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1 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS Noções Fundamentais São os problemas de um sistema físico, químico, biológico, econômico, geométrico, etc. que nos conduzem às equações diferenciais. A transição de um desses problemas para uma equação diferencial chamamos de modelagem. Uma equação diferencial ordinária (e.d.o.) é uma relação que envolve uma ou várias derivadas em relação a x de uma função y = y(x) não conhecida. Essa relação pode envolver a própria função y, como também funções de x e constantes. Exemplos: a) y” = sen x b) y” + 4y = 0 c) 222 1)("2''' yxyeyx x O adjetivo “ordinária” é simplesmente para diferenciar das equações diferenciais parciais que envolvem derivadas parciais de uma função de duas ou mais variáveis. A “ordem” de uma e.d.o. é ditada pela maior ordem da derivada. Exemplo: a) y” + y’ =2x , e.d.o. de 2ª ordem b) y’ = yx2 , e.d.o. de 1ª ordem c) y’’’ + y’y =x , e.d.o. de 3ª ordem 1. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS DE 1ª ORDEM 1.1. Solução de uma e.d.o. de 1ª ordem Uma função y = y(x) é uma solução de uma e.d.o. de 1ª ordem num intervalo (a , b) IR , intervalo esse que pode ser infinito, se esta é derivável em (a , b) e, quando substituída na e.d.o., esta se transforma numa identidade. Exemplos: a) A função y = xe é solução da e.d.o. y’ = y , IRx . b) A função y = sen x é solução da e.d.o. y’ = cosx , IRx . 2 A solução de uma e.d.o. pode aparecer na forma implícita, por exemplo: 0y , 122 yx é solução da e.d.o. yy’+ x= 0 , -1<x<1. 1.2. Solução geral de uma e.d.o. de 1ª ordem A solução de uma e.d.o. de 1ª ordem que possui uma constante arbitrária C é denominada solução geral. Ao atribuirmos um valor à constante C, a solução passa a ser uma solução particular da e.d.o. Exemplo: Dada a e.d.o. de 1ª ordem y’ = y, é fácil ver que y = C xe , onde C é uma constante arbitrária, é a solução geral. Para C = -1, y = - xe é uma solução particular. 1.3. Modelagem 1.3.1. Um objeto em queda livre Suponha um objeto caindo na atmosfera, ao nível do mar. Nosso objetivo é encontrar uma e.d.o. que descreva esse movimento. Informação física A segunda lei de Newton nos diz que: “A força atuando sobre um objeto é igual à massa do objeto vezes sua aceleração ou F = m.a.”, onde m = massa (dada em kg) a= aceleração (dada em m/ 2s ) F = força (dada em Newton) Como a aceleração é dada por a = dt dv , temos que F = dt dv m (*) 3 As forças que agem em um objeto em queda livre são: P = força peso g = aceleração da gravidade v = resistência do ar, que é proporcional à velocidade. Assim, a força que age num objeto em queda livre é dada por F = mg – v (**) De (*) e (**) temos a e.d.o. de 1ª ordem que descreve o movimento vmg dt dv m (***) Resolver a equação (***) é encontrar uma função v = v(t) que a satisfaz. Se tomarmos m = 10 kg e = 2kg/s na equação (***), temos v dt dv 2)8,9(1010 ou 5 )8,9( v dt dv Como resolver esta última equação? Um dos métodos para resolvê-la é o método de “separação de variáveis”, que será visto mais à frente. Porém, sem resolvê-la, podemos, do ponto de vista geométrico, ter uma ideia sobre as soluções analisando a equação 5 8,9)(' v tv Como v’(t) é a inclinação da reta tangente à curva solução v(t), temos que v = 40 8,1' v v = 49 0' v v = 50 2,0' v v = 60 2,2' v Com essas informações montamos um campo de direções para as soluções v(t). (ver figura) 4 No gráfico vemos uma solução particular que passa pelo ponto 0P e outra pelo ponto 1P e a solução constante v(t) = 40 que é a solução de equilíbrio, isto é, corresponde ao equilíbrio entre a gravidade e a resistência do ar. Obs.: Campos Direcionais são ferramentas úteis no estudo de soluções de equações diferenciais da forma ),( ytf dt dy onde f é uma função de duas variáveis. Mais a frente faremos um estudo sobre Campos Direcionais. 1.3.2. Radioatividade Informação física “ A experiência mostra que uma substância radioativa se decompõe a uma taxa proporcional à massa presente.” Problema Se iniciarmos com uma massa de 2 gramas, no instante t = 0, o que podemos dizer sobre a massa existente em um instante posterior? Se y = y(t) é a massa no instante t, então, de acordo com a informação física, temos a equação que modela o problema 0k , ky dt dy onde k é uma constante física conhecida para várias substâncias radioativas. Nosso problema passa a ser o de encontrar a solução da equação 0k , ky dt dy , tal que y(0) = 2. 0P 1P 5 O sistema 2)0( ' y kyy é denominado um Problema de Valor Inicial(P.V.I.). A solução do P.V.I. acima pode ser encontrada utilizando-se o método de separação de variáveis, que consiste no seguinte: Toda equação diferencial ordinária de 1ª ordem, que pode ser escrita na forma g(y)y’ = f(t) é dita separável. Como y’ = dt dy , temos g(y)dy = f(t)dt Sendo f e g integráveis, temos Cf(t)dtg(y)dy e consequentemente a solução da e.d.o. de 1ª ordem. Voltando ao P.V.I. 2)0( ' y kyy e aplicando o método de separação de variáveis descrito acima, temos dt dy = -ky kdt y dy 1Ckdty dy 1Cktyln 111 C 2 kt 2 ktCCkt eC onde , e Cyeeyey 2CC onde , ktCey Assim, ktCey é a solução geral da e.d.o. de 1º ordem. Com a condição inicial y(0) = 2, encontramos a constante C, pois y(0) = 2 = C 2. C 0. Ce k Portanto, y(t) = 2 kte é a solução do P.V.I. (lembrando que a constante k é conhecida para várias substâncias radioativas). (Ver figura.) 6 1.3.3. Datação por Carbono 14 Informação química A proporção de carbono 14 ( 14C -radioativo) em relação ao carbono 12 ( 12C -não radioativo) presente nos seres vivos, incluindo plantas, é constante. Quando um organismo morre, a absorção de 14C para de ocorrer e, a partir daí, o 14C vai se transformando em 12C a uma taxa proporcional à quantidade presente. Se y(t) é a massa de 14C presente no instante t, então a modelagem do nosso problema configura-se pelo P.V.I. 0yy(0) kyy' onde 0y é a massa no instante t = 0. A solução do nosso sistema, obtida pelo método de separação de variáveis, é dada por kt 0eyy(t) Como exemplo, imagine que em um osso é encontrado 0,005 da quantidade original de 14C . Sabendo-se que a meia vida do 14C é de 5.600 anos, ou seja, que em 5.600 anos metade do 14C se transformaem 12C , vamos determinar a idade desse osso. A solução do sistema 0yy(0) kyy' , é dada por kt 0eyy(t) Para t = 5.600, temos y(5.600) = 2 0y 5600 ln2 key 2 y k5600 0 0 7 Assim, y(t) = t5600ln2 0ey Sabendo-se que no osso temos 0,005 da quantidade original de 14C , então t 5600 ln2 00 ey0,005y Portanto, 2ln )200ln(5600 t 42805 anos 1.3.4. Uma Aplicação Geométrica Determinar a curva y = y(x) que passa pelo ponto (1 , 1) do plano xy e que possui, em cada um dos seus pontos, coeficiente angular igual a –y/x. Nosso problema se resume em resolver o P.V.I. 1y(1) x y dx dy Usando separação de variáveis na equação diferencial, temos a seguinte forma diferencial: x dx y dy Integrando, chegamos à solução geral y(t) = x C . Como y(1)=1, então a solução do P.V.I. é dada por y(t)= x 1 . 1.4. Campos Direcionais Considere as equações diferenciais ordinárias de 1ª ordem que podem ser escritas na forma y)f(x,y' (*) O que veremos é um método gráfico para obter uma representação aproximada das soluções particulares da equação (*) sem integrar. A equação (*) nos diz que o coeficiente angular (ou inclinação) de uma curva solução que passa por um ponto ),( 00 yx deve ser f ),( 00 yx . Isso sugere o seguinte método: 1 – Traçamos no plano xy algumas curvas Ky)f(x, , k IR . Essas curvas são chamadas Isóclinas. 8 2 - Ao longo de cada isóclina Ky)f(x, , traçamos vários pequenos seguimentos de retas paralelas, com coeficiente angular igual a K, que é o coeficiente angular da reta tangente à curva solução da equação (*) quando esta intercepta a isóclina Ky)f(x, . Fazendo isso para várias isóclinas, obtemos um campo direcional para as curvas solução da equação (*). Exemplo: Construir o gráfico do campo direcional da equação diferencial y’ = xy e uma solução aproximada que passa pelo ponto (1 , 2). Solução Traçamos algumas isóclinas, dadas por xy = k Para k = 0, temos x = 0 ou y = 0 Para k = 1, temos y = 1/x Para k = 2, temos y = 2/x Para k = -1, temos y = -1/x Para k =-2, temos y = -2/x 1.5. Equações Redutíveis à Forma Separável Toda equação diferencial ordinária de 1ª ordem do tipo x y gy' (*) onde g é uma função qualquer, pode ser reduzida à forma separável, fazendo x y u . De fato, como y = ux derivando implicitamente temos y’ = u’x + u. 9 Assim, substituindo y/x e y’ na equação (*) temos está reduzida à forma separável u’x + u = g(u) u’x = g(u) – u dx x 1 du ug(u) 1 Integrando e substituindo x y u , chegamos à solução geral da equação (*). Exemplos: a) Achar a curva que passa pelo ponto ),( ee e tem inclinação em cada ponto (x , y) igual a x y y x . Solução Seja y(x) a curva, então y’ = x y y x . (*) Fazendo u = y/x , temos u 1 uuxu' . Separando as variáveis, chegamos a udu = xdx. Integrando, temos C 2 x 2 u 22 . Portanto, substituindo u = y/x, temos a solução geral da equação (*) na forma implícita 242 Cxxy b) Resolver a e.d.o. 0xy2xyy' 22 . Solução Podemos escrever a e.d.o. na forma x y 2 1 x y 2 1 y' . (*) Fazendo u = y/x , temos u2 1 u 2 1 uxu' . Separando as variáveis, chegamos a 2x dx 1u du 2 . Integrando, temos arctg u = - C lnx 2 1 . Portanto, substituindo u = y/x, temos a solução geral da equação (*) na forma implícita 10 C x 1 ln x y arctg 1.6. Equações Diferenciais Exatas Quando a função z = f(x,y) é diferenciável num ponto (x,y), a expressão dy y f dx x f dz é chamada diferencial total de f em (x,y). Uma equação diferencial ordinária de 1ª ordem M(x,y) dx + N(x,y) dy = 0 (*) é dita exata se o 1º membro em (*) é a diferencial total de uma função u=u(x,y), ou seja, se existe u = u(x,y) tal que y)N(x, y u e y)M(x, x u Em existindo uma função u(x,y) nessas condições, da equação du = M(x,y) dx + N(x,y) dy = 0 temos que u(x,y) = C é a solução geral da equação diferencial (*). Como saber se a equação M(x,y) dx + N(x,y) dy = 0 é exata? 1.6.1. Teorema Suponha que M(x,y), N(x,y), y N e x N , x M , y M sejam contínuas num retângulo dy e bxa:y)(x,R c . Então, a equação M(x,y) dx + N(x,y) dy = 0 é exata se,e somente se R em x N y M . Prova ( ) Se Mdx + Ndy = 0 é exata, então N y u e M x u que tal y)u(x,u . Assim, diferenciando M x u em relação a y e N y u em relação a x, temos x N yx u e y M xy u 22 11 Como x N e y M , por hipótese, são contínuas, então segue que R em yx u xy u 22 Portanto, R em x N y M . Prova )( Temos por hipótese R em x N y M . A demonstração envolve a construção de uma função u = u(x,y) tal que y u (2) e x u (1) NM Integrando )1( , temos (*) )(),(),( yAdxyxMyxu Derivando (*) em relação a y, temos )('),( yAdxyxM yy u Segue, então, utilizando (2), que )('),( yAdx y M yxN De onde vem que A’(y)= N(x,y) - dx y M (**) Para determinarmos A(y) e consequentemente encontrarmos u(x,y), o segundo membro de (**) tem que depender somente de y. Para estabelecermos isso, basta mostrarmos que a derivada do 2º membro de (**) em relação a x é igual a zero. 0),( y M x N dx y M yxN x Encontrado A(y), substituímos na equação (*) para obter dydx y M y)N(x,y)dxM(x,y)u(x, Obs.: Essa demonstração apresenta um método para obtenção da função u(x,y). 12 Exemplos: a) É fácil ver que a equação diferencial xy’+y +4 = 0 é exata, de fato a equação pode ser escrita na forma 0xdy4)dxy( Como )()4( x dx d y dy d , então a equação é exata. Assim, xyx 4dydxx4)dx(yy)u(x, . Portanto, a solução geral da equação é dada por yx+4x = C. b) A equação diferencial 0)dy32()dxy-(3x 232 xyy é exata, pois )3xy2y( dx d 3y)y(3x dy d 2232 Assim, 2332232 yxyxdydx3y3xy-2y)dxy-(3xy)u(x, . Portanto, a solução geral da equação é dada por Cyxyx 233 . 1.7. Fator Integrante Muitas vezes a e.d.o. P(x,y)dx+Q(x,y)dy = 0 não é exata, porém pode-se tornar exata quando multiplicada por uma função F(x,y) 0 . Essa função, quando existe, é denominada fator integrante. 1.7.1. Teorema Se P(x,y)dx+Q(x,y)dy = 0 não é exata e possui uma solução u(x,y)=C, então existe um fator integrante. Prova Diferenciando u(x,y) = C, temos du = 0dy y u dx x u de onde segue que Q, a y u e P a alproporcion é x u então existe uma função F(x,y) tal que FQ y u e FP x u 13 Portanto, FP dx +FQ dy = 0 é exata e F é um fator integrante. Nosso problema agora passa a ser o de encontrar um fator integrante. Se F(x,y) é um fator integrante de P(x,y)dx+Q(x,y)dy = 0 (*) então FP dx + FQ dy = 0 é exata e )( y FQ)( x FP Assim, temos a equação diferencial parcial 0)FQ(PQFPF xyxy (**) que é muito mais difícil de resolver do que a equação original. Obs.: Se o fator integrante depender apenas de x ou de y, a equação (**) torna-se fácil. 1.7.2. Condições sobre P(x,y) e Q(x,y) para que exista um fator integrante que dependa somente de x. Considere a e.d.o. não exata P(x,y)dx+Q(x,y)dy = 0 Se F = F(x) é um fator integrante, então FP dx + FQ dy = 0 é exata e yxx FPFQQF então, )QP(F dx dF Q xy então, dx Q )QP( F dF xy Portanto, da última equação temos que, se Q )QP( xy depender somente de x, temos aí a fórmula para encontrar o fator integrante que depende só de x. 14 1.7.2. Condições sobre P(x,y) e Q(x,y) para que exista um fator integrante que dependa somente de y. Considere a e.d.o. não exata P(x,y)dx+Q(x,y)dy = 0 Se F=F(y) é um fator integrante, então de maneira análoga ao anterior, temos que dx P )PQ( F dF yx Portanto, da última equação temos que, se P )PQ( yx depender somente de y, temos aí a fórmula para encontrar o fator integrante que depende só de y. Exemplo: Vamos mostrar que a equação 0xy)dyx()dxy(3xy 22 possui um fator integrante que depende só de x e resolve-la. Note que x 1 y)x(x yx xyx y2x2y3x Q QP 2 xy Portanto, existe um fator integrante que depende só de x e dx x 1 F dF integrando, temos ln F = ln(x) +C Segue que, para C=0, temos um fator integrante F(x) = x. Vamos agora resolver a equação: Como a F(x) = x é um fator integrante, segue que a equação 0xy)dy(x)dxy(3xy 22 xx é exata. Portanto, existe u(x,y) tal que 22 xyy3x x u (*) 15 e yxx x u 23 (**) Integrando (*) em relação a x, temos )A(y 2 yx yxy)u(x, 22 3 (***) Integrando (**) em relação a y, temos )B(x 2 yx yxy)u(x, 22 3 (****) De (***) e (****) por inspeção, temos que u(x,y) = C 2 yx yx 22 3 é a solução geral da e.d.o. Exercícios: 1 - Dada a e.d.o. 2dx - 0dye xy , encontre um fator integrante e resolva-a. Solução De xy xy xy e e0 Q QP = 1, segue que dx F dF . Resolvendo esta última equação, chegamos a um fator integrante F(x) = xe . Assim, 2 xe dx - 0dyee xyx é exata e consequentemente existe u(x,y) tal que xe2 x u (*) e ye y u (**) Integrando em relação a x, temos )A(y2y)u(x, xe (***) Integrando em relação a y, temos )B(xy)u(x, ye (****) De (***) e (****) temos a solução geral da e.d.o. dada por Cee yx 2 16 2- Resolver o P.V.I. 0)0( 0cossec 2 1 y ydyxdx Solução De tgx secxcosy 2 1 ysecxtgxcos 2 1 0 Q QP xy , segue que tgx F dF . Resolvendo esta última equação, encontramos um fator integrante F(x) = cosx. Assim, cosx dx+ 0dy cosy 2 1 é exata e consequentemente existe u(x,y) tal que )A(yy)u(x,cos x u senxx (*) e )B(xseny 2 1 y)u(x,cos 2 1 y u y (**) De (*) e (**) temos a solução geral da e.d.o. dada implicitamente por C seny senx 2 Como y(0)=0, temos C=0 e a solução do P.V.I. é dada por 2senxseny 1.8. Equações Diferenciais Ordinárias lineares de 1ª ordem Toda equação do tipo r(x)f(x)yy' (*) onde f(x) e r(x) são funções quaisquer, é dita uma e.d.o. linear de 1ª ordem. Se r(x) 0 , então 0f(x)yy' (**) se diz uma e.d.o. linear, homogênea de 1ª ordem. Nosso objetivo é determinar uma fórmula para a solução geral de (*). 17 Se r(x) 0 e f(x) é contínua num intervalo aberto I IR , temos, separando as variáveis em (**), f(x)dx y dy Integrando, temos Cf(x)dxyn l Portanto, f(x)dx e Cy onde C= Ce é a solução geral da e.d.o. linear, homogênea de 1ª ordem. Consideremos agora a equação não homogênea r(x)f(x)yy' Onde f(x) e r(x) são funções contínuas num intervalo aberto I IR . Escrevendo a equação na forma 0dyr(x))dx(f(x)y (***) observamos que esta não é exata, pois 0(1) x e fr)fy( y É fácil ver que a equação (***) admite um fator integrante F = F(x). De fato, tomando P = fy-r e Q = 1, temos f(x) Q QP xy Assim, resolvendo a equação f(x) F dx dF utilizando o método de separação de variáveis, chegamos a um fator integrante F(x) = f(x)dxe . Multiplicando (***) por F(x)= h(x)e , onde h(x) = f(x)dxe , temos a equação exata 0dyer)dx(fye hh cuja solução é dada por u(x,y)=C, onde 18 r)fy(ey)(x,u hx integrando em relação a x, temos u(x,y)= )A(yr)dx(fyeh (****) derivando em relação a y, temos (y)A'dx fey)(x,u hy = he Assim, integrando esta última equação em relação a y, temos C dx feyyeA(y) hh Substituindo esta última em (****), temos Cdxr eyey)u(x, hh Portanto, a solução da e.d.o. linear de 1ª ordem é dada por Cdxr eey hh Exemplos: a) Resolver a e.d.o. linear de 1ª ordem 2xeyy' . Solução Nesse caso, temos f(x)=-1 e r(x)= xe2 . Portanto, a solução geral é dada por y(x)= Cdxeee 2x dxdx = x2x Cee b) Resolver o P.V.I. 1y(0) sen(2x)ytgxy' Solução A solução geral é dada por y(x)= Csen(2x)dxee tgxtgxdx . Resolvendo as integrais, temos C)cos2-(cosxC)sen(2x)dx cosx 1 cosx(y(x) x Como y(0)= 1, temos C = 3. Portanto,a solução do P.V.I. é dada por Ccosxx2cosy(x) 2 . 19 1.9. Existência e Unicidade de Soluções Tivemos a oportunidade de resolver vários P.V.I., cada um deles com, aparentemente, uma única solução. A pergunta que se faz é: Será que todos os P.V.I. para uma e.d.o. linear de 1ª ordem têm uma única solução? Para e.d.o. lineares de 1ª ordem, essa pergunta é respondida pelo teorema seguinte. 1.9.1. Teorema Se as funções f(x) e r(x) são contínuas em um intervalo aberto (a,b) da reta, então existe uma única solução y = y(x) que satisfaz i) a equação y’+f(x)y=r(x) (*) para cada t (a,b). ii) a condição inicial 00 y)y(x . Prova Como a solução da equação (*) é dada pela fórmula Cr(x)dxeey f(x)dxf(x)dx e f(x) é contínua em (a,b), então f(x)dxe é uma função diferenciável e não nula em (a,b). Multiplicando a equação (*) por f(x)dxe , temos )r(xef(x)yy'e dx dy e y f(x)eye dx d f(x)dxf(x)dxf(x)dxf(x)dxf(x)dx Como f(x)dxe e r(x) são contínuas, então f(x)dxe r(x) é contínua, ou seja, f(x)dxe r(x) é integrável e consequentemente a integral de f(x)dxe r(x) é diferenciável em (a,b). Obviamente, se substituirmos a fórmula para y dada em (**) na equação (*), verifica-se que y satisfaz a e.d.o. Por último, a condição inicial 00 y)y(x determina a constante C de maneira única. Portanto, existe uma única solução do P.V.I. 20 1.10. Método de Iteração de Picard O método de iteração de Picard nos dá soluções aproximadas de um P.V.I. da forma 00 y)y(x y)f(x,y' (*) Vamos supor que o P.V.I. possui uma única solução num intervalo aberto I da reta que contém 0x . A ideia do método de Picard é muito simples. Por integração, vemos que (*) pode ser escrito na forma x x 0 0 y(t))dtf(t,yy(x) (**) Note que, para x= 0x , temos y = 0y . Assim, (**) satisfaz a condição inicial. Além disso, derivando (**), obtemos y’ = f(x,y). Para determinarmos aproximações da solução y(x) dada em (**), procedemos assim: Substituindo y = 0y no segundo membro de (**), obtemos dessa forma uma primeira aproximação da solução x x 001 0 )dtyf(t,y(x)y Em seguida, substituindo (x)yy 1 no segundo membro de (**), obtemos x x 102 0 (t))dtyf(t,y(x)y Assim, sucessivamente, obtemos x x -1n0n 0 (t))dtyf(t,y(x)y Dessa forma, obtemos a sucessão ,y,,y,y n21 de aproximações da solução y(x). Exemplo: Usando o método de Iteração de Picard, vamos determinar as soluções aproximadas do P.V.I. 1y(0) y' xy 21 e compará-las com a solução exata. Solução No caso, 1y , 0x 00 e f(x,y) = xy, temos dt (t)y t1(x)y x 0 1nn partindo de 10 y , obtemos as soluções aproximadas 2 x 1 dt t1(x)y 2 x 0 1 82 x 1 dt 2 t 1t1(x)y 42 x 0 2 2 x 4882 x 1 dt 82 t 1t1(x)y 642 x 0 42 3 xxt Assim, obtemos 0n n 2n642 n!2 x 48 x 82 x 1 y(x) x Para encontrarmos a solução exata, separamos as variáveis e encontramos 2 x2 ey(x) Usando o desenvolvimento de Taylor da função 2x 2 ey(x) na origem, mostre que: 2x 2 ey(x) = 0n n 2n n!2 x . Obs.: Quando somos obrigados a aplicar um método numérico para obter soluções aproximadas de um P.V.I. do tipo 00 y)y(x y)f(x,y' é de fundamental importância sabermos se este possui uma única solução. A existência e unicidade de solução só se caracterizam com o teorema a seguir. 1.10.1. Teorema (Existência e Unicidade de Solução) 22 Suponha que as funções f e y f são contínuas em um retângulo a<x<b e c<y<d, contendo o ponto )y,x( 00 . Então, em algum intervalo hxxhx 00 , contido em (a,b), existe uma única solução y = y(x) do P.V.I. 00 y)y(x y)f(x,y' Obs.: A demonstração desse teorema não é tão simples quanto à do teorema 1.9.1., pois não temos uma fórmula para nos basear. Ela é discutida em livros mais avançados de equações diferenciais. 1.11. Aplicações (circuitos elétricos) Uma aplicação das e.d.o. lineares de 1ª ordem está ligada aos circuitos elétricos. a) Circuito RC Um circuito RC possui uma fonte de energia elétrica E(t) que pode ser uma bateria ou um gerador, um resistor como, por exemplo, uma lâmpada e um capacitor que é um elemento que armazena energia. A queda de tensão RE através de um resistor é proporcional à corrente instantânea I, isto é, RIER , onde R é a resistência do resistor. (Ver fig.) A corrente I é medida em amperes e a resistência em ohms. A queda de tensão CE em um capacitor é proporcional ao valor da carga instantânea Q armazenada no capacitor, isto e, Q C 1 EC onde C é a chamada capacitância que é medida em farads, sendo a carga Q medida em coulombs. Lei da Voltagem de Kirchhoff (1824-1887) “A soma algébrica de todas as quedas de tensão instantâneas ao longo de qualquer circuito fechado é nula, ou a tensão aplicada em um circuito fechado é igual à soma das quedas de tensão no resto do circuito.” R C )(tE 23 De acordo com a Lei da Voltagem de Kirchhoff, temos que CR EEE(t) (*) Substituindo RIER = Q Cdt dQ R 1 E e C em (*), temos a e.d.o.linear de 1ª ordem E(t) C Q dt dQ R (**) Supondo que Q(0) = 0 e E(t) = 0E (constante), temos o P.V.I. 0Q(0) R E Q RC 1 Q' 0 Resolvendo, chegamos à solução RC t 0 e1CEQ(t) (Verifique. A equação (**) pode ser escrita na forma t 0t E(t)I(u)du C 1 RI ou dt dE C I dt dI R (***) que é a equação que nos dá a corrente em cada instante t no circuito RC. Em (***), se a fonte E(t) = 0E , então temos a equação 0 RC I dt dI cuja solução é dada por 0CE Q(t) 24 I(t) = RCtKe Se a fonte E(t), em (***), for dada por ωtsenEE(t) 0 , então temos a equação t)(cosωE RC I dt dI 0 cuja solução geral é dada por Kt)dtcos(ωEe R 1 eI(t) 0 RC t RC t Integrando, temos t))(ωRCsent)(cos( ωRC)(1 CωE KeI(t) 2 0RC t b – Circuito RL Um circuito RL possui uma fonte E(t), um resistor e um indutor, onde este se opõe à variação da corrente, tendo um efeito de inércia. A queda de tensão em um indutor é proporcional à taxa instantânea de variação da corrente I, isto é, dt dI LEL L R )(tE 25 onde L, chamado de indutância do indutor, émedida em henrys e o tempo em segundos. Assim, pela Lei da Voltagem de Kirchhoff, temos EEE LR ou E(t)RI dt dI L Para E(t) = 0E (fonte constante) e I(0)=0, temos o P.V.I. 0I(0) EI L R dt dI 0 cuja solução é dada por t L R 0 e1 R E I(t) (verifique) 1.12. Trajetórias Ortogonais Se para cada valor da constante C a equação f(x,y)=C representa uma curva no plano xy, então para C variando ela representa um número infinito de curvas. Esse conjunto de curvas é chamado de uma família de curvas de um parâmetro, onde C é o parâmetro. Exemplo a) A equação Cyx representa uma família de retas paralelas. I(t) R E0 26 b) A equação Cyx 22 representa uma família de circunferências concêntricas. Considere uma família de curvas f(x,y) = C (*) onde C é o parâmetro. Diferenciando (*), obtemos a e.d.o. 0y)dy(x, y f y)dx(x, x f onde o conjunto solução desta coincide com a família de curvas. Assim, dada uma família de curvas, é possível representar esta por meio de uma equação diferencial. Exemplos: a) A família de curvas dada por x + y + C = 0, pode ser representada pela equação diferencial y’ + 1 = 0 27 b) Dada a família de curvas Cyx 22 , esta é representada pela equação diferencial 2x + 2yy’ = 0 c) Para encontrarmos a equação diferencial que representa a família de curvas dada por 2Cxy , diferenciamos esta e encontramos y’ = 2Cx como C = 2x y (obtido da família de curvas), temos a equação que representa a família de curva x 2y y' Em muitas aplicações, dada uma família de curvas, procuramos outra família de curvas que seja ortogonal à família dada. Por exemplo, dada a família de curvas de temperatura constante T(x,y)=K, chamadas isotermas, suas trajetórias ortogonais são curvas ao longo das quais fluirá o calor. Se y’ = f(x,y) representa uma família de curvas, então a família ortogonal de curvas é representada pela equação y)f(x, 1 y' Exemplos: a) Dada a família de curvas y = C 2x , vamos determinar a família ortogonal. Solução Diferenciando y = C 2x , temos a equação diferencial que a representa. y’ = 2Cx , como C = 2x y , segue que x y y 2 ' Consequentemente, a família ortogonal é dada pela solução geral da equação diferencial 2y x y' Resolvendo esta, temos a família ortogonal procurada Cy 2 x 2 2 28 b) Dada a família de curvas 222 )(x CCy , vamos determinar a família ortogonal. Solução Diferenciando 222 C)Cy(x , a equação diferencial que a representa é dada por 0C)y'2(y2x Como C = 2y yx 22 , segue que 22 2 ' yx xy y Consequentemente, a família ortogonal é dada pela solução geral da equação diferencial 2xy yx y' 22 Resolvendo esta, temos a família ortogonal procurada 222 CC)x(y (Verifique.) 2. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS LINEARES DE 2ª ORDEM Toda equação que pode ser colocada na forma r(x)g(x)yf(x)y'y" (*) onde f(x), g(x) e r(x) são funções quaisquer de x, é denominada uma e.d.o. linear de 2ª ordem. Se r(x) 0 , a equação 0g(x)yf(x)y'y" (**) diz-se uma e.d.o. linear de 2ª ordem homogênea. 29 Exemplos: a) y” + 4y = senxex (e.d.o. linear de 2ª ordem não homogênea) b) 0xy4y'y"x2 (e.d.o. linear de 2ª ordem homogênea) c) y”y +y’= 0 (e.d.o. de 2ª ordem não linear) 2.1. Solução de uma e.d.o. de 2ª ordem Uma funcão y = y(x) é uma solução de uma e.d.o. de 2ª ordem (linear ou não), em um intervalo I da reta que pode ser infinito, se y(x) possui derivada até 2ª ordem em I e transforma a equação numa identidade quando substituída junto com suas derivadas na equação. Exemplo: y = cosx e y = senx são soluções da e.d.o. y” + y = 0 , IRx (*) É fácil ver que senxCcosxC e senxC , cosxC 2121 são soluções da equação (*). 2.2. Teorema Dada uma e.d.o. linear de 2ª ordem homogênea y” + f(x)y’ + g(x)y = 0, i) se y = (x)y1 é uma solução em um intervalo IRI , então y = )(xCy1 , onde C é uma constante qualquer, também é uma solução. ii) se y = (x)yy e (x)y 21 são soluções em um intervalo IRI , então (x)y C (x)y Cy 2211 , onde 21 C e C são constantes quaisquer, também é uma solução. Prova i) Por hipótese, temos 0g(x)y(x)f(x)y(x)y 1 ' 1 " 1 Substituindo y = )(xCy1 e suas derivadas na equação, temos uma identidade. (Verifique.) Portanto, y = )(xCy1 é solução da equação. Prova ii) Por hipótese, temos 0g(x)y(x)f(x)y(x)y 1 ' 1 " 1 e 0g(x)y(x)f(x)y(x)y 2 ' 2 " 2 30 Substituindo (x)y C (x)y Cy 2211 e suas derivadas na equação, temos uma identidade. (Verifique.) Portanto, (x)y C (x)y Cy 2211 é solução da equação. Obs.: O teorema anterior não se aplica para e.d.o. lineares de 2ª ordem não homogêneas ou a e.d.o. não lineares. Exemplos: a) y = 1 + cosx e y = 1 + senx são soluções da equação y” + y = 1, porém y = 2(1 +cosx) e y = (1+cosx) + (1 +senx) não são soluções da equação. (Verifique.) b) 1 y e xy 2 são soluções da equação y”y – xy’ = 0 não linear, porém 1x y e xy 22 não são soluções. 2.3. Solução Geral Uma solução de uma e.d.o. de 2ª ordem (linear ou não ) é chamada solução geral se esta contém duas constantes arbitrárias independentes, ou seja, a solução contendo duas constantes não pode ser reduzida a uma forma contendo somente uma constante ou nenhuma. Quando atribuímos valores às constantes arbitrárias, obtemos uma solução particular da e.d.o. 2.4. Funções Linearmente Dependentes (LD) e Linearmente Independentes (LI) Dizemos que as funções )(1 xy e )(2 xy são LD em um intervalo I IR se existe uma constante K tal que )x(Ky)x(y 21 , x I Caso contrário, dizemos que )(1 xy e )(2 xy são LI. Se uma das funções )(1 xy ou )(2 xy é identicamente nula num intervalo I, então estas são LD. (Por quê?) Se )(1 xy e )(2 xy são não nulas em I, então estas são LD em I se, e somente se )x(y )x(y 2 1 for constante em I. Obviamente, se )x(y )x(y 2 1 depende de x em I, estas são LI. Exemplos: a) )(1 xy = 2x e )(2 xy = x , são LD, pois )x(y )x(y 2 1 = 2 (constante) b) )(1 xy = xe e )(2 xy = xe , são LI, pois )x(y )x(y 2 1 = 2xe (depende de x) 31 É fácil ver que, se )(1 xy e )(2 xy são soluções LD de uma e.d.o. linear de 2ª ordem homogênea y” + f(x)y’ + g(x)y = 0 (*) então é possível reduzir a solução y = 2211 yCyC a uma solução que contém uma únicaconstante. De fato, por hipótese, existe uma constante k tal que 21 kyy . Assim, y = 2211 yCyC = 22212221 Cy)yCK(CyCKyC , onde C = 21 CKC . Como consequência, se )(1 xy e )(2 xy são LI em I, então y = 2211 yCyC não pode ser reduzida a uma solução contendo apenas uma constante arbitrária, ou seja, esta é solução geral da equação (*). Conclui-se, portanto, que y = 2211 yCyC ( 21 C e C constantes arbitrárias) constitui uma solução geral da e.d.o. linear de 2ª ordem homogênea y” + f(x)y’ + g(x)y = 0 em um intervalo I, se, e somente se 21 y e y formam uma base, isto é, 21 y e y são LI. 2.5. Problema de valor Inicial (PVI) Um PVI envolve uma equação e duas condições iniciais k)(xy' y)y(x r(x)g(x)yf(x)y'y" 0 00 Exemplo Considere o PVI 1(0)y' 4y(0) 0y2 y' y" A solução geral é dada por y = 2x 2 x 1 eCeC (Verifique.) Como y(0) = 12C(0)y' e 4 2121 CCC , então 1C e 3 21 C . Portanto, a solução do PVI é dada por y(x) = 2xx e3e . 2.6. Equações Diferenciais Ordinárias de 2ª ordem, Lineares e Homogêneas com coeficientes constantes As e.d.o. de 2ª ordem lineares e homogêneas com coeficientes constantes são do tipo 32 y” + ay’ + by = 0 (*) onde a e b são constantes reais. Como resolver este tipo de equação diferencial? Como a solução da e.d.o. de 1ª ordem linear, homogênea y’ +ky=0 é dada por kxCey então, somos levados a intuir que λxey para algum , seja solução da e.d.o. (*). Note que, para λxey ser solução da e.d.o. (*), esta deve satisfazê-la, isto é, 0be e aλeλ λxλxλx2 de onde segue que 0b)eaλ(λ λx2 Portanto, como e x , 0 xe , temos que 0baλλ2 é a condição necessária e suficiente para que λxey seja solução da e.d.o. (*). A equação 0baλλ2 é denominada equação característica associada a e.d.o. (*), que pode apresentar: 1) Duas raízes reais distintas ( 042 ba ). 2 4 e 2 4 2 2 2 1 baabaa Assim, x2λ 2 x1λ 1 e(x)y e e(x)y são soluções LI e, portanto, x2λ 2 x1λ 1 eCeCy(x) é a solução geral da e.d.o. (*). 2) Duas raízes complexas conjugadas ( 042 ba ). iqpλ e iqpλ 21 Assim, temos a solução geral complexa iq)xp( 2 iq)x(p 1 eCeCy(x) 33 Na prática, estamos interessados em soluções reais da e.d.o., soluções estas que podem ser obtidas utilizando-se as identidades de Euler isenxcosxe isenxcosxe ix ix Note que qx))(isenqx)(cos(ee e qx))(isenqx)((cosee pxiq)x-(ppxxiqp Pelo teorema 2.2., temos que qx)(cose 2 ee (x)y px iq)xp(iq)x(p 1 e qx)(sene 2i ee (x)y px iq)x-(piq)x(p 2 são soluções LI da e.d.o.(*). Portanto, y(x) = qx))(senCqx)(cosC(e 21 px é a solução geral real da e.d.o.(*). 3) Uma raiz dupla ( 042 ba ) 2 a Temos de início apenas uma solução da e.d.o. (*), dada por x 2 a 1 e(x)y Para encontrarmos outra solução que seja LI com esta, aplicamos um método conhecido como método de variação dos parâmetros, que consiste em encontrar uma função u(x), não constante, tal que (x)u(x)y(x)y 12 seja solução da e.d.o. (*). Substituindo " 2 ' 22 y e y , y na equação (*), chegamos à equação u” = 0 (Verifique.) Assim, u(x) = x é uma função não constante tal que (x)xy(x)y 12 é solução da e.d.o. (*). Portanto, como 21 y e y são LI, temos que a solução geral da e.d.o. é dada por x)CC(ey(x) 21 λx , onde 2 a Exemplos: 34 a) Vamos resolver o P. V. I. 1(0)y' 4y(0) 02yy'y" A equação característica associada é 022 , cujas raízes são 2 e 1 21 . Segue, então, que a solução geral é dada por y(x)= 2x 2 x 1 eCeC Como y(0) = 4 e y’(0) = 1, então 421 CC e 12 21 CC . Portanto, resolvendo o sistema nas variáveis 21 C e C , a solução do P.V.I. é dada por y(x) = 2xx e3e b) Vamos resolver o P. V. I. 2(0)y' 1y(0) 02yy'2y" . A equação característica associada é 0222 , cujas raízes são i1λ e i1λ 21 . Segue, então, que a solução geral é dada por y(x)= )senxCxcosC(e 21 x Como y(0) = 1 e y’(0) = 2, então 11 C e 221 CC . Portanto, resolvendo o sistema nas variáveis 21 C e C , a solução do P.V.I. é dada por y(x)= )senxx(cosex c) Vamos resolver o P. V. I. 1(0)y' 3y(0) 04y4y'y" A equação característica associada é 0442 , cuja raiz dupla é 2λ . Segue, então, que a solução geral é dada por x)CC(ey(x) 21 2x Como y(0) = 3 e y’(0) = 1, então 31 C e 12 21 CC . Portanto, resolvendo o sistema nas variáveis 21 C e C , a solução do P.V.I. é dada por )x53(ey(x) 2x 35 Quadro resumo Solução geral da e.d.o. y”+ay’+by = 0, cuja equação característica associada é 0baλλ2 . Caso Raízes da eq. Car. Base Solução da e.d.o. 1º Duas distintas 21 e x2λx1λ e e e x2λ 2 x1λ 1 eCeCy 2º Complexas iqp 21 e iqp )qx(sene )qxcos(e px px ))qx(senC)qxcos(C(ey 21 px 3º Raiz Dupla 2 a λx λx xe e x)C(Cey 21λx 2.7. Equações Diferenciais Ordinárias de 2ª ordem Lineares, não homogêneas e com Coeficientes Constantes Considere a e.d.o. y” + f(x)y’ + g(x)y = r(x) (*) onde f(x), g(x) e r(x) são funções contínuas em um intervalo I da reta e y” + f(x)y’ + g(x)y = 0 (**) é a equação homogênea associada. Vamos provar que se )(xyh é solução geral da equação homogênea (**) e )(xyp uma solução particular da equção não homogênea (*), então (x)y(x)yy ph é solução geral da equação não homogênea (*). Prova Por hipótese temos r(x)g(x)yf(x)yy e 0g(x)yf(x)yy p ' p " hh ' h " h Portanto, ]g(x)yf(x)yy[]g(x)yf(x)yy[)yg(x)(y)'yf(x)(y)"y(y p ' p " ph ' h " hphphph 36 = 0 + r(x) = r(x), ou seja, (x)y(x)yy ph é solução da e.d.o. (*). Na seção anterior vimos como encontrar a solução geral da equação homogênea y” + f(x)y’ + g(x)y = 0 Nosso problema passa a ser o de encontrar uma solução particular da e.d.o. y” + f(x)y’ + g(x)y = r(x) 2.7.1. Método dos Coeficientes a Determinar Dada uma e.d.o. de 2ª ordem com coeficientes constantes y”+ay’+by = r(x) (*) já sabemos como encontrar uma solução )(xyh da equação homogênea associada. Nosso problema passa a ser o de encontrar uma solução particular )(xyp da equação (*). O método dos coeficientes a determinar baseia-se na suposição da existência de uma função )(xyp com coeficientes não especificados como sendo solução da equação (*). Substituindo esta e suas derivadasna equação (*) tentamos encontrar os coeficientes. Se não pudermos encontrar esses coeficientes, então nossa suposição para )(xyp tem que ser modificada, por outro lado se pudermos encontrar tais coeficientes, temos então uma solução particular e consequentemente, quando somamos com a solução geral da equação homogênea, chegamos à solução geral da equação (*). A escolha de )(xyp é feita com base na função r(x). Isso limita o método para uma classe de funções r(x) relativamente pequena, ou seja, funções constituídas de polinômios, funções exponenciais, senos, co-senos. Porém muitas aplicações importantes são resolvidas com esse método. Objetivando ilustrar o método, os exemplos abaixo nos dão uma ideia de como ele funciona. Exemplos: a) Encontrar a solução geral da equação diferencial y” – 4y’ +3y = 10 2xe . Solução 0342 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são 1 e 3 21 . Segue, então que x 2 3x 1h eCeC(x)y 37 é a solução da equação homogênea. Com base em r(x) = 10 2xe , vamos tomar 2x p Ae(x)y e determinar A de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., temos 3 2 A10A15e10)A3A8A4(e x2x2 Assim, py (x) = 2xe 3 2 é solução particular da e.d.o. Portanto, y(x) = 2xx 2 3x 1 e 3 2 eCeC é a solução geral da e.d.o. b) Encontrar a solução geral da equação diferencial y” + 4y = 8 2x . Solução 042 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são 2i e 2i 21 . Segue, então que )x2(ensC)x2(oscC(x)y 21h é a solução da equação homogênea. Com base em r(x) = 8 2x , vamos tomar CBxx 2p A(x)y e determinar A,B e C de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., temos -1C e 0B , 2 042 04 84 84244 22 A CA B A xCABxAx Assim, py (x) = 12 2 x é solução particular da e.d.o. Portanto, 1x2)x2(ensC)x2(oscCy(x) 221 é a solução geral da e.d.o. c) Encontrar a solução geral da equação diferencial y” – y’ – 2y =10cosx. Solução 022 38 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são 1 e 2 21 . Segue, então que x 2 2x 1h eCeC(x)y é a solução da equação homogênea. Com base em r(x) = 10cosx, vamos tomar Bsenxc osxA(x)yp e determinar A e B de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., temos 1B e 3A 0B3A 10BA3 xcos10senx)B3A(xcos)BA3( Assim, py (x) = senxx cos3 é solução particular da e.d.o. Portanto, senxx cos3eCeCy(x) x2 2x 1 é a solução geral da e.d.o. Ao considerarmos r(x) na equação (*) pertencente à classe de funções polinomiais, exponenciais, senos, co-senos ou somas ou produtos destas, a prova de que o método dos coeficientes a determinar funciona será feita descrevendo com argumentos os casos: 1) r(x) = n n 0n axa(x)P Neste caso, temos n n 0n axa(x)Pbyay'y" (**) Supondo )(xyp = n n 0 AxA e substituindo esta juntamente com suas derivadas na equação (**), igualamos os coeficientes das potencias iguais e se 0b , o sistema encontrado é compatível determinado. Assim, resolvendo o sistema, encontramos uma solução particular para a equação(*). Se b = 0 e 0a , então, quando substituirmos )(xyp e suas derivadas na equação (**), o grau do polinômio à esquerda da igualdade é n – 1 e a equação não pode ser satisfeita. Para garantir que o polinômio à esquerda da equação tenha grau n, fazemos uma modificação na escolha de )(xyp , ou seja, tomamos )(xyp = x( n n 0 AxA ) e garantimos a solução do sistema envolvendo nAAA ,...,, 10 . Note que, nesse caso, zero é raiz simples da equação característica associada. Se b = 0 e a = 0, com o mesmo raciocínio, faz-se necessário tomarmos 39 )(xyp = 2x ( n n 0 AxA ) para garantirmos a solução do sistema envolvendo nAAA ,...,, 10 . Note que, nesse caso, zero é raiz dupla da equação característica associada. 2) r(x) = x n(x)eP Neste caso, temos x n n 0 x n )eax(a(x)ePbyay'y" (***) Tomando )(xyp = xexu )( e substituindo esta junto com suas derivadas na equação (***), temos )x(Pu)ba('u)a2("u n 2 Note que a determinação de u(x) recai no primeiro caso. Assim, se 02 ba , ou seja, não é raiz da equação característica associada, então n n AxAxu 0)( e consequentemente )(xyp = x n exP )( garante a solução do sistema envolvendo nAAA ,...,, 10 . Por outro lado, se 0a2 e 02 ba , ou seja, é raiz simples da equação característica associada, então se faz necessário tomarmos u(x) = x )(xPn . Assim, )(xyp =x x n exP )( garante a solução do sistema envolvendo nAAA ,...,, 10 . Se 0a2 e 02 ba , ou seja, é raiz dupla da equação característica associada, então se faz necessário tomarmos u(x) = 2x )(xPn . Assim, )(xyp = 2x x n exP )( garante a solução do sistema envolvendo nAAA ,...,, 10 . 3) r(x) = x n(x)eP cós )x( ou r(x) = x n(x)eP sen )x( Vamos considerar o caso r(x) = x n(x)eP cós )x( . Neste caso, temos x n n 0 x n )eax(a)xcos((x)ePbyay'y" cos )x( Utilizando as identidades de Euler isenxxeisenxxe ixix cos e cos podemos escrever cos )x( = 2 xixi ee 40 e, portanto, r(x)= 2 (x)eP xn xixi ee = 2 ee (x)P x)i(x)i( n Tomamos )(xyp = )x(sene)B...xB()xcos(e)A...xA( xn n 0 xn 0 ou na forma mais usada )(xyp = x)i( n n 0 x)i( n n 0 e)B...xB(e)AxA( Se i for raiz da equação característica associada, então se faz necessário multiplicarmos o polinômio por x, ou seja, tomarmos )(xyp = x )]x(sene)B...xB()xcos(e)A...xA[( xn n 0 x n n 0 A tabela abaixo é um resumo dos três casos analisados. Solução particular de y” + ay’ +by = r(x) r(x) )(xyp s n nn n axaxaxP ...)( 110 )A...xAxA(x n 1n 1 n 0 s Número de vezes que zero é raiz da equação característica. x n exP ).( x n 1n 1 n 0 s e)AxAxA(x Número de vezes que é raiz da equação característica. x n exP ).( xsen ou x n exP ).( xcos ou x n exP ).( )]cos()([ xxsen )xcos(e)AxAxA[(x xn 1n 1 n 0 s )]x(sene)BxBxB( xn 1n 1 n 0 Número de vezes que i é raiz da equação característica. Obs.: Se r(x) for soma dos elementos da 1ª coluna, então )(xyp é a soma dos elementos da 2ª coluna. Exemplos: a) Encontrar uma solução particular para a e.d.o. y” – 3y’ +2y = 4x + xe3 . 0232 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são 1 e 2 21 . Segue, então que x 2 2x 1h eCeC(x)y é a solução da equação homogênea. 41 Como r(x) = 4x + xe3 , utilizando a tabela, tomamos 3x p Ce BAx(x)y e determinamos A, B e C de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., temos 2 1 C e 3B , 2 12 023 42 42232 33 A C BA A exCeBAAx xx Assim, py (x) = xex 3 2 1 32 é solução particular da e.d.o. Portanto, y(x) = xex 3x2 2x 1 2 1 32eCeC é a solução geral da e.d.o. b) Resolver a e.d.o. y” – y’ – 2y = cosh2x. Solução 022 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são 1 e 2 21 . Segue, então que -x 2 2x 1h eCeC(x)y é a solução da equação homogênea. Como r(x) = cosh2x = 2 22 xx ee , utilizando a tabela, tomamos xx p BeAxexy 22)( e determinamos A e B de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., encontramos A = 6 1 e B = 8 1 . (Verifique.) Portanto, xx ee x 22x- 2 2x 1 8 1 6 eCeCy(x) é a solução geral da e.d.o. c) Resolver o PVI 1)0(' 1)0( cos2'2" y y xeyyy x Solução 0222 42 é a equação característica da e.d.o. homogênea associada, cujas raízes são i-1λ e i1λ 21 . Segue, então que )Cc(C(x)y 21h senxosxe x é a solução da equação homogênea. Como r(x) = xex cos , utilizando a tabela, tomamos )BsenxxcosA(xe)x(y xp e determinamos A e B de forma que py (x) seja solução particular da e.d.o. Substituindo py (x) e suas derivadas na e.d.o., encontramos A = 0 e B = 2 1 . (Verifique.) Assim, y(x) = senxe x senxosxe xx 2 )Cc(C 21 é a solução geral da e.d.o. De y(0) = 1 e y’(0) = -1, conclui-se que 2C e 1 21 C . (Verifique.) Portanto, a solução do PVI é dada por y(x) = senxe 2 x )senx2osx(ce xx
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