Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UFFS – UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Seminário Linear 9 ARQUITETURA DA FRAUDE Diane Ghirardo, Karsten Harries e Willian Mcdonough Acadêmicos: Alexander Bavaresco, Amanda Copatti, Débora Merlo, Fernanda Dembinski, Letícia Samujeden e Luis da Silva. História da Técnica da Arquitetura e Urbanismo Prof.ª Natália Pereira Erechim, 05 de dezembro de 2014. ARQUITETURA DA FRAUDE – Diane Ghirardo, Karsten Harries e Willian Mcdonough 1. Introdução A professora e teórica Diane Ghirardo coloca em pauta qual é a real posição da arquitetura, se o de uma arte ou de um serviço? Ela então tece críticas ao período pós- moderno e a forma com que a arquitetura como um serviço se perde e o valor da forma pela forma é enaltecido. Ela expõe também, como a arquitetura se acovarda diante dos problemas da sociedade, tentando manter-se intocável, como se ela não tivesse o papel de interferir na mesma. Ghirardo então critica os teóricos que validam esse tipo de arquitetura, justificando que tais ações prejudicam o aperfeiçoamento da técnica, subjugando-a a uma mera mercadoria de consumo passageiro, colocando a crise de moradias do pós-guerra como um exemplo das decisões questionáveis que a construção tomou, ignorando fatores sócio locais, isolando sua arquitetura em terrenos imaginários. Ela também coloca as ações de Gropius e de outros arquitetos como exemplo da arquitetura que julga correta, em que arquitetos se envolvem na criação de planos diretores em resposta aos problemas arquitetônicos do pós-guerra. A professora propõe a questão da relação tênue entre a arquitetura depender da política e ela interferir na mesma, exemplificando com William Mcdonough e suas questões ambientais: a arquitetura depender de leis e problemáticas do meio ambiente ou ela trabalhar em conjunto para uma melhoria. 2. A Arquitetura da Fraude Por razões inconsciente ou não, alguém que mora no centro de uma cidade, pode viver anos ali e nunca passar por perto de um bairro operário ou de um operário. Como exemplo temos a aristocracia de Manchester, que ao atravessar os bairros operários pode chegar muito antes em casa depois do trabalho, e mesmo passando por praticamente todos esses lugares que não pertencem a classe média eles nem se dão conta da miséria que encontra-se ao seu lado porque ambos os lados da estrada que saem da bolsa de valores são ladeados por lojas e propriedades de classe média ou média baixa. É do interesse dos comerciantes manter o aspecto de limpeza nessas lojas, que mesmo não sendo do mesmo porte das lojas que estão nos centros comerciais da classe media- alta, servem para esconder os casebres que existem atrás delas. E isto é característica de praticamente todas as cidades atualmente. O autor traz este exemplo para mostrar a influencia do capitalismo na construção do espaço. O texto mostra de forma clara a relação entre intenção política, realidade social, e a atividade de construção. Porém mesmo com este estudo e os subseqüentes á ele, não foi o suficiente para influenciar a arquitetura no século XX. A arquitetura, tanto como profissão quanto como disciplina, busca uma posição neutra neste assunto, sem se associar com a indústria da construção ou com as empresas imobiliárias, pois a arquitetura trata-se de uma arte, e como tal deveria fugir disso. 3. A Arquitetura como Arte Willian Curtis fala no seu livro Arquitetura Moderna desde 1900, sobre “foco de interesses nas questões de forma e significado”. Escolhe edifícios que a seu ver são obras primas da arquitetura moderna e faz um balanço do que era e do que vem sendo a arquitetura moderna. Este balanço foi feito de forma equilibrada, ou seja, anulando fatores como ordem política, social e ideológica, de modo a manter-se apenas em seu foco principal, a arquitetura. A atitude de Curtis, de separar as coisas, é a mais difundida nos EUA. Fatores culturais, políticos e sociais são admitidos em análises quando feitos de forma geral, e focaliza de forma clara uma criteriosa análise visual. Alguns edifícios famosos são citados como exemplo de transcenderem além desses fatores, o tempo em que foram erguidos. Canonizar um edifício é sempre complicado. Cada pessoa terá uma linha de pensamento diferente para avaliar a importância deste, um pode valorizar mais a volumetria, outro a complexidade matemática ou até referências passadas. Portanto a crítica formal á um edifício pode ser sempre parecida, uma vez que não se tem tantos critérios a serem julgados. Como Edoardo Percico observou na Itália á meio século atrás, tradicionalistas classicistas e os racionalistas do movimento moderno faziam críticas opostas mas com um consenso em comum. Como ambos eram facistas, preferiam pardes brancas, janelas corridas com colunas e arcos tradicionais. Ou seja, ambas as partes queriam dar um aspecto arquitetônico luxuoso para a burguesia, e um assentamento urbano rigoroso que permitisse facilmente o controle das massas mais pobres. Curtis critica os formalistas (whites) e os informalistas (greys) por se calarem diante da situação da sociedade norte americana na década de 1970. Assim como outros historiadores criticam as idéias utópicas e ingênuas dos primeiros modernistas europeus que colocavam a arquitetura em total oposição aos sistemas políticos e sociais vigentes. As elevadas aspirações de arquitetos modernistas europeus em mudar a sociedade foram muito criticadas, pois eram ingênuas na maioria das vezes e sem estrutura para se consolidar. Até Le Courbousier recebeu duras críticas com sua arquitetura que buscava ser capaz de enfrentar as realidades sociais contemporâneas. 4. A Arquitetura como Moda Há um grande contraste entre reações dos arquitetos contemporâneos à recessão econômica da década de 70 e dos que tiveram que enfrentar a incerteza econômica do pós Primeira Guerra Mundial. Estes arquitetos, entre eles Walter Gropius e Bruno Taut, imaginaram um mundo novo em substituição ao velho mundo anterior à guerra, tentando reformular o papel da arquitetura na sociedade. Contudo, quando a demanda de projetos na década de 70 começou a ficar escassa nos EUA, os arquitetos se entregaram à versões próprias ou recicladas de obras clássicas ou sítios pitorescos pós-clássicos, sempre mais atraentes e abstratas, mas sem pretensão de um mundo melhor. Assim, recusaram completamente a todo e qualquer envolvimento com o mundo real das construções. 5. A Arquitetura como Sentimento Com outra abordagem, Christopher Alexander tenta driblar a armadilha do gosto e da moda, afastando-se do discurso pós-moderno contemporâneo. Alexander sustenta a ideia que “a essência da arquitetura depende do sentimento”, podendo este “sentimento primitivo” – como um telhado íngreme- ser algo simples e natural de construir, se comparado com as formas áridas da arquitetura contemporânea, que são valorizadas por carecerem de sentimento. Para ele, o papel do arquiteto é produzir uma obra harmoniosa, que pareça “totalmente confortável – do ponto de vista físico, emocional e prático”. Assim como os formalistas, esse grupo de arquitetos toma a si o poder de decidir o que deve ser considerado como autêntico, integrado, natural e confortável. Também possuem em comum a busca por uma arquitetura universal e de um padrão universal de valor, bem como atitudes de agressiva hostilidade às posturas críticas que dialogam com o desarmonioso. Dessa forma, o discurso contemporâneo promete não deixar nada intacto, salvo edifícios vazios – superficiais de estilo e substância, sem memórias de uma cultura antiga. 6. A cumplicidade docrítico A responsabilidade pelo cultivo dessas ideias cabe tanto aos críticos quanto a historiadores e arquitetos. Priorizando quase exclusivamente características formais de monumentos isolados, historiadores e críticos diminuem o valer de qualquer outro aspecto. A crítica atual se apropria dos instrumentos já insuficientes da história da arte tradicional, substituindo a análise pela descrição e dando assim, um papel inofensivo e inexpressivo à arquitetura, passível de ser consumido. Os críticos, como árbitros do gosto da sociedade, também ajudam a distribuir recompensas sociais àqueles arquitetos que produzem novas modas, de olho no consumo das elites. Assim, a categoria dos arquitetos parece estar profundamente dividida entre os que encaram sua profissão como arte e como serviço. Qualquer coisa que extrapole as preocupações puramente formais da arquitetura tende a ser transformadas em propaganda de crenças políticas ou em instrumento do conflito de classes e de ideologias rivais. Uma obra banal ou mal construída não causa problemas, mas um trabalho complexo e interessante que todos aplaudem pode ser perturbador. Por vezes usada como uma peça de publicidade explícita, a arquitetura também pode se colocar contra os interesses da classe dominante, ou ainda, ser uma expressão inconsciente, mas não menos real, das realidades e aspirações políticas e sociais. Em um edifício, as considerações estéticas e formais são condicionadas pela cultura, sendo não raro arbitrárias e apenas dois entre os inúmeros fatores que determinam o valor da arquitetura. 7. A Arquitetura e as manobras evasivas A autora afirma que muitas vezes os arquitetos praticam manobras evasivas a fim de afastar-se da responsabilidade da totalidade do termo construção, afirma que o ideal de manter a pureza da arquitetura acaba por encobrir questões de estrutura e crítica. Afirma ainda, que é necessário que estes profissionais analisem problemas gerais que são vinculados a causas sociais e culturais da atualidade. É preciso segundo ela, que este profissional não assuma um papel de ingenuidade, analisando somente formas e sentimentos, criando uma espécie de fantasia em torno de sua obra, mas baseado na realidade. Com base no argumento de que “Somente quando os arquitetos [...] aceitarem a responsabilidade pela atividade de construir [...] teremos condições de produzir uma arquitetura substantiva” (p.422) a autora demonstra que é preciso pensar a arquitetura em sua totalidade, impactos arquitetônicos e ambientais, mas também em seus impactos sociais e de inserção na cultura das diferentes comunidades. Karsten Harries, evidencia a importância de pensar uma arquitetura ética, vendo na arquitetura moderna a responsabilidade pela “degradação da vida contemporânea”, entendendo que esta trouxe a perda do lugar e da comunidade, condenando a ideia de “máquinas de morar (Le Corbusier)”. Estabelece a importância do Habitar na condição de humanos, consolidando uma escala adequada e um caráter na Arquitetura, que seja capaz de provocar e ser funcional, tornando-se assim desejada. 8. A Função da ética da Arquitetura - Karsten Harries “Os homens sempre tentaram superar as distancias, tornar as coisas mais próximas,...” é o que diz Karsten, e completa afirmando que somente o homem moderno conseguiu este feito, que somente ele pode comparar-se a Deus, ao fato de ele ter conseguido aproximar o que esta longe, de acabar com as distancias. No entanto, essa divindade (poder) que o “fortaleceu” também é o ameaça, o ameaça em situações de desemparo e solidão. O homem moderno acabou com a distancia através da revolução nos meios de transporte e comunicações, com essa revolução o homem passou a sentir o mundo como sua casa, senti-lo como nunca sentiu antes. Karsten cita Marshall numa frase: “a ‘aldeia global’ é enganosa”, ou seja, com a eliminação das distancias e os artificio do distanciamento acaba-se também voltando o homem contra a sua intimidade, pois para haver intimidade deve haver distancia. Assim ele conclui que eliminando uma a outra também é eliminada. Essa revolução da qual ele fala acaba por tornar todos os lugares com o mesmo valor e identidades semelhantes, estamos num pais, no entanto, há resquícios de outros países e outras culturas nele, essa perda de valor de um lugar acaba por deslocar o ser humano, a facilidade que ele possui em substituir um lugar por outro é uma característica desse deslocamento. Porém, o homem se encontra preso no mundo, o seu envolvimento com o lugar irá estabelecer o grau de proximidade e distancia entre ele e o que ele chama de “casa”. Ao observar o ambiente e perceber o espaço, o homem se dirige à objetividade que abrirá a sua percepção do lugar. Esse deslocamento através da percepção do espaço traz como recompensa a liberdade para o homem, uma condição de desabrigo, pois para o autor “o puro sujeito não pode localizar-se”. Essa equidistância que o autor cita, transmite a ideia de que não há lugar que o homem possa chamar de “casa”. 9- Projeto, ecologia, ética e a produção das coisas – Willian Mcdonough Eliade fala sobre o terror da história, do mesmo modo como podemos falar sobre o pavor do espaço, pois, tal como a homogeneidade do tempo infinito, a do espaço infinito torna a vida contingente e sem significado. Temos necessidade de limites. Tempo e espaço devem ser moldados de forma a destinar ao homem um hábitat. A reflexão pura é incapaz de descobrir ou estabelecer esse lugar porque o homem reflexivo é, como tal, um ser deslocado. A arquitetura teve, desde seus primórdios, uma função ética a exprimir e inclusive a instituir o ethos humano- o uso da palavra edificar, alude a uma relação ente construir e a ética. A arquitetura do barroco, última a preservar essa função ética, mas os últimos dois séculos abandonaram essa preocupação. Só muito recentemente a gravidade desse abandono foi reconhecida por historiadores da arquitetura.Tal como a linguagem, a arquitetura é, por um lado, um produto da atividade humana enquanto, por outro, ajuda a criar o ambiente que configura a atividade do homem. Desde o iluminismo temos dificuldade de levar a serio a função ética da arquitetura. Essa dificuldade é uma consequência da ênfase dada à razão e à objetividade. Conforme a razão triunfa na ciência e na tecnologia, a arte se retira da totalidade da vida e afirma sua autonomia como arte pela arte, ou se converte em mero entretenimento e decoração. Entre todas as artes, a arquitetura é a única que não pode tomar parte nesse retraimento. O mundo a obriga a pôr-se a serviço dele. Presa entre a engenharia e a arte, a arquitetura moderna não conseguiu conciliar de modo persuasivo e duradouro as razões pragmático-tecnológicas e as razões estéticas. Norberg-Schulz sugeriu que a situação confusa da arquitetura de hoje “faz com que a formação seja insatisfatória”.Para determinar o que esta no ato de construir é preciso entender, antes de mais nada, o que significa habitar. Nós precisamos descobrir a importância das vizinhanças e das regiões, bem como de uma arquitetura que as articule e determine sua unidade. Somente quando deixarmos de pensar no ambiente físico como um material a ser manipulado e controlado, e nos abrimos, e nós linguagem natural, do lugar e do tempo, estaremos em condições de captar os sinais que podem levar ao restabelecimento do ethos perdido de ambientes que possibilitarão uma verdadeira habitação. Mas não existe ninguém mais apto a contribuir para esse restabelecimento do que o arquiteto, ainda que o estado de nossa cultura dê pouca margem ao otimismo. QUESTIONÁRIO Grupo: Luiz Júnior, Karim Conteratto, Karolyne Viebrantz e Thais Barauna 1- A arquitetura prefere não se associar diretamente com a indústriada construção, mas segundo o texto, o que causa essa dissociação? R= A arquitetura, tanto como profissão quanto como disciplina, busca uma posição neutra neste assunto, sem se associar com a indústria da construção ou com as empresas imobiliárias, pois a arquitetura trata-se de uma arte, e como tal deveria fugir disso. 2- Quais foram as atitudes dos arquitetos contemporâneos e os radicais que enfrentaram a recessão econômica na década de 70, e a situação de incerteza econômica logo após o término da 2 GM? R= Curtis critica os formalistas (whites) e os informalistas (greys) por se calarem diante da situação da sociedade norte americana na década de 1970. Assim como outros historiadores criticam as idéias utópicas e ingênuas dos primeiros modernistas europeus que colocavam a arquitetura em total oposição aos sistemas políticos e sociais vigentes. As elevadas aspirações de arquitetos modernistas europeus em mudar a sociedade foram muito criticadas, pois eram ingênuas na maioria das vezes e sem estrutura para se consolidar. 4- O texto fala de uma função ética da arquitetura, que ajuda a exprimir e instituir o “etmos” humano. Qual é essa função ética? R = O espaço quando se torna homogêneo de tempo infinito e espaço infinito, tornam a vida contingente e sem significado. Temos necessidades da heterogeneidade e de limites, de períodos e de região, de acontecimentos sagrados e de lugares centrais que reúnam o múltiplo e diverso em um todo significativo. Tempo e espaço devem ser moldados de forma a destinar ao homem um hábitat, um ethos. A arquitetura teve, desde seus primórdios, uma função ética de ajudar a exprimir e inclusive a instituir o ethos humano- o uso da palavra “edificar” ainda alude a uma relação entre o construir e a ética. A arquitetura é, por um lado, um produto da atividade humana enquanto, por outro, ajuda a criar o ambiente que configura as atividades do homem. Construir é ajudar a decidir como o homem vai habitar a terra, ou mesmo se chegara a habita-la ou se ficara vagando pelo mundo sem destino.
Compartilhar