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Crime Doenca ou Remedio? Analise do discurso de reportagens sobre o uso da maconha no Jornal Nacional e no Fantástico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA 
CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
 
ALANNA OLIVEIRA SANTOS 
 
 
 
 
CRIME, DOENÇA OU REMÉDIO? 
ANÁLISE DO DISCURSO DE REPORTAGENS SOBRE O USO DA 
MACONHA NO JORNAL NACIONAL E NO FANTÁSTICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cachoeira – BA 
2011 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA 
CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
 
ALANNA OLIVEIRA SANTOS 
 
 
 
 
CRIME, DOENÇA OU REMÉDIO ? 
ANÁLISE DO DISCURSO DE REPORTAGENS SOBRE O USO DA 
MACONHA NO JORNAL NACIONAL E NO FANTÁSTICO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito 
parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação 
Social habilitado em Jornalismo pela Universidade Federal do 
Recôncavo da Bahia 
 
 
 
ORIENTADOR: Prof.ª Dr. Gilmar Hermes 
 
 
 
 
Cachoeira – BA 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao 
passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo 
que veio antes e depois.” 
Walter Benjamim 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho as primeiras turmas do Centro de Arte, Humanidades e Letras, 
por encarar com coragem a missão de construir uma universidade. Foi essa coragem que 
me motivou a dar prosseguimento a esta pesquisa, ciente de que para alterar ou construir 
uma realidade é preciso agir sobre ela. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente aos meus pais, Helena e Jonas, por me possibilitarem a 
vivência e o aprendizado que a universidade oferece e por sempre aceitarem minhas escolhas, 
por mais estranhas que essas possam lhes parecer. Devo também muito a minha irmã, 
Arianne, que durante este tempo em que aqui estive foi para mim uma mãe, cuidando de mim 
e estando do meu lado, representando minha família. Ao meu orientador, Gilmar, agradeço 
mil vezes pela paciência, pela ajuda e pelas observações que muito contribuíram para o meu 
trabalho. 
Durante esses quatro anos e meio que passei nesta universidade pude vivenciar 
experiências maravilhosas, em contato com pessoas de diversos lugares, com visões de 
mundo diferentes e isso enriqueceu muito o meu aprendizado na universidade, que não 
aconteceu só na sala de aula ou através dos livros, mas também no contato direto com pessoas 
e ideias e que muito me transformou. No Cortiço Universitário constitui outra família, uma 
nova maneira de me relacionar com as pessoas, uma nova maneira de viver o mundo. 
Agradeço então aos integrantes desta comunidade alternativa, todos, dos moradores aos 
agregados, que me acompanharam durante esta jornada. São eles: Sarah, May, Thalita, 
Rodrigo, Larissa, Gustavo, Diego, Flávio, Mateus, Astrude, Zaine e, mais uma vez, minha 
irmã e seu marido, George. Além do C.U., sou grata a carruagem de Térpis e ao Coletivo 
Escritório, movimentos revolucionários do CAHL que muito me acrescentaram nos 
questionamentos sobre nossos valores, condutas e comportamentos. 
Meus agradecimentos também a todos os professores com quem tive aula. Quando 
cheguei aqui não tínhamos biblioteca, nem laboratórios. A nossa principal fonte de 
conhecimento foram vocês, que mesmo com a falta de estrutura da universidade realizaram 
um excelente trabalho. Nesses professores incluo os que ainda estão aqui e os muitos que 
foram embora, mas que, mesmo de passagem, deixaram suas marcas, um pouco de seu 
conhecimento, entre nós. Com tantos bons professores que tive acho uma lastima que, muitos 
deles, não vivenciem a realidade cotidiana das cidades de Cachoeira e São Félix. Duas belas 
cidades para as quais os conhecimentos desses professores podem propiciar grandes melhorias 
na educação e na qualidade de vida de quem é daqui. Agradeço então a essas cidades e a seu 
povo que aqui me acolheu. 
 
Agradeço também a toda minha turma, 2007.1, que muitas vezes confiou em mim e 
me apoiou como sua representante e que apesar das grandes diferenças de pontos de vista e de 
personalidade sempre me aceitou bem, percebendo o que há em mim atrás das aparências e 
estereótipos. Além de agradecer, peço também desculpa a vocês se nem sempre corresponder 
a vossas expectativas, mas as vezes a emoção e razão se confundem em mim de tal forma que 
não consigo fazer o que devo em detrimento do que acredito. 
Por ultimo, agradeço a todos que me incentivaram neste polêmico trabalho, vocês são 
responsáveis por eu levar esta ideia adiante. E aos que riram desta pesquisa também, por 
incentivar a superação, por provocar o meu desejo de provar que é possível e por me 
confirmar a necessidade e importância deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa tem como objetivo analisar os discursos sobre o uso da maconha 
presente nas matérias do Jornal Nacional e do Fantástico exibidas entre 2009 e 2011. E, 
através disso, perceber como a sociedade e a cultura dos jornalistas vão influenciar os 
discursos produzidos na notícia. É feita a ligação entre as relações históricas, sociais e os 
discursos produzidos, considerando o lugar de enunciação que a Rede Globo ocupa como 
importante meio de comunicação. Ao fazer a análise de produtos informativos, considero a 
relevância dos meios de comunicação na manutenção e transformação das relações sociais, 
procurando observar esse papel da imprensa nos casos analisados. 
 
Palavras chaves: Análise do Discurso, Telejornalismo, Maconha, Rede Globo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
FIGURA 1 – Comissão Latino Americana reunida, matéria de 20/02/2009, da 
matéria, 10‟‟ 67 
FIGURA 2 – Líderes da Comissão Latino Americana na reunião. 20/02/2009, 52‟‟ 67 
FIGURA 3 – Passagem do repórter André Luiz Azevedo na matéria de 20/02/2009, 
 22‟‟ 67 
FIGURA 4 – Mão segurando um cigarro de maconha, 38‟‟, matéria de 20/02/2009, 
 38‟‟ 68 
FIGURA 5 – Grande quantidade de maconha. matéria de 20/02/2009, 42‟‟ 68 
FIGURA 6 – Grande quantidade de cocaína. matéria de 20/02/2009, 43‟‟ 68 
FIGURA 7 – Plantação de maconha. matéria de 20/02/2009, 44‟‟ 68 
FIGURA 8 – Imagem de cocaína e caracteres ressaltando a fala do repórter. 
Matéria de 20/02/2009, 1‟38‟‟ 69 
FIGURA 9 – Policiais em ação. matéria de 20/02/2009, 1‟42‟‟ 69 
FIGURA 10 – Cigarro de maconha sendo preparado. matéria de 20/02/2009, 
1‟47‟‟ 69 
FIGURA 11– Ex usuária de maconha e cocaína. matéria de 20/02/2009, 2‟10‟‟ 71 
FIGURA 12 – Ex usuário de maconha. Matéria de 15/10/2009, 22‟‟ 72 
FIGURA 13 – Arte gráfica sobre os efeitos da maconha. Matéria de 15/10/2009, 
54‟‟ 73 
FIGURA 14 – Arte gráfica sobre a abstinência da maconha. Matéria de 15/10/2009, 
1‟10‟‟ 73 
FIGURA 15– Han Gotlib, paciente que sofre dor crônica e faz uso da maconha 
como medicamento. Matéria de 06/12/2009, 18‟‟ 77 
FIGURA 16 – cigarros de maconha entregues pelo médico ao paciente. 
Matéria de 06/12/2009, 32‟‟ 77 
FIGURA 17 – Paciente fumando maconha como medicamento. Matéria de 
06/12/2009, 41‟‟ 77 
FIGURA 18 – Primeira passagem dorepórter Ari Peixoto em frente ao hospital 
que receita maconha em Israel. Matéria de 06/12/2009, 49‟‟ 78 
FIGURA 19 – Médico que receita maconha. Matéria de 06/12/2009, 1‟02‟‟ 79 
FIGURA 20 – Han fumando o medicamento. Matéria de 06/12/2009, 1‟10‟‟ 79 
 
FIGURA 21 – Paciente fazendo uso da maconha. Matéria de 06/12/2009. 
1‟12‟‟ 79 
FIGURA 22 – Segunda passagem do repórter Ari Peixoto, em uma plantação 
legal de maconha em Israel. Matéria de 06/12/2009, 1‟35‟‟ 80 
FIGURA 23 – Médico responsável pelo tratamento a base de maconha. 
Matéria de 06/12/2009, 2‟10‟‟ 81 
FIGURA 24 – Arte gráfica com os efeitos da maconha durante a quimioterapia. 
Matéria de 06/12/2009, 2‟25‟‟ 81 
FIGURA 25 – Médico atendendo um paciente. Matéria de 06/12/2009, 2‟42‟‟ 81 
FIGURA 26 – Perna que o paciente perdeu. Matéria de 06/12/2009, 3‟39‟‟ 82 
FIGURA 27 – Plantação de maconha. Matéria de 06/12/2009, 3‟58‟‟ 83 
FIGURA 28 – Flor da maconha sendo separada das folhas. Matéria de 
06/12/2009, 4‟01‟‟ 83 
FIGURA 29 – Flores de maconha secando. Matéria de 06/12/2009, 
 4‟07‟‟ 83 
FIGURA 30 – Café que vende maconha a pacientes em Portland, nos Estado Unidos. 
 Matéria de 06/12/2009, 4‟30‟‟ 84 
FIGURA 31 – Pacientes no café onde podem consumir maconha. Matéria de 
 06/12/2009, 4‟32‟‟ 84 
FIGURA 32 – Acessórios para fumar maconha. Matéria de 06/12/2009, 
4‟37‟‟ 84 
FIGURA 33 – Jovem californiano a favor da legalização da maconha. Matéria 
de 02/11/2010, 58‟‟ 85 
FIGURA 34 – Plantação de maconha. Matéria de 02/11/2010, 1‟28‟‟ 86 
FIGURA 35 – Pessoas comercializando a maconha. Matéria de 02/11/2010, 
1‟36‟‟ 87 
FIGURA 36 – Jovens andando pelas ruas. Matéria de 02/11/2010, 1‟39‟‟ 87 
FIGURA 37 – Alguém fumando maconha. Matéria de 02/11/2010, 1‟41‟‟ 87 
FIGURA 38 – Mulher fumando maconha que representa as pessoas a favor 
da legalização. Matéria de 02/11/2010, 1‟44‟‟ 87 
FIGURA 39 – Maquinas com pacotes de cédulas que representam os bilhões 
em impostos. Matéria de 02/11/2010, 1‟46‟‟ 87 
FIGURA 40 – Professora em sala de aula, representa os investimentos em 
educação. Matéria de 02/11/2010, 1‟48‟‟ 88 
 
FIGURA 41 – Médica e paciente representando o dinheiro investido em saúde. 
Matéria de 02/11/2010, 1‟50‟‟ 88 
FIGURA 42 – Policiais na fronteira da Califórnia com o México. Matéria de 
02/11/2010, 1‟52‟‟ 88 
FIGURA 43 – Marcha da Maconha de São Paulo. Matéria de 21/05/2011.46‟‟ 90 
FIGURA 44 – Polícia lançando bombas nos manifestantes paulistas. Matéria de 
21/05/2011, 57‟‟ 90 
FIGURA 45 – Polícia prendendo um manifestante. Matéria de 21/05/2011, 
1‟02‟‟ 90 
FIGURA 46 – Manifestante provocando a polícia. Matéria de21/05/2011, 1‟09‟‟ 90 
FIGURA 47 – Manifestante da marcha da maconha de São Paulo. Matéria de 
29/05/2011, 10‟‟ 93 
FIGURA 48 – Polícia lançando bombas nos manifestante. Matéria de 
29/05/201, 18‟‟ 93 
FIGURA 49 – Manifestante da marcha da maconha. Matéria de 29/05/2011, 28‟‟ 93 
FIGURA 50 – Um dos cartazes da marcha da maconha. Matéria de 29/05/2011, 
31‟‟ 93 
FIGURA 51 – Animação do documentário Quebrando Tabu de dois garotos, 
traficantes, armados. Matéria de 29/05/2011. 1‟41‟‟ 95 
FIGURA 52 – Animação do documentário Quebrando Tabu de homem morto 
pelos traficantes. Matéria de 29/05/2011. 1‟55‟‟ 95 
 FIGURA 53 – Imagens do documentário Quebrando Tabu das armas apreendidas 
pela polícia. Matéria de 29/05/2011. 2‟01‟‟ 96 
FIGURA 54 – Imagens do documentário Quebrando Tabu das armas apreendidas 
pela polícia. Matéria de 29/05/2011. 2‟02‟‟ 96 
FIGURA 55 – Imagens do documentário Quebrando Tabu de arma apreendida pela 
polícia. Matéria de 29/05/2011. 2‟07‟‟ 96 
FIGURA 56 – Pessoas fumando maconha e dados sobre a quantidade de usuários 
da substância no Brasil. Matéria de 29/05/2011. 2‟26‟‟ 96 
FIGURA 57 – Maconha em laboratório de pesquisa. Matéria de 29/05/2011, 
2‟48‟‟ 98 
FIGURA 58 – Dependente de drogas sendo ajudado. Matéria de 29/05/2011, 
3‟17‟‟ 98 
 
 
FIGURA 59 – Arte gráfica com o ranking das drogas perigosas da revista Lancet. 
Matéria de 29/05/2011. 3‟34‟‟ 99 
FIGURA 60 – pessoas consumindo maconha. Matéria de 29/05/2011. 3‟ 50‟‟ 99 
FIGURA 61 – Caractéres chamando atenção para o fato de que regular não é 
legalizar. Matéria de 29/05/2011. 3‟58‟‟ 101 
FIGURA 62 – Imagens do documentário Quebrando Tabu de Fernando Henrique 
Cardoso indo a um café que vende maconha, na Holanda. Matéria 
de 29/05/2011. 4‟05‟‟ 101 
FIGURA 63 – Imagens do documentário Quebrando Tabu.Vendedor do café 
que vende maconha, na Holanda, atendendo um cliente. Matéria de 
29/05/2011. 4‟ 12‟‟ 101 
FIGURA 64 – Pessoas sendo revistadas pela polícia. Matéria de 29/05/2011, 
 5‟12‟‟ 102 
FIGURA 65 – Prisão. Matéria de 29/05/2011. 5‟17‟‟ 102 
FIGURA 66 – Imagens do documentário Quebrando Tabu. Jovens na escola. 
Matéria de 29/05/2011. 5‟49‟‟ 103 
FIGURA 67 – Alguém consumindo droga e o caracteres destacando a pergunta da 
repórter. Matéria de 29/05/2011. 6‟04‟‟ 104 
FIGURA 68 – Cracolândia e caracteres destacando as falas da repórter. 
Matéria de 29/05/2011. 6‟37‟‟ 104 
FIGURA 69 – Imagens do documentário Quebrando Tabu. Agulhas, seringas 106 
 limpas e heroína , fornecidas pelo governo aos dependentes. 
Matéria de 29/05/2011. 7‟19‟‟ 106 
FIGURA 70 – Dependente de heroína fazendo uso da droga e caracteres destacando a 
fala da repórter. Matéria de 29/05/2011. 7‟24‟‟ 106 
FIGURA 71 – Entrevista do documentário Quebrando Tabu. Paulo Coelho, escritor 
e ex usuário de drogas. Matéria de 29/05/2011. 7‟55‟‟ 107 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AD – Analise do Discurso 
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
EUA – Estados Unidos da América 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
FHC – Fernando Henrique Cardoso 
JN – Jornal Nacional 
NEIP – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos 
ONU – Organizações das Nações Unidas 
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PT – Partido dos Trabalhadores 
PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
RJ – Rio de Janeiro 
SP – São Paulo 
THC – Tetraidrocanabinol 
UFBA– Universidade Federal da Bahia 
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
USP – Universidade de São Paulo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO 14 
 
CAPÍTULO I - A Maconha 
 
1. 1. A maconha na história e no mundo 20 
 1. 2. A Maconha no Brasil 27 
 1.2.1. A luta pela descriminalização da maconha no Brasil 30 
 
CAPÍTULO II - O Jornalismo na TV: Informação, construção e poder 
 
2.1. O papel da imprensa 36
 2.1. 2. Construindo a realidade 38 
 2.1. 3. Sobre o que pensar e como pensar 43 
2.2.O Telejornalismo 45 
 2.2.1. A Rede Globo 49 
 2.3.2. O Jornal Nacional 51 
 2.2.3 Fantástico 53 
 
CAPÍTULO III - A Análise do discurso: O uso da maconha no JornalNacional 
 e no Fantástico 
 
 3.1. A Análise do discurso 57 
 3.2. Mídia e discurso 62 
3.3. O uso da maconha no Jornal Nacional e no Fantástico 63 
 3.3.1. Comissão Latino Americana sobre Drogas e Democracia 64 
 3.3.2. Efeitos da abstinência de maconha 69 
 3.3.3. Maconha Medicinal em Israel 73 
 3.3.4. Plebiscito na Califórnia sobre o uso recreativo da maconha 82 
 3.3.5. Marcha da maconha em São Paulo acaba em pancadaria 86 
 3.3.6. Fernando Henrique Cardoso e o documentário “Quebrando Tabus” 90 
3.4 Caminhos que levam ao mesmo lugar 105 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 109 
 
REFERÊNCIAS 114 
 
ANEXOS 129
14 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo desta pesquisa é compreender qual o discurso dos programas informativos 
da Rede Globo sobre o uso da maconha, analisar como seus textos são produzidos, e qual a 
importância deles serem feitos pela Rede Globo. 
Para isso utilizo como metodologia neste trabalho a Análise do Discurso francesa 
(AD), pretendendo observar como a Rede Globo utiliza a linguagem verbal e visual para 
produzir sentidos no que se refere à maconha, como estes sentidos produzidos estão 
diretamente ligados à realidade histórica e social, e se os atores sociais têm papel fundamental 
na manutenção ou não destes discursos. Já que é no discurso que a ideologia se materializa, 
será através da sua análise que buscarei compreender quais os sentidos que as reportagens do 
Jornal Nacional e do Fantástico atribuem à maconha. 
Busca-se entender também quais os contextos, tanto imediato, quanto histórico em que 
cada matéria analisada está inserida, e como esses contextos ajudam a compor o significado 
da notícia. Também faz parte do trabalho relacionar o discurso produzido nas matérias com 
outros discursos anteriores a elas, com os quais elas se cruzam, e que têm efeito sobre os 
sentidos que elas irão atribuir à maconha, os chamados interdiscursos. 
A escolha dos produtos a serem analisados foi feita primeiramente obedecendo à 
delimitação de procurar matérias sobre o uso da maconha que tenham sido veiculadas 
nacionalmente pela Rede Globo. Outras matérias relacionadas à maconha foram ao ar pela 
emissora durante este período que compreende os anos de 2009 à 2011. No entanto, estas 
matérias falavam da apreensão de grandes quantidades da droga, e não serão utilizados por 
não se enquadrarem no objetivo do trabalho, já que não se pretende verificar o discurso da 
emissora em relação ao tráfico, mas sim ao uso da maconha. 
Esta delimitação pareceu não ser suficiente, já que a emissora apresenta quatro 
telejornais diários, além de outros formatos de programas informativos. A maior parte dos 
produtos encontrados que tratavam da temática a ser analisada pertenciam a um telejornal 
diário, o Jornal Nacional, e a uma revista semanal, o Fantástico. Esses dois programas 
apresentam características diversas na construção das matérias, já que, por exemplo, o Jornal 
Nacional trata dos fatos importantes do dia, com matérias curtas e, via de regra, quentes e o 
Fantástico trata de temas atuais, que tenham ou não ligação com notícias recentes, com uma 
15 
 
 
possibilidade de uma maior exploração da temática, com mais tempo tanto para a produção 
das reportagens quanto para sua divulgação, explorando-se, neste caso, as matérias frias. 
Uma dificuldade que enfrentamos e que está diretamente ligada às escolhas das 
matérias é a obtenção das mesmas. Foi feita uma busca sobre conteúdos relacionados ao tema 
no site da emissora e no site de hospedagem de vídeos You Tube. No site da Globo foram 
encontradas 246 matérias sobre a maconha, no entanto quase que a totalidade tratava de 
apreensão de grandes quantidades da mesma, se enquadrando como tráfico. De todas as 
matérias disponibilizadas pelo site somente três tratavam do tema. Sendo, duas delas, notícias 
recentes exibidas no Jornal Nacional (JN). A primeira, de novembro de 2010 é sobre a 
votação para legalizar o uso da maconha na Califórnia
1
. A segunda aconteceu enquanto esta 
pesquisa estava em andamento,no período de maio de 2011, e é sobre a Marcha da Maconha 
que aconteceu em São Paulo e, segundo a chamada da matéria, “acabou em pancadaria”. A 
outra matéria encontrada na emissora é uma reportagem exibida no Fantástico após a 
manifestação na capital paulista, ainda no mês de maio. A reportagem fala sobre a marcha, 
mas centra-se, principalmente, no documentário produzido pelo ex-presidente, Fernando 
Henrique Cardoso, defendendo a descriminalização do uso de drogas e da regulamentação do 
uso da maconha. 
No You Tube ainda foi possível encontrar outros cinco produtos sobre o tema. Um 
deles, exibido no Globo Repórter em 2003, estava incompleta e não pode ser utilizado. Outros 
três foram veiculados pelos programas Jornal Nacional (JN) e Fantástico no período de 2008 
e 2009. A notícia exibida pelo JN é sobre uma declaração da Comissão Latino Americana 
sobre Drogas e Democracia, feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a favor da 
descriminalização da maconha. A outra é um quadro, comprado da BBC pelo Fantástico, em 
que especialistas vão tentar ajudar uma família que está tendo problemas por que o filho 
adolescente passou a fumar maconha. Muito embora o quadro utilize de vários recursos do 
jornalismo é um formato enquadrado na categoria entretenimento, portanto não será 
analisado. 
Ainda encontrou-se uma matéria exibida no Jornal Nacional, em 2009, que fala sobre 
a abstinência do uso da maconha. Por ultimo encontra-se uma matéria telejornalísticas sobre o 
uso medicinal da planta em Israel, exibida pelo programa Fantástico ainda em 2009. 
 
1
 Matéria muito semelhante foi exibida no mesmo dia pelo Jornal Hoje. Como a exibida no Jornal nacional era a 
mesma matéria exibida meio dia, só que atualizada, optei por analisar a veiculada no jornal noturno, por estar 
mais completa e por ser assistida por um público maior. 
16 
 
 
No total, constitui-se como objeto de análise desta pesquisa estas seis matérias 
telejornalísticas exibidas pelos dois programas da emissora. Para isso, como já foi dito, será 
utilizada a análise do discurso e a pesquisa será dividida em três capítulos e considerações 
finais. O primeiro tem como intenção situar historicamente o uso da maconha, sua aceitação 
no mundo e no Brasil no decorrer da história, até os dias atuais. É o levantamento e 
contextualização histórica e social necessária para aplicação da análise do discurso. 
Será traçado um panorama da utilização da maconha mundialmente, baseando-se 
principalmente no livro de Rowan Robinson O grande livro da Cannabis (1999). Logo após, 
nos aproximaremos do contexto social e histórico do uso da erva no Brasil e dos movimentos 
pela sua descriminalização. O livro Diamba Sarabamba (1986), organizado por AnthonyHenman será um dos principais alicerces desta reconstituição histórica, sendo ainda 
importantes neste capítulo a obra Drogas e Culturas: Novas perspectivas (2008), organizado 
por Beatriz Labate, Maurício Fiore e Edward MacRae entre outros. Muitas informações 
também foram retiradas de uma série de artigos produzidos pelo Núcleo de Estudos sobre 
substâncias psicoativas (NEIP) da UFBA. 
Vale destacar a contribuição dos artigos dos autores Luiz Mott (1986), Osvaldo Pessoa 
Junior (1986), Elisaldo Carline (1986), Henrique Carneiro (2010) e de Waleska Aureliano de 
Araújo (2004). Sites de organizações que lutam em defesa da legalização ou 
descriminalização da maconha ajudaram a compreender este processo na atualidade, as ações 
desses grupos e os progressos em pesquisas científicas. 
No segundo capítulo estudarei o lugar que a imprensa, em especial os telejornais, 
ocupa na sociedade, a importância do que ela diz, de como ela diz, o lugar da ideologia na 
imprensa, as forças que envolvem a composição da notícia. Todo o aparato teórico do 
jornalismo que permite compor o papel da Rede Globo na reprodução dos sentidos atribuídos 
a maconha ao longo dos tempos. 
Ao tentar desvendar estas questões me deparo com outras, que são essenciais para o 
desenvolvimento deste trabalho. Através das teorias do jornalismo, deve-se levar em conta as 
condições em que as notícias são produzidas, de forma que conduzirão a narrativa de acordo 
com constrangimentos organizacionais e técnicas de produção, condicionando o jornalismo a 
reproduzir determinados discursos em detrimento de outros. 
 Nessa busca pela compreensão do papel do jornalismo na sociedade e dos fatores que 
17 
 
 
regem a construção da notícia, serei guiada principalmente por algumas publicações de 
Nelson Traquina que me fornecerão o suporte teórico que será o alicerce de toda esta 
pesquisa, são elas Teorias Do Jornalismo Volume I (2005), Teorias Do Jornalismo Volume II 
(2005) e Estudo do jornalismo no século XX (2001). O percurso interpretativo na produção 
da notícia, de Josenildo Guerra (2008) e As notícias e seus efeitos (2000) e Teorias da notícia 
e do jornalismo(2002), ambos de Jorge Pedro Souza, também serão importantes para entender 
o pacto do jornalismo com o público e as forças que agem na construção da notícia. 
Ao me aprofundar nas teorias e práticas do telejornalismo encontrarei características 
que fazem deste meio peculiar e importante. Uma dessas características é a possibilidade do 
uso da imagem para compor a notícia. Possibilidade que geralmente se impõe como uma regra 
em que, muitas vezes, a imagem acaba sendo priorizada em detrimento da própria notícia. 
Será Guilherme Jorge de Rezende (2000), que apontará para a necessidade de equilibrar 
imagens e texto, de forma que uma não sobressaia a outra, mas ambos se complementem 
dando significado ao fato. A importância do texto como atribuidor dos sentidos à imagem é a 
principal contribuição deste autor para o entendimento do telejornalismo, além da importância 
do meio televisivo para a sociedade. 
Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima em Manual do Telejornalismo (2002), 
assim como Alfredo Eurico Vizeu Pereira Junior em Decidindo o que é notícia (2000), darão 
a noção de divisão hierárquica e de funções dentro do telejornal e, consequentemente, 
aprofundarão o conhecimento acerca das técnicas de elaboração da notícia, das relações entre 
os jornalistas e das forças organizacionais da profissão que irão contribuir na construção do 
discurso veiculado pela notícia. A constante preocupação dos jornalistas com a opinião dos 
seus próprios colegas fica evidente na leitura destes autores, além de outras questões como a 
autoridade que o jornalista assume, como pessoa pública, ao mostrar o seu rosto diariamente 
na TV. 
Após fazer as devidas considerações sobre o jornalismo e a televisão surge a 
necessidade de inserir a emissora estudada dentro deste contexto e, principalmente, os 
programas a serem analisados. Portanto um breve histórico da Rede Globo, com suas 
principais características como produtora e difusora de informação será realizado, apoiando-se 
principalmente no livro organizado por Valério Brittos e César Bolaño, Rede Globo: 40 anos 
de poder e hegemonia (2005), em que uma série de artigos faz um panorama sobre a chegada 
da Globo à situação de liderança em que se encontra desde meados da década de 70, bem 
18 
 
 
como a importância do telejornalismo para a consolidação da credibilidade da emissora. O 
livro de Sergio Mattos, intitulado A televisão no Brasil: 50 anos de historia (2000), ajudará a 
reconstruir a história da televisão brasileira e da Rede Globo. 
Os produtos a serem analisados neste trabalho são matérias exibidas nos programas 
Jornal Nacional e Fantástico que tratam do uso da maconha. Para tanto, se faz preciso uma 
definição dos gêneros e formatos dos programas televisivos utilizados neste trabalho, baseio-
me no livro de José Carlos Aronchi de Souza (2004) sobre a temática. Muito embora ele 
classifique a revista eletrônica Fantástico na categoria de entretenimento, diversas 
características e conteúdos do programa possuem um caráter informativo, como admite o 
próprio autor. Serão reportagens com conteúdo jornalístico que serão analisadas nesta 
pesquisa. 
Já feita uma definição dos gêneros e formatos dos programas e tendo em mente as 
devidas considerações do entrelaçamento entre entretenimento e informação, busco em 
seguida compreender as particularidades desses dois programas consagrados da televisão 
brasileira. Faço isso através da leitura dos trabalhos sobre o modo de endereçamento dos 
programas feito pelas pesquisadoras Luana Santana Gomes (2006) e Itania Maria Mota 
Gomes (2005), que através dessa metodologia, traçam um perfil dos programas Fantástico e 
Jornal Nacional, respectivamente. Destacando aspectos sobre mediador, a temática, a 
organização das editorias e a proximidade com a audiência, o pacto sobre o papel do 
jornalismo, o contexto comunicativo, os recursos técnicos a serviço do jornalismo, os recursos 
da linguagem televisiva, os formatos de apresentação da notícia, a relação com as fontes de 
informação e o texto verbal. 
Já tendo então o contexto sócio histórico e o lugar que a Rede Globo, e em especial 
seus telejornais, ocupa na sociedade brasileira e que vai compor os discursos a serem 
estudados, tratarei no ultimo capítulo da análise do discurso, finalizando com a aplicação 
metodológica na análise das matérias veiculadas sobre o uso de maconha. 
Após traçar este caminho para o entendimento da importância do jornalismo e do 
telejornalismo da Rede Globo, principalmente nos dois referidos programas, e já tendo feito 
uma revisão histórica sobre o uso da maconha, será a Análise do Discurso (AD) quem 
conduzirá o estudo dos produtos. Permitirá observar a relação do discurso com a história e 
com as relações sociais. Para compreender está complexa metodologia me apoio 
19 
 
 
principalmente no livro de Helena Nagamini Brandão, Introdução a Análise do Discurso 
(2004) e na obra de Eni Orlandi, Análise de Discurso, princípios e procedimento (2009). 
Ainda servirá para o entendimento da relação entre discurso e jornalismo o artigo de Marcia 
Benetti, O jornalismo como gênero discursivo (2007). Para compreender o conceito de 
ideologia, presente na metodologia adotada, ainda me utilizo da obra O que é ideologia 
(1981), de Marilena Chauí. 
Assim feito o caminho estará aberto para a compreensão e análise dos discursos dos 
programas escolhidos da Rede Globo sobre a maconha, buscando sempre perceber os jogos de 
forças que há na busca da reprodução dos discursos e relacionar a imprensa como uma 
importante armaneste jogo, onde agentes sociais sempre estão se movendo para se fazerem 
ouvir, para que seu discurso sobressaia aos demais, ou seja, vire notícia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
Capítulo I -– A Maconha 
 
Neste primeiro capítulo será tratado o uso da maconha através dos tempos, sua 
aceitação, a proibição, suas propriedades medicinais, têxteis e o uso recreativo e religioso. 
Terá enfoque especial o tratamento dado à erva no Brasil, onde uma série de artigos médicos e 
científicos, escritos a partir do ano de 1915, nos permitirá reconstituir os hábitos que vieram a 
estabelecer o uso da maconha na nossa cultura e também a sua estigmatização, as leis sobre 
seu consumo e os recentes movimentos pela sua descriminalização. 
São as fêmeas da planta Cannabis o que no Brasil chamamos de maconha. Essa planta 
possui três espécies, a indica, a sativa e a ruderalis, tendo concentração de mais de 400 mil 
substâncias químicas, das quais pelo menos 61 são únicas, chamadas de canabinóides. Elas se 
concentram principalmente nas flores da fêmea, e causam os efeitos psicoativos, sendo os 
principais deles o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol. Rafael Guimarães Santos (2009) 
identifica como efeitos da maconha, normalmente, a alteração da percepção temporal, 
aumento de sensibilidade, leve euforia e, algumas vezes, até alucinação, além das 
propriedades sedativas e ansiolíticas. A sua derivação macho não produz os efeitos 
psicoativos, no entanto sua fibra é muito útil na confecção de tecidos e papel. 
A planta pode ser quase que totalmente aproveitada, servindo seu caule e talos grossos 
na fabricação da fibra têxtil, a semente na produção de óleo e produtos cosméticos, além de 
ser muito rica em proteínas, as folhas servem tanto para a fabricação de cosméticos quanto 
para a de medicamentos, as flores são ricas nas substâncias psicoativas e medicinais. Ao todo 
a planta da cannabis é aproveitada na produção de biocombustível, roupas, sapatos, óleo, 
perfumes, cremes, ração para bichos, fibra na construção de casas e carros, remédio no 
tratamento de doenças como câncer, AIDS, glaucoma, esclerose múltipla, atuando também 
como anticonvulsivo, relaxante muscular e analgésico. (ROBINSON, 1999) 
 
1.1. A maconha na história e no mundo 
 
Ao longo da história a maconha foi usada como psicoativo pelos mais diversos povos, 
de acordo com sua cultura, sendo consumida de diversas formas: comida, bebida, usada em 
21 
 
 
infusões, fumada, cheirada, como incenso e até misturada a outras drogas como o ópio e o 
vinho. No entanto, seu uso não se restringiu apenas como substância capaz de alterar a 
percepção, mas também como medicamento, na produção têxtil e nas religiões como planta 
enteogenica, ou seja, é utilizada para obter efeitos xamânicos de aproximação ao divino. 
Conforme Rowan Robinson (1999), ela é originária da Ásia central, onde uma 
abundância de provas obtidas em sítios arqueológicos, em toda China, confirmam que o 
cultivo de cânhamo asiático existe desde os tempos pré-históricos. O seu uso medicinal está 
documentado na mais antiga farmacopeia existente, o Pen-Ts‟ao Ching, que foi reunida em 
2.000 a.C. e que o recomenda como analgésico, antiespasmódico, sedativo, contra dores 
menstruais, reumatismo, prisão de ventre e malária. 
 Na Índia, também por volta de 2000 a.C., os escritos Vedas recomendavam seu uso 
para obter saúde, longevidade e contato divino. O Bhang era preparado com a erva, e quem 
dele o tomasse estaria protegido contra o mal e livre dos pecados. Como medicamento, era 
utilizada no tratamento de diarreia, epilepsia, delírio, insanidade, cólica, reumatismo, gastrite, 
anorexia, náusea, febre, bronquite, diabetes, tuberculose e anemia. O uso somente para fins 
recreativos era comum. Em rituais religiosos é considerada a comida predileta do deus Shiva 
e, ainda hoje, é usada pelos homens santos devotos a ele para aproximar-se do divino, como 
aponta Rowan Robinson (1999) em O grande livro da Cannabis: 
 
O mais antigo indício específico de consumo de cânhamo para fins espirituais vem da 
Índia. Datado de cerca de 1400 a.C. e contendo material muito mais antigo, o texto 
religioso Athharva Veda menciona a erva sagrada “bangüê”, o meio pelo qual se dá a 
comunicação com Shiva, a divindade da iluminação espiritual da trindade hindu. 
(ROBINSON, 1999, p. 49) 
 
 
Na tradição budista Mahaiana, conta-se a história de que Buda viveu de uma semente 
de Cannabis por dia durante os seis anos de disciplina que antecederam sua iluminação. No 
Tibete, usa-se em cerimônias do budismo tântrico para obter melhor percepção e maior 
meditação. Ainda são encontradas referências ao seu uso religioso no zoroastrismo, judaísmo, 
taoísmo, xamanismo chinês, xintoísmo e rastafári. (ROBINSON, 1999) 
Entre os árabes o consumo da cannabis era comum e são eles os responsáveis por 
disseminar a planta por toda África e parte da Europa. O uso desta substância pelos 
mulçumanos, durante muito tempo, se deveu a sua não proibição pelo Alcorão, que proíbe o 
22 
 
 
álcool. No final da Idade Média, o haxixi (como é conhecido na região e em quase toda 
Europa) foi proibido pelos mulçumanos e só os sufis (dissidência da religião mulçumana) 
continuaram o seu uso. À época das Cruzadas, os católicos associavam o uso do haxixi pelos 
mulçumanos como responsável pela sua fúria, chamando-os de Hashashin, daí deriva a 
palavra assassino. 
Robinson, entre outros autores, afirma ter Heródoto falado de seu uso, pelos citas 
(outro povo importante responsável pela divulgação da cannabis na Europa) em cerimônias 
pós-funeral. Demócrito relatou sobre os efeitos do vinho tomado juntamente com a maconha, 
no entanto, os gregos e os romanos preferiam o uso do álcool para alterar o estado de 
consciência, limitando o uso da erva à produção têxtil. Na literatura seus efeitos foram citados 
em alguns livros como a “Ilíada”, “As mil e uma noites” e “O conde de Monte Cristo”. 
Rodrigues Dória, em 1915, faz uma retrospectiva dos mitos e histórias sobre o uso da 
maconha: 
 
(...) o famoso “remédio das mulheres” de Dióspolis, bem como o nepente de que fala 
Homero, e que Helena recebera de Polimnésio, era a Cannabis indica. Os cruzados 
viram os efeitos nos mulçumanos. Marco Pólo observou nas cortes orientais entre os 
emires e os sultões (DÓRIA, 1915, p. 26). 
 
 No Egito, o uso da planta aparece relacionado à construção das pirâmides, sua fibra 
era usada para fundir as pedras. Foi lá também que houve as primeiras tentativas de repressão 
ao uso, quando os sufis que utilizavam o haxixi para obter iluminação espiritual passaram a 
habitar o Cairo, disseminando o uso da substância. Logo as autoridades locais que não 
pertenciam ou compactuavam com aquela religião sentiram que a situação estava fora de 
controle e em 1378 os cultivadores da cannabis foram perseguidos, presos e executados, o 
que, no entanto, não conseguiu exterminar o seu uso. 
 Quando Napoleão Bonaparte chegou ao Egito, em 1798, vetou o uso do cânhamo. Esta 
parece ser a primeira lei de proibição da maconha, que ficou restrita ao Egito e não durou 
mais que o período em que Napoleão dominou a região. Não se sabe, porém se o motivo da 
lei se deve a algum problema com os usuários ou se a intenção era acabar com o comércio de 
cânhamo que abastecia a Inglaterra. 
23 
 
 
 No norte da África, onde se localizava Cartago, próximo onde hoje é a cidade de 
Túnis, encontraram-se vestígios do uso do cânhamo nos séculos III e II a.C. Em outras regiões 
do continente, como na costa da África Ocidental as fibras do cânhamo eram usadas para 
fazer cordas, para fins religiosos, medicinaise como preparados narcóticos para obter efeitos 
intoxicantes. “A erva é um sacramento e um remédio para os pigmeus, os zulus e os 46 
Hotentotes” (ROBINSON, 1999, p. 45) 
 Na Europa, durante a Idade Média, a maconha era pouco conhecida e o seu uso era 
reprimido pela igreja católica, por fazer parte do culto de outras religiões, quem a usasse 
poderia ser acusado de bruxaria e corria risco de morte. A Europa só passou mesmo a ter 
contato com os efeitos psicoativos da erva a partir do século XI, com as Cruzadas e a 
consequente troca cultural com os mulçumanos. Nos séculos posteriores eventos como as 
Grandes Navegações, que também marcaram o final do feudalismo, terminaram por 
disseminar a cannabis pelo mundo todo. 
 Logo os Europeus passam a aproveitá-la tanto na produção de tecido e cordas, através 
de suas fibras, quanto para obter os seus efeitos psicoativos. A Inglaterra observou seu uso na 
Índia, logo passando a produzir tecido com sua fibra, percebendo um lucrativo negócio que 
juntamente com a seda e o algodão passaram a constituir a rota de comércio têxtil que partia 
do Oriente. Rapidamente, Chile, México e Peru tiveram conhecimento da planta e dos seus 
poderes através dos espanhóis. 
 Ao chegarem aos Estados Unidos da America, na época de sua colonização, os 
ingleses logo cultivaram o cânhamo, e em 1629 já haviam se estabelecido pequenas 
manufaturas para a produção têxtil, inclusive com o apoio do governo que incentivava o 
plantio da cannabis. Com a Guerra Civil (1861-1865), a produção decaiu e quando ainda 
tentava se reerguer, em 1930, foi criada a Lei de taxação da Marihuana, acabando com a 
indústria do cânhamo no país, que já contava até com carro produzido com suas fibras e 
utilizando combustível de cânhamo, fabricado pela Ford Motor Company. (ROBINSON, 
1999) 
Elisaldo Carlini aponta que, no século XIX, tanto os ingleses quanto os norte-
americanos descobrem seus poderes medicinais, útil nos tratamentos de epilepsia, neuralgia, 
enxaqueca e como espasmolítico. Nesse período, passa então a ser citada em revistas médicas 
e a constar em livros de terapêutica e na “Farmacopéia americana, sob o título de Extrato 
24 
 
 
purificado de Hemp (...)” (CARLINI, 1981, p. 70). É também neste século que os norte 
americanos passam a utilizar a maconha para fins recreativos, consumindo-o muitas vezes 
como um doce. 
Já na França ela entra em moda entre os intelectuais como Rimbaud, Balzac, Gauthier 
e Baudelaire, os três últimos participavam do Clube dos Haxixis e transpunham suas 
experiências com a substância em suas produções artísticas literárias, exaltando os efeitos da 
erva, como fez Baudelaire na obra Paraísos Artificiais. No século seguinte, Walter Benjamin, 
Jack Kerouak, Allen Ginsberg e John Lennon, entre muitos outros, tornam-se também 
admiradores dos efeitos da planta, principalmente pelo seu poder de inspiração artística. 
Utilizada há muitos milênios, só nos dois últimos séculos o uso da maconha passou a 
ser visto como um problema, do qual se tornou necessário ter o controle iniciando-se o 
modelo repressivo que está em voga a te a atualidade. Os Estados Unidos, que na época de 
sua colonização se beneficiou das fibras do cânhamo na fabricação têxtil, se tornaram severos 
combatentes da droga. Em 1906, passa a ser necessária uma regulamentação sanitária da 
maconha e, em 1930, foi criada a primeira lei de taxação da mesma. 
 
(...) A partir do início do século XIX, centenas de “casas de haxixe” atendiam os ricos 
e sofisticados de Nova York e outras grandes cidades – mas o segredo era a regra. A 
Lei sobre drogas e alimentação de 1906 foi a primeira lei federal a tratar diretamente 
da cannabis, mas mesmo essa lei limitou-se a afirmar que qualquer quantidade dessa 
substância (e de várias outras como álcool, ópio, cocaína e hidrato de coral) devia ser 
claramente declarada no rótulo de qualquer alimento ou remédio vendido ao público. 
(ROBINSON, 1999, p. 89) 
 
Artigos eram divulgados na imprensa associando o uso da maconha a negros e 
mexicanos e à violência e à degeneração psíquica a que ela os levava. Os artigos eram 
produzidos quase sempre pelo secretário da Junta Federal de Controle de Narcóticos, Harry 
Aslinger, e divulgada pelos meios de comunicação comandados por William Randolph 
Hearst. O presidente Nixon é veemente ao falar da importância do grave problema e a 
necessidade de sua imediata resolução através da repressão ao seu consumo, como é possível 
observar neste trecho de uma mensagem ao congresso do dia 17 de junho de 1971: 
 
(...) se não pudermos destruir a ameaça das drogas nos Estados Unidos, ela irá 
certamente nos destruir... Hoje o tráfico de drogas é o inimigo público número um no 
interior dos Estados Unidos e devemos nos engajar numa ofensiva total, abrangendo 
25 
 
 
toda a nação, abrangendo todo o governo e, se posso dizer isto, abrangendo toda a 
mídia. (NIXON apud ROBINSON, 1999, p.101) 
 
Em alguns Estados, as leis foram se tornando mais severas em relação a algumas 
substâncias. A onda puritana que atingiu os Estados Unidos e começou com a Lei Seca, 
proibindo o uso do álcool em 1919, logo se estendeu a outras substâncias de efeitos 
psicoativos e que foram consideradas como “drogas”, diferenciando-as das outras “drogas” 
produzidas pela indústria farmacêutica, porque essas “drogas” eram legais, as outras ilegais. 
Em 1933, o uso do álcool volta a ser permitido, o que não acontece com as demais 
substâncias. Após a Segunda Guerra Mundial, com os Estados Unidos se estabelecendo como 
grande potência Mundial e com a criação das Organizações das Nações Unidas (ONU), o 
problema foi levado a conhecimento do mundo todo, assim como a sua solução: que todos os 
países do mundo entrassem em uma nova guerra, a guerra às drogas, que deveria ser feita com 
o apoio e participação de todo o mundo, as drogas classificadas como ilegais deveriam ser 
proibidas, seu uso combatido e até os estudos realizados com a planta deveriam ser 
encerrados. 
Na década de 60, os movimentos de contracultura, como os hippies e a geração beat, 
pregando uma nova maneira de pensar e de viver, rompendo com o conservadorismo, 
trouxeram mais uma vez a maconha para a cena mundial, agora como sinônimo de 
contestação e dos ideais do movimento hippie de paz e amor. Esses movimentos irão 
repercutir e influenciar as gerações jovens em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, 
onde jovens de classe média e alta passam a fazer uso da planta. 
Ainda assim, em 1961, as Nações Unidas realizaram a Convenção Internacional Única 
de Entorpecentes. Sob pressão dos EUA, aconselha aos países que interrompam as pesquisas 
com a planta e façam o que for necessário para acabar com o uso e o tráfico da cannabis o 
mais rápido possível. Thiago Rodrigues (2008) analisa as medidas adotadas pela ONU em 
relação às substâncias psicoativas. 
 
Esse padrão, em linhas gerais, poderia ser resumido como calcado na postura 
estadunidense de repressão e fiscalização máximos. Em outras palavras, as normas 
internacionais celebradas desde a Convenção Única da ONU sobre Drogas, de 1961, 
consagraram o proibicionismo como a forma de tratar o “tema das drogas psicoativas” 
no mundo. (RODRIGUES, 2008, p .98) 
 
26 
 
 
Com a eleição de Jimmy Carter para a presidência, em 1977, e a sua declaração 
pública favorável à descriminalização da maconha, iniciou-se uma nova política no 
tratamento dado a cannabis. No seu governo foram eliminadas as penas criminais pela posse 
de até 30 gramas de maconha. Em seguida, vários setores organizados passam a defender sua 
descriminalização, como a Ordem dos Advogados Americanos, a Associação Médica 
Americana e a AcademiaNacional de Ciências que divulgou um relatório que concluía que as 
leis contra maconha só “conduzem à criminalização de grande números de jovens 
americanos.” (Academia Nacional de Ciências, apud ROBINSON, 1999; p.112). Atualmente 
ela é descriminalizada em 14 estados, sendo o uso medicinal permitido. Mesmo assim, os 
EUA são o principal país que incentiva o combate internacional ao uso e tráfico dessa e de 
outras substâncias, a “guerra às drogas”. 
 A Holanda iniciou o processo de descriminalização que iria se suceder pela Europa a 
partir da década de 70. Em meados dos anos 90 começou a ser organizada a Marcha Mundial 
pela Regulamentação da Maconha em Nova York e, a partir daí, várias cidades em todo o 
mundo passaram a realizar passeatas contra as leis proibicionistas (site da Marcha Mundial da 
Maconha, 2011). Atualmente Portugal, Espanha, Itália, Dinamarca, Holanda, Suíça, Israel e 
Alemanha são exemplos de países onde o uso é tolerado e em alguns casos até 
descriminalizados, no entanto a produção e venda são considerados crimes nesses e nos 
demais países do mundo. A China ainda utiliza a cannabis na produção têxtil, mas proíbe seu 
uso como psicoativo. Na América Latina, a Argentina descriminalizou seu uso em 2010 e 
Chile e Colômbia, desde a década de 70, não punem quem é pego com pequenas quantidades 
de maconha, ou possua um pé em casa. 
 
Com a consolidação da Comunidade Européia, o consequente fortalecimento 
econômico e político dos seus países-membros pode prenunciar a possibilidade de 
uma contestação mais firme da hegemonia mundial da política americana em diversas 
esferas, inclusive no que tange à maneira de se fazer frente ao uso de substâncias 
ilícitas em geral e a canabis em especial. 
Neste sentido já se notam, em países daquele bloco, movimentos de maior tolerância 
em relação ao uso de produtos derivados dessa planta, tanto com a finalidade de 
alterar a consciência quanto para objetivos mais prosaicos tais como: a manufatura de 
tecidos, papel e a produção de óleo. (MACRAE & SIMÕES, 2000, p. 131) 
 
A cannabis foi levada, a partir dos mais diferentes trajetos, feitos por muitos povos, a 
todas as partes do mundo. Com o Brasil não foi diferente, tão logo sua descoberta havia 
acontecido e o cânhamo chega às terras brasileiras. As velas das caravelas portuguesas que 
27 
 
 
chegaram aqui, em 1500, eram produzidas com fibras de cânhamo. No entanto, foram os 
escravos africanos que trouxeram a planta e o hábito de usá-la para obter seus efeitos 
psicoativos e, é através da história deles, que se começa a contar a história do uso da maconha 
no Brasil. 
 
1.2. A Maconha no Brasil 
 
Embora os portugueses ao chegarem ao Brasil, em 1500, já tivessem conhecimento 
sobre a cannabis, é provável que ela tenha chegado aqui através dos escravos africanos. É o 
que indica, por exemplo, o uso das palavras: “maconha”, “diamba”, “liamba”, “riamba”, 
“cagonha”, “aliamba”, “bongo”, “ganja”, “gongo”, “marigonga”, “maruamba”, “namba” e 
“pango”, todas de origem africana, assim como a expressão fumo de Angola, que também 
designa a substância e claramente a associa ao país africano, que curiosamente também foi 
colonizado por portugueses. (MOTT, 1984, p.123) Outro indício da origem africana é o 
registro do seu uso em alguns cultos de origem africana desde 1906. Segundo Luiz Mott 
(1984), Gilberto Freyre acredita que o uso da maconha é um dos elementos culturais negros 
que resistiu a desafricanização no Brasil. 
Uma expressão comum no Sudeste do país no início do século XIX, “maconha em 
pito faz negro sem vergonha” (HENMAN, 1980, p. 101), mostra a associação direta entre o 
uso da erva e escravos. Este ditado também reflete a intolerância ao consumo da cannabis no 
sul do país, o que não se verifica no Nordeste, onde os senhores de engenho não impediram os 
escravos de cultivarem a planta. 
 
No Nordeste, nas terras de massapé, onde a monocultura açucareira lançou suas raízes 
absorventes e exclusivas, criando entre os homens e as coisas, uma distância de 
extremos – negros e brancos, senhores e escravos, casas grandes e senzalas -, a 
maconha se opôs, diametralmente, ao fundo. Maconha para negro escravo, tabaco para 
o senhor branco. 
Gilberto Freire vai ao ponto de afirmar que a diamba assegurava a estabilidade dos 
senhores, nos períodos de ociosidade, quando na época da pejar esfriava o fogo dos 
engenhos. Enquanto o branco enchia os dias vazios com charutos cheirosos, o negro 
fumava para os sonhos e o torpor da maconha, que o senhor deixava plantar e crescer, 
em meio aos canaviais. Parece que os senhores das culturas de café ou da mineração, 
em São Paulo e Minas, não tinham a mesma tolerância para o hábito eurofísico de 
seus escravos, sujeitos a um regime de trabalho mais duro e contínuo. “maconha em 
pito faz negro sem-vergonha” é um provérbio colhido em Minas Gerais, sem 
circulação nos engenhos do Nordeste. (MORENO, 1958, p. 56) 
 
28 
 
 
Paradoxalmente, os primeiros registros que se tem do uso da substância no país vem 
do Sudeste e não se trata de escravos ou negros libertos. A Inquisição, em 1749, já havia 
interrogado, em Minas Gerais, um músico, vindo da ilha de Açores, que declarou que ao 
fumar o pito de pango “(...) se deitou na cama com vários rapazes (...) e que foi no pecado da 
sodomia agente e paciente (...)” (SANTO OFÍCIO apud MOTT, p. 127). Carlota Joaquina, 
quando esteve no Rio de Janeiro (1808-1821), tomou diversas vezes um chá de “diamba do 
Amazonas”, preparado por um escravo. Mas mesmo o hábito da rainha portuguesa não 
impediu que em 1830 a Câmara Municipal do Rio de Janeiro criasse a primeira lei de 
proibição da maconha no Brasil: 
 
É proibida a venda e o uso do “Pito de Pango”, bem como a conservação dele em 
casas públicas: os contraventores serão multados, a saber, o vendedor em 20$000, e os 
escravos, e mais pessoas que dele usarem, em 3 dias de cadeia. (CÂMARA 
MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO apud DÓRIA, 1915, p. 38) 
 
O país de origem católica, em que a maioria das pessoas que usava a maconha até bem 
pouco tempo não era sequer considerada como cidadã, passou a marginalizar a diamba. Em 
1915, o Dr. Rodrigues Dória
2
 apresenta um artigo, no Segundo Congresso Científico Pan-
Americano em Washington D.C., em que alerta o mundo sobre os “efeitos e males” do vício 
da maconha e aconselha a sua proibição como solução para sua epidemia. O artigo de Dória 
afirma ainda que a planta é consumida majoritariamente por negros, pessoas pobres, 
prostitutas, tarados, analfabetos, trabalhadores rurais, soldados e nos candomblés, acusando a 
erva de provocar “delírio”, “loucura transitória”, tornando as pessoas que a usam “rixosos”, 
“agressivos”, capazes de praticar “violências e crimes” (DÓRIA, 1915, p. 29). Dória também 
conclui que a disseminação da cannabis entre os brancos é um dos “prejuízos” da escravidão. 
 
A raça preta, selvagem e ignorante, resistente, mas intemperante, se em determinadas 
circunstâncias prestou serviços aos brancos, seus irmão mais adiantados em 
civilização, dando-lhes, pelo seu trabalho corporal, fortuna e comodidades, estragando 
o robusto organismo no vício de fumar a erva maravilhosa, que, nos êxtases 
fantásticos, lhe faria rever talvez as areias ardentes e os desertos sem fim de sua 
adorada e saudosa pátria, inoculou também o mal nos que o afastaram da terra querida 
(...). (DÓRIA, 1915, p. 37) 
 
 
2
Professor de medicina pública da faculdade de direito da Bahia, Presidente da Faculdade de Medicina, 
Representante do Governo do Estado, da Faculdade de Direito, do Instituto Histórico e Geográfico, da Sociedade 
de Medicina Legal e Criminologiada Bahia no Segundo Congresso Científico Pan-Americano, reunido em 
Washington D.C., a 27 de dezembro de 1915. 
29 
 
 
A partir de então surgem outros artigos ligados à área de saúde pública, associando ao 
negro, a violência e o uso da maconha à delinquência, imbecilidade e até mesmo à morte, 
sempre retomando a necessidade de proibir o comércio e consumo da substância. A essas 
acusações também se unem outras de caráter moral, os fumadores da maconha são tachados 
como pervertidos sexuais, prostitutas, e gays que a usam para ludibriar os jovens e estimular o 
homossexualismo. Baseado nessas informações alarmantes, juntamente com discussões 
internacionais sobre o comércio de “entorpecentes”, em 1921, o decreto n° 4.294 passa a 
punir a venda de substâncias entorpecentes. O uso, no entanto, não é crime, e só passa a ser 
proibido onze anos depois, sendo diferenciado o usuário do traficante. 
Getulio Vargas, em 1938, lança o decreto lei que põe os usuários de tóxicos como 
doentes que necessitam de internação civil e interdição. Em seguida, o Código Penal de 1940 
determina novamente punição somente para o tráfico. É importante observar as várias 
mudanças na lei em um período de 17 anos, mostrando sempre dificuldade de se qualificar o 
usuário, ora identificando como criminoso, ora como doente, ora como cidadão são e idôneo. 
Na década seguinte, a imprensa passa a publicar notícias em que o uso da maconha 
esta associado à desordem e ao “desvio de caráter” dos fumantes, alertando a população 
contra o ato que induz ao banditismo, serviria para disseminar a representação que já havia se 
iniciado no início do século, marcando profundamente “o modo como as novas gerações 
seriam prevenidas, instruídas, ou, surpreendidas por seus familiares como consumidores de 
maconha”. (MACRAE & SIMÕES, 2000, p. 22) 
Nos anos 60 o uso da maconha passa a espalhar-se também pela classe média, 
principalmente entre jovens e intelectuais que buscavam um estilo de vida alternativo, em que 
pudessem ser livres para pensar o que quisessem, e experimentar outras formas de percepção. 
Este estilo de vida foi alvo dos interesses dos militares que governavam o país e tentavam 
impor uma conduta moral e intelectual. 
MacRae (2000) aponta que, como a oposição ao regime militar, feita pelos 
comunistas, era majoritariamente componente dos mesmos grupos dos usuários de maconha, 
os jovens e intelectuais, o regime militar associou diretamente uma coisa a outra, tornando a 
maconha também inimigo importante do Estado, por induzir à subversão. Assim, em 1968, 
ano em que se intensificou a repressão às tentativas de oposição ao governo, também se 
verifica um aumento na repressão ao uso da maconha com o Decreto Lei 385, que equipara o 
usuário de maconha ao traficante, sendo os dois passiveis da mesma pena que vária de cinco a 
30 
 
 
vinte anos de prisão. Com essa lei o tráfico passou a ser crime hediondo, não tendo, o 
acusado, direito de pagar fiança ou responder ao processo em liberdade. 
As classes média e alta também passaram a se preocupar diretamente com o problema, 
que agora atingia os seus filhos. Ao mesmo tempo em que esses usuários eram recriminados 
pela família, enfrentando velhos estigmas de “vagabundo”, esta também passou a defender 
um menor rigor nas penas sobre o seu uso, afinal os filhos da classe média, futuros médicos e 
empresários, não poderiam ser presos e punidos como os traficantes, pertencente às classes 
mais baixas. Assim, em 1976, a Lei 6.368/76 volta a diferenciar o traficante do usuário e os 
que fossem considerados dependentes não seriam presos. Os acusados pegos com maconha 
passaram a entregar laudos médicos que atestavam sua dependência e que passavam a 
aumentar as estatísticas de viciados na droga. Robinson relata que foi entre os anos de 70 e 80 
que houve uma maior divulgação na mídia sobre a maconha, já que várias personalidades 
foram apreendidas com a erva, como Paulo Ricardo, Lobão, Rita Lee, Gilberto Gil e o jogador 
de futebol Casagrande. 
Em agosto de 2006, a Lei 11.343 foi sancionada, nela o usuário de maconha é 
diferenciado do traficante, não vai preso e não é mais visto como um viciado. Porém continua 
sendo visto como um criminoso, sendo sua pena reduzida à prestação de serviço comunitário 
ou educativo e a decisão de enquadrar quem for pego como traficante ou usuário cabe a 
polícia. Está brecha acaba por incentivar a pratica de extorsão por parte dos policiais. 
Mas o fato de ela ter se disseminado entre os jovens de classe média, principalmente 
os universitários, foi decisivo para o inicio de um movimento pela descriminalização. Ele 
começa já no primeiro ano da década de 80, quando o país começava a passar pelo processo 
de reabertura política que marcava o início do fim da ditadura, e desponta dos meios 
acadêmicos, onde se dão os primeiros debates sobre a criminalização da maconha. 
 
1.2.1. A luta pela descriminalização da maconha no Brasil 
 
Em A Liberação da Maconha no Brasil, Osvaldo Pessoa Junior (1985) conta que a 
primeira mobilização em prol da descriminalização da maconha ocorreu em 1980, através de 
um debate realizado pela Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). Nele o 
31 
 
 
deputado estadual João Batista Breda, junto com outras personalidades do meio artístico 
como o poeta Jamil Haddad e o músico Jorge Mautner defendem a descriminalização da erva. 
No mesmo ano, em um Simpósio Psiquiátrico da UFRJ, o sociólogo Gilberto Velho e 
psiquiatras “levantaram argumentos médicos, éticos e sociais em favor da legalização do 
consumo da maconha”. (JUNIOR, 1985, p. 154) 
Evento semelhante a esse volta a acontecer em 82, lançando um Movimento pela 
Descriminalização da Maconha, organizado por estudantes da USP, da PUC-SP. Contou com 
a presença de políticos e pesquisadores como a candidata a vereadora Caterina Koltai (PT), do 
deputado Breda (PT), da candidata a deputada federal Ruth Escobar (PMDB), do 
psicofarmacólogo Elisaldo Carlini, do antropólogo Anthony Henman, a psicóloga Maria Rita 
Kehl e o advogado Alberto Toron. O movimento redigiu um Manifesto pela 
Descriminalização que defende uma reformulação nas leis e propõe a criação de uma 
assessoria jurídica em defesa do usuário e uma comissão cientifica de estudos 
interdisciplinares sobre a planta. 
Ainda em 82, no período das eleições, o músico Galvão, candidato a deputado na 
Bahia e Caterina Koltai a vereadora em São Paulo, levantaram a bandeira da 
descriminalização da maconha. Koltai chega a ser indiciada por defender o uso da planta, 
após ter panfletos de sua campanha proibidos de circular pelo Tribunal Regional Eleitoral. Só 
em 84, Caterina é absolvida, ano em que Beaco Vieira, candidato a deputado estadual, 
também respondeu processo por defender a legalização da maconha, sendo inocentado no 
mesmo ano. 
O grupo de São Paulo continua realizando debates e buscando organizar grupos de 
assessoria jurídica, de pesquisa cientifica e de mobilização pela descriminalização em 83. 
Enquanto no Rio de Janeiro um grupo intitulado de Maria Sabina organiza o 1° Simpósio 
Carioca sobre a Maconha, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Participou do 
debate o Juiz Álvaro Mayrink da Costa, que já havia dado o primeiro passo para a reflexão 
sobre a necessidade de revisão das leis, ao absolver, em 1980, um jovem indiciado por porte 
de cannabis, por considerar que: 
 
(...) a maconha já faz parte dos usos e costumes da sociedade de hoje: 80% dos jovens 
entre 19 e 23 anos já experimentaram. Considerar como crime esta prática atenta 
contra os direitos humanos e as garantias individuais. É uma herança nefasta do 
Estado totalitário. (MAYRINK apud ROBINSON, 1999,p.106) 
32 
 
 
 
O evento contou também com a presença do escritor Luiz Carlos Maciel, dos 
professores Antônio Serra, Mauro Sá Rego Costa, Gilberto Velho, Michel Misse, Yvonne 
Maggie, do médico homeopata Gervásio D‟Araújo, dos jornalistas Chico Jr. e Jorge Mourão, 
dos advogados Nilo Batista, Oswaldo Jr., Técio Lins e Silva e Lizt Vieira, deputado estadual 
pelo PT-RJ. Em 1985, os trabalhos apresentados no simpósio foram registrados no livro 
Maconha em Debate. 
A Associação Brasileira de Antropologia, numa atitude pioneira, divulga uma moção 
pela descriminalização da cannabis, em 1984, espalhando-a na universidade, e entre políticos 
e a polícia. Ao voltar do exílio, em 1986, Fernando Gabeira expõe sua opinião a favor da 
legalização da maconha e a inclui como ponto de sua campanha, no entanto, atualmente, 
Gabeira tem assumido uma postura mais conservadora sobre o tema. 
Em 1995, o Ministro da Justiça Nélson Jobim declarou publicamente ser favorável à 
descriminalização da maconha. No entanto, Pedro Santos Mundim observa que na década de 
90 é a banda carioca Planet Hemp que vai trazer o debate sobre a maconha novamente à tona, 
causando grande rebuliço na imprensa nacional. Revistas como Veja, IstoÉ e Época passaram 
a publicar mais matérias sobre o uso da maconha, chegando a entrevistar personalidades que 
defendem o seu consumo e a dar lugar de destaque ao assunto como a Veja Rio, de janeiro de 
1996, em que o tema é capa da revista. Com letras que defendem a legalização da erva, a 
banda Planet Hemp gerou polêmica, tendo shows cancelados, CDs apreendidos e chegando a 
ser presa por apologia em 1997. 
 
Muitas das letras do Planet trouxeram um esforço para se poder falar de maconha. É 
uma referência à liberdade de expressão demandada pelo grupo e uma rejeição à idéia 
de que as músicas da banda fariam apologia à droga. Isso pode ser notado sobretudo 
após os vários problemas que o grupo teve com a lei – encarados como censura –, 
depois do lançamento de “Usuário”. (MUNDIM, 2004, p 73) 
 
No início do século XXI é a Bahia que dá mais um passo nesta discussão. Com a 
criação do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP), a UFBA abre o 
espaço para uma discussão que gira não somente nos âmbitos médico legais, e assim como as 
iniciativas da PUC e UFRJ na década de 80, procura dar uma visão humanística ao tema das 
drogas. 
33 
 
 
Trabalhamos para ocupar cada vez mais espaço no debate público sobre o "problema 
das drogas", defendendo que as Ciências Humanas têm um papel fundamental neste 
cenário geralmente dominado por profissionais da área de saúde e por posições 
marcadas por um viés muitas vezes preconceituoso. Nossa abordagem no campo 
teórico não nos exime de reconhecer a necessária postura experimentalista e marca-se, 
principalmente, pela interdisciplinaridade de diversos saberes, seja entre os campos 
históricos, sociológicos e antropológicos, como no diálogo destes com a psicologia, a 
economia e com as artes ou ainda com o domínio mais geral da filosofia. Finalmente, 
como pesquisadores nos sentimos compelidos a tomar um posicionamento político e 
ético indispensável diante da questão das drogas na época em que vivemos, 
declarando-nos frontalmente opostos ao regime de proibicionismo vigente em escala 
internacional. (site: NEIP) 
 
Outros grupos de pesquisa no assunto se formaram. É o caso da Associação Brasileira 
Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas, assim como grupos de ativistas de redução de 
danos, contribuindo para a ampliação do debate. Um grande número de Organizações também 
são criadas com o intuito de promover o debate e lutar contra o proibicionismo, é o caso do 
Coletivo Princípio Ativo, do Growroom, Psicotrópicus, Dínamo e do Coletivo Marcha da 
Maconha Brasil, grupo que existe em diversos países e cujos principais objetivos são: 
 
Criar espaços onde indivíduos e instituições interessadas em debater a questão possam 
se articular e dialogar; Estimular reformas nas Leis e Políticas Públicas sobre a 
maconha e seus diversos usos; Ajudar a criar contextos sociais, políticos e culturais 
onde todos os cidadãos brasileiros possam se manifestar de forma livre e democrática 
a respeito das políticas e leis sobre drogas; Exigir formas de elaboração e aplicação 
dessas políticas e leis que sejam mais transparentes, justas, eficazes e pragmáticas, 
respeitando a cidadania e os Direitos Humanos. (Site: Marcha da Maconha no Brasil) 
 
Com as novas tecnologias e a possibilidade de divulgar as ideias em um canal livre, 
esses grupos passam a existir e se organizar também na internet, mantendo sites destinados 
aos usuários de maconha ou aos interessados no tema, através da divulgação de 
conhecimentos sobre a planta que antes eram limitados, fortalecem e fomentam o movimento 
pela sua descriminalização. A eles se unem outros usuários e militantes que, através de blogs 
e até redes sociais, passam a produzir informações a respeito da maconha destinadas aos 
usuários, é o caso dos blogs Hempadão e Ecologia Cognitiva, entre muitos outros que se 
encontram na rede atualmente. 
Em 2002, realiza-se a primeira Marcha da Maconha no Brasil, no Rio de Janeiro, 
movimento que volta a acontecer nos anos seguintes em Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre 
e São Paulo. No entanto, o movimento só vai se consolidar em 2006, quando o Coletivo da 
Marcha da Maconha no Brasil é criado e o evento se expande também a Curitiba e 
34 
 
 
Florianópolis. Porto Alegre, que participou da edição anterior, teve a marcha proibida em 
2007. Em 2008, o grupo tentou realizar a passeata em dez capitais brasileira (Cuiabá, 
Curitiba, Belo Horizonte, João Pessoa, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São 
Paulo), além da capital federal, Brasília. Mas, a marcha foi proibida nacionalmente, sendo 
realizada somente em Porto Alegre e Recife onde o grupo conseguiu um habeas corpus 
preventivo. 
Em 2009, o grupo novamente organizou a marcha, desta vez em 14 cidades, em 
algumas delas houve problemas com a Justiça, mas foram resolvidos e a marcha aconteceu, 
sendo que somente em duas delas o Ministério Público proibiu (São Paulo e João Pessoa). 
Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis, Natal, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro 
realizaram a marcha em 2010 sem problemas com a Justiça. Em Salvador e São Paulo ela foi 
novamente proibida, mas aconteceu mesmo assim, já em Fortaleza, os manifestantes não 
foram à rua com a proibição. A marcha, que acontece mundialmente no mês de maio, ocorreu, 
em 2011 nas capitais: Belo Horizonte, Rio de Janeiro,Vitória, São Paulo, Curitiba, Porto 
Alegre, Recife, Brasília, Florianópolis, Fortaleza, Natal, Salvador e ainda em quatro cidades 
do interior: Atibaia (SP), Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Campinas (SP). Em Recife, São Paulo, 
Salvador e Campinas a marcha foi proibida, mas ainda assim os manifestantes destas cidades 
foram às ruas, manifestando-se a favor da liberdade de expressão. (Site da MARCHA DA 
MACONHA NO BRASIL, 2011) 
Juntamente a esse movimento algumas figuras importantes na política nacional se 
uniram aos já militantes da causa, dentre eles vale destacar a participação do ex-presidente do 
Brasil, Fernando Henrique Cardoso, de Marta Suplicy, Paulo Teixeira, Sergio Cabral e dos 
ministros Carlos Minc, Tarso Genro, Juca Ferreira e Gilberto Gil. Outro elemento importante 
é a criação da Comissão Latino Americana Sobre Drogas e Democracia, da Comissão Global 
sobre Políticas de Drogas e da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia que reune 
políticos, intelectuais e especialistas nas áreas de saúde, direito, economia, finanças, 
jornalismo, segurança pública, ciência, religiões, artes, esportes e movimentossociais.
3
 Os 
estudos destes três grupos obtiveram conclusões semelhantes que podem ser observadas na 
conclusão do trabalho apresentado pela comissão brasileira: 
 
 
3
 Retirado da página do grupo na internet http://cbdd.org.br/pt/ 
35 
 
 
(...) alcançar um mundo sem drogas, como proclamado pela ONU em 1998, revelou-
se um objetivo ilusório. A produção e o consumo clandestinos mantêm-se apesar do 
imenso esforço repressivo. Além dos cultivos, uma nova geração de drogas sintéticas 
espalhou-se mundo afora. O estigma dificulta a prevenção e o tratamento, que são 
fundamentais. Contribui, na prática, para um afastamento de parcelas da juventude das 
instituições públicas. Os altos ganhos do negócio ilícito reforçam o crime organizado 
e a corrupção, gerando situações insustentáveis, no Brasil e internacionalmente. (Site 
da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, 2011) 
 
Vale notar a participação nas comissões nacional e latino americana, de João Roberto 
Marinho, vice-presidente editorial das Organizações Globo, responsável pelo direcionamento 
estratégico das empresas, pelas relações institucionais e pela sua orientação editorial. È 
também vice-presidente da Associação Nacional de Jornais e da Associação Brasileira de 
Rádios e Televisão. (site da COMISSÃO BRASILEIRA SOBRE DROGAS E 
DEMOCRACIA e da COMISSÃO LATINO AMERICANA SOBRE DROGAS E 
DEMOCRACIA, 2011) 
Pode-se notar, então, grandes mudanças históricas sobre o consumo da maconha que 
estão diretamente relacionadas como o modo pelo qual a sociedade encara este uso. A 
imprensa compõe um dos lugares de força na sociedade muito importante na legitimação de 
valores, normas de condutas, etc. Então, qual o papel da imprensa, notadamente da Rede 
Globo, na manutenção e na transformação desses discursos? Como o discurso que ela produz 
sobre o uso da cannabis está marcado pelos vários outros discursos construídos histórica e 
socialmente? Essas são as perguntas que este trabalho pretende responder e, para isso, 
também é necessário entender este novo campo que surge juntamente com o capitalismo: a 
imprensa, seu funcionamento e os seus profissionais. 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
Capítulo II - O Jornalismo na TV: Informação, construção e poder 
 
Neste capítulo serão abordados diversos aspectos do jornalismo, visando compreender 
qual o lugar de força que ele ocupa na sociedade e, a partir deste lugar, como ele é capaz de 
dizer às pessoas sobre o que pensar e como pensar e a sua responsabilidade na construção da 
realidade através das notícias. Será dado ênfase principalmente ao meio televisivo, já que é 
sobre ele que se desenvolve esta pesquisa e, em especial, a Rede Globo e aos produtos 
informativos veiculados nos programas Jornal Nacional e Fantástico que são o objeto deste 
estudo. 
 A importância deste capítulo é entender como se dá a construção da notícia, quais os 
valores utilizados nesta construção, como esses valores ajudam a manter ou modificar as 
representações construídas através da história e da própria mídia, e quais são as relações de 
poder dentro da própria instituição jornalística responsável por esses enquadramentos. Assim 
feito será possível compreender o lugar de força que a Rede Globo ocupa na sociedade e, 
consequentemente, o seu papel na construção das representações e dos estereótipos. 
 
2.1. O papel da imprensa 
 
O jornalismo, como conhecemos hoje, é uma atividade que surgiu no século XIX, 
ligada à teoria democrática e a um crescente interesse das pessoas de saberem o que estava 
acontecendo ao redor delas. Tendo essa função, o jornalismo logo passa a ser um negócio 
lucrativo. Como aponta Nelson Traquina (2005), ela deixa então de ser produto para 
manifestar uma posição política, e passa a procurar mostrar o que acontece de importante e 
interessante na cidade, no país e no mundo, resumindo, o jornalismo passa a vender a 
informação como um produto. 
Na busca pela informação, os jornalistas acabam por adquirir outro papel importante, 
assumindo uma dupla função de mostrar aos governantes as necessidades da população e de 
mostrar à sociedade as ações e irregularidades dos seus governantes. Passam, portanto, a 
prestar um serviço à sociedade. 
37 
 
 
 
(...) Segundo o historiador George Boyce, a imprensa atuaria como um elo 
indispensável entre opinião pública e as instituições governantes (Boyce, 1978:21). Os 
jornais eram vistos como um meio de exprimir as queixas e injustiças individuais e 
como uma forma de assegurar a proteção contra a tirania insensível. (TRAQUINA, 
2005, p. 47) 
 
Para diferenciar este novo jornalismo do jornalismo político opinativo que existia até 
então e para aproximar-se da informação, surgem valores que irão guiar a construção da 
notícia, são eles: verdade, independência e objetividade. Portanto a atividade jornalística 
preza pela busca da verdade, pela independência política ideológica e pela objetividade dos 
fatos. 
Esses valores são de extrema importância para o acordo tácito estabelecido entre os 
jornalistas e os consumidores da notícia. É acreditando no jornalismo como reflexo do real e 
na sua imparcialidade, que a sociedade passa a dar credibilidade a ele, encarando a notícia 
como a realidade transmutada para as páginas dos jornais, para o rádio ou para a televisão. 
(GUERRA, 2003) 
 Assim o jornalismo passa a ocupar um importante papel na sociedade, como mediador 
entre o poder público e a população e responsável por informar as pessoas sobre o que 
acontece. Essas pessoas acreditam que a notícia é um discurso verdadeiro devido ao 
compromisso ético de imparcialidade, objetividade e da busca pela verdade, estabelecido 
pelos meios em contrapartida a esta confiança depositada nos noticiários. (TRAQUINA, 
2005) (GUERRA, 2003) 
 O papel do jornalismo torna-se então relevante. Mas será que o jornalismo reflete 
mesmo a realidade? Percorrendo as teorias do jornalismo, é possível encontrar diferentes 
respostas para essa pergunta, de acordo com os períodos históricos e com a visão de cada 
grupo. Levaremos em consideração as teorias construcionistas, especialmente a teoria 
interacionista, que acredita que a notícia não é um reflexo do real, pois: 
 
(...) é impossível estabelecer uma distinção radical entre realidade e os media 
noticiosos que deve “refletir” essa realidade, porque as notícias ajudam a construir a 
própria realidade. Em segundo lugar, defende a posição de que a própria linguagem 
não pode funcionar como transmissora direta do significado inerente aos 
acontecimentos, porque a linguagem neutral é impossível. (TRAQUINA, 2005, p. 
168-169) 
 
38 
 
 
 
2.1.2. Construindo a realidade 
 
Dentro da perspectiva construcionista, encarando a notícia como uma construção da 
realidade, seremos guiados pela teoria interacionista, que enxerga, como sublinha Traquina, 
que a notícia constrói e não reflete a realidade, porque ela é “o resultado de processos 
complexos de interação social entre agentes sociais: os jornalistas e as fontes de informação; 
os jornalistas e a sociedade; os membros da comunidade profissional, dentro e fora da sua 
organização.” (TRAQUINA. 2005, p.173) 
Ao mesmo tempo em que as construções jornalísticas são influenciadas pelo meio 
sócio-histórico-cultural em que se encontram, o conteúdo das matérias sofre influências, 
principalmente, de forças organizacionais dentro da instituição jornalística. É através das 
rotinas estabelecidas que o jornalista será guiado na construção da realidade na notícia. É por 
exemplo, na escolha da fonte, ou no recorte de sua fala, que o jornalista atribui um

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