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QUESTÃO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS: CRISE, REVOLUÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DAS LUTAS SOCIAIS SOB A ÓTICA DO SERVIÇO SOCIAL

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QUESTÃO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS
CRISE, REVOLUÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DAS LUTAS SOCIAIS SOB A ÓTICA DO SERVIÇO SOCIAL
Resumo 
 O presente trabalho faz uma breve análise sobre os movimentos sociais brasileiros, conhecidos como Jornadas de Junho, relacionando-os ao cenário de crise global enquanto consequência da política neoliberal e identificando o trabalho do assistente social, enquanto profissional inserido no enfrentamento às expressões da Questão Social.
Palavras-chave: Movimentos sociais, Jornadas de Junho, Direitos, Questão Social.
Abstract
 This paper gives a brief analysis on the Brazilian social movements, known as Days June, relating them to the global crisis as a result of neoliberal political scenario and identifying the work of the social worker as a professional inserted in dealing with expressions of Social Issues .
KEYWORDS: Social Movements, June Days, Social Issues.
1 INTRODUÇÃO
Em junho de 2013, o Brasil, seguindo a tendência iniciada na chamada “Primavera Árabe”, vivenciou um momento histórico, onde os cidadãos saíram às ruas, trazendo consigo uma série de reivindicações. A grande novidade desses movimentos foi que foram articulados, basicamente, via internet, através das redes sociais e conseguiram reunir um número nunca antes visto nesse tipo de articulação. O movimento, iniciado com o aumento do valor da tarifa do transporte público em várias cidades do país, converteu-se em uma busca pela efetivação de vários direitos, numa onda de protestos de dimensões só comparáveis ao “Movimento Diretas já”, ocorrido em 1984 e ao chamado “Fora Collor”, em 1992. Porém, como dizia um dos slogans do movimento, “Não é só por R$ 0,20”. Durante décadas a população de direitos, que foram transformados em benesses, em favores. Durante décadas estivemos resignados ao papel de meros espectadores do cenário político, mantidos sobre um regime de “Pão e Circo”, vendo a cidadania escorrer pelo ralo deixando para trás um rastro de desigualdade, miséria e descaso. Testemunhamos, naqueles dias, o clamor de uma população sufocada, com sede de direitos, com fome de justiça e desperta de um longo período de inércia. Afinal, como nos diz Marx: “uma nova revolução só é possível em consequência de uma nova crise". O quadro de crise sistêmica do capitalismo, que se desenrola desde 2008, também colaborou para a eclosão dos movimentos sociais contemporâneos no Brasil - agora intitulados por muitos teóricos como “Jornadas de Junho” - e em outras partes do planeta, quando forçou a realocação dos recursos que deveriam ser destinados para as políticas sociais, destinando-as à manutenção da estabilidade financeira. Nesse trabalho iremos fazer uma breve análise a respeito da Questão Social enquanto categoria teórica, sobre a Questão Social na contemporaneidade, traçando uma articulação entre essa e as manifestações ocorridas em nosso país nas últimas semanas e problematizaremos as estratégias de enfrentamento da Questão Social pelo Serviço Social, pois, enquanto profissão, fomos duramente atingidos pela lógica neoliberal de corte de despesas com políticas sociais.
2 A QUESTÃO SOCIAL E A TEORIA CRÍTICA
A expressão ''Questão Social'' é estranha ao universo marxiano, surgindo por volta de 1830 (STEIN,2000). Durante o decorrer do tempo foi analisada pelo ponto de vista do poder, tida como uma ameaça que da luta de classe em contradição com ordem dominante instituída. Porém, entendemos que os processos sociais incorporados pela Questão social norteiam os estudos de Marx sobre a sociedade capitalista. (YAMAMOTO, 2001). 
José Paulo Netto nos diz que “A expressão (Questão Social) surge para dar conta do fenômeno mais evidente da história da Europa Ocidental, que experimentava os impactos da primeira onda industrializante, iniciada na Inglaterra no último quartel do século XVIII: trata-se do fenômeno do pauperismo”.(NETTO, 2001) 
Não é possível desassociar a relação entre a produção dos bens materiais da forma econômico-social em que esta é executada, ou seja, é necessário observar-se o conjunto das relações entre os indivíduos dentro de uma sociedade particular, historicamente determinada, regida pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social. (YAMAMOTO, 2001)
A principal contradição do capitalismo é justamente porque, pela primeira vez na história, os Meios de Produção poderiam ser utilizados para acabar, ou pelo menos para reduzir drasticamente a exploração da classe trabalhadora, pela classe dominante, aproveitando-se as tecnologias existentes, porém historicamente não foi o que ocorreu, o trabalhador continua, ao longo das décadas, sendo explorado, em proporções cada vez maiores (NETTO, 2001). Para que possamos analisar corretamente o trabalho e a questão social na sociedade capitalista é necessário que desvendemos e acompanhemos a sua historicidade, que, na visão de Marx, compõe-se de uma dupla e indissociável característica que a particulariza. (YAMAMOTO, 2001). Na sociedade capitalista, os produtos tem como caráter dominante, a mercadoria. O trabalhador aparece como vendedor de mercadorias: vendendo sua força de trabalho, e/ou uma determinada quantidade de seu tempo de vida, assumindo assim, seu trabalho, a determinação social de trabalho assalariado. (YAMAMOTO, 2001).
Além disso, a mais valia é a finalidade direta e objeto determinante da produção. A tendência a reduzir ao mínimo os custos, através do aumento da produtividade, da redução ou congelamento de trabalho, do aumento da jornada de trabalho, do emprego de novas tecnologias, impulsiona-se como a alavanca mais poderosa para a intensificação da força produtiva do capital. Essa busca pelo aumento da margem de lucro tem como principais consequências a precarização das condições de trabalho do operário, obrigado a permanecer por longos períodos de tempo em instalações insalubres e inseguras, exposto a acidentes, sendo mal remunerado e sem contar com direitos que lhe assegurem a sobrevivência no caso de impossibilidade de vender sua força de trabalho. O trabalhador empobrece na mesma proporção que enriquece o capitalista.
Não existe um meio de se separar o regime capitalista das insatisfações e injustiças sociais da classe trabalhadora. A Questão Social é parte indivisível do capitalismo, e dessa forma, sempre existirão lutas, movimentos sociais em busca de justiça social, de políticas sociais que atendam a classe trabalhadora e que irão perseverar no sentido de fazer valer as leis e programas assistenciais que favoreçam o cidadão. 
Entretanto, contraditoriamente, o capitalismo tanto favorece uma sociedade possibilitando o progresso da mesma, como leva boa parte dos seus cidadãos à pobreza, graças à boa ou à má distribuição de renda. Essa duplicidade faz parte do sistema. Todavia, o que se vê, na realidade é o crescimento da pauperização e da miséria, na contramão da produção de riqueza. Pela primeira vez na história registrada, a pobreza cresce na razão direta em que aumenta a capacidade social de produzir riquezas. (NETTO, 2001)
 A Questão Social não é herança de épocas anteriores à sociedade capitalista, sendo uma característica exclusiva desta. Sempre houve pauperismo, porém o mesmo, anterior ao capitalismo, não tem relação com a Questão Social, isso é dito por J. Paulo em “Nas sociedades anteriores à ordem burguesa, as desigualdades, as privações, etc. decorriam de uma escassez que o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas não podia suprir (...)”. (NETTO, 2001)
3 O DISCURSO DA IGUALDADE E A REALIZAÇÃO DA DESIGUALDADE
Por mais inusitado que possa parecer, o debate da categoria “cidadania” coincide com o surgimento do próprio Capitalismo. Quando esse surge em sua fase monopolista, surge com ele a necessidade de busca pela legitimação junto à classe trabalhadora. Passa a existir, então, a contradição entre o crescente discursoda igualdade e os poucos avanços na garantia e efetivação de direitos que levem a essa igualdade. O chamado “direito de papel” é um direito individual, que regula o direito de mercado, e mantém o nível de exploração. Segundo Marilda: “O movimento de reprodução do capital, que recria o móvel básico da continuidade da organização dessa sociedade – a criação e apropriação do trabalho excedente, sob a forma de mais-valia – recria, também, em escala ampliada, os antagonismos de interesses objetivos inerentes às relações sociais, através das quais se efetiva a produção. Concomitantemente, no mesmo processo, reproduz-se a contradição entre igualdade jurídica de cidadãos livres e a desigualdade econômica que envolve a produção cada vez mais social contraposta à apropriação privada do trabalho alheio. Em outros termos: São reproduzidas as condições de exploração ou da reprodução da riqueza pelo trabalhador como riqueza alheia; as relações sociais que sustentam o trabalho alienado com seus antagonismos e o mascaramento ideológico que encobre e revela sua verdadeira natureza.” (IAMAMOTO, Marilda apud BEZERRA, Vanessa, 2013)
 A noção de igualdade que acompanha o conceito de cidadania choca-se com a realidade conflituosa de exploração e desigualdade a que é submetida a classe trabalhadora. Desigualdade essa que é tanto econômica quanto política. O poder político concentra-se nas mãos das classes dominantes, membros de comunidades carentes, por mais que estejam inseridos na realidade que cercam as mesmas, e sejam os verdadeiros representantes, a voz dessas comunidades, jamais terão o poder político dos chamados “bem-nascidos”, que muitas vezes são provenientes de famílias tradicionalmente envolvidas com a política, geradas no seio das classes dominantes. Assim sendo, o discurso da igualdade é a “maquiagem” utilizada para mascarar e manter a desigualdade. 
4 DIREITO OU FAVOR?
Coutinho dizia que “Os direitos são fenômenos sociais, são resultados da história” e que “(...) os direitos sociais, talvez mais do que os políticos, são igualmente uma conquista da classe trabalhadora. (COUTINHO, 2000, p 53 e p 64). Marilda chama de Serviços Sociais às Políticas Sociais. Os usuários e a população em geral enxergam as políticas sociais não como a efetivação e garantia de direitos, mas como benesses e favores. A política social é parcela do resultado do trabalho da classe trabalhadora, como nos diz a autora “Os serviços sociais nada mais são, na sua realidade substancial, do que uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos trabalhadores e apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que é devolvido a toda a sociedade (e em especial aos trabalhadores, que deles mais fazem uso, sob a forma transmutada de serviços sociais)” (IAMAMOTO, Marilda apud BEZERRA, Vanessa, 2013)
As políticas sociais são, também fruto da luta de classes, da organização e mobilização da classe trabalhadora, no que diz respeito à sua cidadania e, mesmo assim, ainda é visto pela mesma como benesse pois, mesmo tendo se organizado no sentido de aprova-las, lutando, resistindo e criando a legislação que irá definir a parcela dessas políticas que será financiada através do recolhimento de impostos, o Estado, bem como o Capital, expropria e “maquia” essas políticas, fazendo-as parecer fruto de sua própria iniciativa, pois: “ao defrontar-se com o processo de organização da classe operária, o Estado e as classes patronais incorporam e encampam como suas uma série de reivindicações da classe trabalhadora em sua luta de resistência face ao capital e d afirmação de seu papel como classe na sociedade. (IAMAMOTO, Marilda apud BEZERRA, Vanessa, 2013)
Nesse sentido, todas as conquistas obtidas através das lutas de classe são incorporadas pelo Estado, que procura, assim, deslegitimar as vitórias da classe trabalhadora, transformando-as em objeto da assistência. É nosso dever, enquanto profissionais, não nos deixarmos levar pela rotina despolitizante e despolitizadora que envolve a Questão Social. Segundo Iasi “O direito só pode acompanhar a mudança do real, ora à frente, geralmente atrás”. (IASI, 2009, p182)
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5 A QUESTÃO SOCIAL EM TEMPOS DE FINANCEIRIZAÇÃO DO CAPITALISMO.
A característica mais marcante da Questão Social contemporânea é a financeirização do Capital; até a década de 70 o Capitalismo era regido pela lógica da acumulação na linha de produção, ou seja, da estração de mais-valia da classe trabalhadora. Porém, à artir da década de 70, é a lógica da financeirização que passa a reger a acumulação do Capital. O chamado “dinheiro de papel”, negociados nas Bolsas de Valores ao redor do planeta trás, como consequência para a classe trabalhadora, graves consequências, como a diminuição da circulação de dinheiro propriamente dito, redução do número de postos de trabalho, crises econômicas financeiras, entre outras. Se antes havia um exército indistrial de reserva, que ficava temporáriamente sem emprego, mas que, eventualmente, conseguia retornar ao mercado formal de trabalho, à partir da financeirização do Capital, foi criada uma grande massa de trabalhadores que nunca entrou e nunca entrará nesse mercado, é o chamado “desemprego estrutural”. Nessa época, o padrão de produção deixa de ser o Fordista- Taylorista e começa a ser o da flexibilização/financeirização. (IAMAMOTO, 2001, p 19)
A “ordem do dia” é a flexibilização: flexibilização de direitos, flexibilização de horário, flexibilização da produção, que antes concentrava-se em grandes parques industriais e que passa a ser “pulverizada” pelo mundo inteiro, levando a redução ou completa eliminação de direitos trabalhistas, gerando grande insegurança para o trabalhador e tornando-se outra característica marcante da Questão Social na atualidade. (IAMAMOTO, Marilda, p 19)
Segundo Marilda, a relação entre Estado e Sociedade Civil é alterada à partir do momento em que o mesmo começa a defender os interesses do Capital. Se antes o Estado era responsável por atender às demandas da Questão Social, ao associar-se ao Capital, o Estado conclama a Sociedade Civil à assumir essas demandas, através do discurso da solidariedade. Bons exelmplos desse discurso são iniciativas como “Amigos da Escola”, “Criança Esperança”, “Ação Global”, etc. Essas campanhas visam mobilizar a sociedade para que esta assuma e arque financeiramente com atribuições que antes eram papel do Estado, atendendo a um conjunto das chamadas “Terapêutica Neoliberal”. (IAMAMOTO, 2001, p 20)
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6 O CONSENSO DE WASHINGTON E SUAS CONSEQUENCIAS PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO. 
Após o fim da Guerra Fria, que teve como fato iconico a “Queda do Muro de Berlin”, no ano de 1989, reuniu-se em Washington, capital dos EUA, uma cúpula de governantes e estadistas que visava planejar os rumos do planeta à partir daquele momento histórico, havendo, então, uma “redivisão” do mundo. Foi feito um planejamento estratégico no sentido de implementar o Neoliberalismo no planeta, estratégias essas contruídas tanto para os países “centrais” como para os países em desenvolvimento.
A chegada concreta do neoliberalismo no Brasil aconteceu à partir e 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, para o cargo de Presidente da República. Um dos primeiros atos do então presidente foi criar o Ministério do Planejamento e Reforma do Estado, através do ministro Bresser Pereira. Aliás, o ministro havia participado, cinco anos antes, da formulação do Consenso de Washington. (IAMAMOTO, 2001)
A partir daí, o Brasil foi tomado por uma “onda” de privatizações, inicia-se, também, o processo proposital de sucateamento de inúmeras empresas estatais, para justificar a entrega dessas para o Capital Privado. Apesar da resistência popular, o processo seguiu em frente e continua ocorrendo até os dias de hoje. Aparentemente nada é capaz de frear a invasão Neoliberal, cujos interesses são mais importantes para o Estado do que os interessas da população.
O novo padrão de atendimento da Questão Social passa a ser de atendimento apenas dos mais miseráveis. Há umacrescente caracterização da assistência como benesse e não como a efetivação de direitos. Impera a “lei do mais forte”, onde apenas os mais bem preparados e melhor capacitadossão dignos de se estabelecer e onde aos perdedores resta apenas a caridade, levantando a necessidade de que haja, conforme defende Maria Yazbek “uma reflexão sobre o precário sistema de proteção social público no país, no contexto da crise mais global com que se defrontam as políticas públicas, particularmente as políticas sociais, na sociedade contemporânea”.(YAZBEK, 2001)
Com as recorrentes crises do Capitalismo, o discurso neoliberal é de reduzir ao mínimo os gastos com as políticas sociaise o novo modelo de intervenção social é fruto desse discurso. Assim sendo, o incipiente sistema de proteção social brasileiro, e, particularmente, a Seguridade Docial, que afiança direitos a partir da constituição de 1988, vai sendo duramente afetado pelo corte de gastos sociais.(YAZBEK, 2001)
Uma outra proposta gerada pelo Neoliberalismo é a crianção e expanção de sistemas de saúde e educação privados com preços acessíveis às camadas mais populares da sociedade, cuja renda é notadamente menor. A ideia é de que essas pessoas deixem de procurar os sistemas públicos e passem a custear, mesmo que a preço reduzido, planos privados de saúde e educação em escolas privadas, mesmo que a qualidade desses seja sabidamente duvidosa.
Segundo José Paulo Netto, “O Estado é mínimo para o trabalhador e máximo para o Capital. O Estado Neoliberal intervém vigorosamente em favor do Capital, sujeitando-se aos interesses do Capital internacional. O poder não mais se encontra nas mãos dos governantes, mas nas mãos das instituições multilaterais (FMI, BID, etc), comandados por capitalistas internacionais, num cenário bem diferente da época do Imperialismo Norte Americano, onde as decisões políticas e financeiras eram norteadas pelo presidente daquele país. Atualmente, grande parte das riquezas produzidas em nosso país são destinadas ao pagamento de juros da dívida do Brasil com essas instituições.
Nesse cenário, os serviços públicos, principalmente os de assistência social, são vistos como “elefantes brancos” pelo governo, cuja expressão usual passa a ser “enxugar o Estado”, reduzindo ao máximo os recursos enviados a áreas como saúde e educação. Um dos reflexos desses cortes é a redução de concursos públicos e o sucateamento das instituições, prejudicando o atendimento dos mesmos.
Diante desse quadro de precarização e desmonte das políticas públicas, o profissional de Serviço Social é atingido diretamente. Diante da redução dos direitos sociais, os Assistentes Sociais passam a encontrar, inclusive, dificuldade para implementar o que é apresentado pelo Código de Ética. Aqui, mais uma vez cito Maria Yazbek quando diz que “(...) a reprodução ampliada da Questão Social é reprodução ampliada das contradições sociais (...), não há rupturas no cotidiano sem resistência, sem enfrentamentos e que, se a intervenção do assistente social circunscreve um terreno de disputa, é ai que está o desafio de sair de nossa lentidão, de construír, reinventar mediações capazes de articular a vida social das classes subalternas com o mundo público dos direitos e da cidadania.” (YAZBEK, 2001) 
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7 NEOLIBERALISMO ALÉM DA POLÍTICA E ECONOMIA.
Não são apenas as esferas políticas e econômicas que são atingidas pela lógica neoliberal, que invade diferentes áreas da vida cotidiana da sociedade. A coisificação das pessoas e reificação dos objetos é a ordem que vigora na sociedade contemporânea, atingindo inclusive as relações de gênero e afetivas. Um exemplo disso é o comprtamento de alguns indivíduos que se colocam como meros produtos, como meros objetos sexuais. Há ainda, nesse contexto, a questão da escolha dos parceiros, que deixa de ser teóricamente algo íntimo e privado e passa a ser regido pela lógica da mercadoria, quando o indivíduo passa a observar não apenas o que o outro é, mas o que ele tem. Os relacionamentos saem da esfera da sensibilidade e do emocional para partir para a esfera do valor ditado por padrões que são “vendidos”, rotulando homens e mulheres “ideais”.
O produtivismo e a competitividade são alguns dos padrões que norteiam a sociedade inserida no contexto do Neoliberalismo, instaurando-se, inclusive, no mundo acadêmico, onde professores são obrigados a publicar um determinado número de artigos durante certo período de tempo, mesmo estando sobrecarregados por uma crescente demanda de horas/aula, planejamento destas, atividades de pesquisa, salas de aula cada vez mais cheias, etc.
Além disso, o indivíduo é levado a pensar sempre de maneira “útil”, tomando seu tempo apenas com atividades que lhe tragam alguma vantagem produtiva, sem que isso signifique algo que contribua com seu desenvolvimento enquanto ser humano. Os pais preparam seus filhos para o mercado de trabalho cada dia mais cedo, sobrecarregando as futuras gerações com atividades que lhes forneça alguma vantagem na competição por melhores cargos e salários. Aulas de idiomas, informática e jogos de estratégia substituem as brincadeiras na rua, o subir em árvores, a “amarelinha”...
A naturalização desse quadro de competitividade leva as pessoas não apenas a tornarem-se individualistas, mas também a criticarem, de forma negativa, aqueles que ainda teimam em “nadar contra a corrente”, voltando seus esforços na efetivação dos direitos coletivos. Marilda nos diz que “Ao lado da naturalização da sociedade – “é assim mesmo, não há como mudar” – ativam-se apelos morais à solidariedade, na contraface da crescente degradação das condições de vida das randes maiorias” (IAMAMOTO, Marilda, 2001).
A mídia reforça esse individualismo quando marginaliza os movimentos sociais, generalizando os participantes dos mesmos como vândalos e baderneiros, cujo único objetivo é destruír a ordem e a paz. Assim, desqualifica a luta daqueles que, através da consciência e luta de classes, organizam e mobilizam-se para conquistar direitos para o povo em geral.
Não é interesse do Capital que a sociedade venha a se reunir em torno de uma causa comum e que desvie o foco do consumismo, da alienação e vá contra a manutenção do Status Quo.Um bom exemplo disso foi a interrupção da campanha publicitária de uma montadora de automóveis, multinacional, cujo slogan “Vem pra rua!” foi adotado por manifestantes que tomaram as avenidas, ruas e praças nas capitais e interior do Brasil, protestando contra o aumento das tarifas do transporte público.
O cenário conservador destrói os projetos coletivos, minando nossa capacidade de organização política, apenas com muita resistência pode-se dar continuidade a uma postura coletiva verdadeiramente solidária, onde não há espaço para a solidariedade oportunista e conservadora do Capital.
Nesse sentido, o medo é uma das principais estratégias neoliberais, utilizado para manter o controle sobre a população. A estratégia de utilizar a subjetividade e o emocional para ampliar seus domínios é extremamente eficaz para desmobilizar e despolitizar a sociedade. Mais uma vez, cito o exemplo dos acontecimentos recentes em nosso país, onde a imprensa neoliberal passara para a população a imagem de conflitos violentos entre polícia e manifestantes pelo país, tirando o foco do verdadeiro objetivo do movimento, e, muitas vezes, querendo fazer com que a população acreditasse que a melhor maneira de proteger-se contra qualquer prejuízo físico ou psicológico, fosse permanecendo em casa, como Marilda nos diz em “(...) crescem as desigualdades e afirmam-se as lutas no dia a dia contra as mesmas – na sua maioria silenciadas pelos meios de comunicação”. (IAMAMOTO, Marilda, 2001). As comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e camponesas são a vanguarda do movimento social que eclode em nosso país, porém, além de terem suas lutas silenciadas pela mídia, muitas vezes também eram silenciadas à bala.
8 “O FUTURO REPETIR O PASSADO” – COMO O ASSISTENTE SOCIAL PODE (E DEVE) EVITAR QUE ISSO OCORRA?A Questão Social, com o decorrer do tempo, mesmo tendo “vestido” novas roupagens, permanece a mesma. Vivemos dias de retrocesso, quando esta volta a ser caso de polícia e/ou caridade e voluntariado, fato esse constatado através de programas como “Amigos da Escola”, “Criança Esperança”, etc. O recolhimento compulsório de usuários de Crack, bem como as ações truculentas de “Reintegração de Posse”, que removem famílias e comunidades inteiras de suas já precárias habitações, devolvendo-as a um universo de incerteza e miséria, é um bom exemplo da Questão Social novamente como caso de polícia. Atualmente, a questão social passa a ser objeto de um violento processo de criminalização que atinge as classes subalternas (IANNI, 1992 e GUIMARÃES, 1979).
O Assistente Social pode, até os dias de hoje, defender tanto os interesses da Classe Trabalhadora quanto os interesses da Classe Dominante, por trabalharmos com a linguagem, temos a possibilidade de transmitir ao usuário conceitos e ideologias, o que requer que o profissional se cerque do máximo de ética e cuidados para que não interfira na autonomia do mesmo, sem julgar ou exercer controle social, como nos diz Marilda: “O serviço Social, como profissão inscrita na divisão social do trabalho, situa-se no processo da reprodução das relações sociais, fundamentalmente como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e na difusão da ideologia da classe dominante junto à classe trabalhadora.” (IAMAMOTO apud BEZERRA, Vanessa, 2013).
A ação do Assistente Social é iminentemente educativa, sendo assim, deve sempre seguir nosso Projeto Ético Político, nunca reproduzindo o discurso conservador, de manutenção do Status Quo ou que reproduza qualquer tipo de preconceito. A contradição a qual o profissional de Serviço Social é submetido é justamente atuar defendendo tanto os interesses da Classe Dominante quanto da Classe Trabalhadora, para Marilda, só conseguiremos defender verdadeiramente os interesses desta se assumirmos e aceitarmos essa contradição. Reconhecendo a dualidade no atendimento a essas classes, podemos criar o que Marilda chama de “Projeto Alternativo”, afinal, sempre haverá tensão e conflito entre o que as instituições esperam dos profissionais e aquilo que o profissional considera o mais correto a fazer. É por isso que “embora constituída para servir aos interesses do capital, a profissão não reproduz monoliticamente, necessidades que lhe são exclusivas: Participa, também, ao lado de outras instituições sociais, das respostas às necessidades legítimas de sobrevivência da classe trabalhadora, face às suas condições de vida, dadas historicamente.” (IAMAMOTO apud BEZERRA, Vanessa, 2013).
CONCLUSÃO
Em uma interessante analogia, Marx dizia que a revolução se assemelha a uma toupeira, que vai cavando, abrindo caminhos e penetrando no subsolo, sem que seja notada por aqueles que estão na superfície que só a percebem quando o “estrago” já está feito e ela, finalmente, coloca seu focinho de fora. Ou seja, o movimento social que vivenciamos em meados de 2013 não foi fruto apenas dos acontecimentos pontuais, sendo uma construição histórica, dialética e que evidencia a urgência de que sejam repensadas e reconsideradas as politicas sociais. 
Enquanto profisisonais, nosso papel nesse movimento é o de não apenas observar e aprender, como também de fazer parte da massa organizada, que continua o movimento iniciado há pouco mais de um ano, tendo papel ativo na constituição de novos parâmetros de atendimento à Questão Social, para nortear a aplicação desses novos parâmetros, tornando-os não apenas meras ações paliativas, mas atuando de maneira a combater as expressões da mesma antes mesmo que venha à tona.
Não podemos, também, enquanto profissionais, ficarmos alheios às novas ferramentas utilizadas na propagação de ideias e na construção dos movimentos sociais que fervilham no Brasil e no mundo, que é bem diferente do que era nos tempos de Paulo Freire, Piaget e Marx. O que mudou na forma de resistência é o discurso, isto é, a favor de nossa demanda. Isso se faz de forma descentralizada, em rede, através dos novos meios de comunicação: nas redes sociais, torpedos via celular, listas de e-mail, fóruns de discussão, etc. O uso da internet é, aliás, um fenômeno inédito na expressão da Questão Social. 
Ainda não sabemos, não temos como prever o que os historiadores e teóricos dirão das consequências das jornadas de junho no decorrer dos anos, porém de uma coisa teremos certeza: através deles o povo redescobriu seu poder, sua força, sua capacidade de organização e mobilização, que, embora tenha enfraquecido em relação ao número de participantes, cujo ápice ocorreu na manifestação do dia 20 de junho, na cidade do Rio de Janeiro, com mais de um milhão de pessoas tomando as principais avenidas do Centro da Cidade. Enquanto profissionais, é nosso dever construir e participar ativamente desse novo momento histórico, contribuindo para que o mesmo não seja ofuscado pela lógica neoliberal do individualismo e da insegurança. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a Corrente, . Rio de Janeiro, Record, 2001
IAMAMOTO, Marilda. A Questão Social no Capitalismo, Revista Temporalis, 2001.
IAMAMOTO, Marilda. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: Esboço de Uma Interpretação Teórico- Metodológica, São Paulo: Cortez, 2008
IASI, Mauro Luis. Sobre a emancipação humana. In: Ensaios sobre consciência e emancipação. 2ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da Questão Social, Revista Temporalis, 2001.
YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza e Exclusão Social: Expressões da Questão Social no Brasil, Revista Temporalis, 2001.

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