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Material Apoio Alunos Psicologia Aplicada ao Direito 2013.2 Atualizado

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PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 1 
 
AULA 1 - PSICOLOGIA CIENTÍFICA E SENSO COMUM 
 
Objetos de estudo da Psicologia e Fenômenos psicológicos (Adelmo Senra Gomes(1)). 
 
Este ensaio tem por objetivo introduzir uma reflexão sobre a psicologia e o seu status de ciência. Contudo, 
para atingirmos tal objetivo, importa que, inicialmente, examinemos os principais conceitos do que se 
convencionou chamar ciência, bem como suas principais diferenças em relação ao senso comum. 
 
O conhecimento científico fundamenta-se sobre os seguintes pressupostos: 1º. “A ciência é uma estrutura 
construída sobre fatos.” (DAVIES apud CHALMERS, 1993, p.24); 2º O processo de obtenção, justificação 
e transmissão do conhecimento científico orienta-se por uma rigorosa metodologia de pesquisa. Ou seja: 
observação, experimentação (ou outra qualquer técnica científica de pesquisa); análise lógica, crítica e 
meticulosa dos fatos (é comum, inclusive, o emprego de instrumentos matemáticos).(2) 
 
Enquanto o senso comum habitualmente cinge-se aos dados imediatos, ou, então, procura explicações 
nem sempre profundas, o conhecimento científico procura bases sólidas, justificações claras e exatas. 
Isso não é possível em todos os casos. A tendência do cientista, porém, é se aproximar 
gradativamente de fundamentos fortes para seus conhecimentos. (LUNGARZO, 1993, p.12) 
 
3º. O conhecimento científico é sistêmico, organizado. As teorias científicas não devem ser contraditórias 
em si e entre si. Diferentemente, o senso comum, não preza por tal rigor, sendo, normalmente, fragmentado, 
desorganizado e, por vezes, até contraditório. 4º. O conhecimento científico constrói explicações gerais e 
não particulares ou casuísticas. Não se faz ciência de casos particulares, mas sim, do que há de regular e 
comum numa determinada classe de eventos. 5º. O conhecimento científico busca prognosticar futuras 
ocorrências dos fatos estudados. Tais prognósticos científicos têm um caráter probabilístico e não 
determinísticos(3). 
 
A ciência, em seu labor pelo conhecimento, desenvolve modelos explicativos(4) sobre os fatos estudados. 
Por serem modelos são aproximações e não a “verdade” sobre os fatos. 
Finalmente, as explicações científicas necessitam ser submetidas, regularmente, a um constante e rigoroso 
processo de verificação e testes ou, como propõe Popper (1993, p.41), a um constante esforço de 
falsificação, pois, se de fato forem falseadas, isto provará que o que os cientistas tinham por 
“conhecimento”, não o era... Estabelecidos tais pressupostos sobre a ciência, passemos ao exame da 
psicologia. 
 
A história da psicologia enquanto ciência inicia-se em 1879 quando na Universidade de Leipzig, Alemanha, 
o médico, filósofo e psicólogo alemão, Wilhelm Wundt (1832-1920), funda o primeiro laboratório de 
pesquisa experimental em psicologia. Antes de Wundt a psicologia era tida, simplesmente, como um ramo 
da filosofia. 
 
Em sentido lato, a psicologia tem por objetos de pesquisa o comportamento e os processos mentais de todos 
os seres vivos. (DAVIDOFF, 2001; MORRIS; MAISTO, 2004; MYERS, 2000). Define-se por 
comportamento toda forma de “[...] resposta ou atividade observável realizada por um ser vivo.” (WEITEN, 
2002, p. 520) Por seu turno, processos mentais aludiriam às “[...] experiências subjetivas que inferimos 
através do comportamento(5) – sensações, percepções, sonhos, pensamentos, crenças, sentimentos.” 
(MYERS, 1999, p.2). 
 
Com relação a esses objetos há que se ressaltar que o comportamento, por ser um dado objetivo, possibilita 
observações, mensurações, análises e interpretações quantitativas e qualitativas. Contudo, os processos da 
mente, por serem experiências subjetivas, não são passíveis à observação direta. Como então pesquisar e 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 2 
estudar dados subjetivos? São dois os caminhos possíveis: 1º Como já dito anteriormente, pela observação 
de determinados comportamentos – estes últimos entendidos como conseqüências ou manifestações dos 
processos mentais; 2º Pela análise e interpretação do desempenho em algum instrumento psicológico de 
mensuração (os testes psicológicos são exemplos) e; 3º Pela associação dessas duas primeiras formas. 
 
Por ser uma ciência, a psicologia também desenvolve enunciados probabilísticos em relação aos seus 
objetos de pesquisa; tais enunciados são construídos a partir de uma rigorosa metodologia de pesquisa. As 
teorias psicológicas são organizadas e sistêmicas e, por serem teorias científicas, são de cunho generalista. 
 
Destaque-se neste ponto que os objetos de pesquisa da psicologia ocorrem em circunstâncias e momentos 
diversos. Do ponto de vista epistemológico(6), portanto, em face a essa diversidade, considera-se mais 
adequado pluralizar a própria psicologia. De fato, não seria uma só psicologia, mas várias psicologias(7). 
Analise o esquema abaixo: 
 
Ciências psicológicas: objetos e suas principais especialidades 
 
Por fim, falta-nos comentar que ao longo do processo histórico de desenvolvimento do pensamento e da 
pesquisa psicológica, várias escolas (ou, correntes) da psicologia foram surgindo. Na verdade, o que vai 
diferenciar uma escola da outra é a maneira como cada uma irá definir o fenômeno (ou, os fenômenos) 
psicológico(s) estudado(s), bem como a metodologia de pesquisa a ser utilizada. Neste ensaio citaremos 
somente as duas mais conhecidas: o behaviorismo e a psicanálise(8). 
 
1ª. A escola behaviorista (ou, comportamental) da psicologia – Essa escola surge nos EUA no início do 
século passado com o psicólogo John Watson (1878-1958). Para os behavioristas o comportamento é um 
conjunto de respostas adquiridas (ou, aprendidas(9)) que visa permitir ao organismo uma melhor adaptação 
ao mundo exterior. Esta resposta aparecerá progressivamente, através de uma série de ajustamentos, por 
tentativas e erros. 
 
A causalidade comportamental (Estímulo Ambiental→Resposta Comportamental, ou, na sua forma 
simplificada, E→R), base do pensamento behaviorista, possibilitará àquela escola da psicologia a 
construção de explicações objetivas sobre as origens do comportamento, sua previsão e, sob determinadas 
condições, até mesmo o seu controle. Explicação, previsão e controle, lembremo-nos, são os principais 
objetivos das ciências. 
 
O Dr. B.F. Skinner (1904-1990) destacou-se como um dos mais profícuos pesquisadores e teóricos 
behavioristas do último século. Suas pesquisas com cobaias levaram-no ao desenvolvimento de uma teoria 
da aprendizagem conhecida como modelagem. Skinner verificou que as conseqüências de um dado 
comportamento funcionavam como estímulos a sua fixação ou extinção. Em resumo: quando as 
conseqüências de um comportamento aumentam a freqüência desse mesmo comportamento diante do 
estímulo que o eliciou, Skinner chamou tais conseqüências de reforços. De forma contrária, quando as 
conseqüências diminuem a freqüência do comportamento diante do estímulo que o eliciou, Skinner chamou 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 3 
tais conseqüências de punições. Esquemas de reforços e punições são, segundo aquele pesquisador, as forças 
modeladoras de quaisquer comportamentos. Analise o esquema abaixo: 
 
Esquema simplificado do processo de modelagem de comportamentos, segundo Skinner 
 
Por fim, para a visão behaviorista uma criança ao nascer é provida unicamente de um certo número de 
reflexos, puramente fisiológicos. Tudo o mais, em termos comportamentais, ela terá que aprender a partir 
dos estímulos ambientais que receber. 
 
2ª A escola psicanalítica – A psicanálise surgiu no final do século XIXe início do século XX com o médico 
austríaco Sigmund Schlomo Freud (1856-1939). A principal tese psicanalítica é a da existência de 
processos inconscientes na mente. O inconsciente, segundo Freud, estaria dissociado da realidade e seria 
regido pelo que ele chamou de princípio do prazer. Em 1900, em seu livro A interpretação do sonho, Freud 
propôs a sua primeira teoria (ou, tópica) sobre a estrutura da mente. Nela a mente foi dividida em três 
sistemas: o inconsciente (como já dito, regido pelo princípio do prazer) o pré-consciente e a consciência 
(estes últimos regidos pelo princípio da realidade). Entre esses sistemas, as censuras que impediriam que 
conteúdos indesejados do inconsciente e do pré-consciente chegassem à consciência. Analise a figura 
abaixo: 
 
1ª Tópica do aparelho psíquico de Freud (1900) 
 
 
 
 
Em 1920, Freud propôs um aperfeiçoamento de sua primeira teoria, incluindo processos dinâmicos da 
mente: o id, o ego e o superego. Analise a figura abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 4 
 
2ª Tópica do aparelho psíquico de Freud (1920) 
 
 
 
“[...] o id, pólo pulsional(10) da personalidade, o ego, instância que se situa como representante dos 
interesses da totalidade da pessoa e que como tal é investido de libido(11) narcísica(12), e, por fim, o 
superego, instância que julga e critica, constituída por interiorização das exigências e das interdições 
parentais.” (LAPLANCHE & PONTALIS, 1986, p.660) 
 
Para Freud a consciência seria largamente influenciada pelas pressões oriundas do inconsciente. 
“Ela [a psicanálise] nos ensinou, ainda, que nosso intelecto é algo débil e dependente, um joguete e 
um instrumento de nossos instintos e afetos, e que todos nós somos compelidos a nos comportar 
inteligente ou estupidamente, de acordo com as ordens de nossas atitudes [emocionais] e resistências 
internas.” (FREUD, 1914) 
 
Defenderá a tese de que a personalidade será moldada pelas primeiras experiências de vida, a partir de fases 
do desenvolvimento da sexualidade (ou, desenvolvimento psicossexual). O termo sexualidade em Freud 
“não designa apenas as atividades e o prazer que dependem do funcionamento do aparelho genital, mas toda 
uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância” (LAPLANCHE & PONTALIS, 1986, p´. 
619). Desta forma, então, a libido (ou, “pressão sexual”), ao longo da vida, investiria uma série de objetos 
(pessoas, situações, coisas etc.) que representassem possibilidades de descarga da tensão por ela gerada, em 
face o seu acúmulo. Tais descargas possibilitariam ao sujeito a sensação de prazer. Um mecanismo cíclico 
do prazer, portanto, estaria criado. Analise a figurar abaixo: 
 
 
Os ciclos do prazer 
PULSÕES
INCONSCIENTES
INVESTIMENTOS
DA LIBIDO
ACÚMULO DE
TENSÕES
DESCARGAS E
SENSAÇÃO DE PRAZER
 
 
 
A personalidade, portanto, se organizaria segundo as formas regulares de investimentos da libido 
(investimentos construtivos ou destrutivos, tanto para o próprio sujeito quanto para o mundo externo com o 
qual ele lida). Tais formas de investimentos da libido se estruturariam, principalmente, enfatizo, durante a 
infância e se “atualizariam”, se “repetiriam”, inconscientemente, ao longo de toda a vida. 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 5 
Concluindo, a psicologia enquanto um vasto campo de possibilidades e desafios ao conhecimento humano 
existe segundo dois sentidos: a vida e o Homem; e, segundo dois propósitos: a paz e o bem. Nenhum outro 
conhecimento talvez seja mais polêmico e complexo quanto o psicológico. Porém, com o passar do tempo, e 
com o desenvolvimento das pesquisas e das teorias, novos tijolos são lentamente colocados nessa que talvez 
seja a mais arrojada das empreitadas humanas: o conhecimento de si mesmo. 
 
Bibliografia 
 
1. CHALMERS, A.F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993. 
2. DAVIDOFF, L.L. Introdução à psicologia. 3 ed. São Paulo: Makron Books, 2001. 
3. FREUD, S. Carta a Frederik Van Eeden. In: _____. Edição eletrônica brasileira das obras 
psicológicas completas de Sigmund Freud. v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, [200?]. 
4. LUNGARZO, C. O que é ciência. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 
5. MORRIS, C.G.; MAISTO, A. A. Introdução à psicologia. 6 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. 
6. MYERS, D.G. Psicologia social. 6 ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2000. 
7. POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1993. 
8. WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. 
 
1Psicólogo; professor do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá. 
2 Este segundo pressuposto é, de fato, o principal: o que vai diferenciar o conhecimento científico das outras formas, não 
científicas, de saber. 
3 O autor deste ensaio alinha-se às correntes epistemológicas que defendem que as ciências (inclusive as físicas) só são capazes 
de construir leis probabilísticas e não determinísticas. A este respeito sugiro o exame de RODRIGUES, A.A pesquisa 
experimental em psicologia e educação. Petrópolis(RJ): Vozes, 1976, p. 14. 
4 Os modelos explicativos em ciência também são chamados de paradigmas científicos. 
5Essas inferências de processos mentais a partir da observação do comportamento são chamadas de constructos (ou, construções) 
psicológicos. Trato deste assunto com mais detalhes no parágrafo seguinte. 
6
 Epistemologia ou Filosofia do conhecimento – caracteriza-se por ser uma reflexão filosófica da ciência. 
7Outros preferirão chamá-la de “Ciências psicológicas”. 
8Não obstante as consistentes críticas epistemológicas em relação ao objeto e à metodologia de pesquisa psicanalítica, este autor 
considera a psicanálise como um setor de pesquisas e proposições psicológicas ainda não-científicas. Uso a expressão “ainda”, 
pois aceito que as ciências não são capazes, ainda, de uma compreensão plena de todos os fenômenos (físicos e psicológicos) por 
ela estudados. Destarte, concebo a psicologia como que setorizada em dois grandes campos: um científico e outro, ainda, não-
científico. 
9
 O constructo aprendizagem, caro ao pensamento e à pesquisa behaviorista, será definido, grosso modo, como sendo o resultado 
de uma nova e regular associação entre um determinado estímulo e uma resposta comportamental experimentada como a mais 
adequada a esse mesmo estímulo. O aprendizado, contudo, só poderá ser afirmado se for observada a mudança regular no 
comportamento do sujeito após sucessivas apresentações desse mesmo estímulo que antes não eliciava a resposta comportamental 
agora a ele associada. 
10
 O conceito de pulsão na teoria psicanalítica (do original alemão “trieb”) denotaria uma força impelidora ou uma pressão 
inconsciente. Estaria nas pulsões a origem de nossas vontades, impulsos e desejos. Tais forças, que teriam suas origens nos 
processos biológicos, produziriam necessidades (tensões) a serem realizadas (descarregadas). Na consciência tais pressões se 
associariam, por algum motivo histórico, a representações (objetos) que possibilitassem sua real ou imaginária descarga (e, a 
partir daí, as sensações de prazer). Obs.: Nota acrescida pelo autor do ensaio. 
11
 Libido corresponderia, grosso modo, a um tipo de energia oriunda das transformações das pulsões sexuais. Obs.: Nota acrescida 
pelo autor do ensaio. 
12
 O conceito de narcisismo em psicanálise corresponderia aos investimentos libidinosos que um indivíduo faria em si próprio e 
ao seu próprio corpo. Ou seja, a posição narcísica pressupõe como objetos da libido o próprio sujeito e seu corpo. Obs.: Nota 
acrescida pelo autor do ensaio. 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADAAO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 6 
 
AULA 2 –Desenvolvimento psicossocial: fundamentos da teoria psicossocial 
de Erik Erikson 
 
Texto elaborado pelos Profs. Débora Dalbosco Dell’Aglio e Christian Haag Kristensen 
 
Quando refletimos sobre os anos que passaram em nossa vida, facilmente observamos que diversas 
mudanças ocorrem na forma através da qual nos percebemos. Mesmo aqueles que ainda não atravessaram, 
certamente já ouviram falar da crise da meia-idade, uma crise que envolve o processo de identidade. 
Mudanças importantes certamente ocorrem durante a infância em termos de autoconceito e auto-estima. 
Entretanto, é a adolescência o período no qual a reorganização do senso de self do indivíduo ocorre quando 
ele possui a habilidade intelectual para apreciar a dimensão dessas mudanças (Steinberg, 1999). Os trabalhos 
mais influentes na área do desenvolvimento da identidade do adolescente foram apresentados por Erik 
Erikson. 
 
Fases do Desenvolvimento 
 
• Bebê – Infância (0 – 12 anos) 
• Adolescência (13 – 35 anos) 
• Adulto (36 – 60 anos) 
• Idoso (60 anos em diante) 
 
Dimensões dos Estágios 
 
Na análise dos estágios de desenvolvimento psicossocial, é fundamental considerarmos que Erikson aborda 
três dimensões distintas: 
 
1) meios de experimentar acessíveis à introspecção 
2) modos de proceder observáveis por outro 
3) estados inconscientes 
 
Princípio Epigenético 
 
Progressão no desenvolvimento a partir de um sistema básico: todos os aspectos da personalidade dependem 
do desenvolvimento adequado na seqüência apropriada e cada um existe de alguma forma, antes de alcançar 
seu momento crítico. 
 
Confiança Básica vs. Desconfiança (0-1 anos) 
 
Se a mãe (ou cuidador primário) oferece satisfação em relação às necessidades físicas e emocionais básicas, 
o bebê desenvolve um senso de confiança básica no outro e no self. Relacionado com a persistência, 
continuidade e uniformidade da experiência de maternagem, que proporciona um sentimento primitivo de 
identidade do ego. Relacionada com a fé e a religião organizada. 
 
Autonomia vs. Vergonha e Dúvida (2-3 anos) 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 7 
Experimentação em torno de duas ordens de modalidades sociais: agarrar (retenção) e soltar (eliminação). 
Necessidade de testar os limites e explorar; se a dependência é promovida, a autonomia da criança é inibida. 
De um sentimento de perda do autocontrole e supercontrole exterior resulta a dúvida e a vergonha. 
Relacionado com o princípio da lei e da ordem. 
 
Iniciativa vs. Culpa (3-5 anos) 
 
Tarefa básica: adquirir um senso de iniciativa e competência. Genitalidade infantil: prazer no ataque e na 
conquista. Possibilidade de desenvolver senso moral. 
 
Indústria vs. Inferioridade (6-12 anos) 
 
Criança necessita expandir a compreensão do mundo, continuar a desenvolver papéis sexuais apropriados e 
aprender as habilidades básicas para o sucesso na escola. Senso de indústria: estabelecer e manter objetivos 
pessoais. Em todas as culturas crianças recebem instrução sistemática. Falhas podem levar a um senso de 
inadequação. 
 
Identidade vs. Confusão de Papel (12-18 anos) 
 
Identidade do ego: é a segurança originada da própria capacidade de manter a uniformidade e a continuidade 
internas e a sua correspondência na uniformidade e continuidade do que significa para os outros. Adaptação 
do senso de self às modificações da puberdade. Realiza uma escolha ocupacional e atinge a identidade 
sexual adulta. Busca de novos valores. 
 
Intimidade vs. Isolamento (18-35 anos) 
 
A tarefa básica é desenvolver relações de intimidade que vão além do amor adolescente (perder-se e achar-
se no outro). Agora já é possível desenvolver plenamente a verdadeira genitalidade e formar grupos 
familiares. A evitação devida ao temor da perda do self pode conduzir a profundo isolamento e 
distanciamento. 
 
Generatividade vs. Estagnação (35-60 anos) 
 
Período caracterizado pela capacidade de produzir. O foco está nas conquistas profissionais e criatividade. 
Preocupação relativa a firmar e guiar a nova geração. Necessidade de transpor o self e a família. Falha em 
adquirir um senso de produtividade geralmente leva à estagnação psicológica. 
 
Integridade do Ego vs. Desespero (60 anos em diante) 
Integra estágios anteriores e encontra a identidade básica. Caracteriza-se como um momento de avaliar os 
próprios sonhos e as conquistas. Etapa da “sabedoria”. A integridade leva à aceitação da velhice com 
serenidade e a aceitação do próprio e único ciclo de vida como alguma coisa que tinha que ser e que, 
necessariamente, não admitia substituição. Uma falha em alcançar a integridade do ego pode levar a 
sentimentos de desespero, culpa, ressentimento e auto-rejeição. 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 8 
 
AULA 3 – Personalidade: definições, determinantes e formação. 
 
PERSONALIDADE 
Organização dinâmica dos aspectos cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do 
indivíduo. 
 
FATORES: 
� Biológicos (Genéticos) 
� Psicológicos 
� Sócio-históricos (Ambientais) 
 
PROCESSOS: 
� Hedonismo (busca pelo prazer) 
� Autorealização (Desenvolvimento pela pessoa) 
� Consciência Interna (Auto-imagem) 
 
DEFINIÇÃO 
Organização interna / dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam padrões de 
comportamento (pensar / sentir) característicos de cada pessoa. Particularidades duradouras 
relevantes no comportamento individual de certa população. 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 9 
 
AULA 4 – Sexo e Gênero: Representações sociais e a Identidade 
 
• Sexo – diferenças físicas e biológicas. 
 
• Gênero – características culturais atribuídas ao sexo. Relações Sociais (sócio – 
histórico cultural). 
 
O Cravo brigou com a Rosa (Noeliza Lima) 
 
Em nossa sociedade, pessoas diferentes do usual são isoladas, e isto provoca ou reforça uma visão pobre de 
si mesmo. Um sistema, ao privilegiar determinada raça, posição econômica, idade, aparência, sexo e gênero, 
etc., estabelece parâmetros que vão contra os direitos humanos e a possibilidade de crescimento individual e 
social. 
 
Este artigo pretende enfocar a autoestima como um viés do gênero, assim como sua relação com o roteiro de 
vida da mulher. Ao enfocar as relações de gênero, pretende-se, também, enfatizar a necessidade da 
psicologia emprestar seu olhar a esta questão. 
Ao estabelecer a igualdade na diversidade, por coerência, os substantivos e adjetivos que estão no masculino 
– independem de sexo e/ou gênero. O estudo do caso foi feito acerca de um casal heterossexual (assim como 
a música infantil). 
 
Segundo Flax (1995), a relação entre homem e mulher é assimétrica. A questão da assimetria remete à 
questão do gênero, que significa a diferença de justiça, direitos e principalmente qualificação da mulher em 
relação ao homem, diferença esta criada a partir da instalação do patriarcado e mantida pela sociedade. 
Podemos dizer que repete a relação dialética de Hegel (Coreth, 1973), em que um é o Senhor e o outro o 
Escravo. 
 
Um não reconhece o outro em sua forma pessoal de sabedoria, em sua forma de ser no mundo. 
Para se entender gênero, é necessário que se distinga sexo de gênero. Sexo é o componente genético 
anatômico e funcional, que estabelece a diferença entre homem e mulher. Gênero é a configuração histórica, 
social e política que distingue o homem da mulher, e a forma como esse contexto é elaboradopsicologicamente pelas pessoas. 
 
Refere-se aos papéis instituídos socialmente para o homem e para a mulher, e por eles desenvolvidos ao 
longo da vida. Quando discutimos a função reprodutora da mulher, estamos discutindo tanto sexo (porque se 
refere às possibilidades fisiológicas do sexo feminino), como gênero (porque se refere ao papel de mãe, 
estipulado pela cultura e sociedade, e a forma como esta mãe lida com este conceito). 
Este é o discurso concreto do gênero, que se reveste de um significado de reparação e reconstrução da 
identidade feminina. O discurso psíquico ou latente (encoberto) é de que a mulher propicia o aumento de 
poder do homem, ao abdicar de suas possibilidades enquanto ser que se constrói. Considera o homem o 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 10 
depositário de suas demandas, o herói de seus sonhos, o cavaleiro andante que irá resgatá-la de uma vida 
passiva e sem sentido (Holanda, 1992). Coloca todas as possibilidades de reforçamento na figura masculina. 
E mesmo que tenha outras atividades, não as faz com a mesma paixão com que se dedica ao homem. A 
necessidade de concretização do sonho amoroso pode, então, levar a mulher a se esquecer de si mesma. 
 
Exemplo: trecho de uma reunião de grupo de reflexão para mulheres. Os nomes são fantasia. 
“Rosa diz que não suporta mulheres que gastam com compra de roupas. Ao ser questionada por Mimosa, 
justifica dizendo que sua opção política é contrária ao capitalismo, cujo principal designativo é o 
consumismo exacerbado.” Trata-se aparentemente de uma questão de valores. Isto é o aparente. Entretanto, 
qual seria o ‘encoberto’, ou latente, que leva uma pessoa a sentir raiva de outra que compra? Em sua história 
de vida, Rosa foi continuamente excluída de várias atividades escolares e sociais. Questionava as regras 
vigentes, desde a forma com que se atribui uma nota no ginásio, até como se vestir para um acontecimento 
social. Atualmente vive com um homem (Cravo) há dois anos, sem contrato assinado. Umas de suas queixas 
é a falta de erotismo na relação. 
Uma mulher com roteiro psicológico de Chapeuzinho Vermelho, evita homens protetores (como o lenhador 
da história), buscando homens interessantes (Lobo Mau), ou seja, aqueles que trazem agonia e êxtase. 
 
Seguindo este raciocínio, muitas mulheres encontram bons companheiros, e pela aprendizagem da baixa 
autoestima atuam no relacionamento de forma a convidar o homem a se tornar um ‘parceiro’ de roteiro, ou 
seja, a exercer papéis complementares (Caracushansky, 1982), comprovando situações temidas pela mulher, 
fantasias que vivencia ao longo de seu crescimento (a confirmação de que é má, de que não nasceu para 
viver junto com o(a) parceiro(a), que não é interessante, etc). 
O homem também, ao colocar seu roteiro em curso, mesmo se casando com uma princesa, pode enviar 
mensagens subliminares de forma a convidá-la a ser uma ‘madrasta de Branca de Neve’, um outro exemplo 
de confirmação de roteiro. Isto leva a expectativas frustradas por parte da mulher e do homem. 
 
Mudar o roteiro é possível desde que a mulher rejeite o papel cultural a ela imposto. Na maioria dos casos, a 
mulher não tem consciência do quanto é forte o condicionamento cultural, acreditando-se muitas vezes com 
‘má sorte’, culpando parceiros, exagerando a parte psicológica. 
Duas pessoas que vivem juntas têm a mesma responsabilidade no estabelecimento da relação. Então imagine 
se Rosa e Cravo têm roteiros complementares. Rosa, querendo resolver uma situação de abandono, e Cravo, 
querendo vingar-se (não conscientemente) dos maus-tratos em infância. Rosa projeta em Cravo a 
expectativa do abandono, e Cravo projeta em Rosa a figura de uma mulher raivosa e infeliz. Ambos não se 
sentem inseguros um em relação ao outro, têm dificuldades em confiar, suspeitam de não serem amados, e 
tudo o mais que estas fantasias infantis trazem. Se alguma expectativa catastrófica importante é confirmada, 
como a entrada de outra pessoa na relação (pode ser até a sogra), ambos os parceiros se sentem ressentidos e 
abandonados. 
A história cultural de submissão feminina, a expectativa de que a mulher seja (como tem sido através dos 
séculos) a ‘cuidadora, a santa, a tarefeira’, faz com que, na maior parte das vezes, ela se sinta humilhada. 
 
Segundo o exemplo do casal, se Rosa superprotege o marido, o faz em virtude das manipulações de que é 
vítima, das exigências sociais introjetadas, e por medo de perdê-lo. Cravo também é vítima de uma história 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 11 
cultural que o coloca como superpessoa, dono da verdade, e sem poder expressar seus sentimentos ( para ele 
- sinônimo de debilidade), entre outras características de gênero. Além disto tem seus receios e fantasias 
infantis introjetadas. Ao ver a esposa como sua mãe, tem dificuldades em tratá-la como fêmea, auxiliando na 
falta de erotismo da relação. Não expressa suas dificuldades perante a necessidade de maior sensualidade da 
mulher e os sentimentos de menos valia que isto lhe acarreta. Teme tanto a crítica da esposa–mãe, quanto a 
crítica social introjetada. 
 
Parece claro que as velhas questões de moral merecem ser questionadas em favor da autoestima, visto que a 
mesma exige um posicionamento de confronto consigo mesmo, do que se busca e do que é ensinado. 
Considera-se pertinente refletir se estará a psicologia pronta para lidar também com a configuração histórica 
a qual a configuração psíquica se remete. 
 
Segundo Lima, (2000), a leitura psicológica da questão de gênero é nova e pouco consultada por psicólogos, 
e interfere em todas as áreas em que a psicologia atua, visto que é uma questão histórica, cultural, social e 
política. 
 
Segundo Boyd (1996), a ciência deve ser questionada quando o momento assim o exige, visto que a ciência 
foi criada pelo homem e, portanto, ao ser humano se deve remeter. 
No momento em que o psicólogo, cujo compromisso é com a qualidade de vida dos seres humanos, se 
defronta com danos causados por uma sociedade regredida no assunto do valor do cidadão, deve proceder ao 
seu trabalho de agente transformador, com consciência, ética e eficiência. 
Novas formas de relações afetivas estão se formando, a maioria quebrando valores e trazendo novos ganhos 
e novos enfrentamentos. O grupo social mais conservador aceita aos ‘trancos e barrancos’ esta mudança, 
não sem culpar os novos paradigmas de pensamento. Nossas crianças ainda são criadas para a orientação 
heterossexual. 
 
Aquelas que sentem, dentro de si, uma orientação diferente, deixam os pais e seu círculo mais chegado 
atônitos, por não saberem o que fazer. Buscam mudar os(as) filhos(as) como se fosse uma questão de 
aprendizagem. Poucos, mais sábios e confiantes, deixam que a criança cresça do seu jeito, acreditando que a 
livre opção deve ser incentivada, em todos os campos. 
Isto reflete uma possibilidade de evolução social, sugerindo que somente através da verdade interna de cada 
um, e do diálogo psicologia – sociedade, poderemos efetivamente auxiliar neste momento transformador. 
 
BIBLIOGRAFIA 
1. BERNE, E., Qué dice usted después de decir ‘hola’?, La Psicologia del Destino Humano. 5. ed. B. 
Ayres: Ediciones Grijalbo, 1974. 
2. BOYD, C., Ciência e Análise Transacional, In Revista Brasileira de Análise 
Transacional, REBAT, editora da UNAT, ano VI, nº 1, ISSN: 1517-8668, 1996. 
3. CARACUSHANSKY, S., Mitanálise, 1982, mimeo. 
4. FLAX, J., Psicoanálisis y Feminismo, Pensamientos Fragmentários, Madrid, Ediciones Cátedra, 1995. 
5. HOLANDA, H. (Org.), Y Nosotras Latinoamericanas? Estudos Sobre Gênero e Raça, 
São Paulo, Fund. Memorial da América Latina, 1992. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITOProf. Leonardo Mello de Sousa 12 
6. KLEIN, M., RIVIERE, J. Amor, Ódio e Reparação, São Paulo, Imago, 1975. 
7. LIMA, N. Experiências de um Grupo de Mulheres na Luta pela Cidadania, dissertação, PUC-Campinas, 
2000. Orient. Prof. Regina M.L.L.Carvalho. Resumo disponível em arquivo, nesta revista. 
8. ______Women Rights: Berne’s Groups Dynamic [trabalho apresentado. In: ITAA August Conference, 
San Francisco, 1999]. Programa Disponível on line [http://www.itaa-net.org]. 
9. MASLOW, A ., FRAGER, R., FADIMAN, J., Motivation and Personality, Addison – Wesley Pub Co; 
London, 1987, 3. ed. 
Endereço eletrônico: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=1338 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 13 
AULA 5 – A família: relações afetivas e tipos de famílias na 
contemporaneidade 
 
A Construção da Família Contemporânea (Tatiana Vasconcelos Cordeiro) 
 
Proponho uma discussão com as contribuições de Philippe Áries; este autor sugere entre outras coisas que a 
família, tal qual a conhecemos hoje não foi sempre organizada dessa forma. A mudança para o modo de 
produção industrial (capitalista) e na própria concepção de trabalho trouxe alterações em relação ao espaço 
público e privado e em relação à organização familiar. 
 
Na virada do séc. XIX para o séc. XX a rua passa a ser vista como espaço público, de trabalho e da 
indústria; local onde se realizavam negócios e onde se transitava com objetivos comerciais. A casa que antes 
abrigava o trabalho dos que nela moravam, agora transforma-se em local de convivência privada; um 
refúgio para a família nuclear frente às mudanças sociais, políticas e econômicas que estavam acontecendo, 
como, por exemplo, a diminuição das distâncias hierárquicas, já que a ascensão dava-se não mais através de 
heranças, mas cada vez mais através de conquistas e o espaço da rua cada vez mais pertencente ao Estado e 
ao trabalho, o que fez com que a família se voltasse mais e mais para si, se fechando.A família que antes se 
unia com objetivos políticos passa então a basear seus laços e alianças em sentimentos como amor, paixão e 
desejo. Há ainda uma grande transformação no valor atribuído às suas crianças, antes vista como pequenos 
adultos sem grande valor por conta das altas taxas de natalidade e mortalidade. Com o desenvolvimento de 
uma concepção de infância agora tornam-se o centro da família, que passa a ter como características a troca 
afetiva entre os parceiros e o amor entre pais e filhos. Nesse sentido, como diria Mizhari “... o cuidado 
infantil torna-se um dos organizadores do sentimento moderno de família.”(Mizhari, 2004, p.30). 
 
A crise na família começa a ocorrer quando esta se vê sobrecarregada e temerosa de sua capacidade para 
suprir todas as demandas impostas, pois cabia à família acolher, amar, tranqüilizar, mas também preparar 
para o trabalho e para a vida e manter a harmonia nuclear, ou seja, cabia à família tarefas muito difíceis de 
serem desempenhadas. Essa crise passou por diversos estágios, mais em nenhum momento a família deixou 
de ser importante para a socialização do sujeito e para o seu desenvolvimento. Ainda hoje quando a família 
atribui a outros – os especialistas, a função de educação e mesmo socialização primária de seus filhos, é 
vista na maioria de seus arranjos, como determinante, pois mesmo quando essa socialização é dada por um 
outro, este foi escolhido – e não um outro possível – pela família.Continuamos em nosso percurso histórico 
citando Lasch; este autor chama atenção para o fato de que nas sociedades americanas existia (ou ainda 
existe?) uma divisão, uma cisão entre afeto e autoridade, na medida em que os pais querem ser responsáveis 
apenas pelos bons momentos dos filhos. Corrigir, chamar atenção, ensinar, pôr de castigo, tudo isso ficaria 
sob responsabilidade das instituições educacionais e do social de uma maneira geral. Ou seja, os pais não 
querem ter que suportar o fato de ás vezes serem vistos como autoritários, repressores, caretas ou coisas do 
tipo, o que também faz parte de um desenvolvimento saudável. É sabido por nós que as crianças precisam 
não apenas de amor e atenção, mas também de limites e esse limite que se estende para a fase da puberdade 
não é nada mais do que a reafirmação do amor dos pais. Essa relação sem conflitos, sem limites ou regras 
severas, traz uma sensação de perfeição, de harmonia que em nada corresponde à verdade dos fatos. 
Mizhari aponta ainda para vários caminhos interessantes que podemos considerar neste artigo, como por 
exemplo: 
* O tempo do trabalho ser mais valorizado do que o tempo da família. 
* A liberdade ser pensada como algo individual e não político – reivindicação feminina por igualdade. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 14 
Quanto mais os pais estão ausentes, mais as crianças ficam entregues à TV. Muitas vezes são formadas e 
educadas pela mídia. Dessa forma, o seu desenvolvimento não é pautado em valores familiares e/ou 
fraternos, não se aponta com isso para uma ausência de valores e sim para uma formação pautada em 
valores de mercado, a formação de pequenos consumidores.Os pais carregam dentro de si uma enorme culpa 
por estarem ausentes de casa desde muito cedo (idade dos filhos) e durante tanto tempo num dia"(Mizhari, 
2004, p.32). 
A mídia, sobretudo a televisiva que é a de maior entrada entre as crianças e jovens, sabe disso e lucra 
jogando com a culpa e o medo de milhares de pais em seus comerciais, vendendo produtos e programas 
infantis.Lasch fala ainda da reivindicação feminina por igualdade e liberdade, porém é preciso ter cuidado 
para não se considerar que as resoluções para esses impasses estariam no plano individual, como bem 
lembra a autora: “(...) Sem transformar o trabalho, o consumo e a busca imediata por satisfação, geramos 
simplesmente uma indiferença frente à necessidade de jovens e crianças, passando eles a serem vistos como 
um simples peso à liberdade de mulher" (Mizhari, 2004, p.32 ). 
 
Uma organização do trabalho que não considera as diferenças de necessidades entre homens e mulheres, que 
não respeite o seu período de gestação, amamentação e primeiros meses de vida do bebê, onde este precisa 
necessariamente de cuidados especiais e de carinho e atenção da mãe, é uma organização desumana, que 
tem acima do homem e da mulher e das suas necessidades de afeto e relações interpessoais, o lucro 
imediato. Diferente do que se pensa ou se propaga, não é a família que sobrecarrega a mulher e a faz 
escolher entre o desejo de ser mãe e ser bem-sucedida profissionalmente. Uma situação não interfere ou 
anula a outra. O que faz com que as mulheres tenham que escolher entre ter filhos jovens, construir uma 
família ou serem independentes são as exigências do mercado de trabalho, que não acompanham as 
mudanças familiares que ocorrem na sociedade. 
 
É o trabalho, e não a família que faz com que a mulher faça sacrifícios, renúncias, dedique-se dia e noite e 
sofra por se sentir ausente e culpada por sua ausência. 
Essa questões podem ser ampliadas para a paternidade, ou seja, quando será possível uma paternidade mais 
participante, mais ativa, com divisão de tarefas e de responsabilidades sem que com isso ponha-se em risco 
a estabilidade no trabalho como por vezes acontece com as mulheres? Lasch aponta para a cisão entre vida 
pública e privada ao falar da origem da família moderna e o paradoxo instaurado a partir de então. Embora 
os assuntos “de família” ou domésticos como a educação das crianças da casa sejam apontados como de 
responsabilidade da vida privada, - portanto dos pais, essesmesmos pais são atropelados por uma série de 
regras e normas para essa criação, de acordo com as necessidades do trabalho, ou seja, da esfera pública. 
Sendo assim, ao pensarmos na construção da família contemporânea a partir da industrialização das cidades 
podemos ter como pontos fundamentais algumas características dessa última, como por exemplo, a retirada 
das atividades de produção da casa, ou seja, do espaço doméstico, a apropriação do conhecimento do 
trabalhador de seu trabalho e de suas ferramentas a partir da gerência e da administração nas fábricas e 
talvez o mais importante deles, a perda de sentido do trabalho que cada vez menos é feito como algo que diz 
respeito a uma herança, tradição e socialização da família. Perde-se esse sentido quando o processo de 
produção passa a ser feito de modo desmembrado, onde cada trabalhador é responsável por uma etapa da 
fabricação e não domina mais todo o processo. Mudanças que foram feitas visando agilidade para o aumento 
de produção e de lucro e que trouxeram conseqüências no núcleo familiar. 
 
Bibliografia 
 
 
1. ARIÉS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981 [1973] 
2. LASCH, C. Refúgio num mundo sem coração. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1991 [1977] 
3. MIZRAHI, Beatriz Gang - A relação pais e filhos hoje - a parentalidade e as transformações no mundo do 
trabalho, RJ, Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 15 
4. Disponível em : http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=202 
 
AULA 6 – Aspectos Psicológicos das Relações Humanas. Influências Sociais. 
Estereótipo, Preconceito, e Discriminação 
Estereótipo 
A palavra estereótipo, vem do grego stereos e typos compondo uma "impressão sólida". Uma marca ou 
cliché como forma de caracterizar ou representar pessoa, objeto ou grupo social. 
É a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. São usados principalmente para definir 
e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade. O estereótipo é geralmente imposto, segundo as 
características externas, tais como a aparência (cabelos, olhos, pele), roupas, condição financeira, 
comportamentos, cultura, sexualidade, sendo estas classificações (rotulagens) nem sempre positivas que 
podem muitas vezes causar certos impactos negativos nas pessoas. 
Esta impressão pode se dar através da cultura ou das diferenças apresentadas entre os grupos sociais. 
Tradicionalmente herdamos estas informações de nossos ancestrais num movimento transgeracional. 
A frase “Brasil, o país do futebol” é um exemplo de estereótipo positivo e demonstra a paixão que os 
brasileiros têm em relação ao futebol. No entanto, existem idéias estereotipadas caracterizadas como 
negativas, como por exemplo, “o Paquistão é o país dos homens bomba”. Essa generalização não é vista 
com bons olhos pelos paquistaneses, uma vez que a maioria dos habitantes que vivem lá é contra o 
terrorismo. O fato é que muitos estereótipos são geralmente adquiridos na infância sob a influência dos pais, 
familiares, amigos, professores e através da mídia. E quando um estereótipo é aprendido e armazenado no 
cérebro, a tendência é que seja passado para outras pessoas. 
Assim, por intermédio da percepção, as vivências históricas e sócio-culturais se tornam presentes à nossa 
consciência, gerando a afetividade e as ações que determinada experiência permite ter. A realidade age 
sobre nós se for apreendida e internalizada. 
 “Representações, obviamente, não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, 
elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao 
nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem.” (Moscovici, 2003). 
Sua aceitação é ampla e culturalmente difundida, sendo um grande motivador de preconceito e 
discriminação. 
Podemos classificar os estereótipos em: 
• Estereótipos de gênero: São estereótipos direcionados ao gênero masculino e feminino. 
• Estereótipos raciais e étnicos: São estereótipos direcionados a diferentes etnias e raças. 
• Estereótipos sócio-econômicos: São estereótipos relacionados com a questão financeira de 
indivíduos e grupo de indivíduos. 
• Estereótipos no meio profissional: direcionados a certas profissões. 
• Estereótipos em relação à orientação sexual: gays, lésbicas e bissexuais. 
• Estereótipos da estética: moda, arte, mídia 
• Estereótipo nas escolas: “nerds” ou “CDF” que representam os alunos que se destacam pela sua 
inteligência e pelo seu jeito introvertido. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 16 
 
Preconceito 
É um "juízo" de valor, preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" 
perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar 
desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. Mas também pode 
representar algo positivo, infelizmente o senso comum acabou reforçando uma idéia sempre negativa a 
palavra, embora estabelecer previamente conceitos sobre alguém ou algo, não necessariamente é algo 
negativo. 
Os sentimentos negativos em relação a um grupo fundamentam a questão afetiva do preconceito, e as ações, 
o fator comportamental. Segundo Max Weber (1864-1920), o indivíduo é responsável pelas ações que toma. 
Uma atitude hostil, negativa ou agressiva em relação a um determinado grupo, pode ser classificada como 
preconceito. 
Algumas formas mais comuns de preconceito são: 
Preconceito racial é caracterizado pela convicção da existência de indivíduos com características físicas 
hereditárias, determinados traços de caráter e inteligência e manifestações culturais superiores a outros 
pertencentes a etnias diferentes. O preconceito racial, ou racismo, é uma violação aos direitos humanos, 
visto que fora utilizado para justificar a escravidão, o domínio de alguns povos sobre outros e as atrocidades 
que ocorreram ao longo da história. 
 
Preconceito social é caracterizado pelo olhar diferenciado segundo as diferenças social, de classes e status 
que estão associadas a questões econômicas. A existência de favelas e condomínios fechados tão próximos 
fisicamente e tão longes socialmente. 
Preconceito sexual, mais comum no cenário atual, baseado na diversidade sexual e na intolerância de 
alguns cidadãos frente às diferenças sexuais apresentadas pelos indivíduos. Deflagra um senso de medo e 
inconformidade frente à população, o novo, o patologizado. Ao mesmo tempo abre espaço para uma 
evolução no cenário social, que alguns cidadãos começam a perceber como um novo desafio, com perigos e 
necessidade de adaptação, mas que não impede a sua capacidade de aprendizado. 
Discriminação 
Significa "fazer uma distinção". Ao representar esta ação ou atitude, ela pode ser positiva ou negativa. O 
significado mais comum, no entanto, tem a ver com a discriminação sociológica: 
• Discriminação Social 
• Discriminação Racial 
• Discriminação Deficiência 
• Discriminação Religiosa 
• Discriminação Sexual 
• Discriminação Idade 
• Discriminação Nacionalidade 
• Discriminação Trabalho 
A ato de discriminar leva em muitos casos a um processo de exclusão social que marginaliza e estigmatiza o 
indivíduo ou grupo social, representando uma série de restrições e aprisonamentos sociais incapacitantes. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 17 
A legislação brasileira considera crime o ato discriminatório, como se depreende das leis 7.853/89 (pessoa 
portadora de deficiência), 9.029/95 (origem, raça, cor, estado civil,situação familiar, idade e sexo) e 
7.716/89 (raça ou cor). 
Reportagens Marcello de Andrade e Paula Dias – JB – 26/3/04. 
 
Maioria dos moradores teme pela desvalorização dos imóveis, mas prefeitura dá andamento ao projeto. 
 
O projeto de construção de uma escola, num condomínio do Itanhangá, tem sido motivo de preocupação 
para os moradores. Localizado na estrada de Jacarepaguá, em meio à Floresta da Tijuca, o condomínio 
Village da Floresta enfrenta a proposta da prefeitura de construir uma escola municipal de ensino médio em 
suas dependências. A maior parte dos moradores não concorda com a ideia. Eles temem pela desvalorização 
dos imóveis e pela segurança. 
O deputado federal Eduardo Paes, a convite dos moradores, participou de duas reuniões no condomínio, na 
primeira quinzena de março. Paes prometeu analisar o caso perante à Secretaria de Educação. Agora, a 
decisão estará a cargo da Rio Urbe. 
O terreno que poderá abrigar a escola tem cerca de 1.500 metros quadrados e atualmente abriga um jardim 
de eucaliptos e uma quadra de futebol society. Até 2002, todo condomínio na Barra era obrigado a ceder 
espaço para o poder público. O síndico Frederico Coutinho, entretanto, pondera que isso não significa que o 
local seja apropriado para abrigar uma escola. 
O arquiteto e decorador Eder Meneghini, de 43 anos, aprova a instalação da instituição, que traria melhorias 
para o condomínio – inclusive promovendo a pavimentação do local. 
 
- As pessoas têm que entender que abrigaremos uma escola, e não um presídio. E as pessoas que compraram 
terrenos aqui, há 20 anos, sabiam que poderiam dividir espaço com uma escola – ele diz. 
 
A Secretária Municipal de Educação Sônia Mograbi, diz que o local deverá abrigar uma escola-padrão de 
ensino fundamental. 
 
- O projeto está sendo elaborado. Tão logo fique pronto, será apresentado à comunidade, inclusive aos 
moradores do condomínio – ela explica. 
 
BULLYING, A AGRESSÃO SILENCIOSA QUE CRESCE NAS ESCOLAS 
LAURA ANTUNES / O GLOBO / MAR-2004. 
 X, de 11 anos, começou a perder o interesse, no ano passado, em assistir às aulas na escola Municipal 
Embaixador João neves da Fontoura, em Rocha Miranda, e a apresentar uma tristeza profunda, detectada 
pelos professores. A razão estava dentro da própria sala de aula. X era constantemente ridicularizada pelos 
colegas por causa do cabelo crespo. O constrangimento, à primeira vista uma inocente brincadeira de 
criança, passou a prejudicar o desempenho da menina. 
A humilhação sofrida por X é um caso exemplar de bullying – comportamento agressivo apresentado por 
grupos de alunos contra um ou mais colegas em situação de desigualdade. Esse tipo de situação se tornou 
alvo de um amplo trabalho realizado por uma equipe da Associação Brasileira de Proteção à Infância e à 
Adolescência – ABRAPIA, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Ibope e Petrobrás. 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 18 
 Durante o ano passado, 5875 alunos, entre 10 e 19 anos, da 5ª a 8ª série, de 11 escolas cariocas (nove 
municipais e 2 particulares), das zonas Sul, Norte e Oeste foram entrevistados. O resultado, segundo os 
responsáveis pelo estudo, impressionou: 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos 
em atos de bullying – 16,9% como alvos, 10,9% como alvos e autores e 12,7% como autores. 
A partir do resultado do levantamento – que acabou transformado no livro: Diga não para o bullying, 
integrantes da ABRAPIA promoveram encontros com alunos e professores dessas escolas. 
Esse tipo de comportamento ocorre mundialmente. Há casos tão graves que resultam até em suicídio, por 
parte do aluno alvo, ou em reação violenta, com já ocorreu nos EUA, onde alunos invadiram a escola 
atirando a esmo, como forma de resposta às humilhações – afirma o pediatra Aramis Neto, coordenador do 
projeto. 
Segundo ele, um dos relatos mais comoventes partiu de uma diretora, que se sentia culpada por não detectar 
antecipadamente um caso: 
O fato só foi descoberto quando o aluno alvo, de 15 anos, considerado introvertido demais pelos colegas, foi 
espancado dentro do banheiro da escola. As humilhações, até então, não tinham sido percebidas pelos 
professores, já que, na maioria das vezes, o aluno alvo não busca ajuda, preferindo o silêncio. 
 
Esses atos ocorrem geralmente quando não há adultos presentes. Na escola Thomas Mann, no Cachambi, foi 
identificado o caso de uma aluna, de 13 anos, que sofria a humilhação de ser chamada de feia e recebia 
apelidos constrangedores. As palestras realizadas, pela equipe da ABRAPIA, na escola, serviram para 
procurar saídas para o problema: foi designado um grupo de alunos para identificar esses tipos de casos. 
 
A aluna apresentava uma infelicidade muito grande. Os professores e orientadores, então, tiveram conversas 
com os alunos autores do bullying para que entendessem o quanto faziam um colega sofrer e se gostariam 
de estar no lugar dele. Esse tipo de conversa serviu para melhorar e muito o relacionamento deles. 
O motivo do bullying é variado: um comportamento introspectivo, obesidade, um nome curioso, orelhas de 
abano, cabelos crespos, a cor da pele,... 
De acordo com o Dr. Aramis, dos alunos que revelaram no questionário terem sido vítimas de perseguição, 
24% revelaram ter conseguido minimizar o problema conversando com os próprios colegas, 11% com os 
professores e orientadores e apenas 8% levando o problema para a própria família. 
 
 
* As reportagens acima, foram citadas como fonte de complemento do artigo "Atitude, Preconceito e 
Estereótipo", portanto, os direitos autorais das reportagens são devido aos seus respectivos autores. 
 
Psicologia - Brasil Escola 
Disponível em : http://www.brasilescola.com/psicologia/reportagem.htm 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 19 
AULA 7 - Aspectos Psicológicos das Relações Humanas. Lei Jurídica X Lei 
Simbólica: leis organizadoras da vida em sociedade. Comportamento: 
comportamento antissocial e violência . Transgressão e Lei Simbólica 
 
 
“Nada há de mais profundamente desigual do que a igualdade 
de tratamento entre indivíduos diferentes.” 
 Esmeraldino Bandeira 
 
 
A palavra LEI significa forma escrita que utilize linguagem e que transmita e compartilhe informações. 
 
Lei seria a amarração dos registros reais, simbólicos e 
imaginários articulados aos sentidos compartilhados 
entre os homens. 
 (Aquino, 2008) 
Lei Simbólica 
 
É estrutural (...), pois estes têm sua base na linguagem. Com sua 
estrutura de linguagem, a Lei simbólica comparece na cultura 
por intermédio de suas manifestações e no inconsciente por 
meio de suas formações – sonho, sintoma, chistes. A 
Constituição, carta magna de um Estado, as leis, os estatutos e 
os regimentos institucionais são modalidades de expressão da 
Lei simbólica na cultura e visam ao enquadramento e a 
limitação do gozo de uma relação aos demais. 
 (Quinet, 2003) 
 
A Lei Jurídica 
 
Regra geral de direito, justa e permanente, dotada de sanção, 
que exprime a vontade imperativa do Estado, de cunho 
obrigatório e de forma escrita a que todos estão submetidos. 
Desta forma, pode-se concluir que a lei é um preceito jurídico 
dotado de generalidade, de obrigatoriedade e de permanência.(Anfarmag, 2006) 
 
Com o simbolismo o indivíduo passa a enxergar o outro também como possuidor de direitos, não só 
de deveres e este é a base para a constituição da lei, norma que regulamentam direitos e deveres igualitários 
para todos que compõem o grupo. 
Ao adquirirmos e aceitarmos as regras sociais – Lei Jurídica, passamos a nos ver como seres sociais 
capazes de conviver em harmonia com os outros, pelo princípio da cidadania (Direitos e Deveres). 
Transformamos a selvageria (inata) em socialização (aprendida). 
 
 
Raízes orgânicas e sociais da violência urbana Proposta de introdução única 
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora acometa indivíduos vulneráveis em todas as 
classes sociais, é nos bairros pobres que ela se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade, e 
 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO Prof. Leonardo Mello de Sousa 20 
de um país para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se dissemina pelo interior. A 
incidência nem sempre é crescente; a mudança de fatores ambientais pode interferir em sua escalada. 
Sabe-se que os genes herdados exercem influência fundamental na estrutura e função dos circuitos de 
neurônios envolvidos nos mecanismos bioquímicos da agressividade. É bom ressaltar, porém, que os fatores 
genéticos não condicionam o comportamento futuro: o impacto do meio ambiente é decisivo. Os mediadores 
químicos liberados e a própria arquitetura das conexões nervosas que constituem esses circuitos são 
dramaticamente modelados pelos acontecimentos sociais da infância. 
As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam ao sabor das emoções; o 
conhecimento científico raramente é levado em consideração. Como reflexo, o tratamento da violência 
evoluiu muito pouco no decorrer do século XX, ao contrário do que ocorreu com as infecções, câncer ou 
AIDS. 
Parte I - Raízes Orgânicas da Violência Características físicas e índole criminosa 
A explicação para o atraso no desenvolvimento de técnicas eficazes para tratar a violência está nos erros do 
passado. No século XVIII, um anatomista austríaco chamado Franz Gall desenvolveu uma teoria em torno 
da seguinte idéia: a maioria das características humanas, inclusive o comportamento anti-social, seria 
regulada por regiões específicas do cérebro. Cada comportamento estaria sob o comando de um centro 
cerebral específico. Quanto mais robusto fosse o centro mais intensa seria a expressão do comportamento 
controlado por ele. Essa teoria ganhou o nome de frenologia. 
Franz Gall imaginava que, ao crescer, os centros cerebrais exerciam pressão contra os ossos da cabeça, 
deixando neles saliências que poderiam ser vistas ou palpadas. As pessoas com tendências criminosas 
poderiam, então, ser reconhecidas pelo exame cuidadoso dessas protuberâncias e depressões ósseas 
presentes no crânio. 
Com o tempo, a frenologia caiu em descrédito, mas a tentação de identificar a aptidão para o crime por meio 
de características físicas persistiu. Cerca de cem anos depois da frenologia, um italiano especialista em 
antropologia criminal chamado Cesare Lombroso criou uma nova doutrina que ressuscitou a associação das 
características físicas com uma suposta índole criminosa. Tais características constituiriam os "stigmata". De 
acordo com Lombroso, os tipos humanos com testa achatada e assimetria nos ossos da face, por exemplo, 
seriam criminosos potenciais. Quem tivesse esses traços era classificado como tipo lombrosiano e visto com 
extrema desconfiança nos tribunais. 
 
Lobotomia e controle medicamentoso da agressividade 
Em 1949, Egas Muniz, neurocirurgião português, ganhou o prêmio Nobel de medicina em reconhecimento 
por haver introduzido a lobotomia, na prática médica. Na lobotomia, são seccionados os feixes nervosos que 
chegam e os que saem do lobo frontal, localizado na parte anterior do cérebro, estrutura responsável pela 
tomada de decisões a partir das informações captadas pelos sentidos. Inicialmente indicada apenas nos casos 
de pacientes muito agressivos, as lobotomias se popularizaram segundo critérios de indicação duvidosos e, 
muitas vezes, serviram como instrumento de poder ou castigo, especialmente nos estados totalitários (mas 
não apenas neles). 
Nos últimos 50 anos, essas teorias caíram gradativamente em descrédito, até se tornarem execradas pelos 
estudiosos. Hoje, são consideradas exemplos típicos de ideologias pseudocientíficas que foram utilizadas 
para justificar arbitrariedades graves. 
 
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Paralelamente ao abandono dessas idéias, criou-se em certos setores da sociedade um medo generalizado de 
que os cientistas realizassem pesquisas laboratoriais, capazes de conduzir à obtenção de medicamentos 
apaziguadores dos instintos violentos. 
Imaginava-se que essas drogas poderiam ser administradas preventivamente às comunidades carentes de 
recursos, para acabar com a violência milagrosamente, sem que as classes dominantes precisassem abrir 
mão de seus privilégios. 
Pensamentos desprovidos de bases científicas como esses, trouxeram péssima reputação aos estudos do 
comportamento anti-social. A politização afastou a comunidade acadêmica da área e a violência urbana 
passou a ser entendida como um fenômeno de raízes exclusivamente sociais. Qualquer tentativa de 
caracterizar um substrato orgânico para a agressividade física gerava debates carregados de emoção e até 
manifestações políticas. 
Aspectos biológicos da violência 
O panorama começou melhorar a partir da década de 1970, quando os americanos tomaram consciência de 
que as dificuldades enfrentadas com as minorias do centro deteriorado das grandes cidades de seu país não 
desapareceriam espontaneamente. Ao contrário, a violência aumentava apesar do maior rigor em puni-la. Os 
institutos oficiais começaram, então, a financiar pesquisas para conhecer melhor o lado biológico da 
violência. 
As informações científicas acumuladas nos últimos 30 anos permitem afirmar que a violência tem um 
substrato biológico, de fato. O comportamento humano, no entanto, não se acha condicionado às 
características que herdamos de nossos pais. Ele é resultado de interações sutis entre genes, condições 
ambientais e experiências de vida. 
Bioquímica e fatores sociais envolvidos na violência A revista Science, que divide com a Nature prestígio 
e popularidade inigualáveis no meio acadêmico internacional, acaba de publicar um número dedicado a 
discutir a violência com base nas informações científicas disponíveis atualmente. Vamos resumir, aqui, o 
que a ciência sabe sobre a bioquímica e os fatores sociais envolvidos na violência, de acordo com essa 
revisão primorosa publicada pela Science: 
 
 
1) O papel do álcool - O rato coloca o nariz num buraco da gaiola. No buraco há um sensor que detecta a 
presença do nariz e ativa um circuito elétrico. Nesse instante, num bebedor de água ao lado, caem algumas 
gotas de bebida alcoólica que o rato bebe rapidamente. Cada dose de álcool que cai é calculada de acordo 
com o peso corpóreo do rato para corresponder à de uma cerveja, no homem. 
Invariavelmente, ao terminar o drinque, o rato volta a colocar o nariz no buraco com sensor, para obter 
outro. Se o pesquisador deixar, o animal bebe até cair. Por isso, depois de tomar o equivalente ao segundo 
drinque, o fornecimento de álcool é interrompido. Nesse momento, um rato sóbrio é colocado na mesma 
gaiola do que bebeu. 
Os ratos são animais territoriais; numa situação dessas costumam atacar o intruso até que este levante as 
patas da frente para evitar mordidas e declarar submissão. O rato que bebeu os dois drinques não respeita a 
 
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postura submissa do sóbrio, corre atrás e morde o outro muitas vezes. Mais de vinte vezes em cinco 
minutos, segundo o autor do experimento, Klaus Miczek, da Universidade de Tufts. 
Numa sociedade como a ocidental, em que o hábito de tomar dois drinques por dia é considerado 
abstinência por muitos, não é de se estranhar que de cada três crimes violentos, dois sejam cometidos sob 
efeito de bebidas alcoólicas. Grande parte das agressões mortais tão comuns na periferia das cidades 
brasileiras acontece nos bares, e muitos ladrões ingerem álcool antes de sair para o assalto. 
2) Neurotransmissores - A experiência descrita com o álcool deixa claro que existem mediadores químicos 
envolvidos nos mecanismos que conduzem à agressividade. O mediador mais estudado tem sido a 
serotonina, substância que transmite sinais entre os neurônios, ligada às sensações de prazer, mas também às 
depressões, distúrbios de alimentação e dependência de cocaína. 
A serotonina, provavelmente, exerce controle inibitório sobre a agressividade impulsiva. Desarranjos no 
sistema de produção e metabolismo da serotonina têm sido descritos em pacientes psiquiátricos agressivos, 
homens impulsivos e violentos e em suicidas. 
Numerosos estudos documentaram níveis baixos de serotonina no líquor, isto é, no líquido que banha a 
medula espinal e o cérebro, em animais agressivos e também no homem. Como demonstração de causa e 
efeito, se administrarmos drogas que modificam os níveis de serotonina no líquor teremos alterações 
proporcionais na agressividade: drogas que diminuem as concentrações de serotonina aumentam a 
agressividade; as que aumentam serotonina tornam os animais mais dóceis. 
Diversos pesquisadores estão concentrados na caracterização dos receptores aos quais a serotonina se liga na 
superfície dos neurônios, para exercer seu efeito. Várias drogas que interferem com esses receptores 
reduzem a agressividade em ratos e macacos. 
Outro neurotransmissor que parece estar envolvido na modulação da violência é a vasopressina. Em 1998, 
Coccaro e Ferris, da Universidade de Chicago, dosaram as concentrações de vasopressina no líquor de 26 
homens portadores de distúrbios anti-sociais. Verificaram que níveis mais altos de vasopressina estavam 
associados a comportamento mais agressivo. 
 
 
3) Lobo frontal - Muitos autores acreditam que o córtex do lobo frontal, camada de massa cinzenta que 
recobre o lobo, exerce influência importante no controle da impulsividade e do comportamento violento. 
Em 1997, A. Raine, estudou 41 homens encarcerados e um grupo de 41 indivíduos livres para servir de 
grupo controle, na Universidade da Califórnia. Todos foram submetidos ao PET- scan, tomografia que 
permite analisar as áreas cerebrais que estão em atividade num dado momento. Os resultados mostraram que 
o córtex da parte da frente do lobo frontal apresentava alterações fisiológicas nos presos condenados por 
crime de morte. 
O mesmo autor publicou outro estudo, no qual foram determinadas as dimensões do córtex do lobo frontal 
em diversos portadores da assim chamada personalidade anti-social, que haviam sido responsáveis por atos 
violentos. Neles, a substância cinzenta ocupava uma área 11% menor. Inquirido sobre o significado desse 
achado, Raine, respondeu à Science: "Não tenho a menor idéia". 
 
4) A genética - Embora muitos considerem politicamente incorreto, os estudos conduzidos entre irmãos 
 
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gêmeos univitelinos (iguais) criados na mesma família ou crescidos sem contato em lares distantes, são 
altamente sugestivos de que um componente genético esteja envolvido na agressividade. 
Na Holanda, há um caso clássico, relatado em 1993, de uma família cujos membros do sexo masculino 
haviam se engajado em crimes de morte, estupros, roubos e incêndios criminosos. A análise genética 
mostrou que esses homens tinham um defeito muito raro num gene que codifica a produção de uma enzima 
chamada MAOA, que age quebrando as moléculas de diversos neurotransmissores. 
Em 1999, S. Manuck e colaboradores publicaram um estudo realizado com 251 voluntários testados para a 
presença de mutações num gene responsável por uma enzima que limita a produção de serotonina. Os 
autores foram capazes de identificar mutações nesse gene associadas a diversas manifestações de 
agressividade, incluindo a tendência de experimentar sensação de raiva sem motivo aparente. 
Em ratos, já foram identificados 15 genes que interferem com a agressividade, entre eles o da MAOA. A 
identificação de alguns desses genes, às vezes, aparece nas manchetes da imprensa leiga, como 
representando o descobrimento do "gene da agressividade". Conhecimentos elementares de genética, 
entretanto, demonstram que comportamentos complexos como a violência nunca são regulados por um gene 
único; estão sob o comando de uma constelação de genes que interagem através de mecanismos de extrema 
complexidade. Muitos biólogos moleculares estão convencidos de que essas interações são tão complexas, 
que dificilmente serão entendidas a ponto de podermos manipulá-las com segurança para modificar um 
comportamento de forma previsível, por mais elementar que seja ele. 
5) A violência das crianças - Sem menosprezar a influência do meio, é inegável que a tendência a reagir de 
forma violenta diante de uma situação adversa varia de uma criança para outra, sugerindo raízes pré-natais. 
Segundo a Science, os pesquisadores atuais procuram entender a violência como expressão final de um 
conjunto de fatores de risco. Entre eles, estaria incluída uma vulnerabilidade biológica, genética ou 
desenvolvida na fase pré-natal, trazida à superfície ou reforçada pelo meio social. 
Crianças cronicamente violentas freqüentemente apresentam comportamento hiperativo, dificuldade de 
concentração na escola, ansiedade, confusão mental, impulsividade, ideação fantasiosa e tendências 
autodestrutivas. Esses distúrbios emocionais se agravam quando essas crianças se agrupam com outras, 
portadoras de comportamentos semelhantes. 
Estima-se que 2% dos meninos e menos de 1% das meninas apresentem essas características. É importante 
ressaltar que a maioria das crianças violentas deixam de sê-lo na adolescência. No caso dos adultos mais 
agressivos, porém, as raízes do comportamento anti-social costumam já estar presentes na infância, 
sugerindo que a agressividade seja um fenômeno bastante estável no decorrer da vida. 
O grupo de R. Tremblay, da Universidade de Montreal, vem acompanhando mil meninos canadenses a 
partir dos 6 anos de idade, desde 1984. A maioria dos que eram fisicamente violentos na infância abandonou 
esse comportamento ao redor dos 12 anos, mas em 4% a agressividade se tornou crônica. Tremblay 
identificou dois fatores de risco nesse grupo: as mães dos meninos eram menos instruídas e tiveram seus 
filhos numa idade mais precoce. Teoricamente, seriam mães menos preparadas para educar crianças 
problemáticas. 
 
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Entre os traços associados ao comportamento violento das crianças está a falta de empatia, isto é, a 
dificuldade de colocar-se no papel do outro. Um dos exemplos é a crueldade com os animais, uma das 
primeiras manifestações dessa incapacidade. 
Estudos conduzidos por D. Rowe, na Universidade do Arizona, mostram que crianças com QI abaixo da 
média, também apresentam risco mais alto de se tornarem adultos violentos. 
O grupo de A. Raine, que acompanha cerca de 1800 crianças das ilhas Maurício, publicou um trabalho 
demonstrando que as crianças com baixa freqüência cardíaca aos 3 anos de idade tinham maior 
probabilidade de serem fisicamente agressivas aos 11. Em outros estudos, osmesmos autores mostraram 
que meninos com ondas cerebrais mais lentas e condutância cutânea mais baixa (uma medida da sudorese 
através da pele) tinham maior probabilidade de acabar na prisão, anos depois. 
Os autores desconfiam que esses parâmetros sejam simples indicadores de um sistema nervoso central mais 
desregulado. Nesses casos, quando o estresse é mantido, os circuitos de neurônios envolvidos no controle da 
agressividade ficariam sobrecarregados e entrariam em colapso. 
Apesar de essas conclusões serem criticáveis por não levarem em conta a influência poderosa do meio 
ambiente, a existência da agressividade física na infância é irrefutável. Se não considerarmos as 
conseqüências da agressão e olharmos apenas para o comportamento agressivo, a idade mais violenta de 
todas é a de 2 anos. R. Temblay afirma na revista Science: "A pergunta que tentamos responder nos últimos 
30 anos, é como as crianças aprendem a agredir. A pergunta está errada; o certo seria perguntar como elas 
aprendem a não agredir.Os bebês não se matam uns aos outros, só porque lhes impedimos o acesso aos 
revólveres". 
Predisposição à agressividade e à violência 
Evidências científicas sugerem que a reatividade emocional de um indivíduo pode predispô-lo à 
agressividade física. Essa propensão está associada a um baixo limiar de ativação de um conjunto de 
emoções e estados de espírito negativos: raiva, ansiedade e agitação, entre outros. 
As técnicas modernas de neuro-imagem permitiram identificar diversas regiões cerebrais envolvidas nos 
circuitos de neurônios que amplificam, atenuam ou mantêm as emoções. A ativação experimental ou a lesão 
desses centros altera a intensidade de expressão dos estados emocionais regulados por eles. Por exemplo, 
lesões provocadas numa estrutura cerebral chamada amígdala prejudica a percepção de expressões de medo 
e lesões numa pequena área do lobo frontal podem desregular a forma de exprimir raiva. Em camundongos, 
lesões de determinadas áreas do lobo frontal transformam um animal calmo em impulsivo e violento. 
O estado emocional-afetivo de cada indivíduo é estabelecido por uma delicada rede de neurônios que 
convergem para determinadas áreas do cérebro, e pelos neurotransmissores liberados por eles na condução 
do estímulo. As reações individuais dependem, então, da sintonia fina dessa circuitaria de neurônios em 
ação. 
Como a violência não é um fenômeno homogêneo, suas manifestações são graduadas por circuitos 
específicos de neurônios. Por exemplo, um estudo conduzido entre 41 homens condenados por assassinato 
mostrou que os autores de crimes premeditados, predatórios, apresentavam um padrão de metabolismo do 
lobo pré-frontal diferente daqueles que haviam cometido o assassinato como conseqüência de uma explosão 
impulsiva. 
Indivíduos bem adaptados são capazes de regular voluntariamente suas emoções negativas e aproveitar 
determinadas indicações do meio, como as expressões faciais ou vocais de medo ou raiva, para definir a 
 
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melhor estratégia de comportamento a ser adotada. É provável que aqueles predispostos à violência 
apresentem anormalidades na condução de estímulos através dos circuitos responsáveis por essas estratégias 
adaptativas. 
Há evidências claras de que genes herdados dos pais influenciam a estrutura e função dessas circuitarias de 
neurônios. O fator genético, no entanto, interage com as influências do ambiente desde as fases mais 
precoces do desenvolvimento da criança. A própria estrutura das conexões envolvidas nesses circuitos é 
dramaticamente modelada pelos acontecimentos sociais da infância. 
As pesquisas atuais para caracterizar a função das fibras nervosas que entram e saem dos centros cerebrais 
moduladores das emoções abrirão caminho para intervenções medicamentosas associadas a estratégias 
psicossociais preventivas nas populações de alto risco. Para isso, os primeiros passos estão dados: 
reconhecer que tanto a agressão impulsiva quanto a premeditada, independentemente das causas 
responsáveis por elas, são doenças contagiosas que refletem anormalidades fisiológicas nos circuitos de 
neurônios que controlam as emoções. 
 
Parte II - Raízes Sociais da Violência Concentração populacional e violência 
 
Em 1962, John Calhoun publicou na revista Scientific American um estudo que ganhou os jornais diários e 
teve repercussão no meio científico. No artigo "Densidade Populacional e Patologia Social", o autor relatava 
um experimento sobre as conseqüências do aumento da população de ratos, numa gaiola com um comedor 
na parte central e outros distribuídos pelos cantos. 
O aumento do número de animais na gaiola provocava sua aglomeração em volta do comedor central, 
embora houvesse espaço à vontade ao redor dos comedores laterais. Como cada rato queria para si a posição 
mais privilegiada no centro, começavam as disputas. Quanto maior a concentração de ratos, maior a 
violência das brigas: mordidas, ataques sexuais, mortes e canibalismo. 
Naqueles anos 1960, o experimento foi um prato cheio para os comportamentalistas (behavioristas) e o 
público em geral. Oferecia uma explicação simples para a epidemia de violência que a TV começava a 
mostrar nas grandes cidades: turbas enfurecidas, polícia, bombas de gás lacrimogêneo, saques e as gangues 
urbanas. Assim como os ratos se matavam por uma posição no meio da gaiola, os homens se agrediam no 
centro das cidades, concluíram todos. 
 
Durante décadas, a imagem da "gaiola comportamental" de Calhoun contaminou o entendimento das causas 
da violência urbana: quanto maior a concentração de gente nos centros urbanos mais violência, tornou-se 
crença geral. Ninguém lembrou que, no centro de Tóquio apinhado de gente, uma senhora pode andar 
tranqüila à meia-noite, e que São Paulo ou Los Angeles, cidades de grande extensão e densidade 
populacional muito menor, estão entre as cidades mais violentas do mundo. É o que dá extrapolar 
diretamente para o homem dados obtidos com animais. Apesar de mamíferos, os roedores não são primatas. 
 
Aprendendo com os chimpanzés 
 
Os primeiros abalos sofridos pela "gaiola comportamental" vieram da primatologia que começou a nascer 
nos anos 70. Em 1971, B. Alexander e E. Roth, do Oregon Regional Primate Research Center, descreveram 
brigas ferozes e até mortais entre macacos japoneses, quando os animais previamente mantidos em cativeiro 
eram libertados num espaço 73 vezes maior. 
Em 1982, dois holandeses, F. De Waal e K. Nieuwenhuijsen publicaram um estudo fundamental com os 
 
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chimpanzés mantidos na colônia de Arnhem. Nela, os chimpanzés ficavam soltos numa ilha durante o verão 
e eram recolhidos a uma clausura com calefação nos meses frios. O espaço nesse ambiente fechado ficava 
reduzido a apenas 5% daquele disponível nos meses quentes, na ilha. Depois de analisar os dados colhidos 
em centenas de horas de observação de campo, os autores concluíram que, fechados, os chipanzés pareciam 
mais irritados, às vezes, tensos, mas não abertamente agressivos. 
 
Os machos dispostos a desafiar a hierarquia complexa das sociedades chimpanzés adotavam postura 
cautelosa no inverno: curvar-se diante do macho alfa (dominante) e agradar seu pêlo. As diferenças eram 
acertadas nos meses quentes, na ilha: o número de conflitos agressivos dobrava. 
 
O pavilhão 5 da Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) alberga cerca de 1.600 presos. Vão para lá, os 
que têm problema de convivência com a massa carcerária: estupradores, justiceiros, delatores, craqueiros 
endividados e outros que infringiram a ética do crime. Feito sardinha em lata, cinco, seis e até doze homens 
dividem xadrezes com pouco mais de oito

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