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Página 1 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira Capítulo 8 Evidenciação (disclosure) dos gastos ambientais Como explicam Tinoco e Kraemer, (2011, p.234), entende-se por evidenciação a divulgação de informações econômicas, sociais e ambientais feita pelas empresas em suas demonstrações financeiras para atender à necessidade informacional de determinado usuário. Tratando também sobre evidenciação, Paiva (2003) afirma que compete à contabilidade formular parâmetros de mensuração e registro que possibilitem o acompanhamento da convivência da empresa com o meio ambiente e da evolução econômica e patrimonial resultante dessa convivência, no transcorrer do tempo. Paiva (2003, p.48) levanta, ainda, algumas questões a esse respeito, tais como a) por que evidenciar, b) quando evidenciar e c) como evidenciar. a)Por que evidenciar: porque esse é um dos papéis mais importantes da contabilidade. Depois de registrados, os eventos devem ser evidenciados. b)Quando evidenciar: a partir do momento em que a empresa toma conhecimento dos fatos causadores de danos ambientais, ela deve promover ações no sentido de defender, conservar e recuperar o meio ambiente. c) Como evidenciar: idealmente, no corpo das demonstrações contábeis e nas notas explicativas, dependendo da extensão e da natureza das informações a serem prestadas. Paiva (2003, p. 55) declara, também, que “à Contabilidade cabe o papel de reportar as atividades da empresa por meio dos demonstrativos publicados, relatando inclusive os fatos não evidenciáveis nos demonstrativos tradicionais”. Para isso, podem ser utilizados vários instrumentos, tais como notas explicativas, relatório da administração ou outros recursos como gráficos e tabelas que sejam necessários para melhoria da apresentação. Estão incluídos nesse contexto a evidenciação de um acidente ambiental e a evidenciação em nota explicativa, caso não seja possível mensurar de forma confiável a obrigação, assim como todo e qualquer gasto e provisão com o meio ambiente. As normas contábeis brasileiras que traçam algumas diretrizes sobre evidenciação de questões ambientais, são: a Orientação 15/1987 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 1987); as Normas e Procedimentos de Auditoria - NPA 11, do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON,1996) que tratam de Balanço e Ecologia, e a Norma Brasileira de Contabilidade - NBC T 15, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2004), que trata das Informações de Natureza Social e Ambiental. A CVM (1987) recomenda que as informações de natureza social e ambiental sejam apresentadas com informações do exercício atual e do anterior, permitindo, assim, a comparabilidade. Ela orienta também, que devem ser evidenciadas as seguintes ocorrências: investimentos e gastos com manutenção, preservação, recuperação e educação ambiental e com projetos ambientais realizados nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente. Nessas informações, devem constar, ainda, as multas e penalidades relativas à matéria ambiental e a quantidade de processos ambientais e suas contingências. Página 2 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira Pela NPA 11 (IBRACON, 1996), os investimentos em meio ambiente devem ser apresentados em títulos contábeis específicos ou por meio de nota explicativa, de modo que reflitam a posição ambiental da empresa, incluindo sua política ambiental e seu passivo contingente. A NBC T 15 (CFC, 2004), por sua vez, institui como complemento às demonstrações contábeis as demonstrações de natureza social e ambiental, que devem divulgar, entre outros aspectos, os investimentos, os gastos com preservação e recuperação de danos ambientais, as multas e indenizações ambientais e os passivos e contingências ambientais. Calixto e Ferreira (2005, p.4), ressaltam que “[...] não há um padrão em nível nacional ou internacional para divulgação das informações ambientais.” Porém, tem-se observado o empenho de diversos órgãos na busca de uma padronização mínima para a evidenciação das informações ambientais nos demonstrativos financeiros das organizações. Sobre esse assunto, o pronunciamento técnico CPC 26, que trata da apresentação das Demonstrações Contábeis, esclarece que: Muitas entidades apresentam também, fora das demonstrações contábeis, relatórios e demonstrações, tais como relatórios ambientais e sociais, sobretudo nos setores em que os fatores ambientais e sociais sejam significativos e quando os empregados são considerados um importante grupo de usuários. Os relatórios e demonstrações apresentados fora das demonstrações contábeis estão fora do âmbito dos Pronunciamentos emitidos pelo CPC (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009, p. 8). Também com o objetivo de criar uma padronização de divulgação de informações, o Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting (ISAR), formado por um grupo de especialistas em contabilidade de diversos países se dedica a estudar formas de padronização para a evidenciação das informações ambientais nos relatórios contábeis anuais. As formas tradicionais de evidenciação das informações ambientais, segundo Paiva (2003, p.56), complementam o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado, o relatório da administração, as notas explicativas e os quadros suplementares. Página 3 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira EVIDENCIAÇÃO AMBIENTAL NOS RELATÓRIOS ANUAIS PROPOSTOS PELO ISAR/UNCTAD Leitura recomendada: “Utilização do Modelo ISAR/UNCTAD: o Caso da Cia Marlin Azul” - Araceli Cristina de Sousa Ferreira, Márcio Eduardo Lucatelli, Paulo Roberto Anderson Monteiro. “A Evidenciação da Informação Ambiental nos Relatórios Contábeis: um Estudo Comparativo com o Modelo ISAR/UNCTAD “ - Araceli Cristina de Sousa Ferreira e Paulo Roberto Anderson Monteiro. Diante do desafio de evidenciar a informação ambiental, em 1998, foi proposto pelo ISAR/UNCTAD uma estrutura de relatório sobre as questões do meio ambiente para o relatório anual. Quadro 1 Estrutura de relatório sobre as questões do meio ambiente para o relatório anual Elemento do Relatório Anual Evidenciação (disclosure) Recomendada A. Relatório do Presidente Compromisso da empresa na contínua melhoria do meio ambiente Melhorias significativas desde o último relatório B. Relatório por Segmento de Negócios Dados segmentados do desempenho das questões do meio ambiente Melhorias nas áreas-chaves desde o relatório anterior Declaração da política ambiental Grau mundial de conformidade Questões-chaves com as quais a empresa se defronta Responsabilidades Organizacionais Descrição dos sistemas e normas internacionais Dados segmentados de desempenho baseados na utilização de energia, C. Relatório Ambiental utilização dos materiais, emissões e rotas para disposição de resíduos. Dados específicos do setor, incluindo índices acordados pela indústria (eficiência ecológica) Dados financeiros sobre custos do meio ambiente Estimativas financeiras de economia e benefícios posteriores aos esforços pró-ambiente Referências cruzadas com outros relatórios ambientais Declaração de verificação independente Página 4 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira Elemento do Relatório Anual Evidenciação (disclosure) Recomendada Questões-chavesdo meio ambiente que a empresa defronta a curto e médio prazos. D. Relatório Financeiro e Operacional Planos para as respectivas abordagens Andamento das abordagens das mudanças exigidas por requisitos legais. Níveis atuais e projetados dos dispêndios com as questões ambientais. Assuntos legais pendentes E. Relatório da Diretoria Declaração da política ambiental Estimativa de provisões e contingências Politica de capitalização F. Divulgação (disclosure) de Politicas Contábeis Politica de recuperação de ativos Politica de contaminação e recuperação de terrenos Politica de depreciação Demonstração de resultados G. Demonstração de Resultado Despesas excepcionais ligadas ao meio ambiente Outros custos e benefícios ligados ao meio ambiente Provisões ligadas ao meio ambiente H. Balanço Patrimonial Provisões para descontaminação Custos ligados ao meio ambiente, capitalizados Recuperação esperada I. Notas Explicativas Responsabilidades contingentes ligadas ao meio ambiente e as respectivas explicações J. Outras Informações Nível de atendimento ao modelo ISAR/UNCTAD Pontuação Classificação Interpretação Entre 18 e 34 Atende Considera-se que o relatório analisado atende ao modelo ISAR/UNCTAD Entre 1 e 17 Atende parcialmente (+) Considera-se que o relatório analisado atende parcialmente ao modelo ISAR/UNCTAD, mas que apresenta uma tendência de atendê-lo 0 Atende parcialmente (+) Considera-se que o relatório analisado atende parcialmente ao modelo ISAR/UNCTAD Entre -1 e - 17 Atende parcialmente (-) Considera-se que o relatório analisado atende parcialmente ao modelo ISAR/UNCTAD, mas que apresenta uma tendência de não atendê-lo Entre -18 e - 34 Não atende Considera-se que o relatório analisado não atende ao modelo ISAR/UNCTAD Página 5 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira O modelo ISAR/UNCTAD propõe que as informações ambientais sejam distribuídas ao longo dos relatórios anuais, ou seja, cada item do relatório anual deve contemplar as informações ambientais relacionadas a ele. EVIDENCIAÇÃO AMBIENTAL GRI – GLOBAL REPORTING INITIATIVE 1-QUEM SOMOS A Global Reporting Initiative, „GRI‟, promove a elaboração de relatórios de sustentabilidade que pode ser adotada por todas as organizações. A GRI produz a mais abrangente Estrutura para Relatórios de Sustentabilidade do mundo proporcionando maior transparência organizacional. Esta Estrutura, incluindo as Diretrizes para a Elaboração de Relatórios, estabelece os princípios e indicadores que as organizações podem usar para medir e comunicar seu desempenho econômico, ambiental e social. A GRI está comprometida a melhorar e aumentar continuamente o uso de suas Diretrizes, que estão disponíveis gratuitamente para o público. A GRI, uma Organização Não-Governamental composta por uma rede multistakeholders, foi fundada em 1997 pela CERES e pela Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). Em 2002, a GRI mudou-se para Amsterdã onde atualmente está sediada a Secretaria. Ela conta também com os representantes regionais, os Pontos Focais (Focal Points) nos países: Austrália, Brasil, China, Índia e Estados Unidos e uma rede mundial de 30.000 pessoas. 2-NOSSA VISÃO Uma economia global sustentável onde organizações podem medir seus desempenhos e impactos econômicos, ambientais, sociais bem como os relacionados à governança, de maneira responsável e transparente. 3-NOSSA MISSÃO Fazer com que a prática de relatórios de sustentabilidade se torne padrão, fornecendo orientação e suporte para as organizações. 4-ALIANÇAS A GRI forma uma parceria estratégica global com as seguintes organizações: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), e com a Pacto Global das Nações Unidas (UNGC). As Diretrizes da GRI mantém conexões com The Earth Charter Initiative, Corporação Financeira Internacional, Organização Internacional para Padronização, e com Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. 5-O QUE É UM RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE? Um relatório de sustentabilidade é um relatório que divulga o desempenho econômico, ambiental, social e de governança da organização relatora. Cada vez mais organizações querem tornar suas operações mais sustentáveis e estabelecer um processo de elaboração de relatório de sustentabilidade para medir desempenhos, estabelecer objetivos e monitorar mudanças operacionais. Um relatório de sustentabilidade é a plataforma fundamental para comunicar os impactos de sustentabilidade positivos e negativos bem como para obter informações que podem influenciar na política, estratégia e nas operações da organização de uma forma contínua. Página 6 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira 6-POR QUE AS COMPANHIAS RELATAM? Companhias e organizações podem relatar por várias razões, tais como: • Aumentar a compreensão sobre os riscos e oportunidades que elas enfrentam • Melhorar a reputação e a fidelidade à marca • Ajudar seus stakeholders a compreender os impactos de sustentabilidade e desempenho • Enfatizar a relação entre o desempenho organizacional financeiro e o não financeiro • Influenciar na estratégia e política de gestão em longo prazo e planos de negócios • Servir como padrão de referência (Benchmarking) e avaliação de desempenho de sustentabilidade com respeito às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias • Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relativas ao desenvolvimento sustentável • Comparar o desempenho organizacional interno e entre outras organizações • Conformidade com os regulamentos nacionais ou com os requisitos referentes à bolsa de valores. 7-ESTRUTURA PARA RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE DA GRI A Estrutura para Relatórios de Sustentabilidade da GRI consiste de um conjunto de materiais de orientação para o relato. Tal Estrutura compreende as Diretrizes, os Suplementos Setoriais, os Limites do Relatório e os Protocolos Técnicos. Ela pode ser aplicada por organizações de qualquer tamanho, tipo, setor ou de qualquer região. A Estrutura é usada por milhares de organizações no mundo inteiro como referência na elaboração de seus relatórios de sustentabilidade. Os documentos relacionados à Estrutura para Relatórios de Sustentabilidade estão disponíveis para download aqui nesta página. Mais informações sobre este tema podem ser encontradas (em inglês) na página Reporting Framework Overview. Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade Níveis de Aplicação Conjunto de Protocolos de Indicatores: Econômico Conjunto de Protocolos de Indicatores: Meio Ambiente Conjunto de Protocolos de Indicatores: Direitos Humanos Conjunto de Protocolos de Indicatores: Práticas Trabalhistas & Trabalho Decente Conjunto de Protocolos de Indicatores: Responsibilidade pelo Produto Conjunto de Protocolos de Indicatores: Sociedade 8-ORIENTAÇÃO ESPECÍFICA PARA O SETOR Os Suplementos Setoriais são as versões das Diretrizes da GRI feitos sob medida para os diferentes setores. Estes Suplementos Setoriais auxiliam as organizações na elaboração de seus relatórios de sustentabilidade endereçando os impactos específicos de forma internacionalmente comparável. Os Suplementos Setoriais atualmente disponíveis (em inglês) são: Electric Utilities, Financial Services, Mining and Metals, NGOs, Food Processing, Construction and RealEstate e Airport Operators. Alem destes citados, outros Suplementos Setoriais se encontram em fase de desenvolvimento, tais como: Event Organizers, Media e Oil and Gas. 9-LISTA DE RELATÓRIOS A Lista de Relatórios da GRI cataloga todos os relatórios que foram baseados na metodologia da GRI (relatórios dos quais a GRI está ciente). Esta mesma lista coleta e rastreia dados críticos relacionados a relatórios. Além de países, a lista também pode ser classificada por vários fatores úteis, revelando tendências e padrões para a prática de relatórios. Outras informações sobre temas relevantes, como quais organizações estão preparando relatórios integrados que combinam divulgação de informações financeiras com sustentabilidade, também são destaque. A Lista de Relatórios foi construída com a colaboração de organizações. Página 7 de 7 Contabilidade Ambiental Profª Maria Mariete Aragão Melo Pereira 10-EXAME DOS NÍVEIS DE APLICAÇÃO A GRI oferece às organizações o serviço de Exame do Nível de Aplicação. Os Níveis de Aplicação definem quanto do conteúdo GRI foi aplicado no relatório de sustentabilidade. Há três Níveis de Aplicação: A, B e C. Os Níveis estão relacionados com número de itens e o conjunto do Conteúdo do Relatório da GRI que foram endereçados. As organizações avaliam seu próprio Nível da Aplicação ao publicar seus relatórios. Um Exame de Nível da Aplicação da GRI confirma o nível autodeclarado e demonstra uma forte associação com a GRI. www.globalreporting.org REFERÊNCIAS Costa, Carlos Alexandre Gehm da. Contabilidade ambiental: mensuração, evidenciação e transparência. São Paulo: Atlas, 2012. GRI – Global Reporting Initiative. www.globalreporting.org Isar/Unctad Pereira, Maria Mariete Aragão Melo. Contabilidade Ambiental. Vitória: UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2012. (Referências completas estão no fascículo)
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