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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS - AÇÕES POSSESSÓRIAS

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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
AÇÕES POSSESSÓRIAS
Conceito de Posse
O próprio legislador se encarregou de conceituar a posse, no art. 1.196, do atual Código Civil, estatuindo: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
MARIA HELENA DINIZ, afirma que Ihering vê a posse como “a exteriorização da ouvisibilidade do domínio, ou seja, a relação exterior intencional existente normalmente entre a pessoa e a coisa, tendo em vista a função econômica desta” 
Natureza Jurídica da Posse
Teorias explicativas do instituto da posse: 
►	Subjetiva - desenvolvida por Savigny e que congrega dois elementos: o corpus e o animus.
►	Objetiva - desenvolvida por Ihering, segundo a qual a posse é a exteriorização de um direito sobre o bem possuído, importando a utilização econômica da coisa, ainda que exercida in nomine alieno, o que permite conceber as concepções de posse direta e posse indireta. O CC de 1916, assim como o de 2002, acolhem esta tese.
Natureza Jurídica da posse: embora no Brasil, atualmente, se admita pacificamente que a posse é um direito subjetivo, muito ainda se discute se se trata de direito real ou pessoal. Para Caio Mario, Orlando Gomes e Pontes de Miranda, trata-se de direito real, com todas as características que marcam a espécie. Para Moreira Alves, é direito pessoal.
A Proteção Jurídica da Posse 
As ações possessórias visam à tutela jurisdicional da posse, tanto de imóveis quanto de móveis. O Código de Processo Civil arrola como possessórias: o interdito proibitório, a manutenção e a reintegração na posse. São as ações possessórias stricto sensu, voltadas exclusivamente à tutela da posse. 
“Ficam, pois, fora do campo das possessórias mesmo as ações que tenham por fim a aquisição ou a recuperação da posse de alguma coisa em que o demandante alegue - não uma ofensa à posse - mas a existência de alguma relação jurídica que lhe dê direito à posse. É por essa razão que a ação de imissão de posse não é uma ação possessória, assim como não o será igualmente a ação de nunciação de obra nova que alguns escritores e certos sistemas jurídicos incluem nessa categoria”(Ovídio Batista).
Resta patente que o objeto da possessória é apenas proteger a posse de uma violência que venha a se caracterizar no campo da ameaça, turbação ou esbulho. Delineado esse objeto, só resta reconhecer as três espécies de ações previstas no Código de Processo Civil, como possessórias: o interdito proibitório, a reintegração e manutenção de posse.
A posse admite auto-tutela. O artigo 1.210, § 1º, do Código Civil o declara: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 
Ações Possessórias - Fungibilidade
Segundo Marcato, consiste na “possibilidade, aberta ao juiz, de conhecer e decidir de pedido diverso daquele originalmente formulado pelo autor, concedendo-lhe a tutela legal correspondente àquela cujos requisitos estejam provados”.
Está expresso no art. 920, do CPC, o princípio da fungibilidade dos processos possessórios, devendo o Juiz, ao final, julgar a pretensão que vier a ser reconhecida no curso da ação, tenha sido ela ajuizada pelo autor. Assim, se vier a ser proposta uma reintegração, pode o Juiz entender se tratar de uma manutenção ou vice-versa. Da mesma forma com relação ao interdito proibitório. 
Observar que, à luz do art.920, CPC, importa apenas que a causa de pedir seja, genericamente, a ofensa ao direito de posse do autor, e que este tenha postulado tutela de natureza possessória.
Nos termos do artigo 920 do CPC, a propositura de uma em vez de outra dessas ações não obsta a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquele, cujos requisitos sejam provados. Essa norma é particularmente importante em casos como o de perda parcial, tida por uns como hipótese de turbação e, por outros, como de esbulho. Justifica-se essa regra com a afirmação de que, qualquer que seja a ação possessória, o pedido é o mesmo, qual seja, o de tutela possessória. 
 Não se aplica esta fungibilidade para efeito de conversão de ação de natureza petitória em ação possessória.
Natureza Dúplice
São ações dúplices, porque a proteção possessória pode ser concedida ao réu, independentemente de reconvenção, como dispõe o artigo 922 do CPC: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor”.
Objeto e Limites
Possibilidade de cumulação de pedidos e natureza dúplice das ações possessórias. As ações possessórias comportam pedidos cumulados de tutela possessória, condenação em perdas e danos, cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho; desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento do possuidor (CPC, art. 921).
Exceção de Domínio: no juízo possessório não se admite discussão a respeito do domínio da coisa disputada, estando vedada, tanto quanto, por força do disposto no CPC, 923, a iniciativa de promover-se ação de reconhecimento de domínio na pendência do processo possessório.
Se, no entanto, a disputa da posse decorre da alegação de domínio (legitimidade da posse, pela demonstração da condição de proprietário), pende o direito à proteção possessória em favor daquele que detenha o melhor título e que, por conseguinte, demonstrou a titularidade do domínio, ainda que esta titularidade não deva ser reconhecida nem declarada na ação possessória, que não é sede apropriada para tanto. 
Classificação
Ação de Força Nova – proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho, tendo por objeto bem imóvel, móvel ou semovente, será submetida ao procedimento especial (CPC, 926/931).
Ação de Força Velha – proposta após ano e dia da ocorrência da ofensa à posse. Submetida ao procedimento comum, ordinário ou sumário (a depender do valor da causa), sem perder o caráter possessório e preservada a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela possessória.
Em se tratando de interdito proibitório, será sempre especial o rito, pois não cabe falar em força nova ou velha; a ameaça é, necessariamente, sempre atual. 
As ações possessórias com o rito e a especialidade ditadas nos arts. 920 e seguintes do Código de Processo Civil, só serão aceitas quando ajuizadas até o ano e dia do esbulho ou da turbação, sendo que daí por diante as situações fáticas concernentes aos vícios da posse não perde o caráter de ações possessórias, porém o rito imposto será o ordinário, como está ditado no art. 924. Aliás, mesmo o procedimento especial após a contestação toma o rumo ordinário, como se vê do art. 931. 
Competência
Em se tratando de bem imóvel, prevalece o foro da situação da coisa disputada; CPC, 95 (observada a prevenção quando o bem extrapolar os limites da comarca). Competência que, embora influenciada pelo critério territorial, sofre preponderância do critério objetivo material e, portanto, é absoluta. 
No caso de bens móveis e semoventes, a ação correrá no foro do domicílio do réu; CPC, 94.
Legitimação
Legitimação ativa: possuidor direto ou indireto.
Legitimação passiva: aquele que praticou a ofensa à posse, ainda que também seja possuidor (indireto) da coisa (ex. locador que desrespeita a posse do locatário). Observar a hipótese da ofensa ser praticada por preposto de terceiro. 	
As hipóteses de intervenção de terceiros decorrentes da ação possessória: nomeação à autoria (CPC, 62) e denunciação da lide (CPC, 70, II).
Procedimentos – Ação de Manutenção e Reintegração de Posse.
Pressuposto fático: para a reintegração, o esbulho (desapossamento injusto do anterior possuidor por ato de terceiro); para a manutenção, a turbação (atos que limitam o exercício pleno da posse, sem comprometê-la integralmente).
Objeto: o restabelecimento
do estado anterior desfeito pela ofensa, assegurando o direito do legítimo possuidor.
Procedimento: CPC, 926/931. Petição inicial apta, que demonstre: (I) posse anterior; (II) o esbulho; (III) a data em que a ofensa foi perpetrada; (IV) perda efetiva da posse. Prova documental pré-constituída dos fatos constitutivos, com o fito de obter-se medida liminar prevista no procedimento, sem a ouvida do réu.
Liminar: possível nas ações de força nova, exigem a comprovação dos requisitos legais, os quais, se presentes, afastam a discricionariedade do juiz, impondo-se o deferimento. A falta de prova pré-constituída pode desafiar a designação da audiência de justificação prévia. A liminar, mesmo quando cabível contra o Poder Público, jamais será deferida, neste caso, sem a ouvida dos representantes da Fazenda Pública. 
Procedimentos – Ação de Manutenção e Reintegração de Posse.
Natureza: ação real de caráter dúplice. Subsiste a instabilidade quanto à definição da necessidade ou não da presença do cônjuge nas ações possessórias. Atualmente o CPC, art.10, parágrafo segundo, adota o critério prático para solucionar o problema, estabelecendo que a composse e a moléstia à posse de outrem por ambos os cônjuges determinará a necessidade de outorga conjugal ou de litisconsórcio passivo nas ações possessórias imobiliárias.
Citação: ocorrerá logo após o cumprimento da liminar se esta foi deferida. Em caso se justificação prévia, o réu é citado para comparecer à audiência, mas somente corre o prazo de defesa após o julgamento do pedido liminar, correndo o prazo a partir da intimação do deferimento ou indeferimento da medida. 
É impertinente a alegação de domínio, pelo réu, em ação possessória. O artigo 1.210, § 2º, estatui: “Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa”. O artigo 923 do CPC vai além e, em dispositivo de duvidosa constitucionalidade, veda, assim ao autor como réu, intentar ação de reconhecimento do domínio, na pendência do possessório.
A sentença: de eficácia declaratória e auto-executiva, com predominância de força processual executiva (Pontes de Miranda). Portanto, não há se falar em execução autônoma ou embargos (pois o procedimento é unitário), tampouco em efeito suspensivo do recurso que enfrenta a decisão que defere a proteção possessória. Em caso de pedidos cumulados, aqueles que não atingem especificamente a posse, podem ter que se submeter a execução autônoma. 
Procedimentos – Ação de Manutenção e Reintegração de Posse.
Ação de manutenção de posse compete ao possuidor, no caso de turbação; a de reintegração, no de esbulho (CPC, art. 926). O rito é o especial, dos artigos 926 e seguintes do CPC, quando intentada a ação no prazo de ano e dia da turbação ou do esbulho (art. 924). 
Observa-se o rito comum, ultrapassado esse prazo, sem que por isso perca a ação seu caráter possessório (CPC, art. 924, in fine), motivo por que “sem fundamento a opinião dos que afirmam que as ações  possessórias, quando se tenham transformado em ordinárias, pela consumação do prazo de ´ano e dia´ do ato da agressão possessória, passam a ser condenatórias, de tal modo que a execução de sentença deva obedecer às regras do processo de execução para entrega de coisa certa, se a demanda possessória for de reintegração; ou do processo executivo para cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer, se a possessória ordinária tiver por objeto da tutela contra a simples turbação da posse” (Ovídio A. Baptista da Silva ). 
No caso de turbação, conta-se o prazo do primeiro ato turbativo ou do último? Responde Caio Mário da Silva Pereira: “Se, na cadeia de fatos, um houver que importe em privação da posse, daí correrá o prazo; se houver vários atos distintos, sem nenhuma relação de causalidade, cada um constitui turbação autônoma para efeito da contagem; se, ao contrário, forem ligados entre si pela mesma causação, formará toda a cadeia uma só moléstia, e do último eles contar-se-á o lapso para efeito de ser admitido o rito sumário”.   
Procedimentos – Ação de Manutenção e Reintegração de Posse.
Nos termos do artigo 1.224 do Código Civil, só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. Assim, para o ausente, o prazo de ano e dia somente passa a correr quando, retornando, toma ciência do esbulho.
A turbação não implica perda, mas perturbação da posse, como no caso do vizinho que, sem autorização, transita pelas terras. Também turba a posse o anúncio de venda da coisa possuída. Esbulho, diz Maria Helena Diniz, “é ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse, injustamente, por violência, por clandestinidade e por abuso de confiança. De maneira que é esbulhador: estranho que invade casa deixada por inquilino; o comodatário que deixa de entregar a coisa dada em comodato findo o prazo contratual; o locador de serviço, dispensado pelo patrão, que não restitui a casa que recebera para morar”.
As ações de manutenção e de reintegração de posse podem ser propostas pelo possuidor direto contra o possuidor indireto; por exemplo, pelo locatário contra o locador. O possuidor indireto pode propor a ação, a benefício próprio e do possuidor direto; por exemplo, ação do locador contra terceiro, para assegurar a posse do locatário.
Procedimentos – Ação de Manutenção e Reintegração de Posse.
Legitimado passivo para a ação de esbulho é não apenas o esbulhador, mas também o terceiro de má-fé, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era (Cód. Civil, art. 1.212). Vê-se, pois, que, alienada a coisa a terceiro de boa-fé, já não cabe a ação de reintegração de posse. Cabe, então, ação de perdas e danos contra o esbulhador e, contra o terceiro, a reivindicatória, com fundamento não mais na posse perdida, mas no domínio subsistente.
O juiz concede liminarmente mandado de manutenção ou de reintegração, se instruída a inicial com prova suficiente da posse e da turbação ou do esbulho. Não se trata de medida cautelar, não se exigindo alegação de “periculum in mora”. Basta a prova da posse e da turbação ou do esbulho. Insuficientes as provas, o juiz designa audiência de justificação, com citação do réu (art. 928). Nessa audiência, são ouvidas as testemunhas arroladas pelo autor, podendo o réu contraditá-las, argüindo-lhes a incapacidade o impedimento ou a suspeição (art. 414, § 1º), bem como lhes formular perguntas. Não são ouvidas testemunhas indicadas pelo réu. Concluída a audiência, o juiz concede ou nega a liminar, decisão interlocutória de que cabe agravo de instrumento. O prazo para a contestação, que é de quinze dias (art. 931), corre da intimação dessa decisão, que Código chama de despacho (art. 930, parágrafo único). Observa-se, daí por diante, o rito ordinário (art. 931).
Ação de Interdito Proibitório
Natureza: preventiva, tipicamente cominatória (inibitória).
Requisito: violência iminente.
Objeto: evitar a consecução da turbação ou do esbulho iminentes. O mandado, além de proibir os atos de moléstia à posse, comina pena pecuniária pelo eventual desrespeito à ordem.
Procedimento: segue a mesma estrutura das demais ações possessórias. 
Possibilidade de conversão do interdito em uma das ações possessórias, conforme se trate de turbação ou esbulho.
A ação é sempre de força nova, portanto a liminar é o seu traço indispensável.
Ação de Interdito Proibitório
É ação de natureza preventiva, do possuidor que, tendo justo receito de ser molestado ou esbulhado em sua posse, pede mandado proibitório, com a cominação de pena pecuniária, para o caso de transgressão do preceito.
Consumando-se a lesão, no curso do processo, expede-se mandado de manutenção ou de reintegração, sem prejuízo da multa.
Não autoriza a ação simples manifestação do propósito de usar de medidas judiciais contra o possuidor.
O valor da pena pecuniária é indicado pelo autor, mas quem decide é o juiz. Deve ser suficientemente
grave para dissuadir o réu. É devida pela infração do preceito, independentemente das perdas e danos cabíveis.
Efeitos da apelação
A apelação da sentença que julga ação possessória tem efeito suspensivo: permanecem, pois, na pendência do recurso, os efeitos da decisão liminar, concessiva ou denegatória da tutela possessória imediata. (Adroaldo Furtado Fabrício)
Aplicando-se às diversas situações possíveis em tema de ações possessórias,
temos as seguintes variantes:
a) Não houve mandado liminar de manutenção ou reintegração e a sentença deu pela improcedência da demanda. Nenhum problema se apresenta: tanto a cognição limitada e
inicial como a final e completa levaram o juiz a conclusão desfavorável ao autor, e o eventual recurso apenas buscará um resultado que ainda não se produziu em nenhum momento, nível ou grau.
b) Concedida a tutela provisória, a sentença de procedência completa e confirma o mandado inicial. Nulla quaestio, também: os dois pronunciamentos judiciais são entre si concordes, e a atribuição de efeito suspensivo à apelação mantém a proteção possessória no mesmo plano e caráter de tutela provisional.
c) O autor fora mantido ou reintegrado liminarmente e a sentença lhe é desfavorável, revogando explícita ou implicitamente o mandado liminar. Essa revogação só se pode tornar efetiva após o trânsito em julgado, porque até então permanece suspensa a eficácia da sentença. É sofístico o argumento contrário segundo o qual a sentença, sendo aí declaratória negativa, nada tem que possa ser suspenso: em relação à medida liminar, ela não é meramente declaratória, mas constitutiva negativa. Suspende-se a revogação.
d) O autor, que não alcançara mandado liminar, obtém sentença de procedência da demanda. A eficácia da sentença, que consistiria em reintegrar ou manter, permanece suspensa até o julgamento da apelação. Nada importa se o juiz poderia ter deferido liminarmente a proteção possessória, e "quem pode o mais pode o menos": trata-se de momentos processuais distintos, e de atos judiciais com conteúdos diversos. Não se pode raciocinar como se o juiz conservasse, ao longo de todo o procedimento, o poder de outorgar tutela possessória provisional quando bem lhe parecesse, e o fizesse na sentença final: as premissas são falsas, seja porque inexiste essa permanência da faculdade judicial, seja porque a tutela dispensada na sentença seria definitiva e não provisional.

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