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Lei de Gauss Prof. Fernando G. Pilotto UERGS O que veremos nesta aula? • Fluxo de um campo vetorial • Fontes e sumidouros • Lei de Gauss • Aplicações da lei de Gauss Carl Friedrich Gauss Seu pai, Gerhard Diederich, era jardineiro e pedreiro. Severo e brutal, tudo fez para impedir que seu filho desenvolvesse seu grande potencial. Foi salvo por sua mãe Dorothea e seu tio Friederich que percebeu da inteligência de seu sobrinho. Tinha memória fotográfica, tendo retido as impressões da infância e da meninice nítidas até a sua morte. Ressentia-se de que seu tio Friederich, um gênio, perdera-se pela morte prematura. Aprendeu a ler e a somar sozinho. Nenhum matemático anterior tinha a menor concepção do que é agora aceitável como prova, envolvendo o processo infinito. O rigor imposto por Gauss à análise matemática tornou-a totalmente diferente e superou toda a análise matemática feita por seus antecessores. 1777 – 1855 Matemático, astrônomo, físico Fluxo de uma corrente de ar Fluxo ou vazão: medida de quanto ar está passando em determinado local por unidade de tempo Vazão = volume tempo Vazão = V = Ax = Av t t Se a área da seção transversal é constante, o volume = Ax. A vazão é o produto da área pela velocidade do ar. E se o fluxo não for perpendicular à superfície? Uma componente da velocidade é perpendicular à superfície. A outra componente é paralela. Se quisermos medir o fluxo de ar que passa pela superfície, somente a componente perpendicular deve ser levada em conta. Em termos matemáticos... Estamos interessados na componente da velocidade que é perpendicular à superfície. A orientação da superfície é dada pelo vetor normal a ela. O vetor tem módulo igual à área e é normal à superfície. Vazão = A · vperpendicular vperpendicular é a projeção de em Vazão = (v cos θ) A = Fluxo de um campo vetorial Fluxo de ar: Fluxo de um campo vetorial: = fluxo = velocidade do ar = fluxo = campo vetorial O fluxo mede a intensidade de campo que atravessa a superfície. E se a superfície não for plana ou o campo não for constante? Neste caso, dividimos a superfície em pedaços com área infinitesimal dA. O fluxo do campo sobre um pedaço é: Para obter o fluxo total, fazemos uma soma: Advd ⋅=Φ ∫∫ ⋅=Φ=Φ Advd Fontes e sumidouros Da fonte sai água... No sumidouro entra água... Fontes fonte Por que isso é uma fonte? Porque está saindo água dali... Mas por que dar uma resposta tão simples se existe outra bem mais complicada? 2. Calculamos o fluxo de água sobre a superfície “esférica”. 1. Imaginamos uma superfície esférica em volta da fonte. 3. Como através da superfície somente sai água, o fluxo é positivo. Portanto a superfície está em volta de uma fonte. 2. Calculamos o fluxo de água sobre a superfície “esférica”. 1. Colocamos a superfície em outro ponto. 3. Através dessa superfície está entrando a mesma quantidade de água que está saindo. Portanto o fluxo é nulo e a superfície não está em volta de uma fonte. Ponto de verificação: e se a superfície ficar em outro lugar? Sumidouros 2. Calculamos o fluxo de água sobre a superfície “esférica”. 1. Imaginamos uma superfície esférica em volta do sumidouro. 3. Como através da superfície somente entra água, o fluxo é negativo. Portanto a superfície está em volta de um sumidouro. Campo elétrico e cargas elétricas 1. Imaginamos uma superfície esférica em volta da carga elétrica. 2. Em todos os pontos da superfície, o campo aponta para fora. 3. O fluxo é, portanto, positivo. 1. Imaginamos uma superfície esférica em volta da carga elétrica. 2. Em todos os pontos da superfície, o campo aponta para dentro. 3. O fluxo é, portanto, negativo. Se aumentarmos a carga envolvida pela superfície, vai aumentar também o fluxo do campo elétrico. Lei de Gauss fluxo do campo elétrico através de uma superfície fechada = total de cargas elétricas envolvidas pela superfície fluxo Lei de Gauss Integral de superfície A superfície é dividida em pequenos elementos de área. Para cada elemento de área, escolhemos um ponto para estimar o campo elétrico. Calculamos o produto E·dA para cada elemento. Fazendo a soma sobre todos os elementos de área, temos a integral de superfície. Integral sobre superfície fechadaIntegral sobre superfície aberta • Com a Lei de Gauss, podemos determinar o campo elétrico a partir de uma distribuição de cargas • A Lei de Coulomb vale somente para cargas estáticas • A Lei de Gauss também é válida para cargas em movimento Linha reta de carga infinita • Um fio reto de comprimento infinito está carregado uniformemente • Qual é o campo elétrico gerado por ele? • Como o fio é infinito, a carga total no fio também é infinita • Entretanto, a quantidade de carga por unidade de comprimento é constante • Chamamos isso de densidade linear de cargas L q =λ dx dq =λ • Como o fio é reto e infinito, existe uma simetria radial • Ou seja, a situação parece a mesma olhando-se a partir de ângulos diferentes • Ou seja, o campo elétrico não depende do ângulo, mas pode depender da distância r do ponto até o fio • Escolhemos um cilindro para ser a superfície gaussiana • Temos que calcular a integral ∫ ⋅ AdE No topo, o vetor normal à superfície aponta para cima. Mas o campo elétrico aponta na direção radial. Um vetor é perpendicular ao outro, portanto: Na base acontece a mesma coisa. ∫∫∫∫ ⋅+⋅+⋅=⋅ ladobasetopo AdEAdEAdEAdE 0=⋅ AdE 0=⋅=⋅ ∫∫ basetopo AdEAdE ∫∫ ⋅=⋅ lado AdEAdE No lado, o vetor normal à superfície aponta na direção radial. E o campo elétrico também aponta na direção radial. Um vetor é paralelo ao outro, portanto: Note que, em cada ponto, tanto o vetor normal como o campo elétrico mudam de direção, mas eles sempre estão alinhados. dAEAdE ⋅=⋅ ∫∫ ⋅=⋅ lado dAEAdE Na superfície lateral, a distância “r” do fio a um ponto é constante. Portanto o campo elétrico tem intensidade constante na superfície, apesar de variar de direção. Na integral aparece somente a intensidade, portanto: lado lado AEdAEAdE ⋅==⋅ ∫∫ rhE pi2⋅= Falta calcular a carga elétrica envolvida pela superfície. A Lei de Gauss é Então hqenv ⋅= λ envqAdE =⋅∫0ε hrhE λpiε =20 r E 02piε λ = Como o campo aponta na direção radial, temos como resultado final: r r E ˆ 2 0piε λ = Vejamos o que foi feito... • Objetivo: usar a Lei de Gauss para determinar o campo elétrico gerado por uma linha de carga infinita 1. Percebemos a simetria radial, com isso determinamos a direção do campo elétrico e escolhemos uma superfície gaussiana adequada (cilindro) envqAdE =⋅∫0ε 2. Calculamos a integral gaussiana 3. A integral simplificou-se, pois no topo e na base o produto escalar é nulo 4. Na lateral, o produto escalar é igual ao produto dos módulos dos vetores ∫ ⋅ AdE Mas como isso pôde ser feito? Note que o campo elétrico, a incógnita no problema, aparece dentro da integral! 5. Como o campo elétrico tem a mesma intensidade em todo o lado, ele sai da integral 6. A integral vira uma barbada... Resolve- se com geometria. Agora está explicado! O campo sai da integral e aí podemos efetuá-la. ∫∫ ⋅=⋅ lado dAEAdE lado lado AEdAEAdE ⋅==⋅ ∫∫ 7. Calcula-se a carga envolvida pela superfície gaussiana 8. Junta-se os dois lados da Lei de Gauss hqenv ⋅= λ envqAdE =⋅∫0ε hrhE λpiε =20 9. Isola-se a intensidade do campo elétrico 10.Lembrando que a direção do campo elétrico foi determinada por simetria, escreve-se o vetor campo elétricor E 02piε λ = r r E ˆ 2 0piε λ = Placa plana infinita carregada • Uma placa plana infinita está carregada uniformemente. • Qual é o campo elétrico gerado por ela? • Como a placa é infinita, a carga total na placa também é infinita • Entretanto, a quantidade de carga por unidade de área é constante • Chamamos isso de densidade superficial de cargas A q =σ dA dq =σ • Como a placa é plana e infinita, existe uma simetria plana • Ou seja, a situação parece a mesma quando nos movemos paralelamente à placa • Ou seja, o campo elétrico pode depender somente da distância r do ponto até a placa • Escolhemos um cilindro para ser a superfície gaussiana • Temos que calcular a integral ∫ ⋅ AdE No lado, o vetor normal à superfície aponta na direção radial. Mas o campo elétrico aponta na direção ao longo da superfície. Um vetor é perpendicular ao outro, portanto: ∫∫∫∫ ⋅+⋅+⋅=⋅ ladobasetopo AdEAdEAdEAdE 0=⋅ AdE 0=⋅∫ lado AdE No topo, o vetor normal à superfície aponta perpendicularmente à placa. E o campo elétrico também aponta na direção perpendicular à placa. Um vetor é paralelo ao outro, portanto: O mesmo acontece na base. dAEAdE ⋅=⋅ ∫∫∫ ⋅+⋅=⋅ basetopo AdEAdEAdE No topo, a distância “r” da placa a um ponto é constante. Portanto o campo elétrico tem intensidade constante no topo. Na integral aparece somente a intensidade, portanto: AEAEdAEdAEAdE topo topotopotopo ⋅=⋅==⋅=⋅ ∫∫∫ ∫∫∫ ⋅+⋅=⋅ basetopo AdEAdEAdE AEAdE base ⋅=⋅∫ Falta calcular a carga elétrica envolvida pela superfície. A Lei de Gauss é Então Aqenv ⋅=σ envqAdE =⋅∫0ε ( ) AAE ⋅=⋅ σε 20 02ε σ =E Como o campo aponta na direção perpendicular à placa, temos como resultado final: Note que o campo é constante! iE ˆ 2 0ε σ = x Esfera carregada • Uma esfera de raio R está carregada de modo não uniforme, de acordo com: • Qual é o campo elétrico no interior e no exterior da esfera? cr=ρ • Como a esfera é finita, a carga total também é finita • A quantidade de carga por unidade de volume aumenta com o raio r • Chamamos isso de densidade volumétrica de carga V q =ρ dV dq =ρ • Vemos que existe uma simetria esférica • Ou seja, a situação parece a mesma olhando-se a partir de ângulos diferentes • Ou seja, o campo elétrico não depende dos ângulos, mas pode depender da distância r do ponto até o centro da esfera • Escolhemos uma esfera para ser a superfície gaussiana • Temos que calcular a integral ∫ ⋅ AdE O vetor normal à superfície aponta na direção radial. O campo elétrico também aponta na direção radial. Um vetor é paralelo ao outro, portanto: 24 rEAEdAEdAEAdE esferaesfera pi⋅=⋅==⋅=⋅ ∫∫∫ dAEAdE ⋅=⋅ Falta calcular a carga elétrica envolvida pela superfície. No interior da esfera, a carga envolvida pela superfície deve ser calculada pela integral No exterior da esfera, a carga envolvida pela superfície é a carga total da esfera ∫= dVqenv ρ Qqenv = Interior da esfera: Quando r = R, o raio da esfera, a carga envolvida vale Q, portanto ∫∫∫ ′′⋅′=′== r env rdrrcdVrcdVq 0 24piρ 4 0 4 4 4 crrc r pipi = ′ = 4cRQ pi= 4R Q c pi = 4 4 R rQqenv = A Lei de Gauss é: Esse é o campo elétrico no interior da esfera. 4 4 2 0 4 R rQrE =⋅ piε envqAdE =⋅∫0ε 4 0 2 4 R QrE piε = No exterior da esfera, temos A Lei de Gauss é Qqenv = envqAdE =⋅∫0ε QrE =⋅ 20 4piε 2 04 r QE piε = Portanto: R r E Cargas e campos na superfície de um condutor • Num condutor, as cargas podem deslocar-se livremente • Se o condutor for colocado numa região com campo elétrico, as cargas no seu interior irão rearranjar-se • Depois de um tempo, será atingida uma situação de equilíbrio • No equilíbrio, não pode haver campo elétrico no interior do condutor, senão haveria cargas em movimento 0=E Interior de um condutor • Imaginemos uma superfície gaussiana no interior de um condutor • Como o campo elétrico é nulo, a carga envolvida pela superfície deve ser nula também • Portanto não existem cargas em excesso no interior do condutor • Assim, a carga encontra-se na superfície do condutor Quando um excesso de carga é colocado num condutor, a carga desloca-se inteiramente para a superfície do condutor. • Imaginemos uma superfície gaussiana no interior do condutor, o mais próximo possível da cavidade • Como o campo elétrico é nulo, a carga envolvida pela superfície deve ser nula também • Portanto não existem cargas em excesso ao redor da cavidade • Assim, a carga encontra-se na superfície externa do condutor Mesmo se o condutor tiver uma cavidade, a carga em excesso desloca-se inteiramente para a superfície externa do condutor.
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