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Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque Pedagogia JULIANA APARECIDA VIEIRA A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM SÃO ROQUE/SP 2016 JULIANA APARECIDA VIEIRA A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM Monografia aprovada como exigência parcial obtenção do título de licenciatura plena em pedagogia pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque ORIENTADORA: PROFª ESP. TÁGIDES RENATA DE MELLO MORAIS SÃO ROQUE/SP 2016 A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM POR JULIANA APARECIDA VIEIRA Monografia aprovada como exigência parcial para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia pela comissão formada pelos professores: Comissão julgadora Orientador: __________________________________________ Profª Esp. Tágides Renata de Mello __________________________________________ Profª Ms. Delly Danitza Lozano Carvalho São Roque, 20 de junho de 2016 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os profissionais e estudantes da educação, que acreditam que a mesma é o caminho para contribuir na formação de pensantes críticos e para transformar o país, amenizando casos comuns de preconceito, corrupção e violência. AGRADECIMENTOS A Deus, que me deu condições para realização de mais esse sonho, a minha família, pelo apoio e carinho, aos meus professores acadêmicos, que com profissionalismo e dedicação contribuíram para minha melhor formação, aos amigos professores que fiz durante o curso, onde me ofereceram ajuda, conselhos e até mesmo um ombro amigo. “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso, elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Rubem Alves, 2004, p. 7. RESUMO O presente trabalho visou relatar “A influência do bullying no processo ensino/aprendizagem”. A pesquisa conta com um levantamento bibliográfico sobre a história e definição do bullying, suas causas, como são as ações de agressão na escola, as consequências mais comuns que afetam as vítimas, abordamos também a prevenção e a influência/papel do professor em sala de aula. Após os levantamentos da pesquisa bibliográfica, os resultados mostram que o bullying pode afetar o estado emocional do aluno e causar baixo desempenho no processo ensino/aprendizagem, a postura do professor em sala de aula também pode influenciar tanto na amenização do bullying, como despertar ou alimentar o fenômeno entre os alunos. Palavras-chave: Bullying; relação professor-aluno; processo ensino/aprendizagem. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................8 1. BULLYING: ORIGEM, CONCEITO E HISTÓRIA...................................................10 1.2 FORMAS E CAUSAS DE BULLYING..................................................................15 2. O BULLYING X ESCOLA.......................................................................................28 2.2 CONSEQUÊNCIAS MARCANTES......................................................................37 3. BULLYING X APRENDIZAGEM.............................................................................40 3.2 O PAPEL DO PROFESSOR................................................................................45 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................52 8 INTRODUÇÃO Ao observarmos as diferentes razões pelo o qual não se obtém resultados positivos no processo ensino/aprendizado, nos deparamos com o bullying, um fenômeno de violência presente nas escolas. Porém, é necessário sondar as características das ações em que estão sendo sucedidas no momento do ato, pois a expressão bullying tem sido usada em muitos casos. Casos esses em que não há nenhum vínculo com o fenômeno, mas apenas usado porque o termo tornou-se um hábito para muitos, onde qualquer situação do cotidiano é considerada bullying. Um dos erros que devemos evitar numa avaliação de situação ou não de bullying é a precipitação. Os céticos da existência do bullying criticam o suposto “modismo” da mídia, professores, psicólogos etc., em, segundo eles, apontam bullying em todas as situações de conflito de grupos com indivíduos. Em parte, dou razão a esses críticos. Há excessos, principalmente, quando há interesse mais afoito da mídia em divulgar o caso. Devemos, então, redobrar o cuidado para uma análise mais cautelosa e isenta possível sobre o fato que nos chega para análise. (CALHAU, 2010, p. 7). Os sentimentos em que o bullying pode causar à uma criança podem causar bloqueios emocionais, onde os mesmos passam a ter fracasso do processo ensino/aprendizagem. Assim, como o sentimento de alegria pode refletir no desempenho do aluno, a tristeza também pode ter mesmo efeito. A estrutura emocional e afetiva do aluno precisa estar em equilíbrio para que o seu rendimento escolar possa caminhar positivamente. Muitas vítimas passam a ter baixo desempenho escolar, apresentam queda no rendimento escolar, déficits de concentração, prejuízos no processo de aprendizagem, resistem ou recusam-se a ir para a escola, trocam de colégios com freqüência ou abandonam os estudos. No âmbito da saúde física e emocional, a vítima acaba desenvolvendo uma severa depressão, estresse, pânico, fobias, distúrbios psicossomáticos, podendo chegar a tentar ou cometer o suicídio (FANTE, 2005 p. 89). O fenômeno bullying, pode ser um ato de violência física e/ou verbal, onde pode trazer diversas consequências, na maior parte do público quando se refere à vítima, a mesma tende a guardar para si todas suas emoções, devido ser um alvo de violência para seu agressor. Sendo assim, a vítima passa a carregar apenas para si 9 aquilo que deveria dividir com seus pais e a equipe pedagógica da escola em que estuda, porém a mesma pode optar por não compartilhar com ninguém, muitas vezes por medo, receio, insegurança de contar para alguém e que o problema se agrave ainda mais ao invés de ser resolvido. Uma das causas do fracasso escolar dos alunos pode ser devido a reação dos mesmos em se manter em silêncio perante o bullying em que sofre. A criança pode passar a ter uma baixa auto estima, faltasexcessivas nas aulas e ausência de comprometimento e interesse com suas tarefas escolares. Acredita-se que este trabalho trará grande contribuição acadêmica para o leitor. Abordaremos o conceito de bullying, os cuidados em que o professor deve ter em seu olhar perante o aluno que se encontra com dificuldades na aprendizagem e os conflitos de emoções negativas em que o bullying causa na criança e que consequentemente refletem no desempenho escolar da mesma. Após leituras realizadas sobre o bullying, algumas perguntas foram lançadas e com base nos materiais científicos relacionados ao tema, iremos responder durante o desenvolvimento deste trabalho. As perguntas questionadas são: O bullying pode influenciar no processo ensino/aprendizagem? O bullying é uma das causas que pode comprometer o desenvolvimento do aluno no processo ensino/aprendizagem? O fenômeno bullying pode provocar a baixa auto estima no aluno? O bullying pode trazer danos psicológicos para a vítima, que podem perdurar por longo prazo de sua vida? O professor pode influenciar para que o bullying aconteça em sala de aula? Temos como objetivo geral explorar as causas da agressividade, suas consequências e como lidar com a situação, com o intuito de fechar as portas para esse fenômeno denominado bullying no ambiente escolar. Para responder nosso problema e alcançar o objetivo proposto, nosso trabalho ficou assim estruturado: abordaremos no capítulo 1 o conceito e história do bullying e suas formas e causas mais comuns; no capítulo 2 o bullying x escola e as consequências marcantes das ações e no capítulo 3 o bullying x aprendizagem e o papel do professor. Esta pesquisa será desenvolvida com levantamento bibliográfico com autores como Lélio Braga Calhau, Ana Beatriz Barbosa Silva, Cleo Fante, e não conta com pesquisa de campo. 10 1. BULLYING: ORIGEM, CONCEITO E HISTÓRIA Dentro do contexto da história do bullying, pode-se afirmar que o mesmo sempre existiu, mas só passou a ser estudado por cientistas na década de 70 na Suécia, quando o tema tornou-se algo preocupante e irrelevante para a população. Logo após os estudos realizados na Suécia, despertou-se um grande interesse pelo assunto em diversos países, numa intenção de conscientização contra o ato de violência causado pelo bullying. O bullying é um fenômeno tão antigo quanto a própria instituição denominada escola. No entanto, o tema só passou a ser objeto de estudo científico no início dos anos 70. Tudo começou na Suécia, onde grande parte da sociedade demonstrou preocupação com a violência entre estudantes e suas consequências no âmbito escolar. Em pouco tempo, a mesma onda de interesse contagiou todos os demais países escandinavos. (SILVA, 2010, p.111). Segundo Calhau (2010), o bullying é um ato de violência que sempre existiu, porém não era estudado, quando uma vítima era atacada a mesma mantinha-se em silêncio, mudava de escola, de cidade, fugia dos maus tratos. Antes da década de 70 na Suécia, o bullying era encarado como algo natural, chegavam até a colocar a culpa nas próprias vítimas pelas situações em que passavam. Pais e professores do país da Noruega vivenciavam problemas de bullying, mas, mesmo as escolas enfrentando esse mal, o governo norueguês não tomava uma atitude que desse impacto perante a situação. No ano de 1982 três crianças com a idade entre 10 a 14 anos cometeram suicídio após serem torturados constantemente por alunos da escola em que frequentavam, após essa ruptura as autoridades do Ministério da Educação do país tomaram a providência de realizar uma campanha que iniciou no ano seguinte, com o objetivo de conscientizar e amenizar esse ato de violência, com o foco voltado para o ambiente escolar. Na Noruega, o bullying foi, durante muitos anos, motivo de apreensão entre pais e professores que se utilizavam dos meios de comunicação para expressar seus temores e angústias sobre os acontecimentos. Mesmo assim, as autoridades educacionais daquele país não se pronunciavam de forma oficial e efetiva diante dos casos ocorridos no ambiente escolar. (SILVA, 2010, p. 111). 11 Desde então, os combates contra o fenômeno bullying escolar passaram a serem desenvolvidos cada vez mais. Foi o caso do pesquisador Dan Olweus, professor na Universidade de Bergen, Noruega (1978 à 1993), no qual realizou um estudo nesse mesmo ano em que o Ministério da Educação norueguês aplicou. O estudo de Dan Olweus foi baseado em um grande público de alunos, professores e pais de alunos, o mesmo era elaborado em salas de aula, onde os alunos eram observados para se entender como procediam os atos de violência, e, consequentemente junto dela a conscientização dos problemas causados pelo bullying e plena proteção para as vítimas, procurando observar a diferença entre brincadeiras da idade e ações de bullying executadas pelos alunos. Um dos pontos destacados onde se pode diferenciar brincadeiras saudáveis da própria idade e bullying, é a insistência de uma brincadeira com um determinado aluno, onde nessa ação fica claro o constrangimento do alvo, por tanto o mesmo tende a perder o domínio da situação, e, consequentemente sendo vítima de violência escolar, o próprio bullying. Existem alguns critérios básicos, que foram estabelecidos pelo Dan Olweus, da Universidade de Bergen, Noruega (1978 a 1993), para identificar as condutas de bullying e diferenciá-las de outras formas de violência e das brincadeiras próprias da idade. Os critérios estabelecidos são: ações repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de motivo que justifique o ataque. Acrescentamos ainda que deva levar em consideração os sentimentos negativos mobilizados e as seqüelas emocionais, vivenciados pelas vítimas de bullying. (CALHAU, 2010, p. 7). O resultado foi uma queda de 50% de casos de bullying, além do sucesso conquistado pelo pesquisador, outros países como Inglaterra, Canadá e Portugal passaram a adotar o mesmo método de pesquisa e campanha no ambiente escolar de suas devidas populações. O estudo constatou que um em cada sete alunos encontrava-se envolvido em casos de bullying, tanto no papel de vítima como no de agressor. Essa revelação mobilizou toda a sociedade civil e deu origem a uma campanha nacional antibullying, que houve uma redução em cerca de 50% dos casos dessa prática escolar. O sucesso de tal iniciativa foi tão grande que desencadeou, de forma imediata, a promoção de campanhas antibullying em outros países, entre eles a Inglaterra, o Canadá e Portugal. (SILVA, 2010, p. 112). 12 A palavra bullying é de origem inglesa, no Brasil ainda não há uma tradução para a mesma, portanto a palavra não tem uma tradução definida. O bullying está relacionado tanto ao gênero masculino como ao feminino, e está ligado a comportamentos de violência, exclusão de pessoas em um ambiente, maus tratos, atitudes ligadas a uma determinada pessoa, no qual resulta em constrangimentos, agressões físicas e psicológicas. A violência ocorre de uma maneira quase que natural, como uma atitude assídua, porém, esse comportamento do agressor é tido como uma diversão, um desejo em ter o domínio sobre a vítima. O causador da situação não tem um motivo específico para tal ação, apenas prazer em ver a vítima sendo humilhada e sentir-se no auge do poder, onde a parte mais frágil (vítima) é submissa ao mais forte (agressor). O bullying quando praticado acarreta muitos danos a vítima, um deles muito comum é a perda variável de autoestima, o alvo tende a sofrer com as situações delicadase constrangedoras em que é submetida. A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões, os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados da maneira recorrente e intencional por parte dos agressores. É fundamental explicitar que as atitudes tomadas por um ou mais agressores contra um ou alguns estudantes, geralmente, não apresentavam motivações específicas ou justificáveis. Isso significa dizer que, de forma quase “natural”, os mais fortes utilizavam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. E isso, invariavelmente, sempre produz, alimenta e até perpetua muita dor e sofrimento nos vitimados. (SILVA, 2010, p. 21). Conforme Fante (2005), o bullying é um termo adotado por muitos países para definir situações em que alguém alimenta uma vontade de ofender e atingir moralmente e/ou fisicamente outra pessoa, onde é posta em prática de forma consciente, sem motivo justificável, apenas para satisfazer seu desejo de poder ver sua vítima sob tortura de suas ações. [...] bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, imitações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de 13 outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do “comportamento bullying”. (FANTE, 2005, p. 28 e 29). Fante (2005) ainda afirma que os agressores agem como se a ação não passasse de brincadeiras, porém deixam o verdadeiro sentido da ação em oculto, para que não sejam descobertas em seus verdadeiros propósitos e intenções. Calhau (2010) explica que para a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), não temos no Brasil uma palavra exata que possa suprir definitivamente todas as ações e transtornos em que o bullying acarreta, portanto quando se trata desse ato temos um vocabulário diversificado em que estão ligadas a cada expressão de violência, tais como: colocar apelidos, ofender, encarar, amedrontar, chutar, furtar, excluir, entre outros. Calhau (2010) ainda afirma que para diferenciar o ato de bullying de brincadeiras é necessário estabelecer o conceito de que não existem brincadeiras quando alguém está sofrendo com a situação, ou seja, a partir do momento em que se torna constrangedor para aquele em que se está sendo voltada a ação não pode ser classificada como tal, mas sim como um ato de bullying, e que haja antes de qualquer ação o bom senso para dirigir-se a alguém para realizar uma brincadeira. Ou seja, se tratando de um comentário, deve-se pensar antes de tudo se o que iremos pronunciar não irá afetar moralmente e/ou psicologicamente a pessoa mencionada. Silva (2010) afirma que o bullying é um fenômeno no qual não acontece só dentro da escola, mas nos arredores da mesma. Nesse amplo espaço em que o bullying predomina, consequentemente abrem-se oportunidades de ocorrências de violência que por sua vez tratando-se de violência física ou não causam traumas psicológicos as vítimas, porém se a segurança pública encarasse o bullying como uma ação de violência e desrespeito oficial, evitar-se-iam os casos entre adolescentes em que são relatados sobre assassinatos, suicídios e graves hematomas deixados pelo corpo da vítima. O bullying ocorre em todas as escolas, independente de sua tradição, localização ou poder aquisitivo dos alunos. Pode-se afirmar que está presente, de forma democrática, em 100% das escolas em todo o mundo, públicas ou particulares. O que pode variar são os índices encontrados em cada realidade escolar. Isso decorre do conhecimento da situação e da 14 postura que cada instituição de ensino adota, ao se deparar com casos de violência entre os alunos. (SILVA, 2010, p. 117). Conforme Chalita (2008), o bullying pode ser considerado a negação da amizade. Sendo assim, sem nenhum sinal de afetividade para com a vítima, o agressor sente prazer em ver seu alvo sendo humilhado, fisicamente ou verbalmente, onde por ser mais forte fisicamente, usa esse atributo para estar no comando do poder. Raramente a vítima toma uma atitude em que tente cortar esses laços de violência, mantém-se em silêncio diante da situação, fazendo que consequentemente o agressor continue com suas ações de bullying contra o agredido. Deve-se observar que atualmente a mídia tem ganhado um grande espaço e seu público espectador tem crescido gradativamente, onde a mesma usa como ferramenta o termo bullying em determinados casos para que haja um determinado impacto em seus espectadores, e consequentemente gerando polêmica entre os mesmos. Não somente a mídia, mas no âmbito da educação e psicologia, onde todas as situações em que geram intrigas entre grupos são classificadas como bullying, e em muitas dessas situações não são casos de violência gerados pelo fenômeno bullying, mas apenas uma expressão em que se usa, um modismo adquirido pelos profissionais mencionados. Nesse caso é importante saber diferenciar o verdadeiro sentido do bullying e as artimanhas da mídia em seus respectivos interesses. Um dos erros que devemos evitar numa avaliação de situação ou não de bullying é a precipitação. Os céticos da existência do bullying criticam o suposto “modismo” da mídia, professores, psicólogos etc., em, segundo eles, apontam bullying em todas as situações de conflito de grupos com indivíduos. Em parte, dou razão a esses críticos. Há excessos, principalmente, quando há interesse mais afoito da mídia em divulgar o caso. Devemos, então, redobrar o cuidado para uma análise mais cautelosa e isenta possível sobre o fato que nos chega para análise. (CALHAU, 2010, p. 7). Fante; Pedra (2008) nos diz que se deve ficar atento as sequelas deixadas pelo bullying, pois a violência não deixa apenas marcas visíveis. Existem os ataques psicológicos, afetando o emocional da vítima, onde deixa danos negativos, em que a vítima pode optar por transparecer que é uma 15 consequência obtida pelo bullying, ou a mesma pode não contar sobre o ocorrido e sofrer calada. 1.2 FORMAS E CAUSAS DE BULLYING Calhau (2010) afirma que existe o bullying por omissão, onde não há sinais de violência física, o bullie ignora a vítima de maneira que envolve os demais colegas de classe, os induzindo a excluir o alvo. O professor ao pedir que formem grupos para a realização de alguma atividade, os integrantes induzidos pelos causadores de bullying o desprezam, causando constrangimento e queda de autoestima no aluno ali excluído, assim os grupos vão se formando, a vítima é escolhida por último ou o professor toma a atitude de encaixar o aluno em algum dos grupos já formados. Em situações como essa, além do constrangimento do aluno excluído ser visível, também deixa transparecer que o mesmo não é popular e acolhido pelos demais colegas da sala de aula. O bullying por omissão é muito usado pelo sexo feminino, onde é quase impossível de ser identificado. O ato de bullying por omissão, de início pode transparecer que não é prejudicial, mas com as agressões feitas paulatinamente podem afetar a vítima, de maneira que causam danos psicológicos com o passar dotempo. Em geral, o bullying praticado com omissão é mais afetado ao praticado por meninas e é bem sutil. É quase invisível. Se você analisar o ato isolado ele pode não significar nada, mas são como pequenas agressões, que pouco a pouco vão minando a integridade psicológica da vítima. (CALHAU, 2010, p. 40). Silva (2010) explica que no bullying existem os agressores, vítimas e espectadores. Sendo que cada um deles mencionados podem ter diferentes atitudes e reações. Em respeito aos agressores, Silva (2010, p. 43) afirma que: Eles podem ser de ambos os sexos. Possuem em sua personalidade traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características estão associadas a um perigoso poder de liderança que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de intenso assédio psicológico. O agressor pode agir sozinho ou em grupo. Quando ele está acompanhado de seus “seguidores”, seu poder de “destruição” ganha reforço exponencial, o 16 que amplia seu território de ação e sua capacidade de produzir mais e novas vítimas. Calhau (2010) afirma que se tratando em examinar o gênero masculino e feminino para saber qual deles é mais violento, entende-se que o que os diferencia é a maneira em que ambos provocam suas ações, onde o gênero masculino usa mais de força física e o gênero feminino age mais com fofocas, onde é atingido os valores morais e psicológicos da vítima. O gênero feminino as ferramentas mais usadas são fofocas, intrigas verbais, impedimento da vítima em se incluir em algum grupo de colegas na escola, espalhando mentiras contra a mesma, colocando apelidos constrangedores, etc. O sexo feminino em ação de violência usa também agressões físicas, mas os mais frequentes são ações relacionadas a moral da vítima. [...] o que basicamente ocorre é que os tipos de agressões são bem diferentes. Regra geral, os agressores utilizam mais a força física e as agressoras utilizam mais os ataques morais, como por exemplo, espalhar fofocas, inventar mentiras, colocar apelidos, arquitetar pequenos complôs para diminuir a vítima perante as colegas, proibir o acesso a grupinhos na escola etc. (CALHAU, 2010, p. 37). Conforme Simmons (2004) por usarem de doçura aos olhos dos adultos, as agressoras agem por gestos, passam entre elas bilhetes com conteúdos de ofensa diretamente ou indiretamente para o alvo, discretamente pressionam a vítima nos corredores da escola, onde agridem com piadas de mau gosto, ou ações desse mesmo porte e saem sorrindo, amenizando ali a situação pesarosa ao público existente, mas para a vítima causa grandes danos psicológicos. Silva (2010, p. 21) diz que: Se recorrermos ao dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender. Seja por uma questão circunstancial ou por uma desigualdade subjetiva de poder, por trás dessas ações sempre há um bully que domina a maioria dos alunos de uma turma e proíbe qualquer atitude solidária em relação ao agredido. 17 O bullie é acompanhado de características de indisciplina, não aceita ser repreendido, em sua maioria tem notas regulares, seu comportamento é agressivo, demonstrando falta de afetividade de sua parte ou afetividade parcial, ou seja, há momentos que se mostra agressivo, onde esses aspectos podem ser observados desde cedo, numa faixa etária de 5 e 6 anos, ocorrendo a implantação e maus tratos com seus coleguinhas da própria idade, irmãos, animais de estimação, empregados domésticos ou funcionários da escola. O bullying pode não ser praticado apenas individualmente, mas por um grupo, onde todos tem a mesma intenção, que é atingir o alvo frágil (vítima). Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio público ou privado. O desempenho escolar desses jovens costuma ser regular ou deficitário; no entanto, em hipótese alguma, isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte deles. Muitos apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais ou acima da média. O que lhes falta de forma explícita, é afeto pelos outros. Essa afetividade deficitária (parcial ou total) pode ter origem em lares desestruturados ou no próprio temperamento do jovem. Nesse caso, as manifestações de desrespeito, ausência de culpa e remorso pelos atos cometidos contra os outros podem ser observadas desde muito cedo (por volta dos 5 a 6 anos). Essas ações envolvem maus-tratos a irmãos, coleguinhas, animais de estimação, empregados domésticos ou funcionários da escola. (SILVA, 2010, p. 43 e 44). Calhau (2010) explica que os bullies gostam de estar no controle, no poder da situação, sendo assim, temos a compreensão de quando observamos que dois ou três alunos dentro de uma sala de aula com cinquenta alunos conseguem estar no auge do poder do ambiente. Guillain (2012, p. 28) explica sobre os bullies da seguinte forma: Não existe uma única razão ou motivo para o bullying. Às vezes, as pessoas pensam que estão apenas brincando e não percebem que estão magoando os outros. Podem apenas ter a intenção de se divertir com os colegas à custa de alguém. Ou ainda pensar que, através do bullying, podem se tornar mais populares e admirados pelos amigos. Outros podem ter sido vítimas de agressões quando menores e querem vingança ou atenção. Quando a situação problema bullying é cometida, os alvos do ato e seus familiares quando resolvem procurar auxílio do estado, se deparam com profissionais que são leigos no assunto ou não estão estruturados profissionalmente 18 para lidar com o problema, sendo assim o ato continua a firmar raízes por todo o país. Calhau (2010) explica que uma das consequências graves que o bullying acarreta é que quando ele ocorre não termina após o agressor deixar de torturar a vítima, mas a violência em si quando cometida ocasiona diretamente a qualidade de vida da vítima. Em respeito à vítima, Calhau (2010) afirma que é comum que a mesma mantenha-se em silêncio, pois na maior parte as agressões são morais e não físicas, portanto não ficam visíveis ao público espectador. A vítima tem dificuldade em falar das humilhações em que enfrenta por temer que o problema não seja resolvido, podendo assim apenas aumentar os danos por ser revelado ao público. Outras vítimas temem a reação contraditória dos pais, e por fim existem muitas outras vítimas que temem que a escola não possa fazer nada para ajudá-las em suas situações desconfortáveis. As vítimas geralmente sentem-se infelizes, não estando satisfeitas consigo mesmas. Em muitas vezes os alvos de bullying acham que todos estão contra elas, onde todas as práticas escolares que envolvem competições, regras, e afins, ocasionam em mais desmotivação para as vítimas. [...] frequentemente, esses alunos são muito infelizes, não gostam de si mesmos e ficam muito frustrados e ressentidos. Muitas vezes sentem que todo mundo está contra eles, e que os adultos são injustos e nunca compreendem seu ponto de vista. Para esses alunos, as práticas tradicionais da escola de se concentrar nas conquistas, na competição, na avaliação e nas regras criam um contexto que estimula mais frustração e afastamento. (BEAUDOIN; TAYLOR, 2006, p. 75).Se tratando da vítima típica, Silva (2010) específica alguns traços de seu comportamento. Na intenção de identificar a vítima no ambiente escolar, pode-se observar que a mesma no decorrer do intervalo da aula sempre está isolada, onde não há a interação com os demais alunos, ou pode encontrar-se perto de um adulto, seja esse um professor, inspetor, num ato de tentar proteger-se do agressor e suas ações pejorativas. Ausência de presença com frequência nas aulas, não tem amigos e quando tem os mesmos são poucos, mostra um semblante triste, e em casos mais decadentes apresenta arranhões, manchas de batidas, empurrões, roupas 19 rasgadas, detalhes esses que são causados infelizmente pelo bullying. A vítima é alvo central de violência dos bullies. A vítima típica tem vários aspectos que podem ser observados para identificá- la, os mesmos aspectos são classificados como uma marca, que os diferencia dos demais alunos, onde indica que a mesma pode ser um alvo fácil de violência. Algumas das características em que são comuns entre as vítimas são: baixa autoestima, dificuldade em interagir em grupos, falta de coordenação motora, orientação sexual, deficientes físicos, alterações de peso tanto para mais como para menos, etc. As vítimas típicas são os alunos que apresentam pouca habilidade de socialização. Em geral são tímidas ou reservadas, e não conseguem reagir aos comportamentos provocadores e agressores dirigidos contra elas. Normalmente são mais frágeis fisicamente ou apresentam alguma “marca” que as destaca da maioria dos alunos: são gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam óculos; são “caxias”, deficientes físicos; apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais destacados; usam roupas fora de moda; são de raça, credo, condição socioeconômica ou orientação diferentes...Enfim, qualquer coisa que fuja ao padrão imposto por um determinado grupo pode deflagrar o processo de escolha da vítima do bullying. Os motivos (sempre injustificáveis) são os mais banais possíveis. Normalmente, essas crianças ou adolescentes “estampam” facilmente as suas inseguranças na forma de extrema sensibilidade, passividade, submissão, falta de coordenação motora, baixa autoestima, ansiedade excessiva, dificuldades de se expressar. Por apresentarem dificuldades significativas de se impor ao grupo, tanto física quanto verbalmente, tornam- se alvos fáceis e comuns dos ofensores. (SILVA, 2010, p. 37 e 38). Silva (2010) afirma que as vítimas provocadoras são classificadas aqui como imaturas, impulsivas e hiperativas, onde sem intenção através dessas características que carregam, tornam o ambiente escolar mais agitado, onde despertam o interesse no agressor em manifestar um conflito contra a vítima. Quando são atingidas rebatem as atitudes através de insultos, xingamentos, porém não conseguem atingir à altura do agressor, sendo assim terminam sem sucesso, trazendo apenas tumulto diante a situação. Pelas características que carrega, a vítima é reconhecida como a principal culpada pelo transtorno causado, e o agressor por sua vez continua no anonimato, livre para continuar suas ações de violências transmitidas pelo fenômeno bullying. A vítima provocadora pode ter TDAH, ou seja, é agitada, intromete-se em assuntos em que não está ligada a mesma, tem dificuldade de concentração, 20 portanto acarreta dificuldades na aprendizagem, tem a mente inquieta, é impaciente, dá respostas sem pensar naquilo em que está sendo dito, porém esse conjunto de características de um aluno que possui TDAH não está relacionado ao caráter da mesma, mas ao seu funcionamento mental em que não permite o controle ideal de sua impulsividade. [...] quem está familiarizado com o assunto sabe que o portador de TDAH, principalmente quando predomina o lado impulsivo e hiperativo, não consegue parar quieto na carteira, corre de um lado para outro, vive a “mil por hora”, é impaciente, dá respostas impensadas, é “abelhudinho” e intromete-se nos assuntos sem ser chamado. Isso porque sua mente é inquieta, veloz, não para nunca, como se estivesse plugada na tomada o tempo todo. E é exatamente por essa velocidade em seus pensamentos que muitos não conseguem se concentrar no que o professor está falando ou apresentam dificuldades na aprendizagem. Porém, a impulsividade de um TDAH (seja ela física ou verbal) não está associada a falta de caráter, má educação ou intenções maldosas, mas ao funcionamento mental que não permite o controle dos impulsos de forma adequada. Isso, invariavelmente, ocasiona “gafes” sociais e dificuldades nos seus relacionamentos interpessoais. (SILVA, 2010, p. 41). A vítima agressora é aquela que sofre através das atitudes do bullying aplicada pelo agressor, a mesma não consegue reagir mediante a situação em que se encontra com o agressor, porém a vítima procura uma nova vítima mais frágil que ela, onde aplica todo seu sofrimento em seu alvo escolhido. Sendo assim, torna-se um fenômeno imortal, onde está sempre surgindo novas vítimas e agressores com seus diferentes aspectos perante a violência causada pelo bullying. A vítima agressora faz valer os velhos ditos populares “Bateu, levou” ou “Tudo o que vem tem volta”. Ela reproduz os maus-tratos sofridos como forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e vulnerável, e comete contra esta todas as agressões sofridas. Isso aciona o efeito “cascata” ou círculo vicioso, que transforma o bullying em um problema de difícil controle e que ganha proporções infelizes de epidemia mundial de ameaça à saúde pública. (SILVA, 2010, 42). Segundo Silva (2010), os espectadores são os alunos que presenciam o acontecimento de bullying, porém não ficam ao lado da vítima defendendo-a, e também não alimentam as ações junto ao agressor. Dentre as diversas atitudes do espectador, pode-se classificar o mesmo três grupos diferentes. Fante; Pedra (2008) explica que os espectadores representam a maior parte de alunos de uma escola, eles não sofrem da violência e também não praticam, mas 21 presenciam as situações de bullying realizadas entre os agressores e vítimas, onde as atitudes de cada espectador são variadas. Existem os espectadores em que não apóiam os agressores, mas também não tomam atitude alguma para intervir nos constrangimentos em que as vítimas se encontram, outros espectadores estimulam as agressões dando risada diante das situações, deixando a entender que são a favor do agressor e suas atitudes de violência, e por fim temos os espectadores em que encenam um falso divertimento perante o sofrimento das vítimas, porém os espectadores desse grupo tomam atitude como uma maneira de se protegerem e não serem escolhidos como os próximos alvos de bullying pelos agressores. Para identificar os espectadores se faz necessário a observação constante sobre os mesmos, pois eles costumam ser discretos, não deixando claro que presenciam as ações de bullying. Grande parte dos espectadores se mantém calados, não intervindo nem contra e nem à favor diante do ato de sofrimento das vítimas. Mas existem os espectadores mais ansiosos, que costumam comentar histórias de bullying, e quando são interrogadas sobre a situação desconversam, negando qualquer envolvimento com o ato. Tendem, em ambos os ambientes (na escola e no lar), a se manter calados sobre o que sabem ou presenciam. Os mais ansiosos ou sensíveis contam casos e histórias de bullying, mas negam que sejam reflexo de sua vivência escolar. Quando indagados, disfarçam citando cenas de filmes, novelas, seriados ou histórias da internet como a origem principal de seus comentários. (SILVA, 2010, p. 51).Os espectadores são os alunos que são as testemunhas dos acontecimentos de violências causados pelo bullying, mas permanecem em seus respectivos lugares sem revidar, ou seja, não defendem a vítima, e não ajudam os agressores em seus atos contra seus alvos. O espectador passivo mantém-se em silêncio, pois assim como a vítima, o mesmo também é frágil psicologicamente, portanto tem receio de ser um alvo fácil para o agressor. Em geral, os espectadores passivos assumem essa postura por medo absoluto de se tornarem a próxima vítima. Recebem ameaças explícitas ou veladas do tipo: “Fique na sua, caso contrário a gente vai atrás de você”. Eles não concordam e até repelem as atitudes dos bullies; no entanto, ficam de mãos atadas para tomar qualquer atitude em defesa das vítimas. Nesse grupo encontram-se aqueles que, ao presenciarem cenas de violência ou que trazem embaraços aos colegas, estão propensos a sofrer as 22 conseqüências psíquicas, uma vez que suas estruturas psicológicas também são frágeis. (SILVA, 2010, p. 45 e 46). O avanço tecnológico da internet tem sido de grande contribuição para a vida humana, porém tem sido também um dos recursos usados pelos bullies para trazer sofrimento e constrangimento para suas vítimas na prática de bullying. Se antes havia pichações nos muros e banheiros da escola, com algo sempre ligado a intenção de ataque à vítima, hoje os bullies mudaram seus meios, mas a ideia e desejo de agressão a vítima continua sendo a mesma. O ato praticado pode ser através de a criação de uma conta falsa numa rede social (fake), onde através desse perfil falso o bullie que está por traz disso ataca a vítima sem exitar. Essa forma de bullying praticada é chamada de cyberbullying, e infelizmente vem ganhando espaço cada vez mais no mundo virtual. Hoje, os “lobos” mudaram os métodos, mas não as práticas. Abrem dolosamente, por exemplo, uma conta falsa (fake) no Orkut, MSN, Facebook, Myspace etc. e passam a espalhar e-mails difamatórios contra as vítimas com grande prejuízo para sua honra e integridade moral. (CALHAU, 2010, p. 59). Calhau (2010) ainda aborda que na vida real o bullying tem como ser detido e colocado um ponto final, já na internet não há fim, e fica no anonimato sempre, como uma sombra. Ainda que a tecnologia tenha tido um grande avanço, a investigação pelo poder jurídico em relação ao cyberbullying requer detalhes para se chegar ao bullie em que deu origem as agressões e assim poder tomar providências e cessar a violência. Um dos problemas no cyberbullying é a demora de sua apuração. Embora com a tecnologia atual, através do IP, seja possível identificar a conexão que originou a possível agressão, a demora na apuração desses crimes ainda é um complicador. Isso ocorre tendo em vista a falta de recursos materiais e humanos da polícia, que investiga quase todos os crimes somente com prova testemunhal. No caso do cyberbullying isso não funciona bem, é necessária a realização ainda da coleta de provas técnicas, através de perícias, que só poderão ser realizadas com a tomada de medidas judiciais prévias, tais como a busca e apreensão de computadores e celulares suspeitos. (CALHAU, 2010, p. 60). Calhau (2010, 62 e 63) em relação ao cyberbullying ainda afirma mais: 23 A “bofetada feliz” (happy slapping) é uma prática cruel de bullying (real) que se mistura ao cyberbullying (virtual). No entanto, os agressores atacam uma vítima com bofetadas sendo que um comparsa fica a uma pequena distância filmando as agressões com câmera de vídeo de um telefone celular. O vídeo com as agressões são imediatamente postados em redes sociais (ou enviados para telefones celulares) e visualizados por centenas ou milhares de pessoas em pouco tempo. Infelizmente, tem se tornado comum no Brasil também. Em relação ao comportamento do bullie, Santana (2013, p. 29) explica que: “[...] determinar com exatidão as causas do comportamento de um bully é algo muito complexo. Todavia, há estudos de antropólogos, filósofos, pedagogos e psicólogos que explicitam dados suficientes para conclusões lógicas [...]”. Guillain (2012) explica que a vítima de cyberbullying não se sente segura nem em sua própria casa, uma vez que as agressões causadas pelos bullies não é necessário ser exatamente na escola, mas podendo atingir as vítimas a qualquer hora, já que os ataques são feitas através do uso da internet. A autora Guillaiin (2012, p. 22) conta uma história verídica que aconteceu com uma adolescente de 13 anos: Megan Meier se suicidou aos 13 anos. Ela conheceu um garoto chamado Josh na rede social MySpace, Josh foi muito legal no começo, mas depois virou-se contra ela. Passou a postar mensagens ofensivas sobre ela, deixando-a extremamente infeliz. Depois da morte de Megan, descobriu-se que Josh nunca existira – tinha sido criado por uma família do bairro. Histórias trágicas como esta, mostram a que ponto o bullying na internet pode chegar. Segundo Silva (2010), o uso inadequado da internet tem levado muitos para um caminho de grandes problemas, onde pessoas inocentes acabam sendo culpadas. É o caso do cyberbullying, em muitos casos o e-mail particular da vítima chega a ser clonado pelos bullies, onde as mesmas passam a enviar mensagens pejorativas para outros colegas como se fosse a vítima o autor de todo o transtorno. Em outros casos os bullies criam perfis e páginas em redes sociais onde destacam suas vítimas de forma constrangedora, onde através desses meios os bullies falam e incentivam os internautas participantes daquela rede social a ajudá- los a deixar suas vítimas humilhadas e com baixa autoestima, criando páginas com algo relacionado a beleza física, como votações para saber quem é o mais esquisito 24 (a) daquela círculo de amizades, incluindo imagens em que de alguma forma ataquem a vítima psicológicamente. São através de atitudes assim que os bullies atingem suas vítimas de cyberbullying e consequentemente muitas vezes atingem também a família e amigos mais íntimos das vítimas. Os praticantes de cyberbullying participam, inclusive, de fóruns e livros de visitas virtuais para deixar mensagens depreciativas sobre o assunto em que questão ou opinar de forma inconveniente. Tudo para semear brigas, desordem e desentendimentos entre os participantes sérios e interessados. Promovem, ainda, votações em diversos sites para eleger os colegas que consideram mais esquisitos. Quando as vítimas se deparam com toda essa gama de maldades maquiavelicamente planejadas e executadas, seus nomes e imagens já se encontram divulgados em rede mundial. Não há qualquer possibilidade de sair ileso dessas situações. As conseqüências psicológicas para essas vítimas são incalculáveis e, muitas vezes, chegam a atingir seus familiares ou amigos mais próximos. (SILVA, 2010, p. 128). Em relação às atitudes tomadas pelos adultos ao redor da criança, deve-se ter bastante cautela, pois a criança tende a observar as ações dos adultos e tomá- las como exemplo, ou seja, a criança se espelha no adulto. [...] canções de ninar ou cantigas de roda como “Boi da cara preta”, “Atirei o pau no gato”, “O cravo brigou com a rosa”, “Nana nenê”, “Marcha soldado”, além de outras, assim como frases do tipo das que serão citadas a seguir; podendo criar nela sentimentos de medo de falta de amor; e transmitir conteúdo de violência. Eis as frases: Você precisa deixar de ser sem educação! Você não ama seus pais! Você tem tudo de mão beijada; eu não tive! Desse jeito, quem vai querer ser seu amigo? Sua turminha não lhe conhece! Você não aprende nada de bom! Assim, você não vai ser feliz, nunca!Por que você não é como o seu irmão? Homem que é homem não chora! Suma daqui ou lhe quebro a cara! (SANTANA, 2013, p. 30). Santana (2013) explica que a mídia impõe um padrão de beleza e é aceito com facilidade por muitos da sociedade, despertando em muitos sentimentos, como desejo de competição, ressentimento, domínio, inveja, preocupação com a própria imagem quando em seus primeiros laços familiares a pessoa sofre humilhações. Programas de televisão mostram na íntegra casos de violência verídicos, jogo de 25 vídeo game, armas de brinquedo, que colaboram com a estimulação de comportamentos agressivos na criança e adolescente. Calhau (2010) afirma que existe um jogo de vídeo game chamado Bully, seu procedimento é relatado dentro de um ambiente escolar, onde há cenas de violência, humilhação e provocações entre alunos e professores, quanto mais o jogador comete atos de bullying durante a partida do jogo mais ele avança. Como um meio de capitalismo, observa-se que as pessoas não se importam com o sofrimento em que podem ocasionar ao público, ficando claro que o jogo é uma porta aberta para estimulação de violência, porém o Ministério Público do Rio Grande do Sul conseguiu impedir a importação no Brasil do jogo Bully, onde a quebra de cumprimento das determinações judiciais acarreta em multa diária de R$ 1.000,00 por dia. O preconceito de raça, religião, desigualdade social e orientação sexual são alguns dos pontos principais em que ocasionam em atitudes de bullying. O desejo em competir, seja no ambiente de trabalho, escolar e/ou familiar são características de uma cultura onde ser o segundo colocado não é satisfatório, é necessário sempre ser o melhor. Como fatores causadores de bullying, podemos ainda citar as mudanças sociais, o apelo ao consumismo, a dificuldade de integração étnica, a desigualdade social, o preconceito de cor, raça e de religião, a homofobia, enfim, a não aceitação do ser diferente. A alta competitividade nos mais diversos setores da vida humana, como no trabalho, na família, na escola, numa cultura onde ser o segundo colocado, ser o vice-campeão, em uma competição, representa quase nada, pois a luta é sempre para ser o número um – o que fortalece a individualidade em detrimento do coletivo, podendo levar uma pessoa que já tenha tendência à prática de bullying a tentar buscar, a qualquer custo, sua autoafirmação. (SANTANA, 2013, p. 30 e 31). Outros fatores também são destacados para o compreendimento da causa em que crianças e adolescentes usam a agressividade, fatores esses como a falta de afetividade dos pais para com os filhos, que usam de violência psicológica e/ou física para deixar claro aos filhos que o poder da casa está sobre os pais, a ausência de regras, que está ligada muitas vezes ao excesso de afeto dos pais sobre a criança, a ausência de pontos positivos e a presença de pontos negativos. Somados às possíveis causas citadas, há outros aspectos evidenciados: uso de violência psicológica e/ou física de pais sobre filhos, para afirmar sua autoridade; exigência em demasia; ausência de limites, implicando a 26 permissividade, possivelmente devido ao excesso de ternura; impunidade; ausência de exemplos positivos; presença de exemplos negativos; omissão no seio da família; além de débito de afetividade no convívio familiar. (SANTANA, 2013, p. 31). Santana (2013) diz que é necessário ressaltar que apesar das diferenças entre as pessoas, sejam elas psicológicas, intelectuais, físicas, o respeito e a igualdade deve prevalecer entre a sociedade. Calhau (2010) explica que a mídia tem aumentado a exposição de notícias de violência, tais essas notícias existentes mostram acontecimentos dentro da escola, crianças e adolescentes como alvos de crime, gangues de jovens, pedofilia, etc. Esses noticiários têm sido comuns e causa de grande preocupação na população. Quando questionado o porquê da ocorrência do bullying, muitos dizem que a vítima que se deixa ser vencida pela ação é fraca, porém a própria sociedade é submissa aos padrões impostos pela mídia e ser diferente não se adequando aos padrões impostos não é bem visto pela própria sociedade em que se convive. São impostos padrões para a população em que chega a ser entendido por muitos que para ser aceito entre os demais é necessário estar dentro das comodidades em que são impostas, como consumismo de produtos caros, sem a intenção de ter algo de qualidade, apenas com o propósito de estar incluso nos padrões oferecidos por um modismo social. Lamentavelmente, ser honesto, para alguns, é sinônimo de fraqueza, porque para esses o “mundo é dos espertos”, numa total deterioração dos fundamentos éticos que devem dirigir as ações das pessoas. Ser diferente nessa sociedade individualista é um “pecado”. A ditadura do modismo impõe que nossas crianças e adolescentes, sem nenhum limite, consumam cada vez mais e comprem objetos semelhantes (de marcas famosas e caras), se vistam de forma similar e com produtos caros, sem se importarem com a questão social. Chego a dizer que, para muitas pessoas, ostentar, supera o desejo de consumir um produto de qualidade. (CALHAU, 2010, p. 4). Fromm (1987) explica que a situação problema não está em ter bens materiais, mas sim uma linha tênue que nos liga ao ser. As atitudes dessa cultura obtida pela sociedade deixam claro que o ser humano só é classificado como bom quando se tem e não pela essência daquilo que o mesmo é. 27 O mesmo autor ainda relata que não há problema em ter bens materiais, pois para vivência humana ter é necessário e devem ser desfrutados, mas infelizmente há pessoas que usam os mesmos para diminuir e atacar outras pessoas. 28 2. O BULLYING X ESCOLA O ensino no Brasil passa por uma fase muito difícil. Os atuais alunos não estão habituados a respeitar limites, e isso já começa em casa, onde alguns pais não fazem a sua parte. As crianças fazem o que querem, chegam à escola e reproduzem esses comportamentos. (CALHAU, 2010, p. 28 e 29). O mesmo autor afirma que atualmente o papel da escola não tem sido apenas o processo ensino/aprendizagem, mas também educar os alunos, papel esse que é um dever dos pais, porém muitos deles têm deixado nas mãos dos professores essa função. A violência dentro da escola tem aumentado, e um dos motivos tem sido a ausência de limites trazidos do ambiente familiar, onde consequentemente os professores vêem a situação como um desafio a ser driblado. Além de sobrecarregados pela omissão educacional de alguns pais, o sistema escolar enfrenta novos desafios, mais e mais funções para os professores, aumento da violência social e da provocada pelo bullying também. Menos diálogo, mais conflitos. Ser professor é cada vez mais difícil, pois se exige cada vez mais do profissional e pouco se fez na melhora de suas condições de trabalho. O bullying acaba sendo mais um problema, um círculo vicioso dentro do ambiente escolar, onde os agressores sempre tentam arrastar mais vítimas para o seu campo de ação. O problema cai quase sempre nas mãos dos professores. São eles que tomam contato primeiro com o problema, ora sendo procurados pelas vítimas, ora percebendo que um conflito está no ar. (CALHAU, 2010, p. 29). Quando falamos de leis uma grande parte dos cidadãos gostam de lembrar apenas de seus direitos e esquecem que também existem deveres e obrigações a serem cumpridas. Saímos de uma era onde o poder da ditadura dominava tudo ao redor, atualmente vivemos emum país democrata, porém democracia não está apenas ligada aos direitos, mas aos deveres, onde um deles é não causar danos prejudiciais a outras pessoas. Os problemas em relação aos limites estão ligados diretamente ao bullying. O que se observa é que os pais não tratam do assunto com os filhos em casa, passando esse dever que lhes cabe para a responsabilidade da escola, igreja, colegas do filho. Zagury (2014) relata que ensinar limite para os filhos requer um trabalho de diálogo e quando necessário a correção, porém muitos acreditam que essa correção causa traumas psicológicos nos filhos, e assim esse valor que é de extrema 29 importância no educar acabava ficando ausente. Sem conhecer seus limites não é possível respeitar seu próximo, e é preciso também deixar claro para a criança que ela poderá ter muitas coisas que deseja, porém nem tudo será no momento em que ela quer e outras coisas ela não chegará a ter. Calhau (2010) diz que no ambiente escolar, professores vivenciam a falta de limite dos alunos todos os dias, falta de educação e respeito muitas vezes através de brincadeiras que julgam ser saudáveis, quando na verdade estão agindo com falta de respeito com os demais colegas de sala e/ou professor, e quando se fala de falta de limite não está relacionado apenas às crianças e adolescentes, mas adultos e/ou adolescentes em universidades, ao receber uma nota ruim os mesmos se voltam contra o professor e em alguns casos chegam a realizar baixo assinado para mandar o professor embora daquela instituição, afirmando que o mesmo não tem competência para ensiná-los. A negação está presente no bullying de maneira que os agressores indagam que toda sua forma de violência é uma “zoação”, ou seja, a colocação verbal zoar é apenas uma maneira de ocultar todos os atos violentos que afetam o alvo e trazem transtornos ao ambiente escolar. O papel de ensinar para as crianças que existem limites pertencem aos pais, porém quando foge do controle dos mesmos, a educação das crianças deixa a desejar. Quando os pais não conseguem delimitar de forma clara as fronteiras entre o que se pode e o que não se pode fazer, eles se tornam incapazes de exercer uma ação educativa eficaz. Os pais podem até, de forma momentânea, obter um clima doméstico mais calmo e livre de conflitos diários. No entanto, isso impede o amadurecimento de seus filhos dentro dos processos evolutivos no verdadeiro diálogo, na responsabilização e na futura independência efetiva e financeira da família. (SILVA, 2010, 62). Quando a ausência de ensinamento de limites para as crianças existe, o resultado é filhos sem nenhuma noção de limite, despreparados para um futuro com desafios, e em casos mais graves os mesmos se tornam dependentes químicos. As pessoas em muitos casos omitem a agressão da criança, rebatem dizendo que com o tempo esse comportamento é deixado para trás, que não é uma atitude em que deve haver preocupação, pois são crianças e faz parte do temperamento ou fase em que a criança está vivendo. 30 Algumas pessoas ainda têm a impressão de que bullying é um comportamento normal e aceitável, que as crianças aprenderão quando crescerem. Elas dizem coisas como depois passa, é coisa de criança, ele é só esquentado, é só não dar bola que passa. Não passa (MOZ; ZAWADSKI, 2008, p. 79). Benjamin Spock (1960) relata a importância da presença de limites na vivência dos filhos, onde os pais devem ser firmes com os mesmos quando eles cometem algo que não está dentro dos limites impostos. Spock explica que a correção dos erros dos filhos é necessária na construção da educação. Nos dias presentes o que se observa é que os pais omitem os erros de seus filhos, e ainda afirmam que não contrariam os mesmos para evitar cortar laços familiares, que a rebeldia é consequência de sua fase de desenvolvimento, etc. Os pais, em sua grande maioria, agem desta forma sob a alegação de que não querem ferir a sensibilidade dos filhos ou para evitar desavenças familiares. Outros, ainda, assim o fazem como forma de compensar o período que estão distantes dos filhos por motivos profissionais. Por essa razão, passam a ser permissivos em excesso e as crianças ou adolescentes “pintam e bordam” sobre suas cabeças. O resultado dessa matemática (mais emocional do que racional) é que, desde muito cedo, as crianças se habituam a fazer tudo o que querem e impõem-se, de forma autoritária e tirana, perante os pais sobrecarregados e exaustos. Em função do sentimento de culpa que carregam por não acompanharem a vida dos filhos como deveriam, os pais cedem praticamente a todas as vontades deles e toleram quase tudo, inclusive posturas intoleráveis. (SILVA, 2010, p. 61). Silva (2010) explica que os pais tolerando quase todos os comportamentos dos filhos, até atitudes intoleráveis, fazem parecer que seu lar tem harmonia e tranquilidade, porém é um quadro falso, onde só aparenta, pois os pais estão submissos aos seus filhos e não os punem justamente por receio de causar o aumento da rebeldia dos mesmos e tornar o ambiente familiar ainda mais desagradável. Quando os pais não conseguem delimitar de forma clara as fronteiras entre o que se pode e o que não se pode fazer, eles se tornam incapazes de exercer uma ação educativa eficaz. Os pais podem até, de forma momentânea, obter um clima doméstico mais calmo e livre de conflitos diários. No entanto, isso impede o amadurecimento de seus filhos dentro dos processos evolutivos inerentes ao ser humano, o que desfavorece laços relacionais estruturados no verdadeiro diálogo, na responsabilização e na futura independência efetiva e financeira da família. (SILVA, 2010, p. 62). 31 Silva (2010) explica que os resultados de filhos que não se habituam aos limites são de estado crítico, os mesmos crescem sem se importarem com as regras sociais e as consequências de suas atitudes infratoras que podem afetar outras pessoas, onde as mesmas pagam sem merecer. A autora ainda afirma que existem escolas que sabendo das mudanças em todo o mundo estão à procura de uma reforma escolar, no objetivo de combater os desafios em que dia após dia aumentam. Individualmente falando, os jovens refletem no dia a dia a cultura na qual estão inseridos. Eles exprimem um comportamento repleto de elementos infantis, egocêntricos e transgressores, marcado por uma busca contínua e desenfreada de compensações e gratificações imediatas. (SILVA, 2010, p. 64). Os amigos ou o grupo pode ser um meio de influência para o indivíduo. Os pais e professores devem estar cientes de que as amizades podem influenciar de maneira tanto positiva como negativa. A partir disso é necessário observar toda a estrutura dessas amizades, desde seu linguajar, vestimenta, ideologias, entre outros aspectos, e só depois disso poder interferir nessa influência quando for negativa. Não são apenas amizades que causam influência de comportamento dos filhos ou alunos, mas também a televisão, internet, música, drogas, entre outras que podem fazer parte da cultura dos jovens. O aumento do comportamento agressivo entre os adolescentes é um dos fenômenos que mais preocupam e angustiam os pais e todos que, de forma direta ou indireta, lidam ou se ocupam com os jovens. A agressividade entre eles pode se manifestar das mais diversas formas, desde pequenos conflitos verbais entre indivíduos e/ou grupos até brigas físicas e violentas geradas pelas razões mais fúteis possíveis. São visíveis os abusos e as arbitrariedades dos “mais fortes” em relação aos mais frágeis, através de intimidações psicológicas e físicas, humilhações públicas, comentários maldosos,difamações, intrigas e até as mais variadas formas de violência propriamente dita. (SILVA, 2010, p. 66). Quando os jovens assumem sua real postura agressiva, fica fácil de identificá- los, bem como os mais frágeis que são afetados por esses agressores através das violências que os mesmos cometem contra os jovens mais sensíveis. As agressões na juventude são comuns, pois é nesse momento em que os jovens estão construindo uma identidade pessoal. É evidente que pela trajetória dessa busca por 32 sua identidade o indivíduo explore experiências novas e vivencie vários momentos tanto concretos como psicológicos. Temos que considerar que comportamentos agressivos do tipo transgressor são freqüentes na adolescência, afinal é nesse período da vida que nos lançamos no mundo em busca de nossa identidade. A adolescência pressupõe riscos, aventuras, inquietações, angústias, descobertas, irresponsabilidades pontuais, insensatez, paixões, emoções exacerbadas etc. Na maior parte das vezes, todas essas manifestações não são fruto de patologias de fundo psíquico individual ou sociofamiliar (apesar de a maioria das pessoas achar o contrário). Elas são, na maioria absoluta dos casos, manifestações exasperadas, ainda que disfuncionais e socialmente inaceitáveis, de jovens se lançando na busca de sua própria identidade. Em última instância, são as formas tortas e ineficazes de demonstrarem que existem e que valem alguma coisa para seus colegas, amigos, familiares e também para a sociedade. (SILVA, 2010, p. 67). Essa agressividade na juventude não permanece e não se torna uma característica de sua futura identidade, na maioria dos casos esse comportamento é passageiro e permanece apenas numa pequena fração, que continua a prevalecer atos de violência, desrespeito e imprudência. Se, de um lado, existem jovens que têm um comportamento muito agressivo e sérias dificuldades de adaptação às regras sociais, de outro há, também, aqueles que tendem a não se mostrar socialmente. Do ponto de vista psicológico, estes adolescentes possuem uma nítida tendência à introspecção; são personalidades inseguras, angustiadas e quase desprovidas de autoestima. Para eles, a vida social pode representar um verdadeiro martírio. (SILVA, 2010, p. 68). Silva (2010) relata que jovens sensíveis, com fragilidade psicológica e baixa autoestima, são ineptos diante das atitudes violentas físicas e/ou verbais dos agressores, por isso sofrem das mesmas e da incompreensão familiar. Esse cenário histórico em muitos casos termina em afastamento das pessoas ao seu redor, abatimento psíquico, e em casos mais graves podem chegar ao cenário de suicídio e homicídio. Os adultos podem intervir em casos como esse ficando atentos ao comportamento dos jovens, desenvolvendo um possível diálogo com os mesmos, tentando uma aproximação afetiva, participação em todo seu desenvolvimento tanto escolar como construção de identidade, orientando os jovens de forma que se crie um vínculo entre ambos e desde cedo estabelecer limites e regras a serem respeitadas. 33 A palavra afeto vem de “afetar”, de modificar através das emoções e dos sentimentos. Dessa forma, um trauma psicológico é capaz de deixar cicatrizes não só na “alma”, mas também em nosso cérebro. Dessa forma, situações positivas ou posturas transcendentes perante as mazelas vitais podem “tatuar” nossos cérebros com força e determinação, capazes de transformar as fragilidades de uma fase da vida em diferenças vitoriosas no futuro. (SILVA, 2010, p.74). Silva (2010) explica que todo ser humano tem suas habilidades em alguma área, um gênio físico pode ser bom em matemática, porém pode mostrar que deixa a desejar na área de comunicação (publicidade/marketing), e um publicitário o inverso dessa suposição. Ou seja, o ser humano nunca será perfeito, portanto não existem motivos para julgar uns aos outros, sempre haverá falhas e acertos, e sobre tudo somos todos diferentes. Podemos afirmar, então, que o nosso cérebro, além de ser a mais complexa e deslumbrante estrutura humana, é também o atestado vivo de que o preconceito e a intolerância com as diferenças são, sobretudo, uma estupidez científica, um atraso na nossa evolução como espécie, uma vez que esta só pode obter sucesso quando há solidariedade e colaboração entre todos os seres humanos. (SILVA, 2010, p. 75). É através desse conceito que podemos afirmar que o bullying é um ato que não deve ser tolerado, pois o ser humano tem valores culturais, sociais, morais e até científicos que não são iguais aos dos outros seres humanos, devido a fatores biológicos individuais. Silva (2010) relata que nós seres humanos sendo diferentes uns dos outros, podemos dizer que em relação ao bullying cada um tem um comportamento diferente. Alguns alvos procuram ajuda médica para uma melhora mental, no qual o deixe mais estruturado diante do sofrimento causado pelo bullying, melhora na autoestima e até relações sociais com outras pessoas ao seu redor. Existem também vítimas que através do bullying geram sentimentos de raiva, mágoa, mas transformam esses sentimentos em aprendizado, algumas frases definem exatamente a postura dessa vítima, como: “Aquilo que não me mata só me fortalece”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ou “O guerreiro está ferido, mas não está morto!”, de Ronaldo, o Fenômeno. Outras vítimas por sua vez carregam junto de si os traumas e frustrações em que o bullying as afetou quando criança e/ou jovem, levam para a fase adulta e se tornam pessoas ansiosas, depressivas, 34 inseguras ou até mesmo agressivas, e repetem toda a violência que um dia sofreu no ambiente escolar, usando seus familiares e/ou aqueles que convivem junto delas. Outras crianças e/ou jovens devido a violência que sofrem transmitidas pelo bullying, podem apresentar alguns transtornos como depressão, bulimia, anorexia, fobias, geralmente esses transtornos psiquiátricos são desenvolvidos nas crianças e/ou jovens que já possuem uma genética de fácil desenvolvimento para essas patologias. Algumas crianças já possuem todas essas características patológicas, como os de espectro autista, quando as mesmas sofrem bullying o que ocorre é a piora de desses transtornos. No sistema escolar, encontramos outro micromundo, uma subdivisão denominada universo dos estudantes. Infelizmente, em grande parte das escolas, sejam elas públicas ou particulares, deparamo-nos com uma hierarquia que quase reproduz os sistemas de castas das sociedades mais desiguais. No mundo dos estudantes, três classes costumam se distinguir de forma bem marcada: os populares, os neutros e os excluídos. (SILVA, 2010, p. 79). Silva (2010) explica que os alunos populares são aqueles que têm qualidades que são impostas pela própria sociedade, por isso são bem vindos pelos demais alunos da escola. Os meninos populares são os que têm uma boa aparência física, habilidade para esportes, corpo atlético, estão sempre acompanhados pela sua turma de amigos e são conhecidos também por suas muitas conquistas amorosas. As meninas populares são aquelas que possuem uma beleza padrão imposta pela sociedade, vestem roupas da moda, tem um bom relacionamento social com os meninos populares e são protegidas pelos mesmos. Os alunos neutros são os que por insegurança ou tentativa de se socializarem, tentam manter uma ligação com os populares, porém não são íntimos dos mesmos, e evitam o contato com os excluídos para não aborrecer os populares. Os alunos excluídos são os que não estão de acordo com o padrão estabelecido pela sociedade e pelo próprio ambiente escolar. Os pensamentos, vestimentas e comportamentosdesses alunos não são considerados bem vindos pelos padrões impostos, por isso são as vítimas preferidas dos bullies. Silva (2010) relata que não quer dizer que um popular sempre será um praticante de bullying, mas pela influência que ele exerce no seu grupo de amigos e até por ser querido por grande parte da escola, o mesmo pode praticar o bullying 35 através de suas ideias negativas que ele tem sobre os excluídos, deixando seu grupo de amizades contra as vítimas. Já aos excluídos cabe, quase automaticamente, exercer o papel de vítimas nesse cenário trágico que é o bullying escolar. Aqui entra uma questão, no mínimo, intrigante: ser diferente é sempre algo negativo? Definitivamente, não! Ser diferente pode representar um papel difícil de se exercer em uma sociedade que estimula e prega a massificação dos modos de vestir, agir e pensar. (SILVA, 2010, p. 80) Perante uma cultura imposta no ambiente escolar, onde quem se adapta ao estilo dessa cultura é bem vindo, pode-se afirmar que os alunos são manipulados para se adequar a esse padrão, comprando roupas da moda, ouvindo músicas de um nível baixo, possuem ideologias preconceituosas em relação aqueles que não se enturmam nesse padrão imposto pela sociedade e/ou ambiente escolar. Porém, ter um perfil diferente dos outros alunos na escola não quer dizer que o mesmo não possua habilidades, e que não possa ter sucesso na vida, nada é justificável para a exclusão desses alunos. No Brasil existe um Projeto de Lei (nº 350, de 2007) do deputado estadual Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), no qual o Poder Executivo fica autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas do estado de São Paulo. (SILVA, 2010, p. 119). Silva (2010) indaga que o poder político precisa tomar consciência dos perigos e danos em que a violência causada pelo fenômeno bullying traz. A elaboração de leis é uma providência em que precisa ser tomada, e junto com as campanhas de combate ao bullying será uma grande utilidade para esclarecer para crianças e jovens do ambiente escolar que o bullying não se trata de uma brincadeira da idade, mas uma violência em que pode afetar a vítima de uma forma tão profunda e levar de traumas psicológicos para o resto de sua vida e até mesmo suicídio. É preciso ainda reiterar a interferência drástica que o bullying produz no processo de aprendizagem e de socialização de nossas crianças e jovens. Para algumas vítimas, mesmo após a interrupção do bullying, as consequências advindas dessa violência tendem a propagar por toda uma existência, em decorrência das experiências traumáticas difíceis de serem removidas da memória. Em casos mais graves, quando a violência é intensa e contínua, a vítima pode chegar a cometer suicídio ou praticar atos 36 desesperados de heteroagressão e autoagressão (homicídio, seguido de suicídio). (SILVA, 2010, p. 156). Fante (2005) conta que existe um programa antibullying de sua autoria, o mesmo chama-se “Programa Educar para a Paz”, é uma ação brasileira que tem o objetivo de diagnosticar e prevenir o fenômeno bullying através de estratégias psicopedagógicas nas escolas. Silva (2010) afirma que as escolas no Brasil não estão totalmente estruturadas para lidarem com as ações e consequências causadas pelo bullying, o corpo docente não sabe em muitos casos como identificar e intervir, e essa situação crítica em que as escolas brasileiras enfrentam se dá pelo fato do despreparamento profissional, negação, comodidade, entre outros fatos. Calhau (2010) relata que segundo uma pesquisa realizada pela ONG PLAN, o método seguido pelas escolas tradicionais com o objetivo de punir o aluno em que quebra regras, que incluí a prática de bullying, é a suspensão da criança ou adolescente, ou reunião com pais junto ao corpo docente. Ficando claro que essa estratégia não é o suficiente para o corte de laços de violências causados pelo bullying. A pesquisa diz que as escolas brasileiras não têm métodos eficazes ao ponto de amenizar o fenômeno bullying, talvez essas medidas sirvam para casos de indisciplina na escola, mas não são suficientes quando se trata do bullying. Chalita (2007) diz que através de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), no estado do Rio de Janeiro, foram entrevistados 5.875 alunos de onze escolas do ensino de 5º ano à 8º ano, em relação ao bullying. No ato da entrevista houve uma porcentagem de 40,5% que revelaram terem envolvimento direto à atos de violência de bullying, onde as características que levavam aos alunos alvos da violência eram deficientes físicos, obesos e raça. No Brasil, não são incomuns casos de alunos que são flagrados dentro de escolas com armas de fogo. Em 2003, em Taiúva (SP), um ex-aluno voltou à escola e atirou em seis alunos e numa professora, que sobreviveram ao ataque. Era ex-obeso e vítima de bullying, e após o atentado, cometou suicídio. Em 2004, em Remanso (BA), um adolescente matou dois e feriu três, após sofrer humilhações (era também vítima de bullying). Em 2008, um adolescente de 17 anos no Rio de Janeiro morreu depois de ser espancado na escola, por conta de um corte de cabelo. Os alunos tinham por “brincadeira” dar socos em colegas o caso de novo corte de cabelo. Como a vítima não gostou e reagiu, mais de dez alunos o agrediram e ele morreu 37 quatro dias depois, tendo como causa da morte contusão no crânio. (CALHAU, 2010, p. 4). Assim como Chalita (2007), Calhau (2010) também relata uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), que tem como objetivo mostrar dentro do ambiente escolar os lugares comuns onde é praticado o bullying, os pontos escolares são: sala de aula (60,2%), recreio (16,1%), portão (15,9%) e corredores (7,8%). Essa pesquisa foi baseada nos estudos realizados pelo pesquisador Dan Olweus. Calhau (2010) conta que trabalhou como Promotor de Justiça em Itanhomi (MG), num determinado dia alguns pais achegaram até ele para se apresentar contra a Diretoria da Escola pública. Os pais afirmavam uma história em que os filhos quebraram os vidros da escola, mas que foi num ato de brincadeira e que queriam a punição da Diretoria da escola e professores. Calhau ao ouvir o relato dos pais, os aconselhou para que pagassem os vidros quebrados por seus filhos. Dentro desse contexto, fica nítido à que nível muitos pais chegaram à relação em educação de seus filhos, onde o ideal seria corrigi-los e fazê-los reconhecer seus erros, mas em vez disso os pais viram-se contra a escola e apóiam os atos de indisciplina dos jovens. Calhau (2010) relata que através de uma pesquisa também desenvolvida pela ABRAPIA, aponta que o bullying é mais frequente no Sudeste e Centro Oeste do Brasil, envolvendo adolescentes de idade entre 11 a 15 anos, porém no momento da entrevista quando lhes foi perguntado sobre o que os levam a sofrer ou praticar o bullying, os alunos tiveram dificuldade em explicar. Notamos que o bullying é uma realidade nas escolas e que a relação pais/filho poderia contribuir para a diminuição desse ato que pode acarretar consequências marcantes na vida de quem sofre o ato, conforme veremos a seguir. 2.2 CONSEQUÊNCIAS MARCANTES Fernanda, desde muito nova, apresentava problemas com relação a seu peso. No colégio, ela sempre recebia apelidos pejorativos do tipo “baleia”, “balofa”, “bola”, “elefante”. Tanto os meninos quanto as meninas a discriminavam por ser diferente do modelo “imposto”
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