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A CULTURA ASTECA (1325 1518) O Reinado de Esplendor na América Pré Colombiana

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CAMPUS MEIER 
 
 
 
 
                                              LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
A CULTURA ASTECA (1325­1518) 
O Reinado de Esplendor na América Pré­Colombiana 
 
 
MÉLANI TIZZA MONÇÃO DAS NEVES 
 
MATRÍCULA:  
212650153 
 
 
 
ORIENTADORA:  
SHEILA CONCEIÇÃO SILVA LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
JUNHO /2015 
A CULTURA ASTECA (1325­1518) 
Mélani Monção  1
 
Resumo: ​Este artigo relata a questão da análise acerca da cultura asteca, particularmente de                           
sua religiosidade, produto das discussões e das novos aferramentos ligados à História                       
Cultural. Cabe ressaltar a magnitude da cultura para compreender os processos de eclosão e                           
ascensão desta sociedade pré­Colombiana.  
 
Palavras Chaves:​ Astecas – Religiosidade ­ Morte. 
 
SUMÁRIO​: Introdução, A Sociedade Asteca, Os ritos e o ciclo da vida, A religião asteca,                             
Considerações Finais. 
 
INTRODUÇÃO  
 
A Nova História Cultural instrumentalizou novas abordagens para os estudos                   
historiográficos. Deste modo procurou romper com as interpretações estruturalistas, abrindo                   
espaço para as análises em que envolvessem personagens alijados do discurso social e                         
político, especialmente os sem voz, as mulheres e as minorias. Dessa forma, se estabeleceu a                             
possibilidade de investigar novas direções, a partir da segunda metade do século XX. Ao                           
mesmo tempo, esta historiografia permitiu que os historiadores reconsiderassem importantes                   
questões tradicionais, especialmente, em relação à religiosidade de povos pré­industriais,                   
dentro de novas perspectivas (SCHWARTZ, 2009: 195­196).  
A Nova História Cultural interessa­se pelos sujeitos produtores e receptores de cultura,                       
o que abarca tanto a função social dos intelectuais até o público receptor, o leitor comum, ou                                 
as massas capturadas pela indústria cultural. Também analisa as agências de produção e                         
difusão cultural como os sistemas educativos, a imprensa, os meios de comunicação, as                         
organizações socioculturais e religiosas. Para além dos sujeitos e agências que produzem                       
cultura, a Nova História Cultural se debruça sobre os meios pelos quais a cultura se produz e                                 
se transmite: as práticas e os processos. É também necessário ressaltar o estudo dos padrões                             
que estão por trás dos objetos culturais produzidos: as visões de mundo, os sistemas de                             
valores, os sistemas normativos, os modos de vida de vários grupos e suas concepções, além                             
1   Licencianda em História na Universidade Cândido Mendes – Campus Méier 
das ideias disseminadas por meio de correntes e movimentos de diversos tipos. (ASSUNÇÃO,                         
2003:148) 
A História Cultural dialoga diretamente com outros campos do saber, como a                       
Antropologia, a linguística, a psicologia e a ciência política. Nessa perspectiva: 
(...) os antropólogos descobriram que as melhores vias de acesso, numa                     
tentativa para penetrar uma cultura estranha, podem ser aquelas em que ela                       
parece mais opaca. Quando se percebe que não se está entendendo alguma                       
coisa – uma piada, um provérbio, uma cerimônia – particularmente                   
significativa para os nativos, existe a possibilidade de se descobrir onde                     
captar um sistema estranho de significação, a fim de decifrá­lo.                   
(DARNTON, 1984, p.106) 
 
O envolvimento com a Antropologia proporcionou novas abordagens em relação à                     
alteridade, oportunidades ímpares para expandir os estudos de História Cultural. Em princípio                       
destes fundamentos da Nova História, que procura analisar a sociedade Asteca. 
A SOCIEDADE ASTECA 
A cultura dos povos mesoamericanos tem sido alvo de interpretações controversas,                     
fundamentas em esparsas referências na literatura e pelas representações dos códices                     
iconográficos do último período mesoamericano (OLIVEIRA, S/d: 114). Os estudos acerca                     
do contexto da mitologia e da cosmologia sofrem maior distorção, especialmente, nas análises                         
sobre a religiosidade mesoamericana, que deveria ser tratada como premente de seu contexto,                         
é aspergida de simbolismos e adulterações anacrônicas.  
O que se tem escrito sobre os astecas evidencia o lado mais sombrio desta sociedade.                             
Em análises que leva em questão a alteridade, faz­se questão de ressaltarem os aspectos mais                             
radicais dos rituais mais sanguinários evidenciando os sacrifícios humanos e a crueldade de                         
seus guerreiros. O fascínio que esses aspectos exercem sobre alguns estudiosos, acabou por                         
obscurecer ou silenciar outras características interessantes dessa sociedade, corroborando com                   
a dificuldade de fontes para seu estudo.  
Segundo Oliveira:  
O estudo destas culturas tem sido uma espécie de desafio para os                       
especialistas. Assim como em outras culturas ocidentais, as tradições                 
mitológicas e históricas dos mesoamericanos estão almagamadas. Não se                 
pode estudar o povo asteca sem relacioná­lo à religião, indissociável do seu                       
caráter cultural. (S/d: 114) 
 
Para que se compreendam os povos astecas e ressaltar sua cultura, é preciso conhecer                           
um pouco de sua cultura, religião, educação e política deste povo. Os Astecas são povos                             
migrantes, assim como outros antes deles, na região mesoamericana. Segundo Sousa, Silva e                         
Fontenele, os Astecas são povos originários do noroeste do México. A rivalidade entre os                           
nativos da região promoveu o fim do império Tolteca e a migração de grupos vindos do norte,                                 
facilitando a fixação dos Astecas na região do lago ​Texcoco​ . Logo cresceu o centro da                             
sociedade ­ ​Tenochtitlán​ , com uma população com 500 mil habitantes. Outros centros se                         
desenvolveram em torno da região central como ​Tlatelolco​ , ​Azcapotzalco​ , ​Tlacopán​ , ​Coyacán                     
e ​Tepeyacac​  que juntos formavam um milhão de habitantes (2006: 2). 
Esta sociedade se estruturou sob rigorosa ética social e politica, que se hierarquizava                         
em torno de uma aristocracia e do povo, com destaque para artesãos e agricultores. O                             
comércio era domínio do imperador. As tarefas eram divididas: mulheres nos atributos                       
domésticos – fiar, tecer e moer o trigo; homens trabalhavam no campo e exerciam o ofício de                                 
carpinteiros, marceneiros, pedreiros.  
A sociedade era rigidamente hierarquizada: o governante, semidivino,               
situava­se no topo da pirâmide social, seguido pela aristocracia (chefes                   
militares, sacerdotes e altos funcionários do estado), Artesãos de elite e                     
comerciantes, camponeses e, por último, os escravos (prisioneiros de guerra,                   
indivíduos que haviam sido punidos por crimes,ou vendidos pelos pais).                     
(AQUINO; JESUS; OSCAR, 2004: 3) 
 
Esse povo que habitava ​Tenochtitlán possuía uma sociedade muito avançada que                     
permitia que a natureza lhe tecesse a vida, interligando morte, religião e cultura. Eram                           
politeístas e a sua religiosidade estava circunscrita à ciência. Como os sacerdotes não eram                           
homens que tinham suas vidas consagradas ao trabalho e à guerra, dedicava­se a leitura e ao                               
conhecimento, desenvolvendo a matemática e a astronomia (SOUSA, SILVA e                   
FONTENELE, 2006: 3). 
 
Os sacerdotes não pagavam impostos. Alguns dentre eles combatiam                 
voluntariamente nos exércitos. Levavam vida monástica nos templos e                 
calmecac​ , infligindo­se jejuns e severas penitências. Tinham, como               
dignitários, representação no grande conselho e no colégio eleitoral que                   
designava o imperador (SOUSTELLE, 2002: 37). Os chamados               
tonalpouhque​ , interpretavam os signos e os números em circunstâncias como                   
o nascimento, o matrimônio, a partida dos comerciantes para comarcas                   
distantes e a eleição dos chefes. Cada dia ou cada série de 13 dias eram                             
julgados nefastos ou indiferentes em função das divindades que os presidiam                     
(SOUSTELLE, 1982: 57). 
  
A astronomia era fundamental para a vida dos astecas. Desde o nascimento a vida da                             
criança estava pré­determinada. Escolhia­se o nome e a profissão pelos dias, alguns eram                         
considerados bons e outros ruins. O signo designava a vida e a morte de cada um na terra. A                                     
observação dos astros dava lastro ao desenvolvimento e ampliação das crenças. Os Astecas                         
possuíam dois calendários: um oficial que tinha 365 dias e era composto de 18 meses de 20                                 
dias e mais cinco dias nefastos no final do ano. Esses dias eram destinados aos deuses e aos                                   
muitos sacrifícios e não se podia trabalhar. O outro calendário possuía 365 dias onde se media                               
a duração das semanas (três dias). Este era específico das crenças religiosas, festas e                           
sacrifícios. Aos deuses cabiam à boa colheita, a vitória militar, o êxito pessoal (SOUSA,                           
JESUS, OSCAR: 2006: 3). 
Os Astecas consideravam o mundo um lugar instável, mesmo para os deuses,                       
ameaçado por catástrofes naturais. Diante de grandes epidemias, secas e intemperes naturais                       
(furacões, inundações), muitos sacrifícios eram oferecidos para aplacar a ira dos deuses: 
Se o coração ia ser arrancado, levavam a vítima com grande pompa e                         
grande afluência de gente ao pátio do templo... então o executor se                       
aproximava e, com a ajuda de uma faca de pedra, com muita                       
crueldade e habilidade, desferia um golpe entre as costelas, do lado                     
esquerdo, abaixo do peito. Mergulhava vivamente a mão na cavidade,                   
se apoderava do coração, como o faria um tigre furioso, e o retirava                         
para fora ainda vivo. Colocava­o num prato e o entregava ao sacerdote                       
que ia, prontamente, lambuzar as faces dos ídolos com esse sangue                     
fresco (MARCILLY, 1978: 99­100). 
 
É importante ressaltar que tais rituais de morte, tanto individuais quanto coletivos, não                         
devem ser considerados como punições ou castigos impetrados contra os condenados. Mas,                       
tanto os sacrifícios humanos como os de animais tinham a função de ordenar o mundo visível                               
e reordenar o cosmo celeste em relação aos Astecas.  
OS RITOS E O CICLO DA VIDA 
A vida ritual asteca é complexa e totalizante. Ela absorvia imensa energia e recursos                           
da comunidade. Havia um minucioso cuidado que presidia a cada detalhe, cada gesto, cada                           
palavra. Tudo, era rigorosamente ordenado e castigos e multas impetradas àqueles que                       
descumprisse qualquer código, qualquer signo, que podia alterar o equilíbrio do cosmos.                       
Numerosos ritos consistiam em uma encenação. Os cantos religiosos oficializavam a história                       
desenvolvida em cada encenação. Ora o próprio deus tomava a palavra, ora os oficiantes se                             
referiam aos espetáculos. As danças revestiam­se de grande importância. Solenes e                     
compassadas, podiam ser identificadas como uma ciranda, onde os participantes davam as                       
mãos. Procissões percorriam a cidade, às vezes até as aglomerações ao redor do lago                           
(SOUSTELLE, 2002: 73). 
Além dos sacrifícios humanos, oferendas de todo o tipo eram oferecidas diante dos                         
altares: tecidos, vestimentas, pássaros, bolos e espigas de milho, flores e folhagens. Os fogos                           
que ardiam no topo das pirâmides jamais podiam se apagar. Além disso, os dignitários e                             
sacerdotes escarificavam as pernas, o lóbulo das orelhas e a língua para oferecer seu sangue                             
ao sol (SOUTELLE, 2002: 73­74). 
Os ritos acompanham a vida do asteca desde a sua concepção até sua morte. A partir                               
do momento em que a criança nascia na sociedade asteca, a mesma estava envolta em uma                               
“teia” mística que o acompanharia durante sua jornada, participando ativamente de                     
cerimônias ritualísticas de inserção social. Além de nascerem dentro de um círculo                       
hierarquicamente definido: desde o primeiro instante o homem estava destinado a ser um                         
guerreiro, e a mulher doméstica.  
Ligado há dias benéficos e nefastos, a cosmologia asteca reinseria a criança                       
recém­nascida num período de sorte, se houvesse nascido num dia nefasto. O                       
sacerdote­adivinho, ​tonalamalt​ , consultava o livro e fixava a melhor data para batizar a                         
criança. Sendo assim, nomeada em dia benéfico, a criança estaria livre do dia nefasto de seu                               
nascimento. A parteira que fizera o parto devia proceder ao ritual da lavagem do bebê.                             
Banhava a criança com água primeiramente sobre os lábios, cabeça, peito e, finalmente, sobre                           
todo o corpo. Invocava a deusa da água e depois a apresentava ao Sol e a Terra. Essa                                   
cerimônia contava com a presença da família e amigos. Quando fosse menino,                       
preparavam­lhe um escudo, um arco e quatro flechas, que eram presenteados aos deuses para                           
invocar sua proteção ao futuro guerreiro. Para a menina, preparavam­lhe fusos, uma                       
lançadeira, um cofre e se dirigiam preces à ​Yoalticitl​ , “a curandeira noturna”. A festa                           
terminava com um banquete em honra aos deuses e ao nascimento das crianças                         
(SOUSTELLE, 2002: 57).  
Durante os primeiros anos de vida, a educação da criança asteca estava sob a guarda                             
de sua família. Quando atingiam a idade de seis a nove anos, porém, a educação deixava de                                 
estar a cargo direto da família e se optava por umdos dois sistemas de educação pública                                 
asteca: o colégio do bairro, onde os “mestres de rapazes” e “mestras de moças” preparavam                             
seus alunos para a vida prática; ou, então, o ​calmecac​ , o colégio­monatério, onde a educação                             
era ministrada pelos sacerdotes, destinado aos filhos da aristocracia. Contudo, os filhos dos                         
comerciantes e até os filhos dos camponeses que se destinavam ao sacerdócio, também                         
tinham lugar no colégio de elite (SOUSTELLE, 2002: 58).   
Os colégios de bairro, dedicados a ​Tezcatlipoca (chamado “O Rapaz”), deus guerreiro,                       
tinham como função preparar os cidadãos ao cumprimento de seus deveres, especialmente                       
formá­los militarmente. Os mestres eram guerreiros reconhecidos. Os rapazes aprendiam o                     
ofício da guerra, participavam de trabalhos de interesse público e o cultivo de terras coletivas.                             
Tinham rígida disciplina na parte diurna, mas as noites iam cantar e dançar. Ao contrário, os                               
rapazes do colégio­monatério, observado à proteção de ​Quetzalcoatl​ , antigo rival de                     
Tezcatlipoca​ , levavam uma vida austera, feita de trabalhos manuais e intelectuais, de jejuns e                           
penitências. Aprendiam boas maneiras, os rituais e a leitura dos hieróglifos. Deviam saber os                           
mitos, os poemas e a história e iniciar­se nas funções as quais se destinavam: o sacerdócio ou                                 
os altos cargos do Estado Asteca. (SOUSTELLE, 2002: 58) 
As boas maneiras eram apreendidas de uma literatura didática chamada os ​ueuetlatolli                       
(preceitos dos antigos). Ali se evidencia o ideal de autodomínio, de resistência às paixões, de                             
moderação e de abnegação. Em relação à alteridade, construíam a imagem dos rapazes dos                           
colégios de bairro como grosseiros e vulgares, exaltando a soberba e a audácia dos rapazes do                               
calmecac​ .  
Vale lembrar também a importância dos ​cuicacalli​ . Estas instituições eram casas                     
educacionais responsáveis pela dança e o canto, o que era de suma importância para os                             
mesmos, já que a utilização desses mecanismos em rituais religiosos, cerimônias além de                         
festas eram imprescindíveis. Tinham a função principal de transmitir e resguardar a tradição                         
ancestral por meio dos cultos às divindades. Podemos destacar como métodos e                       
aprendizagem, a música, poesia além da interpretação dos livros pintados. 
Os poemas e cânticos astecas eram ricos em metáforas que traduziam a forma de                           
pensar dos antepassados. Textos de profunda reflexão, preenchidos com ensinamentos e                     
deveres seguidos pela população. O método para a utilização dos poemas e cânticos estava                           
ancorado em uma técnica que se caracterizava pela transmissão oral dos discursos e cânticos                           
pelos professores (CÓDIGO MENDONZA, 1540: 56­71). 
 
Figura 1 – O Cotidiano Asteca. Fonte: Código Mendonza, 1540. 
A partir dos 21 anos, o asteca chega à idade adulta. Os jovens deixavam o colégio ou o                                   
monastério, ao menos que fosse se dedicar ao sacerdócio, inclusive as moças. A maioria se                             
dedicava ao casamento, que era arranjado pelas famílias. As negociações eram feitas pelas                         
casamenteiras. O casamento é indicado pelo sacerdote­adivinho para que ocorra no melhor dia                         
possível.  
O rito do casamento era celebrado perto do fogão. Sentados um ao lado do                           
outro em duas esteiras, os noivos inicialmente recebiam presentes. A mãe da                       
moça oferecia ao futuro genro roupas masculinas; a mãe do rapaz oferecia à                         
noiva uma bata e uma saia. Depois, os ​cihuatlanque amarravam um ao outro                         
o manto do rapaz e a saia da moça: eles estavam casados, e o primeiro gesto                               
era dividir um prato de ​tomalli​ . Deviam permanecer orando durante quatro                     
dias, não se consumando o casamento se não ao fim desse período. Daí a                           
instituição da festa do quinto dia, que tendia a se igualar ou superar em                           
importância e luxo a cerimônia do casamento descrita acima, particularmente                   
entre nobres e comerciantes (SOSUTELLE, 2002: 59). 
 
Entre esta sociedade, o sistema monogâmico aliado à poligamia, entretanto estava                     
designada as classes mais altas e os dignitários. O sustento dos membros considerados                         
“legítimos” estava atribuído ao chefe da família, e caso não conseguisse a desonra seria e                             
forma natural. Dado isto, era comum às atribulações entre os membros de famílias numerosas                           
pela herança do pai. 
Devemos salientar que a morte e a vida fazem parte de uma mesma realidade segundo                             
os Astecas. Deste modo desde aquela época os ceramistas de ​tlatico retratavam um rosto                           
duplo. Uma metade viva e a outra metade esquelética, o que está presente em diversos                             
registros. Segundo eles, a vida era decorrente da morte, e mesmo depois de morto a pessoa                               
transitava por muitas dificuldades e sofrimentos até alcançar o seu repouso. 
A RELIGIÃO ASTECA 
A cultura asteca exibe um ideal simbólico, que impõe regras que estruturam seu                           
cosmos e sua sociedade. Neste sentido, na religião é possível perceber o império de um                             
dualismo, que se expressa em seu vasto panteão. As divindades se opõem a si mesmas, que                               
gestava, por meio de forças da natureza, o mundo. Uma religião aberta que incorporava os                             
deuses de seus rivais ao caírem conquistados. A historiografia ainda não chegou a uma                           
tipologia concreta em relação aos deuses astecas. Os mais variados deuses eram cultuados,                         
muitas vezes reunidos em um mesmo culto, numa mesma representação, o que trás                         
indefinição aos estudos classificatórios (OLIVEIRA, s/d: 115).  
Os Astecas, conhecidos como povos do Sol, entendiam o simbolismo da dualidade                       
como suporte para a vida cotidiana. Neste sentido, viam o céu e a terra, a morte e o "além", o                                       
bem e o mal como partes de uma realidade somente. Dado isto, percebemos que este princípio                               
também parte da religião. 
Sua religião, segundo Soustelle, era simples e principalmente astral na origem. À                       
medida que ampliava seu império, foram anexando avidamente deuses e ritos de sociedades                         
ainda mais longínquas. No início do século XVI sua religião que dominava todos os aspectos                             
do seu cotidiano, constituía ainda uma síntese imperfeita de crenças e cultos de origens                           
diversas (2002: 63). 
De seu passado, os Astecas cultuaram e conservaram suas divindades astrais. Segundo                       
a ​Historia de los Mexicanos por sus Pinturas​ , o casal primordial teve quatro filhos. O                             
primeiro a nascerfoi ​Tlatlauque Tezcatlipoca (o Vermelho), deus patrono de ​Huexotzinco e                         
Tlaxcala​ . Os outros filhos ​Yayanque Tezcatlipoca (o negro), o maior e o mais perigoso;                           
Quetzalcoatl e ​Ometeciitl ou ​Maquezcoalt​ , chamado ​Huitzilopochtli​ . Com o nascimento dos                     
deuses primordiais teve início a trama da criação do mundo, dos elementos e das divindades.                             
Quetzalcoatl​ (​Tezcatlipoca Branco) e ​Yayanque Tezcatlipoca (​Tezcatlipoca Negro) fizeram                 
um fogo e um sol fraco, engendraram um homem e uma mulher, dando­lhe o milho como                               
alimento natural e sobrenatural. Constituíram os dias, distribuindo em 18 dias de 20 meses,                           
somando 365 dias. Criaram as divindades da água e do submundo, além dos 13 céus e 9                                 
infernos. Por fim criaram a terra e deram­lhe o nome de  ​Cipacuatli​  (OLIVEIRA, S/d: 120). 
Entendendo necessitar de mais luz e calor, ​Tezcatlipoca se transformou em sol,                       
ficando na incumbência dos demais deuses a criação do novo homem. A partir dessa nova                             
geração de homens, num período de 676 anos ​Quetzalcoatl​ derrotou ​Tezcatlipoca e este, ao                           
cair na terra, se transformou em tigre, devorando toda a humanidade. Após um período de                             
escuridão é ​Quetzalcoatl se transformou, por sua vez, em sol, mas a rivalidade leva                           
Tezcatlipoca se vingar, retirando­o do firmamento por mais de 676 anos. Ao cair na terra,                             
Quetzalcoatl se transformou em ventos fortes, exterminando os homens que habitavam a                       
terra. Em seguida o deus ​Tlaloc é feito sol por imposição de ​Tezcatlipoca​ , ficando assim por                               
364 anos. ​Quetzalcoalt​ revolta­se com tal situação, destitui ​Tlaloc​ , com chuvas de fogo, e                           
colocou em seu lugar ​Chalchiutlicue, que permaneceu 312 anos no firmamento. Este período                         
terminou com inundações que arrasaram toda a terra, compondo dois mil seiscentos e vinte e                             
oito anos. Cansados desta geração de sóis imperfeitos, os deuses resolveram se unir e edificar                             
céu e terra, reinventando a criação. Para ajudar na tarefa os deuses criaram quatro homens.                             
Tezcatlipoca e ​Quetzalcoatl se transformaram em árvores que sustentavam céu e terra.                       
Tezcatlipoca Vermelho e ​Tezcatlipoca Azul são incorporados posteriormente ao mito asteca,                     
especialmente o Azul, ​Huitzilopochtli​ , patrono dos Astecas (OLIVEIRA, S/d: 121­122). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Tezcatlipoca –   
Fonte: Código Bourbônico, 1562, p.3​.       ​Figura 3 – Quetzalcoatl – Fonte: Mitologia Asteca,​ ​2015. 
 
 
Restaurados céu e terra, ​Tezcatlipoca passou a se chamar ​Mixcoalt e criou o fogo. O                             
sol foi uma ação conjunta dos deuses. De comum acordo sentenciaram que o sol precisava ser                               
alimentado pelo sangue e corações humanos. Para isso era necessário à guerra e homens para                             
que nela guerreassem. ​Mixcoalt criou quatrocentos homens e cinco mulheres. Na guerra entre                         
eles apenas as mulheres sobraram. A discussão entre os deuses salientou que um deles deveria                             
se jogar no fogo sagrado para alimentar o sol. Nem todas as divindades quiseram atear­se ao                               
fogo sagrado, mas a figura de ​Nanauatzin atira­se e se transformara em sol. ​Tezcuiztécatl​ ,                           
com medo de se atirar, recuou quatro vezes e quando se jogou se transformou em lua. O novo                                   
sol exigiu que os outros deuses também se imolassem na fogueira sagrada, em louvor do novo                               
sol, até que ele habitasse o firmamento (OLIVEIRA, S/d: 122­123). 
Como o sol e a lua estavam fixos no firmamento, o deus ​Ehecatl​ , o deus do vento que                                   
sopra em todas as direções, soprou sobre ​Nanauatzin e ​Tezcuiztécatl​ . A princípio o deus do                             
vento moveu o sol. Quando se moveu e se pôs no crepúsculo, a lua se moveu​. Ehecatl é a                                     
personificação do ​Quetzalcoatl​ . Representava­se ​Ehecatl​ com os símbolos da concha, a                     
máscara da trombeta de vento e o ​Quetzal, com as plumas de cor verde que pertence ao                                 
arco­íris. 
Vale ressaltar que ​Huitzilopochtli​ , o deus­guia da sociedade asteca, encarnava o sol do                         
meio­dia. Seu mito incorpora traços emprestados da tradição tolteca, das montanhas de                       
Coatepec​ . Esse deus nascera da deusas ​Coatlicue (a que usa saia de serpentes), exterminando                           
o ​xiuhcoalt (serpente de turquesa), seus irmãos, ou seja, os quatrocentos meridionais (as                         
estrelas do sul) e sua irmã, deusa das trevas,  ​Coyolxauhqui​ .  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 – Huitzilopochtli – Fonte: 
Código Bourbônico, 1562.​                                    ​Figura 5 – Ehecatl – Fonte: Código Borgia, 15? 
 
Se ​Huitzilopochtli dominava o panteão asteca, ​Tezcatlipoca tinha quase a mesma                     
importância e desempenhava grande papel nas especulações teológicas dos sacerdotes.                   
Tezcatlipoca era símbolo da Grande Ursa e do céu noturno, “vento da noite”, tudo via,                             
permanecendo ele próprio invisível. Protegia os jovens guerreiros, mas também os escravos                       
inspiravam os leitores por ocasião da designação do soberano, castigava e perdoava as faltas.                           
Ele é o responsável pela derrota da serpente de plumas de Tula e impor ao México os                                 
sacrifícios humanos. (SOUSTELLE, 2002: 63­64) 
A religião das antigas sociedades clássicas do planalto adoravam dois casais                     
primordiais (Terra e Fogo); do deus da chuva e da deusa da água; e de serpente de plumas,                                   
símbolo da fertilidade e da abundância vegetal. Os otomis, antigo povo camponês,                       
conservavam a crença, ainda no século XVI, em uma deusa terrestre e lunar e um deus do                                 
fogo e do sol. Submetidas a uma longa apropriação e reapropriação da era tolteca e                             
pós­tolteca, essas tradições foram incorporadas pelos astecas a sua teologia, com importantes                       
modificações (SOUSTELLE, 2002: 63) 
O deus do fogo apresentava­se como um dos mais importantes do panteão asteca.                         
Chamavam­no de “Senhor Turquesa”, o “Velho Deus” (suas estátuas o mostram como um                         
velho de rosto enrugado), ou ainda “Senhor Otomi”. Residia no fogo de cada casa. Ao início                               
de cada refeição ofereciam­lhe migalhas de bolos e algumas gotas de bebida. Os negociantes                           
o adoravam de modo especial (SOUSTELLE, 2002: 64). 
Em uma região muito seca, rendia­se culto a ​Tlaloc – o antiquíssimo deus da água e da                                 
chuva, adorado em Teotihuacán durante um milênio – e a ​Chalchiuhtlicue​ , prestando­se lhes                         
um culto tanto mais fervoroso quanto mais dependia de sua boa vontade a vida dos homens                               
em territórios secos.​Tlaloc​ podia conceder a benéfica chuva, mas igualmente provia o granizo                           
e o raio. Dessa forma, os sacerdotes do ​Tezcatlipoca Azul deus guia asteca, e os de ​Tlaloc                                 
ocupavam a mais alta hierarquia entre os sacerdotes. O grande templo de ​Tenochtlitán era                           
encimado por dois santuários: o de ​Huitzilopochtli​ , vermelho e branco, e o de ​Tlaloc​ , azul e                               
branco. Esse é a maior amalgama entre as religiosidades astral dos Astecas e a dos povos                               
secundários, que se reelaboram na síntese Asteca (SOUSTELLE, 2002: 65). 
 
 
 
Figura 6 – Tlaloc – Fonte: Código Bourbônico, 1562.  
 
De todas as personalidades divinas conhecidas desde a alta                 
Antiguidade clássica, foi ​Quetzalcoatl quem sofreu as mais               
profundas transformações. A serpente de plumas não simbolizava mais as forças telúricas e a                           
abundância da vegetação. Deus do planeta Vênus, que é a estrela matutina e estrela                           
vespertina, ​Quetzalcoatl correspondia, juntamente com seu gêmeo ​Xololt (deus­cão), à noção                     
de morte e ressurreição. “Senhor da casa da aurora” deus do vento, herói civilizador e                             
inventor do calendário e das artes, confundindo pelos mitos com rei­sacerdote de Tula,                         
Quetzalcoatl​ permanecia ligado, no pensamento religioso, à idade de ouro tolteca                     
(SOUSTELLE, 2002: 66). 
Algumas das divindades ligavam­se umas ou outras a categoria populacional, ou a                       
uma outra corporação. Entre as mais importantes destacam­se: 
 
​Xipe Totec, divindade dos ourives, importada do território yopi a sudeste do                         
império, é Yacatecuhtli, deus dos comerciantes e protetor das caravanas.                   
Coatlicue protegia os floristas; Teteoinnan, “Mãe dos Deuses”, era deusa dos                     
médicos e das parteiras; Tzapotlatena, dos mercadores de resina medicinal;                   
Chalchiuhtlicue, dos carregadores de água. Os pescadores e caçadores e                   
pássaros aquáticos invocavam Opochtli, Atlaua e Amimitl; os fabricantes de                   
esteiras e assentos de vime, um pequeno deus da água chamado                     
Napatecuhtli. Xochiquetzal protegia os tecelões e cortesãs; Uixtociuatl, os                 
fabricantes de sal; Chicomexochtli, os pintores e escribas; Tlamatzincatl e                   
Izquitecalt, os mercadores de octli; Coyotlinaual, os artistas especialistas em                   
mosaico de plumas; Cinteotl e três outros deuses, os cinzeladores                   
(SOUSTELLE, 2002: 69).  
 
Havia um deus dos banquetes, ​Omeacatl​ , que se vingava dos donos de uma casa que                             
não lhe prestava culto digno, com aparecimento de cabelos nos pratos. Outro deus, o pequeno                             
negro, tinha especialidade na cura das crianças doentes. As deusas ​Quato e ​Caxoch eram                           
invocadas contra as dores de cabeça, enquanto ​Temazcalteci garantia a eficácia dos banhos a                           
vapor (SOUSTELLE, 2002: 69). 
É possível salientar que nesse profuso panteão, onde se acotovelavam divindades                     
antigas e recentes, terrestres e astrais, agrícolas e lacustres, tolteca­astecas e exóticas, tribais e                           
corporativas, todas as formas de atividade humana resultavam de uma força sobrenatural, do                         
comando das armas à confecção de tecidos, da medicina ao amor, do sacerdócio à fabricação                             
de estreitas, da ourivesaria à pesca (SOOUSTELLE, 2002: 69).  
Soustelle ressalta que os antigos mexicas imaginavam o mundo como uma cruz de                         
malta. Cada um dos braços correspondia uma cor ou várias divindades. Ao norte, país das                             
trevas, situava­se a morada dos mortos, onde reinava o Plutão asteca, ​Mictlantecuhtli​ ; a leste,                           
o paraíso da abundância tropical sob a égide de ​Tlaloc​ ; ao sul, o país das espigas e da seca; a                                       
oeste o jardim ​Tamoanchan e as divindades femininas; e ao centro, enfim o deus do fogo. Os                                 
anos eram repartidos entre os quatro pontos cardeais. 
Os Astecas acreditavam que o mundo fora precedido por quatro universos, os Quatro                         
sóis; e os interpretavam da seguinte forma: 
O primeiro Sol, ​naui­ocelotl (“quatro­jaguar”), desaparecera em um               
gigantesco massacre, no qual os homens haviam sido devorados pelos                   
jaguares. (...) O jaguar simboliza as forças telúricas, para os astecas,                     
correspondia a Tezcatlipoca, deus das trevas e do céu noturno pontilhado de                       
estrelas, tal qual a pelagem do felino. 
O segundo universo denominava­se ​naui­eecatl (“quatro­vento”).           
Quetzacoatl, a Serpente de Plumas, deus do vento e rival de Tezcatlipoca,                       
fez soprar sobre esse mundo uma tempestade mágica, transformando homens                   
em macacos. 
Tlaloc, divindade benfeitora da chuva, mas também o terrível deus do raio,                       
destruiu o terceiro universo, ​nauiquiauitl (“quatro­chuva”), submergindo­o             
em uma chuva de fogo. É possível que a memória das grandes erupções                         
vulcânicas que cobriram de lavas e cinzas uma parte do vale do México (o                           
“Pedregal”) pouco antes da era de nossa era, tenha sobrevivido neste mito. 
Enfim, o quarto Sol, ​naui­atl (“quarta­água”), situado sob o signo de                     
Chalchiuhtlicue, deusa água, terminou em dilúvio que durou 52 anos. Um                     
homem e uma mulher foram salvos, segurando­se a um tronco de cipreste,                       
mas tendo desobedecido às ordens de Tezcaipoca, foram transformados em                   
cães (SOUSTELLE, 2002: 69­70). 
 
A humanidade teria nascido assim da insistência de ​Quetzacoatl​ . A serpente de                       
plumas, sob a forma de um deus com cabeça de cão, ​Xolotl​ , resgatou dos infernos os ossos                                 
dos mortos e regando­os com seu próprio sangue, lhes restitui a vida. Dessa forma, a missão                               
do povo Asteca, o povo do Sol, consistia em infatigavelmente manter o equilíbrio entre o Sol,                               
a Terra e todas as divindades, por meio da “água preciosa”, sem a qual o mundo deixaria de                                   
funcionar. Portanto, as guerras sagradas eram essenciais, assim como a prática dos sacrifícios                         
humanos. Ambos dispositivos se constituíram ainda no início da criação do mundo. O sol                           
exigia sangue, que os deuses lhes haviam dado por premissas e depois os homens. O deus                               
Huitzilopochtli nascera guerreando, mas ​Quetzalcoatl era pacífico, deus dos idos clássicos,                     
que nada desejara sacrificar a não ser borboletas, pássaros e serpentes. Tezcatlipoca o vence e                             
os deuses exigiam “seu alimento”. 
A guerra, como a entendia os astecas, tem caráter positivo, como conquista de                         
territórios, a imposição de tributos e o direito de livre­passagem para seus comerciantes. Mas,                           
sobretudo, garantir­lhes prisioneiros para os sacrifícios. Quando em vastos momentos a paz se                         
fez entre os astecas, os soberanos inventaram a guerra florida,torneios para o fornecimento de                             
vítimas para os deuses.  
Nesse sentido, vale a pena salientar que os Astecas nutriam um sentimento especial                         
diante do fenômeno natural da morte e encaravam­na como: 
um espelho que refletia a forma como viviam e seus arrependimentos,                     
acreditando que a morte iluminava a vida. No conceito pré­hispânico da                     
morte, o sacrifício (o ato de morrer) se completava com a doação do espírito                           
aos deuses (SOUSA; SILVA; FONTENELE, 2006: 5). 
 
A eternidade era alcançada pelos Astecas não como tivesse vivido, nem com boa ou                           
má conduta. O que determinava o lugar nos mundos da eternidade era a forma como se tinha                                 
morrido. Segundo os autores, os Astecas entendiam a morte de cinco maneiras: a morte                           
comum, a dos guerreiros, a da pedra dos sacrifícios, a morte relacionada à água e a morte de                                   
crianças pequenas. Apenas as quatro últimas produzia uma salvação incontestável.  
O ​Mitclán era o lugar para onde se destinava todos àqueles que morriam de morte                             
natural, velhice, acidentes e a maioria das doenças. O ​Mitclán era um lugar terrível porque era                               
simbolizado como o nada, o vazio, a morte estéril. O indivíduo que morria assim era                             
mumificado, vestido com sua melhor roupa, plumas e joias e depois era cremado junto com                             
comida, armas e objetos para facilitar sua vida ​post­mortem​ . A família cultuava o morto por                             
oitenta dias e depois, anualmente, por quatro anos. O ​Mitclán​ era uma espécie de inferno que                               
abrigava esses mortos por nove anos até eles desaparecerem (SOUSA; SILVA;                     
FONTENELE, 2006: 6). 
As mortes valorizadas e cultuadas eram a dos guerreiros, a dos sacrifícios e a morte à                               
água. A morte em campo de batalha dava ao guerreiro a salvação imediata. Estes iam morar                               
quatro anos com o sol e depois retornavam como colibris ou borboletas. A morte na pedra                               
sacrifical tinha a mesma honraria que a morte em campo de batalha. Ambos tinham o mesmo                               
destino. O mais comum em relação aos sacrifícios era o ritual de abrir o tórax da vítima e o                                     
sacerdote, com uma faca de sílex, retirar seu coração ainda pulsando e oferecer ao deus                             
homenageado, jogando o órgão numa pira para ser queimado. Em seguida o vitimado era                           
decapitado e incinerado (SOUSA; SILVA; FONTENELE, 2006: 6). 
A morte ligada à água, parto, raios e doenças como gota, sarna, lepra, ácido úrico era                               
considerada uma boa morte, tranquila, em que o morto tinha o direito de ser enterrado e                               
passava a ser cultuado como um escolhido de ​Tlaloc​ . Já a morte de crianças pequenas, para os                                 
Astecas, era uma morte mágica. Esses seres iam para um jardim florido, onde viveriam por                             
toda eternidade como pássaros, voando entre as flores (SOUSA; SILVA, FONTENELE,                     
2006: 6).  
O imaginário asteca em relação à vida post­mortem está ligado ao respeito que                         
devotavam à natureza e à manutenção de sua sociedade. Isto fica claro no destino previsto aos                               
guerreiros e aos sacrificados em rituais. Enquanto guerreiros, os Astecas acreditavam que sua                         
sociedade dependia desses homens para ampliar territórios e continuar a triunfar. A exaltação                         
da morte desses homens e seus destinos indicavam a extrema crença dessa sociedade no modo                             
de vida que levavam. 
La visión del mundo o Weltanschauung, de los astecas, no concedía al                       
hombre sino un papel ínfimo en la organizacíon de las cosas. Su destino                         
estaba sometido al todopoderoso tonalpohualli (ciclo do calendário). Su vida                   
en el otro mundo no dependía en nada de consideraciones morales. Su deber                         
consistía en combatir y morir por los dioses y por la conservación del orden                           
del mundo. Además, la hechicería, los augurios y los presagios dominaban la                       
vida cotidiana. Es un hecho notable que uma visión tan pesimista haya                       
podido coexistir con el maravilloso dinamismo de la civilización azteca                   
(SOUSTELLE, 1982: 56). 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Durante todo o artigo, percebemos que a sociedade Asteca é regente de misticismos e                           
questões religiosas que envolvem toda uma concretização de uma civilização apontando o                       
simbolismo presente no conteúdo cultural de valor inestimável da mesma. A dualidade entre                         
a vida e morte, a compreensão do papel significativo das entidades que regem a conservação                             
da vida Asteca. Além da envoltura das abordagens dos sacrifícios, que acabam esclarecendo a                           
relevância de tais ritos para a perpetuação cultural da sociedade mexica. 
BIBLIOGRAFIA 
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