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EMILE DURKHEIM - Resumo Prof.a Cacilda

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EMILE DURKHEIM
Contexto em que viveu: final do século XIX, França, III República.
Período com um movimento operário vigoroso e unido. 
Republicanos optam por integrar a classe operária por meio de leis sociais, como a de acidentes de trabalho, e valorizar a escola como um canal de socialização (solidarismo adquire status de doutrina oficial). 
Nascido na Lorena, de família judia, filho de rabino. Embora depois se afaste do caminho religioso, sua análise será sempre influenciada pelo respeito à lei e pela importância atribuída à força da comunidade. 
Durkheim é um arauto do movimento em favor da escola leiga. Acreditava na igualdade de todos diante da lei, no respeito aos direitos civis e das liberdades políticas.
Em seus trabalhos (sobre divisão do trabalho, direito, família, escola ou religião) é o problema da integração do individuo à sociedade que ganha o lugar principal na ordem de sua preocupações. 
Sua Sociologia busca criar os meios científicos mais apropriados para pensar e solucionar crises sociais. 
Pretende fundar uma “moral científica” (preocupação típica de numerosos autores e políticos do período). 
Durkheim encontra o principio e a fonte da moralidade na solidariedade social: costumes que remetem aos deveres que os seres humanos têm uns para com os outros, pelo fato de pertencerem a um grupo social (família, corporação profissional e Estado como os mais importantes).
Principais obras: Da divisão do trabalho social (1893), As regras do método sociológico (1895), O Suicídio (1897), As formas elementares da vida religiosa (1912)
Da Divisão do Trabalho Social
 PERGUNTA: Como podeuma coleção de indivíduos constituir uma sociedade? 
Como se chega a esta condição da existência social que é o consenso? 
Para ele, a divisão do trabalho social tem por função, antes de mais nada, produzir solidariedade social (devido à interdependência). 
Opõe-se assim às teses que analisam a divisão do trabalho principalmente como fator de desordem social, às que reduzem a divisão do trabalho a uma fonte do progresso econômico, a um simples meio para que os homens possam viver sem coerção, quando o vínculo social se reduz à troca econômica, e à tese da divisão de trabalho como fonte de exploração econômica e desigualdade social.
Para Durkheim, o progresso da indústria, das artes e da ciência e os serviços econômicos que a divisão do trabalho pode prestar são pouca coisa quando comparados com o efeito moral que produz. 
(O ECONÔMICO NÃO DEFINE NADA DE FUNDAMENTAL, E SIM A MORAL, OS VALORES)
A divisão gera integração do corpo social é fator primário de coesão e de solidariedade.
Formas históricas de solidariedade social:
Solidariedade mecânica: característica das sociedades “primitivas” ou “inferiores”. No seu seio, as duas consciências do ser humano - consciência individual e a consciência coletiva – estão ligadas: os indivíduos se acham unidos graças à sua semelhança. Visto que os estados de consciência são comuns, todo desvio deve sofrer uma sanção penal (direito repressivo). E SÃO SOCIEDADES QUE TENDEM AO ISOLAMENTO E A AUTO-SUFICIÊNCIA
Solidariedade orgânica: característica de sociedades denominadas “industriais” ou “superiores”. Quando a solidariedade que liga as duas consciências do ser humano resulta não mais da semelhança, mas da diferenciação. Dá-se a parcelização e complementaridade dos papéis. Nelas, a divisão do trabalho cumpre a função que era confiado outrora à consciência coletiva: a de operar a coesão, permitindo, porém, uma margem ao individuo. (nela, o direito restitutivo predomina).
A Divisão Social do Trabalho, em Durkheim, como uma espécie de lei da gravidade do mundo social.
DIREITO: para Durkheim, um fenômeno exterior e objetivado que reproduz fielmente as diversas formas de solidariedade social. 
As sanções repressivas (sanção do direito penal que visa atingir uma pessoa na sua fortuna, na sua honra ou sua vida) e as sanções restitutivas (sanção do direito civil, comercial ou administrativo, que não implica um sofrimento do agente, mas o ressarcimento do direito lesado) expressam essa característica do Direito.
Como explicar o avanço crescente da divisão do trabalho?
Segundo Durkheim, não mediante as explicações dos economistas clássicos (cuja tese é a de que a busca da felicidade passa pela obtenção de sempre mais riquezas, e se alcança a riqueza com tanto maior facilidade quanto mais efetiva for a divisão do trabalho). 
Ele afirma que as metamorfoses provocadas pela divisão do trabalho custam tempo muito longo e trazem pouco benefício imediato. Não é, pois, interessante para uma geração sacrificar-se deste modo.
Durkheim considera o aumento do volume e da densidade material e moral das sociedades como a causa real da evolução social (luta pela vida).
Portanto, para ele, “não se deve julgar a posição de uma sociedade na escala social de acordo com sua civilização, em especial a civilização econômica; esta pode não ser mais do que uma imitação, uma cópia, recobrindo estrutura social de espécie inferior.” (Aron, p. 461)
Durkheim está cônscio da existência de formas de divisão do trabalho que não produzem solidariedade social (inadequação de certas funções umas em relação às outras, oposição entre trabalhadores e empregadores, fragmentação comunitária, etc). 
Parece-lhe que para sanar a anomia será necessário inventar uma articulação entre individualismo e solidariedade social.
 
Recomposição social: o vasto movimento de gravitação do mundo social que o autor decodifica tem como conseqüência abalar as regulações sociais e políticas tradicionais. No mundo contemporâneo, a Revolução Francesa levou de roldão certos órgãos secundários da vida coletiva, como a família (que se encolhe cada vez mais e privilegia as relações interpessoais e não mais a reprodução material e a manutenção dos bens domésticos). As divisões territoriais e outras associações, que tinham substituído a parentela, foram igualmente deslocados.
Com a redução da importância da consciência coletiva, o Estado cresceu e se impôs como uma instituição distinta. Força única da centralização, ele absorve e racionaliza funções que antes eram preenchidas por outras instâncias. 
O Estado também se torna instrumento de emancipação (com ele, os cidadãos podem escapar às obrigações de fidelidade locais, a começar pela Igreja).
 
Mas o Estado pode ser ao mesmo tempo uma “monstruosidade sociológica”. Ele se acha a tal ponto afastado das realidades locais que, quando tenta regulamentá-las, só o consegue fazendo violência e desnaturando-as. 
Por esta razão, Durkheim defende uma concepção pluralista da sociedade política. Para ele, o Estado ocupa o lugar normal se, à sua ação própria, se acrescenta a de poderes intermediários, que têm por missão satisfazer as necessidades de integração e de moralidade dos indivíduos.
PODEM-SE IDENTIFICAR ALGUMAS DAS IDÉIAS QUE DECORREM DESSAS ANÁLISES E QUE FAZEM PARTE DA TEORIA GERAL DO AUTOR:
- CONCEITO DE CONSCIÊNCIA COLETIVA
A consciência coletiva só existe em virtude dos sentimentos e crenças presentes nas consciências individuais, mas se distingue, pelo menos analiticamente, destas últimas, pois evolui segundo suas próprias leis e não é apenas a expressão ou o efeito das consciências individuais: 
“ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas diferentes profissões. Por outro lado, não muda a cada geração, , mas ao contrário liga as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, suas condições de existência, sem modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira”(ARON, 462/463)
- Nas sociedades dominadas pela solidariedade mecânica, a consciência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais.
- Nas sociedades em que aparece a diferenciação dos indivíduos (solidariedade orgânica), cada um tem, em muitas circunstâncias, a liberdade de crer, de querer e de agir conforme suas preferências, no entanto, ainda assim os imperativos sociais moldam as várias consciências individuais.
PRIMADO DA SOCIEDADE
O indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce dos indivíduos. Sustenta tal afirmação em dois sentidos:
1º.) a prioridade histórica das sociedades em que os indivíduos se assemelham uns aos outros (coletivistas) e estão, por assim dizer, perdidos no todo
2º.) Dessa prioridade histórica resulta uma prioridade lógica – se a solidariedade mecânica precedeu a orgânica, não se podem explicar os fenômenos da diferenciação social e da solidariedade orgânica a partir dos indivíduos (dizer que os homens dividiram o trabalho e atribuíram uma ocupação específica a cada um para aumentar a eficácia do rendimento coletivo é admitir que os indivíduos são diferentes uns dos outros, e conscientes dessa diferença, antes da diferenciação social (464/465)
- LOGO, NA ANÁLISE DA VIDA SOCIAL, PRIORIDADE DO TODO SOBRE AS PARTES 
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
Sociologia como a ciência dos fatos sociais.
Fatos sociais: maneiras de agir, de pensar e sentir, fixas ou não, que exercem sobre o indivíduo uma coercitividade exterior. 
Se o Direito nos constrange, sugere Durkheim, há todo um sistema de regras menos visíveis que guiam também nossas práticas mais diversas: maneiras de vestir, de consumir, de pensar,etc. 
“caberá ao sociólogo pôr em evidência eanalisar esses comportamentos que constituem regularidades socialmente determinadas” (eles são o objeto de estudo próprio da Sociologia).
Cânones da cientificidade:
1o. Tratar os fatos sociais como “coisas”: não quer dizer que os fatos sociais sejam redutíveis a fatos naturais. Quer apenas dizer que, assim como o físico ou o biólogo observa “de fora” o seu objeto de estudo, o sociólogo deve saber situar-se à distância dos fatos sociais que analisa. 
Esta postura é difícil de adotar, pois vivemos no mundo social que estudamos. Acreditamos conhecê-lo e poder adivinhar seus mecanismos ocultos. Trata-se de nos desfazermos de nossos preconceitos, das falsas evidências proporcionadas por nossa experiência sensível. Recusar o social como transparente e imediatamente inteligível (busca da objetividade e da neutralidade)
2o. Isolar e definir com precisão a categoria de fatos que se propõe estudar: noção de normal e patológico, sendo que o normal corresponde ao que se produz na média das sociedades de um determinado tipo social (consciência coletiva).
3o. Explicar os fatos sociais por outros fatos sociais anteriores (e não por fenômenos biológicos, psicológicos, históricos): método das variações concomitantes.
O Suicídio
Durkheim quis mostrar que o suicídio é um fato social e que toda sociedade está predisposta a entregar um contingente determinado de mortos voluntários.
Refuta explicações psicopatológicas e outras interpretações baseadas sobre a idéia de determinação pela tendência hereditária, imitação ou clima. 
Por meio de estatísticas, mostra o caráter social do fenômeno, na medida em que, em todos os países da Europa, o taxa de suicídios se mantém constante de um ano para o outro, e a evolução dos suicídios se inscreve em curvas que têm formas similares.
Estabelece múltiplas correlações: hora, dia da semana e período do ano dos suicídios; idade, sexo, estado civil, ausência ou presença de filhos, religião, local de moradia dos suicidas, etc. 
Daí, classifica-os sob três tipos básicos: altruísta, egoísta e anômico.
Suicídio altruísta: característico de indivíduos tão fortemente inseridos com o seu grupo de pertença que são incapazes de resistir a um golpe da sorte.
Suicídio egoísta: quando pensam essencialmente em si mesmos e se acham prisioneiros de desejos infinitos, os indivíduos não podem recuperar o equilíbrio, a não ser que uma força exterior os leve à moderação. 
Quando esta força está ausente, os indivíduos são mais inclinados ao suicídio (por exemplo: suicidam-se mais aqueles sem família, sem religião, sem laços comunitários; os protestantes mais que os católicos, e estes mais que os judeus)
Suicídio anômico: Quando existe um desregramento social que vai diretamente repercutir no volume das mortes voluntárias. 
Quando as forças integradoras começam a faltar, os indivíduos em competição não conseguem mais limitar seus desejos. Pedem demais à existência ao ponto de experimentar desgosto e irritação diante dela (daí ser um tipo regular e específico das sociedades modernas). 
Revela-se mais em fases de boom ou de depressão econômica, quando as aspirações não se vêem mais limitadas, ou são muito limitadas. Além disso, implodindo as comunidades tradicionais, a indústria e o comércio, “fracamente penetrados de moralidade” (pensam apenas no lucro do capital), desvalorizam numerosos valores e obrigações.
Para remediar esta crise social, ele propõe que se promova uma luta contra a anomia conjugal (e se pronuncia em favor de um casamento mais indissolúvel). 
A fim de eliminar a anomia econômica, sugere que se desenvolvam corporações profissionais que funcionariam na organização econômica, política e jurídica, mas sobretudo como autoridade moral capaz de preencher, pelo renovado sentido de comunidade, o vácuo social que Durkheim não cessa de lamentar.
Durkheim não acredita nem nas doutrinas religiosas nem na ficção da harmonia entre os interesses egoístas dos economistas liberais como possíveis remédios para a crise social.
 Mas esteve atento às doutrinas socialistas, em especial a de Saint Simon. Não aceita, no entanto, a violência, a proposta revolucionária e a dimensão política do movimento socialista obreirista. 
Também se afasta do esquema marxiano da luta de classes (para ele, sintoma de desregramento mais que solução social) e nega-se a reduzir a dinâmica social ao simples resultado do jogo econômico.
Se pronuncia em favor de uma meritocracia inspirada em Saint-Simon, meritocracia que procura conciliar o individualismo e a igualdade de oportunidades. 
Para ele, precisa-se de uma autoridade cuja superioridade todos os indivíduos reconheçam, e que dite o direito. Esta autoridade não pode estar só no Estado (muito distante das pessoas), nem nos grupos religiosos (de caráter cada vez mais abstrato e intelectual), nem na família (que perdeu sua função integradora). 
Daí a solução das corporações profissionais. 
Também dá ênfase à educação, pois para ele a aprendizagem escolar constitui o processo de socialização por excelência: é um canal privilegiado de integração à sociedade, período durante o qual os indivíduos aprendem a sujeitar-se à disciplina. 
Mas a educação não deve ser um processo forçado e autoritário (“A escola deve produzir o amor à disciplina, ao grupo e às instituições”). 
Porém, em uma época individualista, a escola deve, igualmente, favorecer o desenvolvimento da personalidade e da autonomia. 
Quais os determinantes da coesão social?
Durkheim não é anti-individualista, mas põe em lugar da luta de classes o projeto de uma integração do corpo social baseado no respeito à pessoa. 
No final de sua vida, deixa de definir a sociedade como uma máquina de produzir coercitividade, mas como um organismo que transcende os indivíduos e que, à maneira religiosa, eles devem adorar.
Consciência coletiva (noção considerada a peça mestra de toda a obra de Durkheim): 
é o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade e que formam um sistema determinado (de similitudes) que têm vida própria.
 
Durkheim insiste que esse “todo” não é simplesmente a soma das partes. O grupo social pensa, sente e age de outro modo do que fariam seus membros isolados. 
Os grupos, as sociedades possuem uma individualidade psíquica própria que se reflete em uma consciência coletiva. 
A comunicação entre as consciências individuais se efetua pela fusão de todos os sentimentos particulares em um sentimento comum. 
O respeito à lei e a vida em sociedade são, portanto, de alguma forma, um modo de comunhão com o grupo social.
As formas elementares da vida religiosa
Durkheim critica o animismo (fé em espírito) e o naturismo (adoração das forças naturais), como formas explicativas da origem das religiões:
“se assim fosse, a religião seria produto de uma alucinação coletiva. Nem as forças da natureza nem os espíritos ou as almas que flutuam à volta dos homens são sagrados por si mesmo. Só a sociedade é uma realidade sagrada por si mesmo. Ela pertence à ordem da natureza, mas a ultrapassa.”
- Defende a tese de que a sociedade é um ser psíquico de uma nova espécie. Que através da religião é este ser que veneramos (a religião como transfiguração da sociedade).
O livro é um estudo sobre o totemismo australiano (a religião mais simples), que põe em evidência todas as virtualidades do fenômeno em seu estado elementar, e espera poder explicar a natureza de todas as religiões. 
Parte de uma divisão do mundo em dois domínios: o sagrado e o profano.
Totem: representa a força de participação concreta dos diferentes membros do clã.
Mana: poder indefinido, força anômica cujo caráter impessoal é comparável às forças da natureza, Representado nos deuses, encarna a realidade social das sociedades tribais 
A RELIGIÃO COMO MANIFESTAÇÃO DA CONSCIENCIA COLETIVA QUE OPERA PARA A COESÃO SOCIAL.
- No livre Durkheimtambém a tese de que as categorias fundamentais do entendimento (tempo, espaço, gênero, número, causa, substância, personalidade) têm sua origem no pensamento religioso (pré-científico). Formula uma teoria sociológica do conhecimento com três proposições básicas:
1) as formas primitivas de classificação estão ligadas às imagens religiosas do universo, retiradas das representações que as sociedades fazem de si mesmas, e da dualidade do mundo profano e religioso ou sagrado
2) Uma ideia como a de causalidade provém da sociedade, pois a experiência da vida coletiva faz nascer a ideia de força. É a sociedade que dá aos homens a concepção de uma forças superior à dos indivíduos
3) É a vida coletiva que permite justificar a existência dos conceitos e das categorias. Os conceitos são representações impessoais porque são representações coletivas. 
(resumo elaborado a partir de História das Idéias Sociológicas, de Michel Lallement e de Etapas do Pensamento Sociológico, de Raymond Aron – na bibliografia da disciplina)

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