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Crise dos Paradigmas das Ciências Sociais

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Sociedade contemporânea e a crise dos paradigmas das ciências sociais 
Objetivos:
Em períodos históricos diferentes a sociedade capitalista vivenciou sucessivas crises, mais uma vez afirmamos que a crise faz parte da essência e da estrutura do modo capitalista de produção, dependendo dela para viver momentos de crescimento econômico. O momento da crise, todas as etapas vividas pelo capital e as relações econômicas compõem o que podemos denominar de ciclo econômico.
A crise pode ser associada a uma série de fatores, mesmo correspondendo ao movimento do capital, seus principais efeitos se concentram na condição de vida e possibilidades de consumo dos trabalhadores.
A crise pode ser detonada por incidente econômico ou político qualquer (a falência de uma grande empresa, um escândalo financeiro, a falta repentina de matéria prima essencial, a queda de um governo). Bruscamente, as operações comerciais se reduzem de forma dramática, as mercadorias não se vendem, a produção é enormemente diminuída ou até paralisada, preços e salários caem, empresas entram em quebra, o desemprego se generaliza e as camadas trabalhadoras padecem a pauperização absoluta (NETTO & BRAZ, 2006, p.159). 
Dadas as inúmeras crises, o modo capitalista de produção constituiu sua própria história, pois ele reflete e influencia o movimento da vida social, tendo seu próprio movimento. Daí se pode considerar que variando o momento histórico o capitalismo assume novas características, adequando-se às novas demandas do mercado e da sociedade. Isso ocorre porque os comportamentos, os gostos, as crenças, os valores dos indivíduos também se alteram, embora sejam constantemente influenciados pelas forças produtivas, as mudanças sociais também decorrem do ser social. 
As características no capitalismo se alteram em função da conjuntura, ou seja, o momento vivido pela sociedade vai se configurando como resultado de um processo marcado pela esfera econômica, mas também política, social e cultural. 
Por esse motivo o capitalismo não muda sozinho, sua reorganização acontece para equilibrar as forças produtivas a fim de garantir a acumulação do capital. Mas é importante salientar que as alterações do modo capitalista de produção não alcançam sua essência e sua estrutura, ou seja, ela acontece em meio as contradições geradas pela sua existência, bem como pelo consequente antagonismo de classe.
No entanto, as várias estratégias elaboradas pelos capitalistas com o intuito de manter o processo de acumulação do capital, ocasionaram no enfraquecimento das formas de organização dos trabalhadores e do domínio da força de trabalho, essa na segunda metade do século XX deixa de se configurar em obstáculo para o movimento do capital, embora mantida sua relação de dependência com o trabalho. 
As fases que marcam a história do modo capitalista de produção correspondem a: acumulação primitiva, capitalismo comercial ou mercantil, capitalismo concorrencial, fase do monopólio ou capital monopolista, capital financeiro ou estágio imperialista. A acumulação primitiva é considerada a fase anterior à vigência do modo capitalista de produção, caracterizando-se pela fase de transição, de preparação para sua implementação. Por exemplo, ainda sob o modo feudal de produção já existiam experiências de acumulação e a produção manufaturada, sinalizando seu esgotamento.
O capitalismo comercial ou mercantil corresponde à fase de transição do modo feudal para o capitalismo. Neste momento, a presença de um grupo de comerciantes foi decisiva para a formação da burguesia, bem como pela implantação da produção industrial.
A consolidação do modo capitalista de produção pode ser entendida como a fase do capitalismo concorrencial, abarcando o desenvolvimento urbano-industrial e as mudanças sociais e políticas que respaldaram as mudanças econômicas necessárias à existência de um modo de produção baseado na acumulação e na livre concorrência entre as empresas ou indústrias produtoras. Nesse movimento, as grandes empresas tinham condições de oferecer preços melhores no mercado de consumo, pressionando as empresas menores.
A tendência concorrencial do capitalismo o levou para sua fase monopolista, a fim de conquistar e manter melhor posição no mercado de consumo as grandes empresas buscavam dominar determinado setor da indústria, favorecendo o surgimento de indústrias especializadas como no setor alimentício, de higiene, de bebidas, de laticínios.
 A especialização e o monopólio de setores produtivos favoreceram a formação das grandes corporações que tinham cada vez mais condições de pressionar a massa de trabalhadores e a própria economia, levando ao aumento de capital desses grandes grupos e à nova tendência de acumulação de capital conhecida como sua fase financeira. Os grandes grupos empresariais ou industriais se fundiram aos bancos, resultando no estímulo às transações financeiras nas bolsas de valores. 
Tal movimento do capital permitiu a formação do imperialismo, pressionando cada vez mais a ampliação do mercado mundial, através do aumento do fluxo das exportações de mercadorias e até capitais, pensando nos investimentos e nas empresas multinacionais. A fase do imperialismo adentra o século XX, um momento histórico marcado por várias crises econômicas e políticas.
A segunda metade do século XX significou um período de questionamento da sociedade ocidental e, consequentemente, do modo capitalista de produção. Tal questionamento pode ser entendido a partir da realização do projeto de modernidade implementado desde o século XVIII e dele podemos elencar alguns aspectos relevantes para a questão da centralidade do trabalho: a relação entre consumo e força de trabalho; o papel do Estado nos momentos de crise; a organização dos trabalhadores; o desenvolvimento tecnológico e o cenário mundial, com ênfase nas relações e transações entre os diferentes países.
O consumo alimenta o movimento do capital, pois se as mercadorias são produzidas para a troca, só o consumo viabiliza sua acumulação. No entanto, o consumo é realizado por todos os indivíduos da sociedade, independente de sua condição socioeconômica, mas é claro que quanto maior o poder aquisitivo, maiores são as possibilidades de consumir e, esse é o problema. Os baixos salários também fazem parte do ciclo capitalista, restringindo as possibilidades de consumo dos trabalhadores, gerando um desequilíbrio do ciclo econômico, fazendo com que menos mercadorias sejam trocadas. Tal aspecto remete para a contradição da sociedade capitalista e vincula-se com o processo de alienação constituído nele, distanciando trabalhador e produto de seu trabalho, configurando-se em um dos fatores capazes de desencadear uma crise econômica.
O Estado moderno é instituído como o responsável por manter a ordem social e regular às questões legislativas e jurídicas, além de ter papel importante para garantir o processo de acumulação do capital, agindo como um regulador da economia, criando e estimulando estratégias capazes de levar ao aumento da produção econômica e às vezes respostas ao aumento do desemprego, principal efeito das crises do capitalismo. 
Os trabalhadores têm papel relevante no questionamento dos efeitos da contradição do modo capitalista de produção na vida em sociedade. A propósito, do ponto de vista da teoria social crítica, a transformação social que possibilitaria a superação de tal sociedade só seria viável através da mobilização e organização da massa de trabalhadores. Desta forma, o movimento de trabalhadores seria necessário para que saíssem da condição de classe em si, ou seja, um grupo social com lugar determinado na sociedade e exercitasse a condição de classe para si, capaz de dizerem o que pensam e o que querem para si, além de pressionarem o movimento das forças sociais a fim de realizarem suas reivindicações e seus interesses. 
A organização dos trabalhadores seria possível através do sindicato, essa seria a instituição capaz de representá-los por ser constituída pelos próprios trabalhadores. Por exemplo,na Europa do século XIX, as manifestações trabalhistas foram relevantes para a elaboração dos direitos e organização legislativa do trabalho. A regulamentação das relações de produção chegou ao Brasil apenas no século XX e o sindicato também teve aqui papel importante.
Outro exemplo de representação dos trabalhadores são os partidos políticos, historicamente posicionados como partidos de esquerda porque expressam demandas contrárias ao capital. Vale dizer que o partido da atual presidente do Brasil nasceu dessa condição. Porém, sindicatos e partidos representativos dos trabalhadores enfraqueceram como reflexo das mudanças ocorridas no mundo do trabalho decorrentes do movimento do capital e, portanto da prevalência das forças produtivas nas relações sociais. 
A garantia da prevalência do capital diante das várias relações constituídas na sociedade também alcançou o desenvolvimento técnico e científico da modernidade. Em alguns momentos a evolução do capitalismo se funde ao desenvolvimento técnico e científico, pois uma das consequências da revolução industrial foi a diversificação e fragmentação das áreas do saber.
Ao longo dos anos o conhecimento se tornou cada vez mais específico e a diversificação da produção depende, em várias circunstâncias, da realização e dos avanços das pesquisas científicas. 
O desenvolvimento e o investimento da indústria bélica durante o século XX é exemplo disso, a produção de armamento refinado não teria se realizado não fossem os vários estudos, as pesquisas tecnológicas. Ainda podemos pensar no exemplo da indústria farmacêutica, os novos medicamentos e as novas vacinas resultam de pesquisa científica. 
A tecnologia permite o aperfeiçoamento de linhas de produção, sendo utilizado como resposta às crises do capitalismo, resultando na diminuição de postos de trabalho, ocasionando a diminuição de trabalho vivo e o aumento de trabalho morto.
O trabalho vivo é aquele que decorre da força de trabalho humana, dependendo do esforço humano para se realizar. Em contrapartida, o trabalho morto é realizado pela máquina, pelo esforço indireto do ser humano, por isso se denomina por morto, pois o ser humano deixa de se objetivar nas mercadorias produzidas por robôs. 
A industrialização como forma de acumular capital foi importante para o fortalecimento do imperialismo entre as relações sociais de produção, mas ela não foi característica apenas da sociedade capitalista. A disputa pela hegemonia econômica e política é um dos fatores das crises ocorridas no século XX, sobretudo o confronto entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, representados por forças produtivas contrárias e por projetos de sociedade também contrários. 
Os Estados Unidos no século XX despontaram como principal país capitalista, defrontando-se com o modelo socialista de produção implementado pelos soviéticos, esse tinha vários problemas, mas historicamente se constituiu como ameaça à hegemonia imperialista americana.
No entanto, no final dos anos 1980 o modelo socialista soviético se enfraqueceu e não sobreviveu à profunda crise. O fim da Guerra Fria entre americanos e soviéticos, pressionou uma nova reconfiguração do mercado mundial, seguida de novas estratégias no cenário político e econômico mundiais.
No momento em que o capitalismo financeiro passa a se desenvolver, somado ao desenvolvimento tecnológico, às relações internacionais, ao papel do Estado respondendo às necessidades do movimento do capital para sua ampliação, o trabalho deixa de ter papel de destaque, pois emergem as grandes transações financeiras, o capital passa a ter a mundialização como desafio. 
As economias nacionais se reorganizam para responder à agenda econômica pautada pelos principais países capitalistas. Nesse movimento, a contradição entre capital e trabalho se mantém, mas a estreita relação entre trabalho e valor se fragiliza dada a reconfiguração das possibilidades de acumulação do capital.
A crise dos referenciais da teoria social moderna
O processo evolutivo de reprodução e acúmulo do capital teve seus reflexos nas condições socioeconômicas dos trabalhadores e, consequentemente na vida social como um todo. A sociedade tornou-se mais complexa, o principal motivo disso diz respeito à própria produção material da vida social, pois se as necessidades humanas resultam de um processo sociohistórico, a diversidade da produção estimula a ampliação daquilo que é necessário para uma pessoa sobreviver.
Vamos pensar nos dias de hoje: O que é necessário para que possamos garantir nossa sobrevivência? Precisamos de alimento, roupas, moradia, mas precisamos também do telefone celular, do computador, do acesso à Internet e assim, sucessivamente. 
Desta forma, as mudanças do mercado de consumo, a crescente desvalorização do trabalho na sociedade capitalista associado às formas de sociabilidade entre as pessoas, se apresentando, por exemplo, na reinvenção do dia a dia, nas diversas formas de ocupação dos espaços das cidades, sobretudo, os espaços urbanos, resultando na identificação e formação de grupos sociais para além das relações sociais de produção. Tal cenário torna-se objeto de dúvidas e interesse de pesquisadores e teóricos das ciências sociais. 
Nas últimas décadas do século XX emerge no contexto das ciências humanas um questionamento sobre a validade da teoria social moderna, enfatizando o suposto esgotamento das elaborações da teoria marxiana e dos autores marxistas. Além de indagações sobre as formas de viver em uma sociedade profundamente industrializada e urbanizada. Esse movimento resultou no que denominamos de crise dos paradigmas das ciências sociais.
Um paradigma refere-se a um referencial teórico, um conceito ou um conjunto de conceitos que caracterizam uma elaboração teórica. O paradigma é um pressuposto, um ponto de partida para compreender, por exemplo, a vida em sociedade. A noção de paradigma remete a um conjunto de ideias, elaborações teóricas e conceitos que orientam a produção de conhecimento.
Estudamos na Unidade I que as ciências sociais nasceram da necessidade de interpretar as transformações sociais ocasionadas com a formação da sociedade moderna. As relações sociais estabelecidas na cidade moderna, as formas de produção material da vida social e a centralidade do trabalho nortearam várias produções teóricas e por décadas foram consideradas o caminho para se chegar à compreensão da sociedade. 
Cabe ressaltar que a sociedade moderna se formou ligada ao trabalho como produtor de valor, o que justifica as teorias terem sido elaboradas circundando as relações sociais a partir da modernidade e do modo capitalista de produção. Nesta perspectiva, uma explicação teórica acerca de um problema, um fenômeno social passaria pela dimensão econômica ou pela forma de produção material da vida social e a teoria social crítica é o principal exemplo dessa característica.
A consolidação e o direcionamento do processo evolutivo capitalista contribuíram para que os teóricos considerassem que a vida em sociedade não seria mais suficientemente explicada pela produção material da vida social e, portanto, pelos dilemas e contradições presentes no movimento do modo capitalista de produção.
Nesse sentido, a sociologia deveria se propor outros temas de pesquisa, bem como outros métodos para chegar à interpretação da sociedade e à elaboração do conhecimento sociológico. As grandes explicações e generalizações da vida social já não corresponderiam às peculiaridades e complexidades do avanço da modernidade. 
Nesse debate de ideias, as noções de classe social, de materialidade da vida social, de relações de produção, do próprio trabalho em sua relação com a constituição do ser social, a centralidade do trabalho e sua ligação com a esfera econômica da vida social, alienação e consciência já não se encaixariam na fase final do século XX como conceitos explicativos da vida em sociedade.
Os vários teóricos pensavam que a teoria da sociedade poderia interpretar as formas de construção do cotidiano em detrimento dacomplexidade dos grandes centros urbano-industriais, da afirmação de identidade entre os vários grupos sociais presentes na vida em sociedade, a multiplicação dos movimentos sociais e a diversidade de interesses em decorrência do avanço da modernidade, a noção de indivíduo, a noção de ação social e as escolhas racionais realizadas pelos indivíduos.
Frente às peculiaridades do século XX, a realidade social e os fenômenos presentes nela seriam explicados por interpretações setorializadas, mais localizadas ou focadas naquele aspecto estudado. Por exemplo, o papel da mulher poderia ser entendido a partir das especificidades da realidade feminina, de suas demandas, suas diferenças em contraponto ao gênero masculino, além da emergência de sua valorização e reconhecimento na vida social.
A sociologia passa a propor como objeto de estudos outros temas além das questões que envolvem diretamente a produção e reprodução do capitalismo. A materialidade das relações sociais dá lugar às interpretações de como se processam e se formam as subjetividades humanas, aquilo que está presente na sociedade, influencia a cada um de nós, nossas escolhas, mas não necessariamente se apresenta de modo visível por esse motivo merece ser investigado, como nossas crenças ou os significados dados por nós àquilo que vivemos. 
Assim, o avanço da modernidade gera o confronto entre a objetivação material e a singularidade dos indivíduos ou dos grupos sociais, esse confronto passa a ser estudado pelas ciências sociais, em especial, pela sociologia. Essa área do saber coloca como desafio associar tarefas práticas com recursos teóricos com o intuito de dar voz aos diversos conflitos sociais estabelecidos na sociedade, ao movimento da cultura entendendo-a como produção dos grupos sociais presentes na sociedade.
Contudo, os avanços gerados pela modernidade e consolidação do modo capitalista de produção estimulam a reorganização social. As singularidades dos indivíduos ou dos grupos convivem com a universalidade, ou seja, com aquilo que nos faz seres sociais. Portanto, a validade das explicações teóricas sobre a vida em sociedade não está apenas nos conceitos utilizados ou elaborados, mas sim no esforço de relacionar e problematizar o passado e o presente, considerando a sociedade como resultado de um processo histórico contínuo. 
 A concepção de pós-modernidade
A crise dos paradigmas das ciências sociais refere-se à problematização do que se tornou a sociedade moderna ao longo dos três últimos séculos. Na aula anterior fizemos referência ao estágio avançado da modernidade, alguns autores das ciências sociais entendem tal estágio como outro período histórico da vida social, para eles todas as mudanças que envolvem a sociedade, seja a própria crise da centralidade do trabalho, as reconfigurações do modo capitalista de produção e o desdobramento das relações sociais para além do mundo trabalho são indícios do que consideram de pós-modernidade.
A defesa da modernidade ou da pós-modernidade pressupõe um debate de ideias e conceitos sobre a vida em sociedade, envolvendo a crise dos paradigmas, pois dependendo do referencial teórico assumido por um pesquisador seu posicionamento diante da composição da realidade social vai variar, ou seja, ele pode continuar prestando atenção na relação entre trabalho e valor ou trabalho e ser social, mas ele pode prestar atenção, ao invés disso, nas identidades estabelecidas entre os indivíduos de um determinado grupo, pode estudar como os indivíduos orientam suas ações a fim de garantirem seus interesses na vida social, entre outros objetos de estudo. Enfim, o importante é pensarmos que a definição do período histórico que vivemos vai variar dependendo da perspectiva teórica utilizada para interpretar a realidade.
No entanto, as duas noções sugerem certa confusão de entendimento, pois como os arranjos constituídos na vida social não são sempre lineares e previstos, o significado de cada um dos termos varia também de acordo com a opção pelo referencial teórico. 
De modo geral, a idéia de modernidade remete àquilo que é novo, ao moderno, ao atual, transportando essa idéia para a vida social, podemos pensar que os avanços e a complexidade constituída com o decorrer do tempo e da própria organização social em torno do modo capitalista de produção deixaram para trás aquele momento em que foram concebidos os ideais de modernidade, lá no século XVIII. Esse pensamento pode justificar a concepção de pós-modernidade no lugar de modernidade, mas se pensarmos que quando falamos de períodos históricos as mudanças sociais se tornam visíveis décadas, às vezes séculos depois, então podemos ponderar que estamos no curso do que é a modernidade, pois as esferas econômicas, políticas se reorganizaram, mas não se transformaram como na passagem do feudalismo para o capitalismo. 
A modernidade resulta de uma utopia, ou seja, de uma idealização, de um sonho de projeto societário, pensando por vários indivíduos ao mesmo tempo e orientado pelos princípios do exercício da racionalidade, da liberdade, do reconhecimento da igualdade entre os homens. Portanto, sua origem se deu na época do Iluminismo do século XVIII, esse momento correspondeu ao questionamento da ordem social, bem como elaboração de muitas ideias, em especial do ponto de vista das elaborações científicas. 
Desta forma, a pós-modernidade pode significar a idealização de um novo projeto societário e a própria crise dos paradigmas corresponde ao momento de transição de um período para outro. 
Nesse sentido, Harvey considera que no debate sobre a “cultura pós-moderna” ou sobre a “época pós-moderna” os termos pós-modernismo e modernismo sugerem confusão. No entanto, o elemento comum corresponde à afirmação de que ““pós-modernismo” representa alguma espécie de reação ao “modernismo” ou de afastamento dele” (HARVEY, 1992, p.19).
Portanto, se o moderno é tido associado às noções de progresso, racionalidade, universalidade; o pós-moderno corresponde a “fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais ou “totalizantes”” instituídos com o advento da modernidade. Ao mesmo tempo, o autor considera que a modernidade “não apenas envolve uma implacável ruptura com todas e quaisquer condições históricas precedentes, como é caracterizada por um interminável processo de rupturas e fragmentações internas inerentes” (HARVEY, 1992, p.19-22).
O desenvolvimento da modernidade representa as “qualidades universais, eternas e imutáveis de toda a humanidade”, o próprio trabalho teria sido considerado como parte desse processo, entendendo como necessário para alcançar o progresso da sociedade e a liberdade humana. Pois,
A idéia era usar o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do enriquecimento da vida diária. O domínio científico da natureza prometia liberdade de escassez, da necessidade e da arbitrariedade das calamidades naturais. O desenvolvimento de formas racionais de organização social e de modos racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do mito, da religião, da superstição, libertação do uso arbitrário do poder, bem como do lado sombrio da nossa própria natureza humana (HARVEY, 1992, p.23).
Harvey esclarece que “o pensamento iluminista abraçou a idéia do progresso e buscou ativamente a ruptura com a história e a tradição esposada pela modernidade”. Portanto, pode ser considerada como um “movimento secular que procurou desmistificar e dessacralizar o conhecimento e a organização social para libertar os seres humanos” (HARVEY, 1992, p.23). 
No entanto, alguns acontecimentos históricos do século XX, sobretudo os que envolvem o uso da violência, geraram pessimismo em relação aos princípios da modernidade, esse projeto societário teria se voltado contra si mesmo, através da prática da violência. A defesa e a busca pela emancipação humana teria se transformado em um “sistema de opressão universal em nome da libertação humana” (HARVEY,1992, p23).
As idéias iluministas se desenvolveram a partir da crença da “existência de uma única resposta possível a qualquer pergunta”, tomando a racionalidade como princípio formador e organizador, pressupondo um “único modo correto de representação que caso pudesse ser descoberto, forneceria os meios para os fins iluministas”, ou seja, para o progresso de sociedade e, com isso, para a constituição de uma sociedade pautada em relações igualitárias (HARVEY, 1992, p.36).
Segundo Giddens, modernidade “refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII”, tornando-se mais ou menos mundiais em sua influência, estando associada a um “período de tempo e a uma localização geográfica inicial”. Desse modo, modernidade refere-se às “transformações institucionais que têm suas origens no Ocidente” (GIDDENS, 1991, p.11/173).
Tais transformações institucionais alcançaram a esfera econômica, política e social da vida em sociedade, a mudança ocorrida se refletiu na organização da economia e nas relações de produção, na forma de governar a sociedade e na elaboração dos direitos, a formação das grandes cidades foi possível em decorrência dessas transformações e, com isso, a ampliação das relações sociais reordenando a ideia do que é público e do que é privado.
Para o autor atualmente vivenciamos um período de “alta modernidade”, a análise da modernidade remete para a sua própria natureza, considerando que “em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes” (GIDDENS, 1991:12/ 13). 
Destaca ainda que Pós-modernismo se refere a “estilos ou movimentos no interior da literatura, artes plásticas e arquitetura”, correspondendo a “aspectos da reflexão estética sobre a natureza da modernidade”. Pós-modernidade corresponde, então, a um “novo e diferente tipo de ordem social”. O termo tem mais de um significado, “descobrimos que nada pode ser conhecido com alguma certeza, desde que todos os “fundamentos” preexistentes sejam questionados, debatidos e uma versão de “progresso” não pode ser amplamente defendida. Uma “nova agenda social e política” com a presença de preocupações e mobilizações em defesa da ecologia e de outras questões que possibilitam a existência de movimentos sociais sem realizarem reivindicações em torno do trabalho (GIDDENS, 1991, p.52-53).
Para o autor “os modos de vida produzidos pela modernidade nos desvencilharam de todos os tipos tradicionais de ordem social, de uma maneira que não tem precedentes”. Considera também que as descontinuidades separam as instituições sociais modernas das ordens sociais tradicionais. A rapidez do ritmo de mudança associado ao desenvolvimento tecnológico, permitindo a interconexão das diversas partes do globo que acontece com o desenvolvimento da sociedade moderna (GIDDENS, 1991, p.14-16).
Assim, a concepção de pós-modernismo seria uma reação conceitual, teórica ao que a modernidade teria efetivado no curso da vida social, pois o mesmo está pautado na “idéia de que todos os grupos têm o direito de falar por si mesmos, com sua própria voz, e de ter aceita essa voz como autêntica e legítima”. A noção de pluralidade está presente na concepção da pós-modernidade, denotando contraposição aos ideais que sustentaram o desenvolvimento do projeto da modernidade, pois as várias vozes da sociedade podem confrontar o princípio de universalidade com a defesa da singularidade dos grupos sociais (HARVEY, 1992, p.52).
É difícil precisar se a atual realidade social expressa um projeto societário baseado nos princípios da modernidade ou se estamos caminhando para sua superação. Nesse cenário, o mais importante é poder perceber que o momento histórico de hoje não é propriamente igual ao do século XVIII, muitas coisas se alteraram, mas tantas outras permanecem ainda que aparentemente com uma nova lógica, com um novo movimento. A vida em sociedade varia no tempo e no espaço e as relações sociais constituídas entre os indivíduos refletem essas variações, resultando em uma infinidade de vínculos que podem ser estabelecidos e firmados no curso do processo histórico. 
Tempo, espaço e vida social.
A sociedade moderna foi concebida e gestada a partir da organização social que a antecedeu, pode ser entendida como capítulos da história da humanidade, tal fator nos remete de imediato para as noções de tempo e espaço.
Tempo e espaço podem ser consideradas “categorias básicas da existência humana”. Tomando como referência a sociedade moderna, pode-se perceber que “muitos sentidos distintos de tempo se entrecruzam”, onde os ciclos da vida social devem seguramente possibilitar o progresso da sociedade, afinal esse é o propósito da modernidade (HARVEY, 1992, p.187). 
As duas noções são tratadas como fatos da natureza; sendo o espaço ““naturalizado” através da atribuição de sentidos cotidianos comuns”, sendo utilizado por um mesmo grupo social ou ainda por vários grupos sociais. Além disso, é “tratado tipicamente como um atributo objetivo das coisas que pode ser medido e, portanto, apreendido”, ou seja, as concepções de espaço, bem como suas formas de ocupação podem variar de grupos para grupos ou de sociedades para sociedades (HARVEY, 1992, p.188).
As concepções de tempo e espaço são criações decorrentes das “práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social”, tais noções parecem contrárias ao caráter de universalidade da modernidade:
Sob a superfície de ideias de senso comum e aparentemente “naturais” acerca do tempo e do espaço, ocultam-se territórios de ambigüidade, de contradição e de luta. Os conflitos surgem não apenas de apreciações subjetivas admitidamente diversas, mas porque diferentes qualidades materiais objetivas do tempo e do espaço são consideradas relevantes para a vida social em diferentes situações (HARVEY, 1992, p.189/ 190).
Podemos considerar que as diversidades e as desigualdades sociais são processadas e realizadas no tempo e no espaço. Assim, variam as formas de produção material da vida social e a formação de identidade de vários grupos presentes na sociedade como a mulher, o negro, o jovem, o desempregado e tantos outros.
No entanto, o “progresso é objeto teórico” da teoria social, “o tempo histórico, sua dimensão primária”, de tal modo ao progresso corresponde a “conquista do espaço, a derrubada de todas as barreiras espaciais e a “aniquilação [ última ] do espaço através do tempo”” (HARVEY, 1992, p.190). 
Tal concepção é relevante para compreender a ausência de barreiras espaciais ocasionadas pelo desenvolvimento tecnológico, a utilização da rede de relações e das mídias sociais são exemplos emblemáticos e resultam desse esforço para alcançar o progresso e superar a barreira espacial.
A modernidade, na concepção de Giddens, arranca de forma crescente “o espaço do tempo fomentando relações entre outros “ausentes”, localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face”. Nesse contexto, “o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles” (GIDDENS,1991, p.27).
Ao lado da concepção de pluralidade, emerge no debate sobre a pós-modernidade o traço impessoal que marcam a ocupação de vários espaços construídos como decorrência da alta modernidade. Tais espaços são denominados de não-lugares, por se caracterizarem como espaços de circulação de grande número de pessoas são as áreas coletivas, mas nem todos os indivíduos se vinculam a ele, na correria para vencer o tempo, várias pessoas passam por esses não-lugares, eles são os caixas eletrônicos, as praças de alimentação, os terminais de transporte público, os shoppings e outros ainda.
Contudo, a separação entre tempo e espaço é importante para o “dinamismo da modernidade”, pois “as instituições desencaixadas” ampliam o próprio “distanciamento tempo-espaço” de maneira diferentedas sociedades tradicionais ou pré-modernas, a relação entre tempo e espaço é profundamente alterada na modernidade e precisa ser assim para que aconteça a conexão entre o geral e o particular, os espaços locais com o espaço global.
Ela proporciona os mecanismos de engrenagem para aquele traço distintivo da vida social moderna, a organização racionalizada [...] As organizações modernas são capazes de conectar o local e o global de formas que seriam impensáveis em sociedades mais tradicionais, e, assim fazendo, afetam rotineiramente a vida de milhões de pessoas. A historicidade radical associada à modernidade depende de modos de “inserção” no tempo e no espaço que não eram disponíveis para as civilizações precedentes (GIDDENS, 1991, p.28).
Na relação entre o local e o global, o desencaixe ou o deslocamento das instituições modernas as relações sociais se ampliam e a sociedade moderna indica o domínio da cultura ocidental, organizada pelo modo capitalista de produção e pelos princípios de universalidade, liberdade e racionalidade entram em crise.
O declínio do controle ocidental é resultado do impacto das instituições modernas representativas do poder econômico, político e militar ocidentais capazes de alcançar e influenciar instituições não ocidentais de outras partes do globo. Afinal, a sociedade moderna é “altamente globalizante” (GIDDENS, 1991, p.57/69).
O atual processo de globalização se coloca na lógica do distanciamento entre tempo e espaço, pois as relações e os contextos sociais podem ser conectados e alongados para todo o globo. 
A noção de globalização pode ser entendida como “a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes” aproximando acontecimentos locais diferentes, de diferentes regiões. Em outras palavras, é uma conseqüência fundamental da sociedade moderna, caracterizando-se como um “processo de desenvolvimento desigual que tanto fragmenta quanto coordena - introduz novas formas de interdependência mundial” (GIDDENS, 1991, p.70/174). 
Portanto a crise da centralidade do trabalho e o entendimento das relações sociais a partir de outras perspectivas de análise refletem uma organização social vinculada às formas de diminuir ou ampliar as possibilidades de deslocamento para, assim, redimensionar as relações sociais em todas as esferas da vida social. Tal processo corresponde à globalização ou à mundialização da produção material da vida social. 
Globalização e sociedade da informação
O processo de globalização é algo que está presente na vida em sociedade e nos afeta cotidianamente. Para Milton Santos, geógrafo brasileiro já falecido, o processo de colonização correspondeu à uma primeira globalização.
Mas, afinal do que se trata a globalização?
Em linhas gerais, podemos considerar que se trata de uma reorganização das relações sociais, ou seja, das formas de produção material dos indivíduos, das relações internações, das formas de exercer o poder, das formas dos indivíduos desenvolverem suas sociabilidades e do movimento formador de cultura. Contudo, deduzimos que a globalização alcança todas as esferas da vida social: a econômica, a social, a política e a cultura, representando um momento da história da humanidade em que prevalece o desenvolvimento tecnológico, seu avanço é responsável por facilitar a comunicação e isso aconteceu através da ampliação das telecomunicações, com destaque à telefonia e à informática.
A partir do reconhecimento de que a globalização faz parte das relações e transações socioeconômicas e políticas, o atual processo de globalização viabilizou a ascensão da informação como referência para as relações sociais, pois de algum modo, nos dias de hoje, tendemos a buscar constantemente os canais ou os espaços de informação, seja entre as nossas relações pessoais ou entre as nossas relações profissionais.
A internet é o principal exemplo de canal e espaço de informação por permitir o desenvolvimento de sociabilidades entre os indivíduos e por armazenar informações. Afinal, aquilo que encontramos nas pesquisas das redes sociais passa a ser a informação existente na sociedade e, em contrapartida, o que está fora da rede parece ser o inexistente, por não estar facilmente ao nosso alcance.
Segundo Santos (2001), as questões postas pelo avanço tecnológico têm seus efeitos para a vida em sociedade, tais efeitos transitam entre a realidade e a virtualidade, envolvendo o próprio processo de produção e a noção atual de sociedade.
O primeiro ponto considerado pelo autor, diz respeito ao quanto nós conseguimos pensar sobre a transformação que reflete o processo de globalização, pois há um debate geral sobre a desmaterialização, desterritorialização, desenraizamento, desregulamentação, desreferenciação. Nesse debate, as estruturas às quais fundaram a sociedade parecem se fragilizar, um reflexo de todas as mudanças ocorridas pela globalização. Portanto, o autor entende que tal momento se configura como a desordem da nova ordem.
Para Santos as mudanças da sociedade ocorrem porque estamos diante da tecnologia da informação, a atual fonte de riqueza social é a própria informação, um bom exemplo disso é o chip, mercadoria produzida e valorizada no contexto da sociedade da informação por ser capaz de armazenar informações. Desta forma, ele representa o processamento de um circuito integrado, o que reforça o fato da informação significar riqueza ou fonte produtora de valor. 
Nesse contexto, Santos questiona sobre como podemos perceber que a tecnologia da informação é a nova riqueza da sociedade? E lembra que a sociedade da informação desestrutura o modelo de sociedade “antiga” (SANTOS, 2001, p.29).
O processo que envolve a evolução tecnológica sinaliza para nós que tudo está mais acelerado, em especial as informações. Tal processo reflete uma “aceleração da aceleração” porque as informações e os produtos tecnológicos se processam em versões cada vez mais aceleradas, a virtualidade deve alcançar os fatos da realidade em tempo real. Neste sentido, a evolução tecnológica acontece através de uma crescente miniaturização das coisas, ou seja, as objetivações humanas realizam cada vez mais coisas ou mercadorias utilizando menos tempo, menos espaço, menos força de trabalho (SANTOS, 2001, p.30). 
Assim, os níveis de realidade podem se apresentar como invisíveis ou moleculares e tendem a gerar grandes efeitos pra sociedade, para ilustrar essa afirmação, podemos voltar a pensar no exemplo do chip: uma mercadoria de tamanho mínimo, mas com grande capacidade de armazenamento.
A estreita relação entre desenvolvimento tecnológico e industrial se intensifica a partir de 1970, gerando uma espécie de fusão entre as duas, alcançando vários setores da evolução tecnológica com a informação digital, a biotecnologia, as próprias técnicas reprodução humana passam por um processo de fusão com a genética, dando origem à reprogenética (SANTOS, 2001, p.30).
No âmbito da atual sociedade globalizada a informação passou a ser a referência de medida para as coisas, uma referência que se constitui no plano molecular. 
É importante perceber que as tecnologias da informação digital e genética já adquiriram tal grau de penetração na sociedade que estão mudando o caráter dessa sociedade. Pois quando ampliaram sua atuação no campo do invisível, incorporando nele o trabalho – por intermédio da informática de terceira geração – e a própria vida, por meio da biologia molecular, as tecnologias da informação ensejaram uma operação muito importante: o homem, que era a medida de todas as coisas, perdeu seu lugar; a informação passou a ser a medida de todas as coisas e, por isso, ela é riqueza principal. A referência agora não é mais o humano, é o molecular (SANTOS, 2001, p.31)
A informação perpassa o indivíduo, esse é sujeito e objeto da sociedade da informação. De um lado, os indivíduos se submetem às novas formas de acesso à informação, bem como de estabelecer os vínculos e as relações sociais. Por outro lado, os avanços no campo científico, sobretudo da biologia,redimensionam os limites entre vida e morte, fragilizando ou potencializando a vida dos seres vivos. Desta forma, os indivíduos podem tanto dominar e acessar as novas fontes de informação como se submetem à elas e passam a ter suas realidades alteradas em decorrência disso.
As transformações sociais ocorrem no plano molecular e alcança uma dimensão global, o que gera um “regime de propriedade intelectual” concebido para intitular a apropriação dessa riqueza que é imaterial e concebida pela informação genética e informação digital (SANTOS, 2001, p.34).
Tal aspecto remete para o debate sobre a quem pertence a informação? Quem a produziu? Quem a veiculou? Esse processo exige uma nova normatização da propriedade intelectual, pois alguém a elaborou, mas no amplo processamento das informações elas podem se apresentar como pertencendo a todos. Daí que a referência de propriedade passa a ser quem publicou primeira vez e, nessa publicação a quem foi atribuído seu crédito, ou seja, quem foi reconhecido como autor. 
A conseqüência disto é que a riqueza biológica e os recursos naturais se apresentam como componentes, como “matéria viva de todo o conhecimento a ela associado”. Nesta perspectiva, os conhecimentos populares, tradicionais, coletivos são traduzidos em conhecimento molecular, eles são desestruturados, desarticulados da comunidade que os produziu. Como exemplo, podemos pensar no conhecimento das propriedades das várias plantas ou substâncias naturais de grupos de moradores próximos de reservas naturais, no momento em que esse conhecimento é processado pela ampla rede de informações, o crédito, o reconhecimento à comunidade que elaborou tal saber pode não ser realizado.
A “derradeira privatização” visa identificar o dono da informação, essa é apropriada, controlada e tanto faz se a informação resulta de produção material ou imaterial. Segundo Jameson (1991), “por meio da informação genética e digital, o capital está colonizando não a dimensão da realidade virtual, mas a dimensão virtual da realidade”. O Interessante na atual sociedade é o processamento das coisas e o ser humano é o processador de informação, inclusive no tempo virtual (Apud SANTOS, 2001, p.32).
Além disso, a relação entre sociedade e indivíduo é reconfigurada, seu debate sugere a substituição da concepção de sociedade pela noção de socialidade. Segundo Strathern, tal concepção considera a inter-relação o tempo todo e essa se altera também o tempo inteiro, pois na vigência da valorização da informação os processos e os processamentos perpassam as relações sociais, sendo que os seres humanos passam a ser processadores de informação (Apud SANTOS, 2001, p.37).
Quando passamos para o plano do processamento, no qual o que interessa é justamente a inter-relação o tempo todo, e esta está mudando o tempo inteiro, não existe mais um e outro pólo que precedem e entram em relação. Existe uma relação que às vezes até constitui pólos, mas o que conta é a relação, e não os pólos. Basicamente, o que ela propõe é que deixemos de pensar a sociedade como algo que está parado e o indivíduo como uma entidade fixa, em vez disso, é melhor procurar entender quais as dinâmicas entre coletivo e individual (SANTOS, 2001, p.37).
As formas de estabelecer as relações se alteram constantemente e seu entendimento depende do entendimento do processamento das dinâmicas entre coletividade e singularidade, entre os grupos sociais e os indivíduos.
Em decorrência do deslocamento e do encurtamento entre tempo e espaço, a realidade tecnológica interfere na nossa sensibilidade e natureza humana, configurando-se em uma segunda natureza, ou seja, o processamento das informações nesse momento da nossa história passam a fazer parte de nós, parte da nossa natureza e, não podemos deixar de entender essa como resultado da objetivação humana, como decorrência da produção material da vida social.
Globalização e crise do Estado Moderno
As mudanças decorrentes do atual processo de globalização são processadas no âmbito mundial e alcançam as realidades sociais dos países que passam a fixar ajustes como respostas às características do processo de globalização, entre elas a valorização de uma economia global com um mercado produtivo altamente competitivo. 
A regulação da economia mundial em países desenvolvidos e em desenvolvimento requer regras e arranjos políticos capazes de sustentá-los, denotando ao Estado a necessidade de reorganização das regras políticas, bem como de suas instituições para uma série de ajustes decorrentes do atual processo de globalização.
O Estado moderno se constituiu como instituição reguladora da economia e dos direitos civis, políticos e sociais. Entre os direitos civis prevaleceu a defesa da liberdade e da propriedade privada; os direitos políticos podem se caracterizar pela ampliação do status de cidadania a todos os indivíduos de uma sociedade, independente de sua condição socioeconômica e os direitos sociais foram construídos à medida que as contradições da sociedade capitalista ficavam latentes, bem como à medida que as necessidades dos trabalhadores despontavam nos grandes centros urbanos, apresentando-se nas questões trabalhistas e nos serviços básicos como educação, saúde, habitação e assistência social.
O Estado moderno caracterizou-se como um Estado mínimo por intervir com sutileza na regulação da economia, por se responsabilizar pela oferta de serviços públicos e administração desses serviços.
No século passado com as grandes guerras mundiais, nos países desenvolvidos como medida de contenção à crise generalizada do modo capitalista de produção, o Estado passou por um novo arranjo e de Estado mínimo passou a ser denominado Estado de Bem Estar Social (Welfare State).
O Estado de Bem Estar Social teve presença centralizadora na economia, na oferta de trabalho e de serviços públicos. Neste momento, vivenciou-se a ampliação dos seguros, pois o Estado para garantir minimamente subsídios para famílias que haviam perdido o poder aquisitivo e a possibilidade de assegurar suas condições mínimas de sobrevivência. 
Além disso, o Estado ampliou suas construções a fim de ofertar trabalhos a uma parcela de desempregados e estimular a produtividade da economia, entendendo que a garantia de uma renda mínima viabilizaria o consumo. Tais medidas resultaram na formação de um estado presente e fortemente interventor das medias socioeconômicas, além da ampliação e inchaço da máquina pública.
Desta forma, seja na vigência do Estado mínimo ou de bem estar social, a noção de Estado Nação e de economia nacional eram valorizadas, pois as medidas tomadas pelo Estado buscavam responder aos efeitos das crises do capitalismo tanto do ponto de vista econômico como social em seu território, protegendo o capital nacional e assegurando os direitos instituídos aos cidadãos.
No entanto, o atual processo de globalização demandou uma nova configuração ao Estado nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. A concepção de Estado mínimo é levada às últimas consequências e a figura do Estado nacional é rompida pelo “desmantelamento do aparelho e tarefa do Estado”, sobretudo no que se refere a auto regulação da economia (BECK, 1999, p.16).
 Assim, a ideia de nacionalização confronta-se com a de mundialização ou globalização, as fronteiras dos países se enfraquecem, pois a nova ordem social pressupõe a ausência delas seja para a difusão de informações, seja para as transações econômicas, seja ainda para as relações políticas. 
Ora, o “Estado nacional é um estado territorial”, no contexto da globalização esse perde seu “poder de coesão” e, seu poder baseia-se no “vínculo com um determinado espaço”, pois a sociedade mundial se configura interferindo na “atuação do Estado nacional”, pois “uma imensa variedade de lugares conectados entre si cruza as fronteiras territoriais, estabelecendo novos círculos sociais, redes de comunicação, relações de mercado e formas de convivência” (BECK, 1999, p.18/ 23). 
A globalização econômica desuniu “economia demercado, Estado de bem estar social e democracia”, a fase capitalista atual gera desemprego e não mantém relação de dependência com o trabalho. Nesse processo a globalização econômica ocupa lugar de destaque no debate público (BECK, 1999, p.25). 
Contudo o que foi levantando e problematizado até agora, podemos considerar que a globalização significa a “experiência cotidiana da ação sem fronteiras nas dimensões da economia, da informação, da ecologia, da técnica, dos conflitos transculturais e da sociedade civil”; significa ainda o “assassinato da distância”, sua neutralização, ou seja, “os diferentes tempos nas diversas regiões do mundo são compactados num único tempo mundial normatizado e normativo” (BECK, 1999, p.46/ 48).
A variedade de conexões também marca as “relações entre Estados e sociedades”, bem como afetam a condição das sociedades em unidades “territoriais mutuamente separadas”, fatores que nos remetem à noção de globalidade, ou seja, “o desmanche da unidade do Estado e da sociedade nacional” acabam ocasionando “novas relações de poder e de concorrência, novos conflitos e incompatibilidades entre atores e unidades do Estado nacional, por um lado e, pelo outro, atores, identidades, espaços sociais e processos sociais transnacionais” (BECK, 1999, p.49).
Portanto, a desterritorialização e o consequente enfraquecimento do Estado têm reflexos para a organização da sociedade e das relações estabelecidas entre os indivíduos. Tal quadro intensifica em escala mundial o processo competitivo, as próprias relações de poder, pois emergem alianças entre países diferentes, as formações de blocos econômicos como a comunidade européia e a formação de grupos para a discussão de temas urgentes para a sociedade e economia global. 
A reorganização do Estado mínimo instituído no âmbito do processo de globalização tem como aspecto central a economia global, mas esse se reflete na organização da sociedade, sobretudo nas relações sociais e na dimensão política. 
Globalização e cenário sociopolítico
Vários acontecimentos que marcaram o século XX indicavam a constituição do atual processo de globalização, entre eles podemos considerar a crise do modelo socialista de produção exemplificado pelo fim da União Soviética e pela emblemática queda do muro de Berlim que separava a Alemanha em duas partes, uma orientada pelos princípios socialistas e outra pelos princípios do liberalismo.
Uma boa referência de filme sobre essa temática é o Adeus, Lênin! O filme retrata o momento de unificação das duas partes alemãs e a crença dos ideais socialistas por uma senhora com problemas de saúde e sua família se esforça para evitar que ela receba o choque da abertura da Alemanha socialista.
A derrocada dos ideais e do modo socialista de produção sugerem o predomínio dos Estados Unidos como potência mundial, quer dizer como principal país capitalista e com poder de influenciar as regras da crescente economia mundial.
Além dos acontecimentos na parte ocidental do globo, no oriente alguns países despontam com um modelo produtivo desafiador à hegemonia ou ao domínio dos Estados Unidos na economia global, esses países foram denominados de tigres asiáticos. Eles organizaram um modelo de produção pautado no funcionamento integral, no barateamento da força de trabalho e em alto grau desenvolvimento tecnológico.
Do ponto de vista do cenário econômico assistíamos a despolarização da economia, antes caracterizada entre Estados Unidos e União Soviética, o que ficou no lugar foi uma espécie de regionalização, a formação de blocos de países desenvolvidos com capacidade de enfrentar e investir na economia global. 
O desafio de manter uma economia globalizada, permitindo que investimentos e linhas de produção circulassem sem barreiras territoriais intensificou as contradições geradas pelo modo capitalista de produção, gerando um aumento da desigualdade social por todo o globo.
A partir da década de 1970 o mundo perde suas referências e desliza na instabilidade e crise, apesar da economia global não ter desabado, o crescimento econômico continuou lentamente. No final do século passado os países mais desenvolvidos encontravam-se ricos, mais produtivos e a economia global mais dinâmica, porém nos países da África, da Ásia Ocidental e da América Latina grande parte da população empobreceu na década de 1980, ocasionando o declínio da produção (HOBSBAWM, 2002, p.393/395).
A desigualdade social e econômica fez reaparecer um grande número de sem tetos nas “economias de mercado desenvolvidas”, um dos principais fatores foi a diminuição da renda das classes trabalhadoras. Desse modo, o início da década de 1990 foi marcado por um “clima de insegurança e ressentimento”, entre as décadas de 1970 e 1980 o “sistema de produção fora transformado pela revolução tecnológica, globalizado ou “transnacionalizado” em uma extensão extraordinária e com consequências impressionantes” (HOBSBAWM, 2002, p.397/402). 
O termo transnacionalização reforça a concepção da inexistência de barreiras para as formas de acumulação do capital, de modo que as transações comerciais, os investimentos deixaram de se restringir ao seu país de origem, o que existe é uma sede para o capital. Então, por exemplo, um grupo financeiro espanhol pode ter investimentos e empresas no Brasil, em países da África e nos Estados Unidos e o capital circula transcendendo as nacionalidades que abrigam seus investimentos. 
Segundo Hobsbawm, o século XX se caracteriza como período de crise da sociedade ocidental, tal crise invade a esfera social, política e econômica, mas ela é, sobretudo, econômica. Assim, o atual processo de globalização revela uma tentativa de modernizar a sociedade ocidental, as características da globalização correspondem à estratégias pensadas na direção da revalorização da ideologia e cultura ocidental.
Pois, os países em desenvolvimento já não são apenas os principais países capitalistas, o oriente a partir das últimas décadas do século XX passou a marcar presença no mercado produtivo, como já dissemos antes. 
Além disto, há o fato da ideologia do fundamentalismo ter crescido e alcançado o cenário mundial, permitindo que notícias dos países árabes invadissem cada vez mais a mídia, tal aspecto demonstra que embora não tão desenvolvidos como os Estados Unidos, esses países despontam no cenário mundial com força em função das características de suas economias, quer dizer pelo predomínio do petróleo e pela crença tanto ideológica como religiosa.
Nesse contexto, se constitui um contraponto entre o âmbito global e o local, as mudanças são processadas globalmente, mas com intensos reflexos nas diversas localidades, ou seja, os ajustes globais se desenvolvem localmente, cada cidade responde à sua maneira aos efeitos da globalização. Os países, as cidades são convidadas a pensar localmente e agirem globalmente. Assim, o local e o global se contrapõem, e, ao mesmo tempo se interconectam constantemente.
Vale relembrar a valorização da processualidade da informação nesse processo, em especial os meios de comunicação, pois no cenário público constituído pela globalização, eles emergem com o poder de formar e influenciar opiniões, pressionando chefes de Estado, identificando problemas de corrupção, além de disseminarem as ideias e valores que aportam o próprio processo da globalização.
A informação e a notícia devem ser democratizadas no contexto da globalização. No entanto, grande parte delas ainda se concentra nos meios de comunicação de massa, sobretudo na realidade dos países em desenvolvimento, de modo que os meios de comunicação são considerados agentes democratizadores.
É importante destacar que a democracia, principal forma de governo do século XX, se confronta constantemente com o princípio do bem comum, esse pede força para a defesa e prevalência dos interesses individuais, um efeito do pensar localmente e do enfraquecimento do Estado nação e da sociedade nacional. 
Minorias e manifestações sociais nos marcos da globalização
No século XX o enfraquecimento dasmobilizações, organizações e ações de trabalhadores se somaram aos vários aspectos que caracterizam a sociedade e a economia globalizada. Desde o século XIX, as manifestações dos trabalhadores influenciaram a elaboração e instituição de vários direitos sociais fragilizados no contexto da sociedade global. Em contrapartida, a globalização suscitou uma série de mobilizações de vários segmentos da sociedade, configurando a fragmentação da luta social.
Associado à fragmentação da luta social podemos considerar a prevalência da democracia como forma de governo ideal. A concepção da democracia na modernidade se pautava na liberdade entre os indivíduos e, em nome da liberdade cada um na vida em sociedade abriria mão de parte da sua liberdade para se associar a outros indivíduos. Portanto, uma das características da democracia moderna é a livre associação entre os indivíduos, necessária para regular a vida em sociedade, estabelecendo uma relação entre bem comum e interesses individuais. 
O bem comum refere-se aos interesses de todos, ao que prevalece entre os indivíduos, ao que é necessário realizar ou alcançar para viver em sociedade com certa liberdade e os interesses individuais expressam as demandas e singularidades dos indivíduos, variando de acordo com a realidade de cada um ou com a condição socioeconômica. Na sociedade moderna o bem comum se confrontou aos interesses individuais e esses acabaram se sobrepondo ao que seriam os interesses da coletividade, um desdobramento do individualismo presente em nossa sociedade e respaldado pela ideologia liberal.
As contradições da sociedade fazem com que as condições entre os grupos sociais sejam diferentes, bem como o reconhecimento de suas demandas. A partir da segunda metade do século XX, os grupos sociais considerados minoritários buscaram se colocar e pressionar as forças políticas para o seu reconhecimento como grupo e o de suas demandas. Assim, um grupo é considerado minoritário dependendo do reconhecimento de suas necessidades ou demandas pela sociedade. Como exemplo, podemos pensar nas mulheres e nos negros, tais grupos se constituíram historicamente como grupos discriminados e precisaram se mobilizar, se organizar, lutar para que pudessem ver o reconhecimento de seus direitos na sociedade.
A participação das minorias no cenário sociopolítico começou relacionada ao movimento de trabalhadores. Assim, a noção de movimento social pode ser entendida como a maneira de um determinado grupo social se organizar e se expressar, deixando claro para a sociedade suas demandas. Portanto, corresponde a maneira como esses grupos organizam suas lutas sociais, essas demonstram o momento histórico em que vivemos. Por esse motivo, uma mudança na organização social gera mudança nas formas de organização dos indivíduos na sociedade, é o que estamos estudando desde o início de nossa disciplina.
O principal acontecimento histórico que marca o surgimento dos novos movimentos sociais foi o Maio de 1968 na França, uma manifestação estudantil em parceria com trabalhadores das fábricas, entre os motivos da manifestação estavam a crítica ao modo capitalista de produção, o problema do desemprego e o questionamento da organização das universidades, bem como sua vinculação com o mercado produtivo. Os jovens ocuparam a rua em Paris e essa manifestação se tornou símbolo de contestação para além das questões trabalhistas, pois ele teve reflexos nos âmbitos culturais, sociais e políticos da sociedade européia e mundial. A juventude despontou como grupo capaz de ter voz na sociedade e abriu caminhos para a organização de outros grupos.
Na mesma época, nos Estados Unidos, o movimento negro despontou questionando seu lugar na sociedade americana e o reconhecimento de seus direitos. A questão da negritude tem a escravidão como traço peculiar, pois por um período histórico o povo negro foi considerado coisa sem o reconhecimento de grupo e de trabalhadores, esse aspecto se reflete na identidade do povo negro, além de ter sido base para o preconceito racial ainda presente na sociedade. 
Na sociedade americana as mobilizações do movimento negro impulsionaram a elaboração de ações afirmativas, desenvolvidas com o objetivo de promover estratégias para o acesso desse grupo em espaços sociais, seja escola, seja em postos de trabalho, seja reconhecendo a liberdade de ir e vir dos negros.
A mulher também se caracterizou como grupo minoritário e se organizou em torno do movimento feminista para expressar suas demandas, o traço peculiar desse grupo perpassa o reconhecimento de igualdade perante os homens, o que remete para as relações de poder historicamente constituídas na vida em sociedade. O direito ao voto foi uma das bandeiras de luta do movimento feminista e o problema da violência doméstica ainda é tema em pauta desse movimento.
A questão ambiental ascende no cenário mundial, em decorrência do esgotamento dos recursos naturais e das práticas poluidoras realizadas no processo produtivo industrial. O movimento ambientalista foi inserido na agenda de debates mundial e se configura como um dos aspectos que envolvem o processo de globalização, pois suscita normatizações e atitudes que envolvem todas as esferas da vida social, seja o Estado, seja a sociedade e as forças do processo produtivo.
 Atualmente as Organizações das Nações Unidas (ONU) elaboram normatizações e discussões sobre a questão ambiental, o pacto global corresponde a uma associação, a um acordo entre governos e instituições privadas para pensar medidas de proteção e preservação ao meio ambiente. 
O movimento de homossexuais também ascende na sociedade global tem sua formação em decorrência do reconhecimento de seus direitos civis. No Brasil, atualmente vivenciamos a legitimação do direito à união dos casais homossexuais, o direito à adoção de crianças. Além disso, esse grupo social passa aparecer mais na mídia, lembrando à sociedade sobre sua existência e o reconhecimento de suas orientações sexuais e da sua dignidade humana.
De modo geral, no século XX, as manifestações dos trabalhadores perderam força com o atual processo de globalização, mas outras vozes puderam expressar suas demandas na sociedade, sem deixar de lado a possibilidade de organização e realização das lutas sociais.
Referências Bibliográficas
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo, respostas à globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 
GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade. São Paulo: editora Unesp, 1991.
HARVEY, David. Condição Pós-moderna. São Paulo: edições Loyola, 1992.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
NETTO, José Paulo & BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006.
SANTOS, Laymert Garcia dos. A desordem da nova ordem; aceleração tecnológica e ruptura do referencial. In: VIANA & SILVA & DINIZ (orgs.) O Desafio da Sustentabilidade um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

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