Buscar

Apostila.Civil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DIREITO CIVIL II
Docente: Helca de S. Nascimento – 29º período
DOS FATOS JURÍDICOS
		
III.4.1 – TEORIA GERAL
III.4.1.1 - Conceito de fato jurídico em sentido amplo - “Todos aqueles eventos, provindos da atividade humana ou decorrentes de fatos naturais, capazes de ter influência na órbita do direito, por criarem, ou transferirem, ou conservarem, ou modificarem, ou extinguirem relações jurídicas” (SR).
III.4.1.2 - Classificação
	- Fatos jurídicos em sentido estrito ou fatos naturais - são aqueles que advêm de fenômenos naturais, sem intervenção da vontade humana, e que produzem efeitos jurídicos. Podem ser ordinários (nascimento, maioridade, passagem do tempo, etc...) e extraordinários (decorrentes de caso fortuito - ex.: desabamento, naufrágio etc...).
- Fatos humanos ou fatos voluntários - são aqueles que dependem da vontade humana. Podem ser:
a) Lícitos (atos jurídicos em sentido amplo) - aqueles praticados em conformidade com a lei. Dividem-se em: 
- atos jurídicos em sentido estrito ou meramente lícitos - não é exercício de autonomia privada, de forma que o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado em lei. Ex.: ocupação;
-negócios jurídicos - o fim procurado pelas partes baseia-se no exercício da autonomia privada a que o ordenamento confere efeitos jurídicos. Ex.: testamento, contrato.
b) Ilícitos - aqueles praticados em desconformidade com a lei. Geram, como conseqüência, a obrigação de reparar o dano, contudo não deixam de ser considerados como atos jurídicos.
Situado em um plano médio entre os fatos jurídicos e os atos jurídicos, a doutrina aponta a existência de um conjunto de “atos-fatos jurídicos”, que seriam aqueles em que se imprescinde da participação humana, porém, dispensa-se a manifestação da vontade, a chamada “vontade negocial”. Razão pela qual o absolutamente incapaz pode praticar um ato-fato jurídico e este ser perfeitamente válido, apto a produzir todos os efeitos de que é capaz.
Seriam exemplos de atos-fatos jurídicos, o achado de tesouro (arts. 1264/1266 CC), a ocupação (art. 1263 CC) e, em alguns casos a especificação (arts. 1272/1274 CC), para nos atermos apenas a alguns.
III.4.1.3 - Aquisição de direitos
Os direitos podem ser adquiridos pelos seguintes modos:
- Originário (quando não existe entre o adquirente e seu antecessor qualquer vínculo jurídico. Ex.: ocupação) e derivado (quando existir uma relação jurídica entre o atual titular e o anterior. Ex.: compra e venda). Esta distinção é importante, para fins de aplicação da regra de que ninguém pode transferir mais direitos do que possui.
- Gratuito (se não houver contraprestação. Ex.: doação) e oneroso (se houver contraprestação. Ex.: compra e venda).
- A título universal (tem por objeto uma universalidade ou uma quota ideal de uma universalidade. Ex.: direito do herdeiro) e a título singular (tem por objeto um ou alguns direitos determinados. Ex.: compra e venda).
		
- Simples (se o fato gerador da relação jurídica consistir num só ato. Ex.: assinatura de título de credito) e complexo (se for necessária a prática de mais de um ato, sucessivamente ou simultaneamente. Ex.: usucapião).
	
III.4.1.4 Modificação dos direitos
A modificação dos direitos pode ocorrer por uma das seguintes formas:
- objetiva - atinge a quantidade (quantitativa) ou a qualidade do objeto ou o conteúdo da relação jurídica (qualitativa);
- subjetiva - atinge algum ou alguns dos sujeitos da relação jurídica, sem que esta se extinga. Nem todos os direitos comportam modificação subjetiva, tendo em vista que alguns deles têm caráter personalíssimo.
III.4.1.5 - Defesa dos direitos:
A defesa dos direitos se exercita, dentre outras formas, através de alguns mecanismos extrajudiciais preventivos (ex.: cláusula penal, arras, fiança), de alguns mecanismos de autodefesa (ex.: legítima defesa da posse e desforço imediato) e da via judicial (“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”).
III.4.1.6 - Perecimento do direito
O Código de 1916 estabelecia que “perece o direito, perecendo o seu objeto”, bem como que perece o objeto do direito quando perde suas qualidades essenciais, ou o valor econômico; quando se confunde com outro, de modo que se não possa distinguir; quando fica em lugar de onde não pode ser retirado. Embora a regra não tenha sido repetida pelo novo Código Civil, ela continua a se aplicar, uma vez que decorre do sistema jurídico.
III.4.2 - FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
III.4.2.1 - Conceito - São aqueles acontecimentos que advêm de fenômenos naturais, sem intervenção da vontade humana, e que produzem efeitos jurídicos. 
		
III.4.2.2 - Classificação (Quanto à normalidade):
- ordinários, como o nascimento, a maioridade, o decurso de tempo etc.;
- extraordinários ou irresistíveis, como o caso fortuito, que se caracteriza pela existência de dois requisitos: um objetivo, que consiste na inevitabilidade do evento, e um subjetivo, que consiste na ausência de culpa na produção do acontecimento. Ex.: desabamento, naufrágio etc. .		
		
III.4.3 - ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO
III.4.3.1 - Conceito - “É o acontecimento que gera efeitos jurídicos previstos em lei e não pelas partes, não havendo regulamentação da autonomia privada”. Os vícios de vontade são quase irrelevantes, eis que a intenção da parte encontra-se em plano secundário. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições relativas a estes (art. 185, CC).
III.4.3.2 - Classificação:
- atos materiais ou reais - “consistem numa atuação de vontade que lhes dá existência imediata, porque não se destinam ao conhecimento de determinada pessoa, não tendo, portanto, destinatário” (MHD). Ex.: abandono, ocupação.			
- participações - “consistem em declarações para ciência ou comunicação de intenções ou de fatos, tendo por, conseqüência, destinatário. Têm por finalidade dar conhecimento a outrem de que o agente tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato”. Ex.: interpelação, intimação.
III.4.4 - NEGÓCIO JURÍDICO
	
III.4.4.1 - Conceito - É o ato lícito através do qual as partes exercem a autonomia privada, auto-regulando, nos limites legais, seus interesses particulares.
	III.4.4.2 – Classificação:
I - Quanto às vantagens que produzem:
- gratuitos - sem contraprestação (ex.: doações);
- onerosos - com contraprestação. Subdividem-se em: a) comutativos - se as prestações forem equivalentes e certas (ex.: compra e venda); b) aleatórios - se ao menos uma das prestações não for certa, dependendo o benefício de evento futuro (ex.: contrato de seguro);
- bifrontes – podem ser considerados onerosos ou grautitos, conforme a intenção das partes (ex.: mútuo, mandato, depósito);
- neutros – não implicam em atribuição patrimonial (ex.: cláusula de inalienabilidade).
II - Quanto às formalidades:
- solenes ou formais - requerem forma especial prescrita em lei (ex.: testamento);
- não-solenes ou de forma livre - não exigem forma legal (ex.: compra e venda de bem móvel).
III - Quanto ao conteúdo:
- patrimoniais - versam sobre questões suscetíveis de aferição econômica (ex.: compra e venda);
- extrapatrimoniais - versam sobre direitos personalíssimos ou direitos de família (ex.: acordo quanto à guarda dos filhos menores).
IV - Quanto à manifestação de vontade:
- unilaterais - o ato volitivo provém de um ou mais sujeitos, desde que estejam na mesma direção e tenham um único objetivo. Ex.: renúncia, testamento. Subdividem-se em: a) receptícios - seus efeitos somente se produzem após o conhecimento da declaração pelo destinatário (ex.: resilição de contrato, revogação de mandato�); b) não-receptícios - sua efetivação independe do endereço a certo destinatário (ex.: renúncia de herança, confissão de dívida).
- bilaterais- o ato volitivo provém de dois ou mais sujeitos, dirigidos em sentido contrário. Subdividem-se em: a) simples - concedem benefícios a apenas uma das partes e encargos à outra (ex.: doação); b) sinalagmáticos - concedem benefícios e encargos a ambas as partes (ex.: compra e venda).
V - Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos:
- inter vivos - acarretam conseqüências jurídicas em vida dos interessados (ex.: mandato);
- causa mortis - acarretam conseqüências jurídicas após a morte do sujeito (ex.: testamento).
VI - Quanto aos efeitos:
- constitutivos - sua eficácia opera-se com efeitos ex-nunc (ex.: compra e venda);
- declarativos -sua eficácia opera-se com efeitos ex-tunc (ex.: divisão amigável).
VII - Quanto à existência:
- principais - se independerem de qualquer outro (ex.: locação);
- acessórios - se sua existência depender da do principal (ex.: fiança).
VIII - Quanto ao exercício do direito:
- de disposição - implicam no exercício de amplos direitos sobre o objeto (ex.: doação);
- de simples administração - “implicam no exercício de direitos restritos sobre o objeto, sem que haja alteração em sua substância” (ex.: mútuo).
III.4.4.3 – Interpretação do negócio jurídico
É a operação que tem por objeto precisar o conteúdo exato de um negócio jurídico, diante da possibilidade de este conter cláusulas duvidosas, pontos obscuros ou contradições. Pode ser (MHD):
		
- declaratória -se tiver por finalidade precisar a intenção das partes;
- integrativa - “se pretender preencher lacunas contidas no negócio, através de normas supletivas, costumes etc.”;
- construtiva - “se objetivar reconstruir o ato negocial, a fim de salvá-lo”.
Para que se possa fazer uma correta interpretação do negócio jurídico, mister se busque analisar as circunstâncias que envolvem a declaração de vontade do agente.
	
Como apontado por Sílvio Venosa, a declaração de vontade é elemento essencial do negócio jurídico, é seu pressuposto, quando não existir pelo menos aparência de declaração de vontade, não podemos sequer falar de negócio jurídico.
	
Logicamente, a vontade quando não manifestada não tem qualquer influência no mundo jurídico, fixada apenas no psiquismo do agente.
	
Para a compreensão da vontade em si debatem-se duas correntes: a teoria da vontade (Willenstheorie) que levou à posição subjetivista, e a teoria da declaração (Erklärungstheorie) que gerou a posição objetivista, para a primeira entende-se que deve ser perquirida a vontade interna do agente, sua real intenção; pela segunda basta deter-se na declaração em si, não havendo porque investigar o querer interior do declarante.
	
Nenhuma das duas posições, se levadas a extremos, trazem resultados satisfatórios, sendo que o problema da interpretação da vontade, em si, surge, apenas, quando houver dissonância entre o desejado e o declarado, entre o pensado e o transmitido, uma vez que a vontade é um elemento interno, enquanto a declaração de vontade é um elemento externo.
	
Os elementos constitutivos da vontade propriamente dita, como comportamento interno, podem ser percebidos a partir de sua manifestação externa, vale dizer, de seu comportamento externo, o que serve ao intérprete como subsídio para encontrar o verdadeiro sentido buscado pelo agente. Tais elementos internos se exteriorizam como vontade de ação, vontade de declaração e vontade negocial.
Vontade de Ação, como aponta Manuel Domingues de Andrade, é a querida, voluntária, um agente faz um aceno com a cabeça para dizer ao outro que aceita sua proposta de contrato, ou levanta o polegar num gesto que significa “positivo”.
Pode, entretanto, estar presente a vontade de ação, como comportamento voluntário, sem que, para tal, se tenha desejado atribuir ao ato o significado eventualmente estampado no negócio. É o caso de um indivíduo, no exemplo de Sílvio Venosa, que entra em um leilão e, vendo um conhecido, lhe faz um aceno de cabeça como saudação, ocorre que tal comportamento, na praxe local, é interpretado como lanço ou oferta. Aqui temos a vontade de ação, mas não temos a vontade de declaração. O ato foi praticado de modo consciente, mas sem a vontade de praticar um negócio jurídico.
O terceiro elemento é a chamada vontade negocial, ou intenção do resultado. O declarante deve ter a vontade e manifestá-la de modo a praticar determinado negócio e não outro.
Da dissociação entre o desejado e o transmitido, fica o problema para a interpretação, e mesmo a validação do negócio jurídico, donde se busca reforçar mais a vontade (posição subjetivista) ou a declaração (posição objetivista), esta última deu origem a duas teorias para sua aplicação, Teoria Preceptiva e Teoria Normativa.
Para a Teoria Preceptiva, em grande parte desenvolvida por Emílio Betti, na Itália, o negócio jurídico “é meio dinâmico de realização de interesses privados, instrumento de autonomia privada”.
Para a Teoria Normativa, desenvolvida também na Itália, de modo sistemático por Luigi Ferri, a partir dos estudos de Betti, o negócio jurídico “é ato criador de normas jurídicas, disciplinadoras das relações jurídicas estabelecidas”.
Como apontado anteriormente, há que se relativizar as posições objetivistas e subjetivistas, o que tem sido feito com a adoção de duas teorias que servem como contraponto aos extremos, embora pendam, cada qual, mais para um dos lados.
Mais voltada para a Teoria da Vontade, portanto de cunho subjetivista, temos a Teoria da Responsabilidade, onde “havendo divergência entre a vontade e a declaração, prevalece aquela, mas o declarante responde pelos danos que causar, se tiver culpa”, em contrapartida, mais afeta à Teoria da Declaração, daí seu perfil objetivista, a Teoria da Confiança estabelece que “prevalece a declaração sobre a efetiva vontade quanto tenha suscitado legítima expectativa no destinatário, conforme as circunstâncias objetivas”.
Regra geral, nosso código tem pendido mais para a posição subjetivista, ao fazer opção no art. 112 a que: “nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”, sem contudo, deixar de fazer concessões de cunho objetivista, como no art. 113: “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”
	
Algumas regras a serem observadas na interpretação dos negócios jurídicos:
I - previstas no Código Civil:
- nas declarações de vontade atender-se-á mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido da linguagem (art. 112);
	- os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113);
- os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente (art. 114);
- quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423);
- a transação interpreta-se restritivamente (art. 843);
	- a fiança não admite interpretação extensiva (art. 819);
	- quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
	
II - decorrentes de interpretações jurisprudenciais e doutrinárias: “1) em relação aos contratos, deve-se ater à boa fé, às necessidades de crédito e à eqüidade (RT, 145:652; 180:663); 2) aos negócios causa mortis não se aplicam princípios pertinentes aos negócios inter vivos, como o de boa fé, nem mesmo se permite sua interpretação com dados alheios ao seu texto; 3) nos contratos que contiverem palavras que admitam dois sentidos, deve-se preferir o que mais convier a sua natureza; 4) nos contratos de compra e venda, no que concerne à extensão do bem alienado, deve-se interpretar em favor do comprador (RT, 158:194); 5) na compra e venda, todas as dúvidas devem ser interpretadas contra o vendedor (RT, 159:173); 6) no caso de ambigüidade interpreta-se deconformidade com o costume do país; 7) no que concerne ao vocábulo contido no final de uma frase, dever-se-á interpretá-lo como parte da frase toda e não somente da que a precede imediatamente, desde que compatível, em gênero e número, com a frase; 8) na interpretação contratual considerar-se-ão as normas jurídicas correspondentes; 9) nas estipulações obrigacionais dever-se-á interpretar de modo menos oneroso para o devedor; 10) em relação aos termos de um contrato, considerar-se-á que, por mais genéricos que sejam, só abrangem os bens sobre os quais os interessados contrataram e não os de que não cogitaram; 11) no conflito entre duas cláusulas a antinomia prejudicará o outorgante e não o outorgado; 12) na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exeqüível; 13) nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que se deve favorecer quem se obriga (RT, 142:620; 194:709); 14) nas cláusulas contratuais que apresentarem modalidades impostas pelos usos locais ou usos do respectivo negócio, examinar-se-á se a cláusula duvidosa tem o sentido de qualquer desses usos; 15) no que concerne às cláusulas contratuais, estas deverão ser interpretadas umas pelas outras; 16) na interpretação de cláusula testamentária que tem várias acepções, prevalecerá a que assegurar a vontade do testador; o mesmo se diga em relação às doações” (MHD).
	III.4.4.4 – Elementos constitutivos ou estruturais:
- essenciais - são os imprescindíveis à existência e validade do negócio jurídico, sem os quais este deixa de existir ou se transforma em outro. Podem ser: a) gerais - comuns a todos os negócios jurídicos: sujeito capaz, objeto lícito, possível e determinado ou determinável, licitude do motivo e consentimento dos interessados; b) particulares - peculiares a determinados negócios jurídicos, por se referirem à forma dos mesmos.�
	
- naturais - efeitos decorrentes do negócio jurídico e previstos em lei, sem ensejarem menção expressa para que existam e sem serem indispensáveis à existência do negócio a que se referem. Ex.: responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção.
- acidentais - estipulações acessórias e facultativas introduzidas pelas partes nos negócios. Ex.:, termo, condição e modo ou encargo.
	III.4.4.5 – Elementos essenciais gerais ou comuns
- Capacidade do agente - O negócio jurídico pressupõe declaração de vontade, de forma que se afigura indispensável que a pessoa que a emite possua capacidade geral e, em alguns casos, capacidade especial ou legitimação. Capacidade geral é aquela que se refere a qualidades intrínsecas da pessoa, tornando-a mais ou menos apta para exercer sua autonomia privada. O agente deve ser plenamente capaz ou estar devidamente representado (absolutamente incapazes) ou assistido (relativamente incapazes). Capacidade especial ou legitimação é aquela que se refere à aptidão do agente para atuar em negócios jurídicos que tenham determinado objeto. Ex.: a pessoa casada é absolutamente capaz, mas não pode vender bens imóveis sem a outorga do cônjuge ou suprimento judicial, salvo em certos regimes de bens. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em proveito próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. Trata-se, portanto, de exceção pessoal.
- Objeto lícito, possível, determinado ou determinável - Para a validade e perfeição do negócio jurídico, exige-se que o objeto seja lícito, ou seja, que não atente contra a lei, contra a moral ou contra os bons costumes. Além disso, não pode ser impossível física (quando não pode ser prestado pela própria natureza. Ex.: levar um relógio ao Japão em um minuto) ou juridicamente (quando contrariar o ordenamento jurídico. Ex.: adotar pessoa da mesma idade). Note-se que a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. O objeto deve, ainda, ser determinado ou determinável.
- MOTIVO DETERMINANTE LÍCITO – Sobre o motivo determinante, Sílvio de Salvo Venosa leciona: “Toda atividade humana tem um motivo. Todo negócio jurídico é composto por um motivo, ou melhor, há motivação para se atingir um fim. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador pode ter os mais variados motivos para realizar o negócio: pode querer especular no mercado; pode pretender utilizar-se da coisa para seu próprio uso; pode querer adquiri-la para revender. Todos esses motivos, porém, não têm relevância jurídica. O motivo com relevância jurídica será receber a coisa, mediante o pagamento. Para o vendedor, por outro lado, o motivo juridicamente relevante é receber o preço. Pouco importa, para o Direito, se o vendedor aplicará o dinheiro recebido no mercado de capitais ou pagará dívida”. Embora grande parte da doutrina ainda venha entendendo que o motivo determinante – ou, como preferem, a causa – não constitui elemento essencial do negócio jurídico, a verdade é que o Código de 2002 mudou tal situação. Com efeito, de acordo com o seu art. 166, III, “é nulo o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito”. Logo, resta claro que a licitude do motivo determinante, de certa forma, passou a ser elemento essencial do negócio jurídico, tanto que sua ilicitude, se for comum a ambas as partes, poderá implicar na nulidade absoluta do ato. 
	III.4.4.6 – Elementos essenciais particulares
Forma é o meio através do qual se exterioriza o negócio jurídico, para que possa produzir seus efeitos.
A regra é a da liberdade de forma (princípio da forma livre). “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir” (art. 107). A forma pode ser:
- livre ou geral - o negócio jurídico pode realizar-se por qualquer forma, pela qual se verifique a manifestação de vontade. Ademais, o Código Civil, em seu art. 111, preceitua que “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Ex.: art. 539, CC. 
	- especial ou solene - conjunto de solenidades que a lei exige para a validade de determinados negócios jurídicos, subdividindo-se em: forma única - a lei prevê apenas uma forma para a prática do ato. Ex.: exigência de escritura pública para a realização de determinados negócios jurídicos (pactos antenupciais, negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no País etc.); forma plural ou múltipla - a lei prevê mais de uma forma para a prática do ato, sendo possível às partes optarem por alguma delas. Ex.: a transação sobre direitos contestados em juízo somente pode realizar-se por termo nos autos ou por escritura pública; forma genérica - a lei exige uma solenidade mais geral. Ex.: exigência de meras “instruções escritas” para a prática de algum negócio (art. 619, CC).
- forma contratual - eleita pelos contratantes. A propósito, no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato (art. 109, CC).
	III.4.4.7 – Elementos acidentais
III.4.4.7.1 - CONCEITO - estipulações acessórias e facultativas introduzidas pelas partes nos negócios. Por serem acessórias, seguem a mesma sorte que o principal. Não são admitidas em alguns atos de natureza eminentemente pessoal, como, por exemplo, o casamento e o reconhecimento de filho.
III.4.4.7.2 - CONDIÇÃO - cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina, total ou parcialmente, o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto (regulando sua eficácia ou ineficácia). Não afeta a existência do negócio jurídico, mas apenas sua eficácia. Se se referir a evento passado ou presente, ainda que desconhecido, não é condição. Se se referir a evento futuro, mas certo,caracteriza termo, e não condição. As condições classificam-se em:
I) Quanto à possibilidade:
- física e juridicamente possíveis - se puderem se realizar em conformidade com as leis físico-naturais e o ordenamento jurídico (ex.: formar-se em medicina);
- física ou juridicamente impossíveis - se não puderem se realizar por contrariar as leis naturais (ex.: dar a volta ao mundo em duas horas) ou o ordenamento jurídico (ex.: se casar com um irmão). 
II) Quanto à licitude:
- lícitas - quando não contrariarem a lei, a moral, a ordem pública e os bons costumes;
- ilícitas - quando contrariarem a lei, a moral ou os bons costumes. 
São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública e aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico (condições perplexas. Ex.: doação de um bem sob a condição de o donatário não exercer os poderes inerentes à propriedade ou de não aceitar a doação), ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (condições puramente potestativas. Ex.: se eu quiser).
III)Quanto à participação dos sujeitos:
- casuais - se dependerem de fatos alheios à vontade das partes, por se referirem a fatos da natureza ou por dependerem exclusivamente da vontade de um terceiro;
- potestativas - se decorrerem da vontade de uma das partes. Podem ser: puramente potestativas - advindas de mero arbítrio do agente (são defesas as condições que sujeitarem o efeito do ato ao arbítrio de uma das partes. Ex.: se eu quiser, se eu levantar o braço etc.); simplesmente ou meramente potestativas - dependem não só da vontade de uma das partes, como também de algum acontecimento ou circunstância exterior que não se confunde exclusivamente com o seu arbítrio (Ex.: levar um objeto até o centro da cidade);
- mistas - decorrem em parte de um evento natural ou de ato de terceiro e em parte da vontade do sujeito (Ex.: condição de se casar com determinada pessoa).
	Alguns autores citam uma outra categoria, qual seja a das condições promíscuas, que se tratam de uma condição potestativa qualificada pela ocorrência posterior de um evento alheio à vontade do agente e que dificulta sua realização.
IV) Quanto ao modo de atuação:
- suspensivas - protelam, temporariamente, a eficácia do negócio jurídico até sua verificação (da condição), ou, nos termos do art. 126 do Código Civil, “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”. 
Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.
Como se vê, opera certos efeitos ex tunc, salvo em alguns casos, como: nos contratos reais; relativamente a bens fungíveis; móveis adquiridos de boa-fé; e imóveis, se não constar do registro imobiliário a inscrição do título, onde se acha consignada a condição.
	- resolutivas - subordinam a ineficácia do negócio jurídico à sua verificação (da condição). Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido (art. 127, CC).
O novo Código Civil não mais prevê a condição resolutiva tácita, mesmo porque para que uma cláusula se caracterize como condição deve ela derivar exclusivamente da vontade das partes, e não automaticamente do sistema jurídico. O que o art. 475 do Código Civil disciplina é a cláusula resolutiva tácita, que não tem a natureza jurídica de condição.
Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme os ditames da boa-fé.
O art. 1.359 do CC confere certos efeitos ex tunc à condição resolutiva, no que tange à propriedade: “Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha”. 
Observações gerais:
- Condições necessárias - Não se considera condição a cláusula que não derive exclusivamente da vontade das partes, mas decorra necessariamente da natureza do direito, a que acede. Ex.: cláusula que subordina a eficácia de um contrato de compra e venda de imóvel com valor superior a trinta salários mínimos à lavratura de escritura pública. Contrapõem-se às condições voluntárias, que são as verdadeiras condições.
- O Código Civil/2002 preceitua que “invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; as condições incompreensíveis ou contraditórias” (art. 123) e que “têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível” (art. 124).
- Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição, cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte, a quem desfavorecer. Considera-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele, a quem aproveita o seu implemento.
- A capacidade das partes e a forma do negócio regem-se pela norma jurídica que vigorar ao tempo de sua constituição, e não ao tempo em que ocorrer o implemento da condição.
- Antes do implemento da condição, o credor não pode exigir o cumprimento da obrigação.
- Se o devedor cumprir a obrigação antes de ocorrer a condição suspensiva, ficará o credor obrigado a restituir.
- O direito condicional transmite-se por ato inter vivos ou causa mortis, mantendo os caracteres de direito condicional.
- O advento da condição, em regra, não implica na invalidação dos atos de administração praticados e na restituição dos frutos colhidos na sua pendência.
- Ao titular de direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.
III.4.4.7.3 - TERMO - o dia em que começa ou se extingue a eficácia de um negócio jurídico. Considera um evento futuro e certo. O lapso temporal a ser decorrido, entretanto, pode ser incerto.
	O Código Civil determina a aplicação de certas regras referentes à condição suspensiva ao termo inicial e de certas regras referentes à condição resolutiva ao termo final (art. 135). Entretanto, distingue-se o termo da condição, porque, enquanto aquele considera um evento futuro e certo, esta leva em conta um evento futuro e incerto. Além disso, o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito, enquanto a condição suspensiva protela a própria aquisição do direito.
O termo pode ser:
I - inicial (dies a quo ou suspensivo - suspende o exercício do direito, sem suspender sua aquisição. Ex.: dar-te-ei o livro no dia 1º/01/2004) ou final (dies ad quem ou resolutivo - seu advento acarreta o fim de um direito. Ex.: dar-te-ei o livro até o dia 1º/01/2004);
II - certo (estabelece um prazo ou uma data certa - o lapso temporal a ser decorrido é conhecido desde o início. Ex.: dar-te-ei o livro até o dia 1º/01/2004) ou incerto (estabelece um evento certo, cujo momento de verificação é indeterminado. Ex.: dar-te-ei o livro quando João falecer).
Dessa forma, fica claro que o elemento que distingue a condição do termo é exatamente a certeza da ocorrência ou não, caso vá ocorrer se trata de termo, ainda que não se possa precisar o momento. Por outro lado, se pode ocorrer, se trata de condição, não interessando o momento em que ocorreria.
	
	
	Ocorrência
	
	
	Certa
	Incerta
	Momento
	
Certo
	Termo
(datas)
	Condição
(se passar no próximo concurso)Incerto
	Termo Incerto
(ocorrência da morte)
	Condição
(se passar em um concurso)
Prazo é o lapso de tempo compreendido entre a celebração do negócio e o advento do termo. A lei estabelece algumas regras relativas à contagem dos prazos:
- salvo disposição em contrário, computam-se excluindo o dia do começo, e incluindo o do vencimento;
- se o vencimento cair em feriado, considera-se prorrogado até o primeiro dia útil seguinte;
- meado considera-se, em qualquer mês, seu 15º dia;
- os prazos fixados em horas contam-se minuto por minuto;
- considera-se ano o período de 12 meses contados do dia do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte;
- considera-se mês o período de tempo contado do dia do início ao dia correspondente do mês seguinte;
- quando no ano ou mês do vencimento não houver o dia correspondente ao do início do prazo, este findará no primeiro dia subseqüente;
- nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes;
- os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
III.4.4.7.4 - MODO OU ENCARGO - cláusula acessória, geralmente relativa a liberalidades - mas também admissível em declarações unilaterais de vontade, como a promessa de recompensa -, que impõe um ônus ou uma obrigação ao beneficiário do ato jurídico. Pode consistir numa prestação a favor de quem o institui, de terceiros ou de nenhuma pessoa em particular.
		
Efeitos:
I - não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no ato, pelo disponente, como condição suspensiva;
II - sua ilicitude ou impossibilidade leva a considerá-lo como não escrito, liberando o ato negocial de qualquer restrição, a não ser que se apure que o encargo foi motivo determinante do negócio, caso em que este se invalida;
III - é compulsório, não podendo ser destacado do negócio. Seu descumprimento pode acarretar a revogação da liberalidade;
IV - se consistir em prestação personalíssima, a morte do devedor sem o devido cumprimento do encargo acarretará a resolução do negócio. Não sendo personalíssima, transmite-se aos sucessores do gravado;
V - podem exigir o cumprimento do encargo seu instituidor, os herdeiros deste ou o beneficiário. Após a morte do instituidor, se o encargo for de interesse público, pode o MP exigir seu cumprimento;
VI - a resolução do negócio jurídico em virtude de inadimplemento não prejudica direitos de terceiros.
III.4.4.8 - DEfeitos dos atos jurídicos
		
III.4.4.8.1 – NOÇÕES
O Código Civil prevê alguns defeitos dos atos jurídicos, que podem ser classificados da seguinte forma:
I - vícios de consentimento - consistem na disparidade entre a declaração de vontade e o efetivo desejo do agente. Trata-se do erro, ignorância, dolo, coação, lesão e estado de perigo;
			
II - vícios sociais - consistem numa manifestação de vontade que, embora de acordo com o efetivo desejo dos agentes, afigura-se dissociada da lei ou da boa-fé, infringindo o direito e prejudicando terceiros. Trata-se da fraude contra credores.
	
Em todos esses casos o ato se torna anulável, sendo de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, a contar, no caso de coação, do dia em que ela cessar e, nos demais casos, do dia em que se realizou o negócio jurídico.
III.4.4.8.2 - Erro ou ignorância - Erro é a falsa idéia da realidade e ignorância é o total desconhecimento acerca de algo, sendo ambos capazes de conduzir o declarante a manifestar sua vontade de maneira diversa da que manifestaria se porventura tivesse o correto conhecimento da realidade. O legislador equiparou o erro e a ignorância nos seus efeitos jurídicos.
I - Erro substancial ou essencial - é o que recai sobre a natureza do negócio (o agente quer praticar um ato, mas pratica outro. Ex.: recebe a título de doação, quando, na verdade, se trata de compra e venda), o objeto principal da declaração (o objeto do negócio não é o pretendido pelo agente. Ex.: adquire acreditando tratar-se de certo imóvel localizado na capital, quando, na verdade, se trata de imóvel situado em cidade interiorana), a algumas das qualidades a ele essenciais (o objeto não apresenta alguma das qualidades essenciais que o agente imaginava. Ex.: adquire candelabros prateados acreditando serem de prata, quando, na verdade, não o são), a identidade ou a qualidade essencial da pessoa, a quem se refira a declaração de vontade (a pessoa a quem se refere a declaração de vontade não possui a identidade física ou moral que o agente imaginava e sem a qual não teria praticado o ato. Ex.: faz doação a alguém acreditando ser quem lhe salvou a vida, quando, na verdade, isso não ocorreu) ou a vigência ou interpretação de norma de direito, desde que não implique em recusa à aplicação da lei e seja o motivo único ou principal do negócio (ex. contratação da importação de mercadoria cujo ingresso no território nacional não é admitido legalmente). Somente o erro substancial acarreta a anulação do ato jurídico. Exige-se, ainda, que seja ele escusável (é o erro justificável, tendo em vista as circunstâncias do caso), real (que dele decorra prejuízo para o interessado) e reconhecível pela outra parte (que pudesse ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio).
II - Erro acidental - diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa, ou do objeto. Não acarreta a anulação do ato. “O erro de indicação da pessoa, ou coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou a pessoa cogitada”.
III - Erro de fato - recai sobre circunstâncias de fato.
IV - Erro de direito - recai sobre a existência de uma norma jurídica, podendo se caracterizar pelo seu desconhecimento, por seu falso conhecimento ou por sua interpretação errônea.
V - Erro quanto ao fim colimado (falso motivo) - “O falso motivo só vicia a declaração de vontade, quando expresso como razão determinante”.
Observações:
- A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
- O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Com essa conduta, afasta-se o prejuízo da pessoa que agiu em situação de erro e, conseqüentemente, o caráter real desse defeito.
- O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
- INTERESSE NEGATIVO - Leciona Sílvio de Salvo Venosa: “anulação por erro redunda em situação toda especial, ou seja, a responsabilidade é exatamente daquele que pede a anulação do negócio, já que é o único responsável por sua má destinação do mesmo. Seria sumamente injusto que o declaratário que não errou, nem concorreu para o erro do declarante, arcasse com duplo prejuízo, duplo castigo: a anulação do negócio e a absorção do prejuízo pelas importâncias a serem pagas ou devolvidas, conforme o caso, além dos ônus da sucumbência processual. Devem, portanto, os juízes atentar para essa importante particularidade ao decretar a anulação do negócio por erro”. No mesmo sentido, Maria Helena Diniz ressalta que “tem-se observado com razão, que basta o erro de uma das partes para que o negócio seja anulável. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir os danos que causar à outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu consentimento”. Complementando a análise da questão, Carlos Roberto Gonçalves esclarece: “O Código alemão prevê, para esses casos,que a doutrina chama de ‘interesse negativo’, uma compensação para o contratante que não concorreu para o erro. O Código Civil brasileiro não prevê a hipótese, mas ela decorre dos princípios gerais de direito, especialmente o que protege a boa-fé”. Tais ensinamentos afiguram-se adequados diante do Código Civil de 1916. Todavia, em face do novo Código Civil, devem ser objeto de uma releitura, uma vez que, agora, o erro somente é causa de anulação do negócio jurídico se for no mínimo reconhecível pelo outro contratante, segundo o parâmetro do homem médio. Logo, não há mais que se falar em responsabilidade exclusiva do contratante que agiu em situação de erro pela anulação do ato. Não bastasse isso, o novo Código confere ao destinatário da declaração proveniente de erro o direito de evitar a anulação do negócio jurídico, desde que se ofereça para executá-lo na conformidade da vontade real do manifestante, o que leva em conta a ausência de dolo na conduta daquele. 
III.4.4.8.3- DOLO - artifício ou expediente astucioso, utilizado para induzir alguém a praticar um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Distingue-se do erro, porque neste o engano é espontâneo, enquanto no dolo é provocado.
		
Espécies de dolo:
I - dolus bonus (comportamento lícito e tolerado, que não induz anulabilidade; é o dolo menos intenso; ex.: exagero do vendedor nas qualidades do bem que está vendendo) e dolus malus (é o dolo mais intenso e que induz anulabilidade);
II - dolus causam ou principal (É o que dá causa ao negócio, que não se realizaria de outro modo. Acarreta a anulabilidade do ato.) e dolus incidens ou acidental (É o que acarreta a prática do ato em condições mais onerosas ou menos vantajosas, sendo que, no caso de sua ausência, o ato se realizaria, embora por outro modo. Acarreta apenas a obrigação de reparar o dano.);
III - dolo positivo (consiste numa conduta comissiva) e negativo (consiste numa conduta omissiva). Nos negócios jurídicos bilaterais o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela se não teria celebrado o contrato;
IV - dolo de terceiro - é o praticado por terceira pessoa que não seja parte no negócio jurídico. Pode o negócio jurídico ser anulado por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou;
V - dolo de representante - o dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele pelas perdas e danos. Cabe ao representado o direito de ajuizar ação regressiva;
VI - dolo de ambas as partes - se ambas as partes procederam com dolo, nenhuma pode alegá-lo, para anular o negócio jurídico, ou reclamar indenização.
III.4.4.8.4 - COAÇÃO - pressão física ou moral exercida sobre a pessoa, a família, os bens ou a honra de um contratante, para obrigá-lo ou induzi-lo a praticar um ato. Pode ser física (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva). No primeiro caso, o ato é nulo para alguns autores e inexistente para outros, pois implica na ausência total de consentimento. No segundo caso, o ato é anulável, pois resta mantida uma liberdade relativa para a vítima.
Requisitos:
1 - deve ser causa determinante do ato;
2 - deve incutir no paciente fundado temor;
3 - o temor deve se referir a dano atual ou iminente;
4 - o dano deve ser grave ou considerável. Não mais se exige que o dano seja igual, pelo menos, ao receável do ato extorquido;
5 - o dano deve recair sobre a pessoa ou os bens do paciente, ou ainda sobre sua família. Admite-se, excepcionalmente, que o dano ameaçado recaia sobre terceiro (Ex.: noivo, amigo etc.) e sobre o próprio coator (Ex.: filho que ameace suicidar, caso o pai não pratique determinado ato), desde que se prove que a ameaça foi suficiente para viciar o consentimento;
6 - a ameaça deve ser injusta.
Observações:
- Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito (eis que deve ser ela injusta), nem o simples temor reverencial (receio de desgostar pessoas a quem se deve obediência e respeito).
- Ao se apreciar a coação, deve-se ter em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias, que lhe possam influir na gravidade.
- Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 
III.4.4.8.5 - ESTADO DE PERIGO – Trata-se de defeito do ato jurídico previsto no novo Código Civil, caracterizando-se “quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”. Exemplo: pessoa que se está afogando e, desesperada, promete toda sua fortuna para ser salva. O novo Código ainda admite que “tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias”.
III.4.4.8.6 - LESÃO - Segundo Caio Mário da Silva Pereira, “a lesão qualificada ocorre quando o agente, premido pela necessidade, induzido pela inexperiência ou conduzido pela leviandade, realiza um negócio jurídico que proporciona à outra parte um lucro patrimonial desarrazoado ou exorbitante da normalidade”�.
Embora tal vício não estivesse expresso no Código Civil de 1916, inúmeros doutrinadores� vinham reconhecendo sua admissibilidade em face do ordenamento jurídico pátrio, notadamente diante do art. 4º, “b”, da Lei da Economia Popular (Lei nº 1.521/51). Esse dispositivo assim preceitua: “Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida”.
Note-se que a caracterização da aludida lesão (lesão usurária) pressupunha a presença de dois requisitos: um objetivo, que é o lucro exagerado; e outro subjetivo, denominado dolo de aproveitamento, que é o aproveitamento consciente da premente necessidade, inexperiência ou leviandade do outro contratante.
A lesão usurária, conforme entendimento majoritário, gerava apenas a anulabilidade do ato jurídico, tanto que poderia ser sanada pela complementação da quantia necessária ao restabelecimento do equilíbrio entre as prestações de cada contratante. Ademais, aplicava-se, ordinariamente, apenas aos contratos comutativos, já que os aleatórios, por sua própria natureza, envolvem um risco. Entretanto, era também admissível nos contratos aleatórios em determinadas situações.
Caio Mário da Silva Pereira entendia que ela não se qualificava nem como vício de consentimento, nem como vício social, sendo denominada por alguns de vício excepcional.
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 51, IV, absorveu o instituto da lesão no que tange às relações de consumo, com a vantagem de não subordinar sua caracterização a qualquer tarifamento da desproporcionalidade entre as prestações das partes.
O novo Código Civil disciplina a lesão da seguinte forma:
“Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
 § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.”
Como se vê, não se trata da antiga lesão usurária que exigia dolo de aproveitamento, mas, sim, do que a doutrina vem denominando lesão qualificada ou especial.
III.4.4.8.7 – FRAUDE CONTRA CREDORES - “Prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam o seu patrimônio, com o escopo de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios” (MHD).
Elementos:
I - objetivo (eventus damni) - ato prejudicial ao credor;
II - subjetivo (consilium fraudis) - intenção de prejudicar do devedor ou deste aliado a terceiro. Para WBM não é necessária a má-fé, bastando o conhecimento de que do ato advirão prejuízos para os credores. Nos casos de transmissão gratuita de bens e de remissão da dívida não se exige a existência de má-fé para a anulação do ato.
Negócios jurídicos em que pode ocorrer a fraude:
I - negócios de transmissão gratuita de bens ou de remissão de dívida - Tais atos, quando praticados pelo devedor que já se encontre em situação de insolvência, ou por eles seja reduzido a tal situação, ainda quando o ignore, podem ser anulados pelos credores quirografários, que já o eram ao tempo daqueles atos, como lesivos dos seus direitos. Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. Não se exige má-fé.
II - contratos onerosos - Quando praticados pelo devedor insolvente, desde que a insolvência seja notória ou presumida (se houver motivo para ser conhecida do outro contratante). Se o preço ainda não houver sido pago e se for aproximadamente o corrente (preço justo), o adquirente desobrigar-se-á, desde que o deposite em juízo, com citação editalícia de todos os interessados. Se o preço ajustado for inferior ao corrente, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
III - pagamento antecipado de dívidas - o credor quirografário que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
IV - outorga de garantias reais - presumem-se fraudatórios dos direitos de outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. 
Presumem-se de boa-fé e valem, os negócios ordinários, indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
A fraude contra credores é atacável através de ação pauliana ou revocatória�, cujos pressupostos são os seguintes:
a) ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento;
b) ser o devedor insolvente ou ter sido reduzido a esta situação pela liberalidade praticada;
c) provocação de prejuízo ao autor;
d) intenção de fraudar, presumida pela consciência do estado de insolvência (exceto no caso de atos de transmissão gratuita de bens e de remissão de dívidas);
e) deve ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta e os terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé (litisconsórcio passivo necessário).
 Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Se os negócios anulados tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, anticrese, ou penhor, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
Distingue-se a fraude contra credores da fraude à execução pelas seguintes razões, entre outras:
1 – a última exige para a sua caracterização a existência de ação em curso contra o devedor, enquanto o mesmo não ocorre em relação à primeira;
2 – a primeira gera a anulabilidade do ato, enquanto a segunda, apenas a sua ineficácia em relação ao credor;
3 – a primeira deve ser pronunciada em ação pauliana, enquanto a segunda pode ser reconhecida incidentalmente nos próprios autos da execução;
4 – em alguns casos a fraude contra credores depende de demonstração de má-fé, enquanto na fraude à execução a malícia é irrelevante.
III.4.4.9 – INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
III.4.4.9.1 - Conceito - sanção imposta pela lei, que determina a privação dos efeitos jurídicos do negócio praticado com inobservância das disposições legais.
	III.4.4.9.2 - Classificação:
	
Nosso Código Civil cogita apenas de duas espécies de atos inválidos: os nulos e os anuláveis. Entretanto, parte da doutrina admite uma terceira espécie, qual seja a dos atos inexistentes.
I - Inexistência� - Negócios inexistentes “são os que não reúnem os elementos de fato que sua natureza ou seu objeto supõem, e sem os quais é impossível conceber a sua própria existência”. A regra é a de que os negócios inexistentes não produzem qualquer efeito jurídico e, por isso, independem de declaração judicial, sendo imprescritíveis, por não se convalidarem. Entretanto, sempre que houver necessidade de produção de provas ou nos casos de documentação formal e aparentemente perfeita, há necessidade do ajuizamento de ação judicial de natureza declaratória.
II - Nulidade (nulidade absoluta) – De acordo com o Código Civil, o negócio jurídico é nulo quando:
celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito. É preciso, neste caso, que o motivo determinante ilícito seja comum a ambas as partes, não bastando que seja do conhecimento de apenas um dos contratantes. Sílvio de Salvo Venosa cita o seguinte exemplo: “a compra e venda de um lupanar possui em si a finalidade ilícita. O financiamento, conhecido de ambas as partes, com a finalidade de adquirir esse conventilho ingressa no motivo determinante que tornará o negócio nulo”;
não revestir a forma prescrita em lei;
for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
a lei taxativamente o declarar nulo (nulidade textual ou expressa), ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção (nulidade virtual ou implícita).
Também será nulo o negócio jurídico simulado. A simulação é a “declaração enganosa de vontade, visando produzir efeitos diversos dos ostensivamente indicados”.
Caracteres:
I - falsa declaração bilateral de vontade;
II - a vontade exteriorizada diverge da interna ou real, não correspondendo à intenção das partes;	
III - é sempre concertada com a outra parte, sendo intencional o desacordo entre a vontade interna e a declarada;
IV - é feita no sentido de iludir terceiro.
A simulação pode ser:
I - absoluta (a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não havendo a intenção de realizar negócio algum) ou relativa (a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico fictício - contrato aparente - , enquanto, na realidade, deseja-se realizar outro negócio - contrato real -, diverso do primeiro). A simulação relativa pode ser: a) subjetiva - se a parte contratante não for o indivíduo que tira proveito do negócio. Quando o negócio jurídico aparentar conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; b) objetiva - relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um dos elementos contratuais. Quando o negócio jurídico contiver declaração, confissão, condição, ou cláusula não verdadeira ou quando os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados;
O Código Civil de 2002 não mais distingue entre simulação inocente e maliciosa, pois ambas produzem o mesmo efeito: nulidade do negócio simulado e a subsistência do dissimulado, se válido for na sua substância e na forma
* Observações:
I - Dissimulação não é o mesmo que simulação, pois nesta se quer enganar sobrea existência de uma situação não verdadeira, enquanto naquela simplesmente se oculta de outrem uma situação existente. Todavia, a simulação relativa se destina a encobrir um negócio dissimulado. Diante disso, o Código Civil estabelece que, apesar de nulo o negócio simulado, subsiste o que se dissimulou, se válido for na sua substância e na forma.
II - Reserva mental é a emissão de uma intencional declaração não querida em seu conteúdo, nem em seu resultado, tendo por único objetivo enganar o declaratário. Equipara-se à simulação, em seus efeitos jurídicos, no caso de ser bilateral. Caso contrário (se for unilateral), não pode ser invocada pelo declarante para invalidar o negócio. A esse respeito, o Código Civil estabelece que “a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”.
III – Na vigência do Código Civil de 1916, os contraentes não poderiam alegar, ou requerer em juízo quanto à simulação maliciosa, em litígio de um contra o outro, ou contra terceiros. Tratava-se de aplicação do princípio de que ninguém pode ser ouvido em juízo alegando a própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). Entretanto, diante do Código Civil de 2002, a regra não mais se afigura aplicável, uma vez que a simulação passou a ser causa de nulidade absoluta do negócio jurídico, razão pela qual pode ser alegada por qualquer interessado, inclusive por aqueles que realizaram o negócio simulado.
 IV – Apesar de ser nulo o negócio simulado, ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do aludido negócio. Trata-se, pois, de exceção à regra de que a declaração de nulidade produz efeitos ex tunc.
Efeitos da nulidade absoluta:
- pode ser alegada por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público (quando lhe couber intervir), produzindo efeitos erga omnes;
- pode ser conhecida de ofício pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e a encontrar provada;
- não admite confirmação pelas partes, nem suprimento pelo juiz;
- a declaração judicial produz, em regra, efeitos ex tunc, salvo em hipóteses excepcionais, como no caso de casamento putativo;
- em regra, é imprescritível, não convalescendo pelo decurso de tempo. Maria Helena Diniz, entretanto, alerta que “as exceções se dão quando expressamente estabelecido pela lei (CC, arts. 1.548, 1.549) ou quando o negócio jurídico for de fundo patrimonial (RT, 459:196; 429:96; 417:161 e 466:93), caso em que o prazo prescritivo será de 10 anos, se a lei não estipular prazo menor, por força do art. 205 do Código Civil (RT, 432:81; 433:93)”;
- admite conversão, vez que, se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvesse previsto a nulidade. Ex.: “poder-se-á ter a transformação de um contrato de compra e venda, nulo por defeito de forma, num compromisso de compra e venda” (MHD).
III - Anulabilidade (nulidade relativa) - De acordo com o Código Civil, o negócio jurídico é anulável quando:
celebrado por pessoa relativamente incapaz;
viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores;
a lei expressamente o declarar.
Efeitos da anulabilidade (nulidade relativa):
- pode ser alegada somente pelos interessados e somente aproveita aos que a alegarem, salvo solidariedade ou indivisibilidade;
- não pode ser conhecida de ofício pelo juiz;
- somente produz efeitos depois de julgada por sentença;
- a declaração judicial produz efeitos ex nunc;
- submete-se aos seguintes prazos decadenciais: 
quatro anos, contados, no caso de coação, do dia em que ela cessar, no caso de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico, e no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade;
 dois anos, a contar da conclusão do ato, quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação ;
- admite confirmação pelas partes, que retroage à data do ato, ressalvados os direitos de terceiros. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Pode ser tácita, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que a inquinava (execução voluntária de negócio anulável). Importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que dispusesse o devedor contra o negócio confirmado. Quando a anulabilidade do negócio resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente.
Observações:
I - A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico, sempre que este puder provar-se por outro meio.
II – Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável.
III - A invalidade da obrigação principal implica a das acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.
IV - O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade, se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
V - Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga.
VI - Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
Há autores que se referem à ineficácia do negócio jurídico, a qual não se trata de invalidade, mas, sim, da não produção de efeitos em virtude, principalmente, da existência de uma condição suspensiva ainda não implementada ou de um termo inicial ainda não verificado.
III.4.5 - ATO ILÍCITO�
	
III.4.5.1 - Conceito - É o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo individual (MHD). Adotando a teoria do abuso do direito, que será analisada em direito das obrigações, o Código Civil ainda estabelece que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
III.4.5.2 - Ato ilícito e infração penal - O ato ilícito tem o mesmo fundamento ético da infração penal (infração a um dever preexistente e a imputação do resultado à consciência do agente), distinguindo-se desta, eis que enquanto o primeiro consiste na ofensa ao interesse privado de alguém, a segunda se caracteriza numa violação de norma imprescindível à existência da sociedade.
III.4.5.3 - Ato ilícito e negócio ilícito - O ato ilícito distingue-se do negócio ilícito, pois este é punido com a invalidade, ao passo que aquele é reprimido com a obrigação de indenizar. Segundo Orlando Gomes, é ilícito o negócio quando sua causa ou seu motivo determinante não forem conformes ao direito, ou quando o objeto e o comportamento das partes não forem idôneos.
III.4.5.4 - Elementos:
	
- Prática pelo agente de ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência - culpa em sentido amplo, que abrange o dolo (violação intencional de um dever jurídico) e a culpa em sentido estrito (violação não intencional de um dever jurídico, por imprudência, imperícia ou negligência). O agente deve ter conhecimento da ilicitude do seu ato. Excepcionalmente, a legislação contempla hipóteses de responsabilidade objetiva (independente de culpa). A esse respeito, preceitua o art. 927, parágrafo único, do Código Civil: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
Classificação da culpa (segundo MHD):
I - Em função da natureza do dever violado: contratual (se taldever se fundar num contrato) ou extracontratual ou aquiliana (se tal dever decorre de preceito de direito);
II - Quanto à graduação: grave (“quando, dolosamente, houver negligência extrema do agente, não prevendo aquilo que é previsível ao comum dos homens”), leve (“a lesão de direito seria apenas evitável com atenção ordinária”) e levíssima (“se a falta for evitável por uma atenção extraordinária, ou especial habilidade e conhecimento singular”. Essa distinção, geralmente, não tem relevância na fixação do valor da indenização por danos materiais, pois “a indenização mede-se pela extensão do dano”. Entretanto, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, pode o Juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. A extensão do dano também influi na fixação do valor da indenização por danos morais;
III - Em relação aos modos de sua apreciação: in concreto (quando se examina a imprudência ou a negligência do agente no caso concreto) ou in abstrato (“quando se faz a análise comparativa da conduta do agente com a do homem normal”);
IV - Quanto ao conteúdo da conduta culposa: in committendo (se houver a prática de um ato positivo), in omittendo (se houver uma omissão), in eligendo (decorre da má escolha daquele a quem se atribui a prática de um ato ou o adimplemento de uma obrigação), in vigilando (advém da falta de atenção para com o comportamento de outra pessoa, por cujo ato ilícito o responsável deve responder) e in custodiendo (é a falta de atenção ou cautela relativamente a pessoa, animal ou objeto, sob os cuidados do agente).
		
- Ocorrência de um dano - Pode ser moral ou patrimonial. Este, por sua vez, compreende danos emergentes (o que a vítima perdeu) e lucros cessantes (o que a vítima deixou de ganhar). “Se o dano material e o moral decorrerem do mesmo fato serão cumuláveis as indenizações” (Súmula 37 do STJ).
- Nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente - O dano deve decorrer da conduta do agente. Assim, exclui-se a responsabilidade, se o dano decorreu de culpa exclusiva da vítima, de caso fortuito ou força maior.
III.4.5.5 - ConseqüÊncia - A principal conseqüência do ato ilícito é a obrigação de reparar o dano.
	III.4.5.6 - Atos lesivos que não são ilícitos - Alguns atos lesivos não são ilícitos, tais como:
- os praticados em legítima defesa (“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem” - art. 25 do CP) ou no exercício regular de um direito;
			
- a deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as circunstâncias tornarem o ato absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo (estado de necessidade). Apesar de o ato praticado em tal situação não ser ilícito, encontra-se obrigado o agente a indenizar a vítima, se esta não for culpada pelo perigo. Neste caso, o autor do dano terá direito regressivo contra o terceiro causador do perigo e contra o terceiro em defesa de quem se causou o dano.
III.4.6 - PRESCRIÇÃO
	
III.4.6.1 - Conceito -“Extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso” (Câmara Leal). O Código Civil estabelece que a prescrição é causa extintiva da pretensão, que nasce quando violado o direito, atingindo tanto a ação como a exceção relacionada ao mesmo.
III.4.6.2 - Requisitos:
	
- existência de uma pretensão, que possa ser exercida através de uma ação ou exceção (defesa);
- inércia de seu titular;
- decurso de certo lapso de tempo;
- ausência de algum fato ou ato a que a lei confere eficácia impeditiva (impede o curso da prescrição), suspensiva (paralisa temporariamente o curso da prescrição e, superada, o prazo prescricional continua a correr pelo tempo restante) ou interruptiva de curso prescricional (inutiliza o lapso prescricional já decorrido e, superada, o prazo prescricional recomeça a correr por inteiro da data do ato que a interrompeu ou do último ato do processo que a interromper). A interrupção da prescrição somente pode ocorrer por uma única vez.
		
Exceção quanto às regras pertinentes à interrupção: “A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzido aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo” (Súmula 383 do STF).
As principais causas impeditivas e suspensivas da prescrição encontram-se elencadas nos arts. 197 a 201 do Código Civil. Já as principais causas interruptivas da prescrição encontram-se previstas no art. 204 do Código Civil.
 
III.4.6.3 - Prescrição aquisitiva (usucapião) e extintiva ou liberatória (extingue a ação). São institutos diversos. Entretanto, aplicam-se ao usucapião� as causas que obstam, suspendem, ou interrompem a prescrição. 
III.4.6.4 - Normas gerais:
- Admite renúncia expressa ou tácita (quando decorre de atos do interessado, que se presumem incompatíveis com a prescrição), que só vale depois de consumada a prescrição e desde que não haja prejuízo para terceiros.
- A prescrição pode ser alegada, em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.
- As pessoas naturais e as pessoas jurídicas sujeitam-se aos efeitos da prescrição.
- Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação regressiva contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
- A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. No caso de o sucessor ser absolutamente incapaz, aplica-se a causa impeditiva e suspensiva da prescrição prevista no art. 198, I, do Cód. Civil.
- Até a promulgação da Lei 11.280/2006, o juiz não poderia suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecesse a absolutamente incapaz. De igual modo, não podia o Ministério Público, atuando como custos legis, alegar a prescrição, exceto a favor de pessoa absolutamente incapaz. A Lei em comento, no entanto, revogou expressamente o art. 194 do Código Civil que trazia tal proibição, portanto, desde maio de 2006, com o término do período de vacatio legis da Lei 11.280, e sua conseqüente entrada em vigor, o juiz pode conhecer da prescrição de ofício, independentemente se beneficiar a incapaz ou não.
- Com o principal prescrevem os direitos acessórios.
- A prescrição em curso não acarreta direito adquirido, podendo seu prazo ser modificado por norma posterior�. Contudo, Carlos Roberto Gonçalves esclarece: “Com respeito à retroatividade da lei prescricional, preleciona Câmara Leal: ‘Estabelecendo a nova lei um prazo mais curto de prescrição, esse começará a correr da data da nova lei, salvo se a prescrição iniciada na vigência da lei antiga viesse a completar-se em menos tempo, segundo essa lei, que, nesse caso, continuaria a regê-la, relativamente ao prazo’ (Prescrição e decadência, 4. ed., Forense, p. 90, n. 67). ... Quando a lei nova estabelece um prazo mais longo de prescrição, a consumação se dará ao final desse novo prazo, ‘contando-se, porém, para integrá-lo, o tempo já decorrido na vigência da lei antiga’ (Câmara Leal, Prescrição e decadência, cit., p. 91)”. O Código Civil de 2002 contempla a seguinte regra de transição: “Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada” (art. 2.028).
		
- O curso do prazo prescricional começa a correr, em regra, com o surgimento da pretensão, ou melhor, da data em que a ação poderia ser proposta. Nas obrigações de dar ou de fazer: no momento em que o devedor deixar de cumprir; nas obrigações de não fazer: no momento em que o obrigado faz o que se encontrava obrigado a deixar de fazer; no que concerne aos direitosreais: no momento da violação do direito; nas obrigações condicionais: no momento em que se realiza a condição suspensiva etc.
	III.4.6.5	- Prazos:
	
Prescrição ordinária ou comum - 10 anos.
	
Prescrição especial - aquela que está sujeita a prazos mais exíguos previstos em lei.
A execução prescreve no mesmo prazo que a ação e a exceção no mesmo prazo que a pretensão.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
III.4.6.6 - Ações imprescritíveis - as ações são, em regra, prescritíveis. No que tange às imprescritíveis, a prescrição alcança seus efeitos patrimoniais. Segundo Maria Helena Diniz, as ações são imprescritíveis, dentre outros casos, quando tiverem por objeto direitos da personalidade, estado da pessoa, direito à pensão alimentícia etc. Para Agnelo Amorim Filho, são imprescritíveis as ações constitutivas sem prazo especial de exercício fixado em lei, bem como todas as ações declaratórias.
III.4.7 - DECADÊNCIA
	
III.4.7.1 - Conceito - “extinção do direito pela inação de seu titular, que deixa escoar o prazo legal ou voluntariamente fixado para o seu exercício”. Extingue, indiretamente, a ação correspondente ou impede seu nascimento.
III.4.7.2 - Regras: 
		
- Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. Entretanto, a decadência não corre contra os absolutamente incapazes e, uma vez iniciado o seu prazo, é obstada apenas pelo exercício do direito ou da ação. Segundo nota de Theotônio Negrão, citando julgado do STJ, a regra constante do art. 220 do CPC deve ser interpretada com adaptações, de forma que sua aplicação enseja a seguinte leitura: “o direito considerar-se-á exercido” (art. 219) e “haver-se-á por não exercido o direito” (Art. 219, §4º). O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 26, §2º, prevê duas hipóteses em que a decadência do direito de reclamar por vícios de fornecimento de produtos ou prestação de serviços resta obstada.
- Corre contra todos, exceto contra os absolutamente incapazes.
- O prazo decadencial estabelecido em lei é irrenunciável e, portanto, apreciável de ofício pelo juiz. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
- O prazo decadencial estabelecido pelas partes relativamente a direito disponível pode ser renunciado, razão pela qual não pode ser apreciado de ofício, cabendo à parte a quem aproveita alegá-la em qualquer grau de jurisdição.
- Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação regressiva contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à decadência, ou não a alegarem oportunamente.
		
III.4.7.3 - Prazos - podem ser previstos em lei ou convencionados pelas partes se não houver previsão legal. Só há prazos especiais.
III.4.7.4 - Distinção entre prescrição e decadência
	Prescrição
	Decadência
	
Acarreta a extinção da pretensão, o direito continua a existir, tanto que se considera válido o pagamento de dívida prescrita, cuja restituição não pode ser reclamada – art. 882, CC;
	
Acarreta a extinção do próprio direito potestativo;
	O prazo prescricional decorre apenas da lei, não há prazo prescricional voluntário nem tal prazo pode ser alterado pelas partes.
	O prazo decadencial pode ser estabelecido pela lei ou pela vontade unilateral ou bilateral das partes.
	Na prescrição, o direito preexiste à ação, pois esta pressupõe violação de direito.
	Na decadência, ambos – direito e ação - nascem num mesmo momento.
	A prescrição não corre contra algumas pessoas que se encontrem em determinadas situações previstas em lei e pode ser suspensa, impedida ou interrompida em certos casos.
	A decadência, em regra, corre contra todos, salvo contra os absolutamente incapazes, não admitindo suspensão ou interrupção.
	A prescrição, após sua consumação, pode ser renunciada pelas partes;
	A decadência decorrente de prazo legal não pode ser renunciada pelas partes;
	Não existe prescrição convencional;
	A decadência convencional pode ser renunciada;
	Possui prazos gerais e especiais
	Somente tem prazos especiais e expressos;
	Só as ações condenatórias podem sofrer os efeitos da prescrição, pois são as únicas que se destinam a proteger os direitos que irradiam pretensões (apenas os direitos a uma prestação são suscetíveis de violação)
	Atinge as ações constitutivas com prazo para exercício estabelecido em lei, pois se referem a direitos sem pretensão ou sem prestação que se caracterizam pelo fato de não poderem ser violados, uma vez que tendem basicamente à alteração de um estado jurídico preexistente
B I B L I O G R A F I A
- AMORIM Fº, Agnelo. Critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis. Revista dos Tribunais, 744/725-750;
- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 1º Volume. Teoria Geral do Direito Civil.18ª ed. São Paulo, Saraiva, 2002; id. Código Civil Anotado. 3ª ed. São Paulo, Saraiva, 1997;
- FIÚZA, César. Direito Civil. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2000;
- FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Civil. 27ª ed. São Paulo, Malheiros, 2002;
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Parte Geral. Sinopses Jurídicas. 9ª ed., São Paulo, Saraiva, 2002;
- MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Parte Geral. 35ª ed. São Paulo, Saraiva, 1997;
- NEGRÃO, Theotônio. Código Civil e legislação civil em vigor. 21ª ed. São Paulo,Saraiva, 2002; id. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 33ª ed. São Paulo, Saraiva, 2002;
- NERY Júnior, Nelson e Rosa Maria de Andrade Nery. Novo Código Civil e Legislação Extravagante Anotados; São Paulo, Revista dos Tribunais, 2002;
- PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil; vol. I. 19ª ed. Rio de Janeiro, Foren4se, 1999;
- RAFFUL, Ana Cristina. A Reprodução Artificial e os direitos da Personalidade; São Paulo, Themis Livraria e Editora, 2000.
- RODRIGUES, Sílvio. Direito civil; Parte Geral. 32ª ed. São Paulo, Saraiva, 2002;
- STOLZE, Pablo e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil; 4ª ed. São Paulo, Saraiva, 2004;
- VENOSA, Sílvio de Salvo.Direito Civil; Parte Geral. 2ª ed. São Paulo, Atlas, 2002;
- WALD, Arnoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro; Introdução e Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995.
� Quanto à revogação de mandato, especificamente, o novo Código Civil traz uma exceção, no §1º do art. 1542: “A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos”.
� Há autores, como Sílvio Rodrigues, que encaram a capacidade do agente, a licitude do objeto e a forma prescrita em lei como “pressupostos de validade do ato jurídico”, e não como elementos essenciais.
� Ob. cit., p. 349.
� Dentre eles: Sílvio Rodrigues, Caio Mário da Silva Pereira e Carlos Roberto Gonçalves.
� Súmula 195 do STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”.
�“COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. PROVA INCONTESTE DA MORTE DO PRETENSO COMPRADOR ANTES DA ESCRITURA. ATO INEXISTENTE. VÍCIO CONTAMINADOR DOS SUBSEQÜENTES REGISTROS. RESPONSABILIDADE DO TABELIÃO. Se a pessoa que se diz que comprou e que vendeu estava morta, o negócio jurídico inexiste. O vício contaminador da compra e venda determina o dos conseqüentes registros. ...” (TJDFT, 4ª Turma Cível, APC3643095 DF, Rel.: Carmelita Brasil, decisão de 13/02/1997, DJDF 21/05/1997, p. 10.154.)
� Vide a parte correspondente na apostila relativa a direito das obrigações.
� O vocábulo “usucapião” também é utilizado no feminino, o Código Civil de 2002 o adota como feminino
� Súmula 445 do STF: “A Lei 2.437, de 7.3.55, que reduz prazo prescricional, é aplicável às prescrições em curso na data de sua vigência (1.1.56), salvo quanto

Outros materiais