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SURTO DE LEUCOENCEFALOMALÁCIA EQUINA 
RELACIONADA A FENO CONTAMINADO:
RELATO DE CASO
A leucoencefalomalácia é uma intoxicação que acomete o
sistema nervoso central dos equinos, gerando manifestações
clínicas como andar em círculos, incapacidade de deglutir,
cegueira aparente, apoio da cabeça contra objetos, quedas e
convulsões tônico-clônicas. A intoxicação pela fumonisina
provoca o quadro neurológico, toxina esta produzida pelo
Fusarium moniliforme. Muitas vezes o animal acometido vai a
óbito e, quando sobrevive, as lesões são permanentes. Esse
fungo cresce e produz sua toxina principalmente em milho e
outros cereais, sendo raro na forragem. No presente surto 13
equinos de duas propriedades distintas, que tinham em comum
o mesmo fornecedor de feno enfardado em rolos, foram
acometidos de quadro neurológico com sialorréia, apatia, ataxia,
sudorese e decúbito, evoluindo para o óbito em
aproximadamente 24 horas. Um destes animais foi encaminhado
para o Hospital Veterinário da FMVZ-USP com evolução de
aproximadamente 14 horas. Na propriedade o animal já havia
sido tratado por veterinário responsável mas houve grande piora
do quadro de ataxia e fasciculação muscular. Já no hospital o
tratamento suporte foi instituído com fluidoterapia, manitol e
tiamina, mas o quadro apenas piorou, o animal veio a decúbito,
apresentando também excitação, sudorese intensa, cegueira e
convulsões. Quando completou aproximadamente 24 horas de
evolução o animal veio a óbito. Na análise da alimentação
fornecida ao animal observou-se que o feno de rolo fornecido ao
animal estava mofado, sendo este submetido à cultura e análise
toxicológica resultando no crescimento de Fusarium moniliforme
e isolamento de fumonisina na amostra. Na necropsia observou-
se achatamento dos giros cerebrais e amolecimento do córtex
frontal e parietal, fechando no exame histopatológico quadro de
leucoencefalomalácia. O quadro apresentado é o mesmo
relatado na literatura, sendo o tratamento instituído condizente
também.
Os principais diagnósticos diferenciais são os quadros clínicos de
raiva, encefalite viral equina e encefalopatia hepática, podendo
ser provocada por diversas substâncias hepatotóxicas, como
pela ingestão de alimentos contaminados por aflatoxinas
Cynthia do Prado Vendruscolo, Nathália Clemente Frias, Carolina Bataglin de Carvalho, Wilson Roberto Fernandes, Carla Bargi
Belli e Raquel Yvonne Arantes Baccarin
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo
Figura 1: Fotografia
da lâmina da
substância branca
demonstrando
hemorragia e edema
no aumento de 10x.
Figura 1: Fotografia
da lâmina da
substância branca
demonstrando
hemorragia e edema
no aumento de 10x.
produzidas pelo fungo Aspergillus flavus. O quadro
histopatológico é semelhante a casos de infecção por
Trypanosoma evansi e de Aspergillus niger, sendo o último
associados a quadro diarreico e neurológico em indivíduos
imunossuprimidos. Há diversos relatos de surtos provocados
pelo fornecimento de concentrado ou milho mofado, porém não
há relatos de surtos provocados pelo feno contaminado. Na
literatura existe apenas um relato de forragem contaminada
provocando quadro neurológico em cervídeos, mas não em
equinos. Na análise do feno havia de 0,02 a 0,12 µg/g de
fumonisina causando o quadro neurológico, discordando de
outros estudos, nos quais considera-se que o alimento oferece
risco apenas com concentrações acima de 10 µg/g da toxina.
Uma explicação para esse fato é a susceptibilidade individual, e
outra seria que a amostra colhida não representava a parte que
foi ingerida pelo animal, podendo haver uma variação entre elas
pelo fungo não contaminar homogeneamente o feno. O surto
ocorreu em um inverno atípico, frio e chuvoso, condição ideal
para produção de toxina pelo fungo, alta humidade e baixa
temperatura. Os fenos enfardados em rolos normalmente ficam
expostos as intempéries climáticas propiciando ambiente ideal
para o crescimento do fungo. O prognóstico da enfermidade é
ruim, porém o diagnóstico impediu que mais animais ingerissem
o feno e viessem a óbito. No presente caso o feno foi alimento
contaminado causando o quadro neurológico de
leucoencefalomalácia, sendo confirmada contaminação com
crescimento do fungo e a presença da toxina. Ressalta-se com
isso a importância do adequado manejo destes fenos para
prevenção da enfermidade.
Referências
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Chemistry, v. 39, p. 109-111, 1991.
Figura 2 e 3: Imagens do exame histopatológico demonstrando
necrose e hemorragia da substância branca, aumento de 20
(esquerda ) e 40x (direita).
Figura 2 e 3: Imagens do exame histopatológico demonstrando
necrose e hemorragia da substância branca, aumento de 20
(esquerda ) e 40x (direita).

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