, políticas, sociológicas e econômicas dos países. O corte 
metodológico usado na pesquisa refere um entrave jurídico sobre as referências 
constitucionais no que diz respeito à liberdade de expressão, direito de reunião, dialética de 
ideias e liberdade no sentido amplo. Balizou-se no estudo das liberdades públicas no Estado 
de Direito brasileiro sob a ótica da Filosofia do Direito e da Constituição de 1988. Estudou-se 
a formação do Estado Social e Democrático de Direito sob o aspecto jurídico, bem como 
optou-se por escolher acórdãos do STF pós 1988, que retratassem a ideia desse modelo de 
Estado frente à liberdade de reunião. Para tanto, foi decidido fazer uma análise qualitativa 
sobre alguns acórdãos do STF de relevância jurídico-social-político que traziam um mote do 
direito público, expondo a crise relacionada às liberdades públicas que são um dos pilares da 
democracia. Concluiu-se que o Poder Judiciário, através do controle concentrado de 
constitucionalidade, atribui o verdadeiro sentido e alcance das liberdades fundamentais dos 
indivíduos e da sociedade, colocando também os limites da atuação do Estado no contorno 
desses direitos fundamentais. 
 
PALAVRAS CHAVES: Democracia, Liberdade, Estado. 
 
 
1 O presente artigo foi desenvolvido em razão da pesquisa realizada na iniciação científica dos autores, 
intitulada Poder de Polícia e Estado de Direito – reflexões sob a ótica da Filosofia do Direito e da Constituição 
de 1988, sob a orientação dos professores Silvia Pimentel e Mario Thadeu Leme de Barros Filho, realizado no 
período de 2012/2013 na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com bolsa 
PIBIC – CEPE – CNPQ. 
ABSTRACT: The article Brazilian State of Law and public liberties weaves authority versus 
liberty, State versus individual, permeates administrative law, constitucional law and mainly 
critical philosophic, revealing very sensible to the nature of the State of Law and to the 
historical, political, sociological and economic atributes of the countries. The methodological 
approach used in the survey refers to a legal restriction on the constitutional references with 
regard to liberty of expression, liberty of assembly, dialectic of ideas and liberty in general. 
The focus was the study of public liberties in the brazilian State of Law from the perspective 
Philosophy of Law and of the Brazilian Federal Constitucion of the 1988. It has been studied 
the formation of the Social and Democratic State of Law under the legal aspect and also the 
decisions of the Brazilian Federal Supreme Court about the relations between the State and 
public liberties, especially the liberty of assembly, after 1988. The analysis of theses decisions 
was qualitative, because it was choosed the most relevant decisions in the society, showing 
the crises of public liberties. It has been concluded that the Judiciary Power shows to the State 
agents the true sense of the fundamental rights, putting also the limits of state action on the 
boundary of these fundamental liberties. 
 
KEYWORDS: Democracy, Liberty, State. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O debate acerca dos limites de exercício e efetivação dos direitos fundamentais na 
sociedade contemporânea se revela como questão cada vez mais presente no cotidiano 
brasileiro. E uma das maneiras de buscar respostas para tanto é o estudo e análise das decisões 
do Supremo Tribunal Federal, STF – tribunal máximo do judiciário brasileiro, em busca de 
identificar a existência de parâmetros jurisprudenciais e de redução da área cinzenta de 
dúvidas acerca da temática1. O presente artigo tratará, especificamente, de uma questão ainda 
mais atual na agenda social brasileira: a discussão acerca do direito à liberdade, em especial 
da liberdade de reunião. 
No primeiro semestre de 2013, ocorreu uma série de manifestações por todo o 
território nacional. Grande parcela da população brasileira foi às ruas reivindicar seus direitos 
e cobrar das autoridades públicas qualidade dos serviços públicos. Mostrou-se, de forma 
massiva, o grande impacto dessas manifestações na mídia nacional, que ganharam lugar na 
pauta de destaque dos telejornais e diários de grande circulação do Brasil. Estes movimentos 
travaram um grande debate público para discutir essenciais aspectos da política urbana 
nacional, demonstrando impacto, também, no Congresso Nacional. Assim, o exercício da 
liberdade de reunião, principalmente por meio das manifestações ocorridos a partir de junho 
de 2013, é um fato que não pode deixar de ser observado pelo Direito, que caracteriza a 
disciplina própria da concretização desta liberdade pública fundamental no seio do Estado 
Democrático de Direito. 
A liberdade de reunião (artigo 5º, XVI da Constituição), desdobramento de um dos 
direitos fundamentais individuais básicos (liberdade), assim como qualquer direito 
fundamental, não é direito absoluto e deve ser restringido e regulamentado, possibilitando o 
seu pleno exercício em concorrência com demais direitos e liberdades constitucionais. Mas o 
problema central para discutir-se a efetividade desse direito é estabelecer quais seriam esses 
limites. Igualmente, a questão envolverá outro direito fundamental, da livre manifestação do 
pensamento (artigo 5º, IV e IX da Constituição). 
A discussão desses direitos já foi realizada em algumas oportunidades pelo STF, 
mesmo antes da Constituição de 1988, mas para o presente trabalho se destacam três julgados 
relevantes, que tiveram por trás do problema central o debate acerca dos limites da liberdade 
de reunião. 
Trata-se de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1969 ajuizada em 1999 
contra um decreto do Distrito Federal que proibia a utilização de carros de som e 
equipamentos sonoros em protestos a serem realizados na Praça dos Três Poderes, na 
Explanada dos Ministérios, na Praça do Buriti e ruas circundantes2. Verificaremos, ao longo 
do presente artigo, que o STF decidiu, por unanimidade, que referido decreto violava a 
liberdade de reunião e que este estaria intimamente associado ao direito de livre manifestação 
do pensamento. Foi registrado no acórdão, destaca-se desde já, que os contornos para o 
exercício desse direito já estavam definidos no texto da Constituição. 
No mais, foi analisado o julgamento da denominada “Marcha da Maconha”, ocorrido 
em 2011, onde o STF, por meio da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n.187 
e da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4274, julgou pela não criminalização das 
passeatas que proclamavam a liberalização da referida droga. 
A metodologia consistiu em separar e selecionar acórdãos representativos que 
demonstrassem com a maior didática possível o tema Estado de Direito e liberdades públicas. 
Os acórdãos selecionados foram aqueles em que os Ministros discutem acerca das liberdades 
públicas diante dos fatos do caso concreto, relacionando-o com a postura do Estado Social e 
Democrático de Direito brasileiro. Desse modo, conseguiu-se identificar como o Supremo, 
órgão que apresenta os limites hermenêuticos da Constituição, aborda a questão doexercício 
da liberdade de reunião e suas implicações no seio do Estado democrático de Direito 
brasileiro. 
Optou-se por uma análise qualitativa em preferência a uma análise quantitativa por 
alguns motivos que passam a ser expostos. Assim, no que atine a esse espectro, optou-se por 
escolher acórdãos que retratassem a ideia de poder do Estado frente à limitação da liberdade 
de reunião. Isto porque, a partir deles, pôde-se verificar uma série de potenciais conflitos que 
puderam ser bem analisados pelo intérprete para a determinação de uma solução justa sob o 
panorama do Direito do Estado e da Constituição.3 
Nesse sentido, a análise qualitativa por acórdão acontecerá durante o 
desenvolvimento no momento em que a preocupação será avaliar a aplicação da relação entre 
Estado e as liberdades públicas. 
Dessa forma, a pesquisa jurisprudencial se revela de enorme importância para o 
entendimento do tema das liberdades públicas, uma vez que colocam sob uma ótica a 
democracia, o Estado de Direito brasileiro e o panorama fático do exercício dessas liberdades 
frente aos órgão do Estado, permeando o panorama das limitações constitucionais dos direitos 
fundamentais. 
Nesse sentido, Dimitri Dimoulis expõe: 
“Sem pesquisar a jurisprudência não podemos compreender as formas de aplicação 
das normas jurídicas. Trata-se de fonte do direito relevante para a vida social, 
produzindo-se o saber dogmático mediante a interação entre doutrina e 
jurisprudência.”4 
Por fim, a liberdade de reunião, sendo uma liberdade pública, traduz um dos lemas 
sobre a qual se erigiu o Estado Democrático e Social de Direito Brasileiro, cabendo destacar 
que esta liberdade é um direito que proporciona a concretização de outros direitos e outras 
liberdades fundamentais. Ou seja, a liberdade de reunião configura meio de realização das 
liberdades públicas, tais como a liberdade de manifestação de pensamento, a liberdade 
religiosa, a liberdade de expressão, dentre outras significativamente importantes para a 
sociedade democrática. É direito essencialmente democrático que, no Estado brasileiro, após a 
promulgação da Carta Constitucional de 1988, serviu para afundar de vez qualquer espécie de 
autoritarismo estatal. 
 
Julgamento do decreto do Governador do Distrito Federal que restringiu as 
manifestações por meio de veículos sonoros nas praças políticas de Brasília. Análise 
crítica do acórdão que julgou a ADIn 1969. 
 
No caso desta Ação Direta de Inconstitucionalidade, analisou-se a suspensão dos 
efeitos do decreto 20.098 de 15 de março de 1999, expedido pelo Governador do Distrito 
Federal, que apontava inconsticionalidade material contra o artigo 5º, XVI, da Contituição 
Federal. Foi demonstrado na inicial da ADIn que este ato administrativo discricionário estava 
em desconformidade ao direito fundamental positivado na Carta Margna brasileira – liberdade 
de reunião. 
Os Ministros declararam a inconstitucionalidade desse decreto executivo, 
considerando um verdadeiro obstáculo ao exercício pleno da democracia. Nesse sentindo, não 
há porque homenagearato do poder público violador de garantia constitucional.2 
O grande perigo encontrado em normas jurídicas restritivas é justamente a 
ponderação entre direitos que são suprimidos em nome de outros direitos, que naquela 
situação fática, merecem relevância e aplicação. A sistemática funciona com o método em que 
haverá sopesamento na situação concreta de princípios constitucionais que deverão ser 
aplicados em menor ou maior grau. Contudo, jamais poderá haver uma negação absoluta de 
um determinado princípio em benefício de outro. 
No caso do Decreto 20.098/99, é clarividente o cerceamento do direito à livre 
manifestação das ideias que edifica os pilares da democracia em consonância à liberdade de 
expressão, ambos intimamente ligados à liberdade de reunião. Na situação em julgamento, o 
Governador utilizou-se de modo inapropriado da denominada polícia administrativa 
preventiva, limitando a conduta daqueles que utilizam bens ou exercem atividades que 
possam afetar a coletividade. 
O direito de reunião encontra-se, portanto, em isomorfia ao princípio da 
razoabilidade, devendo haver ponderação e melhor conciliação entre o direito de protesto - 
reunião - e os outros direitos fundamentais, tais como o direito de trabalhar tranquilamente na 
denominada Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios, Praça do Buriti e vias 
adjacentes de Brasília. Ou seja, deve haver uma compatibilidade entre os direitos diante de 
um caso concreto. Para tanto, deve-se compreender que a reunião prevista no preceito 
constitucional não se reduz àquelas vislumbradas como silenciosas ou taciturnas, já que a 
prática dessa liberdade exige a veiculação de ideias, incluindo artefatos que favoreçam à 
propagação das ideias que ali estão se discutindo. 
 
2Trata-se, pois, de decreto autônomo, uma figura não reconhecida no campo do direito administrativo brasileiro 
pela maioria dos autores dessa seara jurídica. Por isso, fez-se necessário o ataque ao decreto por meio da ação direta de 
constitucionalidade, o que já havia se permitido e confirmado na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 
Desse modo, impedir o encontro de cidadãos por meio do exercício de um decreto 
autônomo e ilegal que não encontra respaldo na ordem jurídica brasileira é ser conivente com 
um tipo de Estado longe de ser de Direito, mas antes favorecer o que foi conhecido como um 
Estado de Polícia. Estado este que foi extinto após anos de lutas objetivando garantir o direito 
básico dentro de uma real democracia: a dialética das ideias. Não se pode conceber, em pleno 
século XXI, que os nossos governantes sejam aliados a um poderio ideológico totalmente 
ultrapassado. A era maquiavélica de conduzir uma massa de rebanho conforme vontades de 
uma oligarquia esfacelou-se há muito tempo. 
Outrossim, o direito de reunião traz à tona uma conjectura dialética que Platão, na 
Grécia Antiga, já pregava. Revela-se, nesses moldes, um teor de humanidade muito peculiar à 
concepção da democracia contemporânea, visto que se trata, bem se vê, além de um direito 
individual, um exercício social coletivo. Isto porque o direito de reunião pressupõe um 
agrupamento de pessoas, nesse caso, um elemento de ordem subjetiva. Para tanto, deve-se 
mostrar um mínimo de coordenação e organização – a aglomeração deve ser resultado de uma 
convocação prévia à coincidência de pessoas num mesmo lugar. Quem participa da reunião 
deve integrá-la conscientemente.5 Nesse seguir, o agrupamento de pessoas, no direito à 
reunião, é necessariamente transitório, passageiro, sendo este seu elemento temporal. Para 
completar, a reunião deve ser pacífica e sem armas, o que constitui seu elemento objetivo. 
Cumpre salientar que o direito de reunião, como bem ilustrado pelo Ministro Marco 
Aurélio no julgamento da ADIn 1969, está umbilicalmente calcado à manifestação do 
pensamento. Oprimir essa conduta mostra-se seduzido por qualquer outro tipo de governo, 
menos o democrático. 
O direito de reunião não pode ser restrito por nenhuma das causas expostas no 
Decreto 20.098/99, uma vez que foram delimitados os locais onde não poderia acontecer a 
aglomeração de pessoas. O ato constituiu uma verdadeira ameaça à hermenêutica 
constitucional das normas jurídicas brasileiras. Os limites ao direito de reunião somente 
podem ocorrer quando há exigência expressa para que um encontro não frustre outro, 
anteriormente convocado para o mesmo local, pela imposição de prévio aviso à autoridade 
competente. 
Apesar de todas essas exposições, não está aqui se afirmando que o direito de reunião 
é uma garantia absoluta.Contudo, um direito essencial que deve ser restrito o mínimo 
possível. Isso se dá, por exemplo, se eventual manifestação que ocorre em lugar público 
inicia-se espontaneamente sem o aviso prévio3 à autoridade competente. Não parece, porém, 
que o descuido na satisfação desse dever seja pressuposto suficiente para que as autoridades 
dissolvam a reunião. 
A par disso, a dissolução de uma reunião somente será ato apropriado em situações 
extremas, isto é, em situações onde a violência encontra-se sobranceiramente assumindo 
proporções irrefreáveis. Trata-se, pois, de atitude derradeira para defesa de outros valores 
constitucionais e a que não se deve recorrer pela só falta de cumprimento da formalidade do 
anúncio.6 
No caso observado, o campo de incidência do decreto 20.098/99 atingiu áreas 
próprias às manifestações populares da capital do país4. Assim sendo, além de não cumprir 
com seu ensinamento jurídico de verdadeira servidão à lei e à Constituição, o decreto se fez 
de forma inovadora, constituindo verdadeiro decreto autônomo, o que é vedado pelo 
ordenamento jurídico pátrio. Como se não bastasse, proibiu locais que seriam o berço da 
expressão democrática, um lugar construído com parâmetros gregos a fim de possibilitar o 
encontro de assembleias para haver deliberações constantes de assuntos diversos sobre a 
política nacional e distrital. 
De outra banda, um grande aspecto pertinente a esse tema, contribuindo muito à 
potencialidade que o direito de reunião impõe à democracia, foi a teoria construída 
principalmente por Jürgen Habermas (2004), denominada como Democracia Deliberativa. O 
autor apresenta o modelo de “política deliberativa” ou “procedimentalista” baseando-se nas 
condições de comunicação, sob as quais o processo político supõe-se capaz de alcançar 
resultados racionais, justamente por cumprir-se, em todo o seu alcance, de modo deliberativo. 
Esse algoritmo democrático cria uma coesão interna entre negociações, discursos de 
auto-entendimento e discurso sobre a justiça, além de motivar a suposição de que sob tais 
condições se almejam implicações ora racionais, ora justas e honestas7·. É nesse momento que 
 
3 Veja que foi colocado expressamente com FALTA DE AVISO PRÉVIO e não como PERMISSÂO. A autoridade 
competente não tem legitimidade para regular o que pode ou não pode ser manifestado nos lugares públicos, desde que seja 
pacífico e sem uso de armas. O que se dá é a mera comunicação de que um direito de reunião será exercido em lugar e hora 
determinados. Essa comunicação tem função para que, se houver necessidade, o poder público se mobilize para 
comprometer-se em satisfazer a mobilização dos cidadãos. Por exemplo: promover a segurança do local levando um 
contingente maior de força policial; desviar o tráfico de automóveis para via alternativa; conduzir a salubridade do local, etc. 
4Importante também observar à avaliação feita por um dos Ministros, na qual se analisa que até mesmo a 
arquitetura urbanística de Brasília havia sido projetada para favorecer a liberdade de expressão, buscando o aperfeiçoamento 
da democracia, com as ruas largas e os grandes espaços. Lugares estes aptos, originariamente, para serem tomados pelo povo, 
para serem realizadas passeatas e reivindicações, para favorecer a manifestação pública na própria capital do país. 
 
o direito de reunião torna-se protagonista, pois segundo um entendimento da teoria do 
discurso de Habermas, deve haver coesão entre o pensamento uníssono da população para 
com as políticas públicas adotas. Isso somente será almejado se esse pensamento dos cidadãos 
for construído por meio da dialética do discurso e do embate de ideias, para extrair a melhor 
conclusão ao governante. Assim, a democracia precisar ser deliberada para então tornar-se, de 
fato, representativa. 
Nessa linha, enquanto condição para a legitimidade, o processo deliberativo enfrenta, 
contudo, esfinges de operacionalização, relacionadas aos arranjos institucionais e às 
condições de inserção e de arrojo do processo, ou inseguranças quanto aos resultados 
possíveis. Executar a democracia de forma apática às considerações urgidas em assembleias 
deliberativas do povo mostra-se um esvaziamento de propósito àquilo assegurado no processo 
de instauração democrática. 
Como foi colocado na decisão que tornou inconstitucional o Decreto 20.098/99 
regulamentado pelo governador do Distrito Federal, manifestado pelo Advogado-Geral da 
União, "a utilização de aparelhos sonoros por um certo período de tempo, bem como a 
limitação parcial de acesso a determinadas vias, não ensejam restrições ao exercício legítimos 
direitos públicos subjetivos." 
Posto isso, jamais um direito fundamental como o direito de reunião, garantido pelo 
art.5°, XVI, da Constituição Federal, pode ser suprimido estabelecido em simples 
formalidades. Seria uma incoerência à democracia. Deve-se sempre ter em mente que esse 
direito sustenta pilar do Estado Democrático de Direito, possibilidade de deliberação, de 
formação de assembleias, de discussão de ideias ele desenvolvimento dialético, que devem ser 
fomentado por um Estado que se preze democrático. 
 
Julgamento da denominada “Marcha da Maconha”: liberdade de reunião versus 
criminalização da marcha. Análise da ADIn 4274 e da ADPF 187 (2011). 
 
Neste julgamento, cuidou-se de ação direta de inconstitucionalidade, proposta pela 
Procuradora-Geral da República contra o §2º do art. 33 da Lei 11.343/06. Isso para que o 
Supremo Tribunal Federal realizasse interpretação conforme à Constituição (...), de forma a 
excluir qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da legalização das 
drogas ou de qualquer outra substância entorpecente específica, inclusive através de 
manifestações e eventos públicos. Da mesma forma, a Procuradora Geral da República 
formalizou arguição de descumprimento de preceito fundamental objetivando conferir 
interpretação conforme à Constituição ao artigo 287 do CP, a fim de excluir do campo de 
incidência da norma as manifestações e eventos públicos em favor da descriminalização de 
substâncias psicotrópicas, em particular a denominada “marcha da maconha”. 
Os principais fundamentos das decisões dos ministros foram efetuados de modo 
paralelo com o próprio sentido de democracia. Inicialmente, os ministros assinalaram que 
suas respectivas decisões e consequentes fundamentações estavam longe de discutir as 
propriedades terapêuticas ou supostas virtudes medicinais de qualquer droga ou substância 
entorpecente, mas antes, buscavam a proteção de duas liberdades fundamentais: a liberdade 
de reunião e o direito à livre manifestação do pensamento. 
Assim, desenvolveram argumentos favoráveis às liberdades públicas, posto que a 
liberdade de reunião e a liberdade de expressão, em um legítimo sistema democrático, são 
fontes de veiculação de ideias, consistindo direitos com grande importância para o 
aperfeiçoamento do próprio sistema participativo da sociedade. Explicando melhor a matéria, 
a própria liberdade de expressão remonta ao tempo da Antiguidade Clássica, em que a 
concepção grega de participação pública era prestigiada, muito embora o conceito de 
democracia outrora fosse bem diferente do atual sistema democrático. Posteriormente, já em 
uma visão contemporânea, pode-se extrair que o direito é legitimado, numa democracia 
deliberativa, pela própria ideia de manifestação de pensamento e liberdade de expressão. É o 
processo que Jürgen Habermas chama de auto legislação levada a efeito pelos próprios 
cidadãos. 
É interessante observar como a liberdade de expressão e a liberdade de reunião 
exercidas pelos indivíduos no espaço público podem ser, também,instrumentos de satisfação 
e de realização da liberdade pessoal. Assim, pode-se considerar que as liberdades públicas são 
meios que objetivam o aperfeiçoamento da liberdade individual, pois coloca o indivíduo no 
desenvolvimento da sua personalidade enquanto cidadão participativo. Aliás, a própria feição 
da liberdade pública ligada à liberdade individual mostra-se essencial à proteção da dignidade 
da pessoa humana no exato sentido do desenvolvimento de seus atributos de personalidade. 
Em âmbito penal, os ministros consideraram que as manifestações favoráveis à 
legalização das drogas não consistiria uma apologia ao consumo de substâncias proibidas, 
mas um meio de contestar e questionar políticas públicas ou leis consideradas injustas. Por 
outro lado, a liberdade de expressão não é apenas protegida pelo sistema de direito interno, 
mas também pelo direito internacional, pelo qual o Brasil integrou ao sistema nacional o 
prestigiado Pacto de São José da Costa Rica. Tal tratado reforçou, em âmbito interno, o 
prestígio desta liberdade pública, que não pode ser censurada previamente, mas cujo exercício 
pode acarretar responsabilidades ulteriores. Bem por isso, nessa Convenção, especificamente 
no artigo 13 (5), preveem-se claramente as hipóteses em que é admissível a restrição à 
liberdade de expressão. 
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor de guerra, bem como toda apologia ao 
ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, 
ao crime ou à violência. 
Essas hipóteses demonstradas de forma taxativa pelo Pacto de São José afetam o bem 
jurídico tutelado pelo crime de apologia ao crime, qual seja a paz pública (CAPEZ, 2006, p. 
251; PRADO, 2010, p. 225) ou o sentimento de segurança na ordem e proteção pelo direito 
(BITTENCOURT, 2011, p. 355). 
Contudo, as manifestações sobre a legalização de determinado elemento químico 
psicoativo, caso da “marcha da maconha”, não agridem o bem jurídico tutelado em questão, 
posto que não fazem apologia ao ódio nacional ou religioso, ou à guerra, muito menos incita à 
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. Coube considerar que as manifestações 
constituem essencialmente instrumento democrático de questionamento de políticas públicas 
de drogas ou até mesmo leis consideradas injustas por parcela da população. É livre o cidadão 
para manifestar opinião sobre determinada lei ou política pública, favoravelmente ou não ao 
ato do poder público, consubstanciando na liberdade de expressão, uma vez que o pensamento 
é livre. Caso contrário, não haveria participação pública nos processos políticos e de interesse 
nacional. 
Assim, conjugada à liberdade de expressão, a liberdade de reunião cumpre o objetivo 
de viabilizar o exercício daquela liberdade em grupo, trazendo ao indivíduo, em sua 
personalidade singular, discutir o que é melhor para o interesse geral através do diálogo com 
àqueles que pensam de igual forma, bem como fortalecendo o embate de ideias. É a 
denominada dialética das ideias. É por meio desse direito que ocorre a participação 
democrática, a possibilidade de as mais diferentes opiniões serem colocadas de forma aberta, 
sem o receio de, com isso, contrariar-se a opinião do próprio Estado ou mesmo a opinião 
majoritária, pois somente assim se constrói uma sociedade livre e plural, com diversas 
correntes de ideias, ideologias, pensamentos e opiniões políticas. 
Desse modo, as manifestações em favor da descriminalização de substâncias 
psicotrópicas não são condutas tipificadas no delito de apologia ao crime, de acordo com o 
art. 287 do CP, mas constituem, sobretudo, liberdades públicas fundantes do sistema 
democrático sobre o qual se estruturou o Estado brasileiro com a ordem constitucional 
vigente. 
Destaca o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, o qual atuou como ‘amicus 
curiae’ no processo, que “no caso da Marcha da Maconha, do que se pode perceber, não há 
qualquer espécie de enaltecimento, defesa ou justificativa do porte para consumo ou do tráfico 
de drogas ilícitas, figuras tipificadas nos arts. 28 e 33 da Lei 11.343/06. Ao contrário, resta 
evidente a tentativa de pautar importante (e necessário) debate acerca das políticas públicas e 
dos efeitos do proibicionismo.” 
Em se tratando de liberdade de expressão quanto a fato tipificado como crime, é de 
se lembrar manifestações populares que possuíram o caráter legislativo de “abolitio criminis” 
no Brasil, tal como ocorreu com a descaracterização típica do adultério (CP, art. 240), da 
sedução (CP, art. 217), do rapto consensual (CP, art. 220) e da prática de capoeiragem 
(Código Penal do Império, 1890). 
Destarte, qualquer ato do poder público que inviabilize e desrespeite o direito de 
reunião acaba por ferir outras liberdades fundamentais, cujo exercício da reunião possa supor. 
Sendo pacífica, a polícia não pode proibir a reunião, exceto contra aqueles que, por ato 
próprio, motivarem a intervenção do poder ao exceder o exercício da liberdade, por meio de 
ato violento, agressivo ou perturbador da ordem pública. Isso significa que o Estado, através 
de seus agentes, não pode intervir no objeto da reunião, mas antes favorecer o seu exercício, 
protegendo o transcorrer do grupo de pessoas que em determinado local se reúne. Os Estados 
que proíbem a liberdade de reunião, geralmente, são aqueles que não toleram a participação 
popular nos processos decisórios de governo, não admitindo críticas, protestos ou 
reivindicações da sociedade civil. 
Torna-se evidente que o novo modelo de Estado, além de proteger a liberdade 
negativamente, isto é não intervindo na esfera de domínio do exercício das liberdades do 
indivíduo, presta um conjunto de ações positivas com vistas a promover o exercício das 
liberdades fundamentais. É o que se denomina de Estado promotor, entendido como aquele 
em que o poder público garante, negativamente e positivamente, as liberdades públicas, dentre 
elas a garantia de viabilizar o direito de reunião. 
Assim assinala Paulo Gustavo Gonet Branco: 
“O direito de reunião possui, de outra parte, um aspecto de direito a prestação do 
Estado. O Estado deve proteger os manifestantes, assegurando os meios necessários 
para que o direito à reunião seja fruído regularmente. Essa proteção deve ser exercida 
também em face de grupos opositores ao que se reúne, para prevenir que perturbem a 
manifestação.”8 
Vale igualmente ressaltar que o fato das manifestações eventualmente constituírem 
pleito de minoria, isto em nada desnatura, nem mesmo extrai a legitimidade do direito de 
reunião, mormente porque a ideia de liberdades públicas não cria descriminações, nem faz 
supor a fruição de direitos por parte de uma maioria apenas. Isto porque todos encontram 
garantidos seus direitos no seio do Estado Democrático de Direito. 
Correta está a análise realizada pelo IBCCRIM na referida ação: 
“Os direitos fundamentais em causa, vocacionados à formação de uma opinião 
pública livre, socorrem fundamentalmente as minorias políticas, permitindo-lhes a 
legítima aspiração de tornarem-se, amanhã, maioria; esta é a lógica de um sistema 
democrático no qual o poder se submete à razão, e não a razão ao poder.” 
Essas reflexões do IBCCRIM põem em evidência a função contra majoritária do 
Supremo Tribunal Federal no Estado Democrático de Direito, estimulando a análise da 
proteção das minorias na perspectiva de uma concepção material de democracia 
constitucional. Nesse sentido, caracterizando o espírito republicano e democrático, Geraldo 
Ataliba assinala: 
“Se a maioria governa, entretanto, não é dona do poder, mas age sob os princípios da 
relação de administração (...). Daí a necessidade de garantias amplas, no própriotexto constitucional, de existência, sobrevivência, liberdade de ação e influência da 
minoria, para que se tenha verdadeira república.”9 
No mesmo sentido, Stuart Mill, autor inglês, descreve o caráter da verdadeira 
democracia e das instituições democráticas: 
“A falsa democracia é só a representação da maioria, a verdadeira é representação de 
todos, inclusive as minorias. A sua peculiar e verdadeira essência há de ser, destarte, 
um compromisso constante entre maioria e minoria.”10 
Posto isto, muito embora o princípio majoritário desempenhe papel extremamente 
importante no sistema democrático, não pode aniquilar os direitos de reunião e a liberdade de 
expressão, os quais perfazem instrumentos da minoria para reverter o pólo onde se encontra a 
maioria. Não menos importante, vale lembrar que a opção do legislador constituinte pela 
concepção democrática do Estado de Direito não pode esgotar-se numa simples proclamação 
retórica. A opção pelo Estado Democrático de Direito, por isso mesmo, há de ter 
consequências efetivas no plano de nossa organização política, na esfera das relações 
institucionais entre os poderes da República e no âmbito da formulação de uma teoria das 
liberdades públicas e do próprio regime democrático. Não há alguém que se sobreponha aos 
princípios superiores consagrados pela Carta da República, cuja redação confere aos direitos 
fundamentais um nítido caráter contra majoritário. 
É de se salientar, por outro lado, o direito de petição que é revelado por trás das 
manifestações, demonstrando sua íntima relação com a liberdade de reunião. O direito de 
petição é inerente ao próprio exercício da cidadania, cujas manifestações são endereçadas ao 
Poder Legislativo, onde os cidadãos, congregados pacificamente, apresentam queixas sobre a 
legislação em vigor, baseando-se na garantia do art. 5º, XXXIV, “a”, CF/88. Cabe ressaltar 
que o direito de petição não é direito novo nos Estados Internacionais e surgiu, 
historicamente, no contexto da Revolução Gloriosa (1688), sendo destacado no Bill of Rights 
(1689), como afirmação da ideologia liberal. Nesse sentido, o direito de petição estaria 
associado a uma liberdade de expressão, de manifestação do pensamento, exercida em 
conjunto, pela reunião. 
Demonstra-se também o caráter legislativo das manifestações, uma vez que o sistema 
constitucional confere legitimidade ativa aos cidadãos para a instauração, por iniciativa 
popular, do processo legislativo, o que habilita o eleitorado a propor, ao Congresso Nacional, 
nos termos do art. 14, III e do art. 61, § 2º, da Constituição, projetos de lei objetivando, até 
mesmo, a própria “abolitio criminis” referente a qualquer conduta hoje penalmente punível5. 
É uma forma de crítica ao modelo penal de repressão e punição ao uso de substâncias 
entorpecentes, sugerindo reformulações na política sobre drogas. 
Portanto, concluiu-se que é preciso construir um espaço público em um ambiente de 
tolerância que, longe de sufocar opiniões divergentes, legitime a instauração do dissenso e 
viabilize, pelo conteúdo argumentativo de discurso fundado em convicções divergentes, a 
concretização de um dos valores essenciais à configuração do Estado democrático de direito: 
o respeito ao pluralismo político. Bem por isso, revela-se irrelevante para efeito da proteção 
constitucional de tais prerrogativas jurídicas, a maior ou menor receptividade social da 
proposta submetida, por seus autores e adeptos, ao exame e consideração da própria 
coletividade. 
 
CONCLUSÃO DA PESQUISA 
 
Sob a ótica constitucional jurisdicional do Estado de direito brasileiro, tem-se, a 
partir da análise dos julgados (ADIn 1969, ADIn 4274 e ADPF 187), que o Supremo Tribunal 
Federal, órgão que apresenta o limite hermenêutico da Carta da República, vem interpretando 
 
 
e procurando enaltecer as liberdades públicas (tais como liberdade de reunião, liberdade de 
manifestação do pensamento e direito de manifestação) em face do poder de polícia do 
Estado. Casos paradigmáticos são os julgamentos da ADIn 1969 em 2007, e da ADIn 4274 e 
ADPF 187 em 2011. 
Portanto, pode-se observar que os ministros do Supremo Tribunal Federal, nos 
julgamentos analisados, estão reconhecendo as liberdades individuais e públicas dos cidadãos 
como forma de colocar a sociedade como real participante política, isto é, em posição de 
destaque nos processos democráticos de poder, privilegiando a sociedade em face das 
proibições do Estado. 
Observa-se, por fim, que o Poder Judiciário, através do controle concentrado de 
constitcionalidade, vem atribuindo o verdadeiro sentido e alcance das liberdades fundamentais 
dos indivíduos e da sociedade, colocando também os limites da atuação do Estado no 
contorno das liberdades públicas fundamentais. Ou seja, enquanto alguns agentes de poder do 
Estado interpretam as normas favoravelmente ao abuso de poder, os guardiões da constituição 
lhes mostram o significado do Estado de Direito na ordem jurídica nacional, qual seja, a 
proteção das liberdades, sejam públicas ou individuais. 
Um grande aspecto pertinente a esse trabalho que contribuirá muito à potencialidade 
que o direito de reunião impõe à democracia foi a teoria construída, principalmente, por 
Jürgen Habermas (2004), denominada como Democracia Deliberativa. O principal expoente 
dessa corrente de pensamento apresenta o modelo de “política deliberativa”, 
procedimentalista, que se baseia nas condições de comunicação sob as quais o processo 
político supõe-se capaz de alcançar resultados racionais, justamente por cumprir-se, em todo o 
seu alcance, de modo deliberativo. 
Habermas compara este modelo a outros dois – o liberal e o republicano – segundo 
alguns aspectos, entre os quais, o da formação democrática da opinião e da vontade que 
resulta em eleições gerais e decisões parlamentares. Esse percurso pela teoria deliberativa 
permite compreender a preocupação que acalenta os seus teóricos em relação ao sistema 
democrático contemporâneo, qual seja, a de ampliar a informação dos cidadãos 
individualmente ou agrupados segundo interesses específicos, no processo de deliberação, 
percebido em seus dois momentos: a querela e a decisão em si mesma. Essa seria a forma de 
protestar, concedendo maior legitimidade às decisões no modelo de soberania popular 
representativa em sociedades intricadas e plurais como as recentes. 
Como assevera Habermas: 
“É preciso alertar sempre para o fato de que o resultado a ser alcançado em qualquer 
processo de deliberação não significará a 'resposta certa' para as diferentes questões a 
serem decididas. Será simplesmente a resposta possível em um dado momento e em 
condições específicas, que estará passível de revisão se houver demanda e pressão 
nessa direção.”11 
O grande mote da aplicação da democracia deliberativa não é achar a solução exata 
para os problemas sociais e econômicos que assolam as atuais civilizações democráticas. 
Contudo, é favorecer a busca permanente de possível o desenvolvimento das ideias, o respeito 
às opiniões diversas, coadunando o sistema discursivo à aplicação democrática real. 
O aporte desse modelo para o processo democrático contemporâneo é trazer lucidez 
a um fenômeno em movimento há tempos e que interfere de modo alegórico na atuação e nas 
decisões governamentais nas várias instâncias e poderes, não podendo, pois, ser descurado 
pelos estudiosos da política - a participação dos cidadãos por meio do debate, da opinião, da 
expressão de ideias, seja em seus microcosmos sociais ou em arenas mais amplas, como os 
meios de comunicação de massa. 
De sobre maneira, o que está se dizendo é a reinvenção da atual democracia, poisse 
vive no Brasil uma crise das instituições que compõe o cenário das deliberações em sentido 
amplo. Atuar com instrumentos “pseudo jurídicos”, como o Decreto 20.098/99, para afrontar 
direito essenciais como o de reunião, encontra-se no lado contrário à democracia, em que 
meros súditos obedecem a seus reis supremos sem contestação. 
E, portanto, deve-se atentar a necessidade de tornar esse processo de contribuição 
argumentativa mais regular e efetivo por meio de arranjos institucionais dentro e fora das 
instituições do Estado.12 
 
 
 
 
 
2 ADIN-DF n.º 1.969, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 24/03/1999 
3 CAMARGO, Manuela Oliveira. Proporcionalidade e razoabilidade na jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal: Os casos de conflitos entre princípios da Ordem Econômica. Sociedade Brasileira de Direito Público – SBDP. 
Escola de Formação. São Paulo. 2005. 
4 DIMOULIS, Dimitri. Por uma visão mais plural da pesquisa jurídica. 2013. Disponível em 
http://www.conjur.com.br/2013-ago-30/dimitri-dimoulis-visao-plural-pesquisa-juridica.> Acesso 12/09/2013. 
5 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de direito constitucional, São Paulo: Saraiva, 1982, p. 282. 
 
6 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional/ Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet 
Branco.- 7.ed.rev.e atual.- São Paulo: Saraiva, 2012. 
7HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. Estudos de Teoria Política. Edições Loyola: São Paulo (SP), 2004. 
8MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional/ Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet 
Branco.- 7.ed.rev.e atual.- São Paulo: Saraiva, 2012. 
9ATALIBA, Geraldo. Judiciário e minorias. In Revista de Informação Legislativa. Ano 24, n. 96. Brasília, out./dez. 
1987. 
10MILL, Stuart. Considerations on representative government. New York: Harper & Brothers Publishers, 1862. 
Disponível em<http://www.gutenberg.org/dirs/etext04/conrg10h.htm>. Acesso em 12/09/2013. 
11HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. Estudos de Teoria Política. Edições Loyola: São Paulo (SP), 2004. 
12 NEVES, Marcelo. Do Consenso ao Dissenso: O Estado Democrático de Direito a Partir e Além de Habermas in 
Democracia Hoje: Novos Desafios para a Teoria Democrática Contemporânea. SOUZA, Jessé (Org.). Brasília: Editora 
Universidade de Brasília, 2001.

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