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02 Nietzsche e a educação

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EDUCAÇÃO E CULTURA EM FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900)
1. A Crítica da Educação Moderna: diagnóstico
- O destino da Humanidade corre perigo diante das condições modernas. O enfraquecimento da CULTURA.
- A idolatria do Estado como fim supremo da humanidade e a propriedade como sinônimo de felicidade — valores consolidados pelos estabelecimentos de ensino.
Bildung (“educação” e “formação”): refere-se à tradição alemã de auto-cultivo (criação, imagem, forma), na qual a filosofia e a educação se conectam tanto para o amadurecimento pessoal e como cultural (coletivo). Esta maturação é descrita como uma harmonização da mente e do coração do indivíduo e de uma unificação mais ampla da individualidade e da identidade dentro da sociedade. Uma educação que serve ao Estado. As instituições de ensino não educam, nivelam.
- O otimismo teórico vulgar e preconcebido dos modernos depositado sobre a Ciência e o Estado em contraposição ao Ideal Trágico dos Gregos.
- Modernidade como o coroamento de uma perspectiva utilitária e medíocre, que se reflete no ensino, onde os estudantes se mantém ignorantes em relação às questões filosóficas ligadas ao sentido da existência. Cultiva-se a animalização e o automatismo do homem.
- A crítica à intelectualidade da época, ao filisteísmo dos “eruditos” e à pseudocultura “industrializada” dos especialistas. A cultura jornalística é por todos os lados disseminada e exaltada como a verdadeira cultura. “A obrigação de cada um ler seu jornal no café da manhã.” (ABM 108)
Segundo Noéli Correia de Melo Sobrinho,
“Podemos resumir as críticas levantadas por Nietzsche contra o filisteísmo cultural, a calamidade educacional e a probreza filosófica desta época, indicando as razões desses efeitos no ambiente intelectual em que ele estava inserido: a assimilação da produção cultural à produção industrial, ou seja, a cultura como determinada por critérios ditados pela economia política, isto é, a serviço da economia política; a divisão do trabalho encontrada na indústria refletida na divisão do trabalho nas ciências e, por conseguinte, na distribuição das disciplinas acadêmicas nos estabelecimentos de ensino, ou seja, a cultura especializada e estreita do erudito, junto com a ausência de uma visão filosófica do conjunto, como ingrediente generalizado nos processos pedagógicos; a vulgarização, mediocrização e degradação do pensamento através da disseminação da cultura jornalística nas instituições acadêmicas, quer dizer, uma cultura que abandona o exercício da reflexão filosófica; enfim, o atrelamento da cultura e das atividades pedagógicas ao Estado e à economia, ou seja, a cultura oficial e utilitária.”
2. As Tarefas da Educação
Dois textos de Nietzsche são importantes nesse sentido:
“Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino” (1872): Onde o autor problematiza os objetivos e métodos.na relação didática entre aluno e professor.
“Schopenhauer Educador” (1874): reforçar a função estratégica da filosofia e ressaltar a exemplaridade dos “homens superiores” em tudo que diz respeito à educação intelectual e moral dos indivíduos.
A importância da educação para o fortalecimento do Pensamento e da Cultura: “Organização de castas intelectuais como tarefa eterna da cultura e da educação” (Nietzsche, Frag. Póst. 14 [14], Inícios de 1871 – Inícios de 1872). A cultura é uma determinação da natureza e não pode ser compreendida em separado a ela. A educação especializada, característica da modernidade, aparta os estudantes de uma perspectiva mais profunda sobre a totalidade das questões existenciais.
Tarefas: Tornar a educação em arma de combate contra a “barbárie do presente”. Lutar contra a ideia de que a educação deva ser orientada unicamente no sentido das grandes massas. A verdadeira cultura, a “cultura aristocrática”, não pode ser alcançada através da erudição e da especialização. Educar com vistas à elevação da cultura significa:
Afastar o discurso ingênuo da ciência moderna e do Estado e ressaltar a complexidade do amálgama homem/natureza.
Promover a comunicação dos estudantes com os homens grandes e raros, e mostrar a exemplaridade da sua experiência existencial e intelectual.
Revolução do espírito: O destino da Humanidade não pode mais ser revelado pela história das civilizações (Hegel), mas por uma espécie de indivíduo capaz de manifestar esse destino através de grandes feitos – “Grandeza Cultural”/”Grandeza Histórica”/”Grandes Homens”.
Valorizar a singularidade através da experimentação: A pedagogia nietzscheana, portanto, busca mais compreender a antropogênese, isto é, os processos de constituição do humano, do que prescrições normativas para moldar comportamentos.
“Sê tu mesmo! Tu não és isto que agora fazes, pensas e desejas” (Píndaro, poeta grego, citado em Schopenhauer Educador). 
“A educação deve, tanto quanto possível, forçar as virtudes, conforme a natureza do aluno.” (Nietzsche, “Opiniões e sentenças diversas”, 91)
“No caso do indivíduo, a tarefa da educação é a seguinte: torná-lo tão firme e seguro que, como um todo, ele já não possa ser desviado de sua rota.” (Nietzsche, Humano, demasiado Humano, 224)
Os professores precisam ser, eles mesmos, educados: Atenção aos criadores da cultura, para possibilitar a emergência de uma “aristocracia do espírito”. A educação (Erziehung) pode ser instrumento de emancipação, se mediada por um mestre (por exemplo, Schopenhauer).
A valorização de processos de autoformação como estratégia capaz de vencer as tendências homogeneizantes veiculadas por nossas instituições. Experimentação (erlebnis), palavra que substitui a “formação” (Bildung) e a “educação” (Erziehung) no pensamento de Nietzsche.
Educação é estimular a aquisição de uma consciência vital daquilo que se é.
Referência
NIETZSCHE, F.. Escritos sobre Educação. Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004.

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