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Administração Financeira – Rodrigo Dullius 1 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ALTA ADMINISTRAÇAO R H FINANÇAS PRODUÇÃO MARKETING P & D COMPRAS INTRODUÇÃO A função financeira é quase tão antiga quanto o homem. A partir do momento em que começaram as trocas, iniciou-se a função financeira. Mesmo antes do surgimento da primeira moeda, já haviam ganhos e perdas nas trocas. Os povos utilizavam-se do escambo entre produtos como meio de pagamento. Finanças só foi reconhecida como ciência em função das conseqüências da Revolução Industrial (Séc. XVIII) e, mais precisamente, a partir do início do século XX. Isso não só mudou a escala em que as trocas vinham sendo efetuadas, como criou melhor controle sobre as operações com dinheiro. Com a Revolução Industrial, de um comércio de reis passamos a um comércio de massa. Administração Financeira é um componente essencial não só do currículo escolar ou de um programa de treinamento profissional, mas em seu trabalho diário, não importa a posição. Finanças é importante e simples. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 2 1 - O PAPEL DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Administrar um negócio, seja um modesto empreendimento ou uma grande sociedade anônima, envolve muitas funções diferentes. Sem capital que atenda às necessidades da empresa, seja para financiar seu crescimento ou para atender às operações do dia-a-dia, não podemos desenvolver e testar novos produtos, criam campanhas de marketing, comprar alimentos, manter as atuais empresas ou abrir novas. O papel do administrador financeiro é assegurar que esse capital esteja disponível nos montantes adequados, no momento certo e no menor custo. Se isso não ocorrer, a empresa não sobreviverá. A área de Finanças está muito mais complexa e avança a passos mais rápidos atualmente. Os mercados financeiros estão voláteis; as taxas de juros podem subir ou cair acentuadamente, num período de tempo muito curto. Essas mudanças afetam as decisões financeiras. Financiar projetos quando os juros estão a 14% é muito diferente de quando estão a 7%. Ademais, há hoje muito mais estratégias financeiras possíveis, e novos produtos financeiros surgem a todo instante. Provavelmente, num horizonte de longo prazo, são as decisões de investimento de capital – isto é, a seleção de projetos visando ao crescimento da empresa – que causam um maior impacto no valor global da empresa. Se suas decisões de investimento de capital forem ruins, seu negócio não terá sucesso. Por exemplo, nós avaliamos propostas de abertura de novos restaurantes, considerando um horizonte superior a vinte anos nos nossos cálculos de retorno sobre o investimento original e só aprovamos o projeto se este prometer uma rentabilidade acima de uma determinada taxa de retorno. Do contrário, ele não agregará nada ao nosso valor de longo prazo. Uma vez selecionados os projetos, passamos a escolher a melhor forma de financia-los. 1.1. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA, ECONOMIA E CONTABILIDADE A Administração Financeira está intimamente ligada à Economia e à Contabilidade, já que se baseia amplamente em conceitos econômicos e aproveita certos dados da Contabilidade. A Administração Financeira e a Economia A importância da Economia para o desenvolvimento do ambiente financeiro e teoria financeira pode ser melhor descrita em função de suas áreas mais amplas - Macroeconomia e Microeconomia. A Macroeconomia estuda o ambiente global, institucional e internacional em que a empresa precisa operar, enquanto que a Microeconomia trata de determinação de estratégias operacionais ótimas para empresas ou indivíduos. Macroeconomia - estuda a estrutura institucional do sistema bancário, intermediários financeiros, o tesouro nacional e as políticas econômicas de que o Administração Financeira – Rodrigo Dullius 3 governo federal dispõe para controlar satisfatoriamente o nível de atividade econômica dentro da Economia. Uma vez que a empresa deve operar no âmbito macroeconômico, é importante que o administrador financeiro esteja ciente de sua estrutura institucional. Precisa também estar alerta para as conseqüências de diferentes níveis de atividade econômica e mudanças na política econômica que afetam seu próprio ambiente de decisão. Deve perceber as conseqüências de uma política monetária mais restritiva sobre a capacidade da empresa em obter recursos e gerar receitas. Precisa ainda conhecer as várias instituições financeiras e saber como estas operam, para poder avaliar os canais potenciais de investimento e financiamento. Microeconomia - fornece a base para a operação eficiente da empresa, visando definir as ações que permitirão à empresa obter sucesso. Os conceitos envolvidos nas relações de oferta e demanda e as estratégias de maximização do lucro são extraídos da Teoria Microeconômica. Questões relativas à composição de fatores produtivos, níveis “ótimos” de vendas e estratégias de determinação de preço do produto são todas afetadas por teorias no nível microeconômico. A análise marginal (princípio econômico segundo o qual devem ser tomadas decisões financeiras e realizadas ações, somente quando os benefícios adicionais superarem os custos adicionais) é o princípio básico que se aplica em Administração Financeira - deve-se tomar decisões e adotar medidas quando as receitas marginais excederem os custos marginais. A Administração Financeira e Contabilidade Embora haja relação íntima entre essas funções, a função contábil é melhor visualizada como um insumo necessário à função financeira. Há duas diferenças básicas de perspectiva entre a Administração Financeira e a Contabilidade - uma se refere ao tratamento de fundos e a outra à tomada de decisão. Tratamento de Fundos - O Contador, cuja função básica é desenvolver e fornecer dados para avaliar o desempenho da empresa, apurar sua situação financeira e pagar impostos, difere do administrador financeiro na maneira como vê os fundos da empresa. O Contador, usando certos princípios padronizados e geralmente aceitos, prepara as demonstrações financeiras com base na premissa de que as receitas devem ser reconhecidas por ocasião das vendas, e as despesas, quando incorridas (regime de competência). O Administrador Financeiro está mais preocupado em manter a solvência da empresa, proporcionando os fluxos de caixa necessários para honrar suas obrigações e adquirir e financiar os ativos circulantes e fixos, necessários para atingir as metas da empresa. Ao invés de reconhecer receitas no ponto de vendas e despesas, quando incorridas, reconhece receitas e despesas somente com respeito e entradas e saídas de caixa. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 4 Ex.: Cia. Gaúcha Demonstração do Resultado em 31/12 Demonstração do Fluxo de Caixa em 31/12 Receitas de Vendas $ 100.000,00 Entradas de Caixa $ 0,00 (-) Despesas $ 80.000,00 (-) Saídas de Caixa $ 80.000,00 Lucro Líquido $ 20.000,00 Fluxo de Caixa Líquido $ (80.000,00) Comparando as duas demonstrações, pode-se perceber que, enquanto sob o ponto de vista contábil a empresa é bastante lucrativa, de acordo com a ótica financeira é um fracasso. Sem entradas adequadas de caixa para saldar suas obrigações, a empresa não sobreviverá a despeito de seu nível de lucro. O administrador financeiro precisa olhar além das demonstrações financeiras de sua empresa para perceber problemas que estão surgindo ou já existem. Tomada de decisões - enquanto o Contador dedica-se à coleta e apresentação dos dados financeiros, o Administrador Financeiro desenvolve dados adicionais e tomadecisões com base em análises subseqüentes. Objetivos da Função Financeira O objetivo básico implícito nas decisões de administração financeira é a maior rentabilidade possível sobre o investimento efetuado por indivíduos ou instituições caracterizados como proprietários – acionistas ordinários, no caso de uma sociedade anônima. Entretanto, é feita uma ressalva: “a rentabilidade máxima, desde que não seja comprometida a liquidez da empresa”. O Papel da Administração Financeira na Empresa A extensão e a importância da função financeira dependem, em grande parte, do tamanho da empresa. Em empresas pequenas, a função financeira é geralmente realizada pelo departamento de contabilidade. À medida que a empresa cresce, a importância da função financeira normalmente leva à criação de um departamento financeiro separado – uma unidade organizacional autônoma, ligada diretamente ao presidente da companhia, através de um vice-presidente de Finanças. Reportando ao vice-presidente de Finanças estão o tesoureiro e o controller. O tesoureiro geralmente é responsável por conduzir atividades financeiras, tais como a administração de caixa, a elaboração de planos e decisões sobre investimento de capital, administração das atividades de crédito e administração da carteira de investimentos. O controller geralmente conduz as atividades contábeis relacionadas com impostos, processamento de dados, contabilidade de custos e contabilidade financeira. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 5 Meta da Administração Financeira Quando alguém se dispõe a investir sua poupança em uma empresa, em vez de aplicá-la em alternativas mais seguras, está disposto a assumir certo risco em troca de um aumento no seu patrimônio ou riqueza pessoal. Assim, pode-se admitir que o objetivo primordial de cada empresa é o de maximizar o seu valor. Essa riqueza é representada pelo valor de mercado, ou seja, pelo preço que seria alcançado na venda dos direitos de participação no seu capital social, onde as decisões financeiras são orientadas para o aumento do valor de mercado da empresa. Stakeholders são grupos tais como empregados, clientes, fornecedores, funcionários, governos, entidades representativas de classe e outros que possuem um vínculo econômico direto com a empresa. Exemplo: os empregados são remunerados pelo seu trabalho; os clientes compram os produtos da empresa; os fornecedores são pagos pelos materiais e serviços por eles fornecidos. Uma empresa atenta aos stakeholders evitará conscientemente medidas que possam ser prejudiciais a eles, ou seja, afetar sua riqueza, transferindo-a à empresa. A maximização do valor da empresa envolve os seguintes aspectos: 1º) Perspectiva de longo prazo A empresa deve ser perpetuada e, para tanto, tem de realizar investimentos em tecnologia, novos produtos etc. que poderão sacrificar a rentabilidade atual em troca de maiores benefícios no futuro. 2º) Valor do dinheiro no tempo Os projetos de investimento envolvem fluxos de desembolsos e de entradas de caixa. Existem diversas técnicas para avaliar tais projetos e algumas delas transformam os fluxos futuros de caixa em valores atuais, através da aplicação de determinada taxa de desconto. Essa taxa de desconto deve refletir um custo de oportunidade dos recursos a serem investidos. Tal custo de oportunidade corresponde a uma taxa mínima de retorno exigida do projeto para que o valor de mercado da empresa não se altere. Considerando o valor do dinheiro no tempo, a seleção dos projetos a serem implementados visará aumentar ou, pelo menos, manter o valor de mercado da empresa. 3º) Retorno do capital próprio Os acionistas esperam ser remunerados através de dividendos e, principalmente, pela valorização de suas ações. A administração financeira deverá atender a essas expectativas. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 6 4º) Risco O retorno deve ser compatível com o risco assumido. Maior risco implica a expectativa de maior retorno. 5º) Dividendos Deve ser adotada uma política de distribuição regular de dividendos, independentemente das flutuações dos lucros, minimizando os efeitos negativos que possam afetar as cotações das ações. A empresa não deve desapontar aqueles acionistas que apreciam receber dividendos periódicos. Áreas de Decisões Financeiras De forma bastante abrangente, podemos identificar quatro áreas de decisões financeiras: decisões de investimento; decisões de financiamento; decisões de capital de giro e decisões relativas à destinação do lucro. DECISÕES FINANCEIRAS NAS EMPRESAS E MERCADOS BALANÇO PATRIMONIAL DECISÕES DE FINANCIAMENTO PATRIMÔNIO LÍQUIDO DECISÕES DE INVESTIMENTO AS DECISÕES ESTRATÉGICASAS DECISÕES ESTRATÉGICASAS DECISÕES ESTRATÉGICAS DECISÕES DE CAPITAL DE GIRO ATIVO CIRCULANTE REALIZÁVEL DE LONGO PRAZO ATIVO PERMANENTE EXIGÍVEL DE LONGO PRAZO PASSIVO CIRCULANTE Administração Financeira – Rodrigo Dullius 7 Decisões de Investimento Referem-se tanto à administração da estrutura do ativo quanto à implementação de novos projetos. A grande concorrência existente nas modernas economias de mercado obriga as empresas a se manterem tecnologicamente atualizadas. Nenhuma empresa pode sentir-se segura em uma boa posição conquistada, porque a qualquer momento algum concorrente poderá surgir com um produto melhor e mais barato. Deste modo, as empresas são impelidas a desenvolverem continuamente novos projetos e a tomarem decisões sobre sua implantação. Normalmente isto significa a necessidade de vultosas somas adicionais de recursos e uma elevação no risco do empreendimento. Afinal, investimentos em novos ativos fixos têm efeitos prolongados sobre a vida da empresa e uma decisão inadequada poderá comprometer irremediavelmente o seu futuro. Além disso, tais investimentos geralmente implicam aumentos de aplicações de recursos no capital de giro. Decisões de Financiamento Enquanto as decisões de investimento envolvem importantes aspectos de natureza não financeira, as decisões de financiamento constituem responsabilidade exclusiva do administrador financeiro. As decisões de financiamento visam montar a estrutura financeira mais adequada às operações normais e aos novos projetos a serem implantados na empresa. As questões envolvidas nas decisões de financiamento referem-se à composição das fontes de recursos, como segue: Qual deveria ser a proporção entre recursos permanentes e temporários? Quanto de recursos próprios e quanto de financiamentos a longo prazo? O reinvestimento de lucros seria suficiente para atender às necessidades de recursos próprios? Qual seria o impacto dos custos financeiros provocados pelos financiamentos a longo prazo e pelos empréstimos a curto prazo? Em vez de comprar ativos fixos, não deveríamos arrendá-los? Administração Financeira – Rodrigo Dullius 8 Decisões de Capital de Giro Capital de Giro é o total de valores “circulantes” na empresa para sustentar suas operações (compras, produção, estocagem e vendas); são classificados no Ativo Circulante (investimentos correntes) e no Passivo Circulante (financiamentos correntes). Se o saldo do CCL é muito elevado, o risco de iliquidez das operações diminui, mas também se reduz a capacidade de investimentos fixos da empresa, comprometendo sua lucratividade futura (médio/longo prazos). Destinação do Lucro O lucro obtido em cada exercício social representa a remuneração do investimento dos proprietáriosda empresa. Quanto desse lucro deveria ser distribuído aos acionistas e quanto seria retido para financiar a expansão dos negócios? Essa indagação revela que a política de distribuição de dividendos está diretamente relacionada com as decisões de financiamento. Distribuindo apenas uma pequena parcela dos lucros, a empresa ficará menos dependente das fontes onerosas de recursos e ampliará a participação do capital próprio na estrutura financeira. Quando a empresa pertence a reduzido número de pessoas, essas decisões são tomadas por consenso ou por imposição do sócio majoritário. A dificuldade surge quando existe grande número de acionistas e as ações são negociadas nas bolsas de valores. Neste caso, a política de dividendos estará orientada para a maximização das cotações, devendo basear-se na avaliação das expectativas do mercado acionário que são influenciadas por diversos fatores conjunturais. Uma empresa bem sucedida sempre terá novos planos de investimentos que implicam na necessidade de recursos adicionais. Parte dessas necessidades poderá ser atendida com a retenção de lucros e o restante terá de ser financiado através de outras fontes. 1.2 – AS FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO 1- Análise e Planejamento Financeiro - esta função envolve a transformação dos dados financeiros em uma forma que possa ser usada para orientar a posição financeira da empresa, avaliar a necessidade de aumento da capacidade produtiva e determinar que tipo de financiamento adicional deve ser feito. 2- Administração da Estrutura de Ativo da Empresa - o Administrador Financeiro determina composição e os tipos de ativos encontrados no Balanço da empresa. A composição refere-se ao valor em dinheiro dos ativos circulantes e fixos. Depois que a composição estiver fixada, o Administrador Financeiro precisa determinar certos níveis “ótimos” de cada tipo de ativo circulante e tentar mantê-los. Deve também detectar quais são os melhores ativos fixos a serem adquiridos e saber quando os Administração Financeira – Rodrigo Dullius 9 ativos fixos existentes se tornarão obsoletos e precisarão ser modificados ou substituídos. A determinação da melhor estrutura de ativo para a empresa não é um processo simples; requer o conhecimento das operações passadas e futuras da empresa e a compreensão dos objetivos que deverão ser alcançados a longo prazo. 3- Administração de sua Estrutura Financeira - esta função é relacionada com o lado direito do Balanço da empresa. Duas decisões importantes precisam ser feitas a respeito da estrutura financeira da empresa. Em primeiro lugar, a composição mais adequada de financiamento a curto e longo prazos precisa ser determinada. Esta é uma decisão importante, pois afeta tanto a lucratividade da empresa como sua liquidez global. Um segundo problema é saber quais as melhores fontes de financiamento a curto ou longo prazo para a empresa, num dado momento. Nas empresas de pequeno e médio portes, as atividades relac ionadas com a função financeira geralmente ficam sob a responsabilidade de um dos sócios. Não é raro essa pessoa acumular outras funções e relegar a área financeira a um segundo plano, preocupando-se basicamente com a administração das disponibilidades. Estrutura Organizacional Típica da Função Financeira Caixa e Bancos Contabilidade Geral e Custos Contas a Pagar e Receber Elaboração e Controle Orçamentário Investimentos Auditoria Interna Fluxo de Caixa Relatórios Financeiros Preparação de Relatórios Financeiros Análise Econômico-Financeira Aplicações Financeiras Controle dos ativos fixos e seguros Diretor Financeiro é o principal executivo da área financeira, reportando-se diretamente à Presidência; formula a política financeira global da empresa e das suas subsidiárias; Diretor Financeiro Tesoureiro Controller Administração Financeira – Rodrigo Dullius 10 coordena as atividades do Tesoureiro e do Controller; Representa a empresa: perante os órgãos públicos e instituições ligadas ao mercado de capitais; na assinatura de grandes contratos de compra, de venda, de financiamento etc. O Tesoureiro desenvolve funções executivas (é um “homem de linha”); mantém relações externas com banqueiros e outros credores; administra os fluxos de recursos financeiros; é responsável pela liquidez da empresa. O Controller desenvolve funções de assessoria (é um “homem de staff”); mantém relações internas, envolvendo-se com todas as áreas; é o inspetor dos assuntos financeiros (não se confundindo com o auditor interno); está constantemente preocupado com a rentabilidade. 1.3 A FUNÇÃO FINANCEIRA DO FUTURO De acordo com a coluna “Gestão Esperta” da Revista Exame, os executivos financeiros terão um papel cada vez mais atuante no crescimento das empresas e, para isso, deverão ampliar suas atividades tradicionais. Os executivos acreditam que a sua área está se tornando mais importante nas seguintes atividades estratégicas: agregar valor às análises de negócios; gerenciar riscos e identificar oportunidades; avaliar e medir a performance da empresa; melhorar os processos financeiros fundamentais; produzir análises que ajudem os acionistas a aumentar sua lucratividade; elevar o resultado global da empresa; Administração Financeira – Rodrigo Dullius 11 2. ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Dentre as aplicações de fundos por uma empresa, uma parcela ponderável destina-se ao que, alternativamente, podemos chamar de ativos correntes, ativos circulantes, ou capital de giro. O Capital de Giro Líquido resulta da subtração de todos os compromissos a curto prazo da empresa para com fornecedores, funcionários, fisco etc., do total de itens que compõem o Capital de Giro Bruto, isto é, Disponibilidades + Investimentos Temporários + Contas a Receber + Estoques. Poderíamos dizer que os ativos correntes constituem o capital da empresa que circula até transformar-se em dinheiro dentro de um ciclo de operações. Em vista dessa formulação, o curto prazo como duração desse ciclo de operações realmente varia conforme a natureza das operações da empresa considerada. Ele é, na verdade, o tempo exigido para que uma aplicação de dinheiro em insumos variáveis gire inteiramente, desde a compra da matérias-primas e o pagamento de funcionários até o recebimento correspondente à venda do produto ou serviço proporcionado ao cliente, a partir do emprego de tais recursos. Para compreender melhor, temos a seguinte representação gráfica: ESTOQUE DE MATÉRIA-PRIMA CAIXA VALORES A RECEBER PRODUTOS PRONTOS VENDAS À VISTA RECEBIMENTOS DE CLIENTES COMPRAS DE MATÉRIAS- PRIMAS VENDAS À PRAZO PRODUÇÃO CICLO DE CAIXA 2.1 CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO Uma empresa precisa manter um nível satisfatório de capital de giro. Os ativos circulantes da empresa devem ser suficientemente consideráveis de modo a cobrir seus passivos circulantes, garantindo-se com isso a margem razoável de segurança. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 12 O objetivo da administração do capital de giro é administrar cada um dos ativos circulantes e passivos circulantes da empresa, de tal forma que um nível aceitável de capital circulante líquido seja mantido. A definição mais comum de Capital Circulante Líquido (CCL) é a diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes da empresa. Se o ativo circulante exceder o passivo circulante da empresa,tem CCL. A maioria das empresas precisa operar com um certo montante de CCL, mas a quantidade exata depende muito do setor em que atuam. A aplicação do CCL (bem como outros índices de liquidez) para determinar a liquidez da firma baseia-se num fundamento teórico que estabelece que, quanto maior for a margem com a qual os ativos circulantes de uma empresa cobrem as suas obrigações a curto prazo (passivos circulantes), maior será sua capacidade de pagar suas contas na data de vencimento. Embora os ativos circulantes não possam ser convertidos em caixa exatamente no momento desejado, quanto maior for o montante de ativos circulantes, será mais provável converter-se alguns ativos circulantes em caixa, para se pagar uma dívida na data de seu vencimento. É necessário um certo nível de CCL, já que quase todas as entradas e saídas de caixa não são perfeitamente sincronizadas. As saídas de caixa resultantes do pagamento de obrigações correntes são relativamente previsíveis. Em geral, no momento em que se incorre numa obrigação, fica-se sabendo quando as contas vencem. 2.2 ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA E TÍTULOS NEGOCIÁVEIS A administração de caixa e títulos negociáveis é uma das áreas-chave da administração do capital de giro, já que ambos são os ativos mais líquidos da empresa e possibilitam pagar as contas no vencimento, reduzindo, assim, a crise de liquidez. Caixa é a moeda corrente à qual todos os ativos líquidos podem ser convertidos. Item Jan Fev >>> Nov Dez Recebimentos Pagamentos Fluxo de Caixa Líquido Saldo de Caixa Inicial Saldo de Caixa Final Saldo de Caixa Mínimo Financiamento Total Necessário Excesso de Saldo de Caixa ORÇAMENTO DE CAIXA Administração Financeira – Rodrigo Dullius 13 Títulos Negociáveis representam investimentos a curto prazo no mercado financeiro, que proporcionam juros, feitos pela empresa para obter retornos sobre recursos temporariamente ociosos. Quando uma empresa reconhece que um montante grande demais de caixa foi acumulado, ela muitas vezes converterá uma parte de caixa num título de renda fixa. Há inúmeros títulos de renda fixa altamente líquidos que possibilitam à empresa obter um lucro sobre seu caixa ocioso, sem sacrificar sua liquidez. As estratégias básicas que devem ser empregadas pela empresa na administração de seu caixa são: a) Retardar, tanto quanto possível, o pagamento de DPL sem prejudicar o conceito de crédito da empresa, aproveitando, porém, quaisquer descontos financeiros favoráveis; b) Girar os estoques com a maior rapidez possível, evitando faltas de estoques que podem resultar na interrupção da atividade da empresa; c) Receber o mais cedo possível as duplicatas a receber, sem perder vendas futuras, devido a técnicas rígidas demais de cobrança. Os descontos financeiros, se economicamente justificáveis, podem ser usados para realizar esse objetivo. COMPRAS VENDAS ESTOQUES CTAS A PAGAR CTAS A RECEBER CICLO DE PRODUÇÃO CICLO FINANCEIRO MATÉRIA-PRIMA PROD. EM ELABORAÇÃO PROD. ACABADOS CICLO FINACEIRO Estratégias de Administração de Caixa a) Retardar o Pagamento de Duplicatas - Muito dependente da situação que envolve a negociação da empresa, esta estratégia só deve ser utilizada quando não for prejudicial ao conceito de crédito da empresa, pois embora possa parecer financeiramente atraente, ela levanta uma importante questão ética, uma vez que pode levar a empresa a violar um acordo com o fornecedor. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 14 b) Administração eficiente do estoque produção - outra maneira de minimizar a necessidade de caixa é aumentar o giro do estoque, podendo ser obtido das seguintes maneiras: - Aumentando o giro de matérias-primas = através de técnicas mais eficientes no controle de estoque, a empresa poderá aumentar seu giro de matérias-primas; - Diminuindo seu ciclo de produção = introduzindo melhor planejamento, programação e técnicas de controle da produção, a empresa pode diminuir a extensão do ciclo da produção. A redução no ciclo da produção acarretará um aumento no giro do estoque de produtos em fabricação; - Aumentando o giro de produtos acabados = a empresa pode aumentar o giro de seus produtos acabados, aperfeiçoando a previsão da demanda e o planejamento da produção, na tentativa de levar esta a coincidir com as previsões. Um controle mais eficiente do estoque de produtos acabados contribuirá para um giro de estoque mais rápido destes produtos. c) Aceleração do processo de recebimento - a empresa emprega dinheiro em duplicatas a receber, do mesmo modo que em estoque. Duplicatas a receber são um custo necessário para a empresa, já que a concessão de crédito a clientes é uma “ferramenta” de vendas. As políticas de crédito são os critérios da empresa usados para determinar a quem se deve conceder crédito; as políticas de cobrança determinam o esforço despendido pela empresa para receber prontamente as duplicatas a receber. As mudanças nas condições de crédito, nas políticas de crédito e nas políticas de cobrança podem ser usadas como recursos para diminuir o prazo médio de cobrança, enquanto mantém ou aumentam os lucros globais. Títulos Negociáveis Títulos negociáveis são instrumentos a curto prazo do mercado monetário, que podem ser facilmente convertidos em dinheiro. Os títulos negociáveis são muitas vezes considerados parte dos ativos líquidos da empresa. Motivos para manter Títulos Negociáveis: Uma empresa deve tentar obter um retorno sobre recursos temporariamente ociosos. O tipo de título negociável que uma empresa compra dependerá muito do motivo da compra. Os motivos básicos incluem o motivo de transação, o motivo de precaução e o motivo de especulação. a) Motivo de transação - de modo a obter algum retorno sobre tais fundos, investe-se num título negociável com uma data de vencimento que coincida com a data exigida de pagamento de compromissos. b) Motivo de precaução - são usados como um anteparo de conta caixa. Esses títulos precisam ser de grande liquidez, já que são comprados com o dinheiro que será necessário algum dia. Por isso, protegem a empresa da possibilidade de não poder satisfazer as demandas inesperadas de caixa. c) Motivo de especulação - às vezes algumas empresas têm caixa em excesso Administração Financeira – Rodrigo Dullius 15 e até que ela ache um destino adequado para esse dinheiro, ela o investe em certos tipos mais especulativos de títulos negociáveis. 2.2.2 Fluxo de Caixa É o conjunto de ingressos e desembolsos de numerário ao longo de um período orçamentário. Representa de forma dinâmica a situação financeira de uma empresa, considerando todas as fontes de recursos e todas as aplicações efetuadas. Objetivos do fluxo de caixa: a) Facilitar análise e cálculo na seleção das linhas de crédito a obter; b) Detectar antecipadamente as carências de recursos; c) Planejar desembolsos evitando acúmulo de compromissos vultosos em época de pouco encaixe; d) Quantificar os recursos próprios disponíveis para investimentos; e) Intercambiar os diversos departamentos com área financeira; f) Usar eficientemente/eficazmente recursos disponíveis; g) Financiar necessidades sazonais ou cíclicas da empresa; h) Prover recursos para expansões (planta, operacional, etc.). i) Manter determinado nível de caixa em função do capital de giro; j) Auxiliar na análise dos valores a receber e estoques, para verificar sua conveniência; k) Aplicar os excedentes de caixa l) Programar convenientemente empréstimos ou financiamentos m) Projetar plano efetivo de resgate de débitos n) Integrar os controles financeiros da empresa. Causasda falta de recursos na empresa a) Expansão descontrolada de vendas (maiores compras) b) Insuficiência de capital próprio e utilização do capital de terceirosa. c) Ampliação exagerada do prazo de vendas. d) Compras de porte de caráter cíclico ou para reserva; e) Prazos de recebimentos e de pagamentos inadequados f) Rotação de estoques e produtos prontos lenta g) Ociosidade do capital fixo pela retração de mercado h) Distribuir lucros além das disponibilidades i) Altos custos financeiros pelo fluxo irregular de caixa. Alterações nos saldos de caixa por Fatores Externos: declínio das vendas expansão ou retração do mercado (alteração nos níveis normais de estoques e suas conseqüências em termos de desembolsos) elevação do nível de preços (inflação) concorrência Administração Financeira – Rodrigo Dullius 16 Alterações nas alíquotas de tributos Inadimplência (controle rigoroso das duplicatas a receber em termos de valores e condições/forma de cobrança) Fatores Internos que afetam os saldos de caixa decorrem de decisões tomadas quanto às políticas de: Produção (aquisição de máquinas, expansão da fábrica/linhas de produtos, manutenção do nível de produção em períodos de quedas de demanda e suas conseqüências). Vendas (prazos de entrega e vencimento das duplicatas; propaganda, publicidade e promoção; comissões de vendas; descontos e abatimentos a conceder, etc.). Distribuição (entrega própria ou transportadora, frete pago ou a pagar, rodovia, ferrovia, marítimo, aéreo, etc.) Compras (Prazos obtidos x prazos concedidos; descontos concedidos pelo fornecedor em função de à vista/a prazo em relação à taxa de juros do mercado, etc.) Pessoal (as contratações, dispensas e treinamento). As empresas equilibradas financeiramente caracterizam-se por: Administração Financeira – Rodrigo Dullius 17 Equilíbrio entre ingressos e desembolsos em termos de valor Aumento do capital próprio em relação ao seu Custo. Rentabilidade do capital empregado é satisfatória Menor necessidade de capital de giro tendência de aumento no índice de rotação de estoques Prazos médios de recebimentos e de pagamentos estáveis Inexiste imobilização excessiva Não há falta de produtos prontos ou mercadorias para o atendimento das vendas; etc. Desequilíbrio Financeiro O Desequilíbrio Financeiro da empresa pode ser segregado em Sintomas, Causas e Conseqüências. Quanto aos Sintomas o administrador financeiro deve tentar aliviar os mesmos. São considerados sintomas do desequilíbrio financeiro: a) Insuficiência crônica de Caixa; b) Captação sistemática de recursos através de empréstimos; c) Sensação de esforço desmedido; d) Sensação de quebra repentina; e) Perda do controle empresarial. Quanto às causas, o administrador deve tentar eliminá-las. Ou seja, eliminar: a) Excesso de investimentos em estoques; b) Prazo Médio de recebimento é maior que o prazo médio de pagamentos; c) Excesso de imobilizações; d) Inflação monetária (eliminar?) e) Recessão econômica (eliminar?) Em termos de consequências (que devem ser evitadas), o desequilíbrio financeiro traz: a) Vulnerabilidade ante as flutuações de mercado; b) Atrasos nos pagamentos de dívidas; c) Tensões internas d) concordata ou falência. Para equilibrar financeiramente a empresa devem ser tomadas Medidas Saneadoras como: Administração Financeira – Rodrigo Dullius 18 1. Aumento de capital próprio através da entrada de novos sócios ou do reinvestimento dos lucros; 2. Redução do ritmo de atividade operacional; 3. Adequação do nível de operações ao nível de recursos disponíveis; 4. Contenção dos custos e despesas operacionais; 5. Desmobilização de recursos ociosos 6. Planejamento e controle financeiros. 2.3 ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER Na economia moderna a utilização do crédito tanto como método de venda e pagamento quanto sob a forma de arma de concorrência entre empresas é um dos mecanismos mais corriqueiros. A Administração Financeira de Contas a Receber preocupa-se com o crédito concedido aos compradores de produtos e serviços da empresa, e interage com a área de marketing, já que a política de crédito, compreendendo diretrizes e procedimentos de seleção de clientes, cobrança e descontos, constitui importante elemento para a consecução dos objetivos de venda, como instrumento de atração de procura para o que a empresa oferece no mercado. Contas Correntes - estamos tratando dos clientes permanentes da empresa que efetuam pagamentos periódicos. Nesta situação especial o problema da delimitação do prazo de crédito é resolvido pela não fixação de um período limitado. O prazo é indeterminado, em outras palavras. Aplica-se, como deve estar evidente, aos clientes sobre cujas compras a empresa acredita haver constância, regularidade e segurança. Crédito Parcelado – estamos nos referindo a vendas de acordo com planos de pagamentos diferentes, conforme auxiliem ou seja permitido à empresa pela procura dos seus produtos ou serviços não só em face da concorrência como pelas necessidades dos clientes e pelos custos de investimento em Contas a Receber. Contratos de Venda a Prazo e de Venda Condicional - são utilizados principalmente nas vendas de bens ou serviços previamente encomendados e de execução ou instalação demorada, com pagamentos parciais que podem ocorrer antes, durante e/ou após a execução ou instalação. Como se pode notar referem-se com mais propriedade a bens de capital e prédios, bem como a serviços de assessoria e consultoria. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 19 Fatores condicionantes do investimento em Contas a Receber Numa empresa qualquer, o volume de recursos “empatados” no saldo médio de Contas a Receber é afetado pelas seguintes variáveis ou fatores condicionantes: a) o volume de vendas a prazo; b) a proporção entre o custo direto do produto e o valor de venda faturado; c) a sazonalidade das vendas; d) as regras do ramo de atividade quanto a limites de crédito; e) as políticas de prazo de crédito da empresa; f) as políticas de desconto da empresa. A política de concessão de crédito envolve um equilíbrio entre os lucros nas vendas a prazo e o custo de manutenção de valores a receber adicionado aos possíveis prejuízos decorrentes de dívidas incobráveis. São elementos da administração financeira do contas a receber: a) a fixação de prazos para pagamentos pelos clientes (prazo de crédito); b) fixação de critérios para a aceitação (seleção) de clientes; c) estabelecimento de limites para a concessão de crédito, ou seja, os valores máximos financiáveis pela empresa a cada cliente; d) formulação da política de cobrança, incluindo métodos de cobrança (instrumentos, agressividade relativa etc); e) estabelecimento de descontos por pagamento antecipado, visando acelerar o recebimento de valores devidos pelos clientes da empresa. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 20 Políticas de Concessão de Crédito e Cobrança Políticas de Crédito Fundamentalmente a primeira questão a ser resolvida é quanto à fixação do prazo geral de crédito. Dado um volume geral de vendas a prazo, além da relação entre o custo direto e o preço unitário de venda, o prazo concedido determina não só a rotação do investimento em Contas a Receber, como também o valor aproximado desse investimento. É evidente que, quanto mais longo for o prazo concedido, maior tenderá a ser o investimento em Contas a Receber. Os parâmetros para as decisões de aceitação ou rejeiçãode clientes assumem a forma de padrões rígidos ou liberais. A relativa rigidez ou liberalidade dos padrões de concessão de crédito reflete a atitude da administração quanto ao risco que está disposta a assumir nesta área, mas não apenas isso. Tende também a ser afetada pelo estágio do ciclo econômico que esteja sendo atravessado e pela concorrência enfrentada. Política de Cobrança A finalidade da política de cobrança está refletida exatamente nessas observações: ela existe para que as vendas já efetuadas efetivamente transformem-se em recebimentos. Em princípio, é evidente que a empresa não deve gastar mais com o seu esforço de cobrança do que tem a receber. O que é realmente importante é considerar se os gastos com a cobrança produzem alguma contribuição igual ou superior em termos de perdas com devedores insolventes. Além disso, não deixa de haver uma certa relação entre vendas (conseqüentemente, lucros) e esforço de cobrança; na verdade, os esforços de cobrança não afetam apenas o volume extraído de um dado cliente mas as vendas futuras a esse cliente, bem como as cobranças de outros clientes. 2.4 ADMINISTRAÇÃO DE ESTOQUES Os estoques são ativos circulantes necessários que possibilitam o funcionamento dos processos de produção e vendas com um mínimo de distúrbio e, como as duplicatas a receber, representam um investimento significativo por parte da maioria das empresas. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 21 a) Tipos de Estoque: Os três tipos básicos de estoque são matérias-primas, produtos em elaboração e produtos acabados. O estoque de matérias-primas consiste de itens adquiridos pela empresa (geralmente, materiais básicos como parafusos, aço ou rebites) para uso na elaboração de seus produtos. Nos casos em que uma empresa fabrica produtos bastante complexos com inúmeros componentes, o estoque de matérias-primas pode consistir de itens já processados, que foram comprados de outras empresas ou transferidos de outra divisão da mesma empresa. O estoque de produtos em elaboração engloba todos os itens que estão passando pelo processo de produção. Eles são, em geral, produtos parcialmente acabados que estão em algum estágio intermediário de acabamento. O estoque de produtos acabados consiste de itens que foram produzidos, mas ainda não vendidos. b) Diferentes Pontos de Vista em Relação ao Nível de Estoques: Os executivos das áreas financeiras, de marketing, de produção e de compras de uma empresa normalmente têm pontos de vista divergentes quanto aos níveis adequados de estoque. Cada uma dessas áreas visualiza os níveis de estoque em função de seus próprios objetivos. A disposição geral do Administrador Financeiro é no sentido de manter os estoques em níveis baixos, assegurando-se de que o dinheiro da empresa não esteja investido inadequadamente em excesso de recursos. Estoques como um investimento O estoque é um investimento, no sentido de que exige o comprometimento de recursos que a empresa poderia aplicar em outras alternativas rentáveis. Em geral, quanto maiores forem os saldos médios dos estoques, maiores a quantia investida e os custos envolvidos e vice-versa. Ao avaliar alterações planejadas nos níveis de estoques, deve considerá-las do ponto de vista de custo / benefício. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 22 2.5 FONTES DE FINANCIAMENTO A CURTO PRAZO GARANTIDOS Um empréstimo a curto prazo com garantia é aquele pelo qual o credor exige alguns ativos como colaterais (qualquer ativo sobre os quais um credor passa a ter direito legal se o tomador falhar no cumprimento do contrato), geralmente duplicatas a receber ou estoques. O credor adquire o direito de uso do colateral mediante a execução de um contrato (contrato de garantia) firmado entre ele e a empresa tomadora. Uma cópia desse contrato é registrada em cartório público – geralmente um cartório de registro de títulos e documentos. O registro do contrato fornece aos futuros credores informações sobre quais ativos de um tomador potencial estão indisponíveis para serem usados como colateral. O registro em cartório protege o credor, estabelecendo legalmente seu direito sobre a garantia. a) Caução de Duplicatas a Receber - Uma caução de duplicatas é muitas vezes usada para garantir um empréstimo a curto prazo. Uma vez que as duplicatas apresentam normalmente bastante liquidez, são uma forma atraente de colateral. As duplicatas são normalmente caucionadas numa base seletiva. O credor potencial analisa os registros de pagamento passados das duplicatas com o objetivo de determinar quais as duplicatas representam colateral aceitável para empréstimos. Um segundo método é vincular todas as duplicatas da empresa. Esse tipo de contrato de alienação flutuante é normalmente usado quando a empresa possui muitas duplicatas que, em média, tem apenas um pequeno valor. Neste caso não se justificaria o custo de avaliar cada duplicata separadamente a fim de determinar se ela é aceitável. b) Factoring de Duplicatas a Receber - O factoring de Duplicatas a Receber envolve a venda direta de duplicatas a um capitalista (factor) ou outra instituição financeira. O factor é uma instituição financeira que compra duplicatas a receber de empresas. O factoring de duplicatas não envolve realmente um empréstimo a curto prazo, porém é semelhante ao empréstimo garantido por duplicatas. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 23 FACTORING ADERENTE (Fornecedor) ADERENTE (Fornecedor) FACTORFACTOR DEVEDOR (Cliente) DEVEDOR (Cliente) AdiantamentoAdiantamento PagamentoPagamento Cedência de CréditoCedência de Crédito VendasVendas Uso de Estoque como Colateral Nos ativos circulantes da empresa, o estoque é o colateral mais desejável após as duplicatas. Isto porque normalmente tem um valor de mercado maior do que seu valor contábil, que é usado para fixar seu valor como colateral. A característica mais importante do estoque a ser considerado como colateral para empréstimo é a sua negociabilidade, a qual deve ser analisada à luz de suas propriedades físicas. Empréstimos com Alienação Um credor poderá estar disposto a garantir um empréstimo com alienação de estoque, se uma empresa tiver um nível estável de estoque que consista num conjunto diversificado de mercadorias, e desde que cada item não tenha um valor muito alto. Empréstimos com alienação são muitas vezes exigidos pelos bancos comerciais como garantia extra, sem o que o empréstimo seria sem garantia. Eles podem ser obtidos também junto a financeiras. Empréstimos com Alienação Fiduciária Nestes casos o tomador recebe a mercadoria e o credor adianta algo em torno de 80 a 100% do valor de seu preço. O credor obtém uma alienação sobre os itens financiados, que contém uma listagem de cada item financiado, bem como sua descrição e número de série. O tomador fica liberado para vender a mercadoria, mas se responsabiliza por enviar ao credor o montante tomado em empréstimo para cada item, acrescido dos juros, imediatamente após a venda. O credor, então, libera a alienação respectiva. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 24 Empréstimos com Certificado de Armazenagem É um contrato pelo qual o credor, que poderá ser um banco ou uma financeira, assume o controle do colateral caucionado, que poderá ser estocado ou armazenado por um agente designado pelo credor. Após selecionar o colateral aceitável, o credor arrenda uma empresa armazenadora para tomar posse do estoque fisicamente. A empresa de armazenagem toma conta do estoque. Só mediante aprovação escrita do credor,pode-se liberar qualquer parcela do estoque garantido. FONTES DE FINANCIAMENTO 2.6 EMPRÉSTIMOS Empréstimo a Longo Prazo pode ser caracterizado como dívida que tem maturidade superior a um ano. Empréstimos a longo prazo propiciam alavancagem financeira, sendo um componente desejável na estrutura de capital, desde que tenda a um menor custo de capital médio ponderado. De modo geral, o empréstimo a longo prazo de um negócio possui vencimento entre cinco e vinte anos. Inúmeras cláusulas padronizadas de empréstimos são incluídas nos contratos de empréstimo a longo prazo. Essas cláusulas especificam certos critérios a respeito de registros e relatórios contábeis satisfatórios, do pagamento de impostos e de manutenção geral do negócio por parte da empresa tomadora. As cláusulas padronizadas mais comuns são: a) Exige-se que o tomador mantenha registros contábeis satisfatórios, de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos; b) Exige-se que o tomador apresente periodicamente demonstrações financeiras auditadas, as quais são usadas pelo credor para monitorar a empresa e forçar o cumprimento do contrato de empréstimo; c) O tomador deve pagar os impostos e outras obrigações no vencimento; d) O credor exige que o tomador mantenha todas as suas instalações em bom estado, garantindo a continuidade de seu funcionamento. Além das cláusulas acita citadas, há as cláusulas restritivas, que mantém-se em vigor durante a vida do contrato de financiamento. As mais comuns são: a) Exige-se do tomador a manutenção de um nível mínimo de capital circulante líquido. b) Os tomadores são proibidos de vender contas a receber para gerar caixa, pois tal operação poderia causar um problema de caixa a longo prazo. c) A fim de evitar a liquidação de ativos devido ao pagamento de altos salários, Administração Financeira – Rodrigo Dullius 25 o credor pode proibir ou limitar o aumento salarial de determinados funcionários. d) O credor pode incluir restrições administrativas, exigindo que o tomador mantenha certos funcionários-chaves, sem os quais o futuro da empresa seria incerto. Montante do Empréstimo O montante do empréstimo afeta de maneira inversa o custo dos juros sobre o empréstimo. Os custos de administração de empréstimos provavelmente decresçam, quanto maior for o montante do empréstimo. Por outro lado, o risco do credor aumenta, pois empréstimos maiores resultam em menor grau de diversificação. O montante do empréstimo que cada tomador procura obter precisa, portanto, ser avaliado para se determinar a relação custo líquido administrativo versus o seu risco. Risco Financeiro do Tomador Quanto maior a alavancagem operacional do tomador, maior o grau de risco operacional. Também, quanto maior o seu grau de endividamento ou o seu índice exigível a longo prazo, maior o seu risco financeiro. A preocupação do credor é com a capacidade do tomador para reembolsar o empréstimo solicitado. Essa avaliação global do risco operacional e financeiro do tomador, bem como informações sobre os padrões históricos de pagamentos, são usadas pelo credor, ao determinar a taxa de juros sobre qualquer empréstimo. 3. ADMINISTRAÇÃO DE ATIVOS PERMANENTES 3.1. DISPÊNDIO DE CAPITAL: AUTORIZAÇÃO, ORIGEM E TRÂMITES DE PROPOSTAS DE DISPÊNDIOS Uma vez que os investimentos a longo prazo representam desembolsos consideráveis de fundos que obrigam a empresa a seguir um determinado curso de ação, são necessários certos procedimentos para analisá-los e selecioná-los adequadamente. Deve-se dar atenção à mensuração dos fluxos de caixa relevantes e à aplicação de técnicas apropriadas de decisão. Com o passar do tempo, os ativos permanentes podem ficar obsoletos ou precisar de reparos; nesses casos, decisões financeiras também podem ser necessárias. Orçamento de Capital É o processo que consiste em avaliar e selecionar investimentos a longo prazo, que sejam coerentes com o objetivo da empresa de maximizar a riqueza de seus proprietários. As empresas costumam fazer uma série de investimentos a longo prazo, mas o investimento mais comum em uma empresa industrial é em ativos imobilizados, Administração Financeira – Rodrigo Dullius 26 os quais incluem imóveis, instalações e equipamentos. Esses ativos muitas vezes são denominados de ativos rentáveis, porque geralmente fornecem a base para a geração de lucro e valor à empresa. Razões para o Dispêndio de Capital Dispêndio de Capital é um desembolso de fundos feito pela empresa, com a expectativa de gerar benefícios após um ano (Ex.: aquisição de equipamentos para produção). Dispêndio corrente é um desembolso que resulta em benefícios obtidos em prazo inferior a um ano (Ex.: campanhas publicitárias de promoções temporárias). Desembolsos efetuados em ativos imobilizados são dispêndios de capital, mas nem todos os dispêndios de capital são classificados como ativos imobilizados. Um desembolso de $ 60.000,00 em propaganda, a qual gera benefícios em um longo período também é um dispêndio de capital. Contudo, um dispêndio com propaganda raramente seria registrado como ativo imobilizado nos balanços da empresa. Os dispêndios de capital são feitos por muitas razões. Os motivos básicos para dispêndios de capital são: a) Expansão: o motivo mais comum para fazer dispêndio de capital é expandir o nível de operações (usualmente através da aquisição de ativos imobilizados). Uma empresa em crescimento acha muitas vezes necessário adquirir novos ativos imobilizados rapidamente; às vezes, isso inclui a compra de infra- estrutura adicional, como imóveis e instalações fabris; b) Substituição: à medida que o crescimento da empresa diminui e ela atinge a maturidade, a maior parte de seus dispêndios de capital será para substituir ou renovar ativos obsoletos ou gastos. Toda vez que uma máquina precisa ser consertada, é preciso avaliar o desembolso exigido para seu reparo em relação ao desembolso que seria necessário para substituir a máquina e aos benefícios de sua substituição (Ex.: atualização de softwares, manutenções preventivas com consumo de peças etc.); c) Modernização: é freqüente uma alternativa à substituição. A modernização pode incluir a reconstrução, o recondicionamento ou a adaptação de uma máquina ou das instalações existentes (Ex.: instalações elétricas, de ar condicionado, reconstrução de aeronaves etc.); d) Outras Finalidades: Alguns dispêndios de capital não resultam na aquisição ou transformação de ativos imobilizados tangíveis constantes do balanço patrimonial da empresa; antes, envolvem um comprometimento de recursos a longo prazo, na expectativa de um retorno futuro. Tais dispêndios incluem gastos com propaganda, pesquisa e desenvolvimento, serviços de consultoria à administração e novos produtos. Tipos de Projetos de Investimentos de Capital Independentes: concorrem entre si na disputa de um montante limitado de recursos. Serão selecionados aqueles que economicamente forem mais atraentes. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 27 Mutuamente Excludentes: são aqueles que possuem a mesma finalidade ou atendem ao mesmo objetivo. A aprovação de um eliminará automaticamente os demais. Colidentes: também são mutuamente excludentes, embora tenham objetivos diferentes. Contingentes: são as que dependem da aprovação de outras ou cujos resultados são afetados por outros projetos. As propostas de gastos de capital envolvem: a) Benefícios não monetários que são apreciados subjetivamente; b) Aspectos monetários que devem ser mensurados tecnicamente; c) Riscos que precisam ser avaliados da melhorforma possível. Taxa Mínima de Atratividade de Investimento: Taxa Mínima de Atratividade: A taxa de retorno que a empresa precisa obter obre os seus projetos de investimentos, para manter o valor de mercado de suas ações e atrair os recursos necessários para a empresa. Custo de capital: Preço que a empresa paga pelos fundos obtidos junto as suas fontes de capital. Custo de oportunidade: valor de custo decorrente da opção de investimento, ou seja, gasto para atender a uma melhor opção de investimento em detrimento de outro custo de capital. Dinâmica da Taxa Mínima de Atratividade (TMA) 1) - Risco do negócio/risco operacional: é o risco que a empresa corre de ser incapaz de cobrir os custos operacionais - supõe-se que não se altere. Essa premissa significa que a aceitação de um determinado projeto pela empresa mantêm sua capacidade de saldar os custos operacionais inalterada. 2) - Risco financeiro - é o risco que a empresa corre de ser incapaz de cumprir com os compromissos financeiros exigidos (juros, pagamento de empréstimos, dividendos de ações preferenciais) - supõe-se que não se altere. Essa premissa significa que os projetos são financiados de tal forma que a capacidade da empresa para saldar os custos financeiros exigidos mantenha-se inalterada. Etapas do Processo de Orçamento de Capital O processo de orçamento de capital consiste em cinco etapas distintas, porém interrelacionadas. Começa com a geração de propostas. É seguido pela avaliação e análise, tomada de decisão, implementação e acompanhamento. a) Geração de Propostas: As propostas para dispêndios de capital são elaboradas por todos os níveis da organização, com vários objetivos: redução Administração Financeira – Rodrigo Dullius 28 de custos, maximização das receitas, resultados e implementação de novos projetos. Para estimular um fluxo de idéias que possa resultar em benefícios, muitas empresas oferecem prêmios em dinheiro aos empregados cujas propostas sejam adotadas. As propostas de dispêndio de capital normalmente vão da pessoa que as elabora a um revisor que está em um nível superior na empresa; b) Avaliação e Análise: As propostas são formalmente avaliadas para se assegurar de que elas são apropriadas tendo em vista os objetivos e planos globais da empresa e, o mais importante, para verificação de sua validade econômica. Os custos e benefícios propostos são estimados e então convertidos em uma série de fluxos de caixa relevantes, aos quais várias técnicas de orçamento de capital são aplicadas para aferir o mérito do investimento associado ao potencial desembolso. Além disso, os vários aspectos de risco inerentes à proposta são incorporados à análise econômica ou classificados e agregados às mensurações econômicas; c) Tomada de Decisão: A magnitude do desembolso, em valores monetários, e a importância do dispêndio de capital determinam em qual nível hierárquico da organização a decisão será tomada. As empresas normalmente delegam autoridade, no que se refere a dispêndios de capital, com base em certos limites monetários. Geralmente, o conselho de administração reserva-se o direito de tomar as decisões finais sobre dispêndios de capital que exigem comprometimentos de recursos acima de um certo valor, delegando autoridade nos casos de dispêndios menores a outros níveis organizacionais. d) Implementação: Uma vez que uma proposta tenha sido aprovada e os fundos necessários estejam disponíveis, inicia-se a fase de implementação através dos cronogramas de obras e desembolso de capital. Nos casos de desembolsos pequenos, a implementação é questão de rotina; o dispêndio é feito, e o pagamento é efetuado. Quando se trata de dispêndios elevados, um controle maior é exigido, com o objetivo de se assegurar que o que foi proposto e aprovado seja adquirido aos custos orçados; e) Acompanhamento: Envolve a monitoração dos resultados durante a fase operacional do projeto. A comparação dos resultados reais, em termos de custos e benefícios, com os valores estimados, bem como com projetos de investimentos anteriores é vital. Quando os resultados reais diferem dos resultados projetados, ações devem ser tomadas, visando o corte de custos, à melhoria dos benefícios, ou até mesmo a suspensão do projeto. Fluxo de Caixa de Projetos de Investimentos de Capital Fluxo de Caixa: Caixa gerado pela empresa e pago aos credores e acionistas. Pode ser classificado em: fluxo operacional, de investimento, de financiamento e incremental. Fluxo de Caixa Operacional: lucro antes de juros e depreciação menos impostos. Mede o montante de dinheiro gerado pelas operações, ignorando os Administração Financeira – Rodrigo Dullius 29 gastos de investimentos ou as necessidades de capital de giro ou diretamente relacionados à produção e venda dos produtos e serviços da empresa. Fluxo de Caixa de Investimentos: fluxo de caixa associado com a compra e venda de ativos imobilizados e participações societárias. Fluxo de Caixa de Financiamentos: fluxo de caixa resultante de operações de empréstimos e capital próprio. Inclui a obtenção e a quitação de empréstimos, entradas de caixa por venda de ações e saídas de caixa por recompra de ações ou pagamento de dividendos em dinheiro. Fluxo de Caixa Incremental: fluxo de caixa obtido com o resultado de novos projetos, que compreende as saídas líquidas de caixa ou investimento líquido e entradas líquidas de caixa ou benefícios monetários líquidos. Critérios para Montagem de Fluxo de Caixa Incremental: Na nova proposta não devem ser computadas as perdas sofridas com um projeto fracassado que seria por ela substituído, uma vez que tais perdas decorreram de decisões anteriores. Se a proposta envolver a utilização de um bem atualmente ocioso (por exemplo, terreno ou galpão industrial), deve-se considerar o valor de mercado correspondente como parte do investimento. No lançamento de um novo produto que concorrerá com outros produtos tradicionais da empresa deve-se abater das receitas de vendas do novo produto as quedas previstas nas vendas dos produtos antigos devidas à referida concorrência interna. Os acréscimos de desembolsos com despesas operacionais devem ser subtraídos das entradas de caixas adicionais. Os recursos da venda de ativos fixos a serem substituídos com a implementação da proposta devem ser abatidos dos desembolsos projetados com as novas aquisições. Do mesmo modo deve ser subtraído o valor residual dos novos ativos fixos (no final da vida útil do projeto). 3.2. TÉCNICAS DE INVESTIMENTO DE CAPITAL: RISCO E INCERTEZA Por causa de diversos fatores fora do controle da administração da empresa, os retornos prometidos por um projeto de investimento estão sujeitos a incerteza: modificação de tecnologia, surgimento ou desaparecimento de novos concorrentes ou produtos complementares ou substitutos, o comportamento da economia nacional e internacional, mudanças de política governamental de controle de preços ou de custos de insumos utilizados etc. Simplesmente, não se pode dizer com certeza que em um dado período, por exemplo, as vendas do produto alcançarão exatamente $ 500.000,00. Administração Financeira – Rodrigo Dullius 30 Costuma-se dizer que se passa de uma situação de incerteza a uma situação de risco quando se pode fazer estimativas das probabilidades de ocorrência de determinados eventos (fluxos de caixa, por exemplo). De qualquer modo, o que é importante é que na comparação de dois ou mais projetos de investimento, projetos com o mesmo retorno esperado poderão ser distinguidos, pelo administrador financeiro, em função da dispersão dos fluxos de caixa em tornodos valores esperados. Porém, existem métodos para avaliar propostas de investimento de capital as quais auxiliam no processo de tomada de decisão. 3.2.1. Períodos de Recuperação do Investimento (Payback) Sendo talvez o método mais simples de avaliação, o período de Payback é definido como sendo aquele número de anos ou meses, dependendo da escala utilizada, necessários para que o desembolso correspondente ao investimento inicial seja recuperado, ou ainda, igualado e superado pelas entradas líquidas acumuladas. A empresa deverá ter um padrão de aceitação que, neste caso, tenderá a ser um prazo limite. Em outras palavras, uma regra de decisão poderá ser: “aceitar e executar todos os projetos que recuperem o investimento inicial em, no máximo, três anos”. Exemplifiquemos um caso fictício: Empresa XPTO - Fluxo de Caixa Acumulado ANO FLUXOS DE CAIXA NO PERÍODO FLUXOS DE CAIXA ACUMULADOS 0 (-) $ 180.000,00 (-) $ 180.000,00 1 + $ 25.400,00 (-) $ 154.600,00 2 + $ 57.900,00 (-) $ 96.700,00 3 + $ 129.400,00 + $ 32.700,00 4 + $ 96.900,00 + $ 129.600,00 5 + $ 126.400,00 + $ 256.000,00 SOMA + $ 436.000,00 Verifique-se, portanto, que o projeto seria aceito, pois até o fim do terceiro ano o fluxo acumulado seria positivo. Note-se, ainda, que ele supera o investimento inicial durante o terceiro ano. Admitindo-se de que as entradas líquidas ocorram de maneira uniforme durante o terceiro ano, teríamos uma estimativa mais exata do período de recuperação, a saber: ano) 0,75(ou meses 8,96 129.400,00 R$ meses 12 x 96.700,00 R$ Período Portanto, a recuperação do investimento completar-se-ia em, aproximadamente, 2 anos e 9 meses. Caso a administração da empresa desejasse introduzir a noção de risco ao avaliar esse projeto, uma possibilidade seria fixar um limite de variação entre o período Administração Financeira – Rodrigo Dullius 31 payback calculado e o prazo limite fixado. Digamos que a administração estabelecesse que a margem de risco seria de 20% do prazo calculado. Então: Se 1,2 (prazo calculado) for maior ou igual ao prazo limite, o projeto deverá ser aceito, caso contrário, deverá ser rejeitado. No citado exemplo, obteremos 1,2 x 2,75 anos = 3,30 anos; isso significa que os dois períodos estão excessivamente próximos para o gosto da empresa. Ou seja, uma variação real de entradas e/ou saídas conduzindo a um aumento do prazo efetivo, tornaria o projeto inaceitável. Já uma empresa cujo limite de variação do prazo calculado fosse de 5% aceitaria o projeto. Algumas objeções básicas costumam ser feitas ao método do período de recuperação do investimento. Uma delas, talvez a principal, já foi apresentada: o método não leva em conta a distribuição dos fluxos de caixa no tempo dentro do próprio período calculado. Além disso, o método não se interessa pelos fluxos que ocorrem após a recuperação do investimento, não proporcionando assim uma visão do projeto como um todo. Entretanto, o método pode ter alguma utilidade quando a empresa preocupa-se mais com a velocidade de retorno do investimento ou com a exigência de dispor de certos montantes em datas nas quais devam ser feitos alguns pagamentos importantes, ou seja, quando há uma preocupação maior com os efeitos do projeto sobre a liquidez da empresa. 3.2.2. Taxas Médias de Retorno Neste caso, ainda sem levar em conta o conceito de valor do dinheiro no tempo (ou seja, não é um método de fluxo de caixa descontado), temos um método que exige o cumprimento das seguintes etapas: a) determinação do fluxo líquido médio por período, dividindo-se o fluxo líquido total do projeto pelo seu número de períodos; b) divisão do fluxo líquido médio, pelo investimento exigido. O resultado será uma porcentagem - a taxa média de retorno – indicando, aproximadamente, que x% do investimento retornam à empresa por ano ou período. Mais uma vez é indispensável a comparação a um padrão. Digamos que no caso ilustrativo ele seja de 35% a.a.. A tabela a seguir apresenta o cálculo da taxa média de retorno desse caso ilustrativo. (*) Fluxo Líquido Total (tab. anterior) (A) $ 436.000,00 Número de anos (B) 5 anos Fluxo líquido Médio (C) = (A) / (B) (C) $ 87.200,00 Investimento Exigido (D) $ 180.000,00 Taxa Média de Retorno (E) = (C) / (D) (E) 48,44% a.a. (*) Considerando os fluxos acumulados, ou seja, $ 25.400,00 + $ 57.900,00 + $ 129.400,00 + $ 96.900,00 + $ 126.400,00 = $ 436.000,00 Administração Financeira – Rodrigo Dullius 32 O padrão de 35% a.a. fixado pela empresa exigiria um retorno líquido médio de $ 63.000,00 ao ano. O fluxo efetivamente calculado segundo as previsões do projeto é de $ 87.200,00 ao ano, levando a uma taxa de retorno de 48,44% a.a.; assim, o projeto deveria ser aceito. As observações feitas em relação ao período de payback, a título de limitações e deficiências, são válidas no caso da taxa média de retorno. Pode ser excetuada, porém, a observação relativa à visão do projeto como um todo, pois esse problema existente no método anterior deixa de ser encontrado em função do cálculo do retorno médio, que abrange o número total de períodos. Entretanto, surge neste caso um outro tipo de problema. Embora saibamos que a taxa corresponda a uma média, poderíamos ser levados à impressão errônea de que como a taxa é de praticamente 50% a.a. o investimento é recuperado em cerca de dois anos, o que não é verdade, pelo próprio fluxo de caixa elaborado. Aliás, o cálculo do período de payback indicou qual seria o prazo efetivo de recuperação. Com a determinação do fluxo líquido médio, este método ignora a distribuição efetiva dos componentes do fluxo total dentro do período do projeto. A fórmula para se calcular a Taxa Média de Retorno é a seguinte: Exigido toInvestimen Médio Líquido Fluxo TMR 3.2.3. Valor Atual Líquido (ou Valor Presente Líquido) Este é o primeiro dos métodos de fluxo de caixa descontado que iremos apresentar. Como já foi dito, estes métodos são superiores aos anteriores porque levam em consideração tanto a magnitude dos fluxos previstos para cada período quanto a sua distribuição efetiva durante o projeto analisado. Estes métodos procuram expressar os fluxos do projeto em termos de valores monetários de uma mesma data, ou mais especificamente, a data de início do projeto ou de análise, o “momento atual”, e daí serem esses fluxos transformados em “valores atuais”. Esse procedimento exige um fator para descontar os fluxos futuros. Deve ser usada, assim, uma taxa de desconto que corresponda à nossa noção de custo de capital. Portanto, o método de valor atual líquido envolve o cumprimento das seguintes etapas: a) depois de montada a série de fluxos de caixa do projeto, escolher uma taxa de desconto (conhecida também como custo de oportunidade ou custo de capital). Digamos que o custo de capital da nossa empresa fictícia fosse 25% a.a.. Em outras palavras, se os seus recursos não forem aplicados com um retorno pelo menos igual a esse índice, os proprietários da empresa conseguirão maior rentabilidade aplicando em outras alternativas de Administração Financeira – Rodrigo Dullius 33 investimento fora da empresa e, no caso específico, a empresa deverá rejeitar a possibilidade de executar o projeto; b) com essa taxa de desconto, transformar os fluxos futuros de caixa em valores atuais, segundo a fórmula 1 / (1 + i) n onde “i” é a taxa de desconto, e “n” é o número de períodos ao final dos quais ocorreum certo fluxo de caixa. Esses valores acham-se calculados e tabelados em qualquer livro de matemática financeira. Evidentemente, aqueles fluxos que já estiverem previstos para o ano zero já estarão expressos em termos de valor atual. Isto ocorre, no nosso exemplo, com o investimento de $ 180.000,00. Aliás, a própria fórmula do fator de valor atual indica-nos isso: Valor atual de $ 180.000,00, a 25% a.a., no ano zero: 180.000,00 1 x 180.000,00 0,25) (1 1 x 180.000,00 o c) comparar o valor atual das entradas ao valor atual das saídas. Se a diferença (o valor atual líquido) for positivo, o projeto deverá ser aceito, pois esse resultado estará indicando que a taxa (interna) de retorno (que veremos mais adiante), é superior ao custo de capital de 25% a.a., depois do IR. Em caso contrário, o projeto deverá ser rejeitado. Na tabela a seguir, apresentamos o cálculo do valor atual líquido de um projeto, à taxa de 25% ao ano. Empresa “X” Ano Fluxo de Caixa Fator de Valor Atual a 25% a.a. Valor Atual do Fluxo a 25% a.a. 0 (-) $ 180.000,00 1,0000 (-) $ 180.000,00 1 + $ 25.400,00 0,8000 + $ 20.320,00 2 + $ 57.900,00 0,6400 + $ 37.056,00 3 + $ 129.400,00 0,5120 + $ 66.252,80 4 + $ 96.900,00 0,4096 + $ 39.690,24 5 + $ 126.400,00 0,3277 + $ 41.418,75 Valor Atual Líquido + $ 24.737,79 Com os resultados obtidos, o projeto deve ser aceito, pois o valor atual líquido é positivo. Em resumo, o Valor Atual Líquido é obtido subtraindo-se o valor atual das saídas, do valor atual das entradas de caixa. n n n 2 n 1 i) (1 Rec ... i) (1 Rec i) (1 Rec toInvestimen - VPL Administração Financeira – Rodrigo Dullius 34 Entretanto, o método do valor atual líquido não pode ser diretamente aplicado em dois casos, exigindo uma adaptação específica, sempre com base na noção de fluxo de caixa descontado. Esses casos envolvem a comparação de dois projetos alternativos; dois projetos podem ser alternativos, quando, em se tomando uma decisão de ser aceito um projeto, o outro deve ser rejeitado porque a sua rentabilidade estimada é menor. Critério de decisão: Quando o VPL é usado para tomar decisões do tipo “aceitar / rejeitar”, adota-se o seguinte critério: - Se o VPL for maior que zero, aceita-se o projeto, pois a empresa obterá um retorno maior do que seu custo de capital. Com isto, estaria aumentando o valor de mercado da empresa e, conseqüentemente, a riqueza dos seus proprietários; - Se o VPL for menor que zero, rejeita-se o projeto. IL = 1 VPL = 0 IL > 1 VPL > 0 IL < 1 VPL < 0 3.2.4. Índice de Lucratividade (ou Índice Benefício Custo) Este método adiciona ao cálculo do valor atual líquido um denominador comum representativo do tamanho de dois ou mais projetos que sejamos obrigados a comparar. No exemplo citado anteriormente, a empresa havia realizado um investimento (saídas iniciais totais) avaliado em $ 180.000,00 (valor atual) e o valor atual das entradas era de $ 204.737,79, produzindo um valor atual líquido de $ 24.737,79. A esse projeto estávamos interessados em comparar um segundo projeto, de natureza e finalidade completamente diferentes, para o qual tínhamos o valor atual de saídas igual a $ 10.000,00, e o valor atual líquido igual a $ 2.500,00. Portanto, o valor atual das entradas desse projeto seria de $ 12.500,00. O índice de lucratividade é simplesmente o quociente entre o valor atual das entradas e o das saídas: Saídas das AtualValor Entradas das AtualValor adeLucrativid de Índice Comparando-se os dois projetos, temos: Projeto “A”) 1,1374 180.000,00 204.817,00 Projeto “B”) 1,2500 10.000,00 12.500,00 Administração Financeira – Rodrigo Dullius 35 Nestas circunstâncias e admitindo-se que somente um dos projetos deva ser aceito, esse deverá ser o projeto “B”. Se IL >1 Aceitar o Projeto Se IL < 1 Rejeitar o Projeto toInvestimen i) (1 Rec ... i) (1 Rec i) (1 Rec IBCou IL n n n 2 n 1 ou toInvestimen VPL toInvestimen IBCou IL 3.2.5. Taxa Interna de Retorno A TIR nada mais é do que a taxa de desconto que iguala o valor atual líquido dos fluxos de caixa de um projeto a zero. Em outras palavras, a taxa que faz com que o valor atual das entradas seja igual ao valor atual das saídas. Para fins de decisão, a taxa obtida deverá ser confrontada à taxa que representa o custo de capital da empresa e o projeto só deverá ser aceito quando a sua taxa interna de retorno superar o custo de capital, significando que as aplicações da empresa estarão rendendo mais do que o custo dos recursos usados na entidade como um todo. O processo de cálculo é o mesmo empregado no método do valor atual líquido, por tentativa e erro, a diferentes taxas, até ser obtida uma aproximação daquela que torna o valor atual líquido igual a zero. Este método não tem os mesmos problemas mencionados em relação ao método do valor atual líquido, mas pressupõe que os fluxos de entrada de cada período sejam reaplicados à taxa interna de retorno calculada. Voltando ao exemplo anterior da empresa “X”, já determinamos o valor atual líquido a 25% a.a., e obtivemos $ 24.737,79. Precisamos chegar a $ 0,00. Cálculo da TIR da empresa “X”. TAXA DE DESCONTO VALOR ATUAL LÍQUIDO 20% + $ 53.786,91 25% + $ 24.737,79 30% + $ 667,89 35% (-) $ 19.459,61 40% (-) $ 36.432,91 Administração Financeira – Rodrigo Dullius 36 A tabela acima demonstra que o valor atual líquido passa por zero entre as taxas de 30% a 35% a.a.. Tomemos então a taxa de 31% a.a.. O valor atual líquido é de - $ 3.644,69. A partir deste ponto, como os valores podem não estar tabelados, podemos fazer uma aproximação linear da taxa interna de retorno: 31 % $ 3.644,69 30 % $ 667,89 1 % $ 4.312,58 -3.644,69 0 667,89 4.312,58 X = 3.644,69 = 0,85 4.312,58 Portanto, a taxa interna de retorno é 31,00 - 0,85 = 30,15% a.a., superior ao custo de capital de 25% a.a.; o projeto deve ser aceito. Exemplo 2: O lançamento de um sabonete líquido deverá ter sucesso, pois atenderá à expectativa de novidades do mercado de cosméticos. Os estudos de mercado, de produção e de engenharia, permitiram definir o fluxo de caixa do projeto de investimento após os impostos, registrados no DFC da figura seguinte, onde os valores monetários se referem a milhares ($ 000). Pede-se verificar se este projeto de investimento de capital deve ser aceito, aplicando o método da TIR, considerando que o custo de capital é igual a 10% a.a. 250 350 420 500 750 750 800 750 0 1 2 3 4 5 6 7 2.500 Solução: Na expressão seguinte: 0 = - 2.500.000 + 350.000 + 450.000 + 500.000 + .... + 750.000 + 250.000 (1 + k*) 1 (1 + k*) 2 (1
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