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Educação Aplicada aos Cuidados da Criança Autoria: Maria Clotild e Pires Bastos Tema 04 Compreendendo as Características da Criança: Cognição e Linguagem Tema 04 Compreendendo as Características da Criança: Cognição e Linguagem Autoria: Maria Clotilde Pires Bastos Como citar esse documento: BASTOS, Maria Clotilde Pires. Educação Aplicada aos Cuidados da Criança: Compreendendo as Características da Criança: Cognição e Linguagem. Caderno de Atividades. Anhanguera Educacional: Valinhos, 2016. Índice © 2016 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Pág. 17 Pág. 19 Pág. 22 Pág. 18 Pág. 15Pág. 13 ACOMPANHENAWEB Pág. 3 CONVITEÀLEITURA Pág. 3 PORDENTRODOTEMA 3 Como compreender o desenvolvimento da criança nos aspectos cognitivo e linguístico, é o tema central desta aula. Para melhor compreender o desenvolvimento cognitivo, é necessário que o professor conheça as teorias do desenvolvimento. Conforme você verá nesta aula, dois são os teóricos que no Brasil mais se destacaram como referência para a construção de propostas de ensino e aprendizagem: Piaget e Vygotsky. Embora suas teorias tenham muitos aspectos diferentes, principalmente em função da base epistemológica que orienta os seus estudos, o fato é que possibilitaram uma interpretação diferente do desenvolvimento, uma vez que mudam o enfoque para a interação entre o sujeito e o objeto, e nesta aula você terá a possibilidade de compreender essas características. Você verá como Piaget descreve o processo de desenvolvimento a partir de categorias tais como organização, assimilação, equilibração, acomodação e a relação disso com as fases do desenvolvimento. Já Vygotsky compreende o desenvolvimento dentro de um processo histórico e social, e você conhecerá os conceitos centrais da sua teoria, tais como zona de desenvolvimento proximal, andaimes e o papel da linguagem no desenvolvimento. Verá também que a linguagem decorre dos processos de interação entre a criança e o adulto sendo uma experiência que incentiva a capacidade de expandir habilidades para lidar com os desafios. Outro aspecto diz respeito à alfabetização emergente, que não deve ser vista como uma nova abordagem, mas como uma forma de conceber o desenvolvimento da criança em sua relação com o meio. CONVITEÀLEITURA Compreendendo as Características da Criança: Cognição e Linguagem O período da infância, como se viu nas aulas anteriores, constitui-se num período muito distinto, com um significado especial para o estabelecimento das bases da idade adulta. Com relação ao desenvolvimento das crianças, é importante compreender que isso ocorre de diferentes maneiras, uma vez que existem aspectos que são comuns a todas as crianças e aspectos que são muito específicos de cada uma. Isso você pode constatar mesmo em se tratando de irmãos gêmeos. PORDENTRODOTEMA 4 Esse é um processo altamente complexo, uma vez que envolve muitos fatores: biológico, cognitivo e socioemocional. O desenvolvimento pode ser definido como “[...] o padrão de mudanças socioemocionais, cognitivas e biológicas que começam na concepção e continuam durante toda a vida de uma pessoa. A maior parte do desenvolvimento envolve o crescimento, embora também envolva a decadência (morte)” (SANTROCK, 2010, p. 67). Os aspectos que envolvem o desenvolvimento, embora possam ser compreendidos individualmente, ocorrem de maneira integrada e relacionada, sendo possível afirmar, com base nos estudos desenvolvidos no âmbito da neurociência, que é a partir das ações e dos processos de exploração do mundo que o desenvolvimento acontece. Os aspectos biológicos têm relação com as mudanças físicas da criança, que influenciam na altura, peso, tamanho do cérebro e habilidades motoras. Os aspectos cognitivos dizem respeito às mudanças que ocorrem no pensamento, inteligência e linguagem. Os aspectos socioemocionais envolvem as relações, emoções e personalidade. Uma discussão presente entre os teóricos sobre o desenvolvimento é em relação às experiências iniciais e posteriores. Você acredita que as experiências negativas no início da vida do indivíduo podem ser superadas? Não há um consenso entre os estudiosos sobre isso; alguns afirmam que a criança dificilmente terá um bom desenvolvimento se suas primeiras experiências forem num ambiente hostil e sem proteção. Por outro lado, existem teóricos que afirmam que a qualidade das experiências posteriores ao período inicial de vida é tão importante quanto. Isso é relevante no sentido de romper com visões preconcebidas de que as crianças maltratadas no início da vida estão destinadas a um desenvolvimento comprometido, principalmente o cognitivo, mesmo que sua condição de vida se modifique, além disso a qualidade do aprendizado também tem relação com as expectativas do adulto sobre a criança. Em que pesem essas considerações, efetivamente todos os envolvidos nos cuidados com a criança devem buscar as melhores condições para que elas possam desenvolver-se plenamente, e existem estudos que demonstram que crianças submetidas a situações de risco tais como fome e desnutrição têm seu desenvolvimento cerebral comprometido. Entender como o desenvolvimento cognitivo ocorre é condição necessária para organizar o currículo da educação infantil. Para isso é necessário buscar as teorias que expliquem como esses processos ocorrem. Há diferentes maneiras de se agrupar as teorias. Alguns estudiosos as agrupam em: teorias behavioristas, teorias de transição entre o behaviorismo clássico e o cognitivismo, teorias cognitivas, teorias humanistas e teorias socioculturais (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). Outros teóricos adotam uma divisão mais simplificada: comportamentalista, cognitivista e humanista. Independentemente da forma como as teorias estão organizadas, é importante destacar que elas representam maneiras de compreender o modo como a criança se desenvolve e respondem às condições objetivas existentes nos momentos históricos em que foram construídas. PORDENTRODOTEMA 5 Dois teóricos bastante conhecidos e citados nas referências sobre o desenvolvimento cognitivo e da linguagem são Piaget e Vygotsky. Ambos enfatizam uma visão de desenvolvimento no qual a ação do sujeito sobre o objeto é determinante para a construção do conhecimento. Embora existam aspectos bem diferentes entre as teorias, o fato é que representam formas inovadoras de compreender o desenvolvimento cujos resultados foram impactantes nas propostas educacionais. Vejamos cada uma das abordagens de maneira mais detalhada. Piaget foi um teórico que tinha como preocupação central estudar como o indivíduo aprende. Na sua teoria os processos cognitivos são necessários para compreender como a criança se desenvolve e destaca os seguintes como fundamentais: esquemas, assimilação, acomodação, organização e equilibração. Os esquemas são interpretados como a forma pela qual o indivíduo organiza o conhecimento do mundo. Matos (2008, p. 11) define como “uma estrutura cognitiva, com padrões organizados de comportamento”. Na teoria de Piaget, o esquema se faz presente em todas as fases do desenvolvimento da criança e uma forma de compreender como funcionam é a partir do comportamento. A sequência de comportamentos faz parte de uma totalidade organizada porém, é modificada pelo funcionamento intelectual. Um exemplo de como os esquemas são construídos você pode observar quando uma criança começa a pegar os objetos que estão ao seu alcance. A criança já nasce com o reflexo de preensão de maneira que qualquer objeto colocado na palma de sua mão é agarrado. Com a maturação biológica e os estímulos oferecidos pelo ambiente, a criança terá uma infinidade de objetos que poderão ser pegos e assim ela desenvolve o esquema de preensão. Observeque o esquema não é apenas um ato reflexo, uma vez que exige a vontade da criança e sua movimentação para alcançar seu objetivo. Aqui você verifica o esquema constituído, de forma que ele será utilizado sempre que ela desejar pegar um objeto. Porém os objetos ao redor da criança são diferentes, requerendo a modificação do esquema em função das particularidades do objeto. Um aspecto importante e que você já deve ter compreendido em relação aos esquemas é que são muito maleáveis e estão em contínuo desenvolvimento para que o indivíduo possa melhor se adaptar à realidade. Essa adaptação decorre de dois processos complementares: a assimilação e a acomodação. Piaget (1975 apud FERREIRA; LAUTERT, 2003, p. 548) explica que: A assimilação [...] diz respeito à integração de novos elementos à estrutura já existente ou construída, seja ela inata, como no caso dos reflexos no recém-nascido, ou adquirida a partir das modificações do conteúdo da estrutura inata inicial. No entanto, a assimilação não é um mecanismo suficiente para garantir o desenvolvimento de novas estruturas, já que não lida com a assimilação de conteúdos completamente novos ou não reconhecidos pelas estruturas existentes. Para possibilitar a integração de novos conteúdos, existe o processo complementar da assimilação: a acomodação, que se caracteriza pela modificação de um esquema ou estrutura de assimilação pelos elementos assimilados[...]. Ou seja, quando os elementos não se integram às estruturas existentes, as mesmas são modificadas para acomodá-las. PORDENTRODOTEMA 6 Você pode verificar como isso acontece quando, por exemplo, observa uma criança brincando com uma bola e que, portanto, ela já possui o esquema de manusear a bola. Quando recebe a bola mesmo que tenha diferenças daquelas já conhecidas, irá manuseá-la da mesma maneira, aqui verifica-se a assimilação. Porém se a bola tem características diferentes – o tamanho, por exemplo –, irá modificar sua maneira de apreendê-la, verificando-se aqui a acomodação. A organização corresponde ao processo de regulação das informações por meio da constituição dos esquemas. Santrock (2010, p. 77) explica que “[...] é o agrupamento de comportamentos e pensamentos isolados dentro de um sistema de ordem superior. O refinamento contínuo dessa organização é parte inerente do desenvolvimento”. A equilibração pode ser considerada como um mecanismo autorregulador para que o indivíduo tenha uma interação eficiente com o meio. Piaget explica que o processo de equilibração ocorre por meio da passagem de um estado de menor equilíbrio para outro superior, transitando por múltiplos desequilíbrios e reequilíbrios. Pádua (2009, p. 26) explica que: É um processo dialético que envolve equilíbrio – desequilíbrio – reequilíbrio, e é por esse motivo que ele preferiu o termo equilibração, e não equilíbrio, que daria a impressão de algo estável, justamente para sugerir a ideia de algo móvel e dinâmico. Uma preocupação de Piaget foi explicar de que forma e em que ordem as capacidades cognitivas são construídas e nesse sentido identifica que a formação das estruturas não acontece de maneira linear estabelecendo os estágios de desenvolvimento. Nesses estágios a inteligência muda de qualidade, e o desenvolvimento da inteligência passa necessariamente por esses estágios, os quais subdividem-se em quatro: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. O primeiro estágio – sensório-motor – dura do nascimento até aproximadamente 2 anos de idade. Nessa fase o bebê constrói uma compreensão do mundo a partir da coordenação entre as experiências sensoriais e motoras. Isso fica evidenciado quando se observa um bebê bem pequeno e a maneira como se utiliza de padrões reflexos para adaptar-se ao mundo, porém aos 2 anos aproximadamente já se utiliza de outros padrões bem mais complexos e elaborados. Ao nascer as crianças são dotadas de alguns reflexos tais como chupar, agarrar e com isso vão estabelecendo relações com a realidade externa. Nessa fase, por exemplo, a criança chora por ter fome e com isso atrai a atenção da mãe, mas não tem condições de identificar que seu incômodo é devido à falta de alimentação. Aos 2 anos, já dispondo de recursos cognitivos mais elaborados não só irá pedir para comer quando sentir fome, como irá escolher o que mais a agrada. PORDENTRODOTEMA 7 O estágio seguinte, pré-operacional, dura dos 2 anos até os 7 e corresponde à fase na qual a criança utiliza muito de representação simbólica e isso significa um grande desenvolvimento das estruturas mentais. Essa fase é razoavelmente extensa e nela a criança passa por duas etapas, uma que corresponde à função simbólica e outra que corresponde ao pensamento intuitivo. A função simbólica é a etapa, dentro do estágio pré-operacional, na qual a criança passa a representar mentalmente um objeto que não está presente. Um exemplo disso é observado nas brincadeiras de faz de conta e nos desenhos que tentam representar objetos e pessoas. Nessa etapa o pensamento da criança apresenta duas limitações: o egocentrismo e o animismo. Na fase que corresponde ao pensamento intuitivo a criança começa a utilizar raciocínios primitivos e a buscar as respostas para as coisas, é a etapa dos “porquês”. Nessa fase também, a criança começa a vivenciar as regras, valores, noção de certo e de errado, embora ainda não compreenda o sentido dessas regras. No estágio operatório-concreto que vai dos 7 até os 11 anos aproximadamente, o raciocínio lógico substitui o pensamento intuitivo, porém os problemas abstratos ainda não são resolvidos pela criança. Nessa etapa se efetiva a reversibilidade, que significa a capacidade de a criança poder antecipar ações e projetá-las, distinguindo nesse processo o que pode ser modificado. Um exemplo clássico desse processo é a massa de modelar que, inicialmente em forma de bola, é transformada pela criança em forma de salsicha. A criança nessa fase já compreende que a quantidade de massa se mantém mesmo com a modificação do formato, o que não acontece quando está no pré-operatório. Outro exemplo é quando a criança coloca água em um copo que possui um determinado formato, ao transferi-la para outro copo com formato diferente terá a compreensão de que se trata da mesma quantidade de líquido, ainda que em vasilha diferente. O estágio operatório-formal corresponde à etapa posterior aos 11 anos, podendo ter início um pouco mais tarde até os 15 anos em conformidade com as características individuais e experiências vivenciadas pelo adolescente. Nessa fase o indivíduo passa a poder realizar as operações a partir de hipóteses e não somente a partir dos objetos concretos. É, portanto, a partir dessa fase que os indivíduos começam a pensar de forma mais abstrata. No que tange a abstrações, Piaget dividiu-as em dois tipos: Abstração Empírica e Abstração Reflexiva. As informações retiradas do objeto de conhecimento pelo sujeito são abstrações empíricas; ao passo que, as informações retiradas das ações do sujeito sobre o objeto são abstrações reflexivas (PÁDUA, 2009, p. 33). Uma observação interessante feita por Piaget é a de que, ao final do desenvolvimento das etapas, ocorre uma libertação do pensamento do mundo real e concreto, superando essa forma e partindo para aquelas mais complexas. PORDENTRODOTEMA 8 Em que pesem as contribuições oferecidas pela teoria de Piaget, a evolução dos estudos sobre o desenvolvimento colocou em debate muitas das suas teses. Vários teóricos questionam a divisão do desenvolvimento em etapas unitárias e também o fato de que o teórico deu pouco valor para a cultura como fator determinante para o desenvolvimento. A teoria de Vygotsky buscou analisar o desenvolvimento cultural do ser humano mediado por instrumentos entre os quais se destaca a linguagem. Na concepção do teórico, o desenvolvimento só pode ser compreendido comoum processo inserido num determinado contexto cultural, sendo portanto necessário compreender os indivíduos como seres históricos e não como mera abstração. A teoria do desenvolvimento vygotskyana parte da concepção de que todo organismo é ativo e estabelece contínua interação entre as condições sociais, que são mutáveis, e a base biológica do comportamento humano. Ele observou que o ponto de partida são as estruturas orgânicas elementares, determinadas pela maturação. A partir delas formam-se novas e cada vez mais complexas funções mentais, dependendo da natureza das experiências sociais da criança (LUCCI, 2006, p. 7). Alguns conceitos são de fundamental importância na teoria desenvolvida por Vygotsky: zona de desenvolvimento proximal, andaimes, linguagem. A zona de desenvolvimento proximal é explicada como aquelas tarefas muito difíceis para que a criança domine sozinha, mas que podem ser realizadas caso esteja com um adulto ou outra criança mais habilidosa. Pode-se afirmar que a ZDP é um “espaço cognitivo” no qual o indivíduo consegue realizar uma tarefa graças à ajuda de outro, de uma forma que não seria capaz de fazer sozinho. Nesse sentido, a interação com o outro é de fundamental relevância. É importante destacar que não é a tarefa em si que provoca o desenvolvimento do indivíduo, mas as ações que deverá desenvolver para realizá-las e que têm relação direta com as funções psicológicas necessárias para o seu desenvolvimento. O teórico explica que não existe uma única forma de identificar a ZDP que se aplique a todas as crianças indiscriminadamente, uma vez que, embora as crianças se desenvolvam seguindo os mesmos padrões da espécie, existem características específicas, experiências vivenciadas e influência do contexto cultural. O conceito de andaimes na teoria de Vygostky está profundamente articulado ao de zona do desenvolvimento proximal, pois significa o ajuste necessário para que a interferência feita produza os resultados. Esse ajuste implica um diálogo entre os indivíduos para que o mais apto possa contribuir com o entendimento de alguns conceitos que levarão o outro ao conhecimento. Muitas vezes esse diálogo é substituído pela demonstração e funciona da mesma forma uma vez que o objetivo é auxiliar o indivíduo a desenvolver habilidades de pensamento mais elaboradas. Williams (2002 apud MONTENEGRO, 2012, p. 35) explica andaime “como sendo um suporte verbal fornecido pelo tutor ao aprendiz que dá ao aprendiz a possibilidade de completar uma nova tarefa” e acrescenta que os recursos não verbais também podem cumprir a mesma função. PORDENTRODOTEMA 9 Como se observa, a linguagem exerce função fundamental no desenvolvimento da criança. Para Vygotsky “[...] as crianças utilizam a fala não só como comunicação social, mas também para ajudá-las a resolver tarefas” (SANTROCK, 2014, p. 89). A linguagem e o pensamento, explica o autor, se desenvolvem inicialmente de maneira independente, juntando-se posteriormente. Quando pequenas, as crianças utilizam da linguagem para regular seu comportamento e ações, a isso o teórico denomina “discurso privado”. Esse fato pode ser observado quando as crianças conversam consigo próprias sobre coisas do seu interesse, tais como brinquedos, atividades que estejam realizando, dentre outras. É uma forma de utilizar a linguagem para se guiar. A linguagem é um instrumento construído socialmente, com a função de comunicação e serve ao pensamento por facilitar a sua organização e a interação social. Essa fala privada da criança não tem o objetivo social de comunicação, mas possibilita a organização do pensamento e das ações. Quando a criança passa a pensar as palavras sem precisar dizê-las, passa para o discurso interior e, embora o pensamento se constitua em um processo muito mais complexo que a linguagem, corporifica-se nela uma vez que é por meio da linguagem que os indivíduos podem transmitir seus pensamentos. Para Vygotsky, existe uma interdependência entre pensamento e linguagem. Afirma que sem a palavra não há conceito abstrato, pois ela é o signo mediador. Portanto, o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, ou seja, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sociocultural (RODRIGUERO, 2000, p. 107). Para Piaget a linguagem não desempenha um papel tão relevante na construção do conhecimento, uma vez que para o teórico o pensamento decorre da ação e nesse sentido a linguagem é uma condição importante, mas não suficiente. O que provoca o desenvolvimento são as abstrações empíricas decorrentes das ações sobre os objetos, e a linguagem representa uma forma de organização dos processos realizados pela abstração, mas não ocasiona uma nova operação cognitiva. Quando começam a perceber que seus sinais estão sendo recebidos, os bebês vão se tornando melhor na forma de comunicá-los. É, portanto, a resposta do adulto que fará com que a criança adquira consciência de que seus sinais estão sendo recebidos. Os bebês utilizam do chamado mapeamento rápido para adquirir a linguagem de forma mais ágil. “O mapeamento rápido é um processo no qual a criança pequena utiliza dicas contextualizadas para adivinhar rápido e racionalmente o significado de uma palavra desconhecida” (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p. 185). Não há necessidade de ensinar regras gramaticais às crianças e tampouco ficar corrigindo os erros linguísticos, uma vez que elas aprendem participando das conversas que tenham sentido e vivenciando ambientes letrados. PORDENTRODOTEMA 10 A aquisição da linguagem pela criança envolve alguns aspectos tais como determinadas estruturas mentais e a interação com outras pessoas, levando-a à imitação. Desde o nascimento os bebês reagem quando um adulto fala com eles, aos sons do ambiente e isso é denominado linguagem receptiva. Já as primeiras expressões ou uso de palavras é denominada linguagem expressiva. A aquisição da linguagem avança em estágios. O quadro a seguir ilustra bem esses marcos. Quadro 1 – A aquisição da linguagem pela criança Infância O balbucio começa pelos três meses, a primeira palavra aos dez meses, juntam palavras aos dezoito meses. Primeira infância A transição de frases simples para sentenças complexas começa aos três anos. Infância intermediária e infância final O desenvolvimento do vocabulário é acelerado durante o ensino fundamental, sendo capazes de compreender e utilizar uma gramática complexa. Também são capazes de um discurso conectado e com sentido. Adolescência Desenvolvimento de habilidades mais sofisticadas e sutis com as palavras, melhora na capacidade de compreensão de metáforas. Fonte: Santrock (2014, p. 98-106) O educar e cuidar requerem a constante interação da criança com o professor, sendo um fator importante a forma de reatividade do adulto uma vez que, em não havendo respostas aos choros e primeiras vocalizações, a criança não será incentivada a emitir sinais. Isso ocorre porque esse tipo de interação afeta as redes neurais. “O desenvolvimento da linguagem é dependente de conexões neurais primárias (sinapses) que são estimuladas por meio de relações reativamente positivas com outras pessoas” (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p. 187). Quanto mais a criança vai desenvolvendo sua linguagem, mais o cérebro vai se tornando especializado nessa função. Novamente a experiência e a oportunidade de vivências enriquecedoras funcionam como possibilidades de ampliação do vocabulário das crianças. Para incentivar o desenvolvimento da linguagem, os professores devem conversar normalmente PORDENTRODOTEMA 11 com a criança sem precisar “infantilizar” a fala. Outras oportunidades são muito úteis nessa aquisição, principalmente nos momentos de brincadeiras entre as crianças em que eventualmente o professor poderá inserir algum tipo de diálogo incluindo várias crianças, de várias idades.Atividades prazerosas tais como cantar músicas com diferentes tipos de rimas, contar histórias e imitar os sons dos personagens, criar rimas com palavras e com os nomes das crianças e também uma particularidade nem sempre considerada, dar espaço para que a criança possa participar, mesmo as crianças menores. Utilizar perguntas é uma forma de incentivar a linguagem. Mostrar dois brinquedos e perguntar qual deles a criança prefere, num passeio perguntar o que a criança gostou mais, questionar algumas coisas sem pressionar a criança, favorecendo diálogos espontâneos e permitindo que a criança pergunte. Numa abordagem pedagógica em que as experiências são incentivadas – com a mediação do adulto e não sua interferência –, em que as crianças têm oportunidades de resolver os problemas experimentando possibilidades e alternativas de solução autônomas, as relações de apego são estabelecidas pelas devolutivas reativamente positivas, favorecendo o desenvolvimento integral da criança. Você já pensou que isso pode estar relacionado com a alfabetização? Esse tipo de abordagem pedagógica auxilia o surgimento da alfabetização, conforme explicado por Gonzales-Mena e Eyer (2014). O contato com a linguagem oral e escrita são práticas naturais e conduz ao desenvolvimento das habilidades relacionadas à alfabetização e os comportamentos compartilhados são muito significativos para a emergência dessas habilidades. Nesse sentido um aspecto se mostra fundamental: a intencionalidade. Ela ocorre nos momentos nos quais o professor reconhece a importância das experiências e intencionalmente oportuniza as vivências às crianças. O compartilhamento de livros é uma prática que pode ser realizada inclusive com as crianças bem pequenas. Locais nos quais os livros estejam expostos de modo que a criança possa alcançá-los, leitura de histórias cotidianamente, utilização de ilustrações são algumas das possibilidades que o professor pode utilizar para criar ambiente e atividades estimuladores para as crianças. Gonzales-Mena e Eyer (2014) evidenciam que as crianças desenvolvem a consciência da linguagem oral e escrita de forma associada sendo que esse processo tem início não quando a criança entra no ensino fundamental, mas desde que nasce. A esse processo denominam de alfabetização emergente. Antes mesmo de entrarem no ensino fundamental as crianças aprendem as formas linguísticas que utilizam nos ambientes culturais nos quais vivem; no seio de sua família elas têm a oportunidade de conviver com a linguagem oral e escrita. Isso é fundamental uma vez que a escrita é decorrente da oralidade, realizada em momentos espontâneos de comunicação e interação das crianças. Não há necessidade da criação de situações artificiais, a escrita emerge dos desenhos e das atividades lúdicas conectadas aos interesses da criança. PORDENTRODOTEMA 12 O conhecimento das teorias de Piaget e Vygotsky ajuda os professores a compreenderem o desenvolvimento cognitivo e como as crianças podem tornar-se independentes e autônomas na construção do conhecimento. Ambos os teóricos sustentavam que a criança é quem constrói seu entendimento sobre o mundo, agindo constantemente sobre ele. Por meio das teorias propostas os professores podem compreender as influências do ambiente sobre as crianças e como auxiliá-las de forma apropriada. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 168) afirmam que “[...] o pré-requisito para promover o desenvolvimento cognitivo é segurança e apego”. As teóricas acrescentam que o sentimento promovido pelo apego leva a criança a se sentir confortável e segura para explorar o ambiente, construir formas para brincar da maneira como desejarem, resolver os problemas livremente. O que Piaget e Vygotsky fazem é reforçar a importância do outro no desenvolvimento dos indivíduos, por meio da interação, porém não há necessidade de criar experiências controladas e dirigidas, pois as atividades cotidianas têm grande potencial de propiciar o desenvolvimento das crianças. As brincadeiras, a utilização de vários tipos de materiais, exploração ao ar livre, ambientes ricos para que possam experimentar, tudo sob o cuidado dos professores são oportunidades de aprendizagem. PORDENTRODOTEMA 13 A Zona de Desenvolvimento Proximal na Análise de Vygotsky Sobre Apren- dizagem e Ensino, Artigo de Seth Chaiklin • No artigo, traduzido por Juliana Pasqualini, o autor busca responder a questão sobre o tipo de ensino mais adequado a uma criança a partir da opção por uma teoria. Sua análise parte da compreensão da relação entre o ensino de um conteúdo e suas consequências para o desenvolvimento psicológico e a abordagem utilizada por Vygotski para resolver o conflito daí decorrente. Nesse sentido o autor busca explicar o que é a zona de desenvolvimento proximal expondo o entendimento comum e as críticas a esse pensamento revelando as concepções limitadas sobre o conceito. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v16n4/a16v16n4.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015. Abordagens do Processo de Ensino e Aprendizagem, Texto de Roberto Vatan dos Santos • Nesse texto, o autor apresenta algumas das abordagens sobre o processo de ensino e a aprendizagem mais comumente encontrados nos textos a respeito do tema. Um aspecto interessante no texto é que ao final o autor disponibiliza um quadro sintetizando as características diferentes e semelhantes das abordagens. Disponível em: <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/177895/mod_resource/content/1/Texto%20Proc%20 ens-aprend.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015. ACOMPANHENAWEB 14 Desenvolvimento Cognitivo • Vídeo produzido pela UNESP/UNIVESP, voltado ao curso de pedagogia no qual a professora Zélia Ramozzi do curso de psicologia da USP explica o desenvolvimento cognitivo a partir da teoria de Piaget focando na cognição. Ela esclarece que o conhecimento em Piaget aplica-se somente ao conhecimento necessário e universal, que é constituído pela matemática e física. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=U1gvFJ99C-A>. Acesso em: 23 out. 2015. Tempo: 20:01. Lev Vygotsky, Coleção Grandes Educadores • Vídeo produzido por Atta Mídia e Educação que traz as principais ideias e conceitos desenvolvidos pelo estudioso. Com apresentação de Mata Kol o vídeo é dividido em temas e tem as explicações necessárias para melhor compreender conceitos tais como zona de desenvolvimento proximal, a importância da linguagem e o desenvolvimento. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KwnIKDXeEdI>. Acesso em: 23 out. 2015. Tempo: 44:37. ACOMPANHENAWEB 15 Questão 1 Observando a realização das brincadeiras numa turma de alunos com 4 e 5 anos de idade, a professora verificou que a colabora- ção entre as crianças é muito favorável à resolução de problemas. Muitas vezes uma criança estava às voltas tentando encaixar um brinquedo, ou levantar um objeto, ou arrumar um livro e conseguia resolver a situação com a ajuda de outra criança maior ou mais habilidosa. Como ela pode utilizar-se desse conhecimento para favorecer o aprendizado da criança? Questão 2 Para Piaget e Vygotsky as interações com objetos ou outras pessoas promovem o desenvolvimento cognitivo. Analise as situa- ções abaixo e identifique aquelas nas quais isso fica evidenciado: I. Numa brincadeira de encaixar peças nos buracos de uma caixa, duas crianças procuram encaixar as peças e, embora pareçam estar envolvidas com as suas peças, uma ajuda a outra a buscar formas de encaixar todas. II. Duas crianças organizam, numa brincadeira de faz de conta, como ficará o ambiente para atender o objetivo que pretendem; elas discutem a melhor forma para essa organização. III. Um grupo de crianças brinca com massinha de modelar, uma outra criança se aproxima e pede um pedaço, como ninguém a ajuda, a professora intervém pedindo um pedaço de massinha para cada criança. Com isso elase sente satisfeita, senta perto delas e segue conversando com sobre o que estão fazendo. IV. Uma criança tenta alcançar um brinquedo subindo num objeto. O objeto não é muito alto, mas representa um desafio para a criança, após algumas tentativas ela olha em volta pensando como pode resolver a situação, porém a professora prontamente pega o brinquedo e o coloca na sua mão. Instruções: Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. AGORAÉASUAVEZ 16 Estão corretas: a) I e III b) II e IV c) I, II e III d) II, III e IV e) I e IV Questão 3 João é uma criança de 3 anos, está matriculado numa turma de Educação Infantil, permanecendo pelos menos seis horas na instituição. A professora tem grande preocupação com ele uma vez que interage pouco com outras crianças, embora goste de ficar observando. Quando a professora se aproxima e oferece algum brinquedo ele larga em seguida, desinteressado, ele gosta de ouvir as histórias que a professora conta, mas não gosta que ela lhe faça muitas perguntas. Diante da situação que atitudes a professora deve adotar? Questão 4 Na teoria de Piaget, para que a criança possa construir seu conhecimento sobre o mundo, utiliza processos cognitivos. Ele orga- nizou esses processos de maneira a melhor elucidar como isso acontece em esquemas, assimilação e acomodação, organização e equilíbrio. Assinale a alternativa que explica o que são os esquemas: a) São representações mentais e a forma pela qual o indivíduo organiza o conhecimento do mundo. b) São as formas como a criança incorpora uma nova informação ao esquema existente. c) É o ajuste por meio do qual os esquemas são adaptados para se ajustar a novas informações. d) É a mudança por meio da qual a criança passa de um estágio para outro. e) Maneira de agrupar os comportamentos isolados formando um sistema. AGORAÉASUAVEZ 17 Questão 5 Na teoria de Vygotsky andaime é um conceito dos mais importantes. Eles correspondem a formas de ajuda oferecida à criança para que ela possa alcançar níveis mais altos de entendimento por meio de instruções diretas. Como o professor pode utilizar-se desse conhecimento para proporcionar situações interativas durante a realização das atividades? AGORAÉASUAVEZ Nesta aula você teve oportunidade de conhecer mais sobre as teorias de desenvolvimento, condição essencial para que possa atuar de forma mais adequada com crianças da educação infantil. Dois teóricos foram estudados: Piaget e Vygostky. Em ambos você pode compreender a importância das interações com o outro e com o ambiente para favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento. Contudo cada teórico tem uma concepção diferente sobre o desenvolvimento, dentro das perspectivas teóricas por eles definidas. Piaget defende a importância de se compreender os estágios de desenvolvimento, uma vez que em seus estudos esses estágios aparecem como aspecto comum ao desenvolvimento de todas as crianças permitindo identificar suas características e as melhores formas de intervir para que a criança possa desenvolver-se plenamente. Vygostky desenvolveu vários conceitos em sua teoria, que permite identificar a importância das mediações para o desenvolvimento. Um dos conceitos mais importantes, principalmente quando se trata da educação, é o de zona do desenvolvimento proximal. O papel da linguagem no desenvolvimento cognitivo também é destaque nessa teoria. A importância da linguagem e as melhores formas de interferência foram também temas dessa Unidade, e você pôde observar de que maneira, em atividades rotineiras, elas podem ser melhor desenvolvidas. FINALIZANDO 18 CHAIKLIN, Seth. A zona de desenvolvimento próximo na análise de Vigotski sobre aprendizagem e ensino. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 16, n. 4, p. 659-675, out./dez. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v16n4/a16v16n4.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015. D-11 – DESENVOLVIMENTO cognitivo. Univesp TV. 2010. Duração: 20:01. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=U1gvFJ99C-A>. Acesso em: 23 out. 2015. FERREIRA, Sandra Patrícia Ataíde; LAUTERT, Síntria Labres. A tomada de consciência analisada a partir do conceito de divisão: um estudo de caso. Psicol. Reflex. 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Cognitivista: as teorias cognitivistas focam os aspectos internos no processo de aprendizagem além dos externos. Nesse sentido são considerados os estímulos que atingem o indivíduo e também as atividades internas que ocorrem no sistema nervoso central. GLOSSÁRIO 20 A corrente cognitivista enfatiza o processo de cognição, através do qual a pessoa atribui significa- dos à realidade em que se encontra. Preocupa-se com o processo de compreensão, transforma- ção, armazenamento e uso da informação envolvido na cognição e procura regularidades nesse processo mental (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010, p. 19). A psicologia cognitiva defende que a aquisição do conhecimento é um processo que passa pela percepção dos objetos existentes no meio e por meio das interações. Nessa perspectiva a aprendizagem é o processo de conhecimento, e o indivíduo é agente ativo que utiliza suas experiências acumuladas, buscam informações, analisam e resolver problemas no processo de construção do conhecimento. Comportamentalista: o comportamentalismo é uma abordagem teórica, que analisa o desenvolvimento a partir dos comportamentos observáveis desconsiderando os aspectos mentais. Compreende-se, nessa abordagem, como com- portamento tudo aquilo que o indivíduo manifesta e que pode ser observado. A origem do comportamentalismo explica esse tipo de concepção, uma vez que no início do século XX a psicologia buscava se estabelecer como ciência, e assim busca os parâmetros definidos no âmbito das ciências da natureza para definir o que poderia ou não ser considerado científico. O condicionamento operante é um dos conceitos principais no comportamentalismo e foi desenvolvido por Skinner. O condicionamento operante é uma forma de aprendizagem em que as consequências de um comportamento podem diminuir ou aumentar a probabilidade desse comportamento voltar a ocorrer. Reforço e punições são aspectos básicos nesse comportamento. Reforçar um comportamento significa estimulá-lo. Em sua forma positiva a resposta in- centiva que o comportamento volte a acontecer, por exemplo, quando a criança dá uma resposta conforme o esperado pelo adulto, ao receber o incentivo tenderá a repetir o comportamento. Já no reforço negativo, a tendência a modificar o comportamento está na remoção do estímulo negativo. Egocentrismo: o termo na teoria de Piaget adquire um sentido diferente, uma vez que exprime uma característica do processo do desenvolvimento cognitivo da criança. O fenômeno é observável a partir da linguagem da criança, que ainda não está preparada para perceber a diferença entre ela e o universo que a cerca. No comportamento egocêntrico a criança acredita que todos pensam o mesmo que ela e que entende tudo o que ela diz (SANTROCK, 2010). Na fala egocêntrica a criança fala dela mesma e não se preocupa com o interlocutor, é como se a criança pensasse em voz alta, comentando também o que faz. Humanista: nessa abordagem a personalidade do indivíduo é um dos aspectos mais importantes para o processo de aprendizagem. O indivíduo é construtor do seu processo de aprendizagem e deve buscar desenvolver suas potencialida- des. Os aspectos cognitivos, motores e afetivos são fundamentais para a aprendizagem, enfatizando a autorrealização GLOSSÁRIO 21 do indivíduo. A abordagem humanista defende uma atitude concreta em favor do ser humano numa totalidade na qual pensamentos, sentimentos e ações se inter-relacionam de maneira inseparável. Conforme Pinto (2003, p. 46) explica, ”[...] estas teorias centram seu estudo no ser humano perante uma dada tarefa. Acentuaram a complexidade, riqueza e singularidade da pessoa humana, nos seus motivos e interesses [...]”. Representação simbólica: o simbólico aparece na criança por volta dos 2 anos e se manifesta por meio dos jogos do faz de conta. A brincadeira simbólica na criança decorre do desenvolvimento de sua capacidade de representar e evo- car objetos ausentes, e atribuir a outros as mesmas capacidades que ela possui. As ações demonstram planejamento, maior atenção ao brinquedo e organização de sequências. A brincadeira simbólica torna-se uma representação no mo- mento em que a criança começa a utilizar substitutos para equivaler a objetos e pessoas. O uso de símbolos representa uma nova etapa no desenvolvimento da criança, pois é o momento no qual a inteligência sensório-motora predominante torna-se conceitual. Esse processo é gradual e paulatino e, para que a representação se consolide, faz-se importante à criança poder utilizar símbolos para evocar situações. Reversibilidade: a reversibilidade é um fenômeno observado por Piaget no qual a criança representa uma ação de ma- neira inversa a uma anterior, abrindo a possibilidade para entender que essa ação pode ser feita de maneira diferente. Segundo o teórico a inteligência evolui sempre num sentido universal que é o da reversibilidade cada vez mais precisa das estruturas que a compõem. A reversibilidade completa é denominada de reversibilidade por inversão, e que é a capacidade de anular uma ação por outra a ela contrária. A estrutura reversível possibilita à criança compreender que uma ação pode ser feita e refeita. Piaget (1957 apud GARCIA, 1998, p. 23) explica: “Chamaremos reversibilidade a ca- pacidade de executar a mesma ação nos dois sentidos de percurso, mas tendo a consciência de que se trata da mesma ação”. Após adquirir a reversibilidade a criança pode abordar os fenômenos sob diferentes aspectos e pontos de vista. GLOSSÁRIO 22 GABARITO Questão 1 Resposta: As teorias desenvolvidas por Piaget e Vygotsky reforçam a importância do outro e do meio, como condições para a construção do conhecimento. Especialmente em Vygotsky o conceito de zona de desenvolvimento próximo possibilita compreender esse processo. No caso da professora em análise, as situações de brincadeiras ou cotidianas – visitas, passeios, momento da alimentação – são oportunidades para favorecer a construção do conhecimento por meio da resolução de problemas com o auxilio de outro que pode ser uma criança ou a professora. Como numa turma, cada criança estará numa zona de desenvolvimento próximo, ela terá que desenvolver um olhar investigativo para identificar as necessidades da criança. Ainda na teoria de Vygostky o conceito de andaimes permite compreender a forma de utilizar a linguagem para levar a criança a desenvolver sua compreensão a partir das respostas que vai criando para a solução dos desafios. Questão 2 Resposta: Alternativa D. A primeira afirmativa está correta, pois mesmo que a criança esteja brincando sozinha, o desafio colocado pelo objeto a levará a levantar hipóteses de solução, a presença da outra criança favorece pensar outras alternativas e ambas desenvolvem formas de resolver o problema. A segunda afirmativa está correta pois a elaboração do que fará na brincadeira favorece o debate e o desenvolvimento da linguagem, além de levar ambas as crianças a projetarem como desejam que a brincadeira se desenrole. A terceira afirmativa está correta pois cada criança estava envolvida com sua atividade, não estavam excluindo a outra criança deliberadamente, a interferência da professora de maneira adequada foi favorável a todo o grupo. A quarta afirmativa não está correta, pois a professora deveria dar mais tempo para que a criança pudesse buscar formas de resolução do problema. Questão 3 Resposta: A professora deve ter um relatório diário com as atividades desenvolvidas ou não pela criança, com isso poderá auxiliar no caso de a família buscar ajuda de outros profissionais. Deverá solicitara presença da mãe para que possam conversar sobre a situação da criança, ou aproveitar o momento em que a mãe deixa ou busca a criança na escola para discutir sobre o seu comportamento. Cuidar para não adotar uma atitude de crítica, mas mostrar interesse 23 e preocupação com a criança procurando compreender a situação. Não rotular a criança, respeitar sua forma de ser e buscar alternativas para que ela possa interagir. A professora deverá elaborar um plano específico para João com atividades de massinha, areia, argila, com muitas experiências sensoriais de forma que ele possa seguir as instruções e demonstrações. A professora deverá dedicar atenção para com a criança mesmo que ela se mostre arredia, sem insistir, mas com respeito e carinho. Questão 4 Resposta: Alternativa A. A letra A está correta pois os esquemas são representações mentais e a forma pela qual o indivíduo organiza seu conhecimento do mundo. A letra B não está correta, pois a forma como a criança incorpora uma nova informação ao esquema existente corresponde ao processo de assimilação. A letra C não está correta, pois o ajuste por meio do qual os esquemas são adaptados para se ajustar a novas informações corresponde à acomodação. A letra D não está correta, pois a mudança por meio da qual a criança passa de um estágio para outro corresponde aos estágios de desenvolvimento. A letra E não está correta, pois a maneira de agrupar os comportamentos isolados formando um sistema corresponde à organização. Questão 5 Resposta: O professor deve estar sempre atento ao que acontece durante a realização das atividades desenvolvidas pelas crianças para fazer as interferências adequadas, sem atrapalhar o processo individual do aluno. Evidentemente que ele necessita de tempo para refinar sua habilidade, além disso, precisa ter atenção ao que acontece com a turma, precisa conhecer cada uma das crianças e estudar para ampliar seu conhecimento sobre o desenvolvimento das crianças. Não há necessidade de dar respostas a elas, mas sim levá-las a pensar sobre o que estão fazendo com perguntas muito simples que as estimulem a pensar: “Pode ser feito de maneira diferente?”, “Isso tudo pode ser conectado?”, “O que você está achando disso?”, dentre outras. Organizar a sala agrupando as crianças em formatos diversos, modificando o ambiente, favorecendo trocas de parceiros na composição dos grupos e brincadeiras, utilizar jogos, propor atividades internas e externas, aproveitando as situações corriqueiras e rotineiras para incentivar o desenvolvimento das crianças.
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